Darwin
chegou a afirmar que a condição necessária para
o progresso seria a seleção dos melhores pela eliminação
dos mais fracos e dos incapazes... e que não se paga demasiado
caro por esse preço(?!) Aqui preciso fazer um parêntesis
para lembrar o horror do holocausto (massacre de judeus e de outras
minorias efetuado nos campos de concentração alemães
durante a Segunda Guerra Mundial) que, obviamente, teve em Darwin
um excelente inspirador. Mas, o que estamos assistindo Mundo afora
neste começo de Terceiro Milênio não é
uma forma de Darwinismo às avessas (Darwinismo político,
Darwinismo religioso, Darwinismo econômico etc.)? O lucro neoliberal
é ou não é uma forma de Darwinismo? Não
posso deixar de recordar as sábias palavras do escritor francês
Jean de La Bruyère (1645-1696) – que com La Rochefoucauld
e outros faz parte do grupo denominado de moralistas franceses –
em Os Caracteres: A maioria das pessoas emprega a melhor parte
de sua vida em tornar miserável a outra parte. Haverá,
presentemente, coisa mais miserável do que a Globalização
— da forma egoísta e insana como está
sendo implementada?
Associando
as duas doutrinas, Maltusianismo e Darwinismo, rasteiramente muitos
concluíram que qualquer sistema sócio-econômico
que elimine as penúrias do proletariado conduzirá, inexoravelmente,
à superpopulação e à fome. Tais teorias
vieram tranqüilizar os corações nos quais havia
uma ponta de remorso pelo egoísmo do desatendimento às
reivindicações humanitárias da sociedade, ao
mesmo tempo em que incentivaram e deram expressão aos sentimentos
mais vis desses mesmos corações. Lins comenta que chegaram
muitos a condenar as obras de assistência e amparo aos doentes,
pobres e velhos, repudiando toda a solidariedade humana e pregando
a justiça da força, da violência e do egoísmo
como outras tantas afirmativas de uma verdade natural inevitável.
O próprio nazi-facismo justificou, com base nos princípios
acima descritos, as aberrações, tiranias e opressões
contra os povos que submeteu e os seres humanos que massacrou. Oswald
Spengler (1880-1936), filósofo idealista alemão adepto
da filosofia da vida, chegou a proclamar que a guerra é
a forma eterna do ser humano. Eu concordaria inteiramente com
ele se desta maluquice fosse retirada a palavra eterna.
Augusto
Comte e Malthus
Comte,
na Política Positiva, rebateu a argumentação
de Malthus e mostrou que o economista inglês ignorava a lei
geral que demonstra que, no conjunto dos seres vivos, a fecundidade
se torna tanto menor quanto mais elevada é a espécie.
Sobre este ponto, ouça-se Ivan Monteiro de Barros Lins:
Refuta, portanto, o Positivismo a [presumida] veracidade
da Teoria de Malthus, quando estendida ao campo social, patenteando
não ser o fenômeno do crescimento sociológico
idêntico ao do crescimento biológico. Continua Lins:
Outrora, eram necessários, nos Estados Unidos, dois agricultores
para produzir os víveres imprescindíveis a um habitante
da cidade; hoje [primeira metade do século XX], dois
operários agrários podem alimentar dezesseis. Há
um século, eram precisos 100 dias de trabalho para se obter
uma tonelada de trigo; hoje, bastam dezoito horas, isto é,
ao mesmo tempo de trabalho correspondem 140 vezes mais trigo.
Como
se não bastasse, para derrubar tais idéias e conceitos,
a ciência, em especial a Biologia, vem progressivamente demonstrando
que novas formas de alimentos e novas espécies podem ser e
são criadas para o bem-estar da Humanidade. De qualquer forma,
é necessário se meditar em qual será o preço
que esta mesma Humanidade irá pagar por estas interferências.
Dois exemplos ilustram essa matéria: a vegetação
sem solo e a criação sem pasto. Isto, além de
outros exemplos, veio dar à Humanidade a certeza (perigosa)
de que não será, até um certo limite, nem pela
falta de alimentos e nem pela seleção natural, que a
sociedade poderá alcançar um estado de harmonia, paz,
saúde, satisfação e equilíbrio demográfico.
Aliás, como tenho enfatizado em outros ensaios, todas essas
coisas independem do que possa existir do lado de fora; só
dependem, realmente, do que cada um puder descobrir e construir em
seu próprio interior. Fora é a ilusão; dentro
é a realização.
E
quanto ao equilíbrio demográfico, é um crime
contra a vida (e contra a Vida) alguém ter uma montanha de
filhos sem ter como sustentá-los e educá-los condignamente.
Isso é, no mínimo, falta de respeito com a vida e com
a Eterna Vida. Uma parte ponderável da desarmonia planetária
global é originária das famílias – de um
lado ignorantes, de outro irresponsáveis – que têm
um número excessivo de filhos, nas quais não há
(quando não há) os meios necessários e suficientes
sequer para alimentar e para educar minimamente esses filhos. E o
problema não fica restrito, se fosse apenas este o caso, tão-só
à questão da subnutrição; além
das conhecidas doenças e carências que vão aparecendo
ao longo da vida decorrentes de uma alimentação inadequada
e insuficiente na infância e na adolescência, em muitos
casos, pela revolta compreensível mas injustificada, sucede
que os jovens resvalam para o lado sombrio da existência, isto
é: da violência para obtenção de recursos
imediatos (assaltos, roubos, tráfico de drogas etc.), porque
simplesmente esse caminho é ilusória e aparentemente
mais fácil e mais lucrativo. Não é.
Controlar adequada e concertadamente a natalidade é uma das
urgências deste Terceiro Milênio, ainda que, retrogradamente,
algumas religiões (e algumas pessoas) pensem e recomendem exatamente
o contrário. Em aditamento, neste século XXI, combater
e condenar o uso de dispositivos para evitar a concepção
é uma verdadeira abominação. É preciso
que se compreenda que enquanto prevalecer o entupimento místico,
o sexo é uma necessidade fisiológica que não
pode, a pretexto de nada, ser condenada, ainda que ele seja apenas
uma forma de satisfação física na qual, na maioria
das vezes, nem sequer esteja presente o amor. Portanto, é uma
verdadeira monstruosidade, por exemplo, impor aos sacerdotes o celibato,
e proibir – com ameaças medonhas, mas inócuas
– aos religiosos em geral o sexo fora do casamento. Isso é
inteiramente antinatural, até porque o celibato é primariamente
espiritual e não carnal, e ninguém tem
o poder (ou pode presumir que tenha o poder) de abençoar e
de casar alguém com alguém em nome de alguém,
sejam quais forem todos esses 'alguéns'. E assim,
o celibato carnal é uma decorrência de um excelso estado
espiritual que não pode ser alcançado ou obtido pela
força ou pelo medo de 'pecar', até porque aquele
que resiste, geralmente, acaba 'pecando' em pensamento e
caindo na masturbação, que também não
é 'pecado', pelo menos da forma como é interpretado
o 'pecado'. Isso, quando a coisa não resvala tenebrosamente
para o estupro e para a pedofilia! Isso dito, primeiro deve ser conquistado
o cælibatus spiritualis ou mysticus, depois
o carnalis, que ocorrerá naturalmente e sem esforço
ou coerção. Mas, tudo isso depende de determinados desentupimentos
que ocorrem em estágios progressivos e que não comentarei
nesta oportunidade, mas que, obviamente, não poderão
acontecer por ordem ou pela vontade autoritária de quem quer
que seja. Em outras palavras: só depende do próprio.
Peço desculpas, mas terei que, para concluir esse assunto,
forçar o português: ninguém irá para o
inexistente inferno por dar uma trepadinha. Isso é pura maluquice
inventada com propósitos perfeitamente definidos. Tudo isso
(e mais um pouco) sem discutir em pormenores, porque é mais
do que óbvio, o gravíssimo problema das diversas Doenças
Sexualmente Tansmissíveis – DSTs (que também ocorrem
em larga escala no reino animal em virtude da promiscuidade) das quais
sobressai a pandêmica Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida – AIDS.
Conclusão:
enquanto o sexo for necessário, que seja feito. Mas, responsavelmente
e com camisinha. Sempre! Proibir o sexo, e pior, proibir a camisinha
são abominações malditas que conspiram contra
o bem-estar da Humanidade. Eu não posso me conformar com isso.
Stuart
Mill e a Legislação Trabalhista
Contrariando
John Stuart Mill (1806-1873), que repelia qualquer intervenção
do aparelho estatal em proveito da classe trabalhadora, Comte, no
Sistema de Política Positiva, aconselhou que fosse
incluído nos orçamentos dos governos um terço
da arrecadação para ser destinado a trabalhos públicos
previstos para eventualmente ocuparem as vítimas do desemprego.
Eu também já tive a oportunidade de, em diversos
ensaios, comentar os problemas derivados da Globalização.
Bem entendido: da Globalização do jeito que está
desenhada. Não é misticamente aceitável que alguém
enriqueça até a raiz dos cabelos, enquanto a imensa
maioria da Humanidade morre de fome. Quando alguém
lucra, alguém perde. A continuar as coisas da
forma que vão, a África, por exemplo, está condenada
a sumir do mapa, e o Terceiro e o Quarto Mundos condenados estão
a não acompanhar o desenvolvimento do Primeiro (a montanha
de dinheiro que circulou pelo Mundo em 2005 foi um mero ponto fora
da curva). A miséria endêmica que graça por este
Planeta é tão vergonhosa que, muitas vezes, eu tenho
vergonha de me alimentar. Por outro lado, mas dentro do tema, deveríamos,
mais do que agradecer a Deus pela comida que comemos, pedir desculpas
aos nossos irmãos (animais e vegetais) por ter que comê-los
para sobreviver. Estou convencido de que, um dia e em outra dimensão,
não precisaremos mais nos valer do princípio da devoração
de outros seres para sobreviver. Pensando bem, isso é mesmo
um horror.
O
Apocalipse do Desespero Social
Na
época de Comte, contam os historiadores, fortunas gigantescas
eram (mal) paridas em poucos anos, enquanto aqueles que haviam sofridamente
auxiliado a construí-las morriam à míngua e padecendo
dos mais diversos tipos de doenças ocupacionais (neste Terceiro
Milênio, anualmente, em torno de 160 milhões de trabalhadores
são atingidos por doenças ocupacionais, sendo que 2
milhões morrem a cada ano dessas doenças e/ou de acidentes
de trabalho ocorridos no próprio ambiente de trabalho, segundo
relatório da Organização Internacional do Trabalho
- OIT de 2002. Então, isso mudou ou piorou do tempo de Comte
para cá? Resposta: piorou muito e, no andar da carruagem, vai
piorar mais se não houver uma mudança profunda, em latitude
e longitude, nas regras que norteiam a Economia mundial. Enfim, tristemente,
quanto menos atenção a Humanide der à essas coisas,
mais sofrido será o Dia da Transformação.
O
que eu tenho certeza é de que todas as sobrevalias serão
compensadas oportuna e duramente. Haveremos de aprender, queiramos
ou não, por bem ou por Bem, que não há diferença
entre mesmo e outro, simplesmente porque ambos são um! Por
isso tenho dito e insisto mais uma vez: a dor do outro é a
dor do mesmo, e a dor do mesmo é a dor do outro. Podemos não
sentir essas coisas fisicamente, na carne, mas, se ainda não
sentimos, haveremos de sentir integralmente em nossa alma. Então,
será muito mais atormentador e muito mais doloroso. Isso eu
também não tenho qualquer dúvida, tanto quanto
não tenho qualquer dúvida de que teremos que aprender
a transmutar em nove, nesta encarnação ou em outra,
cada seis do nosso número
seiscentos e sessenta e seis.
Seguindo:
Lins relata o seguinte fato para exemplificar o sarcasmo e o descaso
com que eram tratadas as reivindicações trabalhistas
daqueles tempos: Pleiteando os operários ingleses a redução
do dia de trabalho, que era, então, de quatorze horas, os industriais
britânicos, em petição ao Parlamento, alegaram
ser o seu lucro constituído apenas pela última meia
hora! O que Lins pretendeu demonstrar com o exemplo transcrito,
foi salientar e denunciar o lucro pessoal sem limites e sem a mínima
preocupação com a classe trabalhadora. O pedantismo
e a arrogância que prevaleciam naquela época (e que,
de certa forma, ainda prevalecem hoje) mereceram de Comte as mais
profundas recriminações.
Para
Comte, sem uma reorganização espiritual da sociedade
(que não poderia, segundo ele, acontecer em bases teológicas,
ainda que o Positivismo tenha estabelecido a Religião da Humanidade)
a Economia não poderia ser reestruturada em bases racionais
e fraternas, como seria desejável. Acreditava que sem a formação
de órgãos internacionais que coordenassem a indústria
moderna, perdurará a anarquia crônica acompanhada
de todo o seu séquito de horrores: o luxo e o desperdício
desbragados ao lado da mais intolerável miséria.
Tal anarquia induz a que a abundância seja a matriz da própria
indigência social, e os trustes e os cartéis acabando
com a concorrência sadia impõem aos produtos os preços
que bem entendem. A origem de tudo isso era a inércia
conveniente e interesseira dos governos consubstanciada no muito mal
orquestrado deixar fazer, deixar passar, amplamente criticado
por Auguste Comte. Qualquer pessoa razoavelmente informada sabe que
essas inquietações de Comte, na contemporaneidade, têm-se
manifestado das mais variadas formas: consórcios, conglomerados,
trustes, cartéis, monopólios, oligopólios,
fusões et cetera. Resumo: as integrações
de negócios só beneficiam os partícipes das mamatas
gerando como subproduto a opressão da Humanidade. Ora, não
é por acaso que, só a título de exemplo, a Cidade
Maravilhosa do Rio de Janeiro esteja vivendo dias de tamanha violência.
Mas, conforme já afirmei, a Cidade é neutra, os homens
é que são violentos e cruéis. Entretanto, são
violentos e cruéis porquê? Só mais um exemplo:
uma parte da Mesopotâmia está de pernas para o ar por
quê? Por causa do Rio Tigre ou Idiglat – que
em acádio quer dizer 'rápido como uma flecha'
– e do Rio Eufrates (que banham a Terra Entre Rios), por causa
das areias do deserto ou por causa do petróleo? Até
o pateta saberia responder a essas questões.
Características
do Pensamento Econômico de Comte
A
morte prematura de Comte não lhe permitiu concluir a obra Sistema
de Indústria Positiva, que vinha, de longa data, mentalmente
elaborando. Se, por uma lado, Comte sempre se posicionou mais à
esquerda, por outro, preferiu a evolução à revolução,
e as questões sociais, para ele, não poderiam ser resolvidas
apenas política e economicamente, mas, também, deveriam
ser acompanhadas de profundas mudanças nos campos moral e intelectual.
Assim, o sucesso da Economia depende de uma doutrina de conjunto
que venha de novo a consagrar a disciplina coletiva.
No
Positivismo, a evolução intelectual do homem e a evolução
intelectual da Humanidade são condições necessárias
e insubstituíveis para o evolver da sociedade como um todo.
Assim é que, a ascensão política e a ascensão
social da classe trabalhadora não serão, segundo o Positivismo,
fecundas, reais, harmônicas e duradouras, se não ocorrer,
paralelamente, uma verdadeira e real evolução do elemento
intelectual. Comte entendia que os problemas sociais só serão
solucionados definitivamente se e quando as reformas estiverem fundadas
em uma opinião pública mundial, assentadas
em princípios orientados por uma classe de intelectuais esclarecidos,
sem o que não adquirirão a necessária força
e a essencial consistência. No Comtismo, a opinião pública
deve prevalecer tanto interna como universalmente, ainda que, contraditoriamente,
ele prescreva como solução política uma ditadura
republicana, e mais contraditoriamente ainda, que a doutrina não
esteja alicerçada em princípios totalitaristas, estatistas
ou liberalistas. Isso é meio difícil de entender mesmo.
Eu mesmo não compreendo como isso poderia ser implementado.
Agora, se a Humanidade não fosse tão heterogênea...
Talvez. Mas, neste Plano acho isso impossível de poder ser
efetivado. O Teocientificismo que defendo é coisa bem diferente,
e também não é para já.
Na
prática, no Brasil, por exemplo, todas as vezes em que houve
violação das Instituições e quebra do
Regime Democrático o que se assistiu foi exatamente o contrário.
O golpe militar de 64 foi o nosso último exemplo (exemplo que
eu espero e confio que tenhamos, nós brasileiros, aprendido
a infame lição) – no qual prevaleceu e vigorou
por vinte anos a hereditariedade sociocrática de raiz francamente
positivista – fazendo com que o País andasse para trás
como um caranguejo bêbado e capenga. Isso sem falar dos psicopatas
que adoraram a situação de excepcionalidade autoritária
para vomitar e pôr em execução suas perversidades.
Quem não se alienou sabe muito bem como transcorreram aqueles
anos de chumbo. No limite inferior da barbárie humana está,
sem dúvida, o torturador. Não faço qualquer abatimento
nesse pensamento, mas desejo paz e compreensão a todos eles.
Este
trabalho continua na Parte IV.