A DIVINA COMÉDIA
(Fragmentos do Purgatório)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Dante no Exílio
Anônimo – Arquivo Iconográfico S. A. Itália
Imagem pertencente à Corbis Image Collections

 

 

 

 

O Barqueiro Trazendo Almas para o Purgatório
(Ilustração de Gustave Doré)

 

 

 

 

 

Introdução e Objetivo do Estudo

 

 

 

A Divina Comédia (do italiano Commedia, mais tarde batizada de Divina por Giovanni Boccaccio), escrita no dialeto toscano, matriz do italiano atual, por Dante Alighieri (Florença, 1265 – Ravena, 1321) entre 1307 e a sua morte em 1321, é um poema épico da literatura italiana e da literatura mundial. Os mais variados pintores de todos os tempos criaram ilustrações sobre ela, com destaque para Sandro Botticelli, Gustave Doré e Salvador Dalí.

 

A Divina Comédia está dividida em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso. Cada uma delas está dividida em cantos, compostos de tercetos. A composição do poema é baseada no simbolismo do número 3 (número vinculado à Santíssima Trindade, assim como, também, simboliza o equilíbrio e a estabilidade em algumas culturas, e que também tem relação com a Lei Universal do Triângulo). A obra possui três personagens principais: Dante, que personifica o homem; Beatriz que personifica a fé; e Vírgilio que personifica a razão. Cada estrofe da Divina Comédia tem três versos e cada uma de suas três partes contêm 33 cantos.

 

A Divina Comédia propõe que a Terra está no meio de uma sucessão de círculos concêntricos que formam a Esfera Armilar1, e o meridiano onde é Jerusalém hoje seria o lugar atingido por Lúcifer ao cair das esferas mais superiores – e que fez da Terra Santa o Portal do Inferno. Portanto, o Inferno responderia pela depressão do Mar Morto, onde todas as águas convergem, e o Paraíso e o Purgatório seriam os segmentos dos círculos concêntricos, que, juntos, respondem pela mecânica celeste e os cenários comentados por Dante em um poema que envolve todos os personagens bíblicos do Primeiro e do Segundo Testamento. Na Divina Comédia o próprio autor, Dante Alighieri, realiza uma jornada espiritual pelos três reinos do além-túmulo. Seu guia e mentor nessa empreitada é Virgilio, o próprio autor da Eneida.

 

Nesta segunda parte deste estudo pretendi garimpar da Divina Comédia alguns fragmentos iniciático-educativos contidos no Purgatório que permitirão ao leitor, se achar conveniente, levar a efeito uma reflexão sincera sobre sua atuação nesta encarnação. Digo desta forma, porque só durante o processo encarnativo é possível modificar concertadamente e atualizar harmoniosamente o que pode e deve ser modificado e o que pode e deve ser atualizado. Ora et Labora; Solve et Coagula. Dante Alighieri era um Iniciado; mas na Divina Comédia, preponderantemente, utilizou imagens religiosas para transmitir sua mensagem, pois eram fáceis de ser compreendidas na época em que viveu. É necessário, assim, ler as entrelinhas da obra; de outra maneira, fica-se enfiado no dogmatismo católico, nomeadamente medieval, que mais entenebrece do que esclarece.

 

Finalmente, devo novamente esclarecer que tive que fazer algumas poucas e econômicas edições no conteúdo dos fragmentos dantianos, para poder acomodá-los a este tipo de trabalho. Todavia, não interpolei o pensamento do autor, o que seria uma heresia. Eu não quero, depois de morrer, ter a desventura de velejar pelo Rio Aqueronte2 e de dar de cara com o Caronte3 espumando de raiva por todos os poros, me acusando de hæretìcus. E como também não quero ser acusado de ser moleirão, darei continuidade ao estudo com o estudo do Paraíso.

 

Para ler a Primeira Parte (Fragmentos do Inferno), dirija-se a:

http://paxprofundis.org/livros/divina/comedia.htm

 

 

 

 


— Divina Comédia —

Fragmentos do Purgatório

 

 

 

Segundo Dante, o Purgatório é um espaço metafísico – intermediário entre o Paraíso e o Inferno – que se encontra na porção austral, sul, do Planeta onde existe uma única ilha. Dante encontra nesta ilha uma montanha composta por círculos ascendentes, reservados àqueles que se arrependeram em vida de seus pecados e estão em processo de compreensão e de expiação dos mesmos. No Purgatório, as almas assistem às punições das outras almas, que por pecarem mais intensamente foram para o Inferno. No início da subida da montanha, estão esperando arrependidos tardios, que têm que aguardar a permissão-passaporte para passarem pela Porta de São Pedro, antes de iniciarem suas ansiadas subidas. Cada um dos sete círculos correspodem a um dos sete pecados capitais, na seguinte ordem: orgulho, inveja, ira, preguiça, avareza-prodigalidade junto à gula e luxúria. Os pecados (duplos) da avareza-prodigalidade estão juntos no mesmo círculo, pois são os dois extremos de um mesmo equívoco (cara e coroa de uma mesma moeda), onde o avaro supervaloriza e é obcecado por adquirir e acumular dinheiro e coisas materiais, e o pródigo desperdiça, dissipando seus bens e gastando mais do que o necessário.

 

No fim do Purgatório, Dante se despede de Virgílio, pois este não pode ter acesso ao Paraíso. Lá, no Paraíso, Dante encontra Beatriz, sua amada quando estava na Terra. Esta o leva até o rio Lete. Quando Dante bebe a água do Lete, esta apaga a sua memória, seus pecados; é como se Dante tivesse renascido. Existe uma lenda que diz que o Paraíso fica entre os Rios Tigre e o Eufrates. Finalmente Dante chega ao Paraíso.

 

 

 

Fragmentos

 

 

Para continuares, deves guiar-te pelo Sol, que em breve estará nascendo. Ele indicará o Caminho onde encontrarás a subida mais suave. (Purgatório, Canto I).

 

Uma das almas do Purgatório se aproximou com os braços abertos, como se fosse me abraçar, mas, quando tentei retribuir o abraço, meus braços abraçaram o nada! Três vezes eu tentei e três vezes minhas mãos voltaram para o meu peito, atravessando aquela forma vazia... (Purgatório, Canto II).

 

Quando eu voltei à foz do Rio Tibre, lá estava aquele Ser Benigno que me recolheu a bordo. E foi para lá que Ele agora partiu, pois é lá que Ele sempre recolhe os que não caem nas margens do Aqueronte.4 (Purgatório, Canto II).

 

Que é isso, espíritos preguiçosos? Quanta negligência estardes aqui folgados, perdendo o vosso precioso tempo! Correi logo ao Monte para livrar-vos da sujeira do mundo que vos oculta a vista de Deus! (Purgatório, Canto II).

 

Não te assustes, mas aceita os mistérios de Deus. (Purgatório, Canto III).

 

Terríveis foram os meus pecados, mas a Bondade Infinita com seus grandes braços sempre acolhe aquele que se arrepende... Não há maldição que não possa ser anulada pelo Eterno Amor, enquanto ainda restar um fio de esperança. (Purgatório, Canto III).

 

Quando algum dos nossos sentidos se entrega à intensidade do prazer ou da dor, naquele momento, ele toma toda a atenção da alma, que ignora quaisquer outros poderes... Portanto, quando se ouve ou se vê alguma coisa, que captura a atenção total da alma, o tempo passa sem que percebamos. (Purgatório, Canto IV).

 

Esta montanha é tal que o início de sua escalada é muito difícil. Mas, à medida que formos subindo, o esforço exigido será cada vez menor, até que chegaremos a um ponto onde nenhum esforço será necessário para subir mais.5 (Purgatório, Canto IV).

 

Antes que eu possa iniciar minha purgação, os céus devem girar tantas vezes quanto giraram enquanto eu vivia, pois deixei para me arrepender no último instante. (Purgatório, Canto IV).

 

 

 

 

O que te interessa o murmúrio das almas? Deixa que elas falem sozinhas! Aquele que deixa que seus pensamentos sejam interrompidos por qualquer coisa, perderá a vista de sua verdadeira meta e terá sua mente enfraquecida. (Purgatório, Canto V).

 

A Justiça Suprema não é abalada quando... (Purgatório, Canto VI).

 

Não o que eu fiz, mas o que não fiz, me fez perder a vista do Alto Sol...6 (Purgatório, Canto VII).

 

Depois que o Sol estiver posto, tu não poderás passar desta linha. Não é porque alguém irá impedi-lo, mas porque não terás vontade alguma de subir.7 (Purgatório, Canto VII).

 

Pouco antes do amanhecer, quando nossa mente já está mais distante da carne, os sonhos são visões quase divinas. Naquela hora, sonhando, eu vi uma águia de penas de ouro sobrevoar o vale onde estávamos. Senti-me como se estivesse na montanha onde Ganimede foi raptado para servir aos deuses. Eu observava a águia circulando o vale quando, de repente, ela mergulhou como um raio. Ela chegou, me agarrou com suas garras e subiu me levando para muito alto. Subimos e atravessamos a esfera do Fogo, onde ardemos, ela e eu. Tão real me pareceu o calor daquele incêndio imaginário, que eu acordei. (Purgatório, Canto IX).

 

 

O Sonho da Águia
(Ilustração de Gustave Doré)

 

 

Chegamos até o local que eu antes pensara ser uma rachadura na pedra. Lá, depois de Três Degraus de Cores Diversas,8 havia uma porta. No mais alto degrau estava um porteiro, calado. Eu não consegui mirá-lo, pois o clarão que emanava do seu rosto me ofuscava. Brilhava tanto quanto o Sol, que refletia na espada nua firme na sua mão... O primeiro degrau era branco e de um mármore tão claro que nele me vi refletido. O segundo era mais escuro que pez9 e era feito de pedra áspera, com várias rachaduras na sua superfície. O terceiro e último me pareceu ser de pórfiro10 flamejante, tão rubro quanto sangue vivo que jorra de uma veia. E era neste degrau que o Anjo de Deus pousava seus pés e se sentava em uma soleira que parecia uma pedra de diamante. (Grifo meu). (Purgatório, Canto IX).

 

 

A Entrada do Purgatório e os Três Degaus

A Entrada do Purgatório
(Os Três Degraus)
Um Anjo Guarda a Porta de São Pedro
(Ilustração de Gustave Doré)

 

 

Entrai, mas lembrai-vos de que para cá retornam todos aqueles que olham para trás.11 (Purgatório, Canto IX).

 

Ó orgulhosos cristãos, miseráveis e cansados. Não vedes que somos meras larvas, nascidas para formar a angélica borboleta que à Justiça voa sem defesa? Por que vossas pretensões são tão altas se não sois mais do que insetos defeituosos? (Purgatório, Canto X).

 

Pai nosso, que estás nos céus, não circunscrito, mas pelo maior amor que dás às Tuas criações primeiras, louvado seja o Teu Nome e o Teu Valor, por toda criatura, assim como damos graças ao Teu Doce Vapor. Que venha a nós, a paz do Teu Reino. Dá-nos hoje, o maná de cada dia, sem o qual, neste áspero deserto, retrocede quem mais avançar deseja. E assim como perdoamos aqueles que nos causaram mal, nos perdoa Tu também, benigno, sem olhar o nosso mérito. Não deixes que nossa virtude fraca caia na tentação do antigo adversário, mas liberta-nos de suas garras. Este último pedido, Senhor, não fazemos para nós, que não carecemos, mas para os que ainda em baixo permanecem. (Purgatório, Canto XI).

 

Ó glória vã de toda a posse humana! ... A fama do mundo não é mais que uma rajada de vento que muda de nome quando muda de lado. O que será da tua fama daqui a mil anos? O que são dez séculos para a eternidade? Menos do que um piscar de olhos comparado com o giro da mais lenta das esferas... A fama terrena é como o verde da erva, que vem e vai. O Sol que a faz viver é o mesmo Sol que depois a descolorirá. (Purgatório, Canto XI).

 

Quando vosso desejo está em ter só para si, o bem comum diminui abrindo caminho para a inveja, que é suspirar por ter aquilo que o outro tem. Mas, se o amor da esfera suprema elevasse o desejo de vossos Corações, não terias no peito tal temor, pois quanto mais existissem pessoas que pudessem falar 'nosso' ao invés de 'meu', mais cada um iria possuir de bem. (Purgatório, Canto XV).

 

Por manteres tua mente presa às coisas mundanas, da verdadeira Luz as trevas te afastam. Aquele imenso e inefável Bem que lá está, corre ao amor como os raios de luz correm das superfícies que os refletem. Quanto mais ardor encontra, mais dá de si; quanto mais gente lá em cima se entende, mais há para bem amar, e mais se ama, como espelhos que espelham um ao outro. (Purgatório, Canto XV).

 

Vós que viveis atribuís tudo à influência dos astros, como se tudo fosse movido por eles e só por eles. Se assim fosse, não haveria livre-arbítrio nem haveria sentido no júbilo ou no luto, pois nada seria evitável. O céu inicia vossos movimentos, mas não todos. Porém, mesmo que assim fosse, ainda seríamos responsáveis, pois nos é dada a Luz para distinguir o bem do mal. Natureza melhor e mais poderosa vos rege: a que é criada por vossas mentes, e que o céu não controla. Logo, se o mundo hoje perdeu o rumo, buscai a causa em vós e não nos astros, pois é em vós que ela está! (Purgatório, Canto XVI).

 

Aquele que espera que se peça quando vê que é preciso, mostra que não está mesmo disposto. (Purgatório, Canto XVII).

 

O Amor que se fixa no Bem Supremo, ou nos bens secundários com moderação, não pode ser causa de mal... O Amor é a semente de todas as virtudes... O mal que se ama se divide em três modos: os primeiros só admitem a própria glória, mesmo que isto signifique a ruína do próximo (orgulhosos); depois há os que se preocupam com a possibilidade de o outro crescer e acumular mais fama e poder do que eles (invejosos); finalmente, existem aqueles que, por injúria sofrida, explodem em ira, e só pensam em revidar o mal causado (iracundos). (Purgatório, Canto XVII).

 

A alma – que é criada com capacidade de Amar – move-se para o que lhe dá prazer. Vossos sentidos extraem do mundo real uma imagem que é exibida internamente. É esta imagem que atrai a alma. E se ela é atraída, a imagem então se inclina, e esta inclinação é o Amor, que faz parte de vossa natureza. E assim como o Fogo se move para as alturas, buscando a sua própria natureza, da mesma forma vossa alma busca a coisa amada e não descansa até encontrá-la e dela usufruir. Podes agora entender como estão enganados aqueles que acham que qualquer amor é, em si, coisa louvável. Talvez assim pensem por acharem que sua essência é sempre boa, mas nem todo selo é bom, ainda que boa seja a sua cera. (Purgatório, Canto XVIII).

 

Toda essência, esteja ela ligada ou não à matéria, tem a sua própria virtude, que não é percebida a não ser por seus efeitos, como o verde de uma planta revela-nos a sua essência viva. (Purgatório, Canto XVIII).

 

Para manter vossos instintos sob controle, tens uma virtude inata12 que, munida da razão, vos aconselha. É neste princípio que repousa o vosso poder de julgamento, que é capaz de rejeitar o mau amor e acolher o bom. Aqueles que, através do raciocínio, investigaram este assunto profundamente perceberam essa liberdade inata, e a partir dela deixaram suas doutrinas morais e éticas no mundo. (Purgatório, Canto XVIII).

 

Ó avareza, que mais podes causar ao meu sangue após tê-lo levado à desprezar até a própria carne? (Purgatório, Canto XX).

 

As Leis Sagradas desta montanha13 não permitem que nada ocorra que esteja fora de sua regularidade. (Purgatório, Canto XXI).

 

A vontade de subir14 é a prova da pureza alcançada. (Purgatório, Canto XXI).

 

Amor, aceso pela virtude, sempre outro acende, enquanto a chama do primeiro ainda é visível. (Purgatório, Canto XXII).

 

Os que cometem pecados desejando através deles anular pecados contrários são sempre punidos15 no mesmo círculo desta montanha. (Purgatório, Canto XXII).

 

Nasce uma nova era, volta a justiça e os primeiros tempos do homem, e uma nova progênie do céu descende. (Purgatório, Canto XXII).

 

Bem-aventurados os que se satisfazem com a parte que lhes é justa. (Purgatório, Canto XXIV).

 

Quando chega, enfim, a hora da morte, a alma se liberta da carne; mas com ela permanecem, ainda, suas naturezas humana e divina. Seus poderes materiais não existem mais, porém a memória, a inteligência e a vontade estão mais agudas do que nunca. (Purgatório, Canto XXV).

 

Por aqui não se passa sem que se sofra16 o calor do Fogo... O Fogo pode ser tormento, mas não morte. (Purgatório, Canto XXVII).

 

Olha para o Sol que reluz na tua fronte.17 (Purgatório, Canto XXVII).

 

O Supremo Bem fez o homem bom e voltado ao bem... Por sua culpa,18 trocou sua alegria pela dor... (Purgatório, Canto XXVIII).

 

Do medo e da vergonha eu desejo que libertes o teu pensamento, para que não fales mais como se estivesses sonhando... A justiça de Deus não poderá ser anulada... A hora que ninguém pode impedir logo virá... A vida nada mais é do que uma corrida para a morte... Daquelas Águas Santíssimas eu retornei renascido, como uma planta que adquire uma nova folhagem, puro e disposto a subir às estrelas. (Purgatório, Canto XXXIII).

 

 

 

 

 

 

 

Uma Palavra Final

 

 

 

Escreveu Dante: A vida nada mais é do que uma corrida para a morte... Todavia, para Viver, conhecer e conquistar a Santa Vida é necessário primeiro Morrer para o mundo e para as ilusões do mundo. Seja como for, temos que estar atentos às palavras do filósofo, poeta lírico e satírico romano Quintus Horatius Flaccus (Venúsia, 8 de dezembro de 65 a.C. – Roma, 27 de novembro de 8 a.C.): Palida mors æquo pulsat pede pauperum tabernas; regumque turres. A pálida morte bate com força igual tanto nas pobres palhoças quanto nas torres reais. Então, por que vaidade? Por que egoísmo? Por que maldade? Simplesmente porque não nos interrogamos a respeito de o por quê da existência. Enfim, a dor e a morte são porque não deveriam ser; o Amor e a Vida são porque desde sempre são.

 

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. A Esfera Armilar é um instrumento de astronomia aplicado em navegação, que consta de um modelo reduzido da esfera celeste.

2. O Rio (mitológico) Aqueronte localiza-se no Épiro, região do noroeste da Grécia. O nome Rio pode ser traduzido como rio do infortúnio, e acreditava-se que fosse um afluente do Rio Styx, este localizado no Mundo dos Mortos. Nele se encontra Caronte, o barqueiro que leva as almas recém-chegadas ao outro lado do Rio, às portas do Hades, onde o Cérbero – o monstruoso cão de múltiplas cabeças e cobras ao redor do pescoço – os aguarda.

 

 

Cérbero

 

 

3. O Caronte era uma figura mitológica do mundo inferior grego (o Hades) que transportava os recém-mortos na sua barca através do rio Aqueronte até o local no Hades que lhes era destinado.

 

 

Caronte Navegando pelo Hades
(Ilustração de Gustave Doré)

 

4. A foz do rio Tibre, em Óstia, é o ponto de partida da embarcação. É onde, na Divina Comédia, são embarcadas as almas que se destinam ao Purgatório. Depois de desembarcar as almas, o anjo volta ao ponto de partida para buscar mais almas destinadas à salvação.

5. Sim e não. Tudo, no começo, é realmente difícil. Todavia, as dificuldades jamais poderão ser eliminadas ou afastadas do processo de aprendizagem. Por isto, paciência. Três vezes paciência! Não custa nada lembrar: Aquele que blasfemar contra o Espírito Santo nunca será perdoado, mas será réu de eterno delito. (Evangelho de Marcos III, 29).

6. Aqui, vale a pena lembrar duas passagens do Sermão da Primeira Dominga do Advento do Padre Antônio Vieira (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 – Bahia, 18 de julho de 1697). 1ª passagem: Sabei, Cristãos, sabei, príncipes, sabei, ministros, que se vos há-de pedir estreita conta do que fizestes; mas muito mais estreita do que deixastes de fazer. Pelo que fizeram, se hão-de condenar muitos, pelo que não fizeram, todos. 2ª passagem: A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo...

7. Não deixes que teu Sol Interior se apague, porque, como advertiu Sordello, não terás vontade alguma de subir!

8. As células humanas contêm 46 cromossomos dispostos em pares, incluindo um par de cromossomos sexuais. A molécula do ácido desoxirribonucleico (DNA) é uma dupla hélice longa que se assemelha a uma escada em espiral. Os ácidos nucleicos são moléculas orgânicas gigantes (macromoléculas) contendo carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e fósforo. Existem dois tipos principais: o DNA e o ácido ribonucleico (RNA). Os denominados degraus da escada, os quais determinam o código genético de cada ser, consistem de pares de quatro tipos de moléculas, denominadas bases. Nos degraus, a adenina pareia com a timina, e a guanina emparelha com a citosina. O código genético é escrito em Tripletos (conjunto de três elementos tomados em uma ordem determinada), de modo que cada grupo de Três Degraus da Escada codifica a produção de um dos aminoácidos, os quais são os componentes que formam as proteínas. Quando uma parte da molécula de DNA controla ativamente alguma função da célula, a hélice do DNA divide-se, abrindo-se no sentido longitudinal. Um filamento da hélice aberta fica inativo; o outro filamento funciona como um padrão contra o qual se forma um filamento complementar de RNA (ácido ribonucleico). A replicação é um processo no qual uma molécula de DNA dupla fita é duplicado. Devido ao fato de o DNA conter a informação que é fundamental para codificar todas as proteínas e RNAs necessários para que seja construído um organismo, é através da replicação que os seres vivos conseguem dar origem a um novo ser que possui as mesmas características do ser que o originou. A replicação também explica como os seres multicelulares foram formados a partir de uma única célula - o zigoto. Portanto, a replicação do material genético é importante para todas as formas de vidas conhecidas. No entanto, os mecanismos de replicação dos procariontes e eucariontes não são idênticos. Como cada fita de DNA contém a mesma informação genética, qualquer uma das duas fitas podem servir como molde; por isto a replicação do DNA é dita semiconservativa. No âmbito do Misticismo, há um conhecimento que precisamos todos nós aprofundar: determinados sons vocálicos (mantras), sagrados desde sempre, influem beneficamente nos nossos DNAs – o núcleo de informação genética que fica dentro das células. Se, minimamente, por exemplo, pensarmos no som AUM, nossa saúde melhorará sensivelmente. Eventuais mutações em curso podem até ser paralisadas e transmutadas. A harmonia retorna ao leito original. Isto é uma Lei Universal. Há alguns anos, divulguei o trabalho Aonde Iremos Parar (A Profecia do Papa João XXIII e o Suplício de Nicholas Berg), e, em um parágrafo, escrevi: Eu sofrerei ao pé da tartaruga, vaticinou o Conde (Grande Iniciado) Alessandro di Cagliostro. San Leo di Montefeltro. Ali também havia sido desterrado Dante. Também ali foram escritos os Cantos do Inferno. De qualquer sorte, a Verdade a respeito de Cagliostro jamais será inteiramente conhecida. Não publicamente. O certo é que Cagliostro veio para unir, não para dividir. Cagliostro, Saint-Germain e Saint-Martin eram Rosacruzes (R+C) e Superiores Desconhecidos (SI). Chegaram a redigir um Manifesto sobre um determinado Conceito Iniciático Inviolável, mas contemporaneamente depreciado pelos ignorantes-poderosos: A Liberdade do Homem. Paz no Triângulo... Reconhecemo-nos no Vermelho do Sacrifício que cimenta o casamento do Branco com o Negro... Estão abertas as Asas do Pelicano... O Templo está em toda parte... a PALAVRA... procurai-A em vós... Nossos Mestres... Eles vivem, procurai-Os. [O Verbum Inenarrabile et Dimissum!]. Enfim, é extremamente interessante a alusão na Divina Comédia aos Três Degraus com as Três Cores Gnósticas, que aparecem também na bandeira francesa, na qual a cor Negra foi substituída pela cor Azul. Seja como for, o pré-requisito essencial da Filosofia Gnóstica é o postulado da existência de uma entidade [em princípio] imortal, que é e não é parte deste mundo, e que pode ser chamada de Deus Interior, Ser Imortal ou Divina Essência, e que existe em todos os homens e é para ser [em princípio] a sua única parte imortal. Os Rosa+Cruzes denominam esta entidade [em princípio] imortal de Deus do Coração do Homem. Insisti três vezes no em princípio porque poderemos, se descambarmos para a esquerda, pelo nosso livre-arbítrio, matar esta entidade imortal. Basta que em nossa personalidade-alma estejam gravados e encravados os 7 Ps (avareza, gula, inveja, ira, luxúria, orgulho, preguiça), que são os catalisadores 'erquerdificantes' para coisas muito piores. Bem-aventurados os puros e os sinceros porque conhecerão o Reino.

 

DNA
Replicação do DNA

 

 

9. Pez é uma resina que exsuda dos pinheiros. Substância densa obtida pela destilação de alcatrão; piche. Nome dado freqüentemente aos betumes naturais.

10. Pórfiro é uma rocha ígnea de qualquer composição que contém fenocristais distribuídos em uma massa fundamental finamente granulada, que pode ser cristalina ou vítrea. Também pode ser qualquer pedra que apresente partículas muito brancas em fundo escuro.

11. Este é o grande drama humano: reincidência pela fraqueza.

12. A Voz do Silêncio do Deus Interior.

13. As Leis Universais.

14. Evoluir.

15. O Cósmico não é vingador nem premiador; é inconscientemente educativo. E assim, na verdade, nós somos os alunos e ao mesmo tempo somos os professores. Aprendemos com a vida e com os outros, mas aprendemos mais conosco; principalmente em silêncio.

16. Sofrer, aqui, deve ser entendido no sentido transmutatório. Segundo Fulcanelli, em As Mansões Filosofais, ... o nome e a coisa se baseiam na permutação da forma pela luz, pelo Fogo ou pelo espírito. A própria luz - no entender de Fulcanelli - é um Fogo rarefeito e espiritualizado. É dele a reflexão a seguir: Enquanto o Fogo durar, a vida irradiará pelo Universo; os corpos submetidos às leis de evolução, de que ele é o agente essencial, completarão os diferentes ciclos das suas metamorfoses até a sua transformação final em Espírito, Luz ou Fogo. Enquanto Fogo durar, a matéria não cessará de prosseguir a sua penosa ascensão para a integral pureza, passando da forma compacta e sólida (Terra) à forma líquida (Água), depois ao estado gasoso (Ar) e ao estado radiante (Fogo). Enquanto o Fogo durar, o homem poderá exercer a sua industriosa atividade sobre as coisas que o rodeiam e, graças ao maravilhoso instrumento ígneo, submetê-las a sua vontade própria, ligá-las, sujeitá-las a sua utilidade. Enquanto o Fogo durar, a ciência se beneficiará de extensas possibilidades em todos os domínios do plano físico e verá alargar-se o campo dos seus conhecimentos e das suas realizações. Enquanto o Fogo durar, o homem estará em relação direta com Deus, e a criatura conhecerá melhor o seu criador. Pergunta: o que pretendeu São João Batista com sua famosa frase? Eu Vos batizo na água... Ele Vos batizará no Espírito Santo e no Fogo. Resposta: a regeneração última da Natureza só poderá se operar pelo Fogo – pelo Santo Batismo do Fogo. Por isto, escreveu Dante: O Fogo pode ser tormento, mas não morte.

17. O Sol pode reluzir na fronte, mas sua sede é o Coração.

18. Culpa = Livre-arbítrio.

 

Bibliografia:

ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia. Segundo volume: Purgatório. Traduzida, anotada e comentada por Cristiano Martins. 2ª edição. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979.

FULCANELLI. As mansões filosofais/Les demeures philosophales. Tradução de António Last e António Lopes Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1977.

______. O mistério das catedrais (e a interpretação esotérica dos símbolos herméticos da Grande Obra)/Le mystère des cathédrales. Tradução de Jean-Jacques Pauvert. Lisboa: Edições 70, 1964.

ROGER, Bernard. Descobrindo a alquimia/A la découverte de l’alchimie. 10ª ed. Tradução de Newlton Roberval Eichemberg. São Paulo: Pensamento. 1997.

ROOB, Alexander. O museu hermético: alquimia e misticismo. Tradução de Teresa Curvelo. Itália: Taschen, 1997.

 

Fonte desta pesquisa: Website de Helder da Rocha

http://www.stelle.com.br/index.html

 

Outras Páginas da Internet e Websites consultados:

http://sprott.physics.wisc.edu/
fractals/collect/1995/

http://www.ct.infn.it/~latora/

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Replica%C3%A7%C3%A3o_do_ADN

http://www.biotopics.co.uk/
genes/andna.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Gnosticismo

http://www.cce.ufsc.br/
~nupill/literatura/advento50.html

http://www.fraternidaderosacruz.org/
oraetlabora.htm

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Caronte_%28mitologia%29

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Aqueronte

http://pt.wikipedia.org/
wiki/A_Divina_Com%C3%A9dia

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Esfera_armilar

 

Fundo musical:

A Solidão da Noite

Compositor: José Maurício Nunes Garcia (1767-1830)

Fonte:

http://members.fortunecity.com/bvmusica/colonial2.htm