AQUI ENVIADOS DE ONDE?


Rodolfo Domenico Pizzinga

www.rdpizzinga.pro.br



Música de Fundo: Peshrev ajam ashiran
Fonte:
http://www.arafolk.net/composic.php

 

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O Esplendor da Pérsia
Fontes: Julho/Agosto de 2004
http://www.babyloniangal.com
http://depts.washington.edu
http://www.virtual-egyptian-museum.org
http://www.antique-carpets.com/
http://www.persia.co.jp/home.html
http://www.arco-iris.com/
http://www.moondiary.com.au/index.html
http://www.geocities.com/daaralnaeem


 

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OBJETIVO DO TEXTO

 

        Examinar em Omar Khayyam alguns aspectos místico-iniciáticos, particularmente as questões da vida e da morte. No final, muito rapidamente, trarei Fernando Pessoa para este adorável encontro. Bismillah hirRahman nirRahim. Em Nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso. Allahu Akbar. O D'EUS DE NOSSOS CORAÇÕES.

 

Que a Paz, a Misericórdia e a Bênção de Deus estejam com todos os entes. Está Selado.

 

 


All
human beings are born free and equal in dignity and rights. They are endowed with reason and conscience and should act towards one another in a spirit of brotherhood.

 

Omar Khayyam

Omar Khayyam

 

 


       Ghiyath Al Din Abul Fateh Omar Ibn Ibrahim Al Khayyam, médico, poeta, filósofo, místico, matemático e astrônomo, esteve conosco por mais ou menos oitenta anos. Nasceu em 18 de Maio de 1048, em Nishapur, na antiga Pérsia, e passou pela Grande Transição, provavelmente, em 4 de Dezembro de 1131, nessa mesma Cidade. As datas de seu nascimento e de sua transição não são coincidentes entre os autores. Terá isso importância? Sua terra natal situa-se a 115 km a oeste de Mashad, na Província do Khorasan. Esta antiga Cidade é conhecida desde a Alta Antigüidade como um centro mundial exportador de turquesas. De qualquer forma, Omar viveu a maior parte de sua vida em Samarkanda, uma das principais cidades da civilização muçulmana. Mas, em 1092, realizou uma peregrinação a Meca.

 

Nishapur

 

Khayyam Mausoleum
Khayyam Mausoleum

Khayyam Mausoleum

 

Samarkanda  —  Que haja PAZ entre Judeus e Muçulmanos!

 

       O Poeta e Iniciado Sufi adotou o nome Khayyam em memória de seu pai que era fabricante de tendas. Desde logo, um enigma: haverá algum simbolismo místico em relação às tendas? Uma tenda pode servir para proteger as pessoas, as árvores frutíferas, as vinhas etc. das condições extremas do clima de uma determinada região. Pode, por outro lado, estar referida a um local de estudo ou de meditação (shanti). No Sufismo e no Islamismo é preferível ser usada a palavra oração, em que o corpo, a mente e as emoções devem estar unificadas em busca de uma aproximação amorosa e consciente com o Criador, que, em verdade, é UNO com o próprio ser. Um dos aspectos do Sufismo é o esforço empenhado pelo Iniciado Sufi em se tornar um ser humano integral e consciente do Deus de seu coração, e não permanecer na humilhante condição de besta (666) em forma humana. O Hajj Sheikh Muhammad Ragip al-Jerrahi assim resume e define o Sufismo: O Sufismo é um dos frutos do Islã. É uma forma de buscar a realização do ser humano em um contexto em que o fundamental é a busca da lembrança do nosso Criador — Allah — através do Amor, e os parâmetros desse Caminho são os que foram revelados por Allah ao Profeta Muhammad. O Sheikh Acrescenta, ainda: Todas as práticas do Sufismo são derivadas do Sagrado Alcorão e das tradições do Profeta Muhammad (saws). Os grandes mestres do Sufismo derivam seus ensinamentos dessas fontes. Por tudo isso, uma tenda poderá ser também um sítio sagrado, se aquele que lá estiver torná-lo sagrado pelos seus pensamentos, pelas suas ações e pelas boas obras que lá estiver praticando! O espaço interior de uma tenda geralmente é dividido por cortinas, que separam a entrada social destinada à recepção de convidados e a parte privada e íntima reservada à família. O piso no interior das tendas é recoberto por tapetes e o mobiliário é variável, mas, usualmente, é constituído por pequenas arcas e almofadas. Mas, repetindo: A TENDA PODERÁ SER UM SANTUÁRIO SACROSSANTO. Se assim for, jamais poderá ser violada. Coração! Tenda! Sanctum!

 

 
La Ilaha Illa Llah, Muhammadan Rasulullah.
Não há Divindade exceto Allah e Muhammad (saws) é Mensageiro de Allah.  

 

Madonna della Tenda

Madonna della Tenda (1512-1514).  Raphael (1483-1520)

 

La Tenda-Cappella

La Tenda-Cappella: Capuchin House in Jerusalem

 

Tenda

Tenda


       Em sua mística e humilde perplexidade e lúcida sensibilidade consciente, Khayyam, em meio a metáforas de difícil compreensão e imagens místico-simbólicas (é praticamente impossível traduzir fidedignamente o trabalho literário de Khayyam em uma outra língua, exatamente porque envolve mensagens místicas e filosóficas de profunda complexidade), astrônomo que conhecia a trajetória e a influência metafísica dos astros, matemático que compreendia a pureza da rigorosa geometria e o enigmático algebrismo da criação micro e macroscópica, Filósofo e Iniciado Sufi, que percebia a inconseqüente presunção dos homens sábios que se julgavam mais sábios do que realmente eram e a ignorância arrogante dos não-sábios, mas que igualmente se autonomeavam sábios, e poeta maior que caminhava liricamente entre vinhos, rosas e amores, certamente não iria se entregar a tão solene afetação na alma da Rubaiyat (nas rubais quadraso primeiro, o segundo e o quarto versos são rimados; o terceiro é branco) para questionar o processo encarnativo do ente de forma tão medíocre:
aqui enviados de onde? Esta dúvida (dúvida?) deve ser vista e interpretada de outra forma. Com o Olho Interior. Com o Olho Interior deve ser percebido que as rubais, em seu versos rimados, formam uma progressão geométrica 1, 2 e 4. Por um lado, Triângulo; por outro, Tetractys; por um terceiro Quadrado. Por isso, certamente, em Omar, o vinho não é o vinho que vem das uvas, e este e o amor que tanto cantou são uma única e indiferenciada ESSÊNCIA. E as rosas... Ah! As rosas! O amor! No Sufismo, tudo começa com o Amor e continua com o Amor. Ilimitadamente. Tal Amor é freqüentemente expresso através da música, dos poemas e das estórias, e o objetivo do Sufismo é proporcionar ao ser humano retornar (reintegrar-se) à Fonte Original por meio do autoconhecimento e de sua relação consciente com o Universo. Com Omar não poderia ser diferente. Abaixo, estão reproduzidos dois fragmentos dos Poemas intitulados Mistério e Amor, de autoria do Sheikh Muzaffer Ozak al Jerrahi e colhidos em sua obra Ashki-Divan.

 

MISTÉRIO

 

 ... Amor, essência que não pode ser vista,

Mistério que não pode ser conhecido.

 Mesmo quando conhecido, não pode ser contado.

Presente em todo o lugar.

*

Bebi do Veneno do Amor,

Cruzei o Rio do Coração.

Para encontrar a Cidade da União,

Encontrei o que havia em seu interior...

 

*  *  *

 

AMOR

 

...Amor, a essência da criação.

Amor, parte central de todas as coisas.

A visão do amante,

Move-se com o poder do Amor.

*

...Contemple as montanhas e as pedras,

Os pássaros no céu.

Verões, outonos, invernos,

Todos se movem com o poder do Amor.

*

Anjos, homens e gênios,

Sangue correndo nas veias.

Servos e sultões,

Movem-se com o poder do Amor...

 

* *  *  *  *  *  *

 

       Omar, ao contrário do que imaginam os distraídos, não era um hedonista cirenaico, epicurista ou utilitarista. Aos distraídos, repito, pode lembrar Epicuro. No Hedonismo a meta é o prazer – bem supremo(?) – finalidade e fundamento da vida. No Cirenaísmo, doutrina formulada por Aristipo de Cirene (435-356 a.C.), a dedicação ao prazer dos sentidos é o fundamento de todos os prazeres. Neste sistema, a felicidade deverá resultar do somatório de todas as formas de fruição atuais e futuras. O Epicurismo, doutrina estabelecida pelo filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.), caracteriza-se por uma concepção atomista e materialista da Natureza. Teoriza uma indiferença perante a morte e está estruturada em uma Ética que identifica o bem com os prazeres comedidos, que, por passarem pelo crivo da reflexão, seriam impermeáveis ao sofrimento. No Epicurismo, a lei fundamental da Natureza é a procura do prazer. O Utilitarismo, método desenvolvido no âmbito Filosofia Liberal Inglesa, especificamente em Jeremy Bentham (1748-1842) o Princípio da Utilidade determina que esta, a utilidade, é a propriedade de um objeto pela qual ele tende a produzir benefício, vantagem, prazer, bem ou felicidade e... ou... evitar inconvenientes, penas, males ou infelicidades da parte daqueles cujo interesse está em consideração e em John Stuart Mill (1806-1873), defende a procura do prazer individual, que somente se plenifica por meio de sua extensibilidade para o maior número possível de pessoas. Esta doutrina considera a boa ação ou a boa regra de conduta caracterizáveis pela utilidade e pelo prazer que podem proporcionar a um indivíduo e, ampliadamente, à sociedade como um todo, na suposição de uma complementaridade entre as satisfações pessoal e coletiva. Ora, nada disso morava na alma de Omar. Ou, pelo contrário, tudo isso estava entranhado em seu ser, mas com um outro colorido, em outra direção. O propósito era outro. Em uma palavra: Misticamente. Este Persa Ilustre era um Místico Sufi terno e humano e seus poemas estão crivados de profundas alegorias iniciático-espirituais. Mas, como a maioria das pessoas se fixa tão-somente nas palavras e no sentido objetivo que elas normalmente oferecem, não conseguem alcançar nem decodificar as cifras implícitas em determinadas obras de pensadores que estão além do tempo e (quase) livres das ilusões e dos desejos corriqueiros do dia-a-dia. Os dois poemas de Muzaffer anteriormente citados em parte retratam alegoricamente o mistério oculto no PODER DO AMOR. O que significará exatamente, por exemplo, o vir-a-ser ou devir?

       O que ocorre, geralmente, é que as pessoas pensam, analisam e tentam racionalizar; os místicos e os iniciados intuicionam direta e transracionalmente sem analisar ou racionalizar nada. A inteligibilidade de algo que se torne discernível obviamente só pode se dar no plano filosófico (noesis) ou no nível científico (dianoia). Pequena espera. Longa espera! E isto pode levar dias, meses ou até anos. Ou nem ser perceptível em uma encarnação. Albert Einstein (1879 - 1955) teve que trabalhar durante anos para traduzir matemática, física e racionalmente a representação intelectual intuitiva que teve das Leis que regem a Relatividade. As reflexões de Albert começaram quando ele tinha apenas 16 anos. Em uma carta que escreveu a um tio enviou algumas reflexões juvenis sobre alguns problemas que ocupavam sua mente, e que, mais tarde, deram origem à Teoria da Relatividade Especial (que examina as leis que regem o movimento uniforme) publicada em 1905. Posteriormente, na verdade, depois de estudar e meditar sobre suas intuições por dez longos anos, em 1915, tornou pública a Teoria da Relatividade Geral, que trata do movimento acelerado e da gravitação. Eu fico imaginando como deve ter sido difícil para Einstein escrever, matemática e relativisticamente, que, por exemplo: a) as leis fundamentais da física devem ter a mesma estrutura matemática em todos os sistemas inerciais; b) a velocidade da luz é uma constante independentemente do movimento, do manancial ou do observador; c) nenhum sinal ou energia pode se transmitir com velocidade maior do que a velocidade da luz; d) a massa inercial de uma partícula é função de sua velocidade (o que aumenta com a velocidade não é a quantidade de matéria de uma partícula, mas sua massa inercial, a qual mede a inércia do corpo —› quanto maior a velocidade, maior será a inércia, isto é, torna-se mais difícil a variação de velocidade); e) o intervalo de tempo gasto para ocorrer um fenômeno dependerá sempre do referencial em que está o observador; e f) uma massa m equivale a uma quantidade de energia E. Como no Universo E = constante, m + E = 1. O Universo é, portanto, finito; mas é, ao mesmo tempo, ilimitado. Hoje, são poucos os que não sabem que E = mc², c sendo a velocidade da luz. Um exemplo: uma mola terá massa maior se estiver comprimida relativamente ao instante em que não estava comprimida —› o acréscimo de energia potencial elástica ocasiona um aumento da massa inercial da mola. Mas, são raros os que conseguem entender misticamente esta singela formulinha, bem como que a massa inercial de qualquer corpo universal é função de sua velocidade. Logo, as coisas ditas e admitidas como mais difíceis e complicadas nem sequer são objeto de cogitação pela maioria dos seres humanos. Para o não-iniciado, assim, o vir-a-ser acontecerá depois; este devir, para o Iniciado, está acontecendo sempre, porque nunca houve o antes nem poderá suceder o depois. A cada vez que dormimos... A cada vez que acordamos... A cada vez que tornamos a dormir... Pisces dormiu! Aquarius ficará acordado! Em Pisces estava oculto Aquarius; em Aquarius está se ocultando Pisces. Em todos UM. UM em todos. Todos em todos. Todos em TUDO. TUDO em todos.

 

AMAI-VOS...



       Omar não era, como os desavisados julgam, um beberrão de vinho, hedonista, devasso e arruaceiro; era, com toda a certeza, um místico sufi. E seus poemas foram todos inspirados na Sabedoria Sufi, na qual, repetindo, era um Iniciado. Uma possibilidade para tentar entender o grande Poeta Persa, no que concerne à forma críptica com que poetizou os temas pelos quais navegou, talvez possa ser tentando sentir, alma com alma, seu Ser Cósmico, e procurando perceber com o coração a intencionalidade por detrás das rubais. Se ele teve a coragem e o discernimento de escrever Alcorão, o Livro Supremo, pode ser lido às vezes,/mas ninguém se deleita sempre em suas páginas./No copo de vinho está gravado um texto de adorável Sabedoria/ que a boca lê a cada vez com mais delícia. é porque sabia o que estava escrevendo. O Alcorão — que é patrimônio da Humanidade — não é um Livro fácil de ser entendido, muito menos de ser cumprido. A Bíblia também não. Estamos todos hoje assistindo exatamente a que? Bíblia versus Alcorão. Mas, no fundo, isto não é bem assim. Há, por trás de tudo isso, implicações de ordem cármica (retributiva) que não serão objeto de análise neste documento. Este é um tema muito complexo. Logo, em um sentido muito profundo e realmente hermético, não existe (nem existiu, nem poderá existir jamais) uma guerra religiosa. O Catolicismo prega a Paz. O Islã prega a Paz. A palavra Islã, em sua raiz, significa PAZ. O Catolicismo tem vocação para a universalidade; está em conformidade com a moral e com os bons costumes. Qualquer dicionário apresenta esses conceitos elementares. As palavras-chaves para ambos (Islã e Catolicismo) são: PAZ e FRATERNIDADE. O que gera as discórdias e os sofrimentos são os seres humanos (de ontem, de hoje e de amanhã), que em suas devastadoras e desmedidas ambições — afrontando e acomodando segundo suas conveniências princípios religiosos, políticos e econômicos — fazem as hediondas guerras em nome de seus deuses, deuses-demônios ou demônios-deuses criados por suas aberrantes convicções hipotéticas. Em suma: a Religião Islâmica não participa de guerras. O Islã é uma religião que promove a paz e o crescimento interior do ser humano. Há um hadith do Profeta Muhammad em que Allah ensina: aquele que conhece a si mesmo, conhece a Seu Senhor. Quem realmente conhece o Seu Senhor não fará a guerra em Seu Nome. E o que ensina o Decálogo em seu PRIMEIRO MANDAMENTO? Não é exatamente a mesma coisa? Amai-vos. As guerras político-religiosas são, assim, produto de políticos e de religiosos fanáticos (ignorantes do conteúdo místico-iniciático dos Livros Sagrados que regem suas religiões) que — torcendo, distorcendo e retorcendo passagens bíblicas e alcorânicas — se utilizam dessa literatura religiosa para por um lado cristianizar e por outro islamizar o mundo. Os religiosos sinceros — de qualquer religião — jamais promoverão a guerra, jamais se empenharão em fazer proselitismo e jamais causarão dor. O Sufismo e o Islã estão integrados no pensamento fundamental de todas as outras religiões, assim como o Catolicismo, que, embora na aparência pareçam ser distintas, em essência procuram todas aproximar os seres do Criador — o HOMEM IMORTAL QUE VIVE NO INTERIOR DE TODOS OS ENTES. Assim, haveremos todos, um dia, de reconhecer um fato incontestável: o propósito de todas as religiões é auxiliar os entes a se conhecerem em sua essência prístina e universal. O tempo que não é tempo no inexistente tempo: ... Lemúria... Atlântida... Judaísmo... Cristianismo... Islamismo e Sufismo... Purificação dos entes. Qual é, então, o Sacerdócio islâmico? O Islã e Sufismo vieram ratificar essa mensagem no momento em que a Humanidade estava (estava?) pronta para formar uma comunidade universal neste Planeta, porque o Islã é para todos. Mas, o Sufismo, talvez, não seja para todos. Ainda.

       Recomendo a utilíssima leitura do primeiro Anexo deste livro digital:
Em Nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso: A Necessidade de Diálogo Entre as Civilizações, de autoria do Sheikh Jihad Hassan Hammadeh.  Por isso, quanto ao Alcorão, Omar escreveu: ninguém se deleita sempre em suas páginas. Descumprir o Alcorão e descumprir a Bíblia no que essas obras têm de Sagrado é mais fácil e mais agradável. O Sagrado é, em determinado estágio da reintegração do ser, incompreendido, monótono e enfadonho. Logo, não pode ser alcançado e muito menos cumprido. Paciência! Os conceitos embutidos nessas Obras não são fáceis de ser compreendidos e, muito menos, de ser aceitos. Com o tempo virão a Compreensão, a Alegria e a Liberdade. Antero de Quental (1842-1891), em Sonetos, escreveu algo que, de certa forma, está vinculado à essas reflexões:

 

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
Tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiqüíssimo inimigo...

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco pascigo...

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...

Interrogo o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

 

       Omar não era, ipso facto, nem um sofredor sem destino, nem um nefelibata fugidio da realidade, nem um romântico incurável. Inspirar-se em Omar para levar a vida na flauta, é, ignorantemente, tentar justificar injustificadamente a própria ignorância pela ignorância da ignorada Sabedoria (ShOPhIa) omariana. Fico muito à vontade para fazer estes comentários, porque a primeira vez que li a Rubaiyat eu tinha dez anos de idade. Meu pai me deu o livrinho (escrevo assim com todo carinho, pois me lembro do tempo em que eu era um garotinho muito bobinho), eu li e... não entendi absolutamente nada. Ou melhor: entendi tudo. À minha maneira. Achei, na época, que Omar Khayyam era um grande sacanocrata e um tremendo boa-vida. Nos eme mais ene sentidos. Considero, sem crítica, que foi uma papaizada (bem intencionada, mas pouco responsável) de meu pai me dar para ler a Rubaiyat naquela época. Eu só compreendi (penso que compreendi) suas rubais recentemente. Então, o motivo deste ensaio é realmente dividir esse presumido entendimento com todos. Curioso! Em português, anagramaticamente,  OMAR = AMOR.  O PODER DO AMOR!  Em OMAR.

       A fama de Omar como matemático foi, de certa forma, ofuscada parcialmente por sua popularidade como Poeta. Isto se deve, provavelmente, ao fato de Khayyam ter incorporado à sua poesia conceitos mítico-místico-filosóficos — que se compreendidos, na maior parte das vezes, o são de forma atravessada — que sobreviveram até a contemporaneidade, pois incluem e sintetizam, entre outras cognoscibilidades, reflexões ontológicas, condutas morais, livre-arbítrio e ponderações estéticas. Tudo isso misturado com vinho que não é vinho, com rosas que não são rosas e com amor que não é amor. Mas, inelutavelmente, sua contribuição como filósofo e cientista ajudou a abrir caminho para as múltiplas fronteiras que desafiam o conhecimento humano. Um exemplo interessantíssimo é a duração do ano calculada por Omar. O ilustre filho de um fabricante de tendas conseguiu medir a duração do ano e obteve o valor de 365,24211958156 dias. Este valor mostra uma incrível precisão relativamente aos valores atualmente conhecidos. A exatidão alcançada por Khayyam é extraordinária: a duração do ano admitida pela ciência hodierna, smj, é de 365, 242190 dias. Se se determinar o erro de cálculo (erro?), constatar-se-á que é simplesmente desprezível. Eu sei que não sei nada. Mas sei que a noite e o dia de Omar eram outros. Como eram outros seus vinhos, seus amores e suas rosas!
     
       Antes de elucubrar sobre o
aqui enviados de onde?, reproduzirei e oferecerei minha interpretação para algumas (poucas) rubais de Khayyam. Na verdade, cada rubai oferta ao místico, ao religioso e ao espiritualista a oportunidade de uma profunda reflexão, entre outros temas, sobre os mistérios da vida e da morte. O agnóstico, quiçá, fará uma leitura diferente, o que não importa absolutamente nada. Mas, sem dúvida, se importar, importa muito mais do que ler Omar ou com olhos de vai-da-valsa ou com olhos teológicos ou acadêmicos. Não julgo o que é pior. Nem, realmente, me preocupo com o que é pior ou com o que é melhor. Mas, particularmente, sempre preferi — considerando a Humanidade como um corpo unitário — e continuo preferindo os incréus. E, também, vai-da-valsa é melhor do que dissimulação. Ler, portanto, Omar Khayyam com olhos acadêmicos oriundos de qualquer vertente nada acrescentará ao que já foi escrito sobre seu pensamento, nem, muito menos, proporcionará uma elevação da consciência a planos nos quais a razão, a emoção e as idiossincrasias são substituídas por RAZÃO, COMPREENSÃO e ILLUMINAÇÃO. Prefiro, como disse e expliquei o porquê, um ateu ou um agnóstico refletindo sobre o pensamento omariano do que um religioso ou um acadêmico. Os primeiros, livres do formalismo literário e do acachapante e incongruente dogmatismo religioso, estarão, sem o perceber, mais próximos do oculto e do misterioso encontrado em cada rubai; os segundos, agrilhoados a teorias teoteleescatológicas insustentáveis e a examinações semânticas (sincrônicas ou diacrônicas) apenas margeiam sua obra. Não alcançam o Svmmvm Bonvm omariano. Isto vale igualmente para os pensamentos, por exemplo, de Platão e de Fernando Pessoa. Até hoje, acredito, o Eros e Psique de Pessoa não foi decifrado pela Academia. Os acadêmicos estão longe de compreender a diferença fulcral entre ANDROGINIA, androginia e androgenia. Como poderão, então, decifrar os versos: A cabeça, em maresia,/ Ergue a mão, e encontra hera,/ E VÊ QUE ELE MESMO ERA/ A PRINCESA QUE DORMIA. (Maiúsculas minhas). Que terá pretendido dizer Pessoa quando escreveu: O poeta é um fingidor./Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente. (?) Noite Negra: uma dor! Iniciação: outra Dor. Tipos de dores: dor e Dor. Fingir dor para esconder a Grande Dor? Uma orquestra: maestro e músicos. O maestro rege; os músicos tocam. O maestro não pode tocar pelos músicos. Ensina, corrige, orienta... Cada qual que afine seu instrumento! Mas, o maestro não tocará por eles! Aquele que se afastar do tom... dor... DOR. O maestro não poderá tocar por ninguém.

 

ANDROGINIA

 

       Portanto, a melhor maneira de se ler a Rubaiyat — bem assim as monumentais obras pessoana e platônica — é, após a leitura de cada rubai ou escrito de Pessoa ou diálogo platônico, não tentar analisá-los ou compreendê-los. Esse ridículo cacoete desgraçado e vicioso de tentar analisar e racionalizar... Sugiro que façamos assim: apenas devemos colocar de lado o livro, semicerrar os olhos e deixar a mente livre para voar e trazer do Alto e de Dentro uma nova impressão, uma nova sensação, um novo entendimento. Quem sabe Omar Khayyam, Fernando Pessoa e Platão, ou a Fonte da qual emanaram, amparem e inspirem a cada um de nós nessa meditação! E que, de uma simples e despretensiosa meditação, possamos todos alcançar um grau superior de ILLUMINAÇÃO.  FIAT VOLUNTAS TUA.  Os místicos conhecem esse processo com o augusto nome de INICIAÇÃO. Então, farei um breve comentário sobre cada rubai transcrita, que, em relação ao que se propaga e divulga por aí, será, talvez, uma grande heresia. Não para mim. Não para muitos místicos que talvez venham a ler este texto. Não para muitos ateus ou agnósticos. Não para outros tantos... Ainda um esclarecimento importante: primeiro (de repente) tive a intuição e reli pela enésima vez a Rubaiyat; depois meditei; e, por último, fui pesquisar. Surpreso, descobri o livro Rubaiyat de Omar Khayyam Explicado, de Paramahansa Yogananda, baseado na primeira tradução feita pelo tradutor vitoriano Edward FitzGerald (a de 1859), com comentários esporádicos de J. Donald Walters, seu editor e discípulo, da Madras Editora Ltda. Que coisa impressionante! Eu que não sou sufi (ou sou?) tinha entendido grande parte do pensamento de Omar. Coincidia, em muitos pontos, com o que explica Yogananda. Recentemente, claro. Não aos dez anos. Não seguirei, contudo, os passos de Yogananda nem copiarei sua interpretação da Rubaiyat. Mas, quando couber porque não? me inspirarei em Yogananda para esclarecer o que senti das rubais que escolhi para comentar. Convido aos que não conhecem Omar Khayyam que procurem conhecê-lo. Não será um estorvo. Mais uma coisinha: que significará o nome PARAMAHANSA? PA. OITO.  A SENDA ÓCTUPLA.  KAR-GYA-PADUALIDADE.  RAMA. MATÉRIA versus ANTIMATÉRIA.  LEITE.  SOL.  VIDA.  HANSA  ‹=›  HAMSA.

 

 
Para que haja Matéria é preciso que exista também a Antimatéria, pois, na oscilação contínua dessa 'mola' é que a Energia configura a miríade das manifestações do Ser em seus ininterruptos esforços para existir, gerando   calor  e  densidade,  como  atributos  da  Luz condensados sobre as Trevas do Caos fendido pelo Logos.
(
Vicente Velado)  

 

 

HANSA = HAMSA

HANSA = HAMSA

 

HANSA = HAMSA

HANSA = HAMSA

 

HANSA = HAMSA

HANSA = HAMSA

 

HANSA = HAMSA

HANSA = HAMSA

 

Yin e Yang

Yin e Yang

 

Yin e Yang

Yin e Yang

 

Yin e Yang

Yin e Yang de Carlos Cairo
Fonte: http:
//www.wd-w.de/Carloscairo.htm
Acesso: 8/8/2004


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Rubaiyat

Uma Belíssima Edição da Rubaiyat

 

RUBAIS ESCOLHIDOS

 


DESPERTA! Pois a Manhã na Taça da Noite

Lançou a Pedra que dispersa as Estrelas.

E eis que o Caçador do Leste apanhou

A Torre do Sultão em um Laço de Luz.

 

       Meu entendimento: DESPERTA! ACORDA! Este é um brado de alerta de um Iniciado que sabe que despertar é possível. Este é o Plano da Ilusão. Ilusões materialísticas... Ilusões belicistas... Ilusões sexuais... Ilusões teológicas... Ilusões iniciáticas... Ilusões... Há uma VOZ... Um SOM SILENCIOSO que fala... Eu e minha VOZ somos UM... Vocês, meus Fratres e minhas Sorores, e suas VOZES são UM. Por que esperar que a Aurora venha iluminar a Noite Negra? A Aurora não virá para os que continuarem deitados. Crentes ou descrentes. Não iniciados ou Iniciados. Orgulho, vaidade e egoísmo coabitam na Torre do Sultão. Nesta Torre são produzidos todos os deuses e todos os demônios que escravizam, iludem e devoram os distraídos e os malditos. Olha para o Nascente... No Poente só ha sofrimento, miséria e doença. A VIDA vem do LESTE... A VIDA vem do SOL... A VIDA está em todos... Há um SOL INTERNO... Quando o Laço der o primeiro nó... Aquele que for bem-aventurado em ser enlaçado pela LUZ não será jamais devorado.

 

 

*


Sonhando, quando a Mão Esquerda do Alvorecer ainda estava no Céu,

Ouvi uma Voz gritar do interior da Taverna:

DESPERTAI Pequeninos e enchei a Taça

Antes que o Licor da Vida seque no Cálice!

 

       Meu entendimento: Deixai vir a mim os Pequeninos porque Deles é o Reino! Pequeninos são os que foram Iniciados em uma Sabedoria mais elevada. Contudo, esta Iniciação poderá se dar ou não no âmbito de uma fraternidade ou ordem mística. Quando ocorre espontaneamente, há o perigo de ser confundida e de arrastar o ente para desvãos esquerdizantes. Não pode existir trabalho isolado. Nem há no Cósmico privilégios no sentido pejorativo usualmente a ele aplicado. Há PRIVILÉGIO! Conquista pelo trabalho e pelo mérito. E, assim, o PRIVILÉGIO MÍSTICO é MERITOCRÁTICO. Despertai Pequeninos! Despertai vós que são de fora! Despertai vós que já estão dentro! As Luzes do Alvorecer não devem ser gastas perdulariamente. O SOM DO SILÊNCIO fala... às vezes, grita... Na Taverna... Em nosso interior. Ouçamo-lo. Ouçamo-lo para que o Licor da Vida inunde nossos seres com a ShOPhIa Universal. Antes que ele seque no Cálice! Antes de que mais uma encarnação se escoe pelo ralo. A pouco e pouco...

 

 

*


Agora, o Ano Novo revivendo Velhos Desejos

A Alma pensativa se retira à Solidão

Onde a Mão Branca de Moisés no Ramo toca,

E Jesus do chão suspira.

 

       Meu entendimento: Ano Novo! Nova Vida! Todos os dias são dias de Ano Novo! SABEDORIA (ShOPhIa) e LLUZ recebidas pelo mérito e pelo esforço. Perigo: retrocessão. As quedas são alertas; despertar de cada queda, uma vitória. Quedas! Vitórias! Glórias! Saudade metafísica do Lar Espiritual: Velhos Desejos. No silêncio interior no Sanctum Sanctorum a COMUNHÃO CÓSMICA haverá de acontecer. A Alma pensativa se retira à Solidão. A COMUNHÃO CÓSMICA haverá de acontecer através do TOQUE MÍSTICO que vem de um dos emissários da  .'.G.'.L.'.B.'.  Estejamos aptos e prontos.

 



*


E vê: Mil Flores com o Dia despertaram!

E outras Mil se espalharam no Barro.

Este Primeiro Mês de Verão que traz a ROSA

Levará consigo Jamshyd e Kaikobad.

 

      Meu entendimento: O Eu Superior inunda os corpos inferiores com a LUZ QUE VEM DO ALTO e de DENTRO! Cobiças, paixões e desejos recalcitram. Serão transformados. Mil transmutam Mil que alquimizarão outros Mil, um a um, uma a uma, até que todas as pétalas da ROSA MÍSTICA tenham desabrochado. ROSA+CRISTO! A encarnação compulsória chegará ao fim! Voltar à Caverna é um ato de supremo sacrifício e de AMOR. Todos somos UM! Não poderá haver libertação e LLUZ apenas para um ou para muitos. Para TODOS! Esta é a LEI. Todos seremos porque todos somos Jamshyd e Kaikobad. A LLUZ não escolhe. Afeganistão, Palestina e Iraque são UM! O Verão, lá, apenas está oculto! Hora da Transformação. OUTONO, INVERNO PRIMAVERA.  VERÃO!  Mês de VERÃO!  LLUZ! Ai dos carrascos! O veneno que envenena é o veneno que fabricará o veneno que envenenará! Contraveneno: Meditação, Compreensão, Tolerância e Amor. Quem sou eu para julgar e assassinar o meu Irmão? A ROSA que está desabrochando no meu coração está também florescendo no coração de todos os seres. Minerais e minérios, vegetais, animais e homens meus Irmãos. Iniciados ou não. Judeus, católicos, muçulmanos, budistas, lamaístas, incréus... Todos.

 

 

 

 

 

*


Sabei, meus Amigos, por quanto tempo na minha Casa

A um novo Matrimônio prestei Devoção?

Divorciei de minha Cama a velha e infértil razão,

E recebi para desposar a Filha da Vinha.

 

       Meu entendimento: Quando em Casa — o ente — quem comanda é o corpo astral, o resultado será sempre frustração e incompletude. Quando a estéril e infértil razão e a vontade humana cedem lugar à RAZÃO e à VONTADE do D'US INTERIOR, é porque um novo Matrimônio foi estabelecido. Ao renunciar aos chamamentos inferiores, a Cama se desfaz lenta e gradualmente. Abraçado à nova esposa — a Filha da Vinha — a PAZ PROFUNDA no SILÊNCIO INTERIOR ILLUMINARÁ a consciência.

 

 

*


Como é doce a Soberania Mortal! — dizem alguns.

Como é abençoado o Paraíso que virá! — dizem outros.

Apanha o Cofre Vivo e abandona o Resto.

Oh, a resoluta Música de um distante Tambor!

 

       Meu entendimento: Lord Acton (1834-1902), historiador liberal inglês, em carta datada de 1887 ao Bispo Mandell Creighton (1843-1901), autor da famosa sentença — The one real object of education is to have a man in the condition of continually asking questions — exarou, por sua vez, a não menos conhecida frase: ... quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, freqüentemente homens com mentalidade de gangsters detêm o controle. A história provou isso. Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente. Acton, em seu pensamento, defendeu o princípio de que a História deveria ser compreendida em uma única perspectiva: Liberdade. Dela, Liberdade, surgiriam como conseqüência o progresso ou o retrocesso. Este microrresumo não reflete o real pensamento de Lord Acton, mas a Soberania Mortal poder exercido pela vontade e pela razão inferiores no domínio do misticismo iniciático é equivalente ao que acontece, muitas vezes, no campo ideológico. Eduardo Dutra Aydos comenta: A corrupção do poder, conseqüência imediata do seu próprio exercício e desvio de finalidade em relação ao seu fundamento, portanto, é originariamente um fato gerador de mais-poder, em última instância, de mais-corrupção. E este tende a se tornar um processo circular e autocentrado, até o ponto em que, completamente autonomizado em relação aos fins que o legitimam, o poder impõe-se à sua própria lógica autocentrada, concentracionista e autofágica, cuja implicação social é sempre trágica. Também será sempre trágica a busca da felicidade e do prazer no Mundo da Concretização. Este Mundo só tem a oferecer necessidades desnecessárias e inúteis e o Paraíso não virá jamais, porque não existe paraíso fora do ser. O Paraíso está dentro. Dorme imaculado e intocado nos seres inconscientes da CONSCIÊNCIA. O VIR-A-SER É AGORA. Mas, AGORA acabou de passar... Buscar... Navegar... Trabalhar... Merecer... Somente no Cofre Vivo poderemos nos regozijar no e com o PODER PERMANENTE QUE NÃO DESBOTA e na e com a FELICIDADE AUTÊNTICA E INCRIADA. A resoluta Música de um distante Tambor é o OM ETERNO, constitutivo do VERBUM OCCULTUM DIMISSUM ET INENARRABILE. Ecce servus Domini: fiat mihi secundum Verbum Tuum. Resto? O conselho de Omar é irredutível: abandona o Resto.

 

 

*


Aproveitemos bem o que ainda temos

Antes que também desçamos ao Pó.

Do Pó para o Pó e sob o Pó nos deitamos;

Sem Vinho, sem Canção, sem Cantor e... sem Fim!

 

       Meu entendimento: Viver exclusivamente para a temporalidade é o mesmo que se deixar dissolver no provisório (mâyâvico). Rir e chorar. Alegria e tristeza. Riqueza e pobreza. Prazer e dor. Paz e guerra. Festejo fútil; energia vital desperdiçada. O que ainda temos? A LLUZ interior. Essa não pode ser furtada ou roubada. Então, aproveitemos bem. Tudo é efêmero... Tudo é ilusão... Pó. Ir... Voltar... Pó e sob o Pó. Encarnar... Desencarnar... Sem Fim! Sem fim? Sístole... Diástole... Sem Vinho, sem Canção, sem Cantor e... Quando deixaremos de ser devorados? Quando?

 

 

*


Com Eles plantei a Semente da Sabedoria.

Com minha mão cultivei-a até crescer.

Esta foi toda a Safra que colhi.

Vim como Água; vou como Vento!

 

       Meu entendimento: A Água dos desejos, das cobiças e da sensualidade acaba evaporando pela ação consciente do FOGO da Semente da Sabedoria. Meu Ser Interior ficou livre como Vento! Domine, non sum dignus ut intres sub tectum meum. Sed tantum dic verbo et sanabitur anima mea. Mas... .Com Eles plantei a Semente da Sabedoria. Com minha mão cultivei-a até crescer. Então, Pax aluit vites et sucos condidit uvæ. A morte foi afastada do meu Caminho. Agora vivo na Paz do CRISTO CÓSMICO.

 

Veritatem eme, et noli vendere sapientiam.


*


Havia uma Porta... eu não tinha a Chave.

Havia um Véu... eu não podia Ver.

Uma conversa rápida no meio do tempo entre Mim e Ti

Pareceu surgir — e, então, nada mais de Ti e de Mim.

 

       Meu entendimento: Todas as Portas... Algumas Portas... A penúltima Porta... As Portas só podem ser abertas uma a uma. O desespero do neófito transforma-se na tranqüilidade Daquele que subjugou a vontade, a razão, a cobiça e a paixão. Sem a Chave nenhuma Porta poderá ser aberta, pois o Véu não deixa Ver. Mas, eis que ouço a VOZ DO SILÊNCIO... Uma conversa rápida no meio do tempo entre Mim e Ti, D'US DE MEU CORAÇÃO! E, assim, nos tornamos UM! Então, nada mais de Ti e de Mim. Não me sinto mais só. Sei que não estou só. Porque a UNIDADE foi realizada! Eu me transmutei no D'US DE MEU CORAÇÃO! Nada, nada mais de Ti e de Mim. Mas, enquanto um único ser no Universo não tiver conquistado o CASTELO, eu voltarei... Mil... Um milhão... Um Trilhão... Um zilhão de vezes. Como rico ou como pobre. Como homem ou como mulher. Eu voltarei, porque sem você existe um vácuo em meu coração. Ir adiante sem você é não ir a lugar algum. Vem... Vem comigo... Vem agora...

 

 

 

 
Fratres, agnoscamus peccata nostra. Dicamos omnes: Confiteor Deo omnipotenti, beatæ Mariæ semper Virgini, beato Michaeli Archangelo, beato Joanni Baptistæ, sanctis Apostolis Petro et Paulo, omnibus Sanctis, et vobis, fratres: quia peccavi nimis cogitatione, verbo et opere... et omissione (Percutit sibi pectus ter, dicens:) mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem Archangelum, beatum Joannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum et Paulum, omnes Sanctos, et vos, fratres, orare pro me ad Dominum Deum nostrum.

FIAT PAX IN VIRTUTE TUA.

 

*


Então, ao próprio céu que se desenrola acima, perguntei:

— Que Lâmpada o Destino oferece para guiar

Seus Filhos que tropeçam no Escuro?

— Um Entendimento cego! — respondeu o Céu.

 

       Meu entendimento: Este céu que se desenrola acima é um céu mudo. É o céu da ilusão. Respostas? Apenas convulsões mentais. A Lâmpada está no coração. Esta Lâmpada é a PEDRA FILOSOFAL que transmutará o Destino (Lei da Retribuição pela Necessidade) em VIDA. O QUE O HOMEM SEMEAR, COLHERÁ. (Epístola aos Gálatas, VI, 7). Enquanto os Filhos que tropeçam no Escuro se deixarem devorar, só contarão com Um Entendimento cego!

 

FIAT VOLUNTAS TUA —› 360
359 ‹— Fiat voluntas mea (nostra)

 

 

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Quanto tempo, quanto tempo, em Busca Infinita

Deste e Daquele Empenho e Disputa?

Melhor que te alegres com a Uva Frutígera

Que te entristeças com nenhuma ou Amarga Fruta.

 

       Meu entendimento: Quanto tempo... Busca Infinita... Roda das encarnações... 144... 311 040 000 000 000??? Até quando??? Deste e Daquele Empenho e Disputa? Até que a vaidade, a ignorância e o egoísmo sejam alquimizados. Para cada leproso, uma compensação. Para cada leproso, uma transmutação. Enquanto nos deixarmos iludir e entristecer com nenhuma ou Amarga Fruta, não nos alegraremos com a Uva Frutígera. OH D'US DE NOSSOS CORAÇÕES! FAÇA-SE A TUA VONTADE SEGUNDO TEU VERBO! PRONUNCIA UMA ÚNICA PALAVRA! EU JÁ ESTOU ENTREGUE A TI... DÁ-ME O VINHO QUE EMBRIAGA! Com paciência aguardarei. Minha ROSA só pode ser alimentada pelo VINHO QUE VEM DA TUA UVA FRUTÍFERA!

 

   
CONTO SUFI

     Um dia perguntaram a Sari a respeito da paciência. Ele discorreu sobre o assunto com palavras cheias de sabedoria. Enquanto ele falava, um escorpião ferroava seu pé repetidamente. Mas Sari não interrompeu seu discurso.

     Quando as pessoas perceberam o que estava acontecendo e perguntaram a Sari porque ele não afastava seu pé do escorpião, ele respondeu: — Eu falava sobre paciência. Dificilmente eu poderia lhes orientar e aconselhar neste assunto sem ser paciente. Ficaria envergonhado perante Allah.
 

 

*


A Uva que pode com Lógica Absoluta

As Setenta e Duas Belicosas Seitas confutar,

O Sutil Alquimista que pode Em Um Instante

O Chumbo da Vida em Ouro transmutar.

 

       Meu entendimento: (72 x 30 = 2160).  (2160 x 12 = 25920). Uva Frutígera a Uva que encerra a Lógica Absoluta — é a única Uva que harmonizará e equilibrará nossos desvios da LUZ PRIMORDIAL que está em nosso próprio interior. Apenas ELA poderá As Setenta e Duas Belicosas Seitas confutar e nossos descaminhos endireitar. Mas, é preciso — é imperativo — permitir que o Sutil Alquimista o D'US INTERIOR O Chumbo da Vida em Ouro transmute. [2160  x  (72 x 2) =  311 040].

 

311 040 000 000 000 ÷ 25920 = 12 x 1000 000 000

 

311 040 000 000 000 ÷ (72 x 360) = 12 x 1000 000 000

 

777

 

Meditação
Tansmutação

 

*


Enquanto a Rosa sopra ao longo da Beira do Rio,

Vem e bebe da Vindima Rubi com o Velho Khayyam.

E quando o Anjo com sua Taça mais escura

De Ti se aproximar — aceita e Dele não te afastes.

 

       Meu entendimento: Um calor suave que não queima aquece meus pés. Sobe... Sobe pela coluna vertebral... Aquece minha medula espinhal... E explode luminosamente no centro de minha cabeça... OOOMMMMMMM. Inconsciência da autoconsciência. O botão da Rosa começou a se abir e a soprar ao longo da Beira do Rio! Os braços horizontais da CRUZ começaram a encurtar! Prenúncio de exaltação mística! A Vindima Rubi! O Mestre e D'US INTERIORo Anjo — não quer e não pode mais ficar em silêncio. Na Taça, a bebida mística que Acorda, Illumina e Alegra. Não fujas, não voltes o rosto, não temas, não te envergonhes. A hora soou: aceita e Dele não te afastes pois tu e Teu Anjo agora são UM.

 

 

*


Tudo é um Tabuleiro de Xadrez de Noites e Dias

Onde o Destino joga com os Homens como Peças.

De uma casa à outra os move, põe em xeque e toma.

Peça por peça devolve-os ao Armário.

 

       Meu entendimento: Trinta e duas casas pretas; trinta e duas casas brancas. Experiência adquirida. Dores e alegrias. Gratidão pelos ensinamentos recebidos pelas dores que provoquei. Noites e Dias... Tudo é um Tabuleiro de Xadrez... Causa e Efeito. Lei da Necessidade (encarnação e desencarnação) e Lei da Reciprocidade ou da Retribuição (subir... descer... subir... descer...). Inapelável orquestração: ... o Destino joga com os Homens como Peças... 144 anos: o CICLO nascimento, transição, renascimento. 25920 ÷ 144 = 180...   3000 x 144 = 432000. Armário: tempo de preparação para um novo nascimento. Tudo é operado de acordo com as LEIS UNIVERSAIS. Um Bispo pode comer uma Rainha, mas, se nesta jogada não tiver tido cuidado e tiver desrespeitado as REGRAS, poderá ser comido por um Peão! Nos ARQUIVOS AKHÁSICOS estão indelevelmente registrados todos os acontecimentos na ESSÊNCIA INDETERMINADA da CONSCIÊNCIA CÓSMICA ou INTELIGÊNCIA UNIVERSAL. Um grão de areia não se move... Nada pode ser cancelado. Todas dores e todos os prazeres estão registrados. Nossas lágrimas não apagarão uma única letra. Contudo, 25920, sim; 144, uma vez, mas, nem sempre. Uma vez em 25920... Uma vez em 51840... uma vez em 103680... Uma vez em UM ANO DE BRAHMAN...

 

 
TWO BIRDS


Two birds, inseparable companions, perch on the same tree. One eats the fruit, the other silently looks on.

The first bird is our individual self, feeding on the pleasures and pains of this world. The second is the UNIVERSAL SELF — silently witnessing all.

The MundakaUpanishad

Two Birds

 

Areia

Areia

 

*

 

O que, sem pedir, aqui enviados de onde?

E, sem pedir, daqui para onde?

Outra e mais outra Taça para afogar

A Lembrança desta Impertinência!

 

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CONSIDERAÇÕES FINAIS + Fernando Pessoa

 

       É interessante quando se compara a Rubaiyat (Rubaiyat é o plural da palavra persa rubai, e quer dizer quadras, quartetos) de Omar com a Rubaiyat (e outras rubais) de Fernando Pessoa, apresentada como último anexo deste trabalho. Influência omariana? E daí? Estas rubais pessoanas foram descobertas no espólio do fundo Pessoa da Biblioteca Nacional por Maria Aliete Galhoz, em Lisboa. Por exemplo, escreveu Pessoa (e foi publicado em Novas Poesias Inéditas), mantendo a progressão geométrica omariana 1, 2 e 4 do esquema rimático AABA, característico das rubais (B é sempre um verso branco que se justapõe aos demais versos), a seguinte rubai:

Se tive amores? Já não sei se os tive.

Quem ontem fui já hoje em mim não vive.

Bebe, que tudo é líquido e embriaga,

E a vida morre enquanto o ser revive.

       O que pretendo deixar lavrado com este ensaio é que ambos, Omar e Pessoa, muito ao contrário do que pensam e divulgam certos autores, não eram dois bêbados inconseqüentes que acreditaram que o vinho funcionasse como possibilidade de fuga do mundo real não compreendido. Não eram dois acréus fazedores de poemas resmungando do aparente sem sentido da vida. Não eram dois resignados que acreditavam que tudo é inútil tendo como única certeza a inquestionável presença do nada (de qualquer forma, se existir o nada ele é um pouco mais do que nada — e isto, em termos metafísicos, é importantíssimo!). Não eram, também, dois desencantados que festejavam os escombros da vida, dois melancólicos ou desesperançados que pudessem ter acreditado em uma aparente ou real confusão cósmica ou em um presumido caos universal, nem, entre outras errôneas interpretações que atribuem aos seus rubais, acreditavam em um mundo interior, representado pela dor, e em um mundo exterior, figurado pela festa, que se fundem no mesmo nada, no qual nem a embriaguez funciona como atenuante ou lugar de refúgio para a alma em conflito. Não. Tanto Omar como Pessoa eram místicos profundos que escreveram seu misticismo tão cripticamente e tão hermeticamente que até hoje quase não são compreendidos. Comparemos juntos.

       OMAR: O que, sem pedir, aqui enviados de onde? O sem pedir significa reconhecimento de inconsciência (incapacidade para recordar) desenvolvida pelos apegos, equívocos, paixões, desejos, cobiças, enfim, imperativos hipotéticos que arrastam o ser para a materialidade — para o aspecto infernal, esquerdizante e negro simbolizado pelo número 359 — esfera na qual prevalece, como reconhece Paramahansa Yogananda já referido, uma densa satisfação dos prazeres sensoriais. Com isso, vêm a anestesiação e o esquecimento: aqui enviados de onde? Esquecemos nossa ORIGEM MATRIZ e, ao lermos em Omar Ah Amor! Se Tu e eu com o Destino pudéssemos conspirar, pensamos em alguma mulher que o Poeta-místico estivesse tentando cooptar para banir todo esse triste Esquema das Coisas. Mas, se aprendermos que, em Omar, Amor refere-se ao Amor Divino desde sempre presente em cada ente, e que o Destino simboliza a Lei da Retribuição, o triste Esquema das Coisas só será solucionado se for compreendido e compensado. E, quando for compreendido, e quando for reciprocado, não será mais triste nem alegre, mas ALEGRE no seio da ALEGRIA da ILLUMINAÇÃO e da REALIZAÇÃO INTERIOR do CRISTO CÓSMICO. Ou ALLAH, para o Islã. Por isso, precisamos peregrinar para compreender... Quatro rosas no chapéu... Uma rosa vermelha no coração. A Lembrança desta Impertinência... A lembrança... Lembrança de D'US... Zikr.

 

 

PESSOA: Se tive amores? Já não sei se os tive. Aqui o sentido é o mesmo. Diz respeito também à questão do esquecimento. Os deuses mortais que viveram em Pessoa foram (e não foram) esquecidos. Quem ontem fui já hoje em mim não vive. Não vive e vive. Não vive se os equívocos foram superados. E vive, se foram superados, para, de duas uma: ou para tentar arrastar o liberto novamente para a ilusão ou para alertar que na mesma ilusão só podem ser auferidos sofrimentos e lágrimas. No caso de Pessoa, ainda que se conheçam seus flagrantes delitros, o beber e a embriaguez representam, tanto quanto em Omar, o êxtase da Comunhão do ser com o Eu Interior, pois, nesses instantes, a vida morre enquanto o ser revive. Só o preconceito e a ignorância podem misturar vinho com VINHO. E confundir PESSOA com Pessoa.

 

Fernando Pessoa em flagrante delitro

Em 1929, no Abel Pereira da Fonseca
[dedicada a Ophélia — Fernando Pessoa em flagrante delitro]

Alguém pode criticar ou julgar seus delitros?

 
OMAR:
Outra e mais outra Taça para afogar... Peregrinação. Paramahansa Yogananda, inspirado em sua LLUZ INTERIOR, diz bem: Ah, outra e mais outra taça do VINHO CELESTE! Em êxtase, ...deixa-me acordar dessa imposição insultante. Imposta por quem? Por nós. Fabricada por quem? Por nós. Amimada por quem? Por nós. Insultante por que? Porque avilta e ofende o DEUS QUE SOMOS E NÃO SABEMOS (porque não queremos). Assim, para Omar e para Fernando e para todos os místicos, as atitudes errôneas do passado devem ser calcinadas e alquimizadas no Athanor do Coração... A Lembrança desta Impertinência!. De onde? Por que? Para onde? Quando? O DEUS que habita em nossos corações sabe! Nós, que recusamos ouvir Sua Voz, não sabemos. Não nos interessamos em desejar saber. Viver a vida na flauta é melhor. Boemia: aqui me tens de regresso... Insubstituivelmente só SABEREMOS quando o SOM DO SILÊNCIO for ouvido. Então, quatro rosas no chapéu... Que símbolo final/Mostra o Sol já desperto? — pergunta Pessoa. Omar responderia: — O Sol que chega com o AMOR e com o VINHO. Com a ALEGRIA interior conquistada pela LEMBRANÇA e pela união extática com o D'US INTERNO. VINHO e AMOR.

PESSOA: A vida é um mendigo bêbado/Que estende a mão à sua própria sombra. Somos mendigos mendigando bênçãos aqui e acolá. Somos mendigos putrificando tudo aquilo com que entramos em contato. A água que entra em nosso corpo chora de tristeza! Vivemos na caverna de nossa consentida ignorância alimentada por nossa vaidade. Dormimos o Universo. A extensa massa/Da confusão das cousas nos enlaça... Mas... da ...misteriosa sensação de isolamento e abandono que enche de amargura até ao fundo da alma, Pessoa acaba encontrando o CAMINHO e revelando:

 

FERNANDO PESSOA

 

...não há morte.

 

...ele mesmo era
A Princesa que dormia.

 

Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Rosacruz conhece e cala.

 

Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha Alma!

 

Todo o passo é uma cruz.

 

Tudo é verdade e caminho.

 

NEÓFITO, NÃO HÁ MORTE.

 

Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando
Cala a voz, e há só o mar.

 

Que símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.

Que símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.

Que símbolo final
Mostra o Sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.

 

Por fim, na funda Caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são Teus iguais.

 

E súbito encontro Deus.

 

 

OMAR KHAYYAM


 

AH! COM A UVA SUPRI MINHA VIDA...

 

FAZE-ME BEBER...
DO VELHO E CONHECIDO SUMO...

 

AQUELE QUE SUTILMENTE ME DEU FORMA...

 

DÁ AO HOMEM E DELE RECEBE O PERDÃO!

 

...A ÚNICA E VERDADEIRA LUZ
ACENDE PARA AMAR...

 

...A ROSA SOPRA... AO LONGO DO RIO...

 

A UVA QUE PODE COM LÓGICA ABSOLUTA...



DESPERTA!



ABRE A PORTA!

 

VINHO VERMELHO — CANTA O ROUXINOL PARA A ROSA — PARA QUE SEU ROSTO AMARELO SE TORNE ENCARNADO.

 

E O DESERTO AGORA É O PARAÍSO.

 

TOLOS! VOSSA RECOMPENSA
NÃO ESTÁ AQUI NEM ALI!

 

OUVE O RANGER DA
DRAGONA DO CARREGADOR!

 

AH, LUA DO MEU DELEITE...

 

ONDE EU ME TORNEI UNO...

 

 

* * * * * * *

 

HOMENAGEM A...
(Minhas Rubais)

 

Sei que sou um repetidor.

Repetidor, sim. Jamais um enganador.

 Mas, homens e mulheres claudicam....

Então, repetir é espargir Amor.

*

Fernando Pessoa e Omar

Viveram para Amar e Ensinar.

Quem não os puder compreender,

Deve se esforçar para 'zikrar'.

*

Consolado, a cabeça em torvelinho,

Agora, em silêncio, tomarei meu Vinho.

Que aquece, illumina e embriaga.

Pois aprendi que não estou sozinho.

*

No seio da Rosa+Cruz

Encontrei o Portal da LLUZ.

Compreendi o segredo da morte:

A Rosa pregada na Cruz.

*

De Iniciação em Iniciação

Foi-se abrindo meu coração.

Aprendi a reconhecer

Em cada ser um Irmão.

*

Hoje já não cometo o triste 'pecado'

 De me sentir escravizado e afastado.

 Pelos meus deuses-demônios internos

 Dominado, engabelado e manipulado.

*

Nasci e morri tantas vezes,

E tantos foram os revezes.

Então, ouvi o Som do Silêncio:

Transmutaram-se as antigas 'tezes'.

*

Como Irmão, a todos desejo

Que lutem e vençam o animalejo.

Ele parece encantador, mas...

É medonho e muito malfazejo.

*

Meu Irmão: seja forte.

 Pois não há milagre nem sorte.

 O Som do Silêncio ensinará

Que também não existe morte.

*

Cada homem é um Deus.

Irmãos: Rendam-se aos Seus.

Coragem, firmeza, determinação.

Vida dissoluta: intrepidez — adeus!

* * *

Paz Profunda e Fraternidade

Vencerão a agressividade.

A Lei deve ser cumprida:

No Tempo, triunfará a Verdade!

 

* * * * * * *

 

DADOS SOBRE O AUTOR


Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.

 

SITES CONSULTADOS

http://www.zapatosrojos.com.ar

http://www.praianetgif.hpg.ig.com.br/

http://www.islam.org.br/al_khayyam.htm

http://www.alfredo-braga.pro.br

http://www.hottopos.com

http://macarlo.com

http://www.tanto.com.br

http://www.geocities.com

http://educaterra.terra.com.br

http://www.artegaleria.com.br

http://www.tendarabe.hpg.ig.com.br

http://www.unicrio.org.br

http://www.geocities.com

http://www.ba.infn.it/~zito/zito.html

http://www.geocities.com

 http://www.italian-art.org

http://www.vidhya-virtual.com

http://www.vanheesstoneworks.com

http://www.hamsadesign.com

http://lalitavistara.free.fr

http://tanjoreart.tripod.com

http://www.forestofpeace.com/freecards/

http://www.undpi.am/

http://www.reninacorata.com.br

http://www.wd-w.de/Carloscairo.htm

http://curvebank.calstatela.edu

http://www.halvetijerrahi.org.br

http://www.amorc.org/

http://svmmvmbonvm.org

http://svmmvmbonvm.org/latinoportal.htm

http://svmmvmbonvm.org/maatportal.htm

http://www.praianetgif.hpg.ig.com.br


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ANEXO I

 

Em Nome de Deus,
O Clemente, O Misericordioso:
A Necessidade de Diálogo
entre as Civilizações

Sheikh Jihad Hassan Hammadeh
Historiador e Cientista Social. Vice-presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica-WAMY

 

      
      No decorrer dos séculos, a humanidade passou por inúmeros conflitos cujas raízes encontravam-se plantadas em questões étnicas e religiosas, marcadas sobretudo pela intolerância e pela falta de conhecimento em relação ao outro e a tudo o que era diverso da realidade conhecida.

       O ápice destes conflitos sempre foi alcançado quando, ao se perder a noção de justiça, os inocentes morriam sob a égide de palavras como liberdade, direito e religião. Na verdade, estas palavras sempre serviram a objetivos outros que não a integridade física, moral e espiritual das criaturas.

       Com a evolução dos tempos fez-se necessária a instituição do diálogo único meio inteligente para oferecer aos seres humanos uma qualidade de vida decente e honrada pois ninguém, em tempo algum, consegue conviver indefinidamente com a dor, com a injustiça e com o preconceito.

       Na sociedade moderna, pensadores e filósofos de grande estatura, aliados aos integrantes lúcidos que ainda sobrevivem no nosso meio, estão concluindo que o único caminho para uma sociedade segura, igualitária [respeitando o sentimento e a opinião do Sheikh Hammadeh, prefiro o conceito de eqüidade, e, assim, neste sentido, penso em uma sociedade equânime] e desenvolvida é o entendimento, o respeito e a instituição da justiça para todo e qualquer cidadão, seja ele de que raça for, professe ele a religião que professar, e tenha ele a condição social que tiver.

       Muito se perdeu ao longo dos séculos pelo simples fato de que é mais fácil combater o desconhecido do que tentar compreendê-lo. O desentendimento, ao invés de levar ao progresso, sempre levou apenas à destruição e ao retrocesso social e espiritual, acentuando as diferenças, acendendo o ódio nos corações e levando a um distanciamento cada vez maior entre os povos.

       Porém, cabe lembrar que nunca é tarde para se iniciar o diálogo, e que aquele que realmente deseja a paz e busca uma convivência harmoniosa com o outro, agindo com seriedade, procurando as igualdades a partir do entendimento das diferenças, com certeza alcançará êxito na sua empreitada. Estamos em um momento crucial, no qual se faz necessário agir de fato, pois o tempo está se esgotando, e se continuarmos de braços cruzados nem nós nem nossos filhos terão um amanhã.

       O homem evoluiu no campo material e tecnológico, mas se esqueceu da evolução espiritual, da evolução do ser humano enquanto criatura de Deus. E, com este esquecimento, levou a sociedade a tal nível de desequilíbrio, que hoje mais vale o poder político e financeiro do que a vida de um ser humano.

       Deus — no Alcorão Sagrado é claro quando ordena o diálogo entre as criaturas : “...E debata com eles, e dialogue com eles da melhor forma possível".

       Na própria História do Islã, temos exemplos claros de que o diálogo pode impedir guerras e pode mudar pontos de vista, em princípio, negativos. Na primeira emigração para a Abissínia, aliás, a primeira emigração no Islamismo, descrentes, que não viam com bons olhos os ensinamentos do Profeta Muhammad (SAWAAS), viajaram até a presença do Rei daquele País e depuseram contra os muçulmanos que para ali haviam se dirigido, com o objetivo de vê-los expulsos das novas terras. O Rei, que era cristão, impressionou-se com as infâmias lançadas sobre os muçulmanos. Porém, como homem justo que era, chamou à sua presença um representante muçulmano para que ele pudesse expor os princípios da sua fé. Ao ouvir o depoimento o Rei lançou questionamentos, tentou entender a doutrina islâmica e, dialogando com uma fé diferente da sua, que vinha de um mundo diferente daquele conhecido por ele, descobriu que, apesar de parecerem diferentes, havia muitas semelhanças entre os dois grupos. E não só os recebeu como lhes ofereceu proteção enquanto estivessem em seus domínios. Isto é tolerância! E, anos depois, este mesmo Rei converteu-se ao Islã por livre e espontânea vontade.

       Temos ainda o exemplo do Acordo de Hudaibiya, no qual o Profeta Muhammad firmou com os coraixitas, seus perseguidores ferrenhos e implacáveis, um acordo de paz que evitou o derramamento inútil de sangue e perdas de vidas de ambos os lados. Este acordo apenas deixou de existir quando os coraixitas deixaram de cumprir o que havia sido acordado, pois o Profeta, seguindo as ordens de Deus, sempre procurou o diálogo. Isto é: a busca do entendimento e da paz! Infelizmente, nos dias atuais, o que vemos são superpotências que se aproveitam de sua posição para massacrar países em desenvolvimento, usurpando os direitos de seus cidadãos, cometendo injustiças de toda sorte e chegando ao cúmulo de impedir auxílio humanitário que poderia salvar a vida de velhos e crianças, levando-os ao caminho da fome e da doença.

       Sob a falsa bandeira da justiça, inventam palavras de ordem e, com a desculpa de erradicar os fanatismos, destroem vidas preciosas, pois, toda criatura de Deus tem um valor inimaginável e não somos nós os detentores do conhecimento da alma e do pensamento que impulsiona uma criatura pela luta daquilo que ela julga justo. Ao invés de buscar o entendimento, de compreender e tentar se fazer compreender, de mostrar seu ponto de vista e tentar alcançar um meio-termo que agrade a ambos os lados, estas superpotências arvoram-se o poder de representantes divinos na terra, esquecendo-se de que o Criador é Único e Absoluto e que a Sua ordem sempre foi a busca da paz e da justiça.

       Esquecem-se das inúmeras contribuições científicas, políticas, sociais, artísticas, arquitetônicas, linguísticas, legais e médicas destes povos. Contrafeitos, fecham os olhos para a herança que receberam destas populações no que tange à formação dos valores familiares, éticos e culturais.

       Deus diz no Alcorão Sagrado:


     Quem tira a vida de um inocente, é como se tivesse assassinado toda Humanidade; e quem salva uma vida inocente, é como se  tivesse  salvado  toda  a Humanidade.

       As palavras divinas comprovam que tragédias como o atentado aos Estados Unidos são tão abomináveis quanto a matança de inocentes no Afeganistão, na Espanha, na Irlanda, em Angola, ou em qualquer parte do mundo, pois são fruto da falta de diálogo e de respeito, que culminam na insensatez e na injustiça.

       Como seres inteligentes, é necessário que abramos os olhos, a mente e o coração ao nosso próximo, fazendo o possível para conviver em harmonia, mesmo que em muitos casos não concordemos inteiramente com as idéias que nos cercam. É preciso pensar no futuro e trabalhar com afinco para que ele seja mais frutífero não apenas para nós, mas para as gerações vindouras, deixando de lado a demagogia e ensinando aos nossos filhos, parentes, vizinhos, através de nossos exemplos, o caminho da harmonia, do respeito e da cordialidade.

       Algumas pessoas já começaram este trabalho de modificação interior. Procuram, através da pesquisa séria, compreender o outro lado, e, por vezes, este é um trabalho difícil. Porém, Deus dotou o ser humano de uma capacidade incomensurável de reflexão; mas nós, por preguiça e amor ao ócio, embotamos esta capacidade deixando-a de tal maneira escondida, que muitas vezes nem temos consciência de que ela se encontra viva dentro de nós.

       Um embate se trava entre o Ocidente e o Oriente, como se fossem dois mundos completamente separados, como se Deus tivesse criado dois tipos de seres e os tivesse distribuído por estes dois extremos. Cabe refletir na ignorância deste ponto de vista: Deus não cria pessoas de primeira e de segunda classe. Criou, isto sim, seres com distintas formas de interagir com o mundo. E o que se deve fazer é buscar na diferença existente o caminho para melhorar nossa própria existência. Não se pode viver olhando o vizinho como um eterno inimigo, mas, sim, tentar transformar uma relação, por vezes imbuída de ódio, em uma relação proveitosa para ambos. Ninguém pode ser o melhor em tudo e do sucesso do outro advirá o nosso próprio sucesso. Basta lançar um olhar pelas pesquisas médicas e veremos o quanto as tentativas de um podem fazer por toda uma população, e quanto pode ser útil para o avanço clínico. Isto se aplica a todos os campos da vida, pois a existência é como uma teia de aranha onde os fios se cruzam de tal forma que, se não houver cuidado, toda a rede se destrói.

       Comecemos esta modificação com a correção dos nossos pequenos e tão arraigados maus hábitos e com um trabalho de aperfeiçoamento de nossas qualidades, fortalecendo-as, substituindo, por exemplo, o mau humor por um sorriso. O Profeta Muhammad dizia: “O sorriso para um irmão é também uma caridade”. E quanto se pode construir com este simples gesto!

       Ao continuar com este trabalho de modificação interior, a cada dia a Humanidade ganhará um pouco mais da sua hegemonia e terminará seus dias com a total recuperação daquelas que são suas características ímpares: o dom de amar o próximo e de ser por ele amado, de construir, com a força de seu trabalho e de sua inteligência, um mundo melhor para aqueles que estão por nascer. E, sem dúvida, a construção daquele que deve ser o grande objetivo dos seres humanos: seguir as ordens de Deus e caminhar de mãos dadas, TODOS JUNTOS, rumo ao Paraíso.

 

 

 

GUIA-NOS À SENDA RETA

 

 

 

 

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ANEXO II

 

 

RUBAIYAT
de Fernando Pessoa

Revista Contemporânea 3 (1926)

 


O fim do longo inútil dia ensombra.
A mesma sp’erança que não deu se escombra,
Prolixa... A vida é um mendigo bêbado
Que estende a mão à sua própria sombra.


Dormimos o Universo. A extensa massa
Da confusão das cousas nos enlaça,
Sonhos; e a ébria confluência humana
Vazia ecoa-se de raça em raça.


Ao goso segue a dor, e o goso a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque há dor.

Mas de um e de outro vinho nada resta.

 

PAZ PROFUNDA

 

 

Connais-toi toi même,
et tu connaîtras l'Univers et les dieux.

 

       Un mystique authentique ne cherche pas une définition toute faite de la Vérité, en supposant d'ailleurs qu'il en existe une, mais il éprouve le besoin et le désir de mieux comprendre le sens de l'existence. Il ne veut pas non plus qu'on lui dicte ce qui est bien ou mal, mais qu'on le guide dans l'éveil de sa conscience.  En  cela,  il  veut  vivre de façon libre et éclairée.