É
uma
objeção pobre contra um filósofo dizer que é
ininteligível. A Filosofia tem, de fato, algo que, segundo a sua
natureza, sempre permanecerá ininteligível à grande
multidão. Mas é algo inteiramente outro se a ininteligibilidade
está na coisa mesma. Ocorre, freqüentemente, que cabeças
que, com grande exercício e habilidade, mas sem possuírem
propriamente inventividade para tarefas mecânicas, se dispõem,
por exemplo, a inventar uma máquina de tornear garrafas – fabricam
perfeitamente uma, mas o mecanismo é tão difícil e
artificioso ou as engrenagens rangem tanto, que se prefere voltar a tornear
garrafas com as mãos, à moda antiga. O mesmo pode perfeitamente
se passar na Filosofia. O sofrimento com a ignorância sobre os objetos
primeiros, sobre os maiores, para todos os homens que sentem, que não
são embotados ou estreitamente auto-suficientes, é grande
e pode aumentar até se tornar insuportável. Mas se o martírio
de um sistema antinatural é maior do que aquele fardo da ignorância,
prefere-se, no entanto, continuar a suportar este. Pode-se bem admitir que
também a tarefa da Filosofia, se é em geral resolúvel,
tem de acabar por se resolver com poucos traços, grandes e simples,
e que não há de ser sem valor, precisamente na maior das tarefas
humanas, a invenção que se reconhece em todas as tarefas menores.
Filósofo
melequento, mas inteligibilíssimo!
Quem
meditou sobre a liberdade e a necessidade descobriu por si que estes princípios
têm se ser unificados no Absoluto – a liberdade porque o Absoluto
age por potência autônoma incondicionada, a necessidade porque,
justamente por isso, Ele só age em conformidade com as leis do seu
Ser, com a necessidade interior da Sua Essência. Nele não há
mais nenhuma vontade, que poderia se afastar de uma lei, mas, também,
nenhuma lei mais, que Ele não desse a Si mesmo apenas por Suas ações,
nenhuma lei que, independentemente de Suas ações, tivesse
realidade. Liberdade absoluta e necessidade absoluta são idênticas.
Onde há liberdade absoluta,
há bem-aventurança absoluta, e inversamente. Mas, com a liberdade
absoluta, também não é mais pensável nenhuma
autoconsciência. Uma atividade para a qual não há mais
nenhum objeto, nenhuma resistência, nunca retorna a si mesma. Somente
pelo retorno a si mesmo surge uma consciência. Somente uma realidade
limitada é efetividade para nós. Onde cessa toda a resistência
há extensão infinita. Mas a intensidade da nossa consciência
está na proporção inversa da extensão do nosso
ser. O momento mais alto do ser é, para nós, passagem ao não-ser,
momento de anulação. Aqui, no momento do ser absoluto, a suprema
passividade unifica-se com a mais ilimitada das atividades. A atividade
ilimitada é... calma absoluta, epicurismo perfeito.
Toda
essa idéia de uma felicidade como recompensa – que outra coisa
seria, portanto, senão uma ilusão moral: um título
de crédito com o qual se compra de ti, homem empírico, os
teus prazeres sensíveis de agora, mas que só é pagável
quando tu mesmo não precisas mais do pagamento. Pensa sempre nessa
felicidade como um todo de prazeres que são análogos aos prazeres
sacrificados agora. Ousa, apenas, dominar-te agora; ousa o primeiro passo
de criança em direção à virtude: o segundo já
se tornará mais fácil para ti. Se continuares a progredir,
notarás com espanto que aquela felicidade que esperavas como recompensa
do teu sacrifício, mesmo para ti não tem mais nenhum valor.
Foi intencionalmente que se colocou a felicidade em um ponto do tempo em
que tens de ser suficientemente homem para te envergonhares dela. Envergonhar,
digo eu, pois, se nunca chegas a te sentir mais sublime do que aquele ideal
sensível de felicidade, seria melhor que a razão jamais te
tivesse falado. É exigência da razão não precisar
mais de nenhuma felicidade como recompensa, tão certo quanto
é exigência tornar-se mais conforme à razão,
mais autônomo, mais livre. Pois, se a felicidade ainda pode recompensar-nos
– a não ser que se interprete o conceito de felicidade contrariamente
a todo o uso da linguagem – ela é, então, uma felicidade
que não é trazida, já, pela própria razão
(pois como poderiam razão e felicidade jamais coincidir?), uma felicidade
que, justamente por isto, aos olhos de um ser racional, não tem mais
nenhum valor. Deveríamos, diz um antigo escritor, considerar que
os deuses imortais são infelizes porque não possuem capitais,
bens territoriais, escravos? Não deveríamos, antes, exaltá-los
como os únicos bem-aventurados, justamente porque são os únicos
que, pela sublimidade da sua natureza, já estão despojados
de todos aqueles bens? O mais alto a que podem se elevar as nossas ideias
é manifestamente um ser que, com auto-suficiência absoluta,
frui somente do seu próprio ser, um ser que cessa toda a passividade,
que não é passivo em relação a nada, nem mesmo
em relação a leis, que age com liberdade absoluta, apenas
em conformidade com o seu ser, e cuja única lei é a sua própria
essência. (Grifo meu).
A
arte deve preservar o homem do vazio, da debilidade, da nulidade interior,
esperando que tente alcançar a beleza por uma sábia harmonia.
O poder do discurso musical está
em sua capacidade de evocar a exterioridade do universo sem violar os limites
de sua Ontologia.
Schelling
considera que o Estado é o organismo objetivo da liberdade,
partindo do princípio
que o organismo é um objeto indivisível, completo
em si mesmo, subsistente por si mesmo. É
o elemento em que a ciência, a religião e a arte
se compenetram reciprocamente, de maneira a tornarem-se num todo vivo e
objetivo na própria unidade. Neste
sentido, o Estado é um organismo que não pode ser
dominado, mas apenas desenvolvido, e a história como um todo é
um desvendamento contínuo e progressivo do Absoluto.
Ele é não só o arquiteto do organismo, o
artista criador das artes plásticas, no qual se desvenda a idéia
divina de Direito, como também
a união do real e do ideal, a reunião da liberdade e da necessidade.
Tudo
o que é é Uno; a Unidade [in]depende
[da perceptibilidade] do
Eu.
A Natureza inteira, tanto no homem
quanto na fauna e na flora, são a expressão visível
de Deus.
Não
há em suprema e última instância nenhum outro ser senão
o querer. O querer é ser-originário. Apenas a este cabem todos
os seus predicados, isto é, ausência-de-fundamento, eternidade,
independência do tempo, auto-afirmação. Toda a Filosofia
se esforça apenas em encontrar a sua suprema expressão.
Deus tem em si um fundamento íntimo
de sua existência, que nesse sentido Lhe antecede enquanto existente.
Mas, por seu turno, Deus é de novo o 'prius fundamentum', na medida
em que o fundamento, enquanto tal, não poderia sê-lo, se Deus
não existisse como 'actu'.
A
Lei Moral tem, em última instância, como fonte, um estado em
nós do qual não podemos ser conscientes, a não
ser pelo ato do querer mesmo.
O
Absoluto Incondicionado manifesta-se no mundo mediante um prazer
infinito, tendo-se nesta
manifestação o seu afirmar-se-a-si-mesmo como
querer ao infinito, em todas as formas, graus e potências da realidade.
Há
uma absoluta identidade do Espírito em nós e da Natureza fora
de nós.
O
sistema da Natureza é, ao mesmo tempo, o sistema do nosso Espírito.
A Natureza deve ser o Espírito
visível; o Espírito a Natureza invisível. É
aqui, portanto, na absoluta unidade de Espírito em nós e da
Natureza fora de nós, que se deve resolver o problema de como é
possível uma Natureza fora de nós.
Uma
teoria perfeita da Natureza seria aquela pela qual toda a Natureza se resumisse
em uma inteligência.
A
Natureza alcança o seu mais elevado fim, que é o de se tornar
inteiramente objeto para si mesma, com a última e mais elevada reflexão,
que nada mais é do que o homem ou, mais geralmente, o que nós
chamamos de razão...
O
homem — o fim último da Natureza.
Como
físico, Descartes dizia: ' Dai-me matéria e movimento que
construirei o Universo. O Filósofo Transcendental diz: dai-me uma
Natureza de atividades contrapostas, uma das quais se desdobrando ao infinito
e a outra se esforçando por instruir a si mesma nessa infinitude
que eu farei nascer a inteligência com todo o seu sistema de representações.
Todas
as ciências pressupõem a inteligência como coisa já
formada. O Filósofo olha-a em seu devir, fazendo-a quase nascer diante
de seus olhos.
A
Filosofia teórica é Idealismo; a Filosofia prática
é Realismo. Somente juntas formam o sistema completo do Idealismo
Transcendental.
A
Natureza nada mais é do que inteligência cristalizada em um
ser, sensações apagadas em um não-ser, arte formadora
de idéias que transforma em corpos.
A
quem não possui a intuição do Absoluto não se
pode fornecer qualquer demonstração, exatamente porque, como
Absoluto, Ele é condição de toda demonstração.
Só nos elevamos ao Absoluto com intuição originária.
Chamo
de Razão a Razão Absoluta ou a Razão enquanto pensada
como indiferença total do Subjetivo e do Objetivo...
Filosofia,
que palavra acertada... Todo o nosso saber sempre permanecerá filosofia,
isto é, sempre um saber apenas em progresso, cujo grau superior ou
inferior devemos apenas ao nosso amor à sabedoria, isto é,
à nossa liberdade.
O
mundo objetivo nada mais é do que a poesia primitiva
e ainda inconsciente do Espírito. O órgão universal
da Filosofia – e a chave mestra de todo o seu edifício –
é a Filosofia da Arte.
O
primeiro passo na Filosofia e a condição sem a qual não
se pode sequer ingressar nela é a intuição de que o
Absoluto Ideal é também o Absoluto Real e de que fora dele,
em geral, só pode haver realidade sensível e condicionada,
mas não absoluta e incondicionada...
Fora
da Razão não há nada; tudo está nela.... O único
conhecimento absoluto é o da Identidade Absoluta, o Todo Uno... A
Razão é simplesmente una; é simplesmente igual a si
mesma...
Atuar
em toda a sua pureza ('schlechthin') se chama querer. Portanto, só
no querer o Espírito se faz imediatamente consciente de seu atuar,
e o ato de querer, em geral, é a condição mais alta
da autoconsciência.
O
mundo inteiro se acha, por assim dizer, capturado na razão. Contudo,
a pergunta é: Como chegou a este entrelaçamento?
Deus
é essencialmente ação.
A razão é, no homem,
o que, segundo os místicos, é o 'Primum Passivum' em Deus,
isto é, a Sabedoria Original na qual todas as coisas estão
juntas e ao mesmo tempo singularizadas – são uma e, todavia,
cada uma é livre a seu modo.
O
todo, do qual provém a Filosofia-da-natureza, é o idealismo.
A Filosofia-da-natureza não precede o Idealismo nem lhe é
de alguma maneira oposta, caso ele seja Idealismo absoluto, mas só
na medida em que ele é idealismo relativo e, por conta disso, apreende
apenas um lado do ato
O que sobra quando toda propriedade
está suprimida é a perfeita pureza – a pura desnudez.
A
vontade é nada e é tudo. É nada enquanto não
apetece ser ativa ('wirkend') nem aspira à alguma realidade. É
tudo porque dela, como da liberdade eterna, provém toda a força,
porque tem todas as coisas sob si: domina tudo e por nada é dominada.1
Nenhum
ente pode ser como tal sem outro fora de si – nenhum eu sem um não-eu.2
Deus
é uma Essência Real que, no entanto, não tem nada antes
ou fora de Si. Tudo aquilo que Ele é, o é por Si Mesmo. Ele
provém inicialmente de Si Mesmo para, no fim, acabar de novo puramente
em Si Mesmo. Em suma: Deus faz-se a Si Mesmo. E, da mesma forma que é
certo que Ele se faz a Si Mesmo, também é certo que Ele não
está concluído e feito desde o início, porque, caso
contrário, não teria necessidade de Se fazer.3
Nada
do que existe é sem fundamento. Nada que chegou a existir poderia
haver sido o que é se não houvesse um substrato do qual se
desprendeu livremente.4
Chama-se
'unheimlich' tudo o que deveria permanecer secreto, escondido, e se manifesta.5
______
Notas:
1. Em
resumo: a vontade é potência.
2. Somos
todos UM.
3. Este
conceito filosófico está absolutamente de acordo com o Misticismo
Iniciático, ainda que o sentido do pensamento schellinguiano não
seja este. Isto poderá ser sentido assim, se não idealizarmos
um Deus transcendente ou mesmo imanente, egregórico ou não,
e admitirmos como Verdade a ser perseguida – ad semper –
o Mestre-Deus de nosso Coração. Então, vou reproduzir
parte do fragmento schellinguiano, para uma profunda reflexão: Deus
faz-se a Si Mesmo. E, da mesma forma que é certo que Ele se faz a
Si Mesmo, também é certo que Ele não está concluído
e feito desde o início, porque, caso contrário, não
teria necessidade de Se fazer. E acrescento: este mesmo Deus
(o Mestre-Deus de nosso Coração) jamais poderá estar
ou ser concluído, porque se pudesse estar ou ser concluído,
isto seria sinônimo de fim ou de começo. E como fim e começo
– metafisicamente – também são sinônimos
e não existem ou poderão existir como fim definitivo ou como
começo determinado, ad infinitum teremos que (se desejarmos!)
edificar o Mestre-Deus de nossos Corações. Eu, que começo
a ficar irritado quando vai me dando sono, acho esta idéia ótima!
4 Cabe
insistir: Tudo é Um; somos todos UM.
5. O
estranho é algo que deveria ter permanecido oculto, mas veio à
luz.
Bibliografia:
REALE Giovanni e ANTISERI
Dario. História da Filosofia (do Romantismo até
nossos dias). Vol. III. São Paulo: Paulinas, 1991.
Páginas
da Internet consultadas:
http://school.discoveryeducation.com/
clipart/clip/diploma.html
http://penta3.ufrgs.br/twiki/bin/view/
Teleducacao2007/WebHome
http://ppgav.ceart.udesc.br/ciclo3/
anais/Amanda%20Nascimento.doc
http://www.mundodosfilosofos.com.br/
poskant.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Friedrich_Wilhelm_Joseph_von_Schelling
http://paxprofundis.org/livros/
schelling/schelling.htm
http://docs.google.com/
http://www.vestibular1.com.br/
revisao/romantismo.doc
http://maltez.info/aaanetnovabiografia/
Autores/schelling.htm
http://www2.uol.com.br/percurso/
main/pcs03/BernardoUnheimlich.htm
http://www.citador.pt/pensar.php?
op=10&refid=200505230800
http://www.citador.pt/pensar.php?
op=10&refid=200505310005
http://www.citador.pt/pensar.php?
op=10&refid=200506112300
http://www.citador.pt/pensar.php?
op=10&refid=200506252350
Fundo
musical:
Noturno
9 (Chopin)
Fonte:
http://www.coraldelchiaro.com.br/Midis_Casamentos.htm