Este
trabalho é a continuação e a conclusão de um
estudo circunstanciado que fiz sobre a Bhagavad Gita. Para sua
elaboração, foram consultados diversos Websites e
Páginas da Internet, mas a fonte principal desta pesquisa foi a obra
Srimad Bhagavad Gita – Bhagavan Sri Krishna levada a cabo
por Haydée Touriño Wilmer, publicação em português
de 2002 que acrescenta 8 capítulos aos 18 capítulos da Gita
tradicionalmente conhecida, isto é, esta versão possui 26
capítulos e 745 slokas (versículos).
A
divulgação da segunda parte deste sintético
estudo, tanto quanto a primeira parte, objetiva oferecer um momento de meditação
– um momento sagrado de comunhão com o que se possa entender
como O Mais Sublime em nosso interior – pois se, em um sentido, somos
todos seres individuais, singulares, por outro, somos e seremos irredutivelmente
e ad semper unos no e com o Todo-Sempre-Todo. Como afirmei na primeira
parte, obviamente, esta continuação também não
substitui ou corrompe os princípios místico-metafísicos
contidos na Gita, que, salvo melhor juízo, poderá
ser lida integralmente por aquele que desejar conhecer as palavras do Senhor
Krishna compiladas por Krishna Dvaipayana Vyasadeva.
Os
comentários entre colchetes e
eventuais citações, apostos a
alguns fragmentos, são meramente entendimentos pessoais que podem
ser desprezados na leitura dos excertos, tanto quanto as notas apresentadas
ao final do texto; evidentemente, minha intenção não
foi corrigir ou modificar o conteúdo da Gita, ainda que,
eventualmente, umas poucas edições do texto (para mera adaptação
a este tipo de trabalho) tenham sido feitas, sem, contudo, modificar em
nada sua mensagem original.
Espero,
sinceramente, que o leitor que está entrando em contato pela primeira
vez com esta Sabedoria multimilenar seja estimulado a proceder à
leitura integral da Gita, que é, apenas, um capítulo
do épico hinduísta Mahabhárata, e que, ainda
assim, sob nenhum aspecto, poderia estar condensada neste despretensioso
rascunho.
Peço
desculpas pelos equívocos que eu involuntariamente possa ter cometido.
A
bibliografia, todas as páginas da Internet e todos os Websites
consultados estão listados ao final do texto.
Por
último, convido e recomendo, antes de ser procedida a leitura-estudo
desta segunda parte, que seja examinada a primeira parte, que pode ser lida
em um dos endereços abaixo:
http://svmmvmbonvm.org/vyasadeva.pdf
http://paxprofundis.org/livros/vyasa/deva.htm
Bhagavad
Gita
(Fragmentos Escolhidos)
—
Parte
II —
O aspirante [só] alcançará
a Realização Espiritual2 praticando
os diversos
atos que conduzem a Ela.
Ó Bhárata!, assim como o único Sol
ilumina o mundo inteiro, do mesmo modo a manifestação do Princípio
da Vida3 ilumina4 [Illumina]
o processo samsárico5 mundanal em todo o Cosmo.
Samsara
Assim como o expansivo céu (éter)
não é limitado em virtude de sua sutileza, assim o Princípio
da Vida, embora atuando no corpo (no processo samsárico mundanal)
em todas as condições, não é maculado nem limitado
por isso.
O Cosmo infinito6
emana da Plenitude7; por esta Plenitude Ele evoluciona;
nesta Plenitude o infinito Cosmo se sublima – somente esta Plenitude
permanece.
O aspirante cuja única alegria é
a Realização espiritual, cuja Mente alcançou a tranqüilidade8,
e que encontra o êxtase no Athma, para ele não existe fruto
da ação, ocupando-se sempre impessoalmente em atos necessários
e legítimos.
Mente
Livre
Teu dever consiste em executar somente
ações legítimas sem jamais considerar seus frutos;
não te apegues nem sequer ao fruto da ação legítima,
nem te deixes dominar pela tendência a omitir ou desistir da ação
justa.9
O aspirante deve enaltecer-se por meio de
uma Mente desapaixonada, sem se deixar cair em desalentos mentais; em verdade,
a Mente é sua própria amiga, porém, ela pode ser igualmente
sua inimiga.
Desejo e aversão, prazer e dor, contatos
dos Sentidos, Inteligência (ou Consciência) e Faculdade Sintetizadora10
–
tudo isto, coletiva e separadamente, constitui o Kshetra ou unidade corporal
(ou o Cosmo).
As armas (os elementos de Prithivi, ou terra)
não ferem o Princípio da Vida; o fogo não O queima;
a água não O molha; nem o vento O seca.11
Para o nascido a morte é certa, e para o
que morre o nascimento é uma certeza; portanto, não há
justificativa para que te aflijas por aquilo que é inevitável.11a
Ó Kaunteya!, não
deixes de fazer a ação necessária, ainda que ela seja
manchada pelo desejo de seu fruto, pois todas as atividades estão
assim manchadas, como a chama o está pela fumaça.12
Ação
Necessária
O aspirante que reconhece que
todas as ações são efetuadas por meio da atividade
próxima de Prakriti,13 compreende, conseqüentemente,
que o Princípio da Vida não é o executor, senão
somente a Causa remota da ação.
Aqueles, cujo discernimento átmico
está obscurecido por desejos pessoais, adoram... a muitos Devas seguindo
disciplinas particulares, e, por isso, estão sujeitos à influência
trigúnica14
dos próprios Devas.15
Se alguém, apesar de haver estado anteriormente
sob o domínio de conduta asúrica,16 chegasse
a ser inteiramente devotado a Mim [o Deus de seu Coração],
seria considerado como um Sadhu.17
Um devoto Yogue, que sempre
se regozija no Athma, com Mente disciplinada e firmeza de convicção,
havendo dedicado a Mim [o Deus de seu Coração] seu
Manas18 e seu Buddhi,19 está
livre de ódios, é amistoso com todos os seres, é compassivo
e é desprendido; não é egoísta, transcende o
prazer e a dor e sua natureza está sempre disposta ao perdão.
[Este fragmento foi editado dos slokas 12 e 13 do capítulo
XXIII da Gita, o Bhakti Dharma Gita.]
Um devoto Yogue não tem
qualquer interesse pessoal ao praticar atos justos, nem ao não praticar
atos injustos; tampouco há nele, verdadeiramente, qualquer expectativa
pessoal, de qualquer classe, em sua atuação no processo samsárico
mundanal. [Isto, em outras palavras, significa que um verdadeiro Místico
só age movido por Imperativos Categóricos, jamais por imperativos
hipotéticos. Immanuel Kant (1724–1804), nos Fundamentos
da Metafísica dos Costumes, deixou gravado: Existe tão-só
um Imperativo Categórico, que é este: Age somente, segundo
uma máxima tal, que possas querer, ao mesmo tempo, que se torne Lei
Universal. Em uma passagem do Mahabhárata,
está escrito: Este é o resumo de todos os deveres:
não façais nada aos outros que, se fosse feito a vós,
vos causasse mágoa. Maomé também sentenciou: Nenhum
de vós é um crente até quererdes para o vosso vizinho
aquilo que quereis para vós. E Siddhartha Gautama, séculos
antes, asseverou: Não magoeis os outros com aquilo que vos magoa
a vós.]
A pessoa que tem discernimento
sintético não deve perturbar, necessariamente, o entendimento
daqueles que não o têm, e que, por isso, estão apegados
ao fruto da ação; porém, deve, como um Yukta20,
transcendendo o fruto da ação, regular todos os seus atos
visando a elevação deles.
Aquele que – com Mente bem disciplinada
– se mantém sereno em meio às dualidades de calor e
frio, de prazer e dor, como também de censura e elogio, está
bem próximo de alcançar a Graça do Grande Princípio
da Vida. [Eu
diria, salvo melhor juízo, que a Primeira Grande Graça é
a Santa Liberdade.]
O aspirante que percebe o Princípio da Vida
residindo no amigo, no ser amado, nos Sábios, nos estranhos que lhe
são indiferentes, no neutral, no inimigo [adversário],
nos parentes, como também naqueles que têm e nos que não
têm discernimento átmico, logra excelência em sua atuação
no processo samsárico mundanal. [Isto se resume a Três
Palavras: Somos Todos Um.]
Somos
Todos Um
Ainda se foras o maior pecador
entre todos os pecadores, ainda poderias fazer a travessia a salvo, navegando
sobre todos os pecados (ciclos de nascimento e morte) na Barca do Conhecimento.21
... o Fogo do Conhecimento Átmico consome a impureza do
apego (que causa a escravidão) em toda ação. [Este
fragmento foi editado dos slokas 18 e 19 do capítulo XXIV
da Gita, o Gñana Dharma Gita.]
O aspirante, ao entoar a Sílaba
Mística AUM (o transcendente Pranava de Brahm), meditando na Brahma-Shakti22,
e dedicado a Mim [o Deus de seu Coração], juntamente
com o fruto de todas as suas ações, alcança a Suprema
Transcendência.
O Princípio da Vida, encarnado em
todos os seres, é Eterno e Imortal... [Disse
Mestre
Apis Kemet,
Hierofante da Organização
Svmmvm:
A Vida é Eterna; as criaturas são transitórias.]
A
Vida é Eterna;
as criaturas são transitórias.
Considerações
Finais
Não
creio que seja inoportuno e nem demasiado repetir o que apresentei como
conclusão da Parte I. Assim sendo, vou reapresentar as Oito Qualidades
Átmicas e as Vinte e Seis Qualidades Dáivicas,
pois, penso que essas Trinta e Quatro Qualidades resumam o Summum
Bonum místico e esotérico da Sabedoria contida na Gita.
As
Oito Qualidades Átmicas:
1) Amplitude de visão e discernimento; 2) Ausência de orgulho;
3) Inofensividade; 4) Tolerância; 5) Retidão; 6) Pureza; 7)
Firmeza de caráter; e 8) Ausência de egoísmo. A estas
Oito Qualidades devem ser adicionadas: a) Disciplina mental; b) Desapego;
c) Equilíbrio mental; e d) Reconhecimento dos males provenientes
do nascimento, das enfermidades, da velhice e da morte, todos necessários
à evolução humana.
As
Vinte e Seis Qualidades Dáivicas:
1) Ausência
de medo ou de temor; 2) Natureza pura; 3) Firme convicção
na síntese de todo conhecimento; 4) Doação e ajuda
desinteressada; 5) Domínio dos sentidos; 6) Oferenda com invocação
(Sacrifício); 7) Estudo espiritual; 8) Austeridade; 9) Retidão;
10) Impossibilidade de ferir ('Ahimsa'); 11) Veracidade; 12) Ausência
de desejos de vingança; 13) Dedicação; 14) Calma, Paz
(Shanti);15) Não se imiscuir em insignificâncias;
16) Compaixão por todos os seres; 17) Ausência de cobiça;
18) Afabilidade; 19) Humildade; 20) Constância; 21) Magnanimidade;
22) Perdão; 23) Atitude unificadora (conciliadora); e 24) Superação
da vaidade e da presunção.
E,
mais uma vez, pondero: se em uma encarnação
pudermos dominar perfeitamente, pelo menos, uma destas 34 Qualidades,
já teremos feito um bom Trabalho. É escusado tentar dominar
todas; afinal, (ainda) não somos super-homens, isto é, ainda
não somos capazes de desenvolver plenamente a condição
humana, criando novos valores e sentidos para a realidade, e afirmando intensamente
a vida, a despeito do inevitável sofrimento que a cerca. (Nietzschianismo).
O açodamento, neste campo, é o pior conselheiro. Tudo, entretanto,
começa com uma laboriosa disciplina mental, pois uma mente indisciplinada
fica à deriva e não é capaz de obter resultado satisfatório
algum. Em nada.
Enfim,
ao concluir este estudo, se eu tivesse que resumir todas estas reflexões...
Bibliografia:
SAINT-YVES
D’ALVEYDRE. El Arqueómetro/L’Archéomètre.
2ª ed. Traduzido por Manuel Algora Corbí. España: Editorial
Humanitas, S.L., 1997.
SRIMAD
BHAGAVAD GITA (Bhagavan Sri Krishna). Obra completa traduzida do texto
original com 26 Capítulos e 754 Slokas. 1ª edição.
Tradução, resumo do Mahabhárata, glossário
e artigos complementares por Haydée Touriño Wilmer. Rio de
Janeiro: Editora Vozes Ltda, 2002.
_____
Notas:
1. Gáyatri
= Verso ou Mantra dirigido ao Sol Espiritual que os Brâhmanes (e todo
ariano) recitam mentalmente todos os dias ao nascer e ao pôr do Sol,
durante suas práticas devocionais. Normalmente se admite que os mantras
são originários do Hinduísmo, porém são
utilizados também no Budismo, no Jainismo e por místicos não
formalmente vinculados a uma determinada religião. Admite-se, também,
que o vocábulo mantra provém de duas palavras sânscritas:
man (o ato de pensar; estado ou disposição particular
da mente) e tra (alavanca, liberação). Nesse sentido,
entre outras possibilidades, um mantra auxilia a liberação
da mente. Em terras tibetanas (budistas), a prece-mantra mais comum é
OM MANI PEME HUM (pronúncia tibetana), conhecida como o
Mantra de Chenrezi[g] – o Buddha da compaixão. Este poderoso
Mantra, originário da Índia, à medida que foi migrando
para o Tibete, foi tendo sua pronúncia modificada, porque algumas
palavras e alguns sons sânscritos eram difíceis de ser pronunciados
pelos tibetanos. Em sânscrito sua pronúncia é: AUM
MANI PADME HUM (Mantra de Avalokiteshvara). AUM
OM. Como afirma Swami Subrahmanyananda no prefácio da edição
completa da Bhagavad Gita (com 26 capítulos), publicada
na Índia em 1917, o Monossílabo OM... quando
pronunciado por um verdadeiro Mago Branco é capaz de produzir os
mais maravilhosos resultados. Enfim, um outro mantra muito especial
para todos os Rosacruzes é AUM RA MA HUM.
2.
Brahma-Prâpti.
3.
AThMa = 1000 + 400 + 40 = 1440 = 1 + 4 + 4 = 9. Eu Sou a 'AMaTh'.
Este é o Selo do Logos-Vivente, a Verdade da qual todas as verdades
procedem. Segundo Saint Yves d'Alveydre, na obra L’Archéomètre,
1440 multiplicado por 100 (144.000), corresponde ao Hierarca do Modo
Inarmônico da Sabedoria Divina. Por isso, para não haver
nenhum equívoco, no Livro da Revelação (VII,
4, 5, 6, 7, 8, 9 e XIV, 1, 2, 3), ele soa através de 144.000 Harpas,
e é cantado por 144.000 Eleitos. Também ensina Saint Yves: