A
Sobrevivência da Alma
O
que
garante a sobrevivência da Alma (personalidade-alma)? Esta dúvida,
em todas as épocas, sempre perturbou a mente dos seres-no-mundo.
Todavia, de certa forma e em certa medida, o pós-vida pode ser mais
ou menos conhecido com o ente ainda encarnado, e a morte ou transição,
de maneira simplificada, nada mais é do que o rompimento do cordão
prateado. Repito: de maneira simplificada, porque ela não acontece
como se fosse uma espécie de bate-pronto. Ainda que possamos pensar
o contrário, não se passa pela transição em
uma pancada; a coisa acontece devagar.
Não
que contradiga ou que comprove a existência-sobrevivência da
personalidade-alma, mas a experiência projetiva fora-do-corpo da consciência
(do inglês, out-of-body experience), controlada ou não
– também denominada de experiência extracorporal, desdobramento,
projeção psíquica, projeção astral ou
viagem astral – ainda que tipicamente subjetiva, pode abrir certas
portas místico-iniciáticas, que para a razão (seja
dianóica, seja noética) permenecerão sempre fechadas.
Tal conhecimento, que não é privilégio apenas dos Iniciados,
foi experimentado por diversas pessoas nas mais variadas circunstâncias
e nas mais dessemelhantes condições, como, por exemplo, em
meio ao sono, na meditação profunda, via técnicas de
relaxamento, voluntária ou involuntariamente, durante episódios
de paralisia do sono, em certos traumas, em variações abruptas
da atividade emocional e estresse, nas experiências de quase-morte,
na deprivação sensorial, por estimulação elétrica
do giro angular direito do cérebro, através de estimulação
eletromagnética, em experiências de ilusão de óptica
controladas e, também, através de efeitos neurofisiológicos
por indução química de substâncias comumente
descritas como drogas. Todavia, iniciática e misticamente, o método
é outro; na realidade, é bem mais simples.
Projeção
Psíquica
O
certo é que o puro raciocínio – seja indutivo
(que parte de premissas particulares na busca de uma lei geral), seja dedutivo
(que faz uso da dedução para obter uma conclusão a
respeito de determinada premissa), seja silogístico (raciocínio
dedutivo estruturado formalmente a partir de duas proposições,
ditas premissas, das quais, por inferência, se obtém necessariamente
uma terceira, chamada conclusão) – ou a crença religiosa
sem fundamento não oportunizarão jamais uma abertura conseqüente
e efetiva da consciência. Seja como for, Sócrates tentou, em
seus últimos instantes, demonstrar que a alma sobrevive ao fenômeno
da morte. Sobre este tema, estudaremos juntos os argumentos socráticos
nos itens subseqüentes.
Os
Contrários
Aqui,
Sócrates, visando expor e discutir sua compreensão do processo
da existência, apresenta seu entendimento sobre o princípio
geral de toda a geração, qual seja: É
das coisas contrárias que nascem as coisas que lhes são contrárias.
Segundo
o Filósofo, os vivos nascem dos que já morreram, e não
poderia se dar um nascimento sem que houvesse já, preexistente, uma
personalidade-alma. Do Fédon (que, não esqueçamos,
foi escrito por Platão) podem ser extraídos outros exemplos,
e até elastecê-los. Utilizando-se diagramas de blocos, a compreensão
deste princípio socrático fica facilitada. Observe:
Ora,
segundo Sócrates, se é dos pares de contrários e de
sua dupla geração que os estados dos exemplos anteriores são
produzidos, especulativamente, é aceitável, então,
afirmar:
Sócrates,
dirigindo-se a Cebes, argumenta de forma enfática que, se o que vive,
ao morrer permanece neste estado, indefinida e perpetuamente, ao final de
um tempo qualquer, mas inimaginável, tudo estaria morto, e a vida,
como a concebemos e conhecemos, teria cessado. Tal princípio foi
elaborado certamente com base na Religião dos Mistérios, conhecida
também como Orfismo. O argumento de que o espaço-tempo universal
é ilimitado não contradiz esta ponderação, já
que um segundo e um zilhão de segundos, no que concerne à
ilimitabilidade, são exatamente a mesma coisa.
Curvatura
Espaço-tempo
Bem,
para Sócrates, esta era a realidade da existência, não
excluindo desta investigação plantas e animais. Quanto à
possiblidade de vida extraterrestre, Sócrates não tocou no
assunto. Penso que ele tenha entendido que compreender a nossa existência
seria suficiente. Seja como for, Sócrates, de maneira simples e direta,
conclui sua concepção do Princípio Geral de Toda Geração
da seguinte forma:
A morte não é o fim; há regresso à vida;
os vivos provêm dos mortos; as almas dos mortos têm existência;
a sorte das almas boas é melhor do que a das almas ruins.
Mas isto não é (será) assim para sempre; se e quando
ultrapassarmos a Terceira Dimensão, as coisas se darão de
modo diferente. O padrão-carbono não é universal, e
a união corpo-carbono com a personalidade-alma descarbonada é
tão-só um estágio a ser eventualmente superado.
A
Teoria da Reminiscência
Aprender
não é outra coisa senão recordar.
Pela Teoria da Reminiscência, as
almas, antes de entrarem nos corpos, contemplaram as idéias eternas,
e a percepção dos objetos lhes desperta tão-somente
uma recordação. Sócrates, ao longo de sua
explanação, admite que antes do nascimento (e, portanto, evidentemente
depois), aquele que nasce já tem conhecimento da atualidade cósmica
em si, desde sempre idêntica a si mesma. Desta forma, o aprender é
apenas recordar; é reaver um certo conhecimento já anteriormente
possuído.
A
demonstração do Filósofo pode ter outro encaminhamento,
qual seja o da morte como libertação do pensamento e já
anteriormente discutido. Entretanto, no estado comumente chamado de morte,
a personalidade-alma só tem acesso ao conhecimento até o padrão
vibratório que conseguiu alcançar e realizar. Além
disto, nada. Então, para cada personalidade-alma, seu círculo
de conhecimento é único, ou seja, sua esfera de ação
e de reação é individualizada.

Enfim,
a reintegração (ou regeneração) é, neste
sentido, a Grande Obra Místico-alquímica que cada personalidade-alma
deve perseguir e buscar. E o que importa o tempo? Como afirmei um pouco
mais atrás, o espaço-tempo universal é ilimitado, não-circunscrito
a nada; e se assim é, um segundo e um zilhão de segundos,
no que concerne à esta ilimitabilidade não-circunscritível,
são extamente a mesma coisa. Mas não há atalho possível;
não há privilégio fantasioso nem fideísmo religioso
que possam abreviar a caminhada. Não há indulgência
plenária (remissão absoluta das penas temporais, tanto em
vida quanto na morte) que atalhe ou interrompa a nossa educação
ou as compensações que educativamente teremos que fazer. Só
pela Alquimia Esotérica poderá acontecer a diplomação/libertação.
O
Destino das Almas
Uma
vez que o Esoterismo Iniciático sempre admitiu a impossibilidade
de um retrocesso sensível na caminhada para a reintegração,
a afirmação de Sócrates de que as almas dos que vêm
a falecer em estado de grande afastamento do Bem, da Beleza, da Pureza,
da Justiça etc. metempsicosariam em
asnos, lobos, falcões e gaviões, so pode ser interpretada
como alegórica ou simbólica. Do mesmo modo, só é
compreensível como forma de ensinamento a transmigração
para alguma espécie de animal, como
abelhas, vespas ou formigas, se considerarmos a época,
o nível sócio-cultural e a compreensão das leis esotéricas
dos discípulos de Sócrates, e, especulando, quem sabe, do
próprio Sócrates.
O
fato saliente é que não há retrocesso no processo evolutivo.
A reintegração e a regeneração, ainda que lentas,
muito lentas, dependem de cada um, mas se processam, em termos vibratórios,
sempre de maneira ascensional, o que equivale a dizer que obriga a subir.
Entretanto,
se, por um lado, retrocesso não há, por outro, a irreconciliável
possibilidade de conjungir (incomensurável demérito) poderá
levar à uma inevitável entropia, o que, na verdade, é
uma forma extrema de retrogradação. Como já discuti
este tema em diversos textos anteriores, nesta oportunidade apenas farei
referência ao assunto. Quando é o caso – e, se dependesse
de mim, seria sempre o caso – só uma coisa impede a entropização:
o arrependimento absolutamente sincero, pois não há limite
para a misericórdia de Aqueles Que Sabem e Podem. Uma microgota de
arrependimento é o suficiente para que uma nova oportunidade aconteça.
Mas, fica em aberto a questão: o que será arrependimento absolutamente
sincero?
Forma
Extrema de Retrogradação
A
Função da Filosofia
Os
amantes da Vida Filosófica e dos princípios que norteiam a
FiloSOPhIa
não malbaratam perdulariamente a vida amimando e adulando o corpo.
Procuram permanecer afastados dos desejos corporais conspurcadores, das
riquezas corruptoras, das honrarias hipotéticas e de toda e qualquer
espécie de querer ou de vontade que possam, por um processo de entorpecimento
ou de anestesia, afastá-los de sua meta – a insubstituível
Grande Obra de Transmutação de suas personalidades-alma. A
FiloSOPhIa
ensina e demonstra de
quantas ilusões está inçado o estudo que é feito
por intermédio dos olhos, tanto quanto o que é feito pelo
ouvido e pelos outros sentidos.
O
efeito de todas as coisas visíveis – quer produzam prazer,
quer produzam padecimento – se
faz acompanhar da crença de que o objeto das emoções
é real e verdadeiro, embora tal não aconteça.
Assim, dor e prazer, como que pregando embriagadoramente a personalidade-alma
ao corpo físico, poluindo-a com as misérias da carne e do
mundo, e arrastando-a, cada vez mais, aos degraus inferiores da materialidade,
afastam-na da Santa LLuz
e da Verdadeira Vida. Sócrates ensinava e enfatizou a importância
de um reto viver, no qual se inclui uma certa dose de renúncia às
coisas deste mundo e um certo tipo de austeridade e de autocontrole, eis
que a purificação dos erros-desejos só poderá
se processar pela compreensão, e a compreensão não
acontecerá em meio ao escândalo, seja físico, seja mental.
Assim hedonismo (prazer como o bem supremo) torna-se sinônimo de inautenticidade,
e o resultado, apesar de, geralmente, só ser confirmado pela e na
morte, será a dor, o desespero e a angústia, que se efetivarão
nas trevas do pós-vida – no cone
de sombra do desespero rememorativo, já explicado na
1ª parte deste estudo.
O
Problema da Física
No dia seguinte, Sócrates
seria executado, mas continuou a debater magisterial e incansavelmente o
problema da alma. Seus companheiros ouviam atentamente, questionavam, concordavam,
discordavam, mas acabaram por se convencer com seus argumentos.
Sócrates
dá, preliminarmente, uma grande lição de humildade
– talvez a mais importante virtude de um filósofo – quando
afirmou: Não
sei absolutamente como qualquer coisa tem origem, como
desaparece ou como
existe.
E, na busca do entendimento das coisas, acreditava que, para conhecer a
origem e o fim de tudo, o estudante deve indagar qual
a melhor maneira pela qual as coisas existem.
Por
isto, Sócrates não aceitava como válido o pensamento
de Anaxágoras de Clazômenas (cerca de 500 a.C. – 428
a.C.), que reconhecia como princípio material as homeomerias
– as sementes que dão origem à realidade em sua pluralidade
de manifestações. Segundo Anaxágoras, o Nous
atua sobre uma mistura inicial formada pelas homeomerias
– sementes que contêm uma porção de cada coisa.
Assim, o Nous,
que é ilimitado, autônomo e não-misturado, age sobre
estas sementes ordenando-as e constituindo o mundo sensível. Sócrates
também não reconhecia como válido o sistema de Demócrito
de Abdera (cerca de 460 a.C. – 370 a.C.) e de Leucipo de Mileto (nascimento:
cerca de 500 a.C.), mestre de Demócrito e, talvez, o verdadeiro criador
do atomismo (segundo a tese de Aristóteles). Sócrates também
ironizava a teoria de Anaxímenes de Mileto (588 – 524 a.C.),
que concordava com Anaximandro (610 – 547 a.C.) de Mileto quanto ao
a-peiron
e com as características deste princípio apontadas por Anaximandro
– algo infindo e inumerável, tanto no sentido quantitativo
(externa e espacialmente) quanto no sentido qualitativo (internamente).
Este a-peiron
é algo incriado (não foi criado, embora exista) e imortal
(jamais deixará de existir). Contudo, se para Anaximandro o a-peiron
era a realidade primordial ilimitada, infinita, indefinida, eterna e final
de todas as coisas, e, consequentemente, continha toda a natureza do divino
em si, Anaxímenes postulou que este a-peiron
era o Ar.
Sócrates
discordava de todas estas especulações; na verdade, sempre
reclamou do descaso dos filósofos em não se interessarem em
pesquisar a origem da
Força, que dispõe as coisas como foram, como
estão e como virão a ser. Ele próprio declarou que
não adquiriu este conhecimento, mas, apesar de o perquirir, não
encontou uma explicação concertada e nem alguém que
soubesse.
Bem,
considerando-se os admiráveis avanços do saber científico
sobre a constituição da matéria a partir de átomos
e da Física Nuclear, Sócrates tinha mesmo o que se poderia
denominar de humilde razão. E lá se vão 2.500 anos!
Sabe-se, hoje, que a estabilidade nuclear (e, portanto, atômica) é
bastante relativa, mesmo para os átomos ditos estáveis. Abaixo
estão três animações meramente pictóricas
de uma fissão nuclear, de uma fusão nuclear e de uma captura-K1,
que justificam a insatisfação de Sócrates com os postulados
pré-socráticos.
Fissão
Nuclear
Fusão
Nuclear
Captura-K
Fim
da 2ª parte.
1ª
parte: http://paxprofundis.org/livros/fed/on.htm
3ª
parte: http://paxprofundis.org/livros/feddd/on1.htm
_____
Nota:
1. A captura eletrônica
é a captura, pelo núcleo atômico, de um elétron
orbital. Se um elétron da camada K é capturado, o processo
é chamado captura-K. Elétrons de outras camadas podem ser
capturados, mas com probabilidades menores. Em termos elementares, a captura
eletrônica pode ser assim compreendida:
p+
+ e– —›
n + n
em que
p+
= próton
e– = elétron
n = nêutron
n
= antineutrino
Bibliografia:
BORNHEIM,
Gerd A. (org). Os
filósofos pré-socráticos. Cultrix: São
Paulo, 1999.
CABALLERO,
Alexandre. A filosofia
através dos textos. 2ª edição. Cultrix:
São Paulo, 1972.
CONFÚCIO.
Os analectos.
Tradução de Múcio Porphyrio Ferreira. São Paulo:
Pensamento, s.d.
GARAUDY,
Roger. Para conhecer
o pensamento de Hegel. Tradução de Suely Bastos.
Porto Alegre: LPM Editores, 1983.
LEWIS,
H. Spencer. Manual
rosacruz. Curitiba: Grande Loja do Brasil, AMORC, 1964.
MONDIN,
Battista. Curso
de filosofia. 2ª edição. Tradução
de Benôni Lemos. São Paulo: Paulinas, 1981.
MORA,
José Ferrater. Diccionário
de filosofia. 5ª edição. Volume I. Buenos
Aires: Editorial Sudamericana, 1965.
PLATÃO.
Defesa de Sócrates/Platão.
Ditos e feitos
memoráveis de Sócrates; Apologia de Sócrates/Xenofonte.
As nuvens/Aristófanes.
3ª edição. Seleção de textos de José
Américo Motta Pessanha. Tradução de Jaime Bruna, Líbero
Rangel de Andrade e Gilda Maria Reale Starznski. São Paulo: Abril,
1985.
_____.
Diálogos
II. Fédon; Sofista; Político. Tradução
de Jorge Paleikat e João Cruz Costa. Rio de janeiro: Tecnoprint,
s.d.
SEMAT,
Henry. Física
atomica y nuclear. 4ª edição. Tradução
de José Miro Nicolau e Luis Bravo Gala. Madri: Aguilar, 1966.
Páginas
da Internet consultadas:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anax%C3
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http://commons.wikimedia.org/
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http://www.tcetoday.com/tcetoday/
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2010/02/20/codigo-da-purificacao/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sophia
_(gnosticismo)#Pistis_Sophia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pistis_Sophia
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tsunami.gif%252522/d3stroy3r/Tsunami2.gif
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http://www.cefetsp.br/edu/eso
/filosofia/comentarioapologia.html
http://filosofiapraticasoniarodrigues.blogspot.com/
http://www.homeoesp.org/meditacao_
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http://www.mundodosfilosofos.com.br/
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http://www.guia.heu.nom.br/grecia.htm
http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/
israel_textos/introducao_a_platao.htm
http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/cv000031.pdf
http://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9don
Fundo
musical:
Zorba
the Greek (Mikis Theodorakis)
Fonte:
http://www.faliraki-info.com/greek-midi-music/
Observação:
Se
você quiser ver o Anthony Quinn dançando Zorbas com Alan Bates,
por favor, dirija-se a:
http://www.youtube.com/watch?
v=jeNsr_nQEfE&feature=related