MINHAS RUBAYS

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

Originariamente estas rubays (algumas foram reescritas para esta publicação) constam do ensaio místico-sufístico Omar Khayyam. Rubaiyat é o plural da palavra persa rubay e quer dizer quadras, quartetos. Nas rubays, o primeiro, o segundo e o quarto versos são rimados; o terceiro é branco (A-A-B-A). Para esta revisitação escrevi algumas novas rubays, todas inspiradas na poesia sufi de Omar Khayyam. O trabalho sobre Omar poderá ser lido em:

http://paxprofundis.org/livros/omarkhayyam/omarkhayyam.html

 

 

 

 

ei que sou um repetidor.

Repetidor, sim, jamais um enganador.

Mas, homens e mulheres claudicam....

Então, repetir é espargir Amor.

 

 

 

 

ernando Pessoa e Omar

viveram para amar e ensinar.

Quem não os puder compreender

deve se esforçar para 'zikrar'.

 

Pax vobis omnibus qui estis inChristo.

 

 

onsolado, a cabeça em torvelinho,

agora, em silêncio, tomarei meu Vinho

que aquece, illumina e embriaga,

pois aprendi que não estou sozinho.

 

 

 

 

o seio da Rosa+Cruz

encontrei o Portal da LLuz.

Compreendi o segredo da morte:

a Rosa pregada na Cruz.

 

 

 

 

e Iniciação em Iniciação

foi-se abrindo meu Coração.

Aprendi a reconhecer

em cada ser um Irmão.

 

 

 

 

oje já não cometo o pecado

de me sentir e viver escravizado.

Pelos meus deuses-demônios

um dia fui dominado.

 

 

 

 

asci e morri tantas vezes...

Tantos foram os revezes...

Então, ao ouvir o Som do Silêncio,

transmutaram-se as antigas 'tezes'.

 


 

 

omo Irmão, a todos desejo:

Lutem! Vençam o animalejo!

Ele parece encantador, mas...

é medonho e malfazejo.

 


 

 

eu Irmão: seja forte.

Não há milagre nem sorte.

O Som do Silêncio ensinará

que também não existe morte.

 

 

 

 

ada homem é um Deus.

Irmãos: Rendam-se aos Seus.

Coragem, firmeza, determinação.

Vida dissoluta: intrepidez — adeus!

 

 

 

 

az Profunda e Fraternidade

vencerão a agressividade.

A Lei deve ser cumprida:

no tempo, triunfará a Verdade!

 

 

 

 

uem quiser alcançar a serenidade

não pode ser instrumento da perversidade

nem da fraude ou da violência.

Deverá espargir o bem e a bondade.

 

 

 

 

ão deixes o egoísmo te dominar

nem a ira em teu coração reinar.

Sempre coagular e dissolver;

sempre orar e laborar.

 

 

 

 

m coração que ignorou o amor

corrompeu em meio à dor.

Chora triste coração!

Por que não regaste a Flor?

 

 

 

 

eflorescerá o passado?

Por que tanto enfado?

O que reserva o futuro?

Não há futuro nem passado.

 

 

 

 

s que vivem a esperar amanhãs

e sonham com ensolaradas manhãs

vivem mortos sem saber.

Quantas vidas improdutivas e chãs!

 

 

 

 

uem vive com medo do inferno

amanha seu próprio averno.

Crer em castigos divinais

é viver e morrer subalterno.

 

 

 

 

aze o que tu queres e será toda a Lei.

Faze o que tu queres e serás teu Mestre-Rei.

Não construas uma Pasárgada;

lá não existe lei, lá não acharás teu Rei.

 

 

 

 

s fornicadores e os veneradores

são todos adoradores

do vinho feito das uvas.

Vinhos só fermentam dores!

 

 

 

 

s dias vão passando...

Os seixos vão arredondando...

E os seres-no-mundo vão vivendo

sem ouvir a Voz cantando.

 

 

 

 

em ouvir a Voz cantando

— cabeceando e tagarelando,

contradizendo e sofrendo —

os dias vão encurtando.

 

 

 

 

uosque tandem, Catilina,

tua vida pequenina

te abominará?

Até quando pagarás propina?

 

 

 

 

inútil te afligires por teres pecado.

É inútil te acerbares por teres te desviado.

É inútil chorares e reclamares das quedas.

Útil é um exame de consciência acurado.

 

 

 

 

uem vive a envenenar

e quem se compraz em condenar,

na amaridão da negra noite

não verá o Sol raiar.

 

 

 

 

ristãos, muçulmanos e judeus

rezam cada qual ao seu Deus.

Aprenderão em meio a choros e dores

que só há um Aton-Deus.

 

 

 

 

im, há só um Aton-Deus;

em cada Coração há um Deus!

Esta lição será aprendida

por incréus, religiosos e ateus.

 

 

 

 

Rosa da liberdade

não compete com a saudade.

Quantas lágrimas dobradas...

Quanta falsa majestade!

 

 

 

 

ntão, sussurou-me o vento:

Por que tanto desalento?

A dor e o desespero

são filhos do distanciamento.

 

 

 

 

ater noster qui es in Terra

quero ser muito rico na Terra.

Depois festejarão os micróbios;

serão sete palmos de terra.

 

 

 

 

ai meu do meu Coração!

Eu não busco a salvação

e nem quero ser rico na Terra.

Pai: dai-me compreensão.

 

 

 

 

 

Fundo musical:

Ballad For The Lonely