* Filósofos Pré-socráticos 
            (Fragmentos e Doxografia) — Parte I:
          http://paxprofundis.org/livros/presocraticos/filosofos.htm
          * Filósofos Pré-socráticos 
            (Fragmentos e Doxografia) — Parte II:
          http://paxprofundis.org/livros/presocraticos1/filosofos.htm
          * Filósofos Pré-socráticos 
            (Fragmentos e Doxografia) — Parte III:
          http://paxprofundis.org/livros/presocraticos2/filosofos.htm
           
          __________
           
           
          MELISSO 
            DE SAMOS
            (Sua existência alcançou o acme 
            na 84ª Olimpíada em 444/441 a. C.) 
           
          
          
           
          SOBRE O SER
           
          * Sempre 
            foi o que foi e sempre será; pois se tivesse sido gerado, antes 
            de ser gerado necessariamente nada seria. Mas, se nada era, nada poderia 
            ter sido gerado do nada.
          * Não 
            tendo sido gerado, é, sempre foi e sempre será. Não 
            tem início e não tem fim — é ilimitado.
          * Nada 
            do que tem início e fim é eterno e ilimitado.
          * Não 
            fosse um, deveria estar limitado por outro.
          * Não 
            há nada vazio, pois o vazio nada é; e o que nada é 
            não pode ser.
          * Se é, 
            deve ser Uno. Se é Uno, não deve possuir corpo algum. 
            Tivesse grandeza, também teria partes e não seria mais 
            Uno.
           
          Melisso foi discípulo 
            de Parmênides, mas não manteve intocada a doutrina de 
            seu mestre. Para ele o Cosmos é ilimitado, imóvel, semelhante 
            a si mesmo, uno e pleno. O um é o todo e o todo é Deus. 
            Portanto, o movimento inexiste. Sobre os deuses, dizia, não 
            se pode dar uma explicação definitiva, pois não 
            podem ser conhecidos. Concordar com Melisso ou dele discordar é 
            privilégio de toda cabeça pensante. Mas, concordar com 
            o que contemporanemente geralmente se afirma a respeito de Deus é 
            ter uma cabeça impensante. As impensabilidades derivam de se 
            atribuir a Deus predicados humanos, que vão da mais absurda 
            fúria, da mais irracional malevolência e da mais inconsistente 
            repulsão ao mais singelo amor, à mais ingênua 
            bondade e à mais pura inocência. Em uma palavra: antropomorfismo 
            (forma de pensamento que atribui a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais 
            gostos, comportamentos e pensamentos característicos do ser 
            humano. Visão bizarra que, buscando a compreensão da 
            realidade, atribui características e comportamentos típicos 
            da condição humana às formas inanimadas da natureza 
            ou aos seres vivos irracionais). Mas, isso também pode ser 
            resumido em duas palavras: irracionalidade fideísta. 
          Para concluir, examinarei 
            brevemente a afirmação de Melisso: Nada 
            do que tem início e fim é eterno e ilimitado. Penso 
            que houve uma ligeira escorregadela no pensamento deste Filósofo. 
            O que tem início e fim? Pode algo subsistir fora do Um-Múltiplo-Cósmico? 
            Então, início e fim são também ilusões-justificativas 
            da razão ou da fé para tentar explicar o nascimento/morte 
            e a morte/nascimento e o aparecimento e o desaparecimento das coisas 
            neste Plano Ilusório de Realidades. Ora, um pedaço de 
            ferro que enferruja não morre, nasce como ferrugem. Mas, usando 
            o entendimento de Melisso — imobilidade do Ser — a criação 
            e a extinção são uma dupla impossibilidade cósmica. 
            Mas é exatamente o contrário: é o movimento perpétuo 
            do(s) universo(s) [melhor: a perpétua existência e permanência 
            de Aquilo que perdura por trás das coisas] 
            que autoriza e sustém a transformação — 
            o que é, é, foi, e será, sem início e 
            sem fim. A transitoriedade é sinônimo de mudança, 
            e isto é permanente no Cosmos. O que não pode mudar 
            é a origem vibratória mantenedora das coisas — 
            Aquilo — que alguns, por conveniência 
            ou por ignorância, apelidam de Deus. 
           
          
           
          Empédocles 
            de Agrigento, que será revisitado a seguir, possuía 
            uma visão mais atualizada dessa matéria. 
           
           
          EMPÉDOCLES 
            DE AGRIGENTO
            (Sua existência alcançou o acme 
            por volta de 450 a. C.) 
           
          
          
          
             
          * É 
            próprio dos espíritos baixos desconfiar dos mais fortes. 
            
          * Não 
            há nascimento para nenhumas coisas [ditas] mortais, 
            como não há fim na morte funesta, mas somente composição 
            e dissociação dos elementos compostos. Nascimento não 
            é mais do que um nome usado pelo homem. 
           
           
           
          * É 
            impossível que algo seja gerado do que não é, 
            e jamais se realizou nem se ouviu dizer que o que é seja exterminado. 
            
          * Nenhuma 
            parte do Todo está vazia. Portanto, de onde poderia entrar 
            Nele alguma coisa?
          * 
             Belo é dizer mesmo duas vezes o que 
            é necessário. 
          * 
            Ora uns, ora outros (os elementos e as forças) 
            predominam no curso do ciclo, desaparecem uns nos outros e crescem 
            na alternância do destino. Pois somente os elementos são, 
            e, circulando uns nos outros, tornam-se homens e outras espécies 
            de animais, ora unindo-se pelo Amor em uma só ordem, ora separando-se 
            as coisas particulares na inimizade da Discórdia, 
            até que, integrados na unidade total, sejam novamente submetidos. 
             
          * 
            Eu já fui moço, e moça, 
            e planta, e pássaro e um mudo peixe do mar.  
          * Os 
            olhos são testemunhas mais exatas do que os ouvidos. 
          * Os elementos 
            materiais são em número de quatro — fogo, ar, 
            água e terra — todos eternos, mas mudando em quantidade 
            e escassez por meio da mistura e da separação. Mas os 
            seus verdadeiros princípios, que cedem movimento a estes, são 
            o Amor e a Discórdia. Os elementos estão continuamente 
            sujeitos a uma mudança alternada, ora misturados pelo Amor, 
            ora separados pela Discórdia, de modo que, pela sua exposição, 
            os primeiros princípios são em número de seis 
            [4 + 2]. 
          Dois exemplos dessa doutrina são: 
            água, areia e azeite não se amam (formam uma mistura 
            heterogênea trifásica) porque entre eles prevalece a 
            Discórdia; mas, entre a cal viva 
            a água há Amor, pois dessa 
            união forma-se a cal apagada.
           
          
           
           
          
           
          Empédocles de Agrigento, estadista, 
            filósofo, poeta, cientista e, segundo consta, curandeiro, nasceu 
            por volta de 492 a. C. em Acragás (Agrigento), uma rica pólis 
            da Magna Grécia. Viajou por muitas terras e faleceu sexagenário 
            em local ignorado. Na sua doutrina cosmogônica (uma tentativa 
            de compreender a totalidade da experiência humana) toda a existência 
            deriva de quatro elementos fundamentais e isonômicos: fogo, 
            ar, água e terra. Para ele, a alma era o resultado 
            da interação dos quatro elementos fundamentais e dos 
            dois princípios que promoviam a união ou a desunião 
            dessas quatro raízes — Amor 
            e Discórdia — em ciclos cósmicos 
            incessantes. Segundo Gerd A. Bornheim, a doutrina dos quatro elementos 
            só perdeu prestígio no transcurso da segunda metade 
            do século XVIII a partir dos estudos do químico francês 
            Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794), mas, até então, 
            infuenciara sobremaneira Platão, Aristóteles, os estóicos 
            e a própria medicina. Enfim, o resumo de seu pensamento filosófico 
            é: às vezes, do múltiplo cresce o uno para 
            um único ser; outras, ao contrário, divide-se o uno 
            na multiplicidade.