RUBEM ALVES – Pensamentos

 

 

 

Rubem Alves

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este estudo é uma coletânea de belíssimos e comoventes pensamentos – verdadeira aula de vida – de Rubem Alves (Boa Esperança, 15 de setembro de 1933 – Campinas, 19 de julho de 2014), psicanalista, educador, teólogo, escritor brasileiro e até ativista político, que dedicou sua vida a escrever livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis. Grande Rubem Alves!

 

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

Rubem Alves foi bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, Mestre em Teologia e Doutor em Filosofia (Ph.D.) pelo Seminário Teológico de Princeton (EUA) e psicanalista. Lecionou no Instituto Presbiteriano Gammon, na cidade de Lavras, Minas Gerais, no Seminário Presbiteriano de Campinas, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro e na UNICAMP, onde criou vários grupos de pesquisa e recebeu o título de Professor Emérito . Tinha um grande número de publicações, tais como crônicas, ensaios e contos, além de ser ele mesmo o tema de diversas teses, dissertações e monografias. Muitos de seus livros foram publicados em outros idiomas, como inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e romeno.

 

Com formação eclética, transitava pelas áreas de Teologia, Psicanálise, Sociologia, Filosofia e Educação. Após ter lecionado em universidades, tinha um restaurante (a culinária foi uma de suas paixões e tema de alguns de seus textos), viveu em Campinas, onde mantinha um grupo, chamado Canoeiros, que se encontrava semanalmente para leitura de poesias.

 

Sua mensagem era direta e, por vezes, romântica, explorando a essência do homem e a alma do ser, algo como um contraponto à visão atual de Homo globalizadus que busca satisfazer desejos, muitas vezes além de suas reais necessidades.

 

Ensinar era descrito por Rubem Alves como um ato de alegria, um ofício que deve ser exercido com paixão e arte. É como a vida de um palhaço que entra no picadeiro todos os dias com a missão renovada de divertir. Ensinar é fazer aquele momento único e especial. Ridendo dicere severum. Rindo, dizer coisas sérias. Para ele, esta, na verdade é a forma mais eficaz e verdadeira de transmitir conhecimento, isto é: agir como um mago e não como um mágico; não como alguém que ilude, e, sim, como quem acredita e faz crer que deve fazer acontecer.

 

Rubem Alves faleceu em 19 de julho de 2014, em Campinas, por falência múltipla de órgãos. Mas, morreu consciente de que a vida se faz com uma infinidade de erros, como ele mesmo dizia.

 

 

 

Pensamentos de Rubem Alves

 

 

 

O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde, um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde, ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem.

 

Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro...

 

O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isto, os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos.

 

Ostra feliz não faz pérolas. Isto vale para as ostras e vale para nós, seres humanos.

 

Dia que não gozaste não foi teu. [Citado por Rubem Alves; atribuído a Fernando Pessoa].

 

Meu tempo se tornou escasso para debater rótulos. Quero a essência, minha alma tem pressa.

 

Otimismo é quando a gente sorri para o futuro “por causa de”. Esperança é quando a gente sorri para o futuro “a despeito de.

 

Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele poderá voar.

 

A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, que não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte.

 

Quem experimenta a Beleza está em comunhão com o Sagrado.

 

Toda alma é uma música que se toca.

 

Ao final de nossas longas andanças, chegamos, finalmente, ao lugar. E o vemos, então, pela primeira vez. Para isto, caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos. E, quando chegamos, é surpresa. É como se nunca o tivéssemos visto. Agora, ao final de nossas andanças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade.1

 

Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isto elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.

 

A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.

 

Na profissão, além de amar, tem de saber. E o saber leva tempo para crescer.

 

A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos, rostos envolvidos pela sombra. Sua beleza é triste e nostálgica, porque, sendo moradores da alma, os sonhos não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz, ou uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...) que, sem razões, faz a bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto que os olhos contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido pela sombra. O corpo estremece. Está apaixonado. Acontece, entretanto, que não existe coisa alguma que seja do tamanho do nosso amor. A nossa fome de beleza é grande demais. Cedo ou tarde, descobrirá que o rosto não é aquele. E a bela cena retornará à sua condição de sonho impossível da alma. E só restará a ela se alimentar da nostalgia que rosto algum poderá satisfazer...

 

Se eu fosse ensinar a uma criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas, e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.2

 

É mais fácil amar o retrato. Eu já disse que o que se ama é a ‘cena’. ‘Cena’ é um quadro belo e comovente que existe na alma antes de qualquer experiência amorosa. A busca amorosa é a busca da pessoa que, se achada, irá completar a cena. Antes de te conhecer eu já te amava... E, então, inesperadamente, nos encontramos com o rosto que já conhecíamos antes de o conhecer. E somos, então, possuídos pela certeza absoluta de haver encontrado o que procurávamos. A cena está completa. Estamos apaixonados.

 

A saudade é a nossa alma nos dizendo para onde ela quer voltar.

 

Não havíamos marcado hora; não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro.

 

Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos".

 

Quem não planta um jardim dentro, não planta um jardim fora nem passeia por ele.

 

 

 

 

Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o Universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança. Está sempre à procura de companheiros para brincar.3

 

A paixão é emoção gratuita. Não há causas que a expliquem. Mas, quando acontece, ela age como uma artista: da paixão surgem cenas de beleza. Os amantes se imaginam andando de mãos dadas por campos floridos; abraçados numa rede; silenciosos, diante do fogo da lareira; contemplando o rosto de um nenezinho adormecido... Paisagens de paixão.

 

Deus existe para tranquilizar a Saudade.

 

A esperança é uma droga alucinógena.4

 

Continuaram a se acariciar sem desejo e se atormentando com as súplicas e as recordações. Saborearam a amargura de uma despedida que pressentiam, mas, que ainda podiam confundir com uma reconciliação.

 

As razões de poder transformam crimes em heroísmo.

 

Há dois tipos de idéias: as idéias inertes e as idéias com poder gravitacional... As idéias com poder gravitacional são aquelas que têm o poder de chamar outras. São sóis do sistema solar, que é a nossa mente.

 

Não se deve criar o hábito de leitura. O que há de se fazer é ensinar as crianças a amar os livros.

 

Tive professores inesquecíveis. Alguns são inesquecíveis pela beleza de sua pessoa, por sua inteligência, pelo respeito aos alunos. Esses me fazem sorrir. Outros se tornaram inesquecíveis por sua pequenez e tolice. Esses me fazem rir.

 

O que dá às crianças o direito de aprender? Primeiro, é a curiosidade. As crianças acham as coisas do mundo muito interessantes e querem saber por que elas são do jeito que são. Para que serve isso? Para nada. Apenas pelo prazer: matar a curiosidade.

 

É preciso, antes de tudo, desconfiar do nosso estoque de experiências e colocar as nossas certezas de lado.

 

O dedo aponta para a Lua, mas ai daquele que confunde o dedo com a Lua.

 

Se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses, não haverá borboletas!

 

 

 

Todas as palavras tomadas literalmente são falsas. A verdade mora no silêncio que existe em volta das palavras. Prestar atenção ao que não foi dito, ler as entrelinhas. A atenção flutua: toca as palavras sem ser por elas enfeitiçada. Cuidado com a sedução da clareza! Cuidado com o engano do óbvio!

 

Simplicidade é isto: quando o Coração busca uma coisa só. Concerto para corpo e alma.

 

Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas, para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel.

 

Um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar.

 

Eu sou muitos!5

 

Amores novos não combinam com a dignidade dos velhos.

 

A beleza não elimina a tragédia, mas, a torna suportável.

 

 

 

Tem razão o poeta: “O amor é a coisa mais triste quando se desfaz.” É triste por causa do retrato: porque ele faz lembrar uma felicidade que se teve e que não se tem mais. O retrato é uma sepultura.

 

Nós somos como as lagartixas, que perdem o rabo: logo um rabo novo cresce no lugar do velho. Assim é com a gente: logo a vida volta à normalidade, e estamos prontos para amar de novo. A saudade doída passa a ser só uma dorzinha gostosa.

 

Muito mais difícil que lembrar é esquecer! Fala-se de “boa memória”. Não se fala de “bom esquecimento”, como se esquecimento fosse apenas memória fraca. Não é não. Esquecimento é perdão, o alisamento do passado, igual ao que as ondas do mar fazem com a areia da praia durante a noite.

 

A saudade não deseja ir para frente. Ela deseja voltar.6

 

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

 

Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma. Daí, a dificuldade!

 

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e da nossa vaidade. No fundo, somos sempre os mais bonitos!

 

Deus é isto: a Beleza que se ouve no Silêncio. Daí, a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá [nos outros] também!

 

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

 

Infinitamente belo; insuportavelmente efêmero.7

 

Será possível, então, um triunfo no amor? Sim. Mas, ele não se encontra no final do caminho, nem na partida, nem na chegada, mas, na travessia.

 

Eé assim que as religiões se multiplicam, porque os desejos dos homens não têm fim, e os seus santuários se enchem de santos de todos os tipos.

 

As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos.

 

Aquilo que está escrito no Coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.

 

Uma pessoa é bela, não pela beleza dela, mas, pela beleza nossa, que se reflete nela.

 

O segredo do amor é a androginia: somos todos, homens e mulheres, masculinos e femininos ao mesmo tempo.8

 

 

 

 

Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo.

 

O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e tranqüila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você..."9

 

Todo mundo gostaria de se mudar para um lugar mágico. Mas, são poucos os que têm coragem de tentar.

 

 

Tinker Bell (Sininho)

 

Deus é leve e ri!

 

Um único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira!

 

Minha vida se divide em três fases. Na primeira fase, meu mundo era do tamanho do Universo. E era habitado por deuses, verdadeiros e absolutos. Na segunda, meu mundo encolheu. Ficou mais modesto e passou a ser habitado por heróis revolucionários, que portavam armas e cantavam canções de transformar o mundo. Na terceira, mortos os deuses, mortos os heróis, mortas as verdades e os absolutos, meu mundo se encolheu ainda mais, e chegou não à sua verdade final, mas, à sua beleza final: ficou belo e efêmero como uma jabuticabeira florida.

 

Mas, é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.

 

Nós não vemos o que vemos; nós vemos o que somos. Só vêem as belezas do mundo aqueles que têm belezas dentro de si.10

 

Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas, o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas, o colo que acolhe.

 

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido!

 

Faz tempo que, para pensar sobre Deus, não leio os teólogos; leio os poetas.

 

Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.

 

Minha alma é um quarto onde os objetos mais estranhos estão colocados, um ao lado do outro, sem ordem, sem nenhuma intenção de fazer sentido.

 

Somente aqueles que contemplam a beleza são capazes de endurecer sem nunca perder a ternura. Guerreiros ternos. Guerreiros que lêem poesias. Guerreiros que brincam como criança.11

 

De vez em quando, o diabo me aparece e temos longas conversas.

 

Conhecimento é coisa erótica, que engravida. Mas, é preciso que o desejo faça o corpo se mover para o amor. Caso contrário, permanecem os olhos, impotentes e inúteis. Para conhecer é preciso, primeiro, amar!

 

O desejo de liberdade é mais forte do que a paixão. Pássaro, eu não amaria quem me cortasse as asas. Barco, eu não amaria quem me amarrasse no cais.12

 

A Liberdade é o alimento do Amor!

 

A linguagem tem a possibilidade de fazer curtos-circuitos em sistemas orgânicos intactos, produzindo úlceras, impotência ou frigidez. Porque são as palavras que carregam consigo as proibições, as exigências e as expectativas. E é por isto que o homem não é um organismo, mas, este complexo lingüístico a que se dá o nome de personalidade.

 

O corpo humano se alimenta também de ausências...

 

Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que não podem ser ajudadas. Têm que acontecer de dentro para fora.

 

O desejo que move os poetas não é ensinar, esclarecer, interpretar. O desejo que move os poetas é fazer soar de novo a melodia esquecida.13

 

Toda saudade é uma espécie de velhice. É por isto que os olhos dos velhos vão se enchendo de ausências.

 

Eu te abraço para abraçar o que me falta.

 

A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A “reverência pela vida” exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.

 

Só podemos amar o que um dia já tivemos.14

 

Na verdade, o intelecto puro odeia a repetição. Está sempre atrás de novidades. Uma vez de posse de um determinado conhecimento, ele não o fica repassando e repassando. “Já sei”, ele diz, e prossegue para coisas diferentes.

 

E, repentinamente nos damos conta de que os enigmas da Via Láctea são pequenos demais comparados com aqueles das pessoas que vemos todo dia. Só que nossos olhares ficaram baços, e não percebemos o maravilhoso ao nosso lado. Se fôssemos tomados pelo fascínio, então, pararíamos para ver, e veríamos coisas de que nunca havíamos suspeitado.

 

E bem pode ser que as pessoas descubram no fascínio do conhecimento uma boa razão para viver, se elas forem sábias o bastante para isto, e puderem suportar a convivência com o erro, com o não saber e, sobretudo, se não morrer nelas o permanente encanto com o mistério do Universo.

 

Deus nos deu asas no pensamento para voar; os homens nos deram as gaiolas das religiões.

 

 

Felix the Cat
(em português, conhecido como Gato Félix)

 

 

Aprendi pela minha recusa em aprender.15

 

Aprendi com Albert Schweitzer16 que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor.

 

Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais.17

 

As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas, somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.18

 

Tarefa primordial do professor: seduzir o aluno para que ele deseje e, desejando, aprenda.

 

Suspeito que nossas escolas ensinem com muita precisão a ciência de comprar as passagens e de arrumar as malas. Mas, tenho sérias dúvidas de que elas ensinem aos alunos a arte de ver enquanto viajam.

 

Orações e poemas são a mesma coisa: palavras que pronunciamos a partir do silêncio, pedindo que o silêncio nos fale.

 

A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente.19

 

Entre as muitas coisas profundas que Sartre20 disse, esta é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você.” Pare. Leia de novo e pense. Você lamenta a maldade que a vida está fazendo com você? Se Sartre estiver certo, essa maldade poderá ser o lugar onde você irá plantar o seu jardim.

 

Ah! Como as entrelinhas são importantes! É nelas que estão escritas as coisas que só a alma pode entender!

 

Dentro de mim mora um palhaço e um poeta: riso e beleza... Se eu não fosse escritor, acho que seria jardineiro. No paraíso, Deus não construiu altares e catedrais. Plantou um jardim. Deus é um jardineiro. Por isto, plantar jardins é a mais alta forma de espiritualidade.

 

Amo aqueles que plantam árvores, mesmo sabendo que nunca se sentarão à sua sombra. Plantam árvores para dar sombra e frutos para aqueles que ainda não nasceram!

 

Não tenho problemas com Deus. Mas, tenho muitos problemas com aquilo que os homens pensam sobre Deus.

 

Quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser que morra de repente. Mas, morrerá em pleno vôo.

 

Foi assim que a escola me ajudou: forçando-me a pensar ao contrário dos meus próprios pensamentos.

 

O meu encanto precisa da saudade.

 

Sei que não me resta muito tempo. Já é crepúsculo. Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos!

 

O encontro inesperado, as situações inusitadas, o que não foi combinado, ma, tinha que acontecer.

 

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.

 

 

 

Quem Não Sonha?

 

 

 

Quem não sonha

com um mundo melhor?

Quem não sonha

que acabe logo o pior?

 

Quem não sonha

com poder transformar?

Quem não sonha

com poder aprimorar?

 

Quem não sonha

com afinidade Universal?

Quem não sonha

que desapareça o mal?

 

Quem não sonha

com a sua manumissão?

Quem não sonha

em destroçar o alçapão?

 

Quem não sonha

com unificar seus Eus?

Quem não sonha

em se tornar um Deus?

 

Se nós sonhamos,

podemos causar sonhos;

basta que façamos,

deixando de ser pidonhos.

 

É dever de todos nós

melhorar e fazer melhorar.

Só desatando os nós

 

E como desatar nós?

Joeirando do porão mental

crendices, teias e pós,

e do Bem sendo um canal.

 

Não há outra Senda

para ocorrer a Libertação.

Também, tipo adenda,

 

................................

 

Isto se chama Iniciação.

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. E, para alguns poucos, olhos de certeza.

2. E só poderá vir de dentro. A beleza exterior é ilusória e fugaz; a beleza interior é legítima e perpétua.

 

A Saudade mata a gente...
E daí, esquecemos!
A Saudade é dor pungente...
E daí, padecemos!
(Re)memorar aviva a gente...
Então, (re)sejamos!
(Re)lembrar ilustra a gente...
Então, (re)vivamos!

 

3. Pois é. Veja se não é assim:


Se Vlad III compreendesse isto,
não seria empalador de gente.
Se os inquisidores bolassem isto,
não teriam
exematado tanta gente.
Se Herr Achtzehn notasse isto,
não teria enfornado tanta gente.
Se os torturadores ideassem isto,
não teriam buracado tanta gente.
Se seu al-Assad manjasse isto,
não espingardearia tanta gente.
Se o Boko Haram captasse isto,
não empandeiraria tanta gente.
Se os vândalos inferissem isto...
Não há mais santo que agüente!

 

4. Esperança?

 

Quem espera não alcança;
chupa dedo igual a criança.
Quem espera perde a Hora!
Meia-noite... Zás! Abóbora!

 

 

 

 

5. Todos nós somos muitos!

6. Este é exatamente o caso da saudade metafísica. Só que no caso da saudade metafísica – uma espécie de saudade devachânica – é pior, pois, sentimos saudade de aquilo que não sabemos lá muito bem o que é, mas, que temos uma certeza incerta que existe. Este tipo de saudade é mesmo uma bosta!

7. Assim é o orgasmo!

8. Há muitos anos, no tempo que Adão era cadete e que o Frank Sinatra fazia as bobby soxers suspirar e desmaiar, escrevi o texto Uma Aventura Rosacruz Fora do Corpo (Depoimento: Androginia Mística). O trabalho começa assim:

 

Sei que sou cosmicamente andrógino.
Sei que tudo e todos são andróginos.
Mas, esta saudosa Androginia
não pode se manifestar agora,
conforme aconteceu outrora.
Daí, essa casual agonia,
que sinto nos endógenos
– porque sou e não sou andrógino.

 

9. Pois é. É assim ou não é?

 

Se eu fosse você,
como eu seria eu?
É como o á-bê-cê,
que não é proteu!

 

10.

 

Beleza da Solidariedade.
Beleza da Fraternidade.
Beleza da Paz Profunda.
Beleza do Luz Fecunda.
Beleza do Bem Universal.
Beleza do Incondicional.
Beleza do Abundancial.
Beleza da Despretensão.
Beleza da Compreensão.
Beleza da Indulgência.
Beleza da Paciência.
Beleza da Caridade.
Beleza da Humildade.
Beleza de Compartilhar.
Beleza de Poetificar.
Beleza de... ... ... ... ...

 

11. Ou como disse o político, jornalista, escritor e médico argentino-cubano Ernesto Guevara de la Serna, conhecido como "Che" Guevara (Rosário, 14 de junho de 1928 – La Higuera, 9 de outubro de 1967): Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás. Há que se endurecer, mas, sem jamais perder a ternura.

12. É por isto que respeito, mas, não amo o Catolicismo. Amo o Cristianismo Gnóstico, mas, o Catolicismo, para mim, não vale sequer um prato de feijão com arroz, farofa, ovo estrelado e macarrão. E não adianta vir com romeu e julieta de epidípnide. Quando eu era garoto, para fazer a Primeira Comunhão, me enfiaram o catecismo goela abaixo, e me obrigaram a decorar e a acreditar que Deus é um espírito perfeitíssimo criador do céu e da Terra, que Jesus é o Filho de Deus feito homem, que Deus enviou seu filho Jesus à Terra para salvar os homens, que Jesus morreu pregado numa cruz, que Jesus ressuscitou no domingo de páscoa, que Jesus fundou a Igreja, que o Espírito Santo, no dia de Pentecostes, se apresentou como línguas de fogo sobre os apóstolos e as pessoas presentes, que a Igreja é a casa de Deus, que ter fé é acreditar em Deus e em tudo o que Ele revelou, que pecado é uma desobediência à Lei de Deus Pai e por aí vai. Ai que eu não soubesse estas coisas de cor e salteado! Não faria a Primeira Comunhão. Agora, o que um garoto, de mais ou menos 8 anos, ignorante que nem uma pedra-pomes cheia de buracos, poderia entender dessas regrinhas esquisitíssimas inventadas pelos teólogos? Ora, neca de pitibiriba. Mas, o pior, para mim, foi Deus Pai ter mandado lá do céu seu Filho muito amado para morrer crucificado aqui na Terra por um bando de malucos. Esse Deus, para mim, estava mesmo mais para um Deus Padrasto esquizofrênico do que para Deus Pai. Por outro lado, nunca entendi como a Deusa Mãe (de quem nunca, até hoje, disseram uma só palavra) não impediu esta barbaridade. Sempre achei que só poderia ser uma Deusa Mãe desnaturada. E o dogma do Pecado Original (parido por sua excrescência, o bispo grego, teólogo e escritor cristão Irineu de Lyon (130 — 202), em sua controvérsia com o dualismo do Gnosticismo, que só serviu para para aumentar o poder de controle da Igreja sobre a vida sexual, na Idade Média? Este, eu nunca encaixei. Se Adão e Eva pecaram, o problema foi deles, não meu. Do tal do limbo nem vou falar; acabaram com ele. Mas, quando foram me ensinar o que era pecado venial (que reduz a graça divina, sem eliminá-la, e manda o cara para o purificatório se depurar até virar anjo) e o que era pecado mortal (que faz perder a graça divina, que mata o espírito e manda o cara torrar no inferno para sempre e mais seis meses, nove horas e dezessete minutos), deram como exemplo o furto. Foi aí que quebraram a cara em verde-amarelo, pois, me ensinaram que furtar até cem cruzeiros era pecado venial; mais do que cem cruzeiros era mortal. Aí, eu levantei o dedinho, e, com pavor de dar uma baita rata, perguntei mais ou menos assim: — E se a pessoa furtar exatamente cem cruzeiros? É venial ou mortal? Estou esperando a resposta até hoje. E lá se vão sessenta anos! O padre que me ensinou estas coisas sem pé nem cabeça já deve ter morrido há muito tempo. Espero, sinceramente, que ele já tenha pago as diárias do hotel do purificatório e esteja no céu. Minha mãe, que também já morreu e está no céu, deve estar sentada em uma cadeira de balanço. Balançando, claro! Pelo menos, era isto que ela dizia que iria fazer quando chegasse lá. Espero que São Pedro não a tenha decepcionado, senão ele haverá de se ver comigo. No mínimo, levará um catiripapo. De leve!

 

 

Santo Irineu de Lyon
(O Pai do Pecado Original)

 

13.

 

Eu esqueci.
Você me lembrou.
Eu reparti.
O mundo mudou!

 

14. Isto está absolutamente de acordo com a Teoria da Reminiscência, de Platão (Atenas, 428/427 – Atenas, 348/347 a.C.). Aprender é lembrar aquilo que você já sabe. Fazer é demonstrar que você o sabe. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você. Daí, a Maiêutica Socrática, o Parto Intelectual. Aprender, na verdade é relembrar. Como poderíamos sentir, apre(e)nder, recordar, bolar etc. o que não existe no Mundo Inteligível? Nem o Professor Pardal (Gyro Gearloose) consegue reminiscenciar um treco destes! Mas, reminiscenciando, reminiscenciando, se va lontano! Piano! Piano!

 

Reminiscenciando! Reminiscenciando!

 

 

15. Traduzindo: aprendi pela dor!

16. Albert Schweitzer (Kaysersberg, 14 de janeiro de 1875 – Lambaréné, 4 de setembro de 1965) foi um teólogo, músico, filósofo e médico alemão. Ainda quanto à Ética, Albert Schweitzer disse: O erro da Ética, até o momento, tem sido a crença de que só se deva aplicá-la em relação aos homens.

17. Mas, quem morre? O que morre? O Universo é vida. Vida permanente.

18. Por isto, Navigare necesse; vivere non necesse. Navegar é preciso; viver não é preciso. Admoestação do general e político romano Cnæus Pompeius Magnus (29 de setembro de 106 a.C. – 29 de setembro de 48 a.C.) aos marinheiros, amedrontados, que se recusavam a viajar durante a guerra.

19. Mas, é preciso poupar uns caraminguás, para, quando o inverno chegar, ter um tutuzinho para comprar um remedinho para a pressão. Agora, ando tomando dois compimidinhos de Atenolol de 25mg por dia. Fazer o quê. Velhice é assim mesmo. Eu só gostaria de não ficar gagá. Ficar gagá é a maior merda que pode acontecer a um ser humano. Já pensou alguém me perguntar em quem eu irei votar para Presidente da República, e eu responder que irei almoçar com João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, na Casa Branca, em Bangladesh, a convite de Cristina Elisabet Fernández de Kirchner e do seu filho Juan Domingo Perón? Isto faz até mamute reencarnar!

20. Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de Junho de 1905 – Paris, 15 de Abril de 1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês, conhecido como um dos representantes lúcidos do Existencialismo.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.netanimations.net/Spinning-turning-
revolving-gears-and-cog-wheel-animated-gif-images.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pecado_original

http://pt.wikipedia.org/wiki/Irineu_de_Lyon

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http://kdfrases.com/autor/rubem-alves

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http://www.swapmeetdave.com/Humor/Cats/Felix.htm

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http://pensador.uol.com.br/frases_de_rubem_alves/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rubem_Alves

http://pt.wikiquote.org/wiki/Rubem_Alves

 

Música de fundo:

A Saudade Mata a Gente
Composição: Antônio Almeida & João de Barro
Interpretação: Maria Bethania

Fonte:

http://musicaq.net/descargar_musica/maria-bethania-1.html

 

Direitos autorais:

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