STUART MILL – Pensamentos

 

 

 

John Stuart Mill

John Stuart Mill

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo da Pesquisa

 

 

 

Esta pesquisa tem por objetivo divulgar alguns pensamentos de John Stuart Mill – um filósofo e economista inglês e um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX. Stuart Mill pode ser considerado um autor de transição entre o pensamento econômico antigo (que dá maior ênfase aos aspectos ligados à produção da riqueza) e o pensamento econômico moderno (que enfatiza os aspectos ligados à distribuição da riqueza).

 

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

John Stuart Mill (Londres, Inglaterra, 20 de maio de 1806 – Avinhão, França, 8 de maio de 1873) nasceu na casa de seu pai, em Pentonville, Londres, sendo o primeiro filho do filósofo escocês radicado na Inglaterra James Mill. Stuart Mill foi educado pelo pai, com a assistência de Jeremy Bentham e Francis Place. Foi-lhe dada uma educação muito rigorosa, e ele foi deliberadamente escudado por rapazes da mesma idade. Seu pai, um seguidor de Bentham e um aderente do Associativismo (prática social de criação e gestão de associações e apologia ou defesa desta prática enquanto processo não lucrativo de livre organização de pessoas – os sócios – para obtenção de finalidades comuns), tinha como objetivo explícito criar um gênio intelectual que iria assegurar a causa do Utilitarismo (doutrina ética que prescreve a ação ou a inação no sentido de otimizar o bem-estar do conjunto dos seres sencientes) e a sua implementação após a morte dele e de Bentham. James Mill concordava com a visão de John Locke a respeito da mente humana como uma folha em branco para o registro das experiências, e, por isto, prometeu estabelecer quais experiências preencheriam a mente de seu filho, empreendendo um rigoroso programa de aulas particulares.

 

Aos 25 anos, Stuart Mill se apaixonou por Harriet Taylor, uma mulher linda e inteligente, porém, casada, que veio exercer grande influência no seu trabalho. Cerca de vinte anos depois, quando seu marido faleceu, Harriet Taylor se casou com John Stuart Mill. Ele se referia a ela como dádiva-mor da minha existência, e ficou inconsolável quando ela morreu, sete anos depois. Quanto ao casamento, Stuart Mill ficou horrorizado com o fato de as mulheres serem privadas dos direitos financeiros ou das propriedades, e comparou a saga feminina à de outros grupos de desprovidos. Condenava a idéia da submissão sexual da esposa ao desejo do marido, contra a própria vontade, e a proibição do divórcio com base na incompatibilidade de gênios. Sua concepção de casamento era baseada na parceria entre pessoas com os mesmos direitos, e não na relação mestre-escravo.

 

Devido aos seus trabalhos abordando diversos tópicos, Stuart Mill se tornou contribuinte influente no que logo se transformou formalmente na nova ciência da Psicologia. Ele combatia a visão mecanicista de seu pai, James Mill, ou seja, a visão da mente passiva que reage mediante o estímulo externo. Para Stuart Mill, a mente exercia um papel ativo na associação de idéias.

 

Stuart Mill escreveu inúmeras obras ao longo da sua vida. As consideradas mais marcantes são: Sistema de Lógica Dedutiva (1843), Princípios de Economia Política (1848), A Liberdade (1859), Utilitarismo (1861), O Governo Representativo (1861) e Sujeição das Mulheres (1869).

 

Liberal, individualista, inconformista, lutando contra a sociedade de seu tempo, pregando a sua reforma, Stuart Mill desejava que o bem individual coincidisse com o bem coletivo, mas sem choques, no qual seriam dominantes os valores morais e altruísticos.

 

Stuart Mill é considerado o maior filósofo inglês do século XIX. Sua influência foi grande e duradoura, não só na Inglaterra, mas, também, nos EUA, em todos os campos intelectuais em que desdobrou sua atividade.

 

 

 

Pensamentos Stuartmillianos

 

 

 

Perguntem a vocês mesmos se são felizes, e deixarão de sê-lo.

 

 

 

No mundo físico, o trabalho é sempre e somente empregado para colocar os objetos em movimento; as propriedades da matéria e as Leis da Natureza fazem o restante.

 

A renda é o preço pago pelo uso de um agente natural apropriado. Certamente, este agente natural é indispensável como qualquer outro implemento; mas, ter de pagar um preço por ele não o é.

 

A distribuição da riqueza depende das leis e dos costumes da sociedade. As regras pelas quais ela é determinada são feitas pelas opiniões e pelos sentimentos que as partes dirigentes estabelecem, e são muito diferentes em épocas e em países diversos; e poderia ser ainda mais diferente se a Humanidade assim escolhesse.

 

O melhor estado para a natureza humana é aquele no qual ninguém seja pobre e ninguém deseje ficar mais rico, e, também, no qual ninguém tem razões para temer ser passado para trás em virtude do esforço de outros para ir em frente.

 

Um critério fundamental de bom e ruim é o efeito sobre a liberdade do indivíduo. Se a liberdade é restringida, é ruim; se é ampliada, é bom.

 

A liberdade social é uma proteção contra a tirania dos governantes políticos.

 

Sobre a escravização da mulher: não restam escravos legais, com exceção das senhoras em cada casa.

 

Ao considerarmos nossas políticas nós devemos procurar a maior felicidade do maior número de pessoas.

 

O bem maior deve ser entendido como a evolução moral e intelectual da sociedade.

 

Somos independentes, capazes de mudança e de sermos racionais. A liberdade individual é a melhor rota para o desenvolvimento moral.

 

A religião serve às importantes necessidades éticas fornecendo concepções ideais maiores e mais bonitas do que poderíamos ver concretizados na prosa da vida humana.

 

A preguiça intelectual é que permite a crença em um Deus onipotente e benevolente. O mundo, tal como o conhecemos, não poderia ter surgido de tal Deus, caso contrário não existiria o mal desenfreado que cerca a vida de cada um de nós. Ou o poder de Deus é limitado ou Ele não é todo benevolente.

 

As ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a promover o reverso da felicidade.

 

Não é a chamada liberdade do querer, tão infortunadamente oposta à doutrina mal denominada “da necessidade filosófica”; mas, sim, a liberdade civil ou social: a natureza e os limites do poder que a sociedade legitimamente exerça sobre o indivíduo.

 

A única finalidade justificativa da interferência dos homens, individual e coletivamente, na liberdade de outrem, é a autoproteção. O único propósito com o qual se legitima o poder sobre algum membro de uma comunidade civilizada contra a sua vontade é impedir dano a outrem. O próprio bem do indivíduo – seja material, seja moral não constitui justificação suficiente. O indivíduo não pode legitimamente ser compelido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa porque tal coisa seja melhor para ele, porque tal coisa o faça mais feliz, porque, na opinião dos outros, tal coisa seja sábia ou reta.

 

A independência do indivíduo é, de direito, absoluta. Sobre si mesmo, sobre o seu próprio corpo e seu espírito, o ser humano é a autoridade suprema.

 

A sociedade pode executar e executa os próprios mandatos; e, se ela expede mandatos errôneos ao invés de certos ou mandatos relativos a coisas nas quais não deve se intrometer, pratica uma tirania social mais terrível do que muitas outras formas de opressão política, desde que, embora não apoiada ordinariamente nas mesmas penalidades extremas que estas últimas, deixa, entretanto, menos meios de fuga do que elas, penetrando muito mais profundamente nas particularidades da vida e escravizando a própria alma. A proteção, portanto, contra a tirania do magistrado não basta. Importa, ainda, o amparo contra a tirania da opinião e do sentimento dominantes: contra a tendência da sociedade para impor, por outros meios além das penalidades civis, as próprias idéias e práticas como regras de conduta, àquelas que delas divergem, para refrear e, se possível, prevenir a formação de qualquer individualidade em desarmonia com os seus rumos, e compelir todos os caracteres a se plasmarem sobre o modelo dela própria. Há um limite à legítima interferência da opinião coletiva com a independência individual. E achar este limite, e mantê-lo contra as usurpações, é indispensável tanto a uma boa condição dos negócios humanos como à proteção contra o despotismo político.

 

Prazer e ausência de dor são as únicas coisas desejáveis como fins.

 

Se, portanto, a escolha tivesse de ser feita entre o Comunismo com todas as suas chances e o atual sistema social com todos seus sofrimentos e injustiças; se a instituição da propriedade privada implicasse com conseqüência que o produto do trabalho fosse partilhado como agora o vemos ser, quase que na razão inversa ao trabalho – a porção maior para os que jamais trabalharam, a segunda maior para aqueles cujo trabalho nominal e assim em escala descendente, a remuneração se apequenado na medida em que o trabalho se torna mais duro e mais desagradável, até que o trabalho corporal mais fatigante e exaustivo não possa contar com certeza sequer com o ganho da satisfação das necessidades vitais; se isto ou o Comunismo fosse a alternativa, todas as dificuldades, grandes ou pequenas, do Comunismo não seriam mais do que poeira no prato da balança.

 

Quem só conhece seu próprio lado do problema sabe pouco sobre ele.

 

 

 

 

A liberdade abrange, primeiro, o domínio da consciência, exigindo liberdade de consciência no mais compreensivo sentido, liberdade de pensar e de sentir, liberdade absoluta de opinião e de sentimento sobre quaisquer assuntos, práticos ou especulativos, científicos, morais ou teológicos. A liberdade de exprimir e de publicar opiniões pode parecer que cai sob um princípio diferente, uma vez que pertence àquela parte da conduta individual que concerne às outras pessoas. Mas, sendo quase de tanta importância como a própria liberdade de pensamento, e repousando, em grande parte sobre as mesmas razões, é praticamente inseparável dela. Em segundo lugar, o princípio requer a liberdade de gostos e de ocupações; de dispor o plano de nossa vida para seguirmos nosso próprio caráter; de agir como preferirmos, sujeitos às conseqüências que possam resultar; sem impedimento da parte dos nossos semelhantes enquanto o que fizermos não os prejudiquem, ainda que considerem a nossa conduta louca, perversa ou errada. Em terceiro lugar, desta liberdade de cada indivíduo, segue-se a liberdade, dentro dos mesmos limites, de associação entre os indivíduos, de se unirem para qualquer propósito que não envolva dano, suposto que as pessoas associadas sejam emancipadas, e não tenham sido constrangidas nem iludidas.

 

O maior perigo de nossos tempos é que tão poucos ousam ser excêntricos.

 

A sociedade tem todo o direito de revogar ou alterar qualquer direito particular de propriedade que, depois de cuidadosa consideração, ela considere ser um obstáculo ao bem público. E, reconhecidamente, o terrível libelo que os socialistas podem apresentar contra a atual ordem econômica da sociedade exige completa consideração de todos os meios pelos quais a instituição pode vir a ter uma chance de funcionar de maneira mais benéfica para aquela grande parcela da sociedade, que, presentemente, usufrui a menor parcela de seus benefícios diretos.

 

Aparentemente, uma pessoa pode progredir durante um certo tempo e, então, parar. Quando ela pára? Quando deixa de ter individualidade.1

 

 

 

 

Quem deixa que o mundo – ou uma porção deste escolha seu plano de vida não tem necessidade, senão, da faculdade de imitação dos símios.

 

Uma condição de exaltado prazer somente se mantém por momentos ou, em alguns casos, e com algumas interrupções, por horas ou dias. Ela é o brilhante clarão ocasional da alegria, e não a sua chama firme e constante. Disto sempre estiveram tão cientes os Filósofos, que ensinaram ser a felicidade a finalidade da vida como aqueles que a eles se opuseram. A felicidade que concebiam não era a do arrebatamento, mas, de momentos assim em meio a uma existência constituída de poucas e transitórias dores, muitos e variados prazeres, com um predomínio decidido do componente ativo sobre o passivo, e tendo como fundamento do todo não esperar da vida mais do que ela é capaz de oferecer. Uma vida assim constituída, para aqueles que tiveram a boa fortuna de obtê-la, sempre pareceu merecedora da designação de feliz. E uma existência assim é, mesmo hoje em dia, o destino de muitos durante uma parte considerável de suas vidas. A educação falida e os arranjos sociais falidos são os únicos obstáculos reais que impedem que isto esteja ao alcance de quase todos.

 

As pessoas de gênio, é verdade, são e provavelmente sempre serão uma pequena minoria; no entanto, para [man]tê-las é necessário conservar o solo em que crescem. O gênio só pode respirar livremente em uma atmosfera de liberdade.

 

Um conservador não é necessariamente parco de inteligência, mas, a maioria das pessoas pouco inteligentes é conservadora.

 

É impossível que ocorram grandes transformações positivas no destino da Humanidade, se não houver uma mudança de peso na estrutura básica de seu modo de pensar.

 

Poucas criaturas humanas consentiriam ser transformadas em qualquer dos animais inferiores em troca da promessa do mais pleno acesso aos seus prazeres bestiais; nenhum ser humano inteligente consentiria se tornar um tolo, nenhuma pessoa instruída, um ignorante, ninguém de sensibilidade e consciência, um ser egoísta e reles, e isso mesmo que eles fossem persuadidos de que o tolo, o beócio ou o infame estavam mais satisfeitos com a sua sorte do que eles estão com a deles. É melhor ser um ser humano insatisfeito que um porco satisfeito; melhor ser um Sócrates insatisfeito que um tolo satisfeito; e, se o tolo ou o porco tem uma opinião distinta, é porque eles só conhecem o seu próprio lado da questão.

 

A liberdade de um indivíduo deve ser limitada para não ser prejudicial aos outros.2

 

Ainda que as circunstâncias influam sobre o nosso caráter, a vontade pode modificar as circunstâncias em nosso favor.3

 

Todas as tendências egoístas que há nos homens – o culto de si próprio e o desprezo pelos outros têm origem na organização atual das relações entre os homens e as mulheres.

 

Nunca podemos ter certeza de que a opinião que tentamos sufocar é falsa; e, se tivéssemos, sufocá-la continuaria sendo um mal.

 

No final de contas, o valor de um Estado é o valor dos indivíduos que o compõem.

 

Se toda a Humanidade menos um fosse da mesma opinião, e apenas um indivíduo fosse de opinião contrária, a Humanidade não teria maior direito de silenciar essa pessoa do que esta o teria, se pudesse, de silenciar a Humanidade.

 

 

 

 

Todas as coisas boas que existem são frutos da originalidade.

 

A disciplina é mais forte do que o número; isto é, a perfeita cooperação é um atributo da civilização.

 

Aprendi a procurar a felicidade limitando os desejos, em vez de tentar satisfazê-los.

 

Se a servidão sempre corrompe, corrompe menos o escravo do que o senhor, exceto quando é levada até ao embrutecimento. No plano moral, é melhor para um ser humano sofrer coerções, mesmo se emanam de um poder arbitrário, do que exercer sem controle um poder dessa natureza.

 

O preço da liberdade é a eterna vigilância.

 

Os sentimentos morais não são inatos, mas adquiridos. Mas. tal não significa que não são naturais, pois é natural para o homem, falar, raciocinar, construir cidades, cultivar a terra, apesar destas competências serem faculdades que são adquiridas. Os sentimentos morais, na realidade, não fazem parte da nossa natureza, se entendermos por tal que deveriam estar presentes em todos nós, em um grau apreciável, realidade que, indubitavelmente, é um fato muito lamentável, reconhecido até pelos que mais veementemente acreditam na origem transcendente destes sentimentos. No entanto, tal como as outras faculdades referidas, a faculdade moral, não fazendo embora parte da nossa natureza, vai se desenvolvendo naturalmente; tal como as outras, pode nascer espontaneamente e, apesar de muito frágil, no início, é capaz de atingir, por influência da cultura, um grau elevado de desenvolvimento.4 Infelizmente, também, mas recorrendo, tanto quanto é necessário, às sanções externas, e aproveitando a influência das primeiras impressões, ela pode ser desenvolvida em qualquer direção, ou quase, a ponto de não haver idéia, por mais absurda e perigosa que possa ser, que não se consiga impor ao espírito humano, conferindo-lhe, pelo jogo destas influências, toda a autoridade da consciência.

 

Uma pessoa com uma crença se iguala à força de noventa e nove.

 

Pessoas felizes são aquelas cujas mentes estão fixadas em algum outro objetivo que não seja a própria felicidade; na felicidade dos outros, no aperfeiçoamento da Humanidade, até mesmo em alguma arte ou busca empreendida não como meio, mas como fim ideal. Ao visar, assim, o outro, elas encontram a felicidade casualmente.

 

Da mesma maneira, deve ser considerado despreparado para algo mais do que uma liberdade limitada e qualificada, o povo que não estiver disposto a cooperar ativamente com a lei e com as autoridades públicas na repressão aos malfeitores. Um povo que está mais disposto a esconder um criminoso do que a prendê-lo; um povo que, como os hindus, comete perjúrio para salvar o homem que o roubou, ao invés de se dar ao trabalho de depor contra ele e daí extrair sua vingança; um povo que, a exemplo de algumas nações da Europa até recentemente, quando vê um homem apunhalar outro em plena rua, passa para o outro lado, porque cuidar do assunto é tarefa da polícia, e porque é mais seguro não interferir em assuntos que não lhe dizem respeito; um povo, enfim, que se revolta por uma execução, mas que não se choca por um assassinato – esse povo precisa de autoridades agressivas, melhor armadas do que quaisquer outras, uma vez que as primeiras e indispensáveis condições para uma vida civilizada não possuem outras garantias.5

 

A religião, o mais poderoso dos elementos formadores do sentimento moral, tem sido, quase sempre, governada ou pela ambição de uma hierarquia que procura controlar todos os aspectos da conduta humana ou pelo espírito puritano. E alguns dos reformadores sociais modernos, que mais se colocam em forte oposição às religiões do passado, não ficam atrás na afirmativa do direito de dominação espiritual.

 

 

 

 

Negar ouvido a uma opinião porque se esteja certo de que é falsa é presumir que a própria certeza seja o mesmo que certeza absoluta. Impor silêncio a uma discussão é sempre se arrogar infalibilidade.

 

A liberdade de pensamento e a liberdade de discussão têm tanto a dimensão da liberdade moderna – a de não ser molestado pelo Estado e pelos Outros por conta das próprias opiniões – quanto a dimensão da liberdade antiga – a de poder expressar, publicamente, idéias e pontos de vista que dizem respeito à vida individual e coletiva.

 

Em geral, admitimos a livre discussão, mas invariavelmente temos dificuldade em aceitar a opinião divergente da nossa – a crítica e, em especial, as opiniões que consideramos extremadas. Em outras palavras, aceitamos a liberdade de pensamento e de discussão, mas não plenamente. O homem que está seguro da sua crença em Deus pode ser acusado de que se arroga infalibilidade? É possível questionar a moral e a doutrina religiosa? A opinião que impugna a crença em Deus deve ser impugnada em nome das nossas mais sagradas convicções? Deve-se observar que não é se sentir seguro de uma doutrina (seja o que isto for) o que chamo de se arrogar infalibilidade. Infalibilidade é a ousadia de decidir a questão pelos outros, sem lhes conceder o que possa ser dito em contrário. E eu denuncio e reprovo esta pretensão.

 

Nosso ideal de desenvolvimento final vai mais além da Democracia, e nos classificaria decididamente sob a designação geral de Socialismo. Consideramos que o problema social do futuro seja como reunir a maior liberdade individual de ação com a propriedade comum das matérias-primas do globo e uma participação igualitária de todos nos benefícios do trabalho associado.

 

Não são os espíritos heréticos que mais se corrompem pela ação do anátema lançado a toda investigação que não finde por conclusões ortodoxas. O maior dano sofrem os que não são heréticos, aos quais se embaraça todo o desenvolvimento mental, e cuja razão se acovarda de medo da heresia. Quem pode calcular o que se perde com a multidão de inteligências, a coexistirem com caracteres tímidos, que não se aventuram a se incorporar em nenhuma corrente arrojada, vigorosa e independente de opinião, com o temor de que ela os levasse a alguma coisa que pudesse ser tachada de irreligiosa ou de imoral.

 

É questionável se todas as invenções mecânicas já feitas aliviaram a luta do ser humano. Elas permitiram que maior população vivesse a mesma vida de fadiga e de aprisionamento, e que maior número de manufatureiros e outros fizessem fortuna.

 

Não pretendo que o mais ilimitado uso da liberdade de enunciar todas as opiniões possíveis poria fim aos males do sectarismo religioso ou filosófico. É certo que toda verdade de que os homens de capacidade estreita falam com fervor é afirmada, inculcada, e, ainda, de muitas formas, posta em prática, como se não existisse nenhuma que pudesse limitar ou modificar a primeira. Reconheço que a tendência de todas as opiniões para se tornarem sectárias, não se sana com a mais livre discussão possível, antes, freqüentemente, por essa forma aumenta e se exacerba. A verdade que se devia ver e não se viu, é, então, rejeitada do modo mais violento, porque é proclamada por adversários. Mas não é no partidário apaixonado, e, sim, no mais calmo e desinteressado espectador, que esta colisão de opiniões produz o seu salutar efeito. Não o violento conflito entre partes da verdade, mas a silenciosa supressão da metade dela, eis o formidável perigo. Há sempre esperança quando as pessoas são forçadas a ouvir os dois lados. É quando atendem apenas a um, que os erros se endurecem em preconceitos, e a verdade cessa de causar o efeito de verdade, por se ter exagerado em falsidade.

 

Se a escolha tiver de ser feita entre Comunismo, com todas as suas oportunidades, e a presente situação da sociedade, com todos os seus sofrimentos e injustiças; se a instituição da propriedade privada necessariamente carrega consigo, como conseqüência, que o produto do trabalho seja repartido, como vemos atualmente, quase em razão inversa ao trabalho: as maiores parcelas àqueles que jamais trabalharam para o todo, a parcela seguinte àquele cujo trabalho é apenas nominal e, assim, em uma escala decrescente, a remuneração diminui à medida que o trabalho cresce mais duro e mais desagradável até que o mais exaustivo e fatigante trabalho não possa contar com a certeza de estar apto a ganhar sempre o mínimo necessário à existência. Se isto ou o Comunismo for a alternativa, todas as dificuldades maiores ou menores do Comunismo serão apenas um átomo na balança.

 

Uma educação geral pelo Estado é puro plano para moldar as pessoas de forma exatamente semelhante. E, como o molde em que são plasmadas é o que agrada a força dominante no Governo, quer seja esta um monarca, um clero, uma aristocracia, quer a maioria da geração existente, a educação pelo Estado, na medida em que é eficaz e bem sucedida, estabelece um despotismo sobre o espírito, que, por uma tendência natural, conduz a um despotismo sobre o corpo.

 

Uma pessoa poderá causar o mal para os outros não só por sua ação, mas por sua inação, e, em ambos os casos, deverá prestar contas por seus atos.

 

A afirmação de que a verdade sempre triunfará sobre a perseguição é uma dessas falsidades agradáveis que os homens gostam de repetir.

 

 

Não haverá grandes melhorias no destino da Humanidade até que uma grande mudança ocorra na constituição fundamental do seu modo de pensar.

 

O que parece o cúmulo do absurdo em uma geração muitas vezes se torna o ápice da sabedoria na próxima.6

 

A pessoa que não está disposta a lutar por nada, que nada é mais importante do que sua própria segurança pessoal, é uma criatura miserável sem possibilidade de ser verdadeiramente livre.

 

Nós nunca poderemos ter certeza de que a opinião que estamos nos esforçando para sufocar é uma opinião falsa, e, mesmo se tivéssemos certeza, sufocá-la seria um mal ainda assim.7

 

Próxima do egoísmo, a causa principal que faz a vida insatisfatória é a falta de cultura.

 

Todo aquele que recebe a proteção da sociedade deve um retorno por este benefício.8

 

Devemos usar a observação para ver, aplicar o raciocínio para julgar e prever, coletar informações para discriminar e decidir, e, quando tivermos decidido, ter firmeza e autocontrole para manter a decisão deliberada.

 

 

 

 

Ninguém poderá se tornar um pensador efetivo [um ser livre] se não consultar e seguir seu intelecto para o que quer que seja.

 

A única liberdade que merece o nome de liberdade é a busca do nosso próprio bem à nossa própria maneira, contanto que não privemos os outros da sua liberdade ou que desbaratemos seus esforços para obtê-la.

 

O costume do despotismo está em toda parte impedindo assustadoramente o progresso humano.

 

O que quer que seja que esmague a individualidade é despotismo, seja qual for o nome pelo qual seja chamado.

 

 

 

 

O perigo que ameaça a natureza humana não é o excesso, mas, a deficiência dos impulsos e a insuficiência das preferências pessoais.

 

Em qualquer sociedade, geralmente, a excentricidade costuma ser proporcional à quantidade de gênio, de vigor mental e de coragem que ela contenha.

 

Ordem, estabilidade, progresso e reforma são elementos necessários a um Estado para que sua vida política se mantenha saudável.

 

O que distingue a maioria dos homens de uns poucos é a sua incapacidade de agir de acordo com as suas crenças.9

 

Eu não estou de acordo que uma comunidade tenha o direito de forçar outra a ser civilizada.10

 

A tendência geral das coisas em todo o mundo é a de tornar a mediocridade do poder ascendente entre a Humanidade.

 

Em todos os debates intelectuais, ambos os lados tendem a ser corretos no que afirmam e errados no que negam.11

 

Não podemos fugir da vida. Precisamos aprender a sofrer com seus sofrimentos e a prazerar com seus prazeres.

 

É preciso arrancar pela raiz todos os princípio da religião dogmática, da moral dogmática e da filosofia dogmática. A pedra angular de uma educação destinada a formar grandes mentes deverá suscitar poder intelectual e inspirar o mais intenso amor pela verdade.

 

A liberdade de consciência é um direito inalienável.

 

Não só o que os homens fazem é importante, mas, também, a maneira como fazem.

 

Toda burocracia tende a se tornar uma pedantocracia.

 

Fazer como deve ser feito e amar o próximo como a si mesmo constituem a perfeição ideal da moralidade utilitarista.

 

Se uma sociedade trocar um pouco de liberdade por um pouco de ordem perderá as duas, e não merece nenhuma.

 

Um grande estadista é aquele que sabe quando deve se afastar das tradições, bem como quando deve a aderir a elas.

 

Existem, sem dúvida, mulheres, assim como homens, a quem a igualdade de respeito não irá satisfazer; tais pessoas não ficarão em paz enquanto qualquer vontade ou desejo, que não seja o seu próprio, não seja atendido. Essas pessoas servem somente para viver sozinhas, e nenhum ser humano deveria ser obrigado a unir sua vida com elas.

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Mística e esotericamente isto é exatamente o oposto, ou seja, o conceito precisa e deve ser virado pelo avesso. Individualidade não deixa de ser uma forma de isolamento, de egocentrismo, de culto de si mesmo. Para não ir muito longe neste comentário, pense no seguinte: Jesus e Seus Doze Apóstolos eram Treze. Cada um era cada um – Ele próprio – mas, os Treze eram Um. O mesmo entendimento vale para o Mestre AMORCUS – Akhenaton Magister Omnes Rosæ Circa Universus Spira (Akhenaton Mestre de Todas as Rosas em Torno da Espiral) – um Mestre Cósmico multimental. O Frater Velado, no ensaio Um Estudo Sobre o Profeta do Sol – O Princípio R+C (ou as Origens do Rosacrucianismo, explica que Akhenaton, ao passar pela Grande Metamorfose [Grande Iniciação], ascendeu a um Plano Superior, não como mero ser isolado, mas como a resultante da cooperação de 40 Mentes – 39 Adeptos (39 Rosas Místicas) com o Mestre Akhenaton produzindo o Quadrado Metafísico (39 + 1 = 40 —› 4 + 0 = 4) e que é a base na qual se assenta a Pirâmide Esotérica Rosacruz. AMORCUS é um Mestre Cósmico acessível unicamente aos Altos Iniciados da Ordem Rosacruz e que nem por eles pode ser invocado. Para que não paire qualquer dúvida naqueles que eventualmente visitam o Website Pax Profundis, informo que nunca tive o Privilégio Místico de manter qualquer contato com o Mestre AMORCUS. Bem, voltando a Jesus e Seus Doze Apóstolos (1 + 12 = 13), observe que a soma teosófica dos algarismos do número 13 é igual a 4 (1 + 3). 40, em um certo sentido, também é igual a 4, porque 40 4 + 0 = 4. E, finalmente, 4 1 + 2 + 3 + 4 = 10 1 + 0 = 1. Conclusão: pela individualidade, nada; na Unidade, tudo.

2. Não irei muito longe neste comentário, mas, tenho que dizer que acho este conceito perigosíssimo.

3. Isto está inteiramente de acordo com a máxima de Francisco de Paula Cândido Xavier, mais conhecido como Chico Xavier (Pedro Leopoldo, 2 de abril de 1910 – Uberaba, 30 de junho de 2002), que gosto tanto de repetir: Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.

4. A cultura é uma parte da coisa, sim; mas, não é a coisa toda, pelo contrário. Se a cultura fosse a coisa toda, os povos mais cultos seriam os mais moralizados, e vice-versa, o que comumente não acontece. Aliás, os seres desenvolvidos, em um certo sentido, geralmente, andam na contramão da moral, porque são, fundamentalmente, egoístas e vaidosos. Apenas um exemplo, entre tantos, justifica este entendimento: a crise mundial que atravessamos. Enfim, haverá coisa mais medonhamente egoísta do que uma bolsa de valores? Tenha sempre em mente que, para que alguém lucre, alguém terá que deslucrar. Para que alguém se torne milionário ou multimilionário, muitos terão que se tornar pobretários ou multipobretários.

5. Uma vida jamais poderá se tornar civilizada, espiritualizada, por meio vendetas, de penas capitais ou da exigência de reparações pelo que quer que seja. Estas coisas só alimentam o ódio milenar que, vira-e-mexe, fazem a Humanidade andar para trás como caranguejo borracho.

 

 

 

 

6. Um exemplo disto foi a caducidade e conseqüente substituição do modelo cosmológico geocêntrico – que se baseava na hipótese de que a Terra estaria parada no centro do Universo com os corpos celestes, inclusive o Sol, girando ao seu redor, defendida, inclusive, por Aristóteles (Estagira, 384 a.C. – Atenas, 322 a.C. – pelo modelo cosmológico heliocêntrico, no qual o centro dos movimentos dos astros passou a ser o Sol. Atualmente, sabe-se que o Sol apenas pode ser considerado como o centro do Sistema Solar, não estando sequer perto no centro da nossa galáxia.

7. Ora, se não há uma Verdade Absoluta, ou, pelo menos, se não conseguimos ter acesso à Verdade Absoluta, como poderá haver uma certeza absoluta? Atualmente, a única certeza absoluta que podemos ter é que todos nós, um dia, iremos morrer. O resto todo varia em uma faixa estreita que vai das certezas relativas aos delírios esquizofrênicos.

 

 

 

 

8. E pagar imposto direitinho é muito pouco, porque muita gente, se pudesse, não cumpriria esta obrigação. Aliás, há quem pense que os encargos financeiros são pagos ao Governos Municipal, Estadual e Federal. Não são, claro. Os tributos são exatamente um retorno ou uma contrapartida que a sociedade paga à própria sociedade por todos os serviços públicos que aufere e para atender as despesas gerais da administração pública. Em tese, os recursos arrecadados pelos Governos são revertidos para o bem comum, para investimentos e custeio de bens e serviços públicos, como saúde, segurança e educação. Agora, o que os maledettos filhos-da-puta fazem com uma parte ponderável destes impostos é outra coisa.

9. Eu teria escrito esta sentença assim: O que distingue a maioria dos homens de uns poucos é a sua incapacidade de agir de acordo com a sua Vontade. (Vontade está grafada com a letra V maiúscula porque Ela deverá ser ou se transformar em Fiat Voluntas Tua, e não permanecer como fiat voluntas mea).

10. A regra geral (sem exceções) é: ninguém pode nem tem o direito de forçar ninguém a nada. Isto quer dizer: se o sujeito para o inferno ir quiser, ninguém tem que meter a colher. Até porque poderá ser que o inferno dele seja o céu, e o céu do intrometidiço seja o inferno. Agora, modus in rebus: se o outro estiver com uma meleca pendurada no nariz, não custa nada avisar. Mas, com jeitinho, para não magoar. Entretanto, antes dar pitaco, olhe bem para ver se não é uma verruga. Já pensou se for verruga e você disser que é meleca?

11. Isto não é bem assim ou, pelo menos, não é sempre assim. Imagine uma disputa entre um carola de carteirinha e um Illuminado. Como o carola poderá estar correto no que ultramontanisticamente nega e o Illuminado errado no que esotericamente afirma? O pior é que, neste caso, não há meio-termo. Entre outras coisas, coisinhas e coisonas, essa invencionice baculina de ex cathedra terá que acabar. Erro eu, erras tu, erra o sapo-cururu.

12. Quanto a isto, acho que os brasileiros, de maneira geral, aprenderam a lição, ainda que existam alguns (poucos) saudosistas dos tempos de chumbo. Eu conheço um senhor, que acabou de fazer 100 anos, que não se envergonha em dizer que o Ato Institucional nº 5 (ou AI-5) foi assinado em sua casa. Qualquer um que vá à sua casa, ele faz questão de mostrar a mesa em que esta abominação foi assinada. Aliás, diga-se de passagem: uma mesinha de merda, com cor de merda e cheiro de merda.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://egoisticlife.com/egoistic-
approach-to-egotism-revealed.html

http://www.whokilledbambi.co.uk/
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http://www.ordemlivre.org/2008/05/
biografia-john-stuart-mill/

http://educacao.uol.com.br/biografias
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http://pt.wikipedia.org/
wiki/John_Stuart_Mill

http://ratiocinativa.wordpress.com/
2013/02/06/john-stuart-mill-a-clerihew/

http://www.mellho.com/frases.php?
autor=J._Stuart_Mill

http://en.wikiquote.org/
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http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/j/john_stuart_mill_2.html

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http://www.quotationspage.com/
quotes/John_Stuart_Mill/

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http://www.learning-mind.com/
3-vital-steps-to-decision-making/

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http://www.fisicaequimica.net/
astronomia/heliocentrico.htm

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http://fallenalien.com/vatican.htm

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http://www.peiglar.com/
larry/food.html

http://www.bilibio.com.br/frases/
tags/593/john-stuart-mill.html

http://www.citador.pt/
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http://pensivereflections.wordpress.com/2
010/07/06/walking-in-the-shoes-of-others/

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citacoes/a/john-stuart-mill/10

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http://paxprofundis.org/livros/
amorcus/amorcus.htm

http://neo1984.wordpress.com/
2011/04/28/equal-2/

http://pt.wikiquote.org/wiki/
John_Stuart_Mill

 

Música de fundo:

Sem Deus com a Família
Composição: César Roldão Vieira
Interpretação: Elis Regina

Fonte:

http://www.4shared.com/mp3/albuomm
0/08-_Sem_Deus_com_a_famlia.html

 

Direitos autorais:

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