FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS

 

FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS
(Fragmentos e Doxografia)

PARTE III

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

* Filósofos Pré-socráticos (Fragmentos e Doxografia) — Parte I:

http://paxprofundis.org/livros/presocraticos/filosofos.htm

* Filósofos Pré-socráticos (Fragmentos e Doxografia) — Parte II:

http://paxprofundis.org/livros/presocraticos1/filosofos.htm

 

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PARMÊNIDES DE ELÉIA
(Sua existência alcançou o acme
entre os anos de 500 a. C. e 475 a. C.)

 

PARMÊNIDES DE ELÉIA

 

* O Ser é; o não-Ser não é.

* Pensar e ser é o mesmo.

* ... o Ser é e o nada nada é... jamais se conseguirá provar que o não-Ser é... o Ser jamais foi nem será, pois é, no instante presente, sendo inteiro, uno, contínuo...

* ... nada é e nada poderá ser fora do Ser...

 

Parmênides de Eléia nasceu em Eléia, hoje Vélia, Itália. Foi o fundador da Escola Eleática, da qual são também representantes Zenão de Eléia e Melisso de Samos. Para o Eleata há dois caminhos: o primeiro é a via da verdade (alétheia) e o segundo a via da opinião (doxa). O primeiro é a via do Ser Uno, indivisível, imutável, imóvel e intemporal. O segundo é a via do não-Ser, do nada, do que não existe, do inominável, do impensado e do indizível, ou seja, é a via da opinião. Na tese parmenediana nosso mundo divide-se em duas esferas: a esfera das qualidades positivas – o Ser – (luz, quente, ativo, masculino, fogo, vida) e a esfera das qualidade negativas – o não-Ser – (escuridão, frio, passivo, feminino, terra, morte). A esfera negativa á tão-só a negação da esfera positiva, isto é, esta esfera não contém as propriedades que existem na esfera positiva. Na Metafísica, Aristóteles explica essa especulação de Parmênides: Julgando que fora do Ser o não-Ser é nada, forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o Ser, e nenhuma outra... Mas, constrangido a seguir o real, admitindo ao mesmo tempo a unidade formal e a pluralidade sensível, estabelece duas causas e dois princípios: quente e frio, vale dizer, Fogo e Terra. Destes (dois princípios) ele ordena um (o quente) ao ser, o outro ao não-ser. Para Parmênides toda mudança é ilusória. O vir-a-ser é apenas uma ilusão sensível. Isto quer dizer que todas as percepções de nossos sentidos são ilusórias, ou seja, são ilusões criadoras da tendência de se pensar que o não-ser é.

Simplício, na Física, assim explica a natureza do Ser-Absoluto de Parmênides: Como poderia ser gerado? E como poderia perecer depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição é impensável. Também não é divisível, pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos além, o que lhe impediria a coesão, mas tudo está cheio do que é. Por isso, é todo contínuo; pois o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado nos limites de cadeias potentes, é sem princípio ou fim, uma vez que a geração e a destruição foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira. É o mesmo, que permanece no mesmo e em si repousa, ficando assim firme no seu lugar. Pois a forte Necessidade o retém nos liames dos limites que de cada lado O encerra, porque não é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada necessita – se assim não fosse, de tudo careceria. Mas, uma vez que tem um limite extremo, está completo de todos os lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio a partir do centro, em todas as direções; pois não pode ser algo mais aqui e algo menos ali.

 

 

Teofrasto resume a Metafísica de Parmênides da seguinte forma: O que está fora do Ser não é Ser; o não-Ser é nada. O Ser, portanto, é Um.

Resumo da doutrina de Parmênides:

1. Unidade e imobilidade do Ser;

2. O mundo sensível é uma ilusão; e

3. O Ser é Uno, Eterno, Não-gerado e Imutável.

 

 

 

ZENÃO DE ELÉIA
(Sua existência alcançou o acme
entre os anos de 464 a. C. e 461 a. C.)

 

ZENÃO DE ELÉIA


* É impossível que algo surja quando já é, pois teria que surgir ou do igual ou do desigual. Ambas as coisas são, porém, impossíveis, pois não se pode atribuir ao igual que dele se produza mais do que deve ser produzido, já que os iguais devem ter entre si as mesmas determinações. Tampouco pode surgir o desigual do desigual, pois se do mais fraco se originasse o mais forte, ou do menor o maior, ou do pior o melhor, ou se, inversamente, o pior viesse do melhor, originar-se-ia o não-Ser do Ser, o que é impossível. Portanto, Deus é Eterno.

* Se Deus é mais poderoso do que tudo, então Lhe é próprio que seja Um, pois, na medida em que Dele houvesse dois ou ainda mais deuses, Ele não teria poder sobre eles; e, enquanto Lhe faltasse o poder sobre os outros deuses não seria Deus. Se, portanto, houvesse mais deuses, eles seriam ou mais poderosos ou mais fracos um em face do(s) outro(s); não seriam, por conseguinte, deuses, pois faz parte da natureza de Deus não ter acima de si nada mais poderoso, pois o igual não é nem pior nem melhor do que o igual – ou não se distingue dele. Se, portanto, Deus é, e se Ele é de tal natureza, então só há um Deus, e não seria capaz de tudo o que quisesse se houvesse mais deuses.

* Sendo Um, é em toda parte igual. Ouve, vê e possui também, em toda a parte, os outros sentimentos, pois, não fosse assim, as partes de Deus dominariam umas sobre as outras, o que é impossível. Como Deus é em toda parte igual, possui Ele a forma esférica, pois, não é aqui assim e em outra parte de outro modo, mas, em toda parte igual.

* O Um, portanto, não está nem em repouso nem em movimento, pois não se parece nem com o não-Ser nem com o múltiplo. Em tudo isso, Deus se comporta assim, pois Ele é eterno e uno, idêntico a si mesmo e esférico, nem ilimitado nem limitado, nem em repouso nem em movimento.

* Se a pluralidade existe, as coisas serão igualmente grandes e pequenas; tão grandes que serão infinitas em tamanho, tão pequenas que não terão qualquer tamanho.

* Se o que existe não tivesse tamanho, nem sequer seria. Pois se fosse acrescentado a qualquer outra coisa, não a faria maior; pois não tendo tamanho algum, não poderia, ao ser acrescentado, causar qualquer aumento em tamanho. E assim, o que fosse acrescentado seria evidentemente nada. E também se, ao ser tirado, a outra coisa não fica menor, tal como, quando acrescentada, não aumenta, é óbvio que o que foi juntado ou tirado era nada.

* Mas, se existe, cada coisa deve ter um certo tamanho e espessura, e uma parte dela tem de estar a certa distância de outra parte. E o mesmo argumento vale para a parte que está diante dela - que também terá algum tamanho, e alguma parte dela estará à frente. E é a mesma coisa dizer isto uma vez e continuar a dizê-lo indefinidamente, pois nenhuma parte dela será a última, nem haverá nunca uma parte sem relação a outra.

* Assim, se há uma pluralidade, as coisas têm de ser igualmente grandes e pequenas; tão pequenas que nem terão tamanho, tão grandes que serão infinitas.

* Argumento da dicotomia Imagine um móvel que está no ponto A e quer atingir o ponto B. Este movimento é impossível, pois antes de atingir o ponto B o móvel tem que atingir o meio do caminho entre A e B, isto é, um ponto C. Mas, para atingir o ponto C, terá que primeiro atingir o meio do caminho entre A e C, isto é, um ponto D. E assim, ao infinito!

* Argumento de Aquiles – Aquiles nunca poderá alcançar a tartaruga, porque na altura em que atingir o ponto de onde a tartaruga partiu, ela ter-se-á deslocado para outro ponto; na altura em que alcançar esse segundo ponto, ela ter-se-á deslocado de novo. E assim sucessivamente, 'ad infinitum'.

* Argumento da flecha – Uma flecha em vôo está, a qualquer instante, em repouso. Ora, se um objeto está em repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias dimensões, e se a flecha em vôo sempre ocupa espaço igual às suas próprias dimensões, a flecha em vôo está em repouso!

* Quarto Argumento – Diz respeito a duas filas de corpos, sendo cada fileira constituída por igual número de corpos do mesmo tamanho, passando uma pela outra numa pista de corridas, à medida que avançam, com igual velocidade, em direções opostas; uma das fileiras ocupa inicialmente o espaço entre a meta e o ponto médio da pista e a outra o espaço entre o ponto médio e a posição de partida. Isto implica na conclusão de que metade de um dado tempo é igual ao dobro desse tempo!

 

 

 

UM SOFISMA ALGÉBRICO

 

Provando(?) matematicamente que dois é igual a três:

 

2 = 3

2 – 2 = 3 – 3

2(1 – 1) = 3(1 – 1)


Cancelando-se em ambos os membros dessa igualdade o fator comum (1 – 1), tem-se:

 

2 = 3

 

O sofisma (argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir uma ilusão de veracidade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa) reside na divisão por zero, que não existe. Ao cancelarmos (1 – 1) em ambos os membros, estamos dividindo os dois termos da igualdade por (1 – 1), e 1 – 1 = 0. Esse sofisma é equivalente a fazer negócios com Deus ou com os Santos, pois quem tenta fazer um negócio qualquer com os Santos ou com Deus quer multiplicar zero por alguma coisa, e alguma coisa multiplicada por zero é igual a zero. Logo, tentar negociar com a Divindade ou com os Santos é uma ilusão. A simulação de um acordo com as regras da lógica, neste caso, é a interpretação equivocada dos Livros Sagrados. Apenas isso. Como se apenas isso fosse pouco ou uma coisinha de somenos! Na realidade, esses comportamentos hipotéticos são, além de inconsistentes e enganosos, superlativamente incorretos.

O sofisma acima (provar que 2 = 3) não é de autoria de Zenão, mas pensa-se que Zenão tenha criado cerca de quarenta paradoxos, todos contra a multiplicidade, a divisibilidade e o movimento (que nada mais são do que ilusões, segundo a Escola Eleática). Provar que 2 = 3 nada mais é, também, do que uma ilusão, tanto quanto ilusão é querer convencer ou dominar alguém pela força ou pelas armas. Ou, também, como visto acima, negociar com a Divindade ou com os Santos.



Bibliografia Básica

BORNHEIM, Gerd A. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, s. d.

KIRK, G. S. e RAVEN, J. E. Os filósofos pré-socráticos. 2ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.

 

Páginas Web e Websites Consultados

http://www.mundociencia.com.br/filosofia/parmenides.htm

http://afilosofia.no.sapo.pt/10parmenides.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Parm%C3%AAnides

http://classics.mit.edu/Plato/parmenides.html

http://www.galeon.com/filoesp/Akademos/textos/parmen.htm

http://www.accio.com.br/Nazare/1946/fhe-04.htm

http://mathworld.wolfram.com/RootofUnity.html

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/07/15/001.htm

http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/cantor/paradzenao.htm

http://www.hottopos.com.br/videtur12/elpcns.htm

http://www.projetozk.ufjf.br/base_p/ensaios/ensaio3/ant_zenao.htm

http://www.mundodosfilosofos.com.br/zenao.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Zen%C3%A3o_de_El%C3%A9ia

 

Música de fundo:
Love Story Theme (Francis Lai)

Fonte:
http://www.elite.net/~gurpal/movie1.htm