* O Cosmos é um.
Essa é uma questão recorrente
no âmbito da Filosofia. Não há um único
filósofo que não tenha meditado sobre o Universo, e,
na realidade, tanto faz que se admita o Universo como sendo um ou
vários, isto é, que se pense em ilimitados universos,
pois se prevalecer o segundo entendimento a soma ilimitada de todos
os ilimitados universos dará como resultado um Universo-Mãe
ilimitado.
De qualquer forma, apesar de Tales
(filósofo naturalista considerado o pai da Filosofia grega
e um dos sete sábios da Grécia, pensador, político,
matemático, engenheiro e astrônomo) ter pensado que todas
as coisas estão cheias de deuses e que o Universo
é animado e cheio de deuses, admitiu que a inteligência
cósmica é o próprio Deus — o espírito
do Mundo é Deus e a totalidade das coisas é dotada de
alma cheia de 'dáimones'. Tales entendia a alma como algo
cinético misturada ao Universo, e admitiu que a própria
pedra de magnésia (pedra de ímã) possui uma alma
pelo fato de deslocar limalhas de ferro. Para Tales, tudo provém
da Água e a Inteligência Divina tudo faz a partir da
Água — a Terra flutua na Água (este conceito
não é absolutamente original, pois já fora mencionado
anteriormente na própria Grécia em precedentes mitológicos,
ainda que Tales tenha abandonado a formulação mítica;
mas Aristóteles admitiu que Tales considerava a Água
em um sentido peripatético permanente). Na Metafísica,
escreveu Aristóteles: Tales diz que o princípio
é a Água, extraindo esta convicção da
constatação de que o alimento de todas as coisas é
úmido e que até o quente se gera do úmido e vive
no úmido. Ora, aquilo de que todas as coisas se geram é,
exatamente, o princípio de tudo. Ele tira, pois, esta convicção
desse fato e do fato de que todas as sementes de todas as coisas têm
uma natureza úmida, e a Água é o princípio
da natureza das coisas úmidas.
Pode-se, enfim, inferir do pensamento
deste Filósofo que se tudo provém da Água; à
Água tudo haverá de retornar. A grande especulação
que fica em aberto é se Tales considerava esse primeiro princípio
como H2O ou se reconhecia algo
anterior que produziria a própria H2O!
Estou inclinado a ficar com a segunda hipótese. Ora, se o
Cosmos é um, como disse Tales, como ele poderia
ter pensado que uma coisa material (H2O)
pudesse dar origem a coisas imateriais? Como poderiam os deuses, a
inteligência cósmica e instâncias mais elevadas
provirem da H2O física,
molecular (ainda que o conceito de molécula não fosse
conhecido publicamente)? Este raciocínio, que não repetirei,
vale para todas as especulações metafísicas dos
Iniciados Pré-socráticos. Se hoje ainda não é
possível dizer tudo, que dirá há mais de dois
milênios! Daí os mitos gregos, por exemplo, que não
diziam nada e diziam tudo.
ANAXIMANDRO
DE MILETO
[(547 a. C. (?) - 610 a. C. (?)]
* O Ilimitado
é eterno, imortal e indissolúvel.
Percebendo que tudo
o que é gerado chega a um fim e é dissolvido, Anaximandro
(parente, discípulo e sucessor de Tales) admitiu que todo e
qualquer princípio deriva de um Princípio Indefinido
Ilimitado e Eterno que não envelhece e é responsável
pela gênese e pela dissolução do Universo, repetindo-se
desde um tempo ilimitado. Segundo Teofrasto, Anaximandro afirmou que
o princípio de todas as coisas existentes não é
nenhum dos denominados elementos (Água, Ar, Terra e Fogo),
mas o Ápeiron (sem limites) — ... uma outra
natureza 'Ápeiron', de que provêm todos os céus
e mundos nele contidos... E a fonte de geração das coisas
que existem é aquela em que se verifica também a destruição
'segundo a necessidade'; pois pagam castigo e retribuição
uns aos outros pela sua injustiça, de acordo como o decreto
do Tempo...
A pluralidade dos
mundos, segundo o Filósofo, seria derivada de uma ruptura na
unidade do Ápeiron, e a sucessão ilimitada
de mundos pode ser entendida de duas maneiras: como continuidade cósmica
ou como hiatos acósmicos, nos quais, entre mundo(s) e mundo(s)
existiriam hiatos extracósmicos (Ápeiron).
O 'Ápeiron' se nos apresenta – segundo José
Manuel Fernández – como a fonte inesgotável
de energia [em perpétuo movimento] que garante a transformação
[evolução ou perene reintegração]
e a unidade do cosmos [em si mesmo].
ANAXÍMENES
DE MILETO
[(585 a. C. (?) - 528/525 a. C. (?)]
* Como
nossa alma, que é Ar, nos governa e sustém, assim também
o sopro e o Ar abraçam todo o cosmos. (Este é
o único fragmento conhecido de Anaxímenes, embora, segundo
Gerd Bornheim, não haja certeza de que seja autêntico.)
Segundo Simplício,
Anaxímenes admitia que o princípio de todas as coisas
existentes é o Ar. Ao se fazer mais sutil se converte em Fogo;
ao se condensar, converte-se em vento, depois em nuvem; mais condensado
ainda transforma-se em Água, Terra e pedra. Todas as demais
coisas são produzidas a partir destas. Disse também
que o movimento é eterno e gerador das mudanças. Mas,
em sua cosmogonia, é do Ar que nascem todas as coisas existentes,
as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas.
Para este pré-socrático o Ar tem caráter divino;
dizia que o Ar é o próprio Deus. O Ar, portanto, substitui
a Água de Tales, mas incorpora algumas propriedades do Ápeiron
de Anaximandro. Para Anaxímenes o Ar é um Ápeiron
infinito, porém determinado. Hipólito justifica
essa escolha explicando que o Ar é mais abstrato aos sentidos
do que a Água de Tales, ao mesmo tempo em que é invisível
como o Ápeiron de Anaximandro.
XENÓFANES
DE CÓLOFON
(Escreveu exclusivamente em versos)
[(580/577 a. C. (?) - 460 a. C. (?)]
* Tudo
sai da Terra e tudo volta à Terra. Tudo que nasce é
Terra e Água. Nascemos todos da Terra e da Água.
* Os mortais
imaginam que os deuses são engendrados, têm vestimentas,
voz e forma semelhante a eles.
* Mas,
se mãos tivessem os bois, os cavalos e os leões, e pudessem
com as mãos desenhar e criar obras como os homens, os cavalos
pintariam figuras de deuses semelhantes a cavalos e os bois semelhantes
a bois, tais quais eles próprios...
* Um único
deus, o maior entre deuses e homens, nem na figura nem no pensamento
é semelhante aos mortais.
* Homem
nenhum viu e não haverá quem possa ver a verdade acerca
dos deuses e de todas as coisas das quais eu falo; pois, mesmo se
alguém conseguisse se expressar com toda exatidão possível,
ele próprio não se aperceberia disso. A opinião
reina em tudo.
* Aos deuses atribuíram Homero e
Hesíodo tudo o que entre os homens é vergonhoso e digno
de censura: roubar, cometer adultério e enganar uns aos outros.
Segundo Teofrasto,
uma das fórmulas contidas nos ensinamentos de Xenófanes
é: Tudo é o Um e o Um é Deus.
Aristóteles, na sua Metafísica, relata: Parmênides
parece se referir ao Um segundo o conceito, e Melisso refere-se ao
Um segundo a matéria. Por isso, Parmênides diz que o
Um é limitado, e Melisso que é ilimitado. Xenófanes
foi o primeiro filósofo a postular a unidade. Nada esclareceu
e nem parece que vislumbrou nenhuma dessas duas naturezas, mas, dirigindo
o olhar ao céu dizia que o Um é Deus. Do pensamento
de Xenófanes sobressaem três aspectos principais: o combate
acirrado contra a visão antropomórfica dos deuses, a
sátira mordaz contra a moralidade das divindades gregas e a
crítica contundente às limitações não
admitidas do conhecimento humano. Defendia veementemente a existência
de um Deus único, eterno e imóvel.
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Bibliografia
Básica
BORNHEIM, Gerd A.
Os filósofos pré-socráticos. São
Paulo: Cultrix, s. d.
KIRK, G. S. e RAVEN,
J. E. Os filósofos pré-socráticos. 2ª
edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1982.
Páginas
Web e Websites Consultados
http://www.pucsp.br/~filopuc/verbete/tales.htm
http://gl.wikipedia.org/wiki/Image:Thales.jpg
http://www.filosofia.org/cur/pre/axima.htm
http://www.filosofia.org/cur/pre/index.htm
http://www.luventicus.org/articulos/02A034/anaximenes.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%A9-socr%C3%A1ticos
http://www.antroposmoderno.com/antro-articulo.php?id_articulo=587
http://mat.izt.uam.mx/edg/micro.html
http://paginas.terra.com.br/arte/sfv/XenofanesDeColofon.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Xen%C3%B3fanes_de_C%C3%B3lofon
http://atuleirus.weblog.com.pt/arquivo/Cavalo.jpg
Música
de fundo:
Love Story Theme (Francis Lai)
Fonte:
http://www.elite.net/~gurpal/movie1.htm