A
ESTÉTICA SEGUNDO O PENSAMENTO PANTITEÍSTA DE JOSÉ
MARIA DA CUNHA SEIXAS (E AS MISÉRIAS DO NOSSO TEMPO)
Rodolfo
Domenico Pizzinga
Música
de fundo: Mouraria
http://des_ligado.sites.uol.com.br/MIDIS.htm
Eu
odeio prostitutas,
negros, umbandistas,
homossexuais,
transgenders
e comunistas.
Detesto carecas, mauricinhos, patricinhas, neoliberais, padres,
militares e crianças. Desprezo profundamente pombos, dia
chuvoso, dia ensolarado, franco-maçons,
rosacruzes,
martinistas,
budistas e muçulmanos.
Tenho verdadeira aversão a judeus, ricos, pobres, sem-terras,
sem-tetos, lésbicas, gambás,
gatos,
gente que tira meleca e gente que come meleca. Repugna-me profundamente
ver determinadas pessoas com os mesmos defeitos e as mesmas manias
que eu tenho. Essas, se eu pudesse, aniquilaria liminarmente.
Odeio o deus que colocou essa gentalha e essa bicharada
no mundo só pra aporrinhar o juízo de pessoas como
eu que não fazem parte desse mistifório. Deveriam
morrer todos em um dia de chuva. Melhor se fosse no turbilhão
de um vendaval. Afogados. Danem-se. Não tenho pena
de ninguém. São todos o excremento deste
Mundo!
|
José
Maria da Cunha Seixas nasceu na Vila de Trevões,
ao norte da Beira-Alta, Portugal, pertencente, hoje, ao Conselho de
São João da Pesqueira, em 26 de março de 1836
e faleceu em Lisboa em 27 de maio de 1895, com a idade de 59 anos.
Cunha Seixas, contemporâneo de Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846),
Pedro Amorim Vianna (1822-1901), Antero de Quental (1842-1891), Oliveira
Martins (1845-1894) e Domingos Tarrozo (1860-1933), ainda que educado
adentro da Religião Católica, insurgiu-se contra sua
rígida ortodoxia, e estabeleceu um Sistema Filosófico
(sintonizado em particular com o espiritualismo francês e com
o Krausismo) ao qual denominou PANTITEÍSMO,
que significa, etimologicamente, Deus em tudo.
Segundo a Filosofia Pantiteísta, Deus em tudo está,
mas não se confunde ou se identifica com o criado.
A idéia seixina de Deus pode ser resumida da forma seguinte:
Deus é a fonte de toda a verdade, de todo o bem, de toda a
beleza e de toda a ordem. Em uma palavra: HARMONIA.
Entretanto, para Cunha Seixas, a Trindade Cristã era um excêntrico
dogma. No todo, Deus é UM e sua manifestação
trinitária revela-se como Ser (fonte
de vida), Verbo (amor) e Lei
(conciliação). Sinteticamente, Cunha Seixas
propôs:
1ª
Lei: (SER) os elementos primordiais, vale
dizer, a unidade do ser, indicando a virtualidade das coisas;
2ª
Lei: (MANIFESTAÇÃO) as suas
maneiras de ser, isto é, as suas relações e manifestação,
apontando sua atividade e antinomias; e
3a
Lei: (HARMONIA) a classe a que pertence
na ordem universal, ou seja, a síntese. Acima destas leis está
o Absoluto. O Deus único.
Fotografia
1: José Maria da Cunha Seixas
Fonte: Diario Illustrado, nº 4128, Lisboa, 27/10/1884
A
ESTÉTICA PANTITEÍSTA
Em
Estudos de Literatura e de Filosofia Segundo o Sistema Pantiteísta,
o Pensador Beirão sustentou que o espiritualismo parte
da convicção de que ...é a existência
dos sentimentos de ciência, de moralidade e de religiosidade
que são, todos os três, com o sentimento do belo, outras
tantas manifestações do sentimento de infinito...(1)
A palavra estética é
um feminino substantivado derivada do adjetivo estético,
que por sua vez, deriva do grego aisthetikós, e designa
a ciência filosófica da arte e do belo. Na Crítica
da Razão Pura, Kant (1724-1804) quis significar por Estética
Transcendental a ciência de todos os princípios da sensibilidade
'a priori', em contraposição àquilo que
encerra os princípios do pensamento puro, por ele denominada
de Lógica Transcendental.(2)
Mas,
Cunha Seixas — que leu Kant — não gostava de ver
a Estética apenas associada à idéia ou à
ciência do belo. O belo — para Seixas — não
é, pois, o agradável, nem o bom, nem a imitação
da Natureza. O belo impõe-se aos sentimentos provocando logo
a admiração em todos os tempos e lugares e em todas
as pessoas. Tem um caráter superior de universalidade e de
impersonalidade... O belo depende da forma porque não é
uma abstração nem uma idéia simplesmente: é
uma individuação quando realizado... O belo, se é
divino na essência, é terreno na forma. O caráter
divino é a idéia; o terreno, a forma... O belo procede
da individuação do infinito no finito.(3)
O
belo, portanto, agrada e reflete o Bem e o Verdadeiro. Sua origem
é o Ser Infinito que opera tendo em vista a perfeição.
O belo, para Cunha Seixas, é independente da arte. A arte põe-no
em relevo. O sentimento de infinito, quando aplicado ao finito, demonstra
o ideal superior que existe na alma humana. Por isso, a obra de arte
constitui-se de uma unidade na qual estão presentes a perfeição
e a eternidade, que correspondem ao Ser Em Si, ou
seja, à Unidade Perene. É constituída, também,
pelo transitório — influências que recebe do próprio
artista, do meio, da época etc. É, por último,
continua Seixas, um infinito relativo, harmônico, unida
a uma infinidade de manifestações universais. A revelação
subjetiva do belo está sempre presente e constitui-se da mesma
Lei de Três Elementos: SER,
MANIFESTAÇÃO
e HARMONIA.(4)
e (10)
O
belo, como reflexo da Divina Essência, revela-se nas obras de
arte, oferecendo ao espectador um prazer especial sem paralelo a outros
tipos de prazeres. A obra de arte, de acordo com o ideário
pantiteísta, traduz no limitado a suprema beleza do Ilimitado.
Cunha Seixas, na Galeria de Sciencias Contemporaneas, escreveu:
O nosso entusiasmo na contemplação das obras de
arte é um sentimento puríssimo, pelo qual parece que
nos soltamos das prisões do terreno e das muralhas deste mundo,
para nos transportarmos a um mundo — a uma esfera superior —
libertando-se-nos a alma, por um maravilhoso mistério, de tudo
que é pequeno, para errar nas vastidões do
infinito. Esse sentimento é em nós despertado pelo belo,
quer existente na Natureza, quer criado pela arte. É o que
nos acontece ao contemplarmos o firmamento, o mar, as selvas, os grandes
poemas ou os monumentos de eloqüência.(5)
A
arte é, enfim, ...o santuário do infinito revelado
em essência pela imagem e pela forma.(6)
Se a inteligência humana não consegue
explicar-se no infinito, ao menos sente-o. A obra de arte exemplifica
essa sensação, que em Seixas se traduziu em uma nova
compreensão, em uma certeza irredutível e em uma experiência
pessoal. Assim, a Estética Pantiteísta aprecia os elementos
supra-experimental e experimental. O primeiro dá a unidade;
o segundo, a variedade, tendo como alvo a HARMONIA.
No prólogo aos Estudos de Litteratura e de Philosophia
Segundo o Systema Pantitheista, o grande espiritualista português
resumiu seu pensamento da seguinte forma: A Estética terá
de atender a dois elementos: o supra-experimental que dá a
unidade e o experimental que dá a variedade, fundindo-se ambos
em uma unidade conjunta, o que constitui o plano primordial da obra
(1ª Lei), que se desenvolve, segundo diversas direções,
umas conservadoras e outras evolutivas (2ª Lei), com subordinação
e congruência de todas as partes ao fim do artista para se realizar
a harmonia (3ª Lei).(7)
Extrai-se
constante e sistematicamente do pensamento do Filósofo Trevoense
a especulação de que há um Ser Infinito a atrair
centrípeta e permanentemente o homem. Quando este homem se
deixa magnetizar e imantar por este ímã divino (que
está em seu próprio interior, Lei que Cunha Seixas repeliu,
pois em sua luta para filosoficamente tentar conciliar imanência
e transcendência, recusou a possibilidade mística da
realização pelo ente da Divindade in imo pectore),
tendem a desaparecer o interesse pessoal e hipotético pelas
coisas do mundo e o gosto por tudo que não represente o Bem
e que não irradie Beleza. As guerras, nesse contexto, são
a antítese do Belo e do Bem universais. Pax vel
inivsta vtilior est qvam ivstissimvm bellvm. (A paz, mesmo
injusta, é mais útil do que a guerra justíssima).
A alma, atraída pela beleza infinda, acaba por
pressentir e reconhecer o aspecto divino que tem em si. É
o início do processo libertador da prisão mental e a
ascensão ao sublime, ao eterno. O belo que se manifesta nas
obras de arte proporciona, ao mesmo tempo em que catalisa,
esse estado de consciência. Com a palavra o Pai do Pantiteísmo:
Acendrarmos os sentimentos na idéia puríssima e
desinteressada do belo ideal, ardermos no violento fogo do infinito,
banharmo-nos na onda egéria da arte, termos a visão
do amor perfeito, deste amor que vem do fundo da alma e que nos inebria,
deste amor que acende a luz do espírito e a vida do coração,
que pinta os eflúvios da alma no rosto e nos olhos, ascendermos
à contemplação puríssima do Absoluto,
despidos de tudo que nos
empana a visão do supremo, tudo isto é o antegozo da
beleza etérea, é o libertamento (sic)
da nossa alma que se desprende e se solta das cadeias da Terra,
e, quebrando as algemas do variável e do transitório,
se abalança ao eterno para entrar em um paraíso de perfeição,
para idealmente conhecer que há no homem muito de divino. Enfim,
para na sublime ascensão sentir que o espírito não
procede do que é sensível, mas, sim, de um Ser que nos
atrai e pelo qual a nossa alma clama nas maravilhosas ânsias
da beleza infinda.(8)
A
arte, portanto, exaltando o divino, o eterno, o infinito, é
propagadora da idéia de Bem. O homem sente e realiza na arte
esse Bem divino, eterno e infinito. Procurando harmonizar fatos históricos
e reflexões filosóficas, Seixas estabeleceu Nove
Leis gerais para a arte. As cinco primeiras
constituem uma unidade, mas ainda um tanto indefinida; a sexta
e a sétima representam o modo de ser da idéia,
ou seja, sua determinação; e as duas últimas
Leis exibem a harmonia orgânica da obra de arte sob
o influxo do infinito. São elas(9):
1ª)
Existência e realidade do infinito, fonte de toda
beleza;
2ª) Existência e realidade da beleza infinita objetivamente
na Natureza;
3ª) Existência e realidade da idéia
de belo em nós;
4ª) Possibilidade de expressão e de
exterioridade da idéia de belo pelo gênio humano;
5ª) Individuação do belo
em uma idéia particular;
6ª) Necessidade de forma sensível;
7ª) Representação desta
em variedade de gêneros e de infuências sob leis
fixas;
8ª) Conjunção harmônica das partes
da produção artística entre si formando
um organismo; e
9ª) Obtemperação geral
à Lei do Infinito. |
Conclusivamente,
o que se deprende do pensamento de José Maria da Cunha Seixas
sobre a Estética é que — como ele mesmo declarou
em Phantasias d’Amor — sendo espiritualista em
Filosofia não poderia deixar de sê-lo também naquilo
que concerne ao sentimento do belo e dos efeitos da criação
artística.(10) Não
se tem notícia, em Portugal, de que um homem de letras, advogado
e filósofo, tenha dedicado tantos esforços para homenagear
e tentar explicar a compreensão que alcançara do Deus
de seu Coração. Seu último livro —
sua obra magna — Princípios Gerais de Filosofia,
foi lido pela primeira vez em Portugal por mim, quase um século
depois de ter sido publicado. Isso parece brincadeira, mas é
verdade. Tive eu próprio que abri-lo com todo o cuidado, pois
fora impresso com as folhas dobradas quatro a quatro. Talvez —
estou acrescentando esta hipótese agora — porque era
muito grosso e muito grande! Possui 1072 (mil e
setenta e duas) páginas. No Prólogo, datado de 15 de
Abril de 1895, quarenta e dois dias antes de ir ao encontro do Deus
que tanto amou, deixou gravado: Este livro é a afirmação
das forças do espitualismo e a derrocada final do materialismo.
Infelizmente sua profecia não se cumpriu, mas ele, certamente,
cruzou o Grande Portal com sua consciência tranqüila. Cumpriu
a missão que se auto-impôs. Em 12 de Julho de 1988 tive
a oportunidade de defender na Universidade Gama Filho a tese de que
seu Sistema Pantiteísta é original, ainda que tenha
— o que foi inevitável, mas não o desqualifica
— recebido aportes de Santo Agostinho, de Kant (de quem discordou
até a razão prática, pois, nessa obra Kant alçou-se
às mais elevadas doutrinas, onde pôs de parte a subjetividade
e aceitou a luz da ordem suprema), de Hegel, da Doutrina Krausista,
de Bordas-Demoulin, de Malebranche, de Descartes, da Filosofia Platônica
e de Leibniz. Do Panteísmo, que repudiou, recolheu a necessidade
do Uno e da Harmonia. Por tudo que especulou, percebe-se claramente
em sua obra sua ininterrompida preocupação em tentar
despertar a alma portuguesa para a livre discussão das questões
magnas da Filosofia. Seu espiritualismo inabalável, sua vocação
pedagógico-apostólica e seu sentimento patriótico
inigualável impulsionaram-no a empreender essa nobre mas inconclusa
cruzada. Foi um solitário fala-só (mas nem
de longe um fala-barato) em meio a um mar de preconceitos e de superlativa
ignorância. Seu Pantiteísmo foi recusado na Terra de
minha mãe sem ter sido examinado, sem ter sido lido e sem ter
sido discutido. Simplesmente os portugueses de seu tempo não
leram suas obras e por isso não gostaram do que não
leram. Eu li. Gostei. Entretanto, discordei aqui e ali. E daí?
Não estou proibido de amar o meu irmão Cunha Seixas
por isso. Ou estou? Pois.
Um
acréscimo extemporâneo, mas necessário: Também
li tudo que me chegou às mãos de Raymond Bernard. Não
concordo com sua posição sobre o aborto exposta em uma
das Mensagens do Sanctum Celestial. De novo: e daí?
Bernard é um Illuminado, mas não
é infalível. Estarei eu equivocado em relação
ao seu posicionamento? Pode ser. Então, se assim for, nessa
matéria, o falível sou eu. Mas, até a data de
hoje, 17 de Julho de 2004, 8:56 horas da manhã (e eu ainda
não fui dormir!) deste sábado nublado, NÃO
ACEITO o aborto sob nenhuma alegação. Respeito,
sem quaisquer reservas, outros entendimentos.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Não
vou aprofundar, nesta oportunidade, minhas especulações
sobre o pensamento seixino. Pretendo navegar para outra direção.
Apenas, rapidamente, utilizei como mote a idéia seixina de
bem e de belo para o que se seguirá. Poderia ter trabalhado
Kant ou Platão, por exemplo, mas hoje preferi Seixas. Estava
com uma certa saudade do seu Pantiteísmo. Viver também
é recordar. Vou abordar esse tema, mas sob
outro enfoque, um pouco mais abaixo. Deixo, então, ao leitor
a liberdade de concordar ou de discordar de Cunha Seixas. Contudo,
acredito que a consulta à Referência Bibliográfica
nº 10 seria muito proveitosa. Mas, considerando que a Estética
é a parte da Filosofia voltada para a reflexão a respeito
da beleza sensível e dos fenômenos artísticos,
e considerendo também que é, segundo Kant, o estudo
dos juízos por meio dos quais os entes afirmam que determinado
objeto (artístico ou natural) desperta um sentimento de beleza
ou sublimidade, e que pode, ainda, ser entendida, outrossim, segundo
Hegel (1770-1831), como o estudo da beleza artística que apresenta
em imagens ou representações sensíveis a verdade
do espírito, do princípio divino, ou da idéia
— dando uma dica do que será visto mais adiante —
eu pergunto: As imagens chocantes que estão reproduzidas mais
abaixo — pequena amostra da insanidade do mundo hodierno —
como devem ser classificadas? E o bem? E o Belo? Em termos místicos,
como interpretá-las? Como compreender adequadamente horror,
terror, matanças e degolas? Bush invade e bombardeia —
legítima defesa preventiva? Sharon mata seletivamente e arrasa.
Por que? A Al-Qaeda revida. Quo usque tandem tanta loucura?
O boletim semanal de alerta do FBI (Polícia Federal dos EUA),
enviado para 18 mil agências de segurança em todo o mundo,
focou-se na possibilidade de a Al-Qaeda recrutar não-árabes
para lançar ataques contra os EUA. O Departamento de Segurança
Interna primeiramente mencionou tal possibilidade de recrutamento
em dezembro do ano passado, quando subiu o nível de alerta
antiterror de amarelo para laranja, afirmando que informações
de inteligência indicavam que terroristas poderiam estar planejando
usar armas químicas, nucleares, biológicas ou radiológicas.
Quo usque tandem abutere...?
Será possível
tudo isto ter um final feliz? Tornaremos [simbolicamente]
a assistir comédias romântico-musicais do tipo happy
end? Onde se escondeu o amor, o bem e o belo?
Quem
abriu esta página e chegou até aqui, sou obrigado a
admitir, é um ser, como eu, que está empenhado em se
autodepurar, isto é, em restaurar suas características
divinas ou em se aperceber dessas mesmas qualidades distintivas fundamentais.
Não importa absolutamente nada se essa apercepção
ou reintegração está se fazendo pela ciência,
pela religião ou pela iniciação. O rio que conduz
ao oceano da beleza e do bem universais tem incontáveis afluentes.
Por outro lado, a própria beleza e o próprio bem hoje
sentidos por um ente nada mais são do que um estado relativo
de harmonia individual com as circunstâncias em que vive e atua.
A interpretação e a sensação do belo do
século XIX eram diferentes das percepções do
belo do século XXI. Mas, para aqueles que admitem que possa
haver um Belo em Si, este é, desde sempre, inalterável.
Se é assim, aquele que julga que sua profissão é
a mais importante, que sua religião é a única
que salva ou que sua fraternidade é a exclusiva detentora dos
mistérios da Sagrada Iniciação está, no
mínimo, sendo infantil, preconceituoso e intolerante. É,
mais ou menos, como admitir que o padrão de beleza do Mundo
das Realidades deva ser um e somente um. Tolice. Quem ama o feio,
bonito lhe parece. Particularmente no caso do amor entre dois
seres, a beleza não é percebida com os olhos, mas sentida
com o coração. Poeticamente é assim. Que eu seja
bem claro: estou me referindo ao amor (presumidamente
sincero) entre dois seres humanos que admitem viver juntos para sempre
e mais seis meses, não a transas tão-só sacanocráticas
(que não aprovo nem recrimino) nas quais o que predomina é
a atração físico-astral pela beleza plástica.
Isto é meramente paixão. Como dá,
passa. Enjoa.
Tenho
horror a pivete, abomino prostitutas e homossexuais, negro quando
não caga na entrada caga na saída (consultar um texto
de minha autoria denominado Meus
Amigos Não Têm Cor — O Lado Místico de Frank
Sinatra), comunista come criancinha, rosacrucianismo
é magia negra, umbanda é coisa do demônio, todos
os padres são pedófilos, tenho medo de ladrão
etc. Como classificar estes pensamentos ou estas correntes verbalizações?
Eu sei: são formas hórridas de satanismo inconsciente,
todavia conseqüente. Então, como tema para meditação,
submeto a proposta de Vicente
Velado, Abade da OS+B para o Terceiro Mundo: Qual
o maior crime: roubar um banco ou fundar um? Mudando
o que deve ser mudado, qual o crime mais hediondo: ocupar um país
pela força ou contra-atacar para se defender? Por outro lado,
uma terceira reflexão pode ser encaminhada na linha: A abominação
que alguns dizem sentir por prostitutas, dependentes
químicos compulsivos, homossexuais, negros, religiosos
em geral, comunistas, pivetes etc. não estará reconditamente
escondendo — mais do que um preconceito e um ato de intolerância
— uma lembrança, talvez, que quer emergir ao plano consciente,
mas que é empurrada para dentro do saco de ilusões pretéritas
(e ainda presentes) por um comando mental subalterno mais poderoso
do que o desejo fugidio e a necessidade indecomponível de reconciliação
interior, de reacomodação com o(s) outro(s) e de reabilitação
cósmica? Recordar e admitir erros passados são os dois
melhores remédios para o início da cura de qualquer
mazela (seja física, seja mental). Necessitamos, se quisermos
nos libertar para o recebimento consciente do Crestos Cósmico,
de nos alforriarmos de nosso puer æternus interior.
Metonímias escusatórias são recursos indigentes
e covardes. Só se conserta e se corrige o que se conhece. Mas,
conhecer, em princípio, conhecemos. Esquecemos porque
o mecanismo (???) de defesa psíquica é mais poderoso
do que o desejo de nos lembrarmos para fazermos os curativos necessários.
Olhar os demônios que partejamos diariamente não nos
interessa muito. Contudo, compensar (retribuir ou reciprocar) pela
compreensão é o mais nobre e elevado caminho que um
místico verdadeiro deve perseguir. Não deixa de ser
uma forma de Illuminação
Interior. E, repetindo o que já escrevi em outro lugar: não
há nada mais execrável e doentio do que um moralista
de salão. Pior, muito pior quando se trata de um estudante
de misticismo. Mais do que muito pior quando se julgam, estes
estudantes, os donos insubstituíveis da verdade.
Desde quando, eu gostaria francamente de entender, uma ordem iniciática
é mais importante do que outra? Acrescentando: No outono ou
no inverno da vida, às vezes antes, infelizmente, esses falsos
moralistas e esses pseudo-pasticho-místicos
costumam surtar. Crises decorrentes de problemas psicológicos
relacionados com a incapacidade de responder a situações
novas e conflitos, neuroses ou ainda ansiedade permanente podem levar
os seres humanos a manifestar um ou mais surtos psicóticos.
Isso é muito triste e, de certa forma, pode ser evitado. Mas,
nossos rascunhos têm que ser passados a limpo. Na seqüência
deste ensaio são oferecidos diversos caminhos e sugestões.
Atenção: não são panacéias que
possam remediar milagrosamente os desajustes da encarnação.
Em absoluto não são! São PORTAIS
que, abertos pela personalidade-alma, permitirão uma dialética
verdadeira do eu com o EU MAIOR
IN IMO CORDE que
cada um de nós possui em seu próprio interior. Só
compensa exclusivamente pela dor e pelo desajuste mental quem assim
o desejar. Disse Mestre Apis: O
Lótus é a Rosa agora e para sempre. Sobre a Cruz, como
uma Chave, tal como a Ankh.
M'.' K'.'
R'.'
Reduzindo
o Caminho para a Illuminação
interior a Três Estágios, tem-se: DOR, AMOR
e COMPREENSÃO. Haverá sempre, inevitavelmente,
uma mistura heterogênea destas três formas compensatórias.
Mas, é perfeitamente possível minorar a cota de DOR.
Quando a COMPREENSÃO se fizer integralmente
e o AMOR for IMPESSOAL e
CATEGÓRICO, estará cumprido o ciclo compulsório
do processo encarnativo.
Fotografia
2: Meu amigo João Roberto da Paciência NABUCO (que
conheceu pessoalmente o Barão de Itararé –
Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco
pobre), BLANCA Maria Cella (minha esposa, cúmplice
e confidente) e eu (no centro) comemorando, há alguns anos,
um de seus aniversários. Ai do desavisado que tocar em
seu surrealista, crítico-paranóico e daliniano
bigodão! Há um mistério indecifrável
por ninguém ainda desvendado: como serão os momentos
agradáveis entre Nabuco e sua esposa? Respeitará
ela seu daliniano bigodão? Será ela a única
a poder acariciá-lo sem sofrer as penalidades da lei nabucoliana?
Eu nunca me atrevi a chegar perto daqueles ralos fiapinhos.
Com todo o respeito.
*
* *
* *
* *
PRECONCEITO
RACIAL
O
episódio a seguir relatado aconteceu realmente em um vôo
da BRITISH AIRWAYS entre JOHANNESBURGO e LONDRES.
Uma senhora branca,
de uns cinqüenta anos, senta-se ao lado de um negro. Visivelmente
perturbada, ela chama a aeromoça.
— Qual o problema,
senhora? Pergunta a aeromoça com amabilidade.
— Mas você
não está vendo? Respondeu a senhora irritadíssima.
— Você me colocou ao lado de um negro. Eu não
consigo ficar ao lado desses nojentos. Quero outro assento agora.
— Por favor
senhora, acalme-se. Diz a aeromoça. — Quase todos
os lugares deste vôo estão tomados. Vou verificar
se há algum lugar disponível.
A aeromoça afasta-se
e volta alguns minutos depois.
— Minha senhora,
como eu suspeitava, não há nenhum lugar vago na
classe econômica. Eu conversei com o Comandante e ele me
confirmou que não há mais lugares disponíveis.
Entretanto, por sorte, ainda temos um lugar desocupado na primeira
classe.
Antes que a senhora
pudesse fazer qualquer comentário, a aeromoça arrematou:
— É um fato totalmente inusitado a Companhia conceder
um assento de primeira classe a um passageiro da classe econômica,
mas, dadas as circunstâncias, o Comandante considerou que
seria escandaloso alguém ser obrigado a sentar ao lado
de uma pessoa tão execrável.
E, dirigindo-se cordialmente
ao negro, a aeromoça completou: — Portanto Senhor,
se for de sua vontade, por gentileza, pegue seus pertences que
o assento da primeira classe está à sua disposição.
A BRITISH AIRWAYS lamenta este inabitual e desagradável
incidente.
Todos os passageiros
ao redor que, entre chocados e envergonhados, acompanhavam a cena,
levantaram-se e, unânime e calorosamente, aplaudiram a equipe
de bordo.
*
* *
* *
* *
CONTINUANDO...
O
que deve estar em causa permanentemente é a possibilidade intransferível
e insubstituível de cada um de nós, primeiro melhorarmos
a nós próprios, e, segundo contribuirmos para o bem
comum, empenhando-nos para melhorar as condições adversas
pelas quais o nosso Planeta está contemporaneamente passando
e sofrendo. (Dores de um parto anunciado?)
Em todos os sentidos. Isto não admite exceção!
E, o primeiro passo é a HUMILDADE.
Em uma louvação à primeira Grande Mestre da Ordem
Rosacruz-AMORC — Maria
Aparecida de Moura — que fiz há algum
tempo atrás ponderei:
Do
que tudo, muito mais
Prevejo com exaltação:
AMORC, CR+C e demais
Serão (são) um só CORAÇÃO. |
Então,
como somos todos adultos, com sede e fome de D'US,
de LLUZ,
de BEM, de VERDADE,
do BELO KÓSMICO
e de PAZ
PROFUNDA, acho que as imagens que se seguirão,
inevitavelmente repugnantes e escandalizadoras, só podem ter
um sentido: precisamos orar, trabalhar e lutar com todas as nossas
forças espirituais para que essas misérias possam ser
amenizadas e dissolvidas dentro do misticamente possível. Mais:
precisamos esquecer e tentar compreender nossas diferenças,
principalMENTE místico-esotéricas ou
religiosas. Tenho sofrido muito com certas coisas que tenho, aqui
no meu canto, ouvido falar que andam ocorrendo no âmbito do
misticismo mundial. Pegar carona nessa estupidez e nessa descortesia
é alimentar a ------ ------. Prestem todos
atenção! Eu digo: BENDITA AMORC.
Mas, igualmente digo: BENDITAS OS+B,
OM,
CR+C,
OSTI,
FRA,
G.'.D.'.,
F.L.O.,
MAÇONARIA,
TEOSOFIA,
ANTROPOSOFIA...
BENDITAS TODAS... BENDITAS
TODAS AS RELIGIÕES que estão cumprindo
os papéis e os encargos que lhes foram atribuídos. A
2ª Via é tão importante quanto a 1ª Via. Se
há desvios e distorções em ambas as Vias, eu
jamais serei o juiz dos embusteiros. Enfim, BENDITO
o LATINO
PORTAL da OS+B
— propagador democrático e ilimitado da LLUZ
MAIOR. Bem-aventurados os que servem silentemente
em prol da difusão da LLUZ onde
quer que estejam servindo.
Não
importa, portanto, quem seja o quê ou quem. Para começar,
convido a todos a fazerem comigo a ORAÇÃO
ROSACRUZ DA PAZ UNIVERSAL. Basta desejar
servir por dois ou três minutos e clicar no título citado.
Dois ou três minutos de verdadeiro empenho místico-emocional
são uma ETERNIDADE. São uma ETERNIDADE, meus queridos
Irmãos. Depois, separar e dedicar uma parte do dia para qualquer
forma de voluntariado. Um simples obrigado e um singelo por favor
também fazem milagres! O mundo não mudará
jamais no tiro ou na porrada. Também só se auferem rancor
e maledicência por ausência de demonstração
de carinho e de consideração. O que custa dar eventualmente
um dinheirinho a um garoto que vende balas nos sinais? Eu sempre
dou e converso com todos eles. Pergunto se estão estudando
e lhes digo que a única forma de sair da miséria é
pelo estudo. Eles ouvem, gostam e dizem sempre: — Obrigado
Tio.
Adotarei,
para concluir, a seguinte estratégia pedagógica: mostrarei
uma fotografia digital que evocará nossos melhores sentimentos;
em seguida, apresentarei outra que nos horrorizará. Precisamos,
mais do que tomar consciência do que está ocorrendo mundo
afora — o mundo que está lá longe, mas nem tanto
— aplicar o máximo de nossas energias para contrabalançar
todas essas desarmonias. Irmanemo-nos, então, Caros Fratres,
nessa tarefa que é de todos nós. Mas, tenhamos sempre
em mente o ensinamento de Mestre
Apis: Se o enunciado de uma verdade causar
dor a alguém, que não se diga, então, essa verdade,
pois o que mais ofende a Deus
é fazer sofrer o próximo. Este próximo
inclui minerais, vegetais e animais!
A ROSA
ETERNA está em TUDO e em TODOS!
Por isso, para que a Alquimia Interna possa acontecer: ORA
ET LABORA; SOLVE
ET COAGULA! O SERVIÇO, enfim
e realmente, deve ser duplo: em SILÊNCIO e
por meio de AÇÕES CONCRETAS, EFETIVAS E CONCERTADAS.
Um mundo melhor começa aqui, agora, na presente encarnação.
Somos todos responsáveis. Façamos nossa parte. E tenhamos
a dignidade e a lucidez de não esperar qualquer recompensa
por nossas supostas boas ações. Praticar uma boa ação
(louvada seja!) esperando um troquinho do céu é magia
negra. Escandalizem-se com esta afirmação os
ignorantes. Entendam os que puderem entender. Benditos aqueles que
sabem que é assim. Benditos aqueles que, não sabendo
que assim é, examinarão estas últimas ponderações
com isenção e exação. Benditos todos os
entes do Universo.
HUMILDADE
COMPREENSÃO
MISERICÓRDIA
TOLERÂNCIA
AÇÃO
DIRETA
VOLUNTARIADO
DISPONIBILIDADE
FIAT
PAX IN VIRTUTE TUA
AUM
RAH
*
* * *
* * *
*
* * *
* * *
De um e-mail que
recebi (modifiquei um pouquinho):
A
felicidade não é a ausência de conflito.
É a habilidade (arte) de lidar com ele. Uma pessoa feliz
não tem o melhor de tudo. Ela se esforça
diuturnamente para tornar tudo um pouco melhor.
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PAZ
PROFUNDA
Fiat
nobis secvndum Verbvm Tvvm
O Santuário
do Infinito está em todos os CORAÇÕES |
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
1.
CUNHA SEIXAS, José Maria da. Estudos de litteratura
e de philosophia segundo o systema pantitheista. Lisboa: Typographia
da Bibliotheca Universal, 1884, p. XXII.
2.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura/Kritic der reinen
vernunft. 3a. ed Tradução de Manuela Pinto dos Santos
e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1994, passim.
3.
CUNHA SEIXAS, José Maria da. Galeria de sciencias contemporaneas.
Porto: Imprensa Commercial de Santos Corrêa & Mathias, 1879,
passim.
4.
Esta Lei, Cunha Seixas apresentou-a pela primeira vez em Princípios
Gerais de Filosofia da História, quando esboçou o
Sistema Pantiteísta, que ainda não tinha tal designação.
Na verdade, constitui-se no sustentáculo basilar de seu pensamento
espiritualista. Por tê-la considerado uma Lei Universal, orientou
suas lucubrações e seus estudos no sentido de adequá-los
e de torná-los conformes com a aludida Lei (Ser, Manifestação
e Harmonia).
5.
Op. cit., pp. 155 e 156.
6.
Galeria de sciencias contemporaneas, p. 156.
7.
p. XXIII.
8.
Galeria de sciencias contemporaneas, p. 156. Esta mesma passagem
é repetida em Phantasias d’amor. Lisboa: Empreza
Litteraria Luso-Brasileira Editora, 1880, p. 54. No jornal português
Imparcialidade, de 4 de Março de 1883, nº 37, foi
publicado um artigo elogioso ao pensamento de Cunha Seixas, no qual,
também, foi integralmente reproduzida esta reflexão.
9.
Id., p. 169.
10.
O pensador português contemporâneo, com quem tive o prazer
de dialogar diversas vezes, tanto no Brasil quanto em Portugal, António
Braz Teixeira, assim resume as meditações do Especulativo
Trevoense: Filósofo português (Trevões, 1836-Lisboa,
1895), criador de um sistema filosófico que denominou Pantiteísmo
e que se apresenta como uma pessoal e original dissidência do
Krausismo, tal como este era entendido por J. M. Rodrigues de Brito,
cujo magistério filosófico viria a marcar, de forma decisiva,
o percurso especulativo dos dois mais importantes pensadores da geração
portuguesa que se afirmou a partir de 1865.
Ao
designar por Pantiteísmo o sistema filosófico que desenvolveu
e expôs ao longo da sua obra especulativa (A Fénix ou a
Imortalidade da Alma Humana, 1870; Princípios Gerais de Filosofia
da História, 1878; Galeria das Ciências Contemporâneas,
1879; Ensaios de Crítica Filosófica, 1883; Estudos de
Filosofia e Literatura, 1884; Lucubrações Históricas,
1885; Elementos de Moral, 1886; Princípios Gerais de Filosofia,
1898), Cunha Seixas procurou tornar claro que a respectiva matriz era
a intuição primordial de que Deus está em tudo,
como centro de todas as coisas e nelas manifestado.
Para
o pensamento pantiteísta, o ponto de partida do conhecimento
era duplo: subjectivamente, seria o pensamento, enquanto, objectivamente,
se encontraria na idéia de ser. Na verdade, sendo sempre o conhecimento
um acto do espírito que pensa, o respectivo ponto de partida
não poderia ser o sentimento nem a vontade, que são apenas
excitantes ou motores do conhecimento, mas o pensamento. Por outro lado,
porque o conhecimento não pode deixar de partir de algo que seja
imediato, possível, certo e intuitivamente evidente que lhe dê
um mínimo de garantia, e porque tais atributos só se encontram
nas idéias e nas leis da razão e nos axiomas que decorrem
delas, todo o conhecimento se funda, necessariamente, na crença
no próprio espírito.
Como
todo o pensamento e todo o juízo se reportam ou envolvem sempre
a idéia de ser, ela será o ponto de partida objectivo
do conhecimento.
De
acordo com a filosofia pantiteísta, o conhecimento exprime-se
num juízo, na afirmação, ainda que implícita,
de uma relação, a qual obedece a três leis —
a da substância, a da manifestação e da harmonia
— e em cujo processo cabe distinguir três momentos. No primeiro,
imperam as idéias experimentais, particulares e contingentes,
referidas a um objecto da natureza, enquanto, no segundo, dominam as
idéias reflexivas, de carácter geral e abstracto, e, no
terceiro, tudo se processa já no plano das idéias racionais
ou ontológicas, inatas ao próprio espírito, universais,
absolutas, necessárias e invariáveis.
É
a circunstância de as idéias desta terceira espécie
serem tanto leis do espírito como elementos dos seres, havendo,
por isso, correspondência ou equivalência entre as categorias
da razão e as categorias do ser, que torna possível o
conhecimento e faz com que a ontologia seja, a um tempo, ciência
do ser nas suas determinações mais gerais e ciência
das idéias — elementos na sua maior extensão e profundidade,
com abstracção de qualquer ente individual.
Esta
dupla natureza das idéias racionais explica que seja também
por meio de um processo trágico de ser, manifestação
e harmonia que a ordem ontológica se desenvolve e se concretiza,
e a finalidade de cada ser se coordena, dinamicamente, com a dos demais
seres, contribuindo todos e cada um deles para a realização
dos mais altos destinos do Universo. Cada ente é, assim, algo
individualizado, dotado de finalidade própria, constituindo um
infinito relativo que, no seu movimento próprio,
se manifesta, relacionando-se com todos os outros do mesmo género
e, através deles, com a ordem mais global do ser.
(Negrito meu).
A
idéia de ordem, associada à idéia dos seres como
infinitos relativos, conduz o nosso espírito
à noção de um ser perfeito e absoluto, que tenha
em si o seu próprio fim e que, na sua unidade e simplicidade,
seja causa e ordenador dos restantes seres. Dado que, no entanto, o
finito não pode existir sem a sua causa geradora e como o infinito
é também a eternidade e a imensidade, Deus está
em tudo, conferindo a todos os infinitos relativos
a sua realidade e subsistência, sendo, porém, deles perfeitamente
distinto, pois o eterno e imenso não pode confundir-se com o
transitório e o limitado. Daí que, apesar de nos movermos,
sermos e vivermos em Deus, participando da sua realidade, com Ele não
nos confundamos nunca. (Negritos
meus).
Sendo
embora abscôndito na sua natureza e, como tal, inacessível
a toda a explicação ou demonstração, Deus
manifesta-se no Universo e patenteia-se intuitivamente à razão,
como inteligência suprema, lugar e fonte de verdade e de vida
e sede do infinito e do absoluto. Deste modo, Deus não é
inteiramente incognoscível, sabendo nós dele, através
da sua manifestação, que é absoluto, omnipotente
e perfeito, imutável e uno, infinito, eterno, omnisciente e omnipresente,
sendo seus atributos supernos a verdade, a bondade e a beleza.
Observação:
Como
místico, não posso concordar com alguns trechos desta
análise, como também não me alinho integralmente
ao pensamento de Cunha Seixas, autor de quem, por obrigação
acadêmica, mas com muito gosto, tive que examinar atentamente
toda a obra disponível — dezesseis de um total de dezessete
livros — para poder elaborar minha tese de doutorado: A Doutrina
Pantiteísta Segundo José Maria da Cunha Seixas.
Disse
Fernando Pessoa em A Morte é a Curva da Estrada: A
mentira não tem ninho./Nunca ninguém se perdeu./Tudo é
verdade e caminho. Então, mais uma vez: que interessa
se concordo ou se discordo de António, de Seixas ou de Bernard?
Nada. Nada, porque o Universo não se altera um mikron
com as opiniões de ninguém. A Consciência Cósmica
simplesmente é. Nos também somos, só que não
sabemos que somos, e, maiormente, quem somos. Saberemos. Seremos. Todos.
Sem exceção. No inexistente tempo que é e não
é tempo. Charles Spencer Chaplin — Carlitos — (*16
abril 1889, East Lane, Walworth, Londres - Inglaterra - †
25 dezembro 1977, Corsier-sur-Vevey - Suíça), que não
conheceu Cunha Seixas, disse: A beleza é a única
coisa preciosa na vida. É difícil encontrá-la.
Mas quem consegue, descobre tudo. Disse também:
O homem não morre quando deixa de viver, mas sim
quando deixa de amar.
WEBSITES
CONSULTADOS
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