AONDE IREMOS PARAR?

(A Profecia do Papa João XXIII
e o Suplício de Nicholas Berg)

 

Pacem in Terris

(Música de fundo: Kyrie)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Este trabalho também pode ser lido com ilustrações que aqui não são contempladas em:

http://svmmvmbonvm.org/nickberg.htm

Lá, a música de fundo é a lindíssima Rosa de Hiroshima.

 

 

 

 


A TÍTULO DE INTRODUÇÃO

 

An eccentric philosophy professor gave a one question final exam after a semester dealing with a broad array of topics. The class was already seated and ready to go when the professor picked up his chair, plopped it on top of his desk and wrote on the board:

Using everything we have learned this semester, prove that this chair does not exist.

Fingers flew, erasers erased, notebooks were filled in furious fashion. Some students wrote over 30 pages in one hour attempting to refute the existence of the chair. One member of the class, however, was up and finished in less than a minute.

Weeks later, when the grades were posted, the rest of the group wondered how he could have gotten an "A", when he had barely written anything at all. His answer consisted of two words:

— WHAT CHAIR?

 

 

 

 

CONTINUANDO...

 

 

Angelo Giuseppe Roncalli nasceu em 25 de novembro de 1881 em Sotto il Monte, Bergamo, perto de Brussico. Em 1895 recebeu o hábito talar (traje eclesiástico). Em 30 de Novembro de 1901, depois de ter sido convocado para o serviço militar, serviu no 73º de Infantaria, em Bergamo, no Quartel Humberto I. Exatamente um ano depois é dispensado. É ordenado sacerdote em 10 de Agosto de 1904 na Igreja de Santa Maria, em Monte Santo; no dia seguinte, curiosamente, foi recebido em audiência pelo Sumo Pontífice. Incomum... mas nem tanto!

Cedo, manifestou interesse por viajar e conhecer o povo e as realidades da vida. Com isso, subverteu o costume milenar de que um núncio deveria ficar imobilizado e se limitar a tecer as teias das tramas diplomáticas. Transitou o que pôde, inclusive a pé. Peregrinou à Terra Santa e viajou por vários países europeus, dentre tantos, Suíça, Alemanha, Áustria, Hungria e Polônia. Durante a Guerra (Primeira), foi nomeado Capelão do Hospital de Bergamo. Em 1919, foi nomeado Diretor Espiritual do Seminário de sua Cidade Natal. Posteriormente, o Papa Benedito XV designou Angelo Presidente do Conselho Central (para a Itália) das Pontifícias Obras Missionárias. Estava, agora, em Roma, e, com paciência e sabedoria, se deixou introduzir no conspiratório e pouco sedutor (para ele) ambiente curial romano. Em seguida, na Bulgária, foi elevado a Bispo e depois a Arcebispo. Neste cargo de confiança, acabou por se encontrar com o Metropolita dos Armênios - Stepanosse Hovegnimiam. Era o início de um longo ecumenismo que o absorveria até o término de sua Missão na Terra. Espontaneamente, tornou-se amigo sincero de maçons, de laicos e até de anticlericais. Angelo era assim. Transbordava Bondade. Já, então, na França, na qualidade de Núncio Apostólico, recebia, para reuniões e almoços em sua residência, pessoas inimigas entre si. Muitas se reconciliaram sob a influência de Angelo. Terminou por conquistar o respeito e a admiração de De Gaulle, que, no início de sua nova investidura, não o tolerava.

Em 15 de Janeiro de 1953 foi purpurado no Eliseu, recebendo o Barrete Cardinalício das mãos de seu amigo Vincent Auriol, Presidente da República Francesa. Da França foi para Veneza: Patriarca de Veneza. Mas, com a morte de Pio XII (que, se pudesse, talvez tivesse escolhido Battista Montini para sucedê-lo), acabou sendo eleito Papa e solenemente coroado em São Pedro em 4 de Novembro de 1958. Agora era João XXIII. O Nome João... isso ele já sabia!!!

João XXIII considerou três tarefas prioritárias no seu pontificado. A primeira, foi a realização de um Sínodo para a Cidade de Roma, que foi realizado entre os dias 24 a 31 de Janeiro de 1960.

A segunda, consistia na elaboração de um novo Código de Direito Canônico, que foi terminado pelo atual Pontífice, o Papa João Paulo II, e promulgado em 1983.

A terceira tarefa, seria a realização de um novo Concílio Geral de toda a Igreja [reunião de dignitários eclesiásticos, especialmente bispos, presidida ou sancionada pelo papa, para deliberar sobre questões de fé, costumes, doutrina ou disciplina eclesiástica], em continuação ao Concílio Vaticano I, que foi interrompido em 1870 pela invasão de Roma por tropas italianas. Esse Concílio se iniciou em 1962 e terminou em 1965, já com o Papa Paulo VI.

Durante o exercício de sua Dignidade Papal, s.m.r., escreveu oito Encíclicas. Seus títulos são:

 

 

Na Encíclica Pacem in Terris (11 de abril de 1963), a Cidade Agostina de Deus torna-se a Cidade do Homem. Este é um conceito profundamente Iniciático. Entretanto, nada a estranhar. João conheceu de perto os ensinamentos de Hermes sobre a Realidade da Coisa Una e teve absolutamente presente os Versos de Ouro de Pitágoras, que ensinam ao homem a se tornar semelhante a Deus. AMOR, PAZ E TOLERÂNCIA, palavras das quais nunca se afastou e em ato sempre praticou. Em 3 de Junho de 1963, menos de um ano depois de ter instalado o Concílio Vaticano II (11 de outubro de 1962), o Papa Bom partiu para o Grande Encontro com o Deus de seu Coração. Hoje está no seio da LUZ MAIOR.

Eu sofrerei ao pé da tartaruga, vaticinou o Conde (Grande Iniciado) Alessandro di Cagliostro. San Leo di Montefeltro. Ali também havia sido desterrado Dante. Também ali foram escritos os Cantos do Inferno. De qualquer sorte, a Verdade a respeito de Cagliostro jamais será inteiramente conhecida. Não publicamente. O certo é que Cagliostro veio para unir, não para dividir. Cagliostro, Saint-Germain e Saint-Martin eram Rosacruzes (R+C) e Superiores Desconhecidos (SI). Chegaram a redigir um Manifesto sobre um determinado Conceito Iniciático Inviolável (contemporaneamente depreciado pelos poderosos?!): A LIBERDADE DO HOMEM: Paz no Triângulo... Reconhecemo-nos no Vermelho do Sacrifício que cimenta o casamento do Branco com o Negro... Estão abertas as Asas do Pelicano... O Templo está em toda parte... a PALAVRA... procurai-A em vós... Nossos MESTRES... Eles vivem, procurai-Os. [O VERBUM INENARRABILE ET DIMISSUM!].

Lembrando Nomes: São João Evangelista, Chico Xavier, São Francisco, Santo António de Lisboa, Santo Alberto Magno, Santa Joana D'Arc, Bulwer-Lytton, Santa Tereza, Madre Tereza de Calcutá, São Bento, Jeanne Guesdon, Lázaro, Tii, Nefertiti, Robert Fludd, Hildegarde de Bingen, John Heydon, Helena Blavatsky, Iolanda Therezinha Marcier, Maria, Platão, Filon, Plotino, Sâr Alden, Sâr Validivar, Maria Aparecida Moura, Giordano Bruno, Jacques de Molay, Esclarmonde de Foix, Jacob Boehme, Mâ Ananda Moyî, Victor Hugo, Dama Pernelle, Thomas Vaughan, Maria Deraismes, Sócrates, Hermes Trismegistus, Muhammad, Buddha, A Rosa de Sharon, Francis Bacon, Michael Maier, Lord Raymund VI, May Banks-Stancey, Saint Yves D'Alveydre, Tiphaine de Raguenel, Papus, Éliphas Lèvi, Augustin Chaboseau (Sâr Augustus), Martinès de Pasqually, Jean-Baptiste Willermoz, Jolivet Castelot, Fulcanelli, São Vicente de Paulo, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Leibniz, Albert Einstein, Mahatma Gandhi... Fui injusto. Apenas alguns. Faltam tantos... Fui injusto.

Angelo Roncalli foi também um Alto Iniciado - esta é a chave de suas Profecias. O aposento era grande, com as paredes em forma de Pentágono... No aposento, apenas uma grande mesa de cedro, também pentagonal, exatamente no centro do ambiente... Sobre a mesa, uma Bíblia aberta no... Evangelho de São João... uma ESPADA FLAMEJANTE com empunhadura de prata... um turíbulo... faixas coloridas de pano... dois candelabros de bronze com três pequenos braços e três velas vermelhas em cada um... o Símbolo Esotérico da Ordem Iniciática... Três Rosas cruzadas de pano... Negra, Vermelha e Branca... Três velas vermelhas acesas... De joelhos, mas apenas sobre o joelho direito... O postulante... Um Manuscrito... O Sinal da Liberdade: a escolha do Nome Iniciático... JOHANNES... A LUZ explode no interior de JOHANNES... Trabalho diário... Três momentos... Três pontos da operação do SOL... Manuscrito com a fórmula do JURAMENTO... JOHANNES assina... Compromisso... O Manuscrito é dobrado SETE VEZES... O Manuscrito é espetado na ponta da ESPADA FLAMEJANTE... O fogo lambeu o papel...O JURAMENTO transformou-se em cinza... JOHANNES é beijado pelo seu INICIADOR... JOHANNES chora. JOHANNES era, agora, um INICIADO DA ORDEM... E fez diversas profecias. Todas cumpridas até agora!

Enfim, reproduzo uma parte do conteúdo do site que roda em:

www.pime.org.br/pimenet/
missaojovem/mjhistdaIgjoao.htm

Ele foi chamado de o Papa Bom. Verdade! Sua grande bondade, sem dúvida, foi o traço principal de seu testemunho, fazendo com que as pessoas também percebessem e sentissem a amizade e a ternura de Deus.

A bondade, no entanto, era acompanhada por uma extraordinária coragem.

O exemplo mais concreto disso foi o fato de ter dito à Igreja uma palavra que dava medo: Renovação.

Seu trabalho em prol da paz internacional e da adequação da igreja aos novos tempos, despertou a admiração mundial e o transformou em uma das mais marcantes personalidades do século XX.

Sua beatificação será certamente uma grande festa para todos, cristãos e não-cristãos, para todas as pessoas de 'boa vontade', aos quais endereçou a Encíclica 'Pacem in Terris' (Paz na Terra), assinada dois meses antes de sua morte.

Seu pontificado fez com que os cristãos [e os não-cristãos] se sentissem realmente povo de Deus, irmãos, filhos do mesmo Pai bondoso. Fez perceber a importância da liturgia e da Palavra de Deus, a solidariedade com as alegrias e as esperanças de todos os homens, o amor e o perdão recíprocos com os irmãos de outras religiões. (grifo meu).

O Concílio Vaticano II é a herança mais preciosa que, com seu sorriso e sua bênção, ele deixou à Igreja. Graças ao Concílio, a Igreja tornou-se mais profética e missionária, assumindo e se aculturando nas diferentes realidades do mundo.

Recentemente, chegou-se a falar na hipótese de um novo encontro de todos os bispos para uma experiência de colegialidade e de comunhão no estilo e no espírito do Vaticano II.

As sondagens revelaram que a idéia de um novo Concílio foi acolhida favoravelmente entre os fiéis: quem sabe, um Vaticano III. Isso significa que a idéia de uma Igreja fundada na fraternidade, na comunhão e na colegialidade faz seu caminho. Este é também um milagre de João XXIII: o Papa Bom e Corajoso. Mauri L. Heerdt.

 

 

 

 

A PROFECIA

 


Antes da última luz, os pastores terão reconhecido o sinal. E muitos Pais terão a Mãe; todos irmãos.

Das terras e das águas brotarão catedrais e templos para santos antigos e santos novos, do Nome Eterno. Mas já é tempo de santos.

Todos falarão a mesma língua.

E falarão para orar à Virgem e ao Salvador.

O Reino de Deus chega à Terra; é erguida a Sua Cidade, também para os que não a quiserem.

O Primeiro Sol ilumina a balança do criado.

Abri o coração ao Lírio. A Voz será potente, anunciada pelas trompas.

Luz de Ocidente, última luz antes da Eterna, Desconhecida.

A verdade será mais simples de quanto todos dissemos, escrevemos.

Será um Bom Juízo.

Pai Nosso, que estás nos Céus, vem o Teu Reino.

É feita a Tua Vontade no Céu e na Terra.

 

SÃO  VINTE  SÉCULOS  MAIS  A  IDADE  DO  SALVADOR.

 

AMeN.

 

 

 

 

EXAMINANDO A PROFECIA

 

 

 

Quaisquer que sejam as interpretações que possam ser dadas a estas palavras do Papa Iniciado, eu estou plenamente convencido de que devem ser levados em consideração, minimamente, os seguintes fatores:


A) 5 de Fevereiro de 1962 - Todos os Planetas dos Antigos - segundo Raymond Bernard - se encontravam reunidos no Signo Zodiacal do Aquário. Nesta data, exatamente, nasceu Aquele Que Era Esperado...

 

B) A Idade do Salvador - Certamente, o Papa João estava a se referir à data histórico-simbólica DAQUELE que representou na Terra o CRESTOS SOLAR, isto é, Jesus. Sua vida física - para o mundo - extinguiu-se aos trinta e três anos e meio. A partir daí, viveu apenas em contato com colaboradores íntimos, para concluir a MISSÃO que havia assumido. Este é um resumo de fatos históricos. Mas, a história...


C) 72 - NOMES.

IHVH = IOD + IOD-HE + IOD-HE-VAV + IOD-HE-VAV-HE

IHVH = [10 + (10+5) + (10+5+6) + (10+5+6+5)]

IHVH = 10 + 15 + 21 + 26

IHVH = 72

 

D) VINTE SÉCULOS = 2000 ANOS

Se considerarmos aceitável aproximarmos o tempo de vida pública DAQUELE que foi o Avatar da Era de Pisces - A ROSA DE SHARON - para 34 anos, duas equivalências se apresentam simultaneamente (NÃO ESTOU LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO AS MUDANÇAS DE CALENDÁRIO, NEM O FATO DE JESUS TER, POSSIVELMENTE, NASCIDO EM DATA DIVERSA DA QUE GERALMENTE É ADMITIDA, NEM...):

 

1ª) 1962 + 72 = 2034

2ª) 2000 + 34 = 2034

 

Meu entendimento das palavras de João é tenebroso. Principalmente, porque 1962 + 72 = 2034. Acredito, por diversos motivos, que nossa Humanidade irá progressiva e assustadoramente vivenciar tempos de muita dor, muito sofrimento, muita incompreensão e muita discórdia. As dissensões serão crescentes e corremos o risco de um novo confronto nuclear. Isto é realmente tenebroso. Até 2034 a Humanidade está sob séria ameaça de se auto-exterminar! Digo isto, porque tenho certeza de que já foi pensada uma solução desta natureza para a questão palestina. Depois... As vibrações trevosas que rondam nosso Planeta, resultado de vinte séculos de hipoteticidades sobrevalorizadas, estão, agora, dramaticamente cobrando o preço da ignorância que nós, seres humanos, nos permitimos chafurdar. Locupletações têm seu preço. Por outro lado, têm descido a este plano seres que vieram exatamente para fazer cumprir o que deve ser cumprido, pois um único fio de cabelo não cai sem que todo o Universo esteja consciente, ainda que, substantivamente, inconscientemente. A nossa Terra e a nossa Humanidade permitiram que assim sucedesse. Bush, Hitler, Sharon, Usama e tantos outros jamais poderiam ter sido gerados no útero de Maria (MaRyâ-H). Nem Akhnaton ou Jesus poderiam ter origem física e encarnado usando como veículos as genitoras de certos algozes da raça humana. Isto é evidente demais para ser esmiuçado. Parece uma grande trama secreta concertada, mas a Lei é a Lei. Na verdade é. Não pode ser diferente.

O que está acontecendo no Médio Oriente, exatamente no local em que há vinte séculos o SANGUE foi jorrado e eterificado pelo bem de todos os seres (?), é a prova cabal de que uma Alquimia Cósmica está em curso. Os diversos modelos político-econômico-religiosos, que vêm se arrastando como sanguessugas da fragilidade individual e coletiva, entregaram de bandeja aos EUA o gatilho para ser apertado. Dívidas externas? Dos países do Terceiro e Quarto Mundos? Que dívidas? Petróleo? Fábricas de bombas? Armas químicas e biológicas? FMI? Banco Mundial? GATT? OMC? OTAN? {[<+$*(*)%#@!"'º/>]???} Surreal Teatro de Operações Desérticas do Supremo Absurdo! Quanta tristeza!


 

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  E como os americanos se acham donos exclusivos da lei, da verdade e da ordem e orgasmam ao apertar um gatilho, o repasto está mais doce do que mamão com açúcar. E quem gosta de moleza entrou na deles. Em outro lugar já adverti: Pau que dá em Chico, também dá em Francisco! A Espanha já levou a sua porrada. Quem pagou o pato foi a população civil que, sob determinada ótica, nada tinha a ver com isso. Quem será a bola da vez? A Terra de meu pai que se cuide! O Chefe do Governo da Itália, Silvio Berlusconi, [defendeu(?!) no Parlamento Italiano seu apoio à política de Washington no Iraque. Berlusconi, que acabou de voltar de uma viagem aos Estados Unidos, reiterou que as tropas italianas permanecerão no País 'até derrotar os grupos armados... A Itália considera um dever e uma honra permanecer ao lado daqueles que defendem os princípios das Nações Unidas no Iraque... A Itália permanecerá no Iraque, fiel a seus objetivos de paz... até que sejam derrotados os grupos armados... Os senhores da guerra querem instaurar uma nova ditadura e impedir eleições livres no Iraque... Os que proclamam a paz e não fazem nada, só ajudam a seus inimigos... é um sinal de fraqueza...']. Derrotar os grupos armados? Aqueles que defendem os princípios das Nações Unidas no Iraque? Objetivos de paz? Inimigos? Fraqueza? Senhores da Guerra? Quais? Berlusconi, ao explicar (porque defender, não defendeu nem lhufas nem bulhufas) no Parlamento Italiano seu apoio à política de Washington para o Iraque, antes da falação, deve ter tomado três garrafas de chianti e comido três quilos de spaguettoni para dizer tanta bobagen e ser tão... tão imprudente... Berlusconi misturou explosivamente pane, vino, macarroni, petróleo, ONU, amigos, inimigos, fraqueza, grandeza, paz, guerra, Senhores da Guerra e, provavelmente, mau hálito... para justificar sua imbecilidade e subserviência a um governo que se estabeleceu pela estupidez conjunta de Clinton - aquele que comeu mas disse que não comeu - e Al Gore - que não comeu, ganhou, mas não levou. Vaidade e Presunção só podem parir um monstrengão! Presunção e água benta, cada qual toma a que quer! Só o conhecidíssimo catalão, surrealista e ícone da irreverente arte de vanguarda do século XX Salvador Dali para pintar esse imbróglio. A sua obra, que se adapta às mais diversas mudanças de estilo, desde o renascentista ao impressionista, inclui as telas Alucinação Parcial, Seis Aparições de Lenine Sobre Um Piano - 1931 - (óleo sobre tela), Sombras da Noite Declinante - 1931 - (óleo sobre tela) e O Cavaleiro da Morte - 1936 - (óleo sobre tela). Acho que se Dali (1904-1989) estivesse ainda entre nós, já teria pintado BRUTDSCB O MONSTRO de OITO CABEÇAS.

A norma, para eles - os americanos - é a seguinte: Ou vocês fazem por bem o que nós queremos, ou nós faremos por mal com que vocês façam o que nós mandarmos. E aproveitem que estamos muito calmos. Ponto. Cumpra-se. Que se danem os que não são sobrinhos do Tio Sam. Primeiro Afeganistão; depois Iraque. Os fanáticos do outro lado do mundo adoraram. Estão torcendo para que a merda se espalhe pela Coréia, pelo Irã, pela Líbia, pela Síria e até pela Arábia Saudita. Se o Paquistão resolver encarar a Índia, melhor, porque quanto pior, melhor. Aliás, eles querem mesmo é incendiar o ocidente - terra de acréus. Morrer, pra eles, é um misto de missão e de recompensa. A interpretação equivocada do Santo Corão por determinados grupos ultramontanistas radicais (no caso, o ultramontanismo é relativo à infalibilidade presumida do conteúdo teológico do Livro Santo), não será redirecionada ou reavaliada em uma, duas ou três gerações. Não há, propriamente, uma ideologia política que norteie o grande povo muçulmano. Há, para determinados grupos, sim, um teologismo indiscriminado e abusivo para a solução daquilo que consideram problemas. Não importa se grandes(?!) ou pequenos(?!). O teologismo resolve. Então, morte aos infiéis. Avicena - o príncipe dos médicos - e Averróis, que nasceu em Córdova, estariam horrorizados se vivos estivessem. Maimônides, que também nasceu em Córdova, mas era judeu e talmudista, também se vivo fosse, certamente não aprovaria um único decreto de Sharon. Ainda bem que ele não viu o que aconteceu há alguns anos em Sabra e Shatila. 1982. Eu vi. Não acreditei. Continuo a não acreditar que aquilo pudesse ter sido feito. Mas, fizeram! AONDE IREMOS PARAR?

No Ocidente, a coisa toda gira mais em torno da não-aprovação do modo de vida oriental. No Oriente, a coisa toda gira mais em torno da não-aprovação do modo de vida ocidental. E o ódio mortal que foi transpirado das entranhas daquele povo (o do oriente) oprimido por séculos, não retroagirá ou se dissipará em um passe de mágica. Até porque, retroagir para onde? Terra Arrasada, Assassinato Seletivo e Legítima Defesa Preventiva impedem uma solução pacífica, equânime, justa e fraterna. Loucura!!! Arafat, inclusive, perdeu o controle da situação. Quem dita as regras agora são os ultra-radicais. Por outro lado, alguém duvida que Usama não seja um dos principais mentores do que está acontecendo no Iraque? Jabor é quem tem razão: Usama é um dos maiores estrategistas da História: sozinho, desestabilizou o Planeta, usando as armas do inimigo. Assim como usou os aviões da United para o WTC, usou o Presidente dos USA contra os USA e o mundo. Mesmo que Usama morra, sua obra já está feita. Ele semeou o terrorismo e Bush legitimou-o... Continua Arnaldo Jabor: Usama criou Bush como um lugar-tenente para destruir tudo que o Ocidente criou no século XX... Bush e sua gangue não querem pouco; querem mudar a face do mundo e da América. Eles acham que nós, democratas, somos 'cães infiéis', exatamente como a Al Qaeda. Assim como há Usama, há Bush, na mesma moeda. O que nos choca nisso tudo é a inatualidade do fenômeno. Eles, as gangues do Bush e do Usama, ambas, negam a existência do século XX, da arte, da política, da Filosofia. Negam Marx, Freud, Picasso... Na gangue americana, temos Karl Rove, Perle, Rumsfeld, Wolfwitz - iguais aos fanáticos de Usama. Eles odeiam a Europa (principalmente a França) por ser mais culta, mais sábia, mais chique. Estão ainda no século XIX; são colonialistas, não isolacionistas. Eles não querem se isolar; querem nos isolar. Como Usama. Ainda Jabor: Bush-Usama aparecem justamente na hora em que a América nos prometia uma multilateralidade política sedutora... Bush está arrasando com a esperança da Europa, que, depois de um século de brutalidades, de duas Guerras Mundiais, estava no caminho de uma solução pacífica de convivência. A gangue de Bush sempre odiou os europeus afrescalhados, que falam em coisas profundas, humanistas... A América republicana acha que esse papo de multiculturalismo é coisa de fracos. Como Usama. Há algo de conjunção astral maligna, algo que houve nos anos 30, quando Hitler crescia. (grifo meu). Há períodos históricos em que... surge uma fome de irracionalismo, como que uma libertação animalesca dos freios da civilização. Usama-Bush fizeram o inconsciente bárbaro irromper de novo entre nós. A partir de agora, sob o comando de Bush, só vamos errar. É como se o Bush e sua turma apavorante dissessem: 'Chega de frescuras de Democracia, de bom senso europeu. Vamos botar pra quebrar!' Como Usama... Usama acha que somos o mal. Ele é o bem. O Bush pensa igual, do outro lado. A América tem uma ideologia. Eles têm a teologia... Espanta-me muito que Clinton tenha quase sido 'impeached' porque papou uma mulherzinha e, no entanto, Bush suja o nome da América, mata centenas de jovens no deserto do absurdo, arrasa o Ocidente e ninguém fala em 'impeachment', o que prova o horror moralista da direita cristã e a caretice da América. Continua Arnaldo Jabor a refletir e eu estou concordando com tudo: Usama traçou um destino para o século XXI, que Bush executa. O terrível é que tenha sido tão fácil, tão imaginoso. Ele (Usama ou Bush?) acabou com nossa idéia de 'finalidade'. O projeto do Ocidente agora é localizar bueiros com bombas e cartas venenosas. Achávamos também que Usama amava a morte e o Bush amava a vida. Engano. Bush também ama a morte. A única diferença é que Usama é inteligente e Bush é burro. Ó Jabor: será que ele é burro mesmo? Ou será inculto, ignorante, presunçoso? Você já viu como ele anda? Parece um matuto do interiorrrr... É. Acho que ele é burro mesmo. Mas, mais do que burro, é perigoso.

Ele (Usama) e seu grupo de inspirados pelo espírito divino de Allah não darão jamais trégua ao Ocidente. São os libertadores do povo de Maomé. O que tenho certeza é que, segundo a tradição islâmica, o inspirador de Maomé - o Arcanjo Gabriel - não está aprovando nada do que está acontecendo. Não sei se um arrego incondicional dos EUA solucionaria o impasse. Acho que não. A tchurma do Sharon não vai topar nunca ceder terreno para infiéis. Infiéis? Afinal, quem ou quais são os infiéis? Como a intelligentzia que comanda presentemente o staff do atual presidente americano está inconscientemente magnetizada a serviço daquilo que é conhecido também pelo nome de O##### E##### (e aí estão cooptados Tony Blair, Macarroni e outros mais), o resultado é o que se vê: a cada dia o horror alimenta o terror, que, por sua vez, retroalimenta o horror. Usama e seu grupo (que está espalhado pelo Planeta) têm também suas vinculações com as forças já citadas. Caro leitor: Você, a esta altura, já deve ter reparado que eu, de propósito, estou misturando o problema palestino com o problema iraquiano. Estou misturando porque, no fundo, são iguais ou equivalentes. Aliás, todas essas desarmonias têm a mesma origem.

O negócio da hora é bombardear e esquartejar, matar e estuprar, infernar e fazer sofrer, arrasar e demolir, torturar e explodir, degolar e proclamar. Todos fazem parte do mesmo esquema horripilante, esquema absolutamente análogo, se não for igual, ao que destruiu paulatinamente a Atlântida. Uma forma antiga e rediviva de magia das trevas assenhoreou-se da situação. Não vai largar esse osso assim com facilidade. O sangue dos trucidados é o seu alimento preferencial. Voltando um pouco no tempo, fico a pensar em quantas masturbações Torquemada se aplicou por cada desgraçado que mandou torturar e queimar. Mais atrás, Nero, Calígula e seus bacanais... Modernamente, Trumann, Mao, Stalin, Strossner, Hitler, Bormann, Göering, Mengele, Mussolini, Videla, Pinochet, Salazar, Médice, Hess, Goebels, Somoza, Dadá, Slobodan Milosevic e sei lá mais quem. Mas que falta muita gente nessa lista, falta. Muita gente mesmo...

Bem, o Grande Papa Bom, João XXIII, fez muitas profecias. Era, como já disse, um Iniciado. O CAVALEIRO E A ROSA. Turquia. AZOTh. TETRAGRAMMATON. 999. DUPLA CRUZ VERMELHA E NEGRA. Pier Carpi, com conhecimento de causa, afirma no Livro que serviu de suporte principal para a elaboração deste livro digital: Os verdadeiros Iniciados têm no rosto uma Luz Particular que os diferencia dos demais seres humanos. Por outro lado, os mistificadores têm sempre no rosto uma sombra, mesmo quando expostos... à luz do Sol. Quanto às profecias de Johannes, eu só transcrevi integralmente uma. E dessa uma, acho que ordenada-desordenadamente expus algumas idéias para reflexão para poder fazer um chamamento. Eu o farei, com humildade. Antes, porém, rapidamente, vou colar fragmentos de outras profecias. Também, aparentemente, de forma ordenada-desordenada. Cada um terá sua interpretação. Ou nenhuma. Quem sabe, são apócrifas! Não creio. Mesmo. Realizaram-se algumas? Todas? Quais se realizaram? Que são realmente profecias? Cumprem-se todas? Cumprem-se? Poderá o ser humano modificar aquilo que os ignorantes chamam de destino? Determinismo? Fortuitidade? Quais são os deveres dos seres singulares? Quais os deveres dos religiosos? Quais os deveres dos místicos? Quais os deveres dos Iniciados? Quais os deveres dos homens públicos? E Deus, por que permite todo esse mal? Por que? Como? Quando? De onde? Para onde? Doenças? Miséria? Pobreza? Guerras? Dor? Excisões? Penas capitais? Assassinatos? Degolas? Estupros? Roubos? Crimes? Conspirações? Sistemas? Terror? Horror? Eu? Nós? Todos? O Planeta? O Sistema Solar? As Galáxias? O Universo? deus? Deus? D'US? D'US homo est. E Johannes, com uma voz que não era a sua, falou... até o encerramento dos trabalhos, durante as três sessões...

 

Eu não posso saber o que as pessoas pensam a respeito de profecias. Acredito que o importante é não nos preocuparmos com elas, pois, fazer ou deixar de fazer alguma coisa POR MEDO ou COM BASE EM PROFECIAS é agir sustentado por imperativos hipotéticos. Isso eu não posso aceitar. A vida só tem sentido e MERECE SER VIVIDA se sustentada em IMPERATIVOS CATEGÓRICOS. Devem valer para todos. Nisso, estou com Kant e com todos aqueles que se esforçam para assim viver e assim existir. Disso não abro mão. Há, contudo, tempo de plantio e tempo de colheita! E os alertas... servem para nos prepararmos. Há fatos e eventos que devem ser cumpridos, pois os entes ainda, em sua esmagadora maioria, são deuses mortais. Então, não custa nada dar uma espiadela nas três últimas profecias de Malaquias, bispo irlandês do século XII. Com isto, não estou sugerindo absolutamente nada. Cada qual que chegue às suas próprias conclusões. É assim que deve ser.

110 - DE LABORE SOLIS (Do Trabalho do Sol)
João Paulo II: 1978-presente

Nasceu no dia de um eclipse total. Um eclipse, na poesia latina medieval, é conhecido por trabalho ou labuta do Sol.

 

O próximo Papa será:
111 - GLORIA OLIVÆ (Da Glória da Oliveira)

 

ÚLTIMO PAPA:
PETRUS ROMANUS (Pedro de Roma)

 

A profecia de São Malaquias termina com este texto de 25 palavras latinas, que contém dos mais assustadores avisos escritos por um profeta católico.

 

'IN PERSECUTIONE EXTREMA SACRÆ ROMANA ECCLESIÆ SEDEBIT PETRUS ROMANUS QUI PASCET OVES IN MULTIS TRIBULTIONIBUS; QUIBUS TRANSACTIS, CIVITAS PEPTICOLLI DIRVETUR; ET JUDEX TREMENDUS JUDICABIT POPULUM.'

 

'Durante a última perseguição da Santa Igreja Romana, reinará Pedro de Roma que apascentará as ovelhas entre grandes tribulações e, depois de estas terem passado, a Cidade das Sete Colinas será completamente destruída, e o terrível Juiz julgará o povo.'

 


 

 

 

O QUE NÃO FAZER E O QUE FAZER?

 

 

O que não podemos fazer? Independentemente de as profecias terem ou não alguma validade ou fazerem algum sentido - isso é o que menos importa, e não importa nada mesmo - não podemos fazer o que fez o aluno respondendo:

- WHAT CHAIR?

- Que guerra? Isto é muito mais do que simples covardia ou alienação. Não podemos ser ou ficar indiferentes aos problemas políticos e sociais. Sejam aqui, alhures ou algures. Nenhures? Meus Irmãos: O Planeta está pegando fogo. Não podemos nos deixar devorar por nenhuma sensação de absurdo existencial. Não podemos nos entregar a nenhum tipo de coerção. Não podemos, enfim, perder o rumo quanto às nossas convicções pessoais. Não podemos fingir que nada está acontecendo. Que a guerra é deles, não nossa. Não podemos pensar assim. Que nunca se entenderam, portanto não vão se entender nunca. Não podemos pensar assim. Ou pensar: que podemos fazer contra o País mais poderoso do mundo? Ou, ainda, desistir de prestarmos algum auxílio, porque ninguém consegue segurar o Sharon (que vai acabar explodindo de tão gordo que está), o Bush (o Bush é o cc do c do b), o Tony (que anda amarelando feio), o macarroni Berlusconi (esse otário ainda vai desgraçar a Itália), o Rumsfeld (sorriso de gesso), a Condoleezza (de onde saiu essa alisada senhora?), o Usama (sumiu e ninguém sabe onde está), o Colin (bonzinho, mas não larga o osso), os que eu esqueci agora, os que não conhemos, mas existem, os talibans, os chiitas, os sunitas, os 'terroritas'... O que também não podemos fazer é apenas nos horrorizarmos quando tomamos conhecimento de suplícios como o que aconteceu com Nicholas Berg. Somos todos responsáveis... Todos nós. Particularmente no Brasil, que por estar distante do fuzuê, não nos é permitida a ingênua posição de danem-se eles e que morram todos. Não podemos pensar assim. Isto é o máximo da irresponsabilidade e o mínimo de solidariedade. Aliás, isto é irresponsabilidade total e solidariedade zero. Famílias estão sendo dizimadas, seres humanos martirizados, irmãos estão do outro lado do mundo gritando por socorro. O pensamento de José Saramago neste caso NÃO é válido: Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo. O tema é exatamente outro: Já perdemos muito tempo; agora precisamos todos correr contra o tempo (que metafisicamente não existe). Para a maioria das pessoas, como o tempo é grátis, prevalecem indolência, morosidade.. Isto sem levar em conta outros fatores mais graves e mais comprometedores. Não podemos agir assim. Há não muito tempo queimaram o Tim em um microondas no alto de um morro carioca... Na realidade, no Rio de Janeiro, mais pessoas são mortas por ano do que no próprio Oriente Médio no mesmo espaço de tempo! Isso não é um pavor? Façamos algo. Não podemos ser lentos. Tenhamos pressa. Quantos Nicholas Berg precisarão ser degolados para que nossos corações se enterneçam e nossas obrigatórias responsabilidades pessoal e coletiva ajam? Ou será que, por outro lado, teremos que assistir a outra Sabra e a outra Shatila? Quantos Carandirus precisaremos ver? Quantas Candelárias precisaremos conhecer? Avestruz? Ou será que acreditamos que se evita uma ameaça real, um estorvo, deixando de enfrentá-los?

Antes de colocar no site este livro digital, mandei um e-mail para o meu Irmão Vicente Velado, Abade da Ordo Svmmvm Bonvm para o Terceiro Mundo, cujo teor é o que segue:

Prezado e Digno Irmão Vicente Velado,
PAZ, LUZ E AMOR.

Eu não tinha visto a versão definitiva. Ficou um primor.
A semana que vem (amanhã) vou colocar no ar um Trabalho-bomba. Se você desejar - o que me honraria sobremaneira - posso primeiro submetê-lo à sua crítica literária. O título é: 'A Profecia do Papa João XXIII e o Suplício de Nicholas Berg'. Nesse texto, pretendo inserir o vídeo completo da degola de Nick que a www.ogrish.com acabou por apocopar a parte final, que é simplesmente medonha. Eu o assisti por dever. Só não vomitei porque me controlei muito. Jamais o assistirei novamente. Fiquei péssimo por algumas horas. Acho
que o mundo precisa tomar consciência dos horrores e dos terrores que estão acontecendo. Entretanto, como meu Superior Hierárquico, me curvarei à sua decisão.

Nos Eternos Laços da R+C, da OS+B e da OM.

Rodolfo.

 

Recebi a seguinte resposta, que devidamente autorizado, transcrevo:

 

Assunto: Nicholas Berg
Data: Sun, 23 May 2004 09:34:42 - 0700
Anexos:

Digno Frater,

Saudações nas 3 Pontas do Triângulo.

Sobre Nicholas Berg, este será um trabalho muito importante e eu mesmo pretendia tocar nesse tema, porém, agora vou deixá-lo com você. De início, digno Frater, gostaria de lembrar-lhe o que a AMORC expõe em uma das Monografias complementares do Plano 5 (aquelas amarelas) sobre o mito do Deus-Redentor sobreposto à figura mítica, histórica e talvez totalmente fictícia de Jesus. Lembre-se de que quando o Cristianismo foi declarado religião oficial do Estado (Romano) por decreto do César, deixou de ser a tradicional e séria Escola de Mistérios que teve origem nos ensinamentos do (suposto) Mestre Jesus, passando a ser, essencialmente, instrumento de manipulação política. Profecias bíblicas à parte, estamos vendo no aqui e no agora a reedição do mito de Caim e Abel (judeus e árabes em confronto, ou seja: Jeová x Allah). Mas sobre Nicholas Berg, sim, devemos falar. Foi escolhido aleatoriamente como 'aquele que deve morrer' e seu carrasco proferiu as palavras Allah Akhbar (Deus é Grande) ao decapitá-lo. Mas não esqueçamos de que o exército de Ariel Sharon sepultou vivas milhares de famílias muçulmanas na Palestina, passando sobre suas casas durante a noite com dezenas de tanques equipados com lâminas de bulldozer porque 'Jeová é Grande e escolheu o povo judeu para dominar a Terra'.

Enquanto a Humanidade prosseguir no culto a uma figura de Deus criada mentalmente pelo homem e dotada de atributos humanos, não haverá esperanças de paz duradoura. Somente quando o homem puder conceber essa figura como algo totalmente abstrato, acima das polaridades, tendo-a mais como ponto focal de harmonização do que como objeto de adoração, é que poderá haver alguma perspectiva de melhores dias neste Planeta. É por isso que a Ordo Svmmvm Bonvm propõe que Deus seja entendido como o Santo Espírito da Luz Eterna - que é ao mesmo tempo sua fonte e seu atributo - e não como um Pai que tutela, dita regras, estabelece prêmios e punições e... pode (como é) ser manipulado pelo homem, inclusive e principalmente, para os mais vis propósitos acalentadores do egoísmo desmedido. (negritos meus). O homem não se conforma com a idéia da extinção decorrente da morte e produz, com sua sofreguidão de vida eterna, um paraíso como aquele para o qual vão tanto os homens-bomba do fanatismo islâmico e os kamaikazes do Japão ligado ao Reich, como os 'bonzinhos perante Deus' das igrejas Cristãs. Ora, Frater, A VIDA INDIVIDUAL É UMA ILUSÃO (maiúsculas e negrito meus), pois o que existe é o Ser Total produzindo incontáveis e múltiplas manifestações continuamente, uma delas eu, outra você, outra Nicholas Berg, outra Osama bin Laden, outra George W. Bush, outra o Papa e assim por diante. O que sobra após a destruição do corpo físico é o registro akásico das experiências que O SER (negrito meu) teve através de suas transitórias manifestações individuais. Porém, não deixa de ser possível uma continuidade programada da vida individual, através da reencarnação, do que tenho provas realmente concretas. Já constatei que isso pode ocorrer com outros animais além do homem e tenho atualmente, vivendo comigo, o gato Ralphito, que é uma reencarnação (comprovada) do cão Ralph, sobre o qual escrevi um e-Book. (Tive a oportunidade de ler este sensacional livro digital).

Vivemos em um mundo cada vez mais complicado, pelas injunções da sociedade de consumo, que tudo transforma em objeto (inclusive Deus) e pelos avanços da tecnologia que ampliam a interação entre os seres, mas a tornam cada vez mais fria e sem amor. É dentro disso que nasce o raciocínio coerente - porém absolutamente cruel do terrorista. Se você ponderar com um membro da Al-Qaeda que OS FINS NÃO PODEM JUSTIFICAR OS MEIOS (maiúsculas e negrito meus), ele lhe dirá que 'não é isso'. E explicará, mais ou menos assim: 'O Grande Satã está conduzindo uma guerra totalmente comercial, na qual deverão morrer muitos milhares de seres humanos. Então, nós matamos duzentos inocentes em algum lugar estratégico e, em conseqüência, um dos parceiros da coalizão agressora se retira, e com isso centenas de milhares de vidas serão poupadas'. Ao falar de Nicholas Berg, Frater, não se esqueça de que tudo aconteceu dentro desse contexto: 'Deus é Grande'. Tenha em mente, também, de que Moqtada Al-Sadr é um místico que defende os valores sagrados de sua cultura e de seu País dos invasores, que não passam de ladrões de petróleo agindo com a omissão e a cumplicidade de uma comunidade internacional cada vez mais amedrontada ante o Império Americano. Portanto, ele não é um rebelde, mas, sim, um herói nacionalista. Muitos não sabem, mas os Xiitas são bem mais liberais do que os Sunitas - justamente porque não acatam o Hadit. Além do mais, no Xiismo existe a figura espiritual do Imã Oculto - que é no que Moqtada Al-Sadr se transformará, se for assassinado pelos Americanos e seus cúmplices nesse latrocínio a um País inteiro. Portanto, na realidade, ele não pode ser totalmente morto - como Nicolas Berg também não pode, apesar de estar em outro contexto totalmente diverso, que é o daquele 'que deve morrer'. (negrito meu).

Finalmente, Frater, gostaria de colocar minha visão de que o criacionismo, embora lírico, encerra em si os germes da guerra, enquanto o evolucionismo, apesar de aparentemente destituído de emoção, é muito mais honesto. Existe algo Supremo? Sim, existe, mas, certamente, não é isso que o homem vem apresentando através da religiões, como Jeová, Allah etc. O Ocidente inteiro precisa depurar os mitos semitas sob os quais vive, para extrair somente o summum bonum, livrando-se dos dejetos que o atormentam há séculos. Esta é uma OPERAÇÃO ALQUÍMICA (maiúsculas e negrito meus) necessária à GRANDE OBRA (maiúsculas e negrito meus). Antes ser uma evolução de um antropóide do que ser uma criação de algo rancoroso, vingativo, ditatorial e extremamente impositivo.

Caso queira, digno Frater, desde já o autorizo a transcrever o texto acima em seu trabalho sobre Nicholas Berg, que tinha 26 anos e uma vida inteira pela frente. De repente aparece alguém que diz 'Deus é Grande' e corta a vida física dele com um facão, documentando tudo em um vídeo.

Este, Frater, é o mundo que devemos mudar, com a Força da ORDEM ROSACRUZ VERDADEIRA, ETERNA E INVISÍVEL (maiúsculas minhas).

Seu irmão,

+FV

+Frater Velado,
Abbot ORDO SVMMVM BONVM
http://svmmvmbonvm.org

 

Não posso concluir estas reflexões sem afirmar que concordo inteiramente com o conteúdo do e-mail supra-reproduzido e citar alguns excertos da Pacem in Terris, de João XXIII (Johannes). Por favor, tenham paciência comigo. (Aqueles que desejarem ler a Encíclica na íntegra, podem consultar posteriormente o Anexo I). Escreveu o Papa Bom: Por conseguinte, os que reivindicam os próprios direitos, mas se esquecem por completo de seus deveres ou lhes dão menor atenção, assemelham-se a quem constrói um edifício com uma das mãos e, com a outra, o destrói... Uma convivência baseada unicamente em relações de força nada tem de humano... Acontecerá dentro em breve que já não existirão povos dominadores e povos dominados... Hoje, comunidade nenhuma de nenhuma etnia quer estar sujeita ao domínio de outrem... Pois, quando em uma pessoa surge a consciência dos próprios direitos, nela nascerá forçosamente a consciência do dever: no titular de direitos, o dever de reclamar esses direitos, como expressão de sua dignidade, nos demais, o dever de reconhecer e respeitar tais direitos... A autoridade que se baseasse exclusiva ou principalmente na ameaça ou no temor de penas ou na promessa e na solicitação de recompensa, não moveria efetivamente os seres humanos à realização do bem comum... Se, por acaso, o conseguisse, isso repugnaria à dignidade de seres dotados de razão e de liberdade... A função primordial de qualquer poder público é defender os direitos invioláveis da pessoa e tornar mais viável o cumprimento dos seus deveres... O poder executivo aplique as leis com justiça, tratando de conhecê-las bem e de examinar diligentemente as situações concretas... A mesma lei natural que rege a vida individual deve também reger as relações entre os Estados... Por último, é preciso ter em conta que, também em assunto de relações internacionais, a autoridade deve ser exercida para promover o bem comum, pois esta é a sua própria razão de ser... Atesta a experiência que subsistem muitas vezes entre os homens consideráveis diferenças de saber, de virtude, de capacidade inventiva e de recursos materiais. Mas, estas diferenças jamais justificam o propósito de impor a própria superioridade a outrem. Pelo contrário, constituem fonte de maior responsabilidade que a todos incumbe de contribuir à elevação comum... De modo análogo, podem as nações diferenciar-se por cultura, civilização e desenvolvimento econômico. Isto, porém, não poderá jamais justificar a tendência a impor injustamente a própria superioridade às demais... o que mais costuma melindrar um povo, e com toda a razão, é o que de qualquer maneira toca à sua própria dignidade... 'Esquecida a justiça, a que se reduzem os reinos senão a grandes latrocínios?' (citação: Santo Agostinho)... É-nos igualmente doloroso constatar como em estados economicamente mais desenvolvidos se fabricaram e ainda se fabricam gigantescos armamentos. Gastam-se nisso somas enormes de recursos materiais e energias espirituais... Já que as armas existem e, se parece difícil que haja pessoas capazes de assumir a responsabilidade das mortes e incomensuráveis destruições que a guerra provocaria, não é impossível que um fato imprevisível e incontrolável possa inesperadamente atear esse incêndio. Além disso, ainda que o imenso poder dos armamentos militares afaste hoje os homens da guerra, entretanto, a não cessarem as experiências levadas a cabo com uns militares, podem elas pôr em grave perigo boa parte da vida sobre a terra... em vez do critério de equilíbrio em armamentos que hoje mantém a paz, se abrace o princípio segundo o qual a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio, mas sim e exclusivamente na confiança mútua... De fato, como todos sabem, ou pelo menos deviam saber, as mútuas relações internacionais, do mesmo modo que as relações entre os indivíduos, devem-se disciplinar não pelo recurso à força das armas, mas sim pela norma da reta razão, isto é, na base da verdade, da justiça e de uma ativa solidariedade... nenhuma nação tem o direito de exercer qualquer opressão injusta sobre outras, nem de interferir indevidamente nos seus negócios... As nações economicamente desenvolvidas [ ] devem[ ] respeitar ao máximo as características de cada povo e as suas ancestrais tradições sociais, abstendo-se cuidadosamente de qualquer pretensão de domínio... não é mais possível pensar que nesta nossa era atômica a guerra seja um meio apto para ressarcir direitos violados... Inflame Cristo a vontade de todos os seres humanos para abaterem barreiras que dividem, para corroborarem os vínculos da caridade mútua, para compreenderem os outros, para perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias. Sob a inspiração da sua graça, tornem-se todos os povos irmãos e floresça neles e reine para sempre essa tão suspirada paz...

 

 

 

 

 

A ORAÇÃO


Antes de reproduzir in totum um vídeo medonho que está disponibilizado em www.ogrish.com, e considerando que os possíveis leitores deste artigo não sejam todos Iniciados, vou sugerir um exercício poderoso que todos podem fazer diariamente para auxiliar a diminuir o caldo fermentativo putrefeito que está lambuzando a todos nós, mesmo àqueles que distraída e candidamente acreditam que estão imunes aos horrores que estão ocorrendo na Palestina, no Iraque e em outros pontos localizados do Planeta. Não se esqueçam, meus amigos e irmãos: anteontem, WTC; ontem, Madri. Hoje? Amanhã? O inferno televisionado pode estar longe. Mas, também mora ao lado e, principalmente, está dentro de cada um de nós. Elevemos nossos corações! SURSUM CORDA!

Então, em um momento qualquer do dia que seja possível conseguir 5 ou 10 minutos de isolamento, todos nós poderemos nos sentar confortavelmente (preferentemente de frente para o leste geográfico) e visualizar as zonas conflagradas do Planeta - em particular a Palestina e o Iraque - transferindo e transmitindo de nosso SER pensamentos de COMPREENSÃO, PAZ, AMOR, CONCÓRDIA, TOLERÂNCIA, FRATERNIDADE, JUSTIÇA. Podemos, se desejarmos, nos colocar em disponibilidade interior como instrumentos do Deus de Nossa Compreensão como SOLDADOS DA PAZ. Esta predisponência operará, então, principalmente, quando estivermos dormindo. Ao encerrar o período de oração ou de meditação, poderemos pronunciar ou entoar, se soubermos ou se intuitivamente tivermos aprendido, o poderoso mantra:

 

AUM MANI PADME HUM

AUM MANI PADME HUM

AUM MANI PADME HUM

 

Este conjunto de sons vocálicos evoca nosso incontroverso DEUS INTERNO. A reunião dos mantras acima opera (em planos que, geralmente, não temos acesso) o comando mental que determinarmos. Uma sugestão para trabalhar é:

 

DEUS MEU QUE ESTÁS EM MIM:

EU ME ENTREGO A TI

PARA SERVIR DA FORMA QUE DEVA SER.

NÃO SE FAÇA A MINHA VONTADE,

MAS A TUA.

COMPREENSÃO AO MUNDO.

PAZ AO MUNDO.

AMOR AO MUNDO.

CONCÓRDIA AO MUNDO.

TOLERÂNCIA AO MUNDO.

FRATERNIDADE AO MUNDO.

JUSTIÇA AO MUNDO.

 

AUM MANI PADME HUM

AUM MANI PADME HUM

AUM MANI PADME HUM

 

Está Determinado.

AMeN.

 

Se você preferir, pode fazer a Oração Rosacruz da Paz Universal. Basta ir ao site abaixo e acompanhar a orientação.

http://svmmvmbonvm.org/historc/pax.htm

 

A Oração Rosacruz da Paz Universal pode ser realizada com melhor proveito e efetividade se efetuada no Sanctum Virtual Universal da Ordem Rosacruz, que foi estabelecido sob os auspícios da G '.' W '.' B '.' , da OS+B e da OM. Roda em:

http://maat-order.org/sanctum

 

 

 

 

MERGULHANDO NO INFERNO

 

Para concluir este lamento, vou reproduzir o vídeo que roda em www.ogrish.com que tem, preliminarmente, a seguinte advertência: Please read the Terms and Conditions before entering this page and choose one of the links below :
 

YES, I Agree (enter Ogrish.com) to the Terms and Conditions

NO, I Disagree (leave Ogrish.com) to the Terms and Conditions

 

Segue a chamada: Yes, we have the American beheading video showing civilian Nick Berg beheaded by Abu Musab al-Zarqawi and other extremist islamic militants linked to Al-Qaeda (Abu Musab al-Zarqawi is the chief suspect) This execution clip is extremely violent and shows Nicholas Berg, the murdered contractor, being killed in Iraq by cold-blooded terrorists. Be forewarned: the scene is graphic, bloody, and disturbing as he is executed.

 

NICK BERG

 

Se você, Querido Irmão, quiser continuar, eu advirto: foi a cena mais chocante que vi em toda a minha vida. É difícil acreditar que seres humanos possam ter chegado a este nível de crueldade. Eu fiquei muito mal depois de assistir ao vídeo. Mesmo compreendendo integralmente (e concordando) com o teor do e-mail do Irmão Velado que reproduzi acima. Para ser rigorosamente sincero, fiquei péssimo. Mas, achei que deveria assisti-lo para não ficar alienado do que está acontecendo. Corrigindo: para não ficar desinformado. E, também, para melhor conhecer e compreender os fatores sociais, políticos e culturais que levam grupos de pessoas a agirem de maneira tão aterrorizante. E, por último, para não ficar distanciado das realidades que nos cercam, ainda que aparentemente tão longínquas. O que se viu foi que It was the same fucking chair! Com estas palavras não estou, de forma nenhuma e sob nenhuma alegação, estimulando ou cobrando uma atitude. Isto seria uma iniqüidade. O vídeo é extremamente violento, desumano e aterrador. Se você tem algum tipo de doença grave ou achar que não vai suportar, é melhor não assisti-lo. Se resolver assisti-lo e tiver vontade de vomitar, não se envergonhe: vomite tudo que precisar. Se tiver vontade de chorar, não se envergonhe: chore o quanto desejar. As lágrimas lavarão seu corpo e purificarão sua personalidade-alma. Lembre-se do Papa João XXIII. Ele CHOROU. Eu choro à-toa. Se, realmente a opção for por assistir ao vídeo, ao final, rogo, em nome da nossa Humanidade, que seja feita uma prece pelo entendimento entre todos os seres. Pelos que matam e pelos que morrem. MAAT HOTEP.

Para assistir ao vídeo integral, clique aqui: Clique aqui

Se achar conveniente ir pessoalmente ao INFERNO e confirmar a insanidade mundial visite o site:

www.ogrish.com

 

AONDE IREMOS PARAR?

 

HAVEREMOS TODOS, SEM EXCEÇÃO, DE APRENDER O QUE ESTÁ ENSINADO EM UM DOS VERSOS DE OURO DE PITÁGORAS:

 

A SUBSTÂNCIA DO UNIVERSO É A MESMA EM TODAS AS COISAS.

 

 

 

 

ATUALIZAÇÃO OBRIGATÓRIA

MAS FEITA COM AS MÃOS

DO MEU CORAÇÃO

 

1º Momento: DEPOIMENTO

 

Com os olhos 'razos' (escrevi com z de zênite porque estão transbordando) de lágrimas e muito emocionado estou introduzindo esta atualização porque acabei de entrar no MEMORIAL NICK BERG. Vou furtar um pedacinho do que está lá (a OS+B, certamente não ralhará comigo) e informar o endereço para que aqueles que desejarem possam visitá-lo e se emocionarem como eu. Faz bem. Oh! Como faz bem lembrar do que foi bom, do que já é melhor e do que será ótimo! Primeiro, vou reproduzir um parágrafo que não me pertence, mas que quero - estou fazendo isso agora - assiná-lo também: Nick, nós não esqueceremos você. Quando a Humanidade se libertar do fanatismo e da guerra, somente a sua foto de filósofo e amigo permanecerá na mente dos que viram aquele vídeo cruel e monstruoso.

 

NÃO ESQUECEREMOS DE TODOS OS SUPLICIADOS. JAMAIS.

 

2º Momento: O FURTO

 

Remember Nick never wore a coat at band practice even though it was cold and windy? As long as he could put his hands in his pockets he was ok. He said that it built character. Actually, he said that about a lot of things.

 

* * * * * * *         * * * * * * *        * * * * * * *

 

We thank you from the bottom of our heart.

 

MAN IS MORE THAN FIRE TAMED...

 

3º Momento: O LINK DO MEMORIAL

 

http://www.nickberg.org

 

E eu não paro de chorar... apesar de compreender o porquê.

 

Por último, dê um passeio e faça uma visita em:

 

http://macarlo.com/novaera/galleryvel634.htm

http://macarlo.com/novaera/galleryvel631.htm

http://macarlo.com/novaera/galleryvel633.htm

http://macarlo.com/novaera/galleryvel632.htm

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

CARPI, Pier. As profecias do Papa João XXIII (Le profezie di Papa Giovanni). 2ª ed. Tradução de Rolando Roque da Siva. Rio de Janeiro: DIFEL, 1977.

 

DADOS ACADÊMICOS SOBRE O AUTOR

 

Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.

 

 

WEBSITES CONSULTADOS

 

http://www.vatican.va/holy_father/
john_xxiii/encyclicals/index_po.htm

http://www.acervo.com.br/
clipping_b5.htm

http://www.nossahistoria.com.br/
religiao3/11.htm

http://www.presbiteros.com.br

http://geocities.yahoo.com.br/
realidadehoje/joao23.html

http://www.sobiografias.hpg.ig.com.br/
Joao23pa.html

http://www.religiaocatolica.com.br/
conteudo/papa_beatificacao.asp

http://www.comunidadeshalom.org.br/
formacao/santos/joao.html

http://www.teofilos.com.br/
cgi-bin/documentos.cgi?fonte=5

http://www.arquidiocese.org.br/
paginas/comunicacao2003p.htm

http://www.joaosocial.com.br/
paceminterris.htm

http://www.geocities.com/
monicabo/atualidade185.htm

 

 

 

 

 

 

ANEXO I

Pacem in Terris (11 de abril de 1963)

A PAZ DE TODOS OS POVOS
NA BASE DA VERDADE,
JUSTIÇA, CARIDADE E LIBERDADE

 

 

Aos veneráveis irmãos patriarcas, primazes, arcebispos, bispos e outros ordinários do lugar em paz e em comunhão com a Sé Apostólica, ao clero e féis de todo o orbe, bem como a todas as pessoas de boa vontade.

 

 

INTRODUÇÃO

Ordem no universo

1. A paz na Terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus.

2. O progresso da ciência e as invenções da técnica evidenciam que reina uma ordem maravilhosa nos seres vivos e nas forças da Natureza. Testemunham, outrossim, a dignidade do homem, capaz de desvendar essa ordem e de produzir os meios adequados para dominar essas forças, canalizando-as em seu proveito.

3. Mas, o avanço da ciência e os inventos da técnica demonstram, antes de tudo, a infinita grandeza de Deus, criador do Universo e do homem. Foi ele quem tirou do nada o Universo, infundindo-lhe os tesouros de sua sabedoria e de sua bondade. Por isso, o Salmista enaltece a Deus com estas palavras: 'Senhor, Senhor, quão admirável é o teu Nome em toda a Terra" (Sl. 8, 1). 'Quão numerosas são as tuas obras, Senhor! Fizeste com sabedoria todas as coisas' (Sl. 103, 24). Foi igualmente Deus quem criou o homem à Sua imagem e semelhança (Cf. Gn. 1, 26), dotado de inteligência e de liberdade, e o constituiu senhor do Universo, como exclama ainda o Salmista: 'Tu o fizeste pouco menos do que um deus, coroando-o de glória e beleza. Para que domine as obras de tuas mãos sob seus pés tudo colocaste' (Sl. 8, 5-6).

Ordem nos seres humanos

4. Contrasta clamorosamente com essa perfeita ordem universal a desordem que reina entre indivíduos e povos, como se as suas mútuas relações não pudessem ser reguladas senão pela força.

5. No entanto, imprimiu o Criador do Universo no íntimo do ser humano uma ordem, que a consciência deste manifesta e obriga peremptoriamente a observar: 'mostram a obra da Lei gravada em seus corações, dando disto testemunho a sua consciência e seus pensamentos' (Rm. 2, 15). E, como poderia ser de outro modo? Pois, toda obra de Deus é um reflexo de Sua infinita sabedoria, reflexo tanto mais luminoso, quanto mais essa obra participa da perfeição do ser (Cf. Sl. 18, 8-11).

6. Uma concepção tão freqüente quanto errônea leva muitos a julgar que as relações de convivência entre os indivíduos e sua respectiva comunidade política possam reger-se pelas mesmas leis que as forças e os elementos irracionais do Universo. Mas, a verdade é que, sendo leis de gênero diferente, devem-se buscar apenas onde as inscreveu o Criador de todas as coisas, a saber, na natureza humana.

7. São de fato essas leis que indicam claramente como regular, na convivência humana, as relações das pessoas entre si, as dos cidadãos com as respectivas autoridades públicas, as relações entre os diversos Estados, bem como as dos indivíduos e das comunidades políticas com a comunidade mundial, cuja criação é hoje urgentemente postulada pelo bem comum universal.

 

PARTE I

ORDEM ENTRE OS SERES HUMANOS

Todo ser humano é pessoa, sujeito de direitos e de deveres

8. E, antes de tudo, é necessário tratar da ordem que deve vigorar entre os homens.

9. Em uma convivência humana bem constituída e efetiva, é fundamental ser observado o princípio de que cada ser humano é pessoa; isto é, natureza dotada de inteligência e de vontade livre. Por essa razão, possui em si mesmo direitos e deveres, que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte, de direitos e de deveres universais, invioláveis, e inalienáveis.

10. E se contemplarmos a dignidade da pessoa humana à luz das verdades reveladas, não poderemos deixar de tê-la em estima incomparavelmente maior. Trata-se, com efeito, de pessoas remidas pelo Sangue de Cristo, as quais com a Graça se tornaram filhas e amigas de Deus, herdeiras da Glória Eterna.

DIREITOS

Direito à existência e a um digno padrão de vida

11. E, ao nos dispormos a tratar dos direitos do homem, advertimos, de início, que o ser humano tem direito à existência, à integridade física, aos recursos correspondentes a um digno padrão de vida: tais são especialmente o alimento, o vestuário, a moradia, o repouso, a assistência sanitária e os serviços sociais indispensáveis. Segue-se daí, que a pessoa tem também o direito de ser amparada em caso de doença, de invalidez, de viuvez, de velhice, de desemprego forçado, e em qualquer outro caso de privação dos meios de sustento por circunstâncias independentes de sua vontade.

Direitos que se referem aos valores morais e culturais

12. Todo o ser humano tem direito natural ao respeito de sua dignidade e à boa fama; direito à liberdade na pesquisa da verdade e, dentro dos limites da ordem moral e do bem comum, à liberdade na manifestação e na difusão do pensamento, bem como no cultivo da arte. Tem direito também à informação verídica sobre os acontecimentos públicos. (grifo meu).

13. Deriva também da natureza humana o direito de participar dos bens da cultura e, portanto, o direito a uma instrução de base e a uma formação técnica e profissional, conforme ao grau de desenvolvimento cultural da respectiva coletividade. É preciso esforçar-se por garantir àqueles, cuja capacidade o permita, o acesso aos estudos superiores, de sorte que, na medida do possível, subam na vida social a responsabilidades e a cargos adequados ao próprio talento e à perícia adquirida.

Direito de honrar a Deus segundo os ditames da reta consciência

14. Pertence igualmente aos direitos da pessoa a liberdade de prestar culto a Deus de acordo com os retos ditames da própria consciência, e de professar a religião, privada e publicamente. Com efeito, claramente ensinou Lactâncio:'Fomos criados com a finalidade do prestarmos justas e devidas honras a Deus, que nos criou; de só a ele conhecermos e seguirmos. Por este vínculo de piedade nos unimos e nos ligamos a Deus, donde deriva o próprio nome de religião'. Sobre o mesmo assunto, nosso predecessor, de imortal memória, Leão XIII, assim se expressou: 'Esta verdadeira e digna liberdade dos filhos de Deus que mantém alta a dignidade da pessoa humana é superior a toda violência e injúria, e sempre esteve nos mais ardentes desejos da Igreja. Foi esta que constantemente reivindicaram os apóstolos, sancionaram nos seus escritos os apologetas, consagraram pelo próprio sangue um sem-número de mártires'.

Direito à liberdade na escolha do próprio estado de vida

15. É direito da pessoa escolher o estado de vida, de acordo com as suas preferências, e, portanto, de constituir família na base da paridade de direitos e deveres entre homem e mulher, ou então, de seguir a vocação ao sacerdócio ou à vida religiosa.

16. A família, baseada no matrimônio livremente contraído, unitário e indissolúvel, há de ser considerada como o núcleo fundamental e natural da sociedade humana. Merece, pois, especiais medidas, tanto de natureza econômica e social, como cultural e moral, que contribuam para consolidá-la e ampará-la no desempenho de sua função.

17. Aos pais, portanto, compete a prioridade de direito em questão de sustento e de educação dos próprios filhos.

Direitos inerentes ao campo econômico

18. No que diz respeito às atividades econômicas, é claro que, por exigência natural, cabe à pessoa não só a liberdade de iniciativa, senão também o direito ao trabalho.

19. Semelhantes direitos comportam certamente a exigência de poder a pessoa trabalhar em condições tais, que não se lhe minem as forças físicas nem se lese a sua integridade moral, como tampouco se comprometa o são desenvolvimento do ser humano ainda em formação. Quanto às mulheres, seja-lhes facultado trabalhar em condições adequadas às suas necessidades e deveres de esposas e mães.

20. Da dignidade da pessoa humana deriva também o direito de exercer atividade econômica com senso de responsabilidade. Ademais, não podemos passar em silêncio o direito a remuneração do trabalho conforme aos preceitos da justiça; remuneração que, em proporção dos recursos disponíveis, permita ao trabalhador e à sua família um teor de vida condizente com a dignidade humana. A esse respeito, nosso predecessor de feliz memória Pio XII afirmou: 'Ao dever pessoal de trabalhar, inerente à natureza, corresponde um direito igualmente natural, o de poder o homem exigir que das tarefas realizadas lhe provenham, para si e seus filhos, os bens indispensáveis à vida: tão categoricamente impõe a Natureza a conservação do homem'.

21. Da natureza humana origina-se ainda o direito à propriedade privada, mesmo sobre os bens de produção. Como afirmamos em outra ocasião, esse direito 'constitui um meio apropriado para a afirmação da dignidade da pessoa humana e para o exercício da responsabilidade em todos os campos; e é fator de serena estabilidade para a família, como de paz e prosperidade social'.

22. Cumpre, aliás, recordar que ao direito de propriedade privada é inerente uma função social.

Direito de reunião e de associação

23. Da sociabilidade natural da pessoa humana provém o direito de reunião e de associação; bem como o de conferir às associações a forma que aos seus membros parecer mais idônea à finalidade em vista, e de agir dentro delas por conta própria e risco, conduzindo-as aos almejados fins.

24. Como tanto inculcamos na encíclica Mater et Magistra, é de todo indispensável que se constitua uma vasta rede de agremiações ou organismos intermediários, adequados ou afins, que os indivíduos por si sós não possam conseguir de maneira efetiva. Semelhantes agremiações e organismos são elementos absolutamente indispensáveis para salvaguardar a dignidade e a liberdade da pessoa humana, sem lhe comprometer o sentido de responsabilidade.

Direito de emigração e de imigração

25. Deve-se também deixar a cada um o pleno direito de estabelecer ou mudar domicílio dentro da comunidade política de que é cidadão, e mesmo, quando legítimos interesses o aconselhem, deve ser-lhe permitido transferir-se a outras comunidades políticas e nelas se domiciliar. Por ser alguém cidadão de um determinado país, não se lhe tolhe o direito de ser membro da família humana ou cidadão da comunidade mundial, que consiste na união de todos os seres humanos entre si. (grifo meu).

Direitos de caráter político

26. Coere ainda com a dignidade da pessoa o direito de participar ativamente da vida pública e de trazer, assim, sua contribuição pessoal ao bem comum dos concidadãos. São palavras de nosso predecessor de feliz memória Pio XII: 'A pessoa humana como tal não só não pode ser considerada como mero objeto ou elemento passivo da vida social, mas, muito pelo contrário, deve ser tida como o sujeito, o fundamento, e o fim da mesma'.

27. Compete, outrossim, à pessoa humana a legítima tutela dos seus direitos: tutela eficaz, imparcial, dentro das normas objetivas da justiça. Assim Pio XII, nosso predecessor de feliz memória, adverte com estas palavras: 'Da ordem jurídica intencionada por Deus emana o direito inalienável do homem à segurança jurídica e a uma esfera jurisdicional bem determinada, ao abrigo de toda e qualquer impugnação arbitrária'.

DEVERES

Indissolúvel relação entre direitos e deveres na mesma pessoa

28. Aos direitos naturais acima considerados vinculam-se, no mesmo sujeito jurídico que é a pessoa humana, os respectivos deveres. Direitos e deveres encontram na lei natural que os outorga ou impõe, o seu manancial, a sua consistência e a sua força inquebrantável.

29. Assim, por exemplo, o direito à existência liga-se ao dever de conservar-se em vida, o direito a um condigno teor de vida, à obrigação de viver dignamente, o direito de investigar livremente a verdade, ao dever de buscar um conhecimento da verdade cada vez mais vasto e profundo.

Reciprocidade de direitos e de deveres entre pessoas diversas

30. Estabelecido este princípio, deve-se concluir que, no relacionamento humano, a determinado direito natural de uma pessoa corresponde o dever de reconhecimento e respeito desse direito por parte dos demais. É que todo direito fundamental do homem encontra sua força e autoridade na lei natural, a qual, ao mesmo tempo em que o confere, impõe também algum dever correspondente. Por conseguinte, os que reivindicam os próprios direitos, mas se esquecem por completo de seus deveres ou lhes dão menor atenção, assemelham-se a quem constrói um edifício com uma das mãos e, com a outra, o destrói. (grifo meu).

Na colaboração mútua

31. Sendo os homens sociais por natureza, é mister que convivam uns com os outros e promovam o bem mútuo. Por esta razão, é exigência de uma sociedade humana bem constituída que mutuamente sejam reconhecidos e cumpridos os respectivos direitos e deveres. Segue-se, igualmente, que todos devem trazer a sua própria contribuição generosa à construção de uma sociedade na qual direitos e deveres se exerçam com solércia e efetividade cada vez maiores.

32. Não bastará, por exemplo, reconhecer o direito da pessoa aos bens indispensáveis à sua subsistência, se não envidarmos todos os esforços para que cada um disponha desses meios em quantidade suficiente.

33. A convivência humana, além de bem organizada, há-de ser vantajosa para seus membros. Requer-se, pois, que estes não só reconheçam e cumpram direitos e deveres recíprocos, mas que todos colaborem também nos múltiplos empreendimentos que a civilização contemporânea permite, sugere, ou reclama.

Senso de responsabilidade

34. Exige, ademais, a dignidade da pessoa humana um agir responsável e livre. Importa, pois, para o relacionamento social que o exercício dos próprios direitos, o cumprimento dos próprios deveres e a realização dessa múltipla colaboração derivem sobretudo de decisões pessoais, fruto da própria convicção, da própria iniciativa, do próprio senso de responsabilidade, mais que por coação, pressão, ou qualquer forma de imposição externa. Uma convivência baseada unicamente em relações de força nada tem de humano: nela as pessoas vêem coarctada a própria liberdade, quando, pelo contrário, deveriam ser postas em condição tal que se sentissem estimuladas a demandar o próprio desenvolvimento e aperfeiçoamento.

Convivência fundada sobre a verdade, a justiça, e o amor à liberdade

35. A convivência entre os seres humanos só poderá, pois, ser considerada bem constituída, fecunda e conforme à dignidade humana, quando fundada sobre o verdade, como adverte o apóstolo Paulo: 'Abandonai a mentira e falai a verdade cada um ao seu próximo, porque somos membros uns dos outros' (Ef. 4, 25). Isso se obterá se cada um reconhecer devidamente tanto os próprios direitos, quanto os próprios deveres para com os demais. A comunidade humana será tal como acabamos de a delinear, se os cidadãos, guiados pela justiça, se dedicarem ao respeito dos direitos alheios e ao cumprimento dos próprios deveres; se se deixarem conduzir por um amor que sinta as necessidades alheias como próprias, fazendo os outros participantes dos próprios bens; e se tenderem todos a que haja no orbe terrestre uma perfeita comunhão de valores culturais e espirituais. Nem basta isso. A sociedade humana realiza-se na liberdade digna de cidadãos que, sendo por natureza dotados de razão, assumem a responsabilidade das próprias ações.

36. É que acima de tudo, veneráveis irmãos e diletos filhos, há de considerar-se a convivência humana como realidade eminentemente espiritual: como intercomunicação de conhecimentos à luz da verdade, exercício de direitos e de cumprimento de deveres, incentivo e apelo aos bens morais, gozo comum do belo em todas as suas legítimas expressões, permanente disposição de fundir em tesouro comum o que de melhor cada qual possua, anelo de assimilação pessoal de valores espirituais. Valores esses, nos quais se vivifica e orienta tudo o que diz respeito à cultura, ao desenvolvimento econômico, às instituições sociais, aos movimentos e regimes políticos, à ordem jurídica e aos demais elementos, através dos quais se articula e se exprime a convivência humana em incessante evolução.

Ordem moral tendo por fundamento objetivo o verdadeiro Deus

37. A ordem que há de vigorar na sociedade humana é de natureza espiritual. Com efeito, é uma ordem que se funda na verdade, que se realizará segundo a justiça, que se animará e se consumará no amor, que se recomporá sempre na liberdade, mas sempre também em novo equilíbrio cada vez mais humano.

38. Ora, essa ordem moral-universal, absoluta e imutável nos seus princípios, encontra a sua origem e o seu fundamento no verdadeiro Deus, pessoal e transcendente. Deus, verdade primeira e sumo bem, é o único e o mais profundo manancial, donde possa haurir a sua genuína vitalidade uma sociedade bem constituída, fecunda e conforme à dignidade de pessoas humanas. A isto se refere santo Tomás de Aquino, quando escreve: A razão humana tem da lei eterna, que é a mesma razão divina, a prerrogativa de ser a regra da vontade humana, medida da sua bondade... Donde se segue que a bondade da vontade humana depende muito mais da lei eterna do que da razão humana .

Sinais dos tempos

39. Três fenômenos caracterizam a nossa época. Primeiro, a gradual ascensão econômico-social das classes trabalhadoras.

40. Nas primeiras fases do seu movimento de ascensão, os trabalhadores concentravam sua ação na reivindicação de seus direitos, especialmente de natureza econômico-social. Avançaram em seguida os trabalhadores às reivindicações políticas e, malmente, se empenharam na conquista de bens culturais e morais. Hoje, em toda parte, os trabalhadores exigem ardorosamente não serem tratados à maneira de meros objetos, sem entendimento nem liberdade, à mercê do arbítrio alheio, mas como pessoas, em todos os setores da vida social, tanto no econômico-social como no da política e da cultura.

41. Em segundo lugar, o fato por demais conhecido, isto é, o ingresso da mulher na vida pública: mais acentuado talvez em povos de civilização cristã; mais tardio, mas já em escala considerável, em povos de outras tradições e cultura. Torna-se a mulher cada vez mais cônscia da própria dignidade humana, não sofre mais o ser tratada como um objeto ou um instrumento; reivindica direitos e deveres consentâneos com sua dignidade de pessoa, tanto na vida familiar como na vida social.

42. Notamos finalmente que, em nossos dias, evoluiu a sociedade humana para um padrão social e político completamente novo. Uma vez que todos os povos já proclamaram ou estão para proclamar a sua independência. Acontecerá dentro em breve que já não existirão povos dominadores e povos dominados.

43. As pessoas de qualquer parte do mundo são hoje cidadãos de um Estado autônomo ou estão para o ser. Hoje, comunidade nenhuma de nenhuma etnia quer estar sujeita ao domínio de outrem. Porquanto, em nosso tempo, estão superadas seculares opiniões que admitiam classes inferiores de homens e classes superiores, derivadas de situação econômico-social, sexual ou posição política.

44. Ao invés, universalmente, prevalece hoje a opinião de que todos os seres humanos são iguais entre si por dignidade de natureza. As discriminações raciais não encontram nenhuma justificação, pelo menos no plano doutrinal. E isto é de um alcance e importância imensa para a estruturação do convívio humano segundo os princípios que acima recordamos. Pois, quando em uma pessoa surge a consciência dos próprios direitos, nela nascerá forçosamente a consciência do dever: no titular de direitos, o dever de reclamar esses direitos, como expressão de sua dignidade, nos demais, o dever de reconhecer e respeitar tais direitos.

45. E, quando as relações de convivência se colocam em termos de direito e de dever, os homens abrem-se ao mundo dos valores culturais e espirituais, quais os de verdade, justiça, caridade e liberdade, tornando-se cônscios de pertencerem àquele mundo. Ademais, são levados por essa estrada a conhecer melhor o verdadeiro Deus transcendente e pessoal e a colocar então as relações entre eles e Deus como fundamento de sua vida: da vida que vivem no próprio íntimo e da vida em relação com os outros homens.

PARTE II

RELAÇÕES ENTRE OS SERES HUMANOS E OS PODERES PÚBLICOS NO SEIO DAS COMUNIDADES POLÍTICAS

 

Necessidade da autoridade e sua origem Divina

46. A sociedade humana não estará bem constituída nem será fecunda, a não ser que lhe presida uma autoridade legítima que salvaguarde as instituições e dedique o necessário trabalho e esforço ao bem comum. Esta autoridade vem de Deus, como ensinou são Paulo: 'Não há poder algum a não ser proveniente de Deus' (Rm. 13,.1-6). A esta sentença do Apóstolo faz eco a explanação de são João Crisóstomo: 'Que dizes? Todo governante é constituído por Deus? Não, não afirmo isso. Não trato agora de cada governante em particular mas do governo como tal. Afirmo ser disposição da Sabedoria Divina que haja autoridade, que alguns governem outros obedeçam e que não se deixe tudo ao acaso ou à temeridade humana". Com efeito, Deus criou os homens sociais por natureza e, já que sociedade alguma pode 'subsistir sem um chefe que, com o mesmo impulso eficaz encaminhe todos para o fim comum, conclui-se que a comunidade humana tem necessidade de uma autoridade que a governe. Esta, assim como a sociedade, se origina da natureza, e por isso mesmo, vem de Deus'.

47. A autoridade não é força incontrolável; é, sim, faculdade de mandar segundo a sã razão. A sua capacidade de obrigar deriva, portanto, da ordem moral, a qual tem a Deus como princípio e fim. Razão pela qual adverte o nosso predecessor Pio XII, de feliz memória: 'A ordem absoluta dos seres e o próprio fim do homem (ser livre, sujeito de deveres e de direitos invioláveis, origem e fim da sociedade humana) comportam também o Estado como comunidade necessária e investida de autoridade, sem a qual não poderia existir nem medrar... Segundo a reta razão e, principalmente segundo a fé cristã, essa ordem de coisas só pode ter seu princípio em um Deus pessoal, criador de todos. Por isso, a dignidade da autoridade política tem sua origem na participação da autoridade do próprio Deus'.

Força proveniente da ordem moral

48. A autoridade que se baseasse exclusiva ou principalmente na ameaça ou no temor de penas ou na promessa e na solicitação de recompensa, não moveria efetivamente os seres humanos à realização do bem comum. Se, por acaso, o conseguisse, isso repugnaria à dignidade de seres dotados de razão e de liberdade. A autoridade é sobretudo uma força moral. Deve, pois, apelar à consciência do cidadão, isto é, ao dever de prontificar-se em contribuir para o bem comum. Sendo, porém, todos os homens iguais em dignidade natural, ninguém pode obrigar a outrem interiormente, porque isso é prerrogativa exclusiva de Deus, que perscruta e julga as atitudes íntimas.

49. Portanto, a autoridade humana só poderá obrigar em consciência, quando estiver vinculada à autoridade divina, quando dela participe.

50. Desta maneira, fica salvaguardada também a dignidade pessoal dos cidadãos. Obediência aos poderes públicos não é sujeição de homem a homem, é sim, no seu verdadeiro significado, homenagem prestada a Deus, sábio criador de todas as coisas, o qual dispôs que as relações de convivência se adaptem à ordem por ele estabelecida. Pelo fato de prestarmos a devida reverência a Deus, não nos humilhamos, mas nos elevamos e nos enobrecemos, porque, 'servir a Deus é reinar'.

51. Já que a autoridade é exigência da ordem moral e promana de Deus, caso os governantes legislarem ou prescreverem algo contra essa ordem e, portanto, contra a vontade de Deus, essas leis e essas prescrições não podem obrigar a consciência dos cidadãos. 'É preciso obedecer antes a Deus que aos homens' (At. 5, 29). Neste caso, a própria autoridade deixa de existir, degenerando em abuso do poder; segundo a doutrina de Santo Tomás de Aquino: 'A lei humana tem valor de lei enquanto está de acordo com a reta razão: derivando, portanto, da lei eterna. Se, porém, contradiz à razão, chama-se lei iníqua e, como tal, não tem valor de lei, mas é um ato de violência'.

52. Pelo fato, porém, de a autoridade provir de Deus, de nenhum modo se conclui que os homens não tenham faculdade de eleger os próprios governantes, de determinar a forma de governo e o método e a alçada dos poderes públicos. Segue-se daí que a doutrina por nós exposta é compatível com qualquer regime genuinamente democrático. A atuação do bem comum constitui a razão de ser dos poderes públicos

53. Todo o cidadão e todos os grupos intermediários devem contribuir para o bem comum. Disto se segue, antes de tudo, que devem ajustar os próprios interesses às necessidades dos outros, empregando bens e serviços na direção indicada pelos governantes, dentro das normas da justiça e na devida forma e limites de competência. Quer isso dizer que os respectivos atos da autoridade civil não só devem ser formalmente corretos, mas também de conteúdo tal que de fato representem o bem comum ou a ele possam encaminhar.

54. Essa realização do bem comum constitui a própria razão de ser dos poderes públicos, os quais devem promovê-lo de tal modo que, ao mesmo tempo, respeitem os seus elementos essenciais e adaptem as suas exigências às atuais condições históricas.

Aspectos fundamentais do bem comum

55. Mais ainda, as características étnicas de cada povo devem ser consideradas como elementos do bem comum. Não lhe esgotam, todavia, o conteúdo. Pois, visto ter o bem comum relação essencial com a natureza humana, não poderá ser concebido na sua integridade, a não ser que, além de considerações sobre a sua natureza íntima e sua realização histórica, sempre se tenha em conta a pessoa humana.

56. Acresce que, por sua mesma natureza, todos os membros da sociedade devem participar deste bem comum, embora em grau diverso, segundo as funções que cada cidadão desempenha, seus méritos e suas condições. Devem, pois, os poderes públicos promover o bem comum com vantagem para todos, sem preferência de pessoas ou grupos, como assevera nosso predecessor, de imortal memória, Leão XIII: 'De modo nenhum se deve usar para vantagem de um ou de poucos a autoridade civil constituída para o bem comum de todos'. Acontece, no entanto, que, por razões de justiça e de eqüidade, devam os poderes públicos ter especial consideração para com membros mais fracos da comunidade, pois se encontram em posição de inferioridade para reivindicar os próprios direitos e prover a seus legítimos interesses.

57. Aqui, julgamos dever chamar a atenção de nossos filhos para o fato de que o bem comum diz respeito ao homem todo, tanto às necessidades do corpo, como às do espírito. Procurem, pois, os poderes públicos promovê-lo de maneira idônea e equilibrada, isto é, respeitando a hierarquia dos valores e proporcionando, com os bens materiais, também os que se referem aos valores espirituais.

58. Concordam estes princípios com a definição que propusemos na nossa encíclica Mater et Magistra: O bem comum 'consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana'.

59. Ora, a pessoa humana, composta de corpo e alma imortal, não pode saciar plenamente as suas aspirações nem alcançar a perfeita felicidade no âmbito desta vida mortal. Por isso, cumpre atuar o bem comum em moldes tais que não só não criem obstáculo, mas antes sirvam à salvação eterna da pessoa.

Funções dos poderes públicos e direitos e deveres da pessoa

60. Hoje em dia se crê que o bem comum consiste sobretudo no respeito aos direitos e deveres da pessoa humana. Oriente-se, pois, o empenho dos poderes públicos, sobretudo no sentido de que esses direitos sejam reconhecidos, respeitados, harmonizados, tutelados e promovidos, tornando-se assim mais fácil o cumprimento dos respectivos deveres. 'A função primordial de qualquer poder público é defender os direitos invioláveis da pessoa e tornar mais viável o cumprimento dos seus deveres'. (grifo meu).

61. Por isso mesmo, se a autoridade não reconhecer os direitos da pessoa, ou os violar, não só perde ela a sua razão de ser como também as suas injunções perdem a força de obrigar em consciência.

Harmonização e salvaguarda eficaz dos direitos e dos deveres da pessoa

62. É, pois, função essencial dos poderes públicos harmonizar e disciplinar devidamente os direitos com que os homens se relacionam entre si, de maneira a evitar que os cidadãos, ao fazer valer os seus direitos, não atropelem os de outrem; ou que alguém, para salvaguardar os próprios direitos, impeça a outros de cumprir os seus deveres. Zelarão, enfim, os poderes públicos para que os direitos de todos se respeitem efetivamente na sua integridade e se reparem, se vierem a ser lesados.

Dever de promover os direitos da pessoa

63. Por outro lado, exige o bem comum que os poderes públicos operem positivamente no intuito de criar condições sociais que possibilitem e favoreçam o exercício dos direitos e o cumprimento dos deveres por parte de todos os cidadãos. Atesta a experiência que, faltando por parte dos poderes públicos uma atuação apropriada com 'respeito à economia, à administração pública, a instrução', sobretudo nos tempos atuais, as desigualdades entre os cidadãos tendem a exasperar-se cada vez mais, os direitos da pessoa tendem a perder todo seu conteúdo e compromete-se, ainda por cima, o cumprimento do dever.

64. Faz-se mister, pois, que os poderes públicos se empenhem a fundo para que ao desenvolvimento econômico corresponda o progresso social e que, em proporção da eficiência do sistema produtivo, se desenvolvam os serviços essenciais, como: construção de estradas, transportes, comunicações, água potável, moradia, assistência sanitária condições idôneas para a vida religiosa e ambiente para o espairecimento do espírito. [EFETIVIDADE = EFICIÊNCIA + EFICÁCIA]. Também é necessário que se esforcem por proporcionar aos cidadãos todo um sistema de seguros e de previdência, a fim de que não lhes venha a faltar o necessário para uma vida digna em caso de infortúnio, ou agravamento de responsabilidades familiares. A quantos sejam idôneos para o trabalho esteja facultado um emprego correspondente à sua capacidade. A remuneração do trabalho obedeça às normas da justiça e da eqüidade. Nas empresas permita-se aos trabalhadores operar com senso de responsabilidade.

Facilite-se a constituição de organismos intermediários, que tornem mais orgânica e fecunda a vida social. Requer-se finalmente que todos possam participar nos bens da cultura de maneira proporcional às suas condições.

Equilíbrio entre as duas formas de intervenção dos poderes públicos

65. O bem comum exige, pois, que, com respeito aos direitos da pessoa, os poderes públicos exerçam uma dupla ação: a primeira tendente a harmonizar e a tutelar esses direitos; a outra a promovê-los. Haja, porém, muito cuidado em equilibrar, da melhor forma possível, essas duas modalidades de ação. Evite-se que, através de preferências outorgadas a indivíduos ou a grupos, se criem situações de privilégio. Nem se venha a instaurar o absurdo de, ao intentar a autoridade tutelar os direitos da pessoa, chegue a coarctá-los. 'Sempre fique de pé que a intervenção das autoridades públicas em matéria econômica, embora se estenda às estruturas mesmas da comunidade, não deve coarctar a liberdade de ação dos particulares; antes deve aumentá-la, contanto que se guardem intactos os direitos fundamentais de cada pessoa humana'.

66. Ao mesmo princípio deve inspirar-se a multiforme ação dos poderes públicos no sentido de que os cidadãos possam mais facilmente reivindicar os seus direitos e cumprir os seus deveres em qualquer setor da vida social.

Estrutura e funcionamento dos poderes públicos

67. Não se pode determinar, aliás, uma vez por todas, qual a forma de governo mais idônea, quais os meios mais adequados para os poderes públicos desempenharem as suas funções, tanto legislativas, como administrativas ou judiciárias.

68. Com efeito, não se pode fixar a estrutura e funcionamento dos poderes públicos sem atender muito às situações históricas das respectivas comunidades políticas, situações que variam no espaço e no tempo. Julgamos, no entanto, ser conforme à natureza humana a constituição da sociedade na base de uma conveniente divisão de poderes, que corresponda às três principais funções da autoridade pública. (grifo meu). Efetivamente, em tal sociedade não só as funções dos poderes públicos, mas também as mútuas relações entre cidadãos e funcionários estão definidas em termos jurídicos. Isto sem dúvida constitui um elemento de garantia e clareza em favor dos cidadãos no exercício dos seus direitos e no desempenho das suas obrigações.

69. Mas para que essa organização jurídico-política das comunidades humanas surta o seu efeito, torna-se indispensável que os poderes públicos se adaptem nas competências, nos métodos e nos meios de ação à natureza e complexidade dos problemas que deverão enfrentar na presente conjuntura histórica. Comporta isto que, na contínua variação das situações, a atuação do poder legislativo respeite sempre a ordem moral, as normas constitucionais e as exigências do bem comum. O poder executivo aplique as leis com justiça, tratando de conhecê-las bem e de examinar diligentemente as situações concretas. O poder judiciário administre a justiça com imparcialidade humana, sem se deixar dobrar por interesses de parte. Requer-se finalmente que os cidadãos e os organismos intermédios, no exercício dos direitos e no cumprimento dos deveres, gozem de proteção jurídica eficaz, tanto nas suas relações mútuas como nas relações com os funcionários públicos.

Organização jurídica e consciência moral

70. Não há dúvida de que, numa nação, a organização jurídica, ajustada à ordem moral e ao grau de maturidade da comunidade política, é elemento valiosíssimo de bem comum.

71. Mas, hoje em dia, a vida social é tão diversa, complexa e dinâmica, que a organização jurídica, embora elaborada com grande competência e larga visão, muitas vezes parecerá inadequada às necessidades.

72. Além disso, as relações das pessoas entre si, as das pessoas e organismos intermediários com os poderes públicos, como também as relações destes poderes entre si no seio de uma nação, apresentam, por vezes, situações tão delicadas e nevrálgicas que não se podem enquadrar em termos jurídicos bem definidos. Faz-se mister, pois, que, se as autoridades quiserem permanecer, ao mesmo tempo, féis à ordem jurídica existente, considerada em seus elementos e em sua inspiração profunda, e abertas às exigências emergentes da vida social, se quiserem, por outro lado, adaptar as leis à variação das circunstâncias e resolver do melhor modo possível novos problemas que surjam, devem ter idéias claras sobre a natureza e a extensão de suas funções. Devem ser pessoas de grande equilíbrio e retidão moral, dotadas de intuição prática para interpretar com rapidez e objetividade os casos concretos, e de vontade decidida e forte para agir com tempestividade e eficiência.

A participação dos cidadãos na vida pública

73. É certamente exigência da sua própria dignidade de pessoas poderem os cidadãos tomar parte ativa na vida pública, embora a modalidade dessa participação dependa do grau de maturidade da nação a que pertencem.

74. Desta possibilidade de participar na vida pública abrem-se às pessoas novos e vastos campos de ação fecunda. Assim, um mais freqüente contato e diálogo entre funcionários e cidadãos proporciona àqueles um conhecimento mais exato das exigências objetivas do bem comum. Além disso, o suceder-se dos titulares nos poderes públicos impede-lhes o envelhecimento e assegura-lhes a renovação, de acordo com a evolução social.

Sinais dos tempos

75. Na moderna organização jurídica dos Estados emerge, antes de tudo, a tendência de exarar em fórmula clara e concisa uma carta dos direitos fundamentais do homem, carta que não raro é integrada nas próprias constituições.

76. Tende-se, aliás, em cada Estado, à elaboração em termos jurídicos de uma constituição, na qual se estabeleça o modo de designação dos poderes públicos, e reciprocidade de relações entre os diversos poderes, as suas atribuições, os seus métodos de ação.

77. Determinam-se, enfim, em termos de direitos e deveres, as relações dos cidadãos com os poderes públicos; e, estatui-se como primordial função dos que governam a de reconhecer os direitos e deveres dos cidadãos, respeitá-los, harmonizá-los, tutelá-los efetivamente e promovê-los.

78. Certamente não se pode aceitar a doutrina dos que consideram a vontade humana, quer dos indivíduos, quer dos grupos, primeira e única fonte dos direitos e deveres dos cidadãos, da obrigatoriedade da constituição e da autoridade dos poderes públicos.

79. Mas as tendências aqui apontadas evidenciam que o homem atual se torna cada vez mais cônscio da própria dignidade e que esta consciência o incita a tomar parte ativa na vida pública do Estado e a exigir que os direitos inalienáveis e invioláveis da pessoa sejam reafirmados nas instituições públicas. Mais ainda, exige-se hoje que as autoridades sejam designadas de acordo com normas constitucionais e exerçam as suas funções dentro dos limites da constituição.

 

PARTE III

RELAÇÕES DAS COMUNIDADES POLÍTICAS

 

Sujeitos de direitos e deveres

80. Queremos confirmar com a nossa autoridade os reiterados ensinamentos dos nossos predecessores sobre a existência de direitos e deveres internacionais, sobre o dever de regular as mútuas relações das comunidades políticas entre si, segundo as normas da verdade, da justiça, da solidariedade operante e da liberdade. A mesma lei natural que rege a vida individual deve também reger as relações entre os Estados. (grifo meu).

81. Isto é evidente, quando se considera que os governantes, agindo em nome da sua comunidade e procurando o bem desta, não podem renunciar à sua dignidade natural e, portanto, de modo algum lhes é lícito eximir-se à lei da própria natureza, que é a lei moral.

82. De resto, seria absurdo pensar que os homens, pelo fato de serem colocados à frente do governo da nação, possam ver-se constrangidos a despojar-se da sua condição humana. Pelo contrário, chegaram a essa alta função porque foram escolhidos dentre os melhores elementos da comunidade e por denotarem qualidades humanas fora do comum.

83. Mais ainda, a autoridade na sociedade humana é exigência da própria ordem moral. Não pode, portanto, ser usada contra esta ordem sem que se destrua a si mesma, minando o seu próprio fundamento, segundo a admoestação divina: 'Prestai atenção, vós que dominais a multidão e vos orgulhais das multidões dos povos! O domínio vos vem do Senhor e o poder, do Altíssimo, que examinará as vossas obras, perscrutará vossos desejos'. (Sb. 6, 2 - 4).

84. Por último, é preciso ter em conta que, também em assunto de relações internacionais, a autoridade deve ser exercida para promover o bem comum, pois esta é a sua própria razão de ser. (grifo meu).

85. Elemento fundamental do bem comum é o reconhecimento da ordem moral e a indefectível observância de seus preceitos. 'A reta ordem entre as comunidades políticas deve basear-se sobre a rocha inabalável e imutável da lei moral, manifestada na ordem do Universo pelo próprio Criador e por Ele esculpida no coração do homem com caracteres indeléveis... Qual resplandecente farol deve ela, com os raios de seus princípios, indicar a rota da operosidade dos homens e dos Estados, os quais devem seguir os seus sinais admoestadores, salutares e úteis, se não quiserem abandonar à sanha das procelas e do naufrágio, todo o trabalho e esforço para estabelecer uma nova ordem de coisas'.

Na verdade

86. As relações mútuas entre os Estados devem basear-se na verdade. Esta exige que se elimine delas todo e qualquer racismo. Tenha-se como princípio inviolável a igualdade de todos os povos, pela sua dignidade de natureza. Cada povo tem, pois, direito à existência, ao desenvolvimento, à posse dos recursos necessários para realizá-lo e a ser o principal responsável na atuação do mesmo, tendo igualmente direito ao bom nome e à devida estima.

87. Atesta a experiência que subsistem muitas vezes entre os homens consideráveis diferenças de saber, de virtude, de capacidade inventiva e de recursos materiais. Mas, estas diferenças jamais justificam o propósito de impor a própria superioridade a outrem. Pelo contrário, constituem fonte de maior responsabilidade que a todos incumbe de contribuir à elevação comum. (grifo meu).

88. De modo análogo, podem as nações diferenciar-se por cultura, civilização e desenvolvimento econômico. Isto, porém, não poderá jamais justificar a tendência a impor injustamente a própria superioridade às demais. Antes, pode constituir motivo de sentirem-se mais empenhadas na obra de comum ascensão dos povos. (grifo meu).

89. Realmente não pode um homem ser superior a outro por natureza, visto que todos gozam de igual dignidade natural. Segue-se daí que, sob o aspecto de dignidade natural, não há diferença alguma entre as comunidades políticas, porque cada qual é semelhante a um corpo cujos membros são as próprias pessoas. Aliás, como bem sabemos por experiência, o que mais costuma melindrar um povo, e com toda a razão, é o que de qualquer maneira toca à sua própria dignidade. (grifo meu).

90. Exige ainda a verdade, que nas múltiplas iniciativas, através da utilização das modernas invenções técnicas, tendentes a favorecer um maior conhecimento recíproco entre os povos, se adotem rigorosamente critérios de serena objetividade. Isto não exclui ser legítima nos povos a preferência a dar a conhecer os lados positivos da sua vida. Devem, porém, ser totalmente repudiados os métodos de informação que, violando a justiça e a verdade, firam o bom nome de algum povo.

Segundo a justiça

91. As relações entre os Estados devem, além disso, reger-se pelas normas da justiça. Isto comporta tanto o reconhecimento dos mútuos direitos como o cumprimento dos deveres recíprocos.

92. Os estados têm direito à existência, ao desenvolvimento, a disporem dos recursos necessários para o mesmo, e a desempenharem o papel preponderante na sua realização. Os Estados têm igualmente direito ao bom nome e à devida estima. Simultaneamente, pois, incumbe aos Estados o dever de respeitar efetivamente cada um destes direitos, e de evitar todo e qualquer ato que os possa violar. Assim como nas relações individuais não podem as pessoas ir ao encontro dos próprios interesses com prejuízo dos outros, do mesmo modo não pode uma nação, sem incorrer em grave delito, procurar o próprio desenvolvimento tratando injustamente ou oprimindo as outras. Cabe aqui a frase de santo Agostinho: 'Esquecida a justiça, a que se reduzem os reinos senão a grandes latrocínios?' (grifo meu).

93. Pode acontecer, e de fato acontece, que os interesses dos Estados contrastem entre si. Essas divergências, porém, dirimem-se não com a força das armas nem com a fraude e o embuste, mas sim, como convém a pessoas humanas, com a compreensão recíproca, através de serena ponderação dos dados objetivos e equânime conciliação.

O tratamento das minorias

94. Caso peculiar desta situação é o processo político que se veio afirmando em todo o mundo, desde o século XIX, a saber, que pessoas de uma mesma raça aspirem a constituir-se em nação soberana. Entretanto, por diversas causas, nem sempre pode realizar-se este ideal. Assim, dentro de uma nação vivem, não raro, minorias de raça diferente, e daí surgem graves problemas.

95. Deve-se declarar abertamente que é grave injustiça qualquer ação tendente a reprimir a energia vital de alguma minoria, e muito mais se tais maquinações intentam exterminá-la.

96. Pelo contrário, corresponde plenamente aos princípios da justiça que os governos procurem promover o desenvolvimento humano das minorias raciais, com medidas efetivas em favor da respectiva língua, cultura, tradições, recursos e empreendimentos econômicos.

97. Deve-se, todavia, notar que, seja pela situação difícil a que estão sujeitas, seja por vivências históricas, não raro tendem essas minorias a exagerar os seus valores étnicos, a ponto de colocá-los acima de valores universalmente humanos, como se um valor de humanidade estivesse em função de um valor nacional. Seria, ao invés, razoável que esses cidadãos reconhecessem as vantagens que lhes advêm precisamente desta situação. O contato cotidiano com pessoas de outra cultura pode constituir precioso fator de enriquecimento intelectual e espiritual, através de um continuado processo de assimilação cultural. Isto acontecerá somente se as minorias não se fecharem à população que as rodeia e participarem dos seus costumes e instituições, em vez de semearem dissensões que acarretam inumeráveis danos, impedindo o desenvolvimento civil das nações.

Solidariedade dinâmica

98. Norteadas pela verdade e pela justiça, as relações internacionais desenvolvem-se em uma solidariedade dinâmica através de mil formas de colaboração econômica, social, política, cultural, sanitária, desportiva, qual é o panorama exuberante que nos oferece a época atual. Cumpre ter presente, a este propósito, que o poder público não foi constituído para encerrar os súditos dentro das fronteiras nacionais, mas para tutelar, antes de tudo, o bem comum nacional. Ora, este faz parte integrante do bem comum de toda a família humana.

99. Daí resulta que, ao procurar os próprios interesses, as nações não só não devem prejudicar-se umas às outras, mas devem mesmo conjugar os próprios esforços, quando a ação isolada não possa conseguir algum determinado intento. No caso, porém, é preciso evitar cuidadosamente que o interesse de um grupo de nações venha a danificar outras, em vez de estender também a estas os seus reflexos positivos.

100. As nações devem fomentar toda espécie de intercâmbio quer entre os cidadãos respectivos, quer entre os respectivos organismos intermediários. Existe sobre a Terra um número considerável de grupos étnicos, mais ou menos diferenciados. Não devem, porém, as peculiaridades de um grupo étnico transformar-se em compartimento estanque de seres humanos impossibilitados de relacionar-se com pessoas pertencentes a outros grupos étnicos. Isto estaria, aliás, em flagrante contraste com a tendência da época atual em que praticamente se eliminaram as distâncias entre os povos. Tampouco se deve esquecer de que, embora seres humanos de raça diferente apresentem peculiaridades, possuem, no entanto, traços essenciais que lhes são comuns. Isso os inclina a encontrar-se no mundo dos valores espirituais, cuja progressiva assimilação abre-lhes ilimitadas perspectivas de aperfeiçoamento. Deve-se-lhes, portanto, reconhecer o direito e o dever de viver em comunhão uns com os outros.

Equilíbrio entre população, terra e capitais

101. É sabido de todos que em algumas regiões subsiste a desproporção entre a extensão de terra cultivável e o número de habitantes; em outras, entre riquezas do solo e capitais disponíveis. Impõe-se, pois, a colaboração dos povos, com o fim de facilitar a circulação de recursos, capitais e mão-de-obra.

102. Cremos sobremaneira oportuno observar a este respeito que, na medida do possível, seja o capital que procure a mão-de-obra, e não a mão-de-obra o capital. Assim se permitirá a tantas pessoas melhorar a própria situação, sem ter que abandonar com tamanha saudade a pátria, para transplantar-se a outras plagas, reajustar-se a uma nova situação e criar-se um novo ambiente social.

Problema dos refugiados políticos

103. O sentimento de universal paternidade que o Senhor acendeu no nosso coração leva-nos a sentir profunda amargura ao contemplar o fenômeno dos refugiados políticos, fenômeno que assumiu, em nossos dias, amplas proporções e que oculta sempre inúmeros e lancinantes sofrimentos.

104. Ele evidência como os chefes de algumas nações restringem em demasiado os limites de uma justa liberdade que permita aos cidadãos respirar um clima humano. Muito ao contrário, em tais regimes acontece que se ponha em dúvida o próprio direito de liberdade, ou até que este se veja inteiramente sufocado. Nessas condições, mina-se radicalmente a reta ordem da convivência humana, pois o poder público, por sua própria natureza, diz respeito à tutela do bem comum, e seu dever principal é o de reconhecer os justos limites da liberdade e salvaguardar os seus direitos.

105. Não é supérfluo recordar que os refugiados políticos são pessoas e que se lhes devem reconhecer os direitos de pessoa. Tais direitos não desaparecem com o fato de terem eles perdido a cidadania do seu país.

106. Entre os direitos inerentes à pessoa, figura o de inserir-se na comunidade política, onde espera ser-lhe mais fácil reconstruir um futuro para si e para a própria família. Por conseguinte, incumbe aos respectivos poderes públicos o dever de acolher esses estranhos e, nos limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido, o de lhes favorecer a integração na nova sociedade em que manifestem o propósito de inserir-se.

107. Aprovamos, pois, e louvamos publicamente, nesta oportunidade, todas aquelas iniciativas que, sob o impulso da solidariedade fraterna e da caridade cristã, se empenham em lenir a dor de quem se vê constrangido a arrancar-se de seu torrão natal em demanda de outras terras.

108. Nem podemos eximir-nos de propor à consideração de todos os homens sensatos aquelas instituições internacionais que se preocupam com questão de tamanha gravidade.

Desarmamento

109. É-nos igualmente doloroso constatar como em estados economicamente mais desenvolvidos se fabricaram e ainda se fabricam gigantescos armamentos. Gastam-se nisso somas enormes de recursos materiais e energias espirituais. Impõem-se sacrifícios nada leves aos cidadãos dos respectivos países, enquanto outras nações carecem da ajuda indispensável ao próprio desenvolvimento econômico e social. (grifo meu).

Psicose de medo e corrida aos armamentos

110. Costuma-se justificar essa corrida ao armamento aduzindo o motivo de que, nas circunstâncias atuais, não se assegura a paz senão com o equilíbrio de forças: se uma comunidade política se arma, faz com que também outras comunidades políticas porfiem em aumentar o próprio armamento. E, se uma comunidade política produz armas atômicas dá motivo a que outras nações se empenhem em preparar semelhantes armas, com igual poder destrutivo.

111. O resultado é que os povos vivem em terror permanente, como sob a ameaça de uma tempestade que pode rebentar a cada momento em avassaladora destruição. Já que as armas existem e, se parece difícil que haja pessoas capazes de assumir a responsabilidade das mortes e incomensuráveis destruições que a guerra provocaria, não é impossível que um fato imprevisível e incontrolável possa inesperadamente atear esse incêndio. Além disso, ainda que o imenso poder dos armamentos militares afaste hoje os homens da guerra, entretanto, a não cessarem as experiências levadas a cabo com uns militares, podem elas pôr em grave perigo boa parte da vida sobre a terra. (grifo meu).

112. Eis por que a justiça, a reta razão e o sentido da dignidade humana terminantemente exigem que se pare com essa corrida ao poderio militar, que o material de guerra, instalado em várias nações, se vá reduzindo de uma parte e de outra. Simultaneamente, que sejam banidas as armas atômicas; e, finalmente, que se chegue a um acordo para a gradual diminuição dos armamentos, na base de garantias mútuas e eficazes. Já Pio XII nosso predecessor, de feliz memória, admoestou: 'A todo custo se deverá evitar que pela terceira vez desabe sobre a humanidade a desgraça de uma guerra mundial, com suas imensas catástrofes econômicas e sociais e com as suas muitas depravações e perturbações morais'.

113. Todos devem estar convencidos de que nem a renúncia à competição militar, nem a redução dos armamentos, nem a sua completa eliminação, que seria o principal, de modo nenhum se pode levar a efeito tudo isto, se não se proceder a um desarmamento integral, que atinja o próprio espírito, isto é, se não trabalharem todos em concórdia e sinceridade, para afastar o medo e a psicose de uma possível guerra. Mas isto requer que, em vez do critério de equilíbrio em armamentos que hoje mantém a paz, se abrace o princípio segundo o qual a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio, mas sim e exclusivamente na confiança mútua. Nós pensamos que se trata de objetivo possível, por tratar-se de causa que não só se impõe pelos princípios da reta razão, mas que é sumamente desejável e fecunda de preciosos resultados. (grifo meu).

114. Antes de mais, trata-se de um objetivo imposto pela razão. De fato, como todos sabem, ou pelo menos deviam saber, as mútuas relações internacionais, do mesmo modo que as relações entre os indivíduos, devem-se disciplinar não pelo recurso à força das armas, mas sim pela norma da reta razão, isto é, na base da verdade, da justiça e de uma ativa solidariedade. (grifo meu).

115. Em segundo lugar, afirmamos que tal objetivo é muito para desejar. Pois. quem há que não almeje ardentemente que se afastem todos os perigos de guerra, que se mantenha firme a paz e que se resguarde com proteções cada vez mais seguras?

116. Finalmente, trata-se de um objetivo que só pode trazer bons frutos, porque as suas vantagens se farão sentir a todos: aos indivíduos, às famílias, aos povos e a toda a comunidade humana. A este propósito ecoa ainda e vibra em nossos ouvidos este aviso sonoro do nosso predecessor Pio XII. 'Nada se perde com a paz, mas tudo pode ser perdido com a guerra'.

117. Por isso, nós, que somos na terra o Vigário de Jesus Cristo, Salvador do mundo e autor da paz, interpretando os vivos anseios de toda a família humana, movidos pelo amor paterno para com todos os homens, julgamos dever do nosso ofício pedir encarecidamente a todos, e sobretudo aos chefes das nações, que não poupem esforços, enquanto o curso dos acontecimentos humanos não for conforme à razão e à dignidade do homem.

118. Que nas assembléias mais qualificadas, por prudência e autoridade, se investigue a fundo qual a melhor maneira de se chegar a maior harmonia das comunidades políticas no plano mundial; harmonia, repetimos, que se baseia na confiança mútua, na sinceridade dos tratados e na fidelidade aos compromissos assumidos. Examinem de tal maneira todos os aspectos do problema para encontrarem no nó da questão, a partir do qual possam abrir caminho a um entendimento leal, duradouro e fecundo.

119. De nossa parte, não cessaremos de elevar a Deus a nossa súplica, para que abençõe com suas graças esses trabalhos e os faça frutificar.

Na liberdade

120. Acrescente-se que as relações mútuas entre as comunidades políticas se devem reger pelo critério da liberdade. Isto quer dizer que nenhuma nação tem o direito de exercer qualquer opressão injusta sobre outras, nem de interferir indevidamente nos seus negócios. Todas, pelo contrário, devem contribuir para desenvolver entre si o senso de responsabilidade, o espírito de iniciativa, e o empenho em tornar-se protagonistas do próprio desenvolvimento em todos os campos. (grifo meu).

Ascensão das comunidades políticas em fase de desenvolvimento econômico

121. Todos os seres humanos estão vinculados entre si pela comunhão na mesma origem, na mesma redenção por Cristo e no mesmo destino sobrenatural, sendo deste modo chamados a formar uma única família cristã. Por isso, na encíclica 'Mater et Magistra' exortamos as nações economicamente mais desenvolvidas a auxiliar por todos os meios as outras nações em vias de desenvolvimento econômico.

122. Podemos constatar agora, com grande satisfação, que o nosso apelo foi largamente acolhido, e esperamos que, no futuro, continue a sê-lo ainda mais amplamente, afim de que as nações mais pobres alcancem, o mais depressa possível, um grau de desenvolvimento econômico que proporcione a todos os cidadãos um nível de vida mais consentâneo com a sua dignidade de pessoas.

Nunca se insistirá demasiado na necessidade de implementar a referida cooperação, de tal maneira que esses povos conservem incólume a própria liberdade e sintam que, nesse desenvolvimento econômico e social, são eles que desempenham o papel preponderante e sobre os quais recai a principal responsabilidade.

123. Já o nosso predecessor, de feliz memória, Pio XII, proclamava que 'uma nova ordem baseada nos princípios morais exclui em absoluto que sejam lesadas a liberdade, a integridade e a segurança das outras nações, sejam quais forem a sua extensão territorial e a sua capacidade de defesa. Se for inevitável que as grandes nações, dadas às suas maiores possibilidades e superior potência, tracem o roteiro de colaboração econômica com as mais pequenas e fracas, de modo nenhum se pode negar a estas nações menores, em pé de igualdade com as outras, e para o bem comum de todas, o direito à autonomia política e à neutralidade nas contendas entre as nações, de que se podem valer, segundo as leis do direito natural e internacional. Outro direito que possuem estas nações menores, é a tutela do seu desenvolvimento econômico. Só desta maneira poderão realizar adequadamente o bem comum, o bem-estar material e espiritual do próprio povo'.

124. As nações economicamente desenvolvidas que, de qualquer modo, auxiliam as mais pobres, devem, portanto, respeitar ao máximo as características de cada povo e as suas ancestrais tradições sociais, abstendo-se cuidadosamente de qualquer pretensão de domínio. Se assim procederem, 'dar-se-á uma contribuição preciosa para a formação de uma comunidade mundial dos povos, na qual todos os membros sejam conscientes dos seus direitos e dos seus deveres e trabalhem em igualdade de condições para a realização do bem comum universal'. (grifos meus).

Sinais dos tempos

125. Difunde-se cada vez mais entre os homens de nosso tempo a persuasão de que as eventuais controvérsias entre os povos devem ser dirimidas com negociações e não com armas.

126. Bem sabemos que esta persuasão está geralmente relacionada com o terrível poder de destruição das armas modernas e é alimentada pelo temor das calamidades e das ruínas desastrosas que estas armas podem acarretar. Por isso, não é mais possível pensar que nesta nossa era atômica a guerra seja um meio apto para ressarcir direitos violados. (grifo meu).

127. Infelizmente, porém, reina muitas vezes entre os povos a lei do temor, que os induz a despender em armamentos fabulosas somas de dinheiro, não com o intento de agredir, como dizem - e não há motivo para não acreditarmos - mas para conjurar eventuais perigos de agressão.

128. Contudo, é lícito esperar que os homens, por meio de encontros e de negociações, venham a conhecer melhor os laços comuns da natureza que os unem, e assim possam compreender a beleza de uma das mais profundas exigências da natureza humana: a de que reine entre eles e seus respectivos povos não o temor, mas o amor - um amor que, antes de tudo, leve os homens a uma colaboração leal, multiforme e portadora de inúmeros bens.

PARTE IV

RELAÇÕES ENTRE OS SERES HUMANOS E AS COMUNIDADES POLÍTICAS COM A COMUNIDADE MUNDIAL

 

Interdependência entre as comunidades políticas

129. Os recentes progressos das ciências e das técnicas incidem profundamente na mentalidade humana, solicitando, por toda parte, às pessoas, a progressiva colaboração mútua e a convivência unitária de alcance mundial. Com efeito, intensificou-se enormemente hoje o intercâmbio de idéias, de pessoas e de coisas. Tornaram-se daí muito mais vastas e freqüentes as relações entre cidadãos, famílias e organismos intermédios, pertencentes a diversas comunidades políticas, bem como entre os poderes públicos das mesmas. Ao mesmo tempo, cresce a interdependência entre as economias nacionais. Estas se entrosam gradualmente umas nas outras, quase como partes integrantes de uma única economia mundial. O progresso social, a ordem, a segurança e a paz em cada comunidade política estão em relação vital com o progresso social, com a ordem, com a segurança e com a paz de todas as demais comunidades políticas.

130. Deste modo, nenhuma comunidade política se encontra hoje em condições de zelar convenientemente por seus próprios interesses e de suficientemente desenvolver-se, fechando-se em si mesma. Porquanto, o nível de sua prosperidade e de seu desenvolvimento é um reflexo e uma componente do nível de prosperidade e de desenvolvimento das outras comunidades políticas.

Deficiência da atual organização da autoridade pública em relação ao bem comum universal

131. A unidade universal do convívio humano é um fato perene. É que o convívio humano tem por membros seres humanos que são todos iguais por dignidade natural. Por conseguinte, é também perene a exigência natural de realização, em grau suficiente, do bem comum universal, isto é, do bem comum de toda a família humana.

132. Outrora, podia pensar-se, com razão, que os poderes públicos das diferentes comunidades políticas estavam em condições de obter o bem comum universal, quer através das vias diplomáticas normais, quer mediante encontros e conferências de cúpula, com o emprego de instrumentos jurídicos tais como as convenções e os tratados, instrumentos jurídicos esses sugeridos pelo direito natural, pelo direito das gentes e pelo direito internacional.

133. Hoje em dia, como conseqüência das profundas transformações que se verificaram nas relações da convivência humana, o bem comum universal suscita problemas complexos, muito graves, extremamente urgentes, sobretudo em matéria de segurança e de paz mundial. Ao mesmo tempo os poderes públicos de cada comunidade política, postos como estão em pé de igualdade jurídica entre si, mesmo que multipliquem conferências e afiem o próprio engenho para a elaboração de novos instrumentos jurídicos, não estão mais em condições de enfrentar e de resolver adequadamente estes problemas, não por falta de vontade ou de iniciativa, mas por motivo de uma deficiência estrutural, por uma carência de autoridade.

134. Pode-se, portanto, afirmar que na presente conjuntura histórica não se verifica uma correspondência satisfatória entre a estrutura política dos Estados com o respectivo funcionamento da autoridade pública no plano mundial e as exigências objetivas do bem comum universal.

Relação entre o conteúdo histórico do bem comum e a configuração e funcionamento dos poderes públicos

135. Existe evidentemente uma relação intrínseca entre o conteúdo histórico do bem comum e a configuração e o funcionamento dos poderes públicos. Porquanto, assim como a ordem moral requer uma autoridade pública para a obtenção do bem comum na convivência humana, postula, também, conseqüentemente, que esta autoridade seja capaz de conseguir o fim proposto. Comporta isto que os órgãos em que a autoridade se encarna, opera e demanda o seu fim, sejam estruturados e atuem de tal modo que possam adequadamente traduzir em realidade os conteúdos novos que o bem comum venha assumindo na evolução histórica.

136. O bem comum universal levanta hoje problemas de dimensão mundial que não podem ser enfrentados e resolvidos adequadamente, senão por poderes públicos que possuam autoridade, estruturas e meios de idênticas proporções, isto é, de poderes públicos que estejam em condições de agir de modo efetivo no plano mundial. Portanto, é a própria ordem moral que exige a instituição de alguma autoridade pública universal.

Poderes públicos instituídos de comum acordo e não impostos pela força

137. Esses poderes públicos dotados de autoridade no plano mundial e de meios idôneos para alcançar com eficácia e com eficiência os objetivos que constituem os conteúdos concretos do bem comum universal, devem ser instituídos de comum acordo entre todos os povos. Jamais com a imposição da força. É que tais poderes devem estar em condições de operar efetivamente e, portanto, a atuação deles deve inspirar-se de eqüitativa e efetiva imparcialidade, tendente à concretização das exigências objetivas do bem comum universal. De contrário, dever-se-ia temer que poderes públicos supranacionais ou mundiais, impostos à força pelas comunidades políticas mais poderosas, se tornassem instrumentos de interesses particularistas. Mesmo que tal não se verificasse, seria muito difícil evitar, nesta hipótese, qualquer suspeita de parcialidade, o que comprometeria a efetividade de sua ação. Embora muito se diferenciem as nações pelo grau de desenvolvimento econômico e pelo poderio militar, são todavia muito ciosas em resguardar a igualdade jurídica e a própria dignidade moral. Por este motivo, com razão, não se dobram a uma autoridade que lhes é imposta à força ou para cuja instituição não contribuíram ou a que não aderiram espontaneamente.

O bem comum universal e os direitos da pessoa humana

138. Como o bem comum de cada comunidade política, assim também o bem comum universal não pode ser determinado senão tendo em conta a pessoa humana. Por isso, com maior razão, devem os poderes públicos da comunidade mundial considerar como objetivo fundamental o reconhecimento, o respeito, a tutela e a promoção dos diretos da pessoa humana, com ação direta, quando for o caso, ou criando, no plano mundial, condições em que se torne mais viável aos poderes públicos de cada comunidade política exercer as próprias funções específicas.

Princípio de subsidiariedade

139. Como as relações entre os indivíduos, as famílias, as organizações intermédias e os poderes públicos das respectivas comunidades políticas devem estar reguladas e moderadas, no plano nacional, segundo o princípio de subsidiariedade, assim também, à luz do mesmo princípio, devem disciplinar-se as relações dos poderes públicos de cada comunidade política com os poderes públicos da comunidade mundial. Isto significa que os problemas de conteúdo econômico, social, político ou cultural a serem enfrentados e resolvidos pelos poderes públicos da comunidade mundial, hão de ser da alçada do bem comum universal, isto é, serão problemas que pela sua amplidão, complexidade e urgência os poderes públicos de cada comunidade política não estejam em condições de afrontar com esperança de solução positiva.

140. Os poderes públicos da comunidade mundial não têm como fim limitar a esfera de ação dos poderes públicos de cada comunidade política e nem sequer de substituir-se a eles. Ao invés, devem procurar contribuir para a criação, em plano mundial, de um ambiente em que tanto os poderes públicos de cada comunidade política, como os respectivos cidadãos e grupos intermédios, com maior segurança, possam desempenhar as próprias funções, cumprir os seus deveres e fazer valer os seus direitos.

Sinais dos tempos

141. Como todos sabem, aos 26 de junho de 1945, foi constituída a Organização das Nações Unidas (ONU). A ela juntaram-se depois organizações de âmbito especializado, compostas de membros nomeados pela autoridade pública das diversas nações. A estas instituições estão confiadas atribuições internacionais de grande importância no campo econômico, social, cultural, educacional e sanitário. As Nações Unidas propuseram-se como fim primordial manter e consolidar a paz entre os povos, desenvolvendo entre eles relações amistosas fundadas nos princípios de igualdade, de respeito mútuo e de cooperação multiforme em todos os setores da atividade humana.

142. Um ato de altíssima relevância efetuado pelas Nações Unidas foi a Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em Assembléia Geral, em 10 de dezembro de 1948. No Preâmbulo desta Declaração proclama-se, como ideal a ser demandado por todos os povos e por todas as nações, o efetivo reconhecimento e a salvaguarda daqueles direitos e das respectivas liberdades.

143. Contra alguns pontos particulares da Declaração foram feitas objeções e reservas fundadas. Não há dúvida, porém, que o Documento assinala um passo importante no caminho para a organização jurídico-política da comunidade mundial. De fato, na forma mais solene, nele se reconhece a dignidade de pessoa a todos os seres humanos, proclama-se como direito fundamental da pessoa o de mover-se livremente na procura da verdade, na realização do bem moral e da justiça, o direito a uma vida digna, e defendem-se outros direitos conexos com estes.

144. Fazemos, pois, ardentes votos que a Organização das Nações Unidas, nas suas estruturas e seus meios, se conforme cada vez mais à vastidão e à nobreza de suas finalidades, e chegue o dia em que cada ser humano encontre nela uma proteção eficaz dos direitos que promanam imediatamente de sua dignidade de pessoa, e que são, por isso mesmo, direitos universais, invioláveis, inalienáveis. Tanto mais que hoje, participando as pessoas cada vez mais ativamente na vida pública das próprias comunidades políticas, denotam um interesse crescente pelas vicissitudes de todos os povos e maior consciência de serem membros vivos de uma comunidade mundial.

PARTE V

DIRETRIZES PASTORAIS

 

Dever de participação na vida pública

145. Ainda uma vez exortamos nossos filhos ao dever de participarem ativamente da vida pública e de contribuírem para a obtenção do bem comum de todo o gênero humano e da própria comunidade política, e de se esforçarem, portanto, à luz da fé cristã e com a força do amor, para que as instituições de finalidade econômica, social, cultural e política sejam tais, que não criem obstáculos, mas antes facilitem às pessoas o próprio melhoramento, tanto na vida natural como na sobrenatural.

Competência científica, capacidade técnica, perícia profissional

146. Para impregnarem de retas normas e de princípios cristãos uma civilização, não basta gozar da luz da fé e arder no desejo do bem. É necessário para tanto se inserir nas suas instituições e trabalhá-las efetivamente por dentro.

147. A cultura atual salienta-se sobretudo por sua índole científica e técnica. Assim, ninguém pode penetrar nas suas instituições se não for cientificamente competente, tecnicamente capaz e profissionalmente perito.

A ação, como síntese dos elementos científico-técnico-profissionais e dos valores espirituais

148. Entretanto, não se julgue que a competência científïca, a capacidade técnica e a experiência profissional bastam para tornar as relações de convivência genuinamente humanas, isto é, fundadas na verdade, comedidas na justiça, corroboradas no mútuo amor, realizadas na liberdade.

149. Para tanto, requer-se, sim, que as pessoas desempenhem as suas atividades de cunho temporal obedecendo às leis imanentes a essas atividades e seguindo métodos correspondentes à sua natureza. Mas, requer-se, ao mesmo tempo, que desempenhem essas atividades no âmbito da ordem moral, como exercício de um direito e cumprimento de um dever, como resposta positiva a um mandamento de Deus, colaboração à sua ação salvífica, e contribuição pessoal à realização de seus desígnios providenciais na história. Em uma palavra: requer-se que as pessoas vivam, no próprio íntimo, o seu agir de cunho temporal como uma síntese dos elementos científico-técnico-profissionais e dos valores espirituais.

Harmonização nos cristãos entre a fé religiosa e a atividade temporal

150. Nos países de tradição cristã florescem hoje, com o progresso técnico-científico, as instituições de ordem temporal e revelam-se altamente eficientes na consecução dos respectivos fins. Entretanto, carecem não raro de fermentação e inspiração cristã.

151. Por outro lado, na criação dessas instituições contribuíram não pouco e continuam a contribuir pessoas que têm o nome de cristãos, que, pelo menos em parte, ajustam a sua vida às normas evangélicas. Como se explica tal fenômeno? Cremos que a explicação está na ruptura entre a fé e a atividade temporal. É, portanto, necessário que se restaure neles a unidade interior, e que em sua atividade humana domine a luz orientadora da fé e a força vivificante do amor.

Desenvolvimento integral dos seres humanos em formação

152. Julgamos também que nos cristãos a ruptura entre fé religiosa e ação temporal resulta, pelo menos em parte, da falta de uma sólida formação cristã. Acontece de fato, demasiadas vezes, em muitos ambientes, que não haja proporção entre a instrução científica e a instrução religiosa: a científica estende-se até aos graus superiores do ensino, enquanto a religiosa permanece em grau elementar. Torna-se indispensável, pois, que a educação da mocidade seja integral e ininterrupta, que o conhecimento da religião e a formação do critério moral progridam gradualmente com a assimilação contínua e cada vez mais rica de elementos técnico-científicos. É ainda indispensável que se proporcione aos jovens adequada iniciação no desempenho concreto da própria atividade profissional.

Constante empenho

153. Será oportuno lembrar como é difícil captar com suficiente objetividade a correspondência entre as situações concretas e as exigências da justiça, indicando claramente os graus e formas segundo os quais os princípios e as diretrizes doutrinais devem traduzir-se na presente realidade social.

154. Essa identificação de graus e formas torna-se mais difícil nesta nossa época, caracterizada por acentuado dinamismo; época, aliás, que de cada um reclama uma parcela de contribuição para o bem comum universal. Daí, o não ser jamais definitiva a solução do problema da adaptação da realidade social às exigências objetivas da justiça. Os nossos filhos devem, pois, prestar atenção de não se deixarem ficar na satisfação de resultados já obtidos.

155. Para todos os seres humanos constitui quase um dever pensar que o que já se tiver realizado é sempre pouco, em comparação do que resta por fazer, a fim de reajustar os organismos produtivos, as associações sindicais, as organizações profissionais, os sistemas previdenciais, as instituições jurídicas, os regimes políticos, as organizações culturais, sanitárias, desportivas etc., às dimensões próprias da era do átomo e das conquistas espaciais, era, na qual já entrou a humanidade, encetando esta sua nova jornada com perspectivas de infinda amplidão.

Relações dos católicos com os não-católicos no campo econômico-social-político

156. As linhas doutrinais aqui traçadas brotam da própria natureza das coisas e, às mais das vezes, pertencem à esfera do direito natural. A aplicação delas oferece, por conseguinte, aos católicos, vasto campo de colaboração tanto com cristãos separados desta Sé Apostólica, como com pessoas sem nenhuma fé cristã, nas quais, no entanto, está presente a luz da razão e operante a honradez natural. 'Em tais circunstâncias, procedam com atenção os católicos, de modo a serem coerentes consigo mesmos e não descerem a compromissos em matéria de religião e de moral. Mas, ao mesmo tempo, mostrem espírito de compreensão desinteresse e disposição a colaborar lealmente na consecução de objetivos bons por natureza, ou que, pelo menos, se possa encaminhar para o bem'.

157. Não se deverá jamais confundir o erro com a pessoa que erra, embora se trate de erro ou inadequado conhecimento em matéria religiosa ou moral. A pessoa que erra não deixa de ser uma pessoa, nem perde nunca a dignidade do ser humano, e portanto sempre merece estima. Ademais, nunca se extingue na pessoa humana a capacidade natural de abandonar o erro e abrir-se ao conhecimento da verdade. Nem lhe faltam nunca neste intuito os auxílios da Divina Providência. Quem, num certo momento de sua vida, se encontre privado da luz da fé ou tenha aderido a opiniões errôneas, pode, depois de iluminado pela Divina Luz, abraçar a verdade. Os encontros em vários setores de ordem temporal entre católicos e pessoas que não têm fé em Cristo ou têm-na de modo errôneo, podem ser para estes ocasião ou estímulo para chegarem à verdade. (grifos meus).

158. Além disso, cumpre não identificar falsas idéias filosóficas sobre a natureza, a origem e o fim do Universo e do homem com movimentos históricos de finalidade econômica, social, cultural ou política, embora tais movimentos encontrem nessas idéias filosóficas a sua origem e inspiração. A doutrina, uma vez formulada, é aquilo que é, mas um movimento, mergulhado como está em situações históricas em contínuo devir, não pode deixar de lhes sofrer o influxo e, portanto, é suscetível de alterações profundas. De resto, quem ousará negar que nesses movimentos, na medida em que concordam com as normas da reta razão e interpretam as justas aspirações humanas, não possa haver elementos positivos dignos de aprovação? (grifos meus).

159. Pode, por conseguinte, acontecer que encontros de ordem prática, considerados até agora inúteis para ambos os lados, sejam hoje ou possam vir a ser amanhã, verdadeiramente frutuosos. Decidir se já chegou tal momento ou não e estabelecer em que modos e graus se hão de conjugar esforços na demanda de objetivos econômicos, sociais, culturais, políticos, que se revelem desejáveis e úteis para o bem comum, são problemas que só pode resolver a virtude da prudência, moderadora de todas as virtudes que regem a vida individual e social. No que se refere aos católicos, compete tal decisão, em primeiro lugar, aos que revestem cargos de responsabilidade nos setores específicos da convivência em que tais problemas ocorrem, sempre, contudo, de acordo com os princípios do direito natural, com a doutrina social da Igreja e com as diretrizes da autoridade eclesiástica. Pois ninguém deve esquecer que compete à Igreja o direito e o dever não só de salvaguardar os princípios de ordem ética e religiosa, mas ainda de intervir com autoridade junto de seus filhos na esfera da ordem temporal, quando se trata de julgar a aplicação desses princípios aos casos concretos.

Progresso gradual

160. Não faltam almas dotadas de particular generosidade que, ao enfrentar situações pouco ou nada conformes com as exigências da justiça, se sentem arder no desejo de tudo renovar, deixando-se arrebatar por ímpeto tal, que até parecem propender para uma espécie de revolução.

161. Lembrem-se, porém, de que, por necessidade vital, tudo cresce gradualmente. Também nas instituições humanas nada se pode renovar, senão agindo de dentro, passo por passo. Já nosso predecessor, de feliz memória, Pio XII o proclamava com estas palavras: 'Não é na revolução que reside a salvação e a justiça, mas sim na evolução bem orientada. A violência só e sempre destrói, nada constrói; só excita paixões, nunca as aplaca; só acumula ódio e ruínas e não a fraternidade e a reconciliação. A revolução sempre precipitou homens e partidos na dura necessidade de terem que reconstruir lentamente, após dolorosos transes, por sobre os escombros da discórdia'.

Tarefa imensa

162. A todos os homens de boa vontade incumbe a imensa tarefa de restaurar as relações de convivência humana na base da verdade, da justiça, do amor e da liberdade: as relações das pessoas entre si, as relações das pessoas com as suas respectivas comunidades políticas, e as dessas comunidades entre si, bem como o relacionamento de pessoas, famílias, organismos intermédios e comunidades políticas com a comunidade mundial. Tarefa nobilíssima, qual a de realizar verdadeira paz, segundo a ordem estabelecida por Deus.

163. Bem poucos são na verdade, em comparação com a urgência da tarefa, os beneméritos que se consagram a esta restauração da vida social conforme os critérios aqui apontados. A eles chegue o nosso público apreço, o nosso férvido convite a perseverarem em sua obra com renovado ardor. Conforta-nos ao mesmo tempo a esperança de que a eles se aliem muitos outros, especialmente dentre os cristãos. É um imperativo [categórico] do dever, é uma exigência do amor. Cada cristão deve ser na sociedade humana uma centelha de luz, um foco de amor, um fermento para toda a massa. Tanto mais o será, quanto mais na intimidade de si mesmo viver unido com Deus.

164. Em última análise, só haverá paz na sociedade humana, se esse estiver presente em cada um dos membros, se em cada um se instaurar a ordem querida por Deus. Assim interroga Santo Agostinho ao homem: 'Quer a tua alma vencer tuas paixões? Submeta-se a quem está no Alto e vencerá o que está em baixo. E haverá paz em ti, paz verdadeira, segura, ordenadíssima. Qual é a ordem dessa paz? Deus comandando a alma, a alma comandando o corpo. Nada mais ordenado'.

O Príncipe da paz

165. Estas nossas palavras sabre questões que tanto preocupam atualmente a família humana e cuja solução condiciona o progresso da sociedade, foram-nos inspiradas pelo profundo anseio que sabemos ser comum a todos os homens de boa vontade: a consolidação da paz na Terra.

166. Como representante - ainda que indigno - Daquele que o anúncio profético chamou o 'Príncipe da Paz' (Cf. Is. 9, 6), julgamos nosso dever consagrar os nossos pensamentos, preocupações e energias à consolidação deste bem comum. Mas a paz permanece palavra vazia de sentido se não se funda na ordem que, com confiante esperança, esboçamos nesta nossa carta encíclica: ordem fundada na verdade, construída segundo a justiça, alimentada e consumada na caridade, realizada sob os auspícios da liberdade.

167. Este intento é tão nobre e elevado, que homem algum, embora louvavelmente animado de toda boa vontade, o poderá levar a efeito só com as próprias forças. Para que a sociedade humana seja espelho o mais fiel possível do Reino de Deus, é grandemente necessário o auxílio do Alto.

168. É natural, pois, que nestes dias sagrados, elevemos suplicante prece a Quem com sua dolorosa paixão e morte venceu o pecado, fator de dissensões, misérias e desequilíbrios, e em seu Sangue reconciliou a humanidade com o Pai Celeste, trazendo à Terra os dons da paz: 'Porque Ele é a nossa paz: de ambos os povos fez um só... Veio e anunciou paz a vós que estáveis longe, e a paz aos que estavam perto'. (Ef. 2, 14 -17).

169. Nos ritos litúrgicos destes dias ressoa a mesma mensagem: Nosso Senhor Jesus Cristo ressurgido, de pé no meio dos seus discípulos, disse: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá" (Jo. 14, 27).

170. Esta paz, peçamo-la com ardentes preces ao Redentor Divino que no-la trouxe. Afaste Ele dos corações dos homens quanto pode pôr em perigo a paz e os transforme a todos em testemunhas da verdade, da justiça e do amor fraterno. Ilumine com Sua luz a mente dos responsáveis dos povos, para que, junto com o justo bem-estar dos próprios concidadãos, lhes garantam o belíssimo dom da paz. Inflame Cristo a vontade de todos os seres humanos para abaterem barreiras que dividem, para corroborarem os vínculos da caridade mútua, para compreenderem os outros, para perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias. Sob a inspiração da sua graça, tornem-se todos os povos irmãos e floresça neles e reine para sempre essa tão suspirada paz. (grifo meu).

171. Em penhor desta paz e fazendo votos, veneráveis irmãos, para que ela se irradie sobre as comunidades cristãs que vos estão confiadas e sirva de auxílio e defesa especialmente dos mais humildes e necessitados, concedemos de coração a bênção apostólica a vós, aos sacerdotes seculares e regulares, aos religiosos e religiosas e aos fiéis das vossas dioceses, particularmente àqueles que se esforçarão para pôr em prática estas nossas exortações. Enfim, para todos os homens de boa vontade, a quem também se destina esta nossa encíclica, imploramos de Deus Altíssimo saúde e prosperidade.

 

Dado em Roma, junto de São Pedro, na Solenidade da Ceia de Nosso Senhor, aos 11 de Abril do ano de 1963, quinto do nosso Pontificado.

 

JOÃO PP. XXIII

 

 

 

 

 

ANEXO II

 

DISCURSO DO PAPA JOÃO XXIII NA ABERTURA SOLENE DO CONCÍLIO

(11 DE OUTUBRO 1962)

 

 

Veneráveis irmãos,

Alegra-se a Santa Mãe Igreja, porque, por singular dom da Providência Divina, amanheceu o dia tão ansiosamente esperado em que solenemente se inaugura o Concílio Ecumênico Vaticano II, aqui, junto do túmulo de São Pedro, com a proteção da Santíssima Virgem, de quem celebramos hoje a dignidade de Mãe de Deus.

 

Os Concílios Ecumênicos na Igreja

Todos os Concílios celebrados na história, tanto os 20 Concílios Ecumênicos, como os inúmeros Provinciais e Regionais, também importantes, testemunham claramente a vitalidade da Igreja Católica e constituem pontos luminosos da sua história.

O gesto do mais recente e humilde sucessor de são Pedro que vos fala, de convocar esta soleníssima reunião, pretendeu afirmar, mais uma vez, a continuidade do magistério eclesiástico, para o apresentar, em forma excepcional, a todos os homens do nosso tempo, tendo em conta os desvios, as exigências e as possibilidades deste nosso tempo.

É bem natural que, inaugurando o Concílio Ecumênico, nos apraza contemplar o passado, para ir recolher, por assim dizer, as vozes, cujo eco animador queremos tornar a ouvir na recordação e nos méritos, tanto dos mais antigos, como também dos mais recentes Pontífices, nossos predecessores: vozes solenes e venerandas, elevadas no Oriente e no Ocidente, desde o século IV até à Idade Média, e desde então até aos nossos dias, que transmitiram desde aqueles Concílios o seu testemunho; vozes a aclamarem em perenidade de fervor o triunfo da instituição divina e humana, a Igreja de Cristo, que recebe dele o nome, a graça e o significado.

Mas, ao lado dos motivos de alegria espiritual, é também verdade que sobre esta história se estende ainda, por mais de 19 séculos, uma nuvem de tristeza e de provações. Não é sem motivo que o velho Simeão manifestou a Maria, Mãe de Jesus, aquela profecia, que foi e permanece verdadeira: 'Este menino está posto para ruína e para ressurreição de muitos, e será sinal de contradição' (Lc. 2, 34). E o próprio Jesus, chegando à idade adulta, fixou bem claramente a atitude que o mundo havia de continuar a tomar perante a sua pessoa através dos séculos, ao pronunciar aquelas palavras misteriosas: 'Quem vos ouve, a mim ouve'(Lc. 10, 16); e com aquelas outras, citadas pelo mesmo Evangelista: 'Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, desperdiça' (Lc. 11, 23).

O grande problema, proposto ao mundo, depois de quase dois milênios, continua o mesmo. Cristo sempre a brilhar no centro da história e da vida; os homens ou estão com ele e com a sua Igreja, e então gozam da luz, da bondade, da ordem e da paz; ou estão sem ele, ou contra ele, e deliberadamente contra a sua Igreja: tornam-se motivo de confusão, causando aspereza nas relações humanas, e perigos contínuos de guerras fratricidas.

Os Concílios Ecumênicos, todas as vezes que se reúnem, são celebração solene da união de Cristo e da sua Igreja, e por isso levam à irradiação universal da verdade, à reta direção da vida individual, doméstica e social; ao reforço das energias espirituais, em perene elevação para os bens verdadeiros e eternos.

Estão diante de nós, na sucessão das várias épocas dos primeiros 20 séculos da história cristã, os testemunhos deste magistério extraordinário da Igreja, recolhido em vários volumes imponentes: patrimônio sagrado dos arquivos eclesiásticos, tanto aqui em Roma como nas bibliotecas mais célebres do mundo inteiro.

 

Origem e causa do Concílio Ecumênico Vaticano II

No que diz respeito à iniciativa do grande acontecimento que agora se realiza, baste, a simples título de documentação histórica, reafirmar o nosso testemunho humilde e pessoal do primeiro e imprevisto florescer no nosso coração e nos nossos lábios da simples palavra 'Concílio Ecumênico'. Palavra pronunciada diante do sacro Colégio dos Cardeais naquele faustíssimo dia 25 de janeiro de 1959, festa da Conversão de São Paulo, na sua Basílica. Foi algo de inesperado: uma irradiação de luz sobrenatural, uma grande suavidade nos olhos e no coração. E, ao mesmo tempo, um fervor, um grande fervor que se despertou, de repente, em todo o mundo, na expectativa da celebração do Concílio.

Três anos de preparação laboriosa, consagrados a indagar ampla e profundamente as condições modernas da fé e da prática religiosa, e de modo especial da vitalidade cristã e católica.

Pareceram-nos como um primeiro sinal, um primeiro dom de graça celestial.

Iluminada pela luz deste Concílio, a Igreja, como esperamos confiadamente, engrandecerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energias, olhará intrépida para o futuro. Na verdade, com atualizações oportunas e com a prudente coordenação da colaboração mútua, a Igreja conseguirá que os homens, as famílias e os povos voltem realmente a alma para as coisas celestiais.

E assim, a celebração do Concílio torna a ser motivo e singular obrigação de grande reconhecimento ao Supremo Dispensador de todos os bens, por celebrarmos com cânticos de exultação a glória de Cristo Senhor, Rei glorioso e imortal dos séculos e dos povos.

 

Oportunidade de celebrar o Concílio

Há ainda um argumento, veneráveis irmãos, que não é inútil propor à vossa consideração. Para tornar mais concreta a nossa santa alegria, queremos, diante desta grande assembléia, notar as felizes e consoladoras circunstâncias em que se inicia o Concílio Ecumênico.

No exercício cotidiano do nosso ministério pastoral ferem nossos ouvidos sugestões de almas, ardorosas sem dúvida no zelo, mas não dotadas de grande sentido de discrição e de moderação. Nos tempos atuais, elas não vêem senão prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa época, em comparação com as passadas, foi piorando; e portam-se como quem nada aprendeu da história, que é também mestra da vida, e como se no tempo dos Concílios Ecumênicos precedentes tudo fosse triunfo completo da idéia e da vida cristã, e da justa liberdade religiosa.

Mas parece-nos que devemos discordar desses profetas da desventura, que anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do mundo.

No presente momento histórico, a Providência está-nos levando para uma nova ordem de relações humanas, que, por obra dos homens e o mais das vezes para além do que eles esperam, se dirigem para o cumprimento de desígnios superiores e inesperados; e tudo, mesmo as adversidades humanas, dispõe para o bem maior da Igreja.

É fácil descobrir esta realidade, se se considera com atenção o mundo hodierno, tão ocupado com a política e as controvérsias de ordem econômica, que já não encontra tempo de atentar em solicitações de ordem espiritual, de que se ocupa o magistério da santa Igreja. Este modo de proceder não é certamente justo, e com razão temos de desaprová-lo; não se pode, contudo, negar que estas novas condições da vida moderna têm, pelo menos, esta vantagem de ter suprimido aqueles inúmeros obstáculos, com os quais, em tempos passados, os filhos do século impediam a ação livre da Igreja. De fato, basta percorrer mesmo rapidamente a história eclesiástica, para verificar sem sombra de dúvida que os próprios Concílios Ecumênicos, cujas vicissitudes constituíram uma sucessão de verdadeiras glórias para a Igreja Católica, foram muitas vezes celebrados com alternativas de dificuldades gravíssimas e de tristezas, por causa da intromissão indevida das autoridades civis. Elas, é certo, propunham-se, às vezes, proteger com toda a sinceridade a Igreja; mas, as mais das vezes, isto não se dava sem dano e perigo espiritual, porque eles procediam segundo as conveniências da sua política interesseira e perigosa.

A este propósito, confessamo-vos que sentimos dor vivíssima pelo fato de muitíssimos Bispos, que nos são tão caros, fazerem hoje sentir aqui a sua ausência, por estarem presos pela sua fidelidade a Cristo, ou detidos por outros impedimentos; a sua lembrança leva-nos a elevar fervorosíssimas orações a Deus. Porém, não sem grande esperança e com grande conforto para a nossa alma, vemos que a Igreja, hoje finalmente livre de tantos obstáculos de natureza profana, como acontecia no passado, pode desta Basílica Vaticana, como de um segundo Cenáculo Apostólico, fazer sentir por vosso meio a sua voz, cheia de majestade e de grandeza.

 

Fim principal do Concílio: defesa e difusão da doutrina

O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais efetiva.

Essa doutrina abarca o homem inteiro, composto de alma e corpo, e a nós, peregrinos nesta Terra, manda-nos tender para a Pátria Celeste.

Isto mostra como é preciso ordenar a nossa vida mortal, de maneira que cumpramos os nossos deveres de cidadãos da Terra e do Céu, e consigamos, deste modo, o fim estabelecido por Deus. Quer dizer que todos os homens, tanto considerados individualmente como reunidos em sociedade, têm o dever de tender sem descanso, durante toda a vida, para a consecução dos bens celestiais, e de usarem só para este fim os bens terrenos sem que seu uso prejudique a eterna felicidade.

O Senhor disse: 'Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça' (Mt. 6,.33). Esta palavra 'primeiro' exprime, antes de mais, em que direção devem mover-se os nossos pensamentos e as nossas forças; não devemos esquecer, porém, as outras palavras desta exortação do Senhor, isto é: 'e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo' (Mt. 6, 33). Na realidade, sempre existiram, e existem ainda, na Igreja, os que, embora procurem com todas as forças praticar a perfeição evangélica, não se esquecem de ser úteis à sociedade. De fato, do seu exemplo de vida, constantemente praticado, e das suas iniciativas de caridade toma vigor e incremento o que há de mais alto e mais nobre na sociedade humana.

Mas, para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade humana, que se referem aos indivíduos, às famílias e à vida social, é necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do patrimônio sagrado da verdade, recebido dos seus maiores; e, ao mesmo tempo, deve também olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo moderno, que abriram novos caminhos ao apostolado católico.

Por esta razão, a Igreja não assistiu indiferente ao admirável progresso das descobertas do gênero humano, e não lhes negou o justo apreço, mas, seguindo estes progressos, não deixa de avisar os homens para que, bem acima das coisas sensíveis, elevem os olhares para Deus, fonte de toda a sabedoria e beleza; e eles, aos quais foi dito: 'Submetei a Terra e dominai-a' (Gn. 1,.28), não esqueçam o Mandamento gravíssimo: 'Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás' (Mt. 4, 10; Lc. 4, 8), para que não suceda que a fascinação efêmera das coisas visíveis impeça o verdadeiro progresso.

 

Como deve ser promovida a doutrina

Isto posto, veneráveis irmãos, vê-se claramente tudo o que se espera do Concílio quanto à doutrina.

O XXI Concílio Ecumênico, que se aproveitará da eficaz e importante soma de experiências jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas, quer transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios, que por vinte séculos, apesar das dificuldades e das oposições, se tornou patrimônio comum dos homens. Patrimônio não recebido por todos, mas, assim mesmo, riqueza sempre ao dispor dos homens de boa vontade.

É nosso dever não só conservar este tesouro precioso, como se nos preocupássemos unicamente da Antigüidade, mas também dedicar-nos com vontade pronta e sem temor àquele trabalho hoje exigido, prosseguindo assim o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos.

A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou outro tema da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe sempre bem presente e familiar ao nosso espírito.

Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e tranqüila adesão a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como ainda brilha nas Atas Conciliares desde Trento até ao Vaticano I, o espírito cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera um progresso na penetração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do 'depositum fidei', isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de apresentar as coisas que mais corresponda ao magistério, cujo caráter é prevalentemente pastoral.

 

Como se devem combater os erros

Ao iniciar-se o Concílio Ecumênico Vaticano II, tornou-se mais evidente do que nunca que a verdade do Senhor permanece eternamente. De fato, ao suceder uma época a outra, vemos que as opiniões dos homens se sucedem excluindo-se umas às outras e que muitas vezes os erros se dissipam logo ao nascer, como a névoa ao despontar o Sol.

A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até os condenou com a maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações. Não quer dizer que faltem doutrinas enganadoras, opiniões e conceitos perigosos, contra os quais nos devemos premunir e que temos de dissipar; mas estes estão tão evidentemente em contraste com a reta norma da honestidade, e deram já frutos tão perniciosos, que hoje os homens parecem inclinados a condená-los, em particular os costumes que desprezam a Deus e a sua lei, a confiança excessiva nos progressos da técnica e o bem-estar fundado exclusivamente nas comodidades da vida. Eles se vão convencendo sempre mais de que a dignidade da pessoa humana, o seu aperfeiçoamento e o esforço que exige é coisa da máxima importância. E o que mais importa, a experiência ensinou-lhes que a violência feita aos outros, o poder das armas e o predomínio político não contribuem em nada para a feliz solução dos graves problemas que os atormentam.

Assim sendo, a Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade também com os filhos dela separados. Ao gênero humano, oprimido por tantas dificuldades, ela diz, como outrora Pedro disse ao pobre que lhe pedia esmola: 'Eu não tenho nem ouro nem prata, mas dou-te aquilo que tenho: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda' (At. 3, 6). Quer dizer, a Igreja não oferece aos homens de hoje riquezas caducas, não promete uma felicidade só terrena; mas comunica-lhes os bens da graça divina, que, elevando os homens à dignidade de filhos de Deus, são defesa poderosíssima e ajuda para uma vida mais humana; abre a fonte da sua doutrina vivificante, que permite aos homens, iluminados pela luz de Cristo, compreender bem aquilo que eles são na realidade; a sua excelsa dignidade e o seu fim; e mais, por meio dos seus filhos, estende a toda parte a plenitude da caridade cristã, que é o melhor auxílio para eliminar as sementes da discórdia; e nada é mais eficaz para fomentar a concórdia, a paz justa e a união fraterna.

 

Promover a unidade na família cristã e humana

A solicitude da Igreja em promover e defender a verdade, deriva disso que, segundo o desígnio de Deus 'que quer salvar todos os homens e que todos cheguem ao conhecimento da verdade' (1 Tm. 2, 4), os homens não podem sem a ajuda de toda a doutrina revelada conseguir uma completa e sólida união dos espíritos, com a qual andam juntas a verdadeira paz e a salvação eterna.

Infelizmente, a família cristã, não atingiu ainda, plena e perfeitamente, esta visível unidade na verdade. A Igreja Católica julga, portanto, dever seu empenhar-se ativamente para que se realize o grande mistério daquela unidade, que Jesus Cristo pediu com oração ardente ao Pai celeste, pouco antes do seu sacrifício. Ela goza de paz suave, bem convicta de estar intimamente unida com aquela oração; e muito se alegra depois, quando vê que essa invocação estende a sua eficácia, com frutos salutares, mesmo àqueles que estão fora do seu seio. Mais ainda, se consideramos bem esta mesma unidade, impetrada por Cristo para a sua Igreja, parece brilhar com tríplice raio de luz sobrenatural e benéfica: a unidade dos católicos entre si, que se deve manter exemplarmente firmíssima; a unidade de orações e desejos ardentes, com os quais os cristãos separados desta Sé Apostólica ambicionam unir-se conosco; por fim, a unidade na estima e no respeito para com a Igreja Católica, por parte daqueles que seguem ainda religiões não-cristãs.

Quanto a isso, é motivo de tristeza considerar como a maior parte do gênero humano, apesar de todos os homens terem sido remidos pelo Sangue de Cristo, não partilhem daquelas fontes da graça divina que existem na Igreja Católica. Por isso, à Igreja Católica, cuja luz tudo ilumina e cuja força de unidade sobrenatural beneficia toda a humanidade, bem se adaptam as palavras de São Cipriano: 'A Igreja, aureolada de luz divina, envia os seus raios ao mundo inteiro; é, porém, luz única, que por toda a parte se difunde sem que fique repartida a unidade do corpo. Estende os seus ramos sobre toda a Terra pela sua fecundidade, difunde sempre mais e mais os seus regatos: contudo, uma só é a cabeça, única é a origem, uma é a mãe copiosamente fecunda; por ela fomos dados à luz, alimentamo-nos com o seu leite, vivemos do seu espírito' (De Catholicæ Ecclesiæ Unitate, 5).

Veneráveis irmãos, isto se propõe o Concílio Ecumênico Vaticano II, que, ao mesmo tempo em que une as melhores energias da Igreja e se empenha por fazer acolher pelos homens mais favoravelmente o anúncio da salvação, como que prepara e consolida o caminho para aquela unidade do gênero humano, que se requer como fundamento necessário para que a cidade terrestre se conforme à semelhança da celeste 'na qual reina a verdade, é lei a caridade, e a extensão é a eternidade' (Cf. Santo Agostinho, Epist. CXXXVIII, 3).

 

Conclusão

E agora, 'dirige-se a vós a nossa voz' (2 Cor. 6, 11), Veneráveis Irmãos no Episcopado. Eis-nos, finalmente, todos reunidos nesta Basílica Vaticana, onde está o eixo da história da Igreja: onde o Céu e a Terra estão estreitamente unidos, aqui junto do túmulo de Pedro, junto a tantos túmulos dos nossos Santos Predecessores, cujas cinzas, nesta hora solene, parecem exultar com frêmito arcano.

O Concílio, que agora começa, surge na Igreja como dia que promete a luz mais brilhante. Estamos apenas na aurora: mas já o primeiro anúncio do dia que nasce de quanta suavidade não enche o nosso coração! Aqui tudo respira santidade, tudo leva a exultar! Contemplemos as estrelas, que aumentam com seu brilho a majestade deste templo; aquelas estrelas, segundo o testemunho do Apóstolo São João (Ap. 1, 20) sois vós mesmos; e convosco vemos brilhar aqueles candelabros dourados à volta do sepulcro do Príncipe dos Apóstolos, isto é, as igrejas a vós confiadas.

Vemos, ao vosso lado, em atitude de grande respeito e de expectativa cheia de simpatia, essas digníssimas personalidades aqui presentes, chegadas a Roma dos cinco continentes, para representarem as nações do mundo.

Pode dizer-se que o Céu e a Terra se unem na celebração do Concílio: os santos do Céu, para proteger o nosso trabalho; os fiéis da Terra, continuando a rezar a Deus; e vós, fiéis às inspirações do Espírito Santo, para procurardes que o trabalho comum corresponda às esperanças e às necessidades dos vários povos. Isto requer da vossa parte serenidade de espírito, concórdia fraterna, moderação nos projetos, dignidade nas discussões e prudência nas deliberações.

Queira o Céu que as vossas canseiras e o vosso trabalho, para o qual se dirigem não só os olhares de todos os povos, mas também as esperanças do mundo inteiro, correspondam plenamente às aspirações comuns.

Deus todo-poderoso, em vós colocamos toda a nossa esperança, desconfiando das nossas forças. Olhai benigno para estes Pastores da Vossa Igreja. A Luz da Vossa Graça sobrenatural nos ajude a tomar as decisões e a fazer as leis, e ouvi todas as orações que vos dirigimos com unanimidade de fé, de palavra e de espírito.

Ó Maria, auxílio dos cristãos, auxílio dos Bispos, de cujo amor tivemos recentemente uma prova especial no vosso templo de Loreto, onde tivemos o prazer de venerar o mistério da Encarnação, disponde todas as coisas para um feliz resultado, e, juntamente com o Vosso Esposo São José, com os santos apóstolos São Pedro e São Paulo, com São João Batista e São João Evangelista, intercedei por nós junto de Deus.

A Jesus Cristo, amabilíssimo Redentor nosso, Rei imortal dos povos e do tempo, amor, poder e glória pelos séculos dos séculos. Assim seja!

 

 

 

 

ANEXO III

MENSAGEM DO SANTO PADRE
PARA A CELEBRAÇÃO DO
37° DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

TEMA: Os Meios de Comunicação Social
ao Serviço da Paz Autêntica, à Luz da Pacem in Terris

(1º junho 2003)

 

Queridos Irmãos e Irmãs

1. Nos dias obscuros da Guerra Fria, a Carta Encíclica 'Pacem in Terris', do Beato Papa João XXIII, tornou-se um farol de esperança para os homens e as mulheres de boa vontade. Declarando que a paz autêntica «não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus» (Pacem in Terris, 1), o Santo Padre indicou a verdade, a justiça, a caridade e a liberdade como os pilares de uma sociedade pacífica (Cf. ibid., n. 37).

A manifestação do poder das comunicações sociais modernas constituiu uma parte importante dos pressupostos desta Encíclica. O Papa João XXIII pensava de maneira muito particular nos 'mass media', quando exortou «à justiça e à imparcialidade» na utilização dos «das modernas invenções técnicas, tendentes a favorecer um maior conhecimento recíproco entre os povos», oferecidas pela ciência e pela tecnologia; além disso, denunciou «os métodos de informação que, violando a justiça e a verdade, firam o bom nome de algum povo» (Cf. ibid., n. 90).

2. Hoje, ao celebrarmos o 40º aniversário da Encíclica 'Pacem in Terris', a divisão dos povos em blocos opostos é sobretudo uma recordação dolorosa do passado, mas ainda faltam paz, justiça e estabilidade social em numerosas partes do mundo. O terrorismo e o conflito no Médio Oriente e noutras regiões, as ameaças e as contra-ameaças, a injustiça, a exploração e os ataques contra a dignidade e a santidade da vida humana, tanto antes como depois do nascimento, constituem algumas das realidades consternadoras do nosso tempo.

Entretanto, o poder que os 'mass media' têm, de delinear os relacionamentos humanos e de influenciar a vida política e social, tanto no bem como no mal, aumentou enormemente. Daqui, a oportunidade do tema escolhido para o 37º Dia Mundial das Comunicações: «Os meios de comunicação social ao serviço da paz autêntica, à luz da 'Pacem in Terris'». O mundo e os 'mass media' ainda têm muito a aprender da mensagem do Beato Papa João XXIII.

3. Os 'mass media e a verdade'. O requisito moral fundamental de toda a comunicação é o respeito pela verdade e o seu serviço. A liberdade de procurar e de dizer a verdade é essencial para a comunicação humana, não apenas no que se refere aos fatos e às informações mas também, e de maneira especial, no que diz respeito à natureza e ao destino da pessoa humana, à sociedade, ao bem comum e ao nosso relacionamento com Deus. Os 'mass media' têm uma responsabilidade iniludível neste sentido, uma vez que constituem o foro moderno em que as idéias são compartilhadas e as pessoas podem crescer em compreensão mútua e em solidariedade. Este é motivo pelo qual o Papa João XXIII defendia o direito «à liberdade na pesquisa da verdade e, dentro dos limites da ordem moral e do bem comum, à liberdade na manifestação e na difusão do pensamento» como condições necessárias para a paz social (Pacem in Terris, 12).

Com efeito, os 'mass media' prestam com freqüência um serviço intrépido à verdade; contudo, às vezes funcionam como agentes de propaganda e de desinformação ao serviço de interesses limitados, de preconceitos nacionais, étnicos, raciais e religiosos, de avidez material e de falsas ideologias de vários gêneros. É imperativo que as pressões exercidas neste sentido sobre os 'mass media', em ordem a levá-los a cometer tais erros, sejam contrastadas, em primeiro lugar, pelos homens e pelas mulheres dos próprios meios de comunicação, mas também pela Igreja e pelos outros grupos interessados.

4. Os 'mass media' e a justiça. O Beato Papa João XXIII falou com eloqüência, na 'Pacem in Terris', sobre o bem humano universal – ou seja, «o bem comum universal» (Ibid., n. 132) – em que cada indivíduo e todos os povos têm o direito de participar.

O alcance mundial dos 'mass media' acarreta consigo particulares responsabilidades a este respeito. Enquanto é verdade que os 'mass media' pertencem com freqüência a grupos de interesse, particulares e públicos, a própria natureza do seu impacto sobre a vida exige que eles não sirvam para pôr uns grupos contra os outros – por exemplo, em nome da luta de classe, do nacionalismo exasperado, da supremacia racial, da purificação étnica, e assim por diante. Pôr uns contra os outros em nome da religião é uma falta particularmente grave contra a justiça, da mesma forma que é o tratamento discriminatório das crenças religiosas, dado que estas pertencem à índole mais profunda da dignidade e da liberdade da pessoa humana.

Anunciando com fidelidade os acontecimentos, explicando corretamente os problemas e apresentando de maneira imparcial os vários pontos de vista, os 'mass media' têm o dever rigoroso de promover a justiça e a solidariedade nos relacionamentos humanos, a todos os níveis da sociedade. Isto não significa atenuar indevidamente as injustiças e as divisões; mas ir até às suas origens, de tal maneira que as mesmas possam ser compreendidas e emendadas.

5. Os 'mass media' e a liberdade. A liberdade é uma condição prévia para a paz verdadeira, assim como um dos seus frutos mais preciosos. Os 'mass media' servem à liberdade, quando servem à verdade: e impedem a liberdade, na medida em que se separam da verdade, difundindo falsidades ou criando um clima de reação emotiva malsã diante dos acontecimentos. Somente se tiverem acesso livre às informações verdadeiras e suficientes, é que as pessoas poderão procurar o bem comum e considerar as autoridades públicas responsáveis.

Se os 'mass media' quiserem servir a liberdade, deverão ser eles mesmos livres e utilizar tal liberdade corretamente. A sua condição privilegiada obriga os 'mass media' a elevar-se acima das solicitudes meramente comerciais e a servir as verdadeiras necessidades e interesses da sociedade. Embora uma certa regulamentação pública dos 'mass media' em relação aos interesses do bem comum seja apropriada, o controle governamental não é oportuno. Os jornalistas e, de modo particular, os comentadores, têm o grave dever de seguir as instâncias da sua consciência moral e de resistir às pressões de «adaptar» a verdade para satisfazer as exigências da riqueza ou do poder político.

Em nível concreto, devem encontrar-se modos não só de permitir que os setores mais frágeis da sociedade tenham acesso às informações de que precisam para o seu desenvolvimento individual e social, mas também de assegurar que eles não sejam excluídos de um papel efetivo e responsável em ordem a decidir os conteúdos mediáticos e a determinar as estruturas e políticas das comunicações sociais.

6. Os 'mass media' e a caridade. «A ira do homem não produz a justiça de Deus» (Tg.1, 20). No ápice da Guerra Fria, o Beato Papa João XXIII exprimiu este pensamento, simples mas profundo, sobre o que o caminho para a paz pressupõe: «Isto requer que, em vez do critério de equilíbrio em armamentos, que hoje mantém a paz, se abrace o princípio segundo o qual a verdadeira paz entre os povos não se baseie em tal equilíbrio, mas exclusivamente na confiança mútua» (Pacem in Terris, 113).

Os meios de comunicação são fatores-chave no mundo contemporâneo e têm um papel muito importante a desempenhar na formação desta confiança. O seu poder é tão grande que, em poucos dias, eles podem criar uma reação pública positiva ou negativa em relação aos acontecimentos, segundo as suas finalidades. As pessoas sensatas compreenderão que este enorme poder exige os mais elevados padrões de compromisso com a verdade com a justiça. Neste sentido, os homens e as mulheres que trabalham nos 'mass media' devem contribuir de maneira especial para a paz em todas as partes do mundo, rompendo as barreiras da desconfiança, promovendo a consideração dos pontos de vista dos outros, procurando sempre aproximar os povos e as nações na compreensão e no respeito recíprocos e – para além da compreensão e do respeito – na reconciliação e na misericórdia! «Onde predominam o ódio e a sede de vingança, onde a guerra causa o sofrimento e a morte dos inocentes, é necessária a graça da misericórdia para aplacar as mentes e os corações, e para fazer reinar a paz» (Homilia no Santuário da Misericórdia Divina em Cracóvia-Lagiewniki [Polônia], 17 de Agosto de 2002, n. 5).

Embora tudo isto seja um grande desafio, não significa de modo algum que é demasiado pedir aos homens e às mulheres dos 'mass media' que o enfrentem. Com efeito, por vocação e por profissão, eles são chamados a se tornar agentes da verdade, da justiça, da liberdade e do amor, contribuindo com o seu importante trabalho para uma ordem social «fundada na verdade, construída segundo a justiça, alimentada e consumada na caridade, realizada sob os auspícios da liberdade» (Pacem in Terris, 166). Por conseguinte, a minha oração no Dia Mundial das Comunicações deste ano é para que os homens e as mulheres dos 'mass media' estejam cada vez mais plenamente à altura do desafio da sua vocação: o serviço ao bem comum universal. O seu cumprimento pessoal e a paz e a felicidade do mundo dependem em grande medida disto. Deus os abençoe com a luz e a coragem.

Vaticano, 24 de Janeiro de 2003, Festividade de São Francisco de Sales.

JOANNES PAULUS II

 

 

 

 

ANEXO IV

AOS ENTES QUERIDOS DE SABRA E SHATILA

Por Ramzy Baroud - 19/09/02

 

Como vocês, também nasci e me criei em um campo de refugiados. Cresci com poucos brinquedos mas com muitos aniversários de massacres para comemorar. Juntamente com meus companheiros, comemorei, entoei os nomes de seus entes queridos, os de perto e os de longe, que morreram durante nossa luta justa para viver em liberdade.

Eu tinha apenas 10 anos quando o Imã de nossa Mesquita, com a voz embargada, transmitiu a notícia através dos alto-falantes, de um massacre. Eu tinha apenas 10 anos, mas ainda sinto a angústia que senti naquele dia. Meu pai chorou feito criança. Minha mãe me agarrou e a meus irmãos e se sentou silenciosamente. Nossos vizinhos se reuniram em busca de notícias, alguns chorando, até mesmo aqueles que costumam dizer 'homem que é homem não chora'.

Cresci trazendo no coração aquela lembrança. Sabia que Sabra e Shatila não eram as primeiras em que aquele tipo de crime tinha sido realizado contra a minha gente. O tempo também se encarregou de mostrar que não seria o último. Mas Sabra e Shatila foram o símbolo da desumanidade de nossos torturadores e um símbolo de nosso desafio, resistência e insistência que não deixaremos que se desvaneça jamais.

Vocês se arrastaram dos destroços de suas casas para serem testemunhas daquele momento de horror, um momento crítico que definiu quem são vocês até hoje, e definiu a apatia deste mundo injusto. (grifo meu).

Vocês se sentaram e choraram. Vocês contaram aos jornalistas o que aconteceu naquele dia. Vocês imploraram ao mundo que 'fizesse alguma coisa'. Vocês não precisavam transmitir nada. O mundo sabia muito bem o que tinha acontecido. Os americanos sabiam muito bem o que tinha acontecido. Até os israelenses sabiam muito bem o que tinha acontecido.

Mas, ainda assim, nada fizeram!

Israel assassinou seus entes queridos. Ariel Sharon, o festejado 'guerreiro' de Israel, falou abertamente como ele enviou os falangistas cristãos para 'limpar' o campo, para erradicar os 'terroristas'. Sharon queria estabelecer um exemplo para os militantes da OLP, cuja partida do Líbano tinha sido arrumada pelos Estados Unidos, os mesmos Estados Unidos que haviam prometido protegê-los e não conseguiram, os mesmos Estados Unidos que agora chamam o culpado de homem de paz.

Vocês estavam vulneráveis quando os soldados israelenses fecharam seus campos, bloquearam as passagens que os levariam para a segurança e os ataques vieram do céu e da terra. Vocês deviam saber que um novo crime estava prestes a acontecer, quando os israelenses iluminaram os campos em todas as direções naquela noite fatídica, permitindo que os falangistas dentro do campo cumprissem a ordem: matar. (grifo meu).

Morro só de imaginar os seus sentimentos quando ouviram os soldados indo de casa em casa. Aproximando-se da de vocês.

Ninguém pode recordar, a não ser vocês que viveram aqueles momentos, as vozes ensangüentadas das mães implorando aos soldados que poupassem seus filhos, e as vozes das crianças chorando antes de serem esfaqueadas ou baleadas.

Durante 20 anos, vocês procuraram por justiça, esperaram em seus campos de refugiados, em desespero e na pobreza, muito perto das sepulturas comuns onde seus entes queridos foram enterrados, muito perto da Palestina, para onde vocês ainda esperam retornar.

Meus irmãos, 20 anos se passaram e a liberdade e a justiça estão longe de ser encontradas. (grifo meu).

Acabamos de comemorar o aniversário de seu massacre e nosso povo na Cisjordânia ainda está vivendo um mortal toque de recolher, e nosso povo em Gaza está enjaulado, cercado de arame farpado e de soldados furiosos.

Mas, por que ainda me lembro de vocês como se o massacre tivesse ocorrido ontem? É porque seus assassinos ainda estão livres, liderando novas guerras, novos massacres? Ou será porque nossa memória é nosso patrimônio, ela abastece nossa resistência, obriga a sobrevivência da nossa luta justa por liberdade?

Desde criança até hoje, eu comemorei o aniversário de seu massacre. Eu costumava escrever pequenas estórias para as minhas aulas de árabe na escola básica, falando de sua dor. Na minha juventude, escrevi poesia sobre vocês e agora comemoro seu aniversário com um artigo, esperando que eu possa transmitir a estória de vocês para aqueles que não conhecem nada sobre a sua dor.

Eu assinei cada petição que me pediram para assinar, para processar Sharon. Escrevi para a ONU, para a Casa Branca, para 'meus representantes', para o Governo Belga, para os grupos de direitos humanos, para cada um que eu achei por um segundo que poderia ajudar a sua causa. Ainda aguardo a resposta.

Portanto, desta vez, decidi escrever para vocês só para dizer 'caros entes queridos: não os esquecerei. Porque se o fizer, terei esquecido quem eu sou, terei abandonado minha natureza humana, terei abandonado meu direito de retorno e o de vocês'.

Publicado no Islamic Association for Palestine (IAP)

 

 

 

 

ANEXO V

The Merciless Killing of Nicholas Berg
by Marwa Elnaggar

 

Disgusting. Unacceptable. Outrageous. Just as the abuse of Iraqi prisoners by US and UK soldiers shocked and angered me, the merciless killing of Nicholas Berg has left me reeling. How can any human being do that to any other human being?

I am a Muslim and therefore, I can not accept that acts like these are done in the name of Islam. Even animals are treated better in Islam!

In the video the people who perpetrated this crime say that it is Abu Musab Al-Zarqawi who slayed Berg. If it really was him, I wish I could ask Abu Musab one question: Who gave him the authority to act and speak on behalf of Islam and more than one billion Muslims?

I am no scholar, but I am a Muslim, and I do know that Islam does not condone this kind of behavior. Don’t get me wrong - I am opposed to the US occupation of Iraq and I support the people of Iraq in their fight to expel the occupation forces. But at the same time, does a brutal and illegal occupation really justify such behavior?

Iraqis themselves are condemning the killing. Deputy Head of the Islamic Party Iyaad Samarrai said the abhorrent treatment of Iraqi prisoners by US soldiers should never give an excuse for treating US prisoners the same way.

At the same time, Berg’s story raises important questions. According to CNN, Berg went to Iraq in December 2003 and returned home in February 2004. He then returned to Iraq in March. On March 24 all contact between him and his family was stopped. A few days later, “the FBI showed up at the family home in Pennsylvania and told the Bergs their son had been picked up by Iraqi police in Mosul and transferred to US authority. That was all the information the family received.” He was released April 6.

Why was Berg arrested by Iraqi police? What did the Americans do with him when he was transferred to them? Why did he spend 13 days in US custody without being charged with any crime?

And why did his killers release the news of his death now in the midst of the uproar around Iraqi POW abuse? How relieved is Rumsfeld by the news of Berg’s death?

Unfortunately, these questions will most probably remain unanswered. Those who know the truth can mock them and smirk in their knowledge, or maybe suffer silently with their personal nightmares. For the rest of us, all we see is injustice and suffering.

I fear that the victim of crimes like the slaying of Berg inevitably becomes Islam and the Muslims. It’s a sad state of affairs, because this unspoken system of collective punishment does great injustice to both Islam as a religion of humanity and mercy and to Muslims as human beings. It’s hard to try to balance the picture. The media obviously gives more attention to the crimes of a few - be they Muslim or not - and little or not attention whatsoever to more positive examples.

Case in point: a few weeks ago, the British activist Jo Wilding, was captured by Iraqi fighters in Fallujah . In her web-diary, she talks of the incident and how one of her friends, who was taken sick at the time was treated by their captors:

Billie’s not well, hot and sick. She lies down on the cushions, head on her arm. The fighter brings a pillow and gently lifts her head onto it, takes all the stuff off the cushions so he can fold the blanket over her. The other one brings a cotton sheet and unfolds the blanket, covers her with the sheet and then replaces the blanket around her: tucked in by the Mujahedin.

Jo’s account of her capture was not picked up by the media - not enough blood and gore, perhaps? Or maybe the Muslims in this case didn’t fit the “bad guy” stereotype the media has created and maintained.

Whatever the reason, the violence continues, and we will keep pointing fingers at each other, each of us claiming that the other is responsible as if this is some child’s tag game gone grotesquely wrong. I just wonder if it will one day be safe to read the newspaper or watch the news without worrying about being bombarded with images of inhumanity and suffering.

 

Marwa Elnaggar is staff writer and editor of IslamOnline’s Introducing Islam page. She holds an MA in English and Comparative Literature and occasionally writes poetry. She  can  be reached at

peopleagainstprisonerabuse@islamonline.net

 

 

 

 

PACEM IN TERRIS

PACEM IN TERRIS

PACEM IN TERRIS

PACEM IN TERRIS

PACEM IN TERRIS

PACEM IN TERRIS

PACEM IN TERRIS

 

AUM MANI PADME HUM

AUM MANI PADME HUM

AUM MANI PADME HUM

 

.'. Está Selado .'.

 

 

.'. AMeN .'.