O
Santo, o Sábio e o Illuminado Vyasadeva (também
chamado de Krishna Dvaipayana Vyasadeva, de Badarayana e de Vedavyasa),
que viveu por volta de 3.000 a. C., é conhecido como a encarnação
(literária) do Senhor Krishna (que se projetou para a Terra há
mais ou menos 5.000 anos) porque deu a sabedoria védica ao mundo.
Segundo o que dispõem os Vedas, o conhecimento transcendental
foi primeiramente comunicado por Deus a Brahma, o criador deste universo
particular. De Brahma o conhecimento desceu para Narada, de Narada para
Vyasadeva, de Vyasadeva para Madhava, e, neste processo de sucessão
discipular, o conhecimento transcendental foi transmitido por um discípulo
a outro e disponibilizado para a Humanidade. Vyasadeva, o maior Filósofo
da Antigüidade pré-cristã, é consagrado e festejado
como o divino compilador dos Vedas, dos Puranas, do grande
épico hindu Mahabhárata, da Bhagavad Gita
— em sânscrito:
—
(a essência de todo o conhecimento védico) e da Srimad-Bhagavatam.
A palavra Veda deriva da raiz vidya, que significa conhecimento
completo (os quatro textos em sânscrito que formam a base do extenso
sistema de escrituras sagradas do Hinduísmo e que representam a mais
antiga literatura de qualquer língua indo-européia); e Vedas,
portanto, são as escrituras compiladas pelo grande sábio Vyasadeva.
Originariamente, o conhecimento era
transmitido por via oral, porém, com o advento da Era Kali
– que começou há pouco mais de 5.000 anos e a partir
da qual o homem passou a perder seu poder de concentração,
de compreensão e de memória –
fez-se
necessário codificar os Vedas em forma escrita, e também,
segundo meu entendimento, para que essa Sabedoria não se perdesse
e pudesse continuar a auxiliar o ser-no-mundo a se libertar de
seus grilhões rumo a Planos mais elevados. Os quatro Vedas são:
Rigveda (Veda dos hinos), Yajurveda (Veda
do sacrifício), Samaveda (Veda
dos cantos rituais) e Atharvaveda (Veda
dos encantamentos – enquanto pertencente ao corpo védico principal,
representa, como uma coleção de rituais domésticos,
uma tradição paralela independente e mais recente relativamente
àquelas veiculadas no Rigveda e no Yajurveda).
Mas também é considerado como literatura védica toda
aquela que esteja de acordo com o siddhanta védico (a quinta-essência
védica), a qual poderia ser resumida na descrição sobre
o conhecimento encontrado na Bhagavad Gita, (XIII, 8-12): Aceitar
a importância da auto-realização e buscar a Verdade
Absoluta. O objetivo bussolar dos Vedas, portanto, é
proporcionar e catalisar respostas plausíveis (por Illuminação
interior) para o postulante em sua Peregrinação Místico-filosófica
em busca da Verdade Absoluta (ainda que sempre
relativa por ser a Verdade ilimitada e, portanto,
inalcançável em sua totalidade).
Assim
resumido, a Bhagavad Gita (a Mensagem ou Canto do
Senhor), patrimônio da Humanidade, é um texto religioso
Hindu. (O Hinduísmo é uma religião henoteísta
– forma de religião em que se cultua uma única divindade,
considerada suprema, mas sem negar a existência de outros deuses –
tradicional da Índia; no mundo, geralmente é considerada a
mais antiga das grandes religiões. Tem origem na antiga cultura védica,
sendo a terceira mais numerosa em praticantes, depois do Cristianismo e
do Islamismo.) A Bhagavad Gita – considerada na Índia
como o Livro dos Livros – faz parte do épico Mahabhárata,
tendo sido compilada, conforme já foi explicado, na forma atual entre
os séculos V e I a. C por Vyasadeva.
É uma das mais importantes contribuições da Índia
para a história da cultura universal, e aborda, especialmente, temas
como psicologia, política, amor, arte, drama, música, cosmologia,
ioga, saúde, arquitetura, astrologia e discute as mais importantes
realidades humanas, como, por exemplo, compreensão, inteligência,
estar-livre-da-ilusão, veracidade, perdão, firmeza, felicidade,
tristeza, nascimento, decadência, covardia, destemor, eqüidade,
não-violência, satisfação, penitência,
caridade, infância e fama. O texto, originalmente escrito em sânscrito,
relata o diálogo de Krishna (uma das encarnações de
Vishnu) com Arjuna (seu discípulo guerreiro) em pleno campo de batalha.
Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever, e recebe
iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na
ciência da auto-realização. No desenrolar da conversa-instrução,
são apresentados pontos importantes da filosofia indiana, que, na
época, já incluía elementos do Bramanismo e do Samkhya
[Samkhya é uma filosofia especulativa pré-védica
de fundo dualista que poderia ser definida como emanacionista. Os seus vinte
e quatro princípios, fatores ou elementos – tattwas
– formam uma estrutura vertical, na qual cada elemento ou grupo de
elementos emana dos anteriores, e todos derivam do par original: Purusha
(princípio espiritual, transcendental) e Prakriti
(princípio vital, material). Através de diferentes tattwas,
circulam três estados que definem o todo existente: sattwa
(leveza, equilíbrio), rajas (ação, emoção)
e tamas (inércia, escuridão)]. A obra é
uma das principais escrituras sagradas da cultura da Índia, e compõe
a principal fonte de referência da religião Vaishnava,
hoje popularmente conhecida como a Filosofia do Movimento Hare Krishna
(baseada nos ensinamentos do guru Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu, 1486-1534)
e difundida no ocidente a partir de 1965 por Bhaktivedanta Swami Prabhupada
através da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna
(Internacional Society for Krishna Consciousness – ISKCON).
A meta deste Movimento, segundo Prabhupada, é auxiliar o ser-no-mundo
a se libertar de suas quatro principais limitações: 1ª
- Pramada – tendência a cometer erros; 2ª Bhrama
– tendência a se iludir, especialmente sobre sua própria
identidade; 3ª Vipralipsa – tendência a enganar
os outros; e 4ª Karanapatava – imperfeição
dos sentidos. Ao fundar a ISKCON, Srila Prabhupada elaborou sete propósitos
para a união no espírito de devoção, cultivando
a pura consciência a serviço amoroso de Deus. São eles:
1º
- Propagar o conhecimento espiritual entre as sociedades a fim de educar
todas as pessoas nas técnicas da vida espiritual, restabelecendo
o equilíbrio dos valores na vida e, finalmente, alcançando
a verdadeira união e paz mundiais;
2º
-
Propagar a consciência de Krishna, assim como foi revelada nas grandes
escrituras da Índia, a Bhagavad Gita e a Srimad Bhagavatam;
3º
-
Unir os membros da sociedade e torná-los mais próximos de
Krishna. Isto fará com que cada alma (tanto dos membros, como da
sociedade) seja parte integrante de Krishna;
4º
- Ensinar e encorajar o movimento de sankirtana – o canto
congregacional do santo nome de Deus – tal como foi revelado nos ensinamentos
do Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu;
5º
-
Erguer, para os membros da sociedade e demais, um local sagrado de passatempos
transcendentais dedicado à personalidade de Krishna;
6º
- Manter os membros unidos com a finalidade de ensinar um modo de vida mais
simples e natural; e
7º
-
Publicar e distribuir periódicos, revistas e livros para difundir
os propósitos acima mencionados.
Bhaktivedanta
Swami Prabhupada
Enfim,
a Bhagavad Gita é particularmente chamada de Canto
do Senhor por conter as palavras do Avatar Senhor Krishna, cuja finalidade
é ensinar o homem a se elevar acima da sua própria perplexa
consciência humano-objetiva até o Plano de uma Consciência
Divina Superior (in imo Corde), realizando, desta forma, na Terra,
o reinado dos céus (do céu interior de cada um). O próprio
Senhor Krishna diz na Bhagavad Gita, III, 9:
A
Bhagavad Gita é uma doutrina sobre aquilo
que poderia ser denominado de Verdade Cósmica Imutável da
mais Sagrada Ciência Metafísica – absolutamente categórica
e inteiramente incolor, mas para o ser-no-mundo sempre relativa
e em processo de perpétua atualização. Sua mensagem
é universal, sublime e não-sectária, embora a Gita
seja uma parte da trindade escritural do Sanathana Dharma (a Lei
Eterna), normalmente conhecido como Hinduísmo. Ela transmite o conhecimento
do Ser e procura auxiliar a responder a quatro questões universais:
1ª - Quem sou eu?; 2ª - Por que estou aqui?; 3ª - Qual é
o objetivo da vida?; e 4ª - Como posso alcançar esse objetivo?
Em uma definição simples e muito resumida, a Gita
é um livro de crescimento moral e espiritual para a Humanidade baseado
nos princípios cardeais da religião Hinduísta. Enfim,
a máxima védica é: Sempre se lembrar de Krishna;
nunca se esquecer de Krishna.
Sobre
a Bhagavad Gita disseram:
Aldous
Huxley: A Gita é um dos mais claros e compreensíveis
resumos da Filosofia Perene, dos que já foram feitos. Seu valor não
é somente para hindus, mas para toda a Humanidade...
Mahatma
Gandhi: Quando o desapontamento me olha na face e não
vejo sequer um raio de luz, volto à Bhagavad Gita. Encontro
um versículo aqui, outro ali, e imediatamente começo a sorrir
em meio a tragédias insuperáveis – e minha vida tem
sido cheia de tragédias externas – e se elas não têm
transparecido e nenhuma marca indelével me deixaram, devo à
Bhagavad Gita. Nunca houve um homem que a adorasse em espírito e
que ficasse desapontado. Sua porta é largamente aberta para aquele
que nela bate.
Swami
Vivekananda: A Gita é um buquê composto das mais
belas flores das verdades espirituais dos Upanishads.
Haydée
Touriño Wilmer (no prólogo do Srimad Bhagavad
Gita – Bhagavan Sri Krishna): Ela é a expressão
do 'Yoga-Brahma-Vidya' ou a 'Ciência Sintética do Absoluto',
síntese do mais alto Conhecimento Espiritual legado ao homem pelo
próprio Senhor Bhagavan Naráyna (manifestado em Sri Krishna)
sobre BRAHMAN, a Divindade, sobre Sua manifestação em toda
a Criação, tanto no Macro como no Microcosmo (no Universo
e no homem), tanto em Sua Imanência como em Sua Transcendência,
pois Ele está presente em tudo, como Espírito, Energia e Matéria,
compenetrando e vivificando todo este infinito Cosmo.
Objetivo
do Estudo
Este
incompleto, despretensioso e sintético estudo objetivou garimpar
vinte e seis fragmentos da Bhagavad Gita que, ao longo da leitura,
tocaram meu Eu Interno. Para sua elaboração, foram consultados
diversos Websites e Páginas da Internet, mas a fonte principal
desta pesquisa foi a obra Srimad Bhagavad Gita – Bhagavan
Sri Krishna levada a cabo por Haydée Touriño Wilmer,
publicação em português de 2002 que acrescenta 8 capítulos
aos 18 capítulos da Gita tradicionalmente conhecida, isto
é, com 26 capítulos e 745 slokas (versículos).
Certamente, um outro estudante poderia escolher outros excertos; mas certamente
também não deixaria de incluir alguns dos que eu selecionei.
A divulgação deste sintético estudo, brevemente comentado,
objetiva oferecer um momento de meditação – um momento
sagrado de comunhão com o que se possa entender como O Mais Sublime
em nosso interior – pois se, em um sentido, somos todos seres individuais,
singulares, por outro, somos e seremos irredutivelmente e ad semper
unos no e com o Todo-Sempre-Todo. Isso, claro, independe da religião
do leitor, e mesmo se ele não tiver qualquer religião, porque
este conceito é, ao mesmo tempo, físico e metafísico,
espiritual e material.
Por
último, obviamente, este texto não substitui ou corrompe os
princípios místico-metafísicos contidos na Gita,
que, salvo melhor juízo, poderá ser lida integralmente por
aquele que desejar conhecer as palavras do Senhor Krishna compiladas por
Krishna
Dvaipayana Vyasadeva. Os comentários entre colchetes, apostos
a alguns fragmentos, são meramente entendimentos pessoais e citações
que podem ser desprezados na leitura dos excertos; evidentemente, minha
intenção não foi corrigir ou modificar o conteúdo
da Gita, ainda que, eventualmente, umas poucas edições
do texto (para mera adaptação a este tipo de trabalho) tenham
sido feitas, sem, contudo, modificar em nada sua mensagem original.
Espero,
sinceramente, que o leitor que está entrando em contato pela primeira
vez com esta Sabedoria multimilenar seja estimulado a proceder à
leitura integral da Gita, que é, apenas, um capítulo
do épico
hinduísta Mahabhárata.
Peço
desculpas pelos equívocos que eu involuntariamente possa ter cometido.
A
bibliografia, todas as páginas da Internet e todos
os Websites consultados estão listados ao final do texto.
Bhagavad Gita
(Fragmentos Escolhidos)
Reta ação é aquela praticada
sem apego, sem paixão, por dever; não por prazer, não
por ódio, não egoisticamente em proveito próprio.
[Em termos kantianos, isto equivale a um Imperativo Categórico, que
é uma obrigação incondicional independente da nossa
vontade objetiva egoística ou dos nossos desejos ilusórios
hipotéticos (Samsara –
existência condicionada ou Brahman em Seu
Aspecto manifestado):
Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa
tornar princípio de uma legislação universal. Enfim,
como explica Swami Subrahmanyananda no prefácio da edição
completa da Bhagavad Gita (com 26 capítulos), publicada
na Índia em 1917, um aspirante à Liberação
deve observar: 1º - O Sujeito do estudo é Brahman à
luz do Seu Símbolo, o Pranava OM; 2º - O trabalho de
ensinar é instilar nos outros a excelência de ver tudo com
atitude equânime; 3º - Sacrifício é a
atitude que permite ao aspirante ficar face a face com seu Eu Superior,
como também com o Supremo Ser; 4º - A condução
de um sacrifício para outrem é a visão de Si Mesmo
em toda parte; 5º - Dar é a entrega do Eu a Brahman
através da Meditação no Absoluto (Suddha-Yoga); e 6º
- Receber nada mais é do que preservar o corpo com o propósito
de observar o Dharma (a Lei Divina, Dever, Retidão; a Lei da
Vida no mais alto sentido).]
A ação perfeita
é o fruto da meditação perfeita.
[Entretanto não devemos esquecer: a perfeição, como
a verdade, é e será sempre relativa. O que é (considerado)
perfeito hoje, como decorrência de nossa compreensão hoje,
não será tão perfeito assim amanhã, e poderá
acabar se tornando imperfeito depois de amanhã. Logo, isto serve
para que tenhamos sempre em mente a Primeira Palavra de Passe: HUMILDADE.]
A
ação reta pesa muito menos do que o reto pensamento. [Isto
é fácil de ser compreendido. Tudo deriva do pensamento: intenções,
palavras e ações. Se o pensamento é suave, reto, justo
e puro, tudo que dele derivar será suave, reto, justo e puro. Ora,
uma Artocarpus heterophylla não poderá produzir uma
maçã e uma Malus sylvestris não poderá
produzir uma jaca.]
É
necessário distinguir entre a ação obrigada, a ação
ilícita e a inação. Sábio é quem vê
a inação na ação e a ação na inação,
e em harmonia permanece enquanto executa toda a ação. [Paralelamente,
é importante que aprendamos: em princípio, não somos
obrigados a nada, nem devemos/podemos ser obrigados a nada. Da mesma forma,
e por isso mesmo, não temos o direito de obrigar ninguém ao
que quer que seja. Todas as experiências são pessoais, devem
ser vivenciadas pessoalmente e são intransferíveis. Logo,
é fácil de se compreender que um presumido bem imposto
por coação-boa-intenção é, mutatis
mutandis, equivalente a um mal praticado por inflicção-má-intenção.]
Cada
um deve desempenhar a sua parte, em tudo que encontrar para fazer, porém
sem escravizar a alma.
(Grifo meu). [Uma das formas mais medonhas de escravização
é a crença infundada e atormentadora no que quer que seja,
particularmente em um deus coletivo. Sobre essa matéria, o melhor
é beber no Mahatma Morya: Um constante sentimento de
abjeta dependência de uma Deidade – encarada como única
fonte de poder – faz com que o homem perca toda a autoconfiança
e todos os estímulos à atividade e iniciativa. Tendo começado
por criar um pai e guia para si próprio, torna-se semelhante a um
menino, e, assim, permanece até a idade avançada, esperando
ser levado pela mão, tanto nos menores como nos maiores acontecimentos
da vida. Quem sabe, se compreendêssemos o significado exato e
esotérico da Tetractys pitagórica ou o sentido místico
da fórmula numérica 0–4–6–24–0
aceitaríamos intuitivamente que AQUILO é pleno e
isto é pleno; de AQUELA PLENITUDE se origina esta plenitude; tirando
esta plenitude de AQUELA PLENITUDE, o que resta é ainda pleno. Daí,
como explica Swami Subrahmanyananda, os zeros em ambas as extremidades
da fórmula. Daí, também, os dois OM em
ambas as extremidades do Mantra2 Gáyatri (rever
o título deste estudo e consultar a nota 1). Daí o porquê
de eu tanto insistir que somos todos UM. Mas, mais, muito mais do que eu,
que sou um nada elevado nada, Hamsa-Yogue, um altíssimo Membro da
Hierarquia que governa a Terra, disse: Abandone todas as idéias
e ações engendradas pela grande ilusão, a heresia da
separatividade... Então, o Eu o salvará da miséria
e do sofrimento causados pelas ilusões, os quais são os frutos
dessa heresia... A salvação (da não-vida)só
pode vir de dentro, do Ser no Coração, e de nenhuma outra
fonte. Tudo isto pode ser resumido no fato de que a salvação-imortalidade
depende exclusivamente de nós, está em nossas próprias
mãos, ou melhor, em nossos Corações.]
A
alma que não se abate, que recebe indiferentemente tanto a tristeza
como a alegria, vive na Vida Imortal. [A
Imortalidade é um Privilégio;
precisa ser conquistada. Mas essa conquista depende de sabermos que, como
explica Swami Subrahmanyananda, no momento em que se permite que um
pensamento de natureza viciosa entre na mente, nela se precipitam átomos
e moléculas tamásicasa ou rajásicasb
que conduzem à gratificação e satisfação
desse pensamento. Mas se a atenção for afastada dele e dirigida
ao bem, que é o oposto de tal pensamento, esses átomos e moléculas
necessariamente caem, e átomos e moléculas sátwicosc
tomam seu lugar.
a) Tamas
ou Svapara-Shraddha induz à completa identificação
com a natureza inferior, acompanhada de completo não-reconhecimento
do Ser.
b) Rajas
ou Samsara-Para-Shraddha manifesta um forte desejo de viver a vida material
externa.
c) Satwa
ou Atma-Para-Shraddha envolve a devoção ao Eu Superior, que
é o Raio Átmico em cada um.
É
por isso que vira-e-mexe eu repito: somos todos responsáveis. Por
tudo.]
Sábio
é o homem que, em todas as atividades, está isento das aguilhoadas
do desejo e tem os seus atos purificados pelo fogo da verdade. [A maior
parte dos nossos infortúnios – talvez até todos –
deriva do desejo, do querer, do precisar. Em uma simples palavra: ilusão.
Não mais desejar, não mais querer e não mais precisar
não são evidências de sabedoria. É a própria
Sabedoria (ShOPhIa) que brota, lentamente, internamente, à
medida que o Peregrino se põe em Caminho. Mas que ninguém
se engane: a Peregrinação é eterna, sem-fim. Aquele
que está ou se tornou satisfeito consigo continua dormindo. Acordar
é preciso.]
Tu eternamente Te revelas na
destruição das paixões egocêntricas. Quando Tua
chama se manifesta no éter do Coração, conduz a cinzas
os impedimentos da separatividade. [Um pouco mais acima comentei que
a Primeira Palavra de Passe é a HUMILDADE.
Humildade não é subserviência, isto é, sujeição
servil à vontade alheia, submissão voluntária a alguém
ou ao que quer que seja. Substantivamente, a humildade só poderá
ser inteiramente vivenciada se e quando o egocentrismo e a ilusão
de separatividade forem dissipados pela compreensão, antes mística
do que racional, antes interior do que cultural ou literária. Haverei
de repetir até o fim: somos todos UM.]
Desinteressada ideação.
[O conhecimento categórico, místico, desinteressado, produz
juízos necessários e universais; já o hipotético
revela uma ação que é um meio para consecução
de determinado fim. Portanto, o que nós temos que nos perguntar é
se o Universo e a Consciência Cósmica são teleológicos;
se há metas, fins ou objetivos últimos guiando a Natureza
e a Humanidade; se será possível – no tempo que é
tempo e que não é tempo – a realização
plena e exeqüível do espírito humano. Se respondermos
sim a qualquer um destes questionamentos, é razoável que ainda
ajamos de forma hipotética.]
Onde está o Dharma,
está Krishna; onde está Krishna, aí está a Vitória!
[Onde estão o Bem e a Beleza, está a Paz Profunda.]
Ai!, quanta iniqüidade!
Ai!, que perdurável iniqüidade estamos empenhados em perpetrar
ao nos esforçarmos, por mera gananciosa satisfação,
para nos apropriarmos da soberania da Terra, sacrificando nossos parentes!
[Queremos; sofremos. Matamos; suicidamos. Suicidamos; assassinamos.
Desviamos para a esquerda; seremos entropizados e reciclados. Infelizmente,
os medonhos – ou como está escrito na Gita, os que gozam festins
manchados de sangue – conhecerão a Oitava Esfera!]
Os homens sábios
não se lamentam pelos ignorantes e não se regozijam pelos
doutos. A falta de equanimidade é contrária ao que é
espiritual, gera confusão e obstaculiza a Beatitude. [Se um
corpo A aplicar uma força qualquer sobre um corpo B, receberá
deste uma força de mesma intensidade, de mesma direção
e de sentido oposto à força que aplicou em B. Contudo, isto
nada tem a ver com a Lei do Talião (do latim Lex Talionis
e simbolizada pela expressão olho por olho, dente por dente),
mas tem tudo a ver com o inexorável fato de que somos responsáveis
por tudo. Esconder a sujeira embaixo do tapete não fará com
que ela desapareça, e não nos eximirá de, um dia, termos
de limpá-la. Quanto mais adiamos, mais padecemos; quanto menos compreendemos,
mais nos degradamos. Seja como for, no Kârana Dharma Gita está
escrito: ... as causas das ações se resolvem, inevitavelmente,
em suas conseqüências. Somos responsáveis por tudo.]
Não cedas à
inação. [Da mesma forma que a justiça não
socorre os que dormem, quem apenas goza a vida, quem apenas curte a vida,
poderá conhecer a Santa Vida? Por isto, está escrito na Gita:
Rechaça essa opressiva covardia mental e empreende a elevada
ação!]
Os mundos de 'Daiva-Bhava' e
'Asura-Bhava' (com suas qualidades divinas e demoníacas) se originaram
igualmente de mim. [Do Um, tudo, fora do Um, nada. Em nosso Coração,
tudo; fora de nosso Coração, apenas ilusão, generatriz
do sofrimento e da incompreensão.]
Através do entendimento
espiritual transcendental, qualquer pessoa de elevado conhecimento e de
profunda devoção – e empenhada em ações
impessoais – alcança a Realização, entrando naquele
Estado no qual já não se aflige nem tampouco se regozija.
[Mas isto não significa que a Busca e a Peregrinação
terminaram; o fim de um ciclo é o começo de outro. A Busca
e a Peregrinação são ilimitadas.]
O
Samya-Yoga (Vigilância Transcendental, Yoga da Equanimidade e da Serenidade)
não pode ser alcançado por aqueles de sentido e mente indisciplinados;
porém, isto é alcançável pelo esforço
disciplinado, por meio de Transcendente Ideação (Suddha Dharma).
O aspirante, atraído pelo que seus sentidos objetivos captam, se
apega a ditas percepções; do apego nascem as paixões,
e as paixões dão origem à ira; da ira surge a perda
do discernimento; daí provém o obscurecimento da memória;
por essa razão o intelecto se debilita, e com tal debilitação
Samya-Yoga não é alcançado. [Escreveu Raymond
Bernard (19 de maio de 1923 - 10 de janeiro de 2006): Tudo tem sua origem
em nós e a nós retorna. Por isso, o maior pecado
do homem é o egoísmo.]