* Filósofos Pré-socráticos
(Fragmentos e Doxografia) — Parte I:
http://paxprofundis.org/livros/presocraticos/filosofos.htm
* Filósofos Pré-socráticos
(Fragmentos e Doxografia) — Parte II:
http://paxprofundis.org/livros/presocraticos1/filosofos.htm
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PARMÊNIDES
DE ELÉIA
(Sua existência alcançou o acme
entre os anos de 500 a. C. e 475 a. C.)
* O Ser
é; o não-Ser não é.
* Pensar
e ser é o mesmo.
* ...
o Ser é e o nada nada é... jamais se conseguirá
provar que o não-Ser é... o Ser jamais foi nem será,
pois é, no instante presente, sendo inteiro, uno, contínuo...
* ...
nada é e nada poderá ser fora do Ser...
Parmênides de
Eléia nasceu em Eléia, hoje Vélia, Itália.
Foi o fundador da Escola Eleática, da qual são também
representantes Zenão de Eléia e Melisso de Samos. Para
o Eleata há dois caminhos: o primeiro é a via da verdade
(alétheia) e o segundo a via da opinião (doxa).
O primeiro é a via do Ser Uno, indivisível, imutável,
imóvel e intemporal. O segundo é a via do não-Ser,
do nada, do que não existe, do inominável, do impensado
e do indizível, ou seja, é a via da opinião.
Na tese parmenediana nosso mundo divide-se em duas esferas: a esfera
das qualidades positivas – o Ser – (luz, quente, ativo,
masculino, fogo, vida) e a esfera das qualidade negativas –
o não-Ser – (escuridão, frio, passivo, feminino,
terra, morte). A esfera negativa á tão-só a negação
da esfera positiva, isto é, esta esfera não contém
as propriedades que existem na esfera positiva. Na Metafísica,
Aristóteles explica essa especulação de Parmênides:
Julgando que fora do Ser o não-Ser é nada, forçosamente
admite que só uma coisa é, a saber, o Ser, e nenhuma
outra... Mas, constrangido a seguir o real, admitindo ao mesmo tempo
a unidade formal e a pluralidade sensível, estabelece duas
causas e dois princípios: quente e frio, vale dizer, Fogo e
Terra. Destes (dois princípios) ele ordena um (o quente) ao
ser, o outro ao não-ser. Para Parmênides toda mudança
é ilusória. O vir-a-ser é apenas uma ilusão
sensível. Isto quer dizer que todas as percepções
de nossos sentidos são ilusórias, ou seja, são
ilusões criadoras da tendência de se pensar que o não-ser
é.
Simplício,
na Física, assim explica a natureza do Ser-Absoluto
de Parmênides: Como poderia ser gerado? E como poderia perecer
depois disso? Assim a geração se extingue e a destruição
é impensável. Também não é divisível,
pois que é homogêneo, nem é mais aqui e menos
além, o que lhe impediria a coesão, mas tudo está
cheio do que é. Por isso, é todo contínuo; pois
o que é adere intimamente ao que é. Mas, imobilizado
nos limites de cadeias potentes, é sem princípio ou
fim, uma vez que a geração e a destruição
foram afastadas, repelidas pela convicção verdadeira.
É o mesmo, que permanece no mesmo e em si repousa, ficando
assim firme no seu lugar. Pois a forte Necessidade o retém
nos liames dos limites que de cada lado O encerra, porque não
é lícito ao que é ser ilimitado; pois de nada
necessita – se assim não fosse, de tudo careceria. Mas,
uma vez que tem um limite extremo, está completo de todos os
lados; à maneira da massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio
a partir do centro, em todas as direções; pois não
pode ser algo mais aqui e algo menos ali.
Teofrasto resume a
Metafísica de Parmênides da seguinte forma: O que
está fora do Ser não é Ser; o não-Ser
é nada. O Ser, portanto, é Um.
Resumo da doutrina
de Parmênides:
1. Unidade e imobilidade do Ser;
2. O mundo sensível é
uma ilusão; e
3. O Ser é Uno, Eterno, Não-gerado
e Imutável.
ZENÃO
DE ELÉIA
(Sua existência alcançou o acme
entre os anos de 464 a. C. e 461 a. C.)
* É
impossível que algo surja quando já é, pois teria
que surgir ou do igual ou do desigual. Ambas as coisas são,
porém, impossíveis, pois não se pode atribuir
ao igual que dele se produza mais do que deve ser produzido, já
que os iguais devem ter entre si as mesmas determinações.
Tampouco pode surgir o desigual do desigual, pois se do mais fraco
se originasse o mais forte, ou do menor o maior, ou do pior o melhor,
ou se, inversamente, o pior viesse do melhor, originar-se-ia o não-Ser
do Ser, o que é impossível. Portanto, Deus é
Eterno.
* Se Deus
é mais poderoso do que tudo, então Lhe é próprio
que seja Um, pois, na medida em que Dele houvesse dois ou ainda mais
deuses, Ele não teria poder sobre eles; e, enquanto Lhe faltasse
o poder sobre os outros deuses não seria Deus. Se, portanto,
houvesse mais deuses, eles seriam ou mais poderosos ou mais fracos
um em face do(s) outro(s); não seriam, por conseguinte, deuses,
pois faz parte da natureza de Deus não ter acima de si nada
mais poderoso, pois o igual não é nem pior nem melhor
do que o igual – ou não se distingue dele. Se, portanto,
Deus é, e se Ele é de tal natureza, então só
há um Deus, e não seria capaz de tudo o que quisesse
se houvesse mais deuses.
* Sendo
Um, é em toda parte igual. Ouve, vê e possui também,
em toda a parte, os outros sentimentos, pois, não fosse assim,
as partes de Deus dominariam umas sobre as outras, o que é
impossível. Como Deus é em toda parte igual, possui
Ele a forma esférica, pois, não é aqui assim
e em outra parte de outro modo, mas, em toda parte igual.
* O Um,
portanto, não está nem em repouso nem em movimento,
pois não se parece nem com o não-Ser nem com o múltiplo.
Em tudo isso, Deus se comporta assim, pois Ele é eterno e uno,
idêntico a si mesmo e esférico, nem ilimitado nem limitado,
nem em repouso nem em movimento.
*
Se a pluralidade existe, as coisas serão
igualmente grandes e pequenas; tão grandes que serão
infinitas em tamanho, tão pequenas que não terão
qualquer tamanho.
*
Se o que existe não tivesse tamanho,
nem sequer seria. Pois se fosse acrescentado a qualquer outra coisa,
não a faria maior; pois não tendo tamanho algum, não
poderia, ao ser acrescentado, causar qualquer aumento em tamanho.
E assim, o que fosse acrescentado seria evidentemente nada. E também
se, ao ser tirado, a outra coisa não fica menor, tal como,
quando acrescentada, não aumenta, é óbvio que
o que foi juntado ou tirado era nada.
*
Mas, se existe, cada coisa deve ter um certo
tamanho e espessura, e uma parte dela tem de estar a certa distância
de outra parte. E o mesmo argumento vale para a parte que está
diante dela - que também terá algum tamanho, e alguma
parte dela estará à frente. E é a mesma coisa
dizer isto uma vez e continuar a dizê-lo indefinidamente, pois
nenhuma parte dela será a última, nem haverá
nunca uma parte sem relação a outra.
* Assim,
se há uma pluralidade, as coisas têm de ser igualmente
grandes e pequenas; tão pequenas que nem terão tamanho,
tão grandes que serão infinitas.
* Argumento da dicotomia
– Imagine um móvel que
está no ponto A e quer atingir o ponto B. Este movimento é
impossível, pois antes de atingir o ponto B o móvel
tem que atingir o meio do caminho entre A e B, isto é, um ponto
C. Mas, para atingir o ponto C, terá que primeiro atingir o
meio do caminho entre A e C, isto é, um ponto D. E assim, ao
infinito!
* Argumento de Aquiles
– Aquiles nunca poderá alcançar
a tartaruga, porque na altura em que atingir o ponto de onde a tartaruga
partiu, ela ter-se-á deslocado para outro ponto; na altura
em que alcançar esse segundo ponto, ela ter-se-á deslocado
de novo. E assim sucessivamente, 'ad infinitum'.
* Argumento da flecha
– Uma flecha em vôo está,
a qualquer instante, em repouso. Ora, se um objeto está em
repouso quando ocupa um espaço igual às suas próprias
dimensões, e se a flecha em vôo sempre ocupa espaço
igual às suas próprias dimensões, a flecha em
vôo está em repouso!
* Quarto Argumento
– Diz respeito a duas filas de corpos,
sendo cada fileira constituída por igual número de corpos
do mesmo tamanho, passando uma pela outra numa pista de corridas,
à medida que avançam, com igual velocidade, em direções
opostas; uma das fileiras ocupa inicialmente o espaço entre
a meta e o ponto médio da pista e a outra o espaço entre
o ponto médio e a posição de partida. Isto implica
na conclusão de que metade de um dado tempo é igual
ao dobro desse tempo!
UM SOFISMA
ALGÉBRICO
Provando(?) matematicamente
que dois é igual a três:
2 = 3
2 – 2 = 3 –
3
2(1 – 1) = 3(1
– 1)
Cancelando-se em ambos os membros dessa igualdade o fator comum (1
– 1), tem-se:
2 = 3
O sofisma (argumento
ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir uma ilusão
de veracidade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica,
apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta
e deliberadamente enganosa) reside na divisão por zero, que
não existe. Ao cancelarmos (1 – 1) em ambos os membros,
estamos dividindo os dois termos da igualdade por (1 – 1), e
1 – 1 = 0. Esse sofisma é equivalente a fazer negócios
com Deus ou com os Santos, pois quem tenta fazer um negócio
qualquer com os Santos ou com Deus quer multiplicar zero por alguma
coisa, e alguma coisa multiplicada por zero é igual a zero.
Logo, tentar negociar com a Divindade ou com os Santos é uma
ilusão. A simulação de um acordo com as regras
da lógica, neste caso, é a interpretação
equivocada dos Livros Sagrados. Apenas isso. Como se apenas
isso fosse pouco ou uma coisinha de somenos! Na realidade,
esses comportamentos hipotéticos são, além de
inconsistentes e enganosos, superlativamente incorretos.
O sofisma acima (provar
que 2 = 3) não é de autoria de Zenão, mas pensa-se
que Zenão tenha criado cerca de quarenta paradoxos, todos contra
a multiplicidade, a divisibilidade e o movimento (que nada mais são
do que ilusões, segundo a Escola Eleática). Provar que
2 = 3 nada mais é, também, do que uma ilusão,
tanto quanto ilusão é querer convencer ou dominar alguém
pela força ou pelas armas. Ou, também, como visto acima,
negociar com a Divindade ou com os Santos.