Deus
é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança
têm isso em comum: ambos sabem que o Universo é uma caixa de
brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança. Está
sempre à procura de companheiros para brincar.3
A
paixão é emoção gratuita. Não há
causas que a expliquem. Mas, quando acontece, ela age como uma artista:
da paixão surgem cenas de beleza. Os amantes se imaginam andando
de mãos dadas por campos floridos; abraçados numa rede; silenciosos,
diante do fogo da lareira; contemplando o rosto de um nenezinho adormecido...
Paisagens de paixão.
Deus
existe para tranquilizar a Saudade.
A
esperança é uma droga alucinógena.4
Continuaram
a se acariciar sem desejo e se atormentando com as súplicas e as
recordações. Saborearam a amargura de uma despedida que pressentiam,
mas, que ainda podiam confundir com uma reconciliação.
As
razões de poder transformam crimes em heroísmo.
Há
dois tipos de idéias: as idéias
inertes e as idéias com poder
gravitacional... As idéias com poder gravitacional são aquelas
que têm o poder de chamar outras. São sóis do sistema
solar, que é a nossa mente.
Não se deve criar o hábito
de leitura. O que há de se fazer é ensinar as crianças
a amar os livros.
Tive
professores inesquecíveis. Alguns são inesquecíveis
pela beleza de sua pessoa, por sua inteligência, pelo respeito aos
alunos. Esses me fazem sorrir. Outros se tornaram inesquecíveis por
sua pequenez e tolice. Esses me fazem rir.
O
que dá às crianças o direito de aprender? Primeiro,
é a curiosidade. As crianças acham as coisas do mundo muito
interessantes e querem saber por que elas são do jeito que são.
Para que serve isso? Para nada. Apenas pelo prazer: matar a curiosidade.
É
preciso, antes de tudo, desconfiar do nosso estoque de experiências
e colocar as nossas certezas de lado.
O
dedo aponta para a Lua, mas ai daquele que confunde o dedo com a Lua.
Se
a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses, não
haverá borboletas!
Todas
as palavras tomadas literalmente são falsas. A verdade mora no silêncio
que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não
foi dito, ler as entrelinhas. A atenção flutua: toca as palavras
sem ser por elas enfeitiçada. Cuidado com a sedução
da clareza! Cuidado com o engano do óbvio!
Simplicidade
é isto: quando o Coração busca uma coisa só.
Concerto para corpo e alma.
Cartas
de amor são escritas não para dar notícias, não
para contar nada, mas, para que mãos separadas se toquem ao tocarem
a mesma folha de papel.
Um
livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar.
Eu
sou muitos!5
Amores
novos não combinam com a dignidade dos velhos.
A
beleza não elimina a tragédia, mas, a torna suportável.
Tem
razão o poeta: “O
amor é a coisa mais triste quando se desfaz.”
É triste por causa do retrato: porque ele faz lembrar uma felicidade
que se teve e que não se tem mais. O retrato é uma sepultura.
Nós
somos como as lagartixas, que perdem o rabo: logo um rabo novo cresce no
lugar do velho. Assim é com a gente: logo a vida volta à normalidade,
e estamos prontos para amar de novo. A saudade doída passa a ser
só uma dorzinha gostosa.
Muito
mais difícil que lembrar é esquecer! Fala-se de “boa
memória”. Não se fala de “bom esquecimento”,
como se esquecimento fosse apenas memória fraca. Não é
não. Esquecimento é perdão, o alisamento do passado,
igual ao que as ondas do mar fazem com a areia da praia durante a noite.
A
saudade não deseja ir para frente. Ela deseja voltar.6
Já
não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não
é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso
também que haja silêncio dentro da alma. Daí, a dificuldade!
Nossa
incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante
e sutil da nossa arrogância e da
nossa vaidade.
No fundo, somos sempre os mais bonitos!
Deus
é isto: a Beleza que se ouve no Silêncio. Daí, a importância
de saber ouvir os outros: a beleza mora lá [nos
outros] também!
Comunhão
é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
Infinitamente
belo; insuportavelmente efêmero.7
Será
possível, então, um triunfo no amor? Sim. Mas, ele não
se encontra no final do caminho, nem na partida, nem na chegada, mas, na
travessia.
Eé
assim que as religiões se multiplicam, porque os desejos dos homens
não têm fim, e os seus santuários se enchem de santos
de todos os tipos.
As
palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor.
Aprendemos palavras para melhorar os olhos.
Aquilo
que está escrito no Coração não necessita de
agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica
eterno.
Uma
pessoa é bela, não pela beleza dela, mas, pela beleza nossa,
que se reflete nela.
O
segredo do amor é a androginia: somos todos, homens e mulheres, masculinos
e femininos ao mesmo tempo.8
Como
a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo.
O
que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira
calma e tranqüila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam:
"Se eu fosse você..."9
Todo
mundo gostaria de se mudar para um lugar mágico. Mas, são
poucos os que têm coragem de tentar.
Tinker
Bell (Sininho)
Deus
é leve e ri!
Um
único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira!
Minha vida se divide em três
fases. Na primeira fase, meu mundo era do tamanho do Universo. E era habitado
por deuses, verdadeiros e absolutos. Na segunda, meu mundo encolheu. Ficou
mais modesto e passou a ser habitado por heróis revolucionários,
que portavam armas e cantavam canções de transformar o mundo.
Na terceira, mortos os deuses, mortos os heróis, mortas as verdades
e os absolutos, meu mundo se encolheu ainda mais, e chegou não à
sua verdade final, mas, à sua beleza final: ficou belo e efêmero
como uma jabuticabeira florida.
Mas,
é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo
para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo,
não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar
todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte
de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo
que é essencial.
Nós
não vemos o que vemos; nós vemos o que somos. Só vêem
as belezas do mundo aqueles que têm belezas dentro de si.10
Buscamos,
no outro, não a sabedoria do conselho, mas, o silêncio da escuta;
não a solidez do músculo, mas, o colo que acolhe.
Há
muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem... O ato de
ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido!
Faz
tempo que, para pensar sobre Deus, não leio os teólogos; leio
os poetas.
Eu
quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram.
Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.
Minha
alma é um quarto onde os objetos mais estranhos estão colocados,
um ao lado do outro, sem ordem, sem nenhuma intenção de fazer
sentido.
Somente
aqueles que contemplam a beleza são capazes de endurecer sem nunca
perder a ternura. Guerreiros ternos. Guerreiros que lêem poesias.
Guerreiros que brincam como criança.11
De
vez em quando, o diabo me aparece e temos longas conversas.
Conhecimento
é coisa erótica, que engravida. Mas, é preciso que
o desejo faça o corpo se mover para o amor. Caso contrário,
permanecem os olhos, impotentes e inúteis. Para conhecer é
preciso, primeiro, amar!
O
desejo de liberdade é mais forte do que a paixão. Pássaro,
eu não amaria quem me cortasse as asas. Barco, eu não amaria
quem me amarrasse no cais.12
A
Liberdade é o alimento do Amor!
A
linguagem tem a possibilidade de fazer curtos-circuitos em sistemas orgânicos
intactos, produzindo úlceras, impotência ou frigidez. Porque
são as palavras que carregam consigo as proibições,
as exigências e as expectativas. E é por isto que o homem não
é um organismo, mas, este complexo lingüístico a que
se dá o nome de personalidade.
O
corpo humano se alimenta também de ausências...
Quem
tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um
broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que não
podem ser ajudadas. Têm que acontecer de dentro para fora.
O
desejo
que move os poetas não é ensinar, esclarecer, interpretar.
O desejo que move os poetas é fazer soar de novo a melodia esquecida.13
Toda
saudade é uma espécie de velhice. É por isto que os
olhos dos velhos vão se enchendo de ausências.
Eu
te abraço para abraçar o que me falta.
A
morte e a vida não são contrárias. São irmãs.
A “reverência pela vida” exige que sejamos sábios
para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.
Só
podemos amar o que um dia já tivemos.14
Na
verdade, o intelecto puro odeia a repetição. Está sempre
atrás de novidades. Uma vez de posse de um determinado conhecimento,
ele não o fica repassando e repassando. “Já sei”,
ele diz, e prossegue para coisas diferentes.
E,
repentinamente nos damos conta de que os enigmas da Via Láctea são
pequenos demais comparados com aqueles das pessoas que vemos todo dia. Só
que nossos olhares ficaram baços, e não percebemos o maravilhoso
ao nosso lado. Se fôssemos tomados pelo fascínio, então,
pararíamos para ver, e veríamos coisas de que nunca havíamos
suspeitado.
E
bem
pode ser que as pessoas descubram no fascínio do conhecimento uma
boa razão para viver, se elas forem sábias o bastante para
isto, e puderem suportar a convivência com o erro, com o não
saber e, sobretudo, se não morrer nelas o permanente encanto com
o mistério do Universo.
Deus
nos deu asas no pensamento para voar; os homens nos deram as gaiolas das
religiões.
Felix
the Cat
(em português, conhecido como Gato Félix)
Aprendi
pela minha recusa em aprender.15
Aprendi
com Albert Schweitzer16
que a "reverência pela vida" é o supremo princípio
ético do amor.
Ensinar
é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos
a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa
palavra. O professor, assim, não morre jamais.17
As
respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas, somente as perguntas
nos permitem entrar pelo mar desconhecido.18
Tarefa
primordial do professor: seduzir o aluno para que ele deseje e, desejando,
aprenda.
Suspeito
que nossas escolas ensinem com muita precisão a ciência de
comprar as passagens e de arrumar as malas. Mas, tenho sérias dúvidas
de que elas ensinem aos alunos a arte de ver enquanto viajam.
Orações
e poemas são a mesma coisa: palavras que pronunciamos a partir do
silêncio, pedindo que o silêncio nos fale.
A
vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre
no presente.19
Entre
as muitas coisas profundas que Sartre20
disse, esta é a que mais amo: “Não
importa o que fizeram com você. O que importa é o que você
faz com aquilo que fizeram com você.” Pare.
Leia de novo e pense. Você lamenta a maldade que a vida está
fazendo com você? Se Sartre estiver certo, essa maldade poderá
ser o lugar onde você irá plantar o seu jardim.
Ah!
Como as entrelinhas são importantes! É nelas que estão
escritas as coisas que só a alma pode entender!
Dentro
de mim mora um palhaço e um poeta: riso e beleza... Se eu não
fosse escritor, acho que seria jardineiro. No paraíso, Deus não
construiu altares e catedrais. Plantou um jardim. Deus é um jardineiro.
Por isto, plantar jardins é a mais alta forma de espiritualidade.
Amo
aqueles que plantam árvores, mesmo sabendo que nunca se sentarão
à sua sombra. Plantam árvores para dar sombra e frutos para
aqueles que ainda não nasceram!
Não
tenho problemas com Deus. Mas, tenho muitos problemas com aquilo que os
homens pensam sobre Deus.
Quem
é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser
que morra de repente. Mas, morrerá em pleno vôo.
Foi
assim que a escola me ajudou: forçando-me a pensar ao contrário
dos meus próprios pensamentos.
O
meu encanto precisa da saudade.
Sei
que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo.
Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza.
O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é
o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que
eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores!
Torço para que sejam ipês-amarelos!
O
encontro inesperado, as situações inusitadas, o que não
foi combinado, ma, tinha que acontecer.
Milho
de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Quem
Não Sonha?
Quem
não sonha
com um
mundo melhor?
Quem
não sonha
que acabe
logo o pior?
Quem
não sonha
com poder
transformar?
Quem
não sonha
com poder
aprimorar?
Quem
não sonha
com afinidade
Universal?
Quem
não sonha
que desapareça
o mal?
Quem
não sonha
com a
sua manumissão?
Quem
não sonha
em destroçar
o alçapão?
Quem
não sonha
com unificar
seus Eus?
Quem
não sonha
em se
tornar um Deus?
Se
nós sonhamos,
podemos
causar sonhos;
basta
que façamos,
deixando
de ser pidonhos.
É
dever de todos nós
melhorar
e fazer melhorar.
Só
desatando os nós
E como
desatar nós?
Joeirando
do porão mental
crendices,
teias e pós,
e do
Bem sendo um canal.
Não
há outra Senda
para
ocorrer a Libertação.
Também,
tipo adenda,
................................
Isto
se chama Iniciação.