Francis
Bacon (Londres, 22 de janeiro de 1561 – Londres, 9 de abril de 1626)
foi um político, filósofo e ensaísta inglês.
Foi, maiormente, um dos mais conhecidos e influentes Rosacruzes e também
um Alquimista, tendo ocupado o posto mais elevado da Ordem Rosacruz –
o de Imperator dos Rosacruzes do século XVII. Estudiosos apontam
Bacon como sendo o real autor dos famosos Manifestos Rosacruzes, Fama
Fraternitatis (1614), Confessio Fraternitatis (1615) e
Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz (1616). Sua
principal obra filosófica é o Novum Organum.
Este
despretensioso ensaio é a continuação do estudo Francis
Bacon (Alguns Apotegmas I), que pode ser consultado no endereço:
http://paxprofundis.org/
livros/aforismos/aforismos.htm
Apotegmas
Baconianos
A
infeliz situação em que se encontra a ciência humana
transparece até nas manifestações do vulgo. Afirma-se
corretamente que o verdadeiro saber é o saber pelas causas. E, não
indevidamente, estabelecem-se quatro coisas: a matéria, a forma,
a causa eficiente, a causa final. Destas, a causa final longe está
de fazer avançar as ciências, pois na verdade as corrompe;
mas pode ser de interesse para as ações humanas. A descoberta
da forma tem-se como impossível. E a causa eficiente e a causa material
(tal como são investigadas e admitidas, isto é, como remotas
e sem o processo latente no sentido da forma) são de pouca utilidade
e superficiais, em nada beneficiando a ciência verdadeira e ativa.
Não nos esquecemos, porém, de antes ter notado e procurado
sanar o erro da mente humana que consiste em atribuir à forma o afirmado
da essência. Ainda que em a Natureza, de fato, nada mais exista do
que corpos individuais que produzem atos puros individuais, segundo uma
lei, na ciência é essa mesma lei, bem assim a sua investigação,
na descoberta e explicação, que se constitui no fundamento
para o saber e para a prática. Pelo nome de forma entendemos essa
lei e seus parágrafos, mormente porque tal vocábulo é
de uso comum e se tornou familiar.
Quer
ter amigos? Procure nos bons livros. Eles são os amigos verdadeiros;
não bajulam nem dissimulam.1
Axioma
do saber:
Que se descubra outra natureza que seja conversível à natureza
dada; e que, ainda, seja a limitação de uma natureza mais
geral à maneira de um verdadeiro gênero.
Em
toda geração ou transformação de corpos, é
necessário investigar o que se perde e volatiliza; o que permanece
ou se acrescenta; o que se dilata e o que se contrai; o que se une e o que
se separa; o que continua e o que se divide; o que impele e o que retarda;
o que domina e o que sucumbe; e muitas outras coisas.
O dinheiro é um bom criado,
mas um mau senhor.
O dinheiro é como o adubo;
não é bom se não for distribuído.
Os homens temem a morte como as crianças
temem o escuro, e ambos esses medos são aumentados pelas histórias
que se lhes contam.
De
vez que toda ação natural se cumpre em mínimos graus
ou pelo menos em proporções que não chegam a ferir
os sentidos, ninguém poderá governar ou transformar a Natureza
antes de havê-lo devidamente notado e compreendido.
Não há solidão
mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que
o mundo pareça um deserto.
Nenhum
corpo pode ser dotado de uma nova natureza ou ser transformado, com acerto
e sucesso, em outro corpo, sem um completo conhecimento do corpo que se
quer alterar ou transformar. Sem o que, acabarão sendo usados procedimentos
vãos ou, pelo menos, difíceis, penosos e impróprios
para a natureza do corpo em que se opera.
Quanto
mais a investigação se dirige às naturezas simples
tanto mais se aplainam e se tornam perspicazes as coisas, passando o objeto
do multíplice ao simples, do incomensurável ao comensurável,
do insensível ao calculável, do infinito e vago ao definido
e certo, como ocorre com as letras do alfabeto e com as notas da música.
Não há comparação
entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar.
A leitura torna o homem completo;
a conversação torna-o ágil; e o escrever dá-lhe
precisão.
As pessoas preferem acreditar naquilo
que elas preferem que se seja verdade.
É
necessário
analisar e decompor, de forma completa, a Natureza, não certamente
pelo fogo, mas com a mente, que é uma espécie de Centelha
Divina.
Nunca
há excesso na caridade.

Depois
de haver considerado a Natureza em sua unidade, que é o principal,
depois no seu devido lugar, tratar-se-á das divisões e ramificações
da Natureza, tanto das ordinárias quanto das internas e mais verdadeiras.
(Grifo
meu).
Toda obra deve se voltar inteiramente
para a investigação e a observação das semelhanças
e das analogias, seja no todo ou nas partes. Estas são, com efeito,
as que conferem unidade à natureza e dão início à
constituição da ciência.
Não
se deve desistir da investigação enquanto as propriedades
e as qualidades que se encontram nas coisas – e podem ser consideradas
espantosas em a Natureza – não fiquem reduzidas ou compreendidas
segundo alguma forma ou lei certa, de maneira a ficar indicado que todo
fenômeno irregular e singular depende de alguma forma comum. E que
o milagre, enfim, seja colocado na dependência de apenas algumas diferenças
específicas bem determinadas, e num grau e numa proporção
raríssimos, e não na dependência da própria espécie.
Os
erros em um determinado passo abrem caminho a erros e desvios por toda parte.
A
admiração é filha da raridade; e as
coisas raras, mesmo que em seu gênero procedam de naturezas vulgares,
provocam a imaginação.
Tudo o que afasta o intelecto das
coisas habituais aplaina e nivela a sua superfície para a recepção
da luz seca e pura das noções verdadeiras.
A prosperidade não está
isenta de muitos temores e desprazeres; a adversidade não está
desprovida de conforto e de esperança.
Há
um princípio, que constitui um dos fundamentos dos experimentos mágicos,
que é o seguinte: uma pequena quantidade de matéria supera
e reduz à sua ordem um corpo de massa muito maior apenas quando se
pode fazer com que um movimento, pela sua velocidade, se antecipe ao surgimento
de outro movimento.
Em toda investigação
da Natureza deve ser observada a quantidade do corpo (a sua dose) que é
exigida para um determinado efeito, e toda cautela deve ser empregada em
relação ao muito
e ao pouco.
As
coisas escapam aos sentidos devido a várias causas: pela distância
em que está colocado o objeto; pela intervenção de
outros corpos entre o objeto e os sentidos; pela natureza do objeto não
facilitar a sua percepção; pela dimensão muito pequena
do objeto, não chegando a impressionar os sentidos; por não
haver tempo suficiente para impressionar os sentidos; e pela prévia
ocupação dos sentidos por outro objeto, não possibilitando
nova impressão.
Não
nos devemos deter em coisas genéricas, pois é necessário
que se faça uma investigação a respeito da efetiva
relação da quantidade do corpo com o modo da virtude.
Os
apetites do bem privado não prevalecem, na maioria dos casos, sobre
os apetites do bem público.
Proceda-se,
na universalidade das coisas, à escolha daquilo que melhor serve
aos usos da vida.
Muito
seria aumentado o poder do homem se, por meio do calor, se conseguisse produzir
artificialmente as obras da Natureza, por participação do
tempo, na sua espécie, aperfeiçoadas na sua virtude e modificadas
na sua massa.
Votamos
perpétuo ódio a toda vaidade e a toda pretensão vã,
combatendo-as com todas as nossas forças.
Pelo
pecado o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas.
Ambas as perdas podem ser reparadas, mesmo que em parte, ainda nesta vida;
a primeira com a religião e com a fé, a segunda com as artes
e com as ciências. Pois a maldição divina não
tornou a criatura irreparavelmente rebelde; mas, em virtude daquele diploma
comerás do pão com o suor de tua fronte, por
meio de diversos trabalhos (certamente não pelas disputas ou pelas
ociosas cerimônias mágicas), chega, enfim, ao homem, de
alguma parte, o pão que é destinado aos usos da vida humana.
(Grifo
meu).