Ghiyath
Al Din Abul Fateh Omar Ibn Ibrahim Al Khayyam, médico, poeta,
filósofo, místico, matemático e astrônomo,
esteve conosco por mais ou menos oitenta anos. Nasceu em 18 de Maio
de 1048, em Nishapur, na antiga Pérsia, e passou pela Grande
Transição, provavelmente, em 4 de Dezembro de 1131, nessa
mesma Cidade. As datas de seu nascimento e de sua transição
não são coincidentes entre os autores. Terá isso
importância? Sua terra natal situa-se a 115 km a oeste de Mashad,
na Província do Khorasan. Esta antiga Cidade é conhecida
desde a Alta Antigüidade como um centro mundial exportador de turquesas.
De qualquer forma, Omar viveu a maior parte de sua vida em Samarkanda,
uma das principais cidades da civilização muçulmana.
Mas, em 1092, realizou uma peregrinação a Meca.
Nishapur
Khayyam
Mausoleum
Samarkanda
— Que haja PAZ entre Judeus e Muçulmanos!
O
Poeta e Iniciado Sufi adotou o nome Khayyam em memória de seu
pai que era fabricante de tendas. Desde logo, um enigma: haverá
algum simbolismo místico em relação às tendas?
Uma tenda pode servir para proteger as pessoas, as árvores frutíferas,
as vinhas etc. das
condições extremas do clima de uma determinada região.
Pode, por outro lado, estar referida a um local de estudo ou de meditação
(shanti). No Sufismo e no Islamismo é
preferível ser usada a palavra oração, em que o
corpo, a mente e as emoções devem estar unificadas em
busca de uma aproximação amorosa e consciente com o Criador,
que, em verdade, é UNO com o próprio
ser. Um
dos aspectos do Sufismo é o esforço empenhado pelo Iniciado
Sufi em se tornar um ser humano integral e consciente do Deus de seu
coração, e não permanecer na humilhante condição
de besta (666) em forma humana. O Hajj
Sheikh Muhammad Ragip al-Jerrahi assim resume e define o Sufismo:
O Sufismo é um dos frutos do Islã. É
uma forma de buscar a realização do ser humano em um contexto
em que o fundamental é a busca da lembrança do nosso Criador
— Allah — através do Amor, e os parâmetros
desse Caminho são os que foram revelados por Allah ao Profeta
Muhammad. O Sheikh
Acrescenta, ainda: Todas as práticas do Sufismo são
derivadas do Sagrado Alcorão e das tradições do
Profeta Muhammad (saws). Os grandes mestres do Sufismo derivam seus
ensinamentos dessas fontes. Por tudo isso, uma tenda poderá
ser também um sítio sagrado, se aquele que lá estiver
torná-lo sagrado pelos seus pensamentos, pelas suas ações
e pelas boas obras que lá estiver praticando! O espaço
interior de uma tenda geralmente é dividido por cortinas, que
separam a entrada social destinada à recepção de
convidados e a parte privada e íntima reservada à família.
O piso no interior das tendas é recoberto por tapetes e o mobiliário
é variável, mas, usualmente, é constituído
por pequenas arcas e almofadas. Mas, repetindo: A TENDA PODERÁ
SER UM SANTUÁRIO SACROSSANTO. Se assim for, jamais poderá
ser violada. Coração! Tenda! Sanctum!
La Ilaha Illa Llah, Muhammadan Rasulullah.
Não há Divindade
exceto Allah e Muhammad (saws) é Mensageiro de
Allah.
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Madonna
della Tenda (1512-1514).
Raphael (1483-1520)
La
Tenda-Cappella: Capuchin House in Jerusalem
Tenda
Em sua mística e humilde
perplexidade e lúcida sensibilidade consciente, Khayyam, em meio
a metáforas de difícil compreensão e imagens místico-simbólicas
(é praticamente impossível traduzir fidedignamente o trabalho
literário de Khayyam em uma outra língua, exatamente porque
envolve mensagens místicas e filosóficas de profunda complexidade),
astrônomo que conhecia a trajetória e a influência
metafísica dos astros, matemático que compreendia a pureza
da rigorosa geometria e o enigmático algebrismo da criação
micro e macroscópica, Filósofo e Iniciado Sufi, que percebia
a inconseqüente presunção dos homens sábios
que se julgavam mais sábios do que realmente eram e a ignorância
arrogante dos não-sábios, mas que igualmente se autonomeavam
sábios, e poeta maior que caminhava liricamente entre vinhos,
rosas e amores, certamente não iria se entregar a tão
solene afetação na alma da Rubaiyat (nas rubais
– quadras – o primeiro,
o segundo e o quarto versos são rimados; o terceiro é
branco) para questionar o processo encarnativo do ente de forma tão
medíocre: aqui
enviados de onde?
Esta dúvida (dúvida?) deve ser vista e interpretada de
outra forma. Com o Olho Interior. Com o Olho
Interior deve ser percebido que as rubais, em seu
versos rimados, formam uma progressão geométrica 1,
2 e 4. Por um lado, Triângulo;
por outro, Tetractys; por um terceiro Quadrado.
Por isso, certamente, em Omar, o vinho não é o vinho que
vem das uvas, e este e o amor que tanto cantou são uma única
e indiferenciada ESSÊNCIA. E as rosas... Ah!
As rosas! O amor! No Sufismo, tudo começa com o Amor e continua
com o Amor. Ilimitadamente. Tal Amor é freqüentemente expresso
através da música, dos poemas e das estórias, e
o objetivo do Sufismo é proporcionar ao ser humano retornar (reintegrar-se)
à Fonte Original por meio do autoconhecimento e de sua relação
consciente com o Universo. Com Omar não poderia ser diferente.
Abaixo, estão reproduzidos dois fragmentos dos Poemas intitulados
Mistério e Amor,
de autoria do Sheikh Muzaffer Ozak al Jerrahi e colhidos em sua obra
Ashki-Divan.
MISTÉRIO
...
Amor, essência que não pode ser vista,
Mistério
que não pode ser conhecido.
Mesmo
quando conhecido, não pode ser contado.
Presente
em todo o lugar.
*
Bebi
do Veneno do Amor,
Cruzei
o Rio do Coração.
Para
encontrar a Cidade da União,
Encontrei
o que havia em seu interior...
*
*
*
AMOR
...Amor,
a essência da criação.
Amor,
parte central de todas as coisas.
A visão do amante,
Move-se
com o poder do Amor.
*
...Contemple
as montanhas e as pedras,
Os
pássaros no céu.
Verões,
outonos, invernos,
Todos se movem com o poder do Amor.
*
Anjos,
homens e gênios,
Sangue
correndo nas veias.
Servos
e sultões,
Movem-se
com o poder do Amor...
*
*
* *
*
* *
Omar,
ao contrário do que imaginam os distraídos, não
era um hedonista cirenaico, epicurista ou utilitarista. Aos distraídos,
repito, pode lembrar Epicuro. No Hedonismo a meta é o prazer
– bem supremo(?) – finalidade e fundamento da vida. No Cirenaísmo,
doutrina formulada por Aristipo de Cirene (435-356 a.C.), a dedicação
ao prazer dos sentidos é o fundamento de todos os prazeres. Neste
sistema, a felicidade deverá resultar do somatório de
todas as formas de fruição atuais e futuras. O Epicurismo,
doutrina estabelecida pelo filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.),
caracteriza-se por uma concepção atomista e materialista
da Natureza. Teoriza uma indiferença perante a morte e está
estruturada em uma Ética que identifica o bem com os prazeres
comedidos, que, por passarem pelo crivo da reflexão, seriam impermeáveis
ao sofrimento. No Epicurismo, a lei fundamental da Natureza é
a procura do prazer. O Utilitarismo, método desenvolvido no âmbito
Filosofia Liberal Inglesa, especificamente em Jeremy Bentham (1748-1842)
— o Princípio da Utilidade determina que
esta, a utilidade, é a propriedade de um objeto pela
qual ele tende a produzir benefício, vantagem, prazer, bem ou
felicidade e... ou... evitar inconvenientes, penas, males ou infelicidades
da parte daqueles cujo interesse está em consideração
— e em John Stuart Mill (1806-1873),
defende a procura do prazer individual, que somente se plenifica por
meio de sua extensibilidade para o maior número possível
de pessoas. Esta doutrina considera a boa ação ou a boa
regra de conduta caracterizáveis pela utilidade e pelo prazer
que podem proporcionar a um indivíduo e, ampliadamente, à
sociedade como um todo, na suposição de uma complementaridade
entre as satisfações pessoal e coletiva. Ora, nada disso
morava na alma de Omar. Ou, pelo contrário, tudo isso estava
entranhado em seu ser, mas com um outro colorido, em outra direção.
O propósito era outro. Em uma palavra: Misticamente.
Este Persa Ilustre era um Místico Sufi terno e humano e seus
poemas estão crivados de profundas alegorias iniciático-espirituais.
Mas, como a maioria das pessoas se fixa tão-somente nas palavras
e no sentido objetivo que elas normalmente oferecem, não conseguem
alcançar nem decodificar as cifras implícitas em determinadas
obras de pensadores que estão além do tempo e
(quase) livres das ilusões e dos desejos corriqueiros do dia-a-dia.
Os dois poemas de Muzaffer anteriormente citados em parte retratam alegoricamente
o mistério oculto no PODER DO AMOR. O que significará
exatamente, por exemplo, o vir-a-ser ou devir?
O
que ocorre, geralmente, é que as pessoas pensam, analisam e tentam
racionalizar; os místicos e os iniciados intuicionam direta e
transracionalmente sem analisar ou racionalizar nada. A inteligibilidade
de algo que se torne discernível obviamente só pode se
dar no plano filosófico (noesis) ou no nível
científico (dianoia). Pequena espera. Longa espera!
E isto pode levar dias, meses ou até anos. Ou nem ser perceptível
em uma encarnação. Albert Einstein (1879 - 1955) teve
que trabalhar durante anos para traduzir matemática, física
e racionalmente a representação intelectual intuitiva
que teve das Leis que regem a Relatividade.
As reflexões de Albert começaram quando ele tinha apenas
16 anos. Em uma carta que escreveu a um tio enviou algumas reflexões
juvenis sobre alguns problemas que ocupavam sua mente, e que, mais tarde,
deram origem à Teoria da Relatividade Especial (que examina as
leis que regem o movimento uniforme) publicada em 1905. Posteriormente,
na verdade, depois de estudar e meditar sobre suas intuições
por dez longos anos, em 1915, tornou pública a Teoria da Relatividade
Geral, que trata do movimento acelerado e da gravitação.
Eu fico imaginando como deve ter sido difícil para Einstein escrever,
matemática e relativisticamente, que, por exemplo: a) as leis
fundamentais da física devem ter a mesma estrutura matemática
em todos os sistemas inerciais; b) a velocidade da luz é uma
constante independentemente do movimento, do manancial ou do observador;
c) nenhum sinal ou energia pode se transmitir com velocidade maior do
que a velocidade da luz; d) a massa inercial de uma partícula
é função de sua velocidade (o que aumenta com a
velocidade não é a quantidade de matéria de uma
partícula, mas sua massa inercial, a qual mede a inércia
do corpo —› quanto maior a velocidade, maior será
a inércia, isto é, torna-se mais difícil a variação
de velocidade); e) o intervalo de tempo gasto para ocorrer um fenômeno
dependerá sempre do referencial em que está o observador;
e f) uma massa m equivale a uma quantidade de energia
E. Como no Universo E =
constante, m + E = 1.
O Universo é, portanto, finito; mas é, ao mesmo tempo,
ilimitado. Hoje, são poucos os que não sabem que E
= mc², c sendo a velocidade da luz. Um
exemplo: uma mola terá massa maior se estiver comprimida relativamente
ao instante em que não estava comprimida —› o acréscimo
de energia potencial elástica ocasiona um aumento da massa inercial
da mola. Mas, são raros os que conseguem entender misticamente
esta singela formulinha, bem como que a massa inercial de qualquer corpo
universal é função de sua velocidade. Logo, as
coisas ditas e admitidas como mais difíceis e complicadas nem
sequer são objeto de cogitação pela maioria dos
seres humanos. Para o não-iniciado, assim, o vir-a-ser acontecerá
depois; este devir, para o Iniciado, está acontecendo
sempre, porque nunca houve o antes nem poderá suceder o depois.
A cada vez que dormimos... A cada vez que acordamos... A cada vez que
tornamos a dormir... Pisces dormiu! Aquarius ficará
acordado! Em Pisces estava oculto Aquarius; em Aquarius
está se ocultando Pisces. Em todos UM. UM
em todos. Todos em todos. Todos em TUDO. TUDO
em todos.
Omar
não era, como os desavisados julgam, um beberrão de vinho,
hedonista, devasso e arruaceiro; era, com toda a certeza, um místico
sufi. E seus poemas foram todos inspirados na Sabedoria Sufi, na qual,
repetindo, era um Iniciado. Uma possibilidade para tentar entender o
grande Poeta Persa, no que concerne à forma críptica com
que poetizou os temas pelos quais navegou, talvez possa ser tentando
sentir, alma com alma, seu Ser Cósmico, e procurando perceber
com o coração a intencionalidade por detrás das
rubais. Se ele teve a coragem e o discernimento de escrever —
Alcorão, o Livro Supremo, pode ser lido às vezes,/mas
ninguém se deleita sempre em suas páginas./No copo de
vinho está gravado um texto de adorável Sabedoria/ que
a boca lê a cada vez com mais delícia. —
é porque sabia o que estava escrevendo. O Alcorão
— que é patrimônio da Humanidade — não
é um Livro fácil de ser entendido, muito menos de ser
cumprido. A Bíblia também não.
Estamos todos hoje assistindo exatamente a que? Bíblia
versus Alcorão. Mas, no fundo,
isto não é bem assim. Há, por trás de tudo
isso, implicações de ordem cármica (retributiva)
que não serão objeto de análise neste documento.
Este é um tema muito complexo. Logo, em um sentido muito profundo
e realmente hermético, não existe (nem existiu, nem poderá
existir jamais) uma guerra religiosa. O Catolicismo prega a Paz. O Islã
prega a Paz. A palavra Islã, em sua raiz, significa PAZ.
O Catolicismo tem vocação para a universalidade; está
em conformidade com a moral e com os bons costumes. Qualquer dicionário
apresenta esses conceitos elementares. As palavras-chaves para ambos
(Islã e Catolicismo) são: PAZ e FRATERNIDADE.
O que gera as discórdias e os sofrimentos são os seres
humanos (de ontem, de hoje e de amanhã), que em suas devastadoras
e desmedidas ambições — afrontando e acomodando
segundo suas conveniências princípios religiosos, políticos
e econômicos — fazem as hediondas guerras em nome de seus
deuses, deuses-demônios ou demônios-deuses criados por suas
aberrantes convicções hipotéticas. Em suma: a
Religião Islâmica não participa de guerras. O Islã
é uma religião que promove a paz e o crescimento interior
do ser humano. Há um hadith
do Profeta Muhammad em que Allah ensina: aquele que conhece
a si mesmo, conhece a Seu Senhor. Quem realmente conhece
o Seu Senhor não fará a guerra
em Seu Nome. E o que ensina o Decálogo
em seu PRIMEIRO MANDAMENTO? Não é exatamente
a mesma coisa? Amai-vos. As guerras político-religiosas são,
assim, produto de políticos e de religiosos fanáticos
(ignorantes do conteúdo místico-iniciático dos
Livros Sagrados que regem suas religiões) que — torcendo,
distorcendo e retorcendo passagens bíblicas e alcorânicas
— se utilizam dessa literatura religiosa para por um lado cristianizar
e por outro islamizar o mundo. Os religiosos sinceros — de qualquer
religião — jamais promoverão a guerra, jamais se
empenharão em fazer proselitismo e
jamais causarão dor. O Sufismo e o Islã estão integrados
no pensamento fundamental de todas as outras religiões, assim
como o Catolicismo, que, embora na aparência pareçam ser
distintas, em essência procuram todas aproximar os seres do Criador
— o HOMEM IMORTAL QUE VIVE NO INTERIOR DE TODOS OS ENTES.
Assim, haveremos todos, um dia, de reconhecer um fato incontestável:
o propósito de todas as religiões é auxiliar os
entes a se conhecerem em sua essência prístina e universal.
O tempo que não é tempo no inexistente tempo: ... Lemúria...
Atlântida... Judaísmo... Cristianismo... Islamismo e Sufismo...
Purificação dos entes. Qual é, então, o
Sacerdócio islâmico? O Islã e Sufismo vieram ratificar
essa mensagem no momento em que a Humanidade estava (estava?) pronta
para formar uma comunidade universal neste Planeta, porque o Islã
é para todos. Mas, o Sufismo, talvez, não seja para todos.
Ainda.
Recomendo
a utilíssima leitura do primeiro Anexo deste livro digital:
Em
Nome de Deus, O Clemente, O Misericordioso: A Necessidade de Diálogo
Entre as Civilizações, de
autoria do Sheikh Jihad Hassan Hammadeh. Por isso, quanto ao Alcorão,
Omar escreveu: ninguém se deleita sempre em suas
páginas. Descumprir o Alcorão e descumprir
a Bíblia — no que essas obras têm
de Sagrado — é mais fácil e mais
agradável. O Sagrado é, em determinado estágio
da reintegração do ser, incompreendido, monótono
e enfadonho. Logo, não pode ser alcançado e muito menos
cumprido. Paciência! Os conceitos embutidos nessas Obras não
são fáceis de ser compreendidos e, muito menos, de ser
aceitos. Com o tempo virão a Compreensão, a Alegria
e a Liberdade. Antero de Quental (1842-1891), em Sonetos, escreveu
algo que, de certa forma, está vinculado à essas reflexões:
Fui
rocha em tempo, e fui no mundo antigo
Tronco ou ramo na incógnita floresta...
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiqüíssimo inimigo...
Rugi,
fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
Ou, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paul, glauco pascigo...
Hoje
sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade...
Interrogo
o infinito e às vezes choro...
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade. |
Omar
não era, ipso facto, nem um sofredor sem destino, nem
um nefelibata fugidio da realidade, nem um romântico incurável.
Inspirar-se em Omar para levar a vida na flauta, é, ignorantemente,
tentar justificar injustificadamente a própria ignorância
pela ignorância da ignorada Sabedoria (ShOPhIa)
omariana. Fico muito à vontade para fazer
estes comentários, porque a primeira vez que li a Rubaiyat
eu tinha dez anos de idade. Meu pai me deu o livrinho (escrevo
assim com todo carinho, pois me lembro do tempo em que eu era um garotinho
muito bobinho), eu li e... não entendi absolutamente nada. Ou
melhor: entendi tudo. À minha maneira. Achei, na época,
que Omar Khayyam era um grande sacanocrata e um tremendo boa-vida. Nos
eme mais ene sentidos. Considero, sem crítica, que foi uma papaizada
(bem intencionada, mas pouco responsável) de meu pai me dar para
ler a Rubaiyat naquela época. Eu só compreendi
(penso que compreendi) suas rubais recentemente. Então,
o motivo deste ensaio é realmente dividir esse presumido entendimento
com todos. Curioso! Em português, anagramaticamente, OMAR
= AMOR. O PODER DO AMOR! Em
OMAR.
A
fama de Omar como matemático foi, de certa forma, ofuscada parcialmente
por sua popularidade como Poeta. Isto se deve, provavelmente, ao fato
de Khayyam ter incorporado à sua poesia conceitos mítico-místico-filosóficos
— que se compreendidos, na maior parte das vezes, o são
de forma atravessada — que sobreviveram até a contemporaneidade,
pois incluem e sintetizam, entre outras cognoscibilidades, reflexões
ontológicas, condutas morais, livre-arbítrio e ponderações
estéticas. Tudo isso misturado com vinho que não é
vinho, com rosas que não são rosas e com amor que não
é amor. Mas, inelutavelmente, sua contribuição
como filósofo e cientista ajudou a abrir caminho para as múltiplas
fronteiras que desafiam o conhecimento humano. Um exemplo interessantíssimo
é a duração do ano calculada por Omar. O ilustre
filho de um fabricante de tendas conseguiu medir a duração
do ano e obteve o valor de 365,24211958156 dias. Este valor mostra uma
incrível precisão relativamente aos valores atualmente
conhecidos. A exatidão alcançada por Khayyam é
extraordinária: a duração do ano admitida pela
ciência hodierna, smj, é de 365, 242190 dias. Se se
determinar o erro de cálculo (erro?), constatar-se-á que
é simplesmente desprezível. Eu sei que não sei
nada. Mas sei que a noite e o dia de Omar eram outros. Como eram outros
seus vinhos, seus amores e suas rosas!
Antes de elucubrar sobre o
aqui
enviados de onde?,
reproduzirei e oferecerei minha interpretação para algumas
(poucas) rubais de Khayyam. Na verdade, cada rubai
oferta ao místico, ao religioso e ao espiritualista a oportunidade
de uma profunda reflexão, entre outros temas, sobre os mistérios
da vida e da morte. O agnóstico, quiçá, fará
uma leitura diferente, o que não importa absolutamente nada.
Mas, sem dúvida, se importar, importa muito mais do que ler Omar
ou com olhos de vai-da-valsa ou com olhos teológicos ou acadêmicos.
Não julgo o que é pior. Nem, realmente, me preocupo com
o que é pior ou com o que é melhor. Mas, particularmente,
sempre preferi — considerando a Humanidade como um corpo unitário
— e continuo preferindo os incréus. E, também, vai-da-valsa
é melhor do que dissimulação. Ler, portanto, Omar
Khayyam com olhos acadêmicos oriundos de qualquer vertente nada
acrescentará ao que já foi escrito sobre seu pensamento,
nem, muito menos, proporcionará uma elevação da
consciência a planos nos quais a razão, a emoção
e as idiossincrasias são substituídas por RAZÃO,
COMPREENSÃO e ILLUMINAÇÃO.
Prefiro, como disse e expliquei o porquê, um ateu ou um agnóstico
refletindo sobre o pensamento omariano do que um religioso ou um acadêmico.
Os primeiros, livres do formalismo literário e do acachapante
e incongruente dogmatismo religioso, estarão, sem o perceber,
mais próximos do oculto e do misterioso encontrado em cada rubai;
os segundos, agrilhoados a teorias teoteleescatológicas insustentáveis
e a examinações semânticas (sincrônicas ou
diacrônicas) apenas margeiam sua obra. Não alcançam
o Svmmvm Bonvm omariano. Isto vale igualmente
para os pensamentos, por exemplo, de Platão e de Fernando Pessoa.
Até hoje, acredito, o Eros e Psique de Pessoa não
foi decifrado pela Academia. Os acadêmicos estão longe
de compreender a diferença fulcral entre ANDROGINIA,
androginia e androgenia. Como poderão, então, decifrar
os versos: A cabeça, em maresia,/ Ergue a mão,
e encontra hera,/ E VÊ QUE ELE MESMO ERA/ A PRINCESA QUE DORMIA.
(Maiúsculas minhas). Que terá pretendido dizer Pessoa
quando escreveu: O poeta é um fingidor./Finge tão
completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras
sente. (?)
Noite
Negra: uma dor! Iniciação: outra Dor. Tipos
de dores: dor e Dor. Fingir dor para esconder a Grande Dor? Uma orquestra:
maestro e músicos. O maestro rege; os músicos tocam. O
maestro não pode tocar pelos músicos. Ensina, corrige,
orienta... Cada qual que afine seu instrumento! Mas, o maestro não
tocará por eles! Aquele que se afastar do tom... dor...
DOR. O maestro não poderá
tocar por ninguém.
Portanto,
a melhor maneira de se ler a Rubaiyat — bem assim as
monumentais obras pessoana e platônica — é, após
a leitura de cada rubai ou escrito de Pessoa ou diálogo
platônico, não tentar analisá-los ou compreendê-los.
Esse ridículo cacoete desgraçado e vicioso de tentar analisar
e racionalizar... Sugiro que façamos assim: apenas devemos colocar
de lado o livro, semicerrar os olhos e deixar a mente livre para voar
e trazer do Alto e de Dentro uma nova
impressão, uma nova sensação, um novo entendimento.
Quem sabe Omar Khayyam, Fernando Pessoa e Platão, ou a Fonte
da qual emanaram, amparem e inspirem a cada um de nós nessa meditação!
E que, de uma simples e despretensiosa meditação, possamos
todos alcançar um grau superior de
ILLUMINAÇÃO.
FIAT VOLUNTAS
TUA. Os místicos conhecem esse processo
com o augusto nome de INICIAÇÃO.
Então, farei um breve comentário sobre cada rubai
transcrita, que, em relação ao que se propaga e divulga
por aí, será, talvez, uma grande heresia. Não para
mim. Não para muitos místicos que talvez venham a ler
este texto. Não para muitos ateus ou agnósticos.
Não para outros tantos... Ainda um esclarecimento importante:
primeiro (de repente) tive a intuição e reli pela enésima
vez a Rubaiyat; depois meditei; e, por último, fui pesquisar.
Surpreso, descobri o livro Rubaiyat de Omar Khayyam Explicado, de
Paramahansa
Yogananda, baseado na primeira tradução feita pelo
tradutor vitoriano Edward FitzGerald (a de 1859), com comentários
esporádicos de J. Donald Walters, seu editor e discípulo,
da Madras Editora Ltda. Que coisa impressionante! Eu que não
sou sufi (ou sou?) tinha entendido grande
parte do pensamento de Omar. Coincidia, em muitos pontos, com o que
explica Yogananda. Recentemente,
claro. Não aos dez anos. Não seguirei, contudo, os passos
de Yogananda nem copiarei sua interpretação da Rubaiyat.
Mas, quando couber — porque não? —
me inspirarei em Yogananda para esclarecer o que senti das rubais
que escolhi para comentar. Convido aos que não conhecem Omar
Khayyam que procurem conhecê-lo. Não será um estorvo.
Mais uma coisinha: que significará o nome PARAMAHANSA?
PA.
OITO. A SENDA ÓCTUPLA. KAR-GYA-PA.
DUALIDADE. RAMA.
MATÉRIA versus ANTIMATÉRIA.
LEITE. SOL. VIDA. HANSA
‹=› HAMSA.
Para que haja Matéria é preciso que exista também
a Antimatéria, pois, na oscilação contínua
dessa 'mola' é que a Energia configura a miríade
das manifestações do Ser em seus ininterruptos
esforços para existir, gerando calor e
densidade, como atributos da Luz
condensados sobre as Trevas do Caos fendido pelo Logos.
(Vicente
Velado)
|
HANSA
= HAMSA
HANSA
= HAMSA
HANSA
= HAMSA
HANSA
= HAMSA
Yin
e Yang
Yin
e Yang
Yin
e Yang de
Carlos Cairo
Fonte: http://www.wd-w.de/Carloscairo.htm
Acesso: 8/8/2004
* * * *
* * *
Uma Belíssima Edição da Rubaiyat
RUBAIS
ESCOLHIDOS
DESPERTA! Pois a Manhã na Taça da Noite
Lançou
a Pedra que dispersa as Estrelas.
E eis que o Caçador do Leste apanhou
A Torre do Sultão em um Laço de Luz.
Meu
entendimento: DESPERTA!
ACORDA! Este é um brado de alerta de um Iniciado
que sabe que despertar é possível. Este é o Plano
da Ilusão. Ilusões materialísticas... Ilusões
belicistas... Ilusões sexuais... Ilusões teológicas...
Ilusões iniciáticas... Ilusões... Há uma
VOZ... Um SOM SILENCIOSO que fala...
Eu e minha VOZ somos UM... Vocês,
meus Fratres e minhas Sorores,
e suas VOZES são UM. Por que
esperar que a Aurora venha iluminar a Noite Negra? A Aurora não
virá para os que continuarem deitados. Crentes ou descrentes.
Não iniciados ou Iniciados. Orgulho, vaidade e egoísmo
coabitam na Torre do Sultão.
Nesta Torre são
produzidos todos os deuses e todos os demônios que escravizam,
iludem e devoram os distraídos e os malditos. Olha para o Nascente...
No Poente só ha sofrimento, miséria e doença. A
VIDA vem do LESTE...
A VIDA vem do SOL... A VIDA
está em todos... Há um SOL INTERNO...
Quando o Laço
der o primeiro nó... Aquele que for bem-aventurado em ser enlaçado
pela LUZ não
será jamais devorado.
*
Sonhando,
quando a Mão Esquerda do Alvorecer ainda
estava no Céu,
Ouvi
uma Voz gritar do interior da Taverna:
DESPERTAI
Pequeninos e enchei a Taça
Antes
que o Licor da Vida seque no Cálice!
Meu
entendimento:
Deixai vir a mim os Pequeninos porque Deles é o
Reino! Pequeninos
são os que foram Iniciados em uma Sabedoria mais elevada. Contudo,
esta Iniciação poderá se dar ou não no âmbito
de uma fraternidade ou ordem mística. Quando ocorre espontaneamente,
há o perigo de ser confundida e de arrastar o ente para desvãos
esquerdizantes. Não pode existir trabalho isolado. Nem há
no Cósmico privilégios no sentido pejorativo usualmente
a ele aplicado. Há PRIVILÉGIO! Conquista
pelo trabalho e pelo mérito. E, assim, o PRIVILÉGIO
MÍSTICO é MERITOCRÁTICO.
Despertai Pequeninos! Despertai vós
que são de fora! Despertai vós que já estão
dentro! As Luzes do Alvorecer não devem
ser gastas perdulariamente. O SOM DO SILÊNCIO fala...
às vezes, grita... Na Taverna... Em
nosso interior. Ouçamo-lo. Ouçamo-lo para que o Licor
da Vida inunde nossos seres com a ShOPhIa
Universal. Antes que ele seque no Cálice!
Antes de que mais uma encarnação se escoe pelo ralo. A
pouco e pouco...
*
Agora, o Ano Novo revivendo Velhos Desejos
A
Alma pensativa se retira à Solidão
Onde
a Mão Branca de Moisés no Ramo toca,
E
Jesus do chão suspira.
Meu
entendimento: Ano
Novo! Nova Vida! Todos os dias são dias
de Ano Novo!
SABEDORIA (ShOPhIa)
e LLUZ recebidas pelo
mérito e pelo esforço. Perigo: retrocessão. As
quedas são alertas; despertar de cada queda, uma vitória.
Quedas! Vitórias! Glórias! Saudade metafísica do
Lar Espiritual: Velhos Desejos.
No silêncio interior — no Sanctum
Sanctorum — a COMUNHÃO
CÓSMICA haverá de acontecer. A
Alma pensativa se retira à Solidão.
A
COMUNHÃO CÓSMICA haverá de acontecer
através do TOQUE MÍSTICO que vem de um
dos emissários da .'.G.'.L.'.B.'.
Estejamos aptos e prontos.
*
E vê: Mil Flores com o Dia despertaram!
E
outras Mil se espalharam no Barro.
Este
Primeiro Mês de Verão que traz a ROSA
Levará
consigo Jamshyd e Kaikobad.
Meu
entendimento: O Eu Superior inunda os corpos inferiores
com a LUZ QUE VEM DO ALTO e de DENTRO!
Cobiças, paixões e desejos recalcitram. Serão transformados.
Mil transmutam
Mil que alquimizarão outros
Mil, um a um, uma a uma, até que todas as
pétalas da ROSA
MÍSTICA tenham desabrochado. ROSA+CRISTO!
A encarnação compulsória chegará ao fim!
Voltar à Caverna é um ato de supremo sacrifício
e de AMOR. Todos somos UM! Não
poderá haver libertação e LLUZ
apenas para um ou para muitos. Para TODOS! Esta é
a LEI. Todos seremos porque todos somos Jamshyd
e Kaikobad. A
LLUZ
não escolhe. Afeganistão, Palestina
e Iraque são UM! O Verão,
lá, apenas está oculto! Hora da Transformação.
OUTONO, INVERNO PRIMAVERA. VERÃO!
Mês de VERÃO!
LLUZ!
Ai dos carrascos!
O veneno que envenena é o veneno que fabricará o veneno
que envenenará! Contraveneno: Meditação, Compreensão,
Tolerância e Amor. Quem sou eu para julgar e assassinar o meu
Irmão? A ROSA
que está desabrochando no meu coração está
também florescendo no coração de todos os seres.
Minerais e minérios, vegetais, animais e homens meus Irmãos.
Iniciados ou não. Judeus, católicos, muçulmanos,
budistas, lamaístas, incréus... Todos.
*
Sabei, meus Amigos, por quanto tempo
na minha Casa
A
um novo Matrimônio prestei Devoção?
Divorciei
de minha Cama a velha e infértil razão,
E
recebi para desposar a Filha da Vinha.
Meu
entendimento: Quando em
Casa —
o ente — quem comanda é o corpo astral, o resultado será
sempre frustração e incompletude. Quando a estéril
e infértil razão
e a vontade humana cedem lugar à RAZÃO
e à VONTADE do D'US INTERIOR,
é porque um novo Matrimônio
foi estabelecido. Ao renunciar aos chamamentos inferiores, a Cama
se desfaz lenta e gradualmente. Abraçado à nova esposa
— a Filha
da Vinha — a PAZ PROFUNDA
no SILÊNCIO INTERIOR ILLUMINARÁ
a consciência.
*
Como é doce a Soberania Mortal!
— dizem alguns.
Como
é abençoado o Paraíso que virá! —
dizem outros.
Apanha
o Cofre Vivo e abandona o Resto.
Oh,
a resoluta Música de um distante Tambor!
Meu
entendimento: Lord Acton (1834-1902), historiador liberal
inglês, em carta datada de 1887 ao Bispo Mandell Creighton (1843-1901),
autor da famosa sentença — The one real object
of education is to have a man in the condition of continually asking
questions — exarou, por sua vez, a não menos
conhecida frase: ... quando se tem uma concentração
de poder em poucas mãos, freqüentemente homens com mentalidade
de gangsters detêm o controle. A história provou isso.
Todo o poder corrompe: o poder absoluto corrompe absolutamente.
Acton, em seu pensamento, defendeu o princípio de que a História
deveria ser compreendida em uma única perspectiva: Liberdade.
Dela, Liberdade, surgiriam como conseqüência o progresso
ou o retrocesso. Este microrresumo
não reflete o real pensamento de Lord Acton,
mas a
Soberania
Mortal —
poder exercido pela vontade e pela razão inferiores
—
no
domínio do misticismo iniciático é equivalente
ao que acontece, muitas vezes, no campo ideológico. Eduardo Dutra
Aydos comenta: A corrupção do poder, conseqüência
imediata do seu próprio exercício e desvio de finalidade
em relação ao seu fundamento, portanto, é originariamente
um fato gerador de mais-poder, em última instância, de
mais-corrupção. E este tende a se tornar um processo circular
e autocentrado, até o ponto em que, completamente autonomizado
em relação aos fins que o legitimam, o poder impõe-se
à sua própria lógica autocentrada, concentracionista
e autofágica, cuja implicação social é sempre
trágica. Também será sempre trágica
a busca da felicidade e do prazer no Mundo da Concretização.
Este Mundo só tem a oferecer necessidades desnecessárias
e inúteis e o Paraíso
não virá jamais, porque não
existe paraíso fora do ser. O
Paraíso está dentro. Dorme imaculado
e intocado nos seres inconscientes da CONSCIÊNCIA.
O VIR-A-SER É AGORA. Mas, AGORA
acabou de passar... Buscar... Navegar... Trabalhar... Merecer... Somente
no Cofre Vivo
poderemos nos regozijar no e com o PODER PERMANENTE QUE NÃO
DESBOTA e na e com a FELICIDADE AUTÊNTICA E INCRIADA.
A resoluta Música de um distante
Tambor é o OM
ETERNO, constitutivo do VERBUM OCCULTUM DIMISSUM
ET INENARRABILE. Ecce servus Domini: fiat
mihi secundum Verbum Tuum. Resto? O
conselho de Omar é irredutível: abandona
o Resto.
*
Aproveitemos bem o que ainda temos
Antes
que também desçamos ao Pó.
Do
Pó para o Pó e sob o Pó nos deitamos;
Sem
Vinho, sem Canção, sem Cantor e... sem Fim!
Meu
entendimento: Viver exclusivamente para a temporalidade
é o mesmo que se deixar dissolver no provisório (mâyâvico).
Rir e chorar. Alegria e tristeza. Riqueza e pobreza. Prazer e dor. Paz
e guerra. Festejo fútil; energia vital desperdiçada. O
que ainda temos? A
LLUZ interior. Essa não
pode ser furtada ou roubada. Então, aproveitemos
bem. Tudo
é efêmero... Tudo é ilusão... Pó.
Ir...
Voltar... Pó
e sob o Pó. Encarnar...
Desencarnar... Sem
Fim! Sem
fim? Sístole... Diástole... Sem
Vinho, sem Canção, sem Cantor e...
Quando deixaremos de ser devorados? Quando?
*
Com Eles plantei a Semente da Sabedoria.
Com
minha mão cultivei-a até crescer.
Esta
foi toda a Safra que colhi.
Vim
como Água; vou como Vento!
Meu
entendimento: A Água
dos desejos, das cobiças e da sensualidade acaba evaporando pela
ação consciente do FOGO da Semente
da Sabedoria. Meu
Ser Interior ficou livre como
Vento! Domine, non sum dignus ut intres sub
tectum meum. Sed tantum dic verbo et sanabitur anima mea. Mas...
.Com
Eles plantei a Semente da Sabedoria. Com
minha mão cultivei-a até crescer. Então,
Pax aluit vites et sucos condidit uvæ. A
morte foi afastada do meu Caminho. Agora vivo na Paz do CRISTO
CÓSMICO.
Veritatem
eme, et noli vendere sapientiam. |
*
Havia uma Porta... eu não tinha
a Chave.
Havia
um Véu... eu não podia Ver.
Uma
conversa rápida no meio do tempo entre Mim e Ti
Pareceu
surgir — e, então, nada mais de Ti e de Mim.
Meu
entendimento: Todas as Portas... Algumas Portas...
A penúltima Porta...
As
Portas só podem ser abertas uma a uma. O
desespero
do neófito transforma-se na tranqüilidade Daquele que subjugou
a vontade, a razão, a cobiça e a paixão. Sem a
Chave nenhuma
Porta
poderá
ser aberta, pois o Véu
não deixa Ver.
Mas,
eis que ouço a VOZ DO SILÊNCIO...
Uma
conversa rápida no meio do tempo entre Mim e Ti, D'US
DE MEU CORAÇÃO! E, assim, nos tornamos UM!
Então, nada
mais de Ti e de Mim. Não me sinto mais só.
Sei que não estou só. Porque a UNIDADE
foi realizada! Eu me transmutei no D'US DE MEU CORAÇÃO!
Nada, nada
mais de Ti e de Mim. Mas, enquanto
um único ser no Universo não tiver conquistado o CASTELO,
eu voltarei... Mil... Um milhão... Um Trilhão... Um zilhão
de vezes. Como rico ou como pobre. Como homem ou como mulher. Eu voltarei,
porque sem você existe um vácuo em meu coração.
Ir adiante sem você é não ir a lugar algum. Vem...
Vem comigo... Vem agora...
Fratres, agnoscamus peccata nostra. Dicamos omnes: Confiteor
Deo omnipotenti, beatæ Mariæ semper Virgini, beato
Michaeli Archangelo, beato Joanni Baptistæ, sanctis Apostolis
Petro et Paulo, omnibus Sanctis, et vobis, fratres: quia peccavi
nimis cogitatione, verbo et opere... et omissione (Percutit
sibi pectus ter, dicens:) mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa.
Ideo precor beatam Mariam semper Virginem, beatum Michaelem
Archangelum, beatum Joannem Baptistam, sanctos Apostolos Petrum
et Paulum, omnes Sanctos, et vos, fratres, orare pro me ad Dominum
Deum nostrum.
FIAT
PAX IN VIRTUTE TUA.
|
*
Então, ao próprio céu
que se desenrola acima, perguntei:
—
Que Lâmpada o Destino oferece para guiar
Seus
Filhos que tropeçam no Escuro?
—
Um Entendimento cego! — respondeu o Céu.
Meu
entendimento: Este céu
que se desenrola acima
é um céu mudo. É o céu da ilusão.
Respostas? Apenas convulsões mentais. A Lâmpada
está no coração. Esta Lâmpada
é a PEDRA FILOSOFAL que transmutará o
Destino (Lei
da Retribuição pela Necessidade) em VIDA.
O QUE O HOMEM SEMEAR, COLHERÁ. (Epístola
aos Gálatas, VI, 7). Enquanto os Filhos
que tropeçam no Escuro se deixarem devorar,
só contarão com Um Entendimento
cego!
FIAT
VOLUNTAS TUA —›
360 |
359
‹—
Fiat voluntas mea (nostra) |
f
i
a
t
v
o
l
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n
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360
F
I
A
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V
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N
T
A
S
T
U
A
|
*
Quanto tempo, quanto tempo, em Busca
Infinita
Deste
e Daquele Empenho e Disputa?
Melhor
que te alegres com a Uva Frutígera
Que
te entristeças com nenhuma ou Amarga Fruta.
Meu
entendimento:
Quanto tempo...
Busca
Infinita... Roda
das encarnações... 144... 311 040 000 000 000??? Até
quando??? Deste
e Daquele Empenho e Disputa? Até
que a vaidade, a ignorância e o
egoísmo sejam alquimizados.
Para cada leproso, uma compensação. Para cada leproso,
uma transmutação. Enquanto nos deixarmos iludir e entristecer
com
nenhuma ou Amarga Fruta, não nos alegraremos
com
a Uva Frutígera.
OH D'US DE NOSSOS CORAÇÕES!
FAÇA-SE A TUA VONTADE SEGUNDO TEU VERBO! PRONUNCIA UMA ÚNICA
PALAVRA! EU JÁ ESTOU ENTREGUE A TI... DÁ-ME O VINHO QUE
EMBRIAGA! Com paciência aguardarei. Minha ROSA
só pode ser alimentada pelo VINHO QUE VEM DA TUA
UVA FRUTÍFERA!
CONTO SUFI
Um
dia perguntaram a Sari a respeito da paciência. Ele
discorreu sobre o assunto com palavras cheias de sabedoria.
Enquanto ele falava, um escorpião ferroava seu pé
repetidamente. Mas Sari não interrompeu seu discurso.
Quando
as pessoas perceberam o que estava acontecendo e perguntaram
a Sari porque ele não afastava seu pé do escorpião,
ele respondeu: — Eu falava sobre paciência. Dificilmente
eu poderia lhes orientar e aconselhar neste assunto sem ser
paciente. Ficaria envergonhado perante Allah.
|
*
A Uva que pode com Lógica Absoluta
As
Setenta e Duas Belicosas Seitas confutar,
O
Sutil Alquimista que pode Em Um Instante
O
Chumbo da Vida em Ouro transmutar.
Meu
entendimento: (72 x 30 = 2160). (2160 x 12 =
25920). Uva Frutígera
— a Uva
que encerra
a Lógica Absoluta — é
a única Uva
que
harmonizará e equilibrará nossos desvios da
LUZ PRIMORDIAL que está em nosso próprio
interior. Apenas ELA poderá As
Setenta e Duas Belicosas Seitas confutar e
nossos
descaminhos endireitar. Mas, é preciso — é imperativo
— permitir que o Sutil
Alquimista —
o D'US INTERIOR —
O
Chumbo da Vida em Ouro transmute. [2160
x (72 x 2) = 311 040].
311
040 000 000 000 ÷ 25920 = 12 x 1000 000 000 |
311
040 000 000 000 ÷ (72 x 360) = 12 x 1000 000 000
|
777
*
Enquanto a Rosa sopra ao longo da Beira
do Rio,
Vem
e bebe da Vindima Rubi com o Velho Khayyam.
E
quando o Anjo com sua Taça mais escura
De
Ti se aproximar — aceita e Dele não te afastes.
Meu
entendimento: Um calor suave que não queima
aquece meus pés. Sobe... Sobe pela coluna vertebral... Aquece
minha medula espinhal... E explode luminosamente no centro de minha
cabeça... OOOMMMMMMM. Inconsciência
da autoconsciência. O botão da Rosa
começou
a se abir e a soprar
ao longo da Beira do Rio! Os
braços horizontais da CRUZ começaram
a encurtar! Prenúncio de exaltação mística!
A Vindima
Rubi! O
Mestre e D'US INTERIOR — o
Anjo —
não quer e não pode mais ficar em silêncio. Na Taça,
a
bebida mística que Acorda, Illumina
e Alegra. Não fujas, não voltes o rosto, não temas,
não te envergonhes. A hora soou: aceita
e Dele não te afastes pois
tu e Teu Anjo
agora são UM.
*
Tudo é um Tabuleiro de Xadrez
de Noites e Dias
Onde
o Destino joga com os Homens como Peças.
De
uma casa à outra os move, põe em xeque e toma.
Peça
por peça devolve-os ao Armário.
Meu
entendimento: Trinta
e duas casas pretas; trinta e duas casas brancas. Experiência
adquirida. Dores e alegrias. Gratidão pelos ensinamentos recebidos
pelas dores que provoquei. Noites
e Dias... Tudo
é um Tabuleiro de Xadrez... Causa
e Efeito. Lei da Necessidade (encarnação e desencarnação)
e Lei da Reciprocidade ou da Retribuição (subir... descer...
subir... descer...). Inapelável orquestração:
... o Destino joga
com os Homens como Peças... 144
anos: o CICLO — nascimento,
transição, renascimento. 25920 ÷ 144 =
180...
3000
x 144 = 432000. Armário:
tempo
de preparação para um novo nascimento.
Tudo
é operado
de acordo com as LEIS UNIVERSAIS. Um Bispo
pode comer uma Rainha, mas, se nesta jogada não
tiver tido cuidado e tiver desrespeitado as REGRAS,
poderá ser comido por um Peão! Nos ARQUIVOS
AKHÁSICOS estão indelevelmente registrados todos
os acontecimentos na ESSÊNCIA INDETERMINADA da
CONSCIÊNCIA CÓSMICA ou INTELIGÊNCIA
UNIVERSAL. Um grão de areia não se move... Nada
pode ser cancelado. Todas dores e todos os prazeres estão registrados.
Nossas lágrimas não apagarão uma única letra.
Contudo, 25920, sim; 144, uma vez,
mas, nem sempre. Uma vez em 25920... Uma vez em 51840...
uma vez em 103680... Uma vez em UM ANO DE BRAHMAN...
TWO BIRDS
Two birds, inseparable companions, perch on the same tree.
One eats the fruit, the other silently looks on.
The
first bird is our individual self, feeding on the pleasures
and pains of this world. The second is the UNIVERSAL SELF —
silently witnessing all.
The
Mundaka — Upanishad
|
Two
Birds
Areia
*
O
que, sem pedir, aqui enviados de onde?
E,
sem pedir, daqui para onde?
Outra
e mais outra Taça para afogar
A Lembrança desta Impertinência!
?
CONSIDERAÇÕES
FINAIS + Fernando
Pessoa
É
interessante quando se compara a Rubaiyat (Rubaiyat
é o plural da palavra persa rubai, e quer dizer quadras,
quartetos) de Omar com a Rubaiyat (e outras
rubais) de Fernando Pessoa, apresentada como último
anexo deste trabalho. Influência omariana? E daí? Estas
rubais pessoanas foram descobertas no espólio do fundo Pessoa
da Biblioteca Nacional por Maria Aliete Galhoz, em Lisboa. Por exemplo,
escreveu Pessoa (e foi publicado em Novas Poesias Inéditas),
mantendo a progressão geométrica omariana
1, 2 e 4 do esquema rimático
AABA, característico das rubais (B
é sempre um verso branco que se justapõe aos demais versos),
a seguinte rubai:
Se
tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
O
que pretendo deixar lavrado com este ensaio é que ambos, Omar
e Pessoa, muito ao contrário do que pensam e divulgam certos
autores, não eram dois bêbados inconseqüentes que
acreditaram que o vinho funcionasse como possibilidade de fuga do mundo
real não compreendido. Não eram dois acréus fazedores
de poemas resmungando do aparente sem sentido da vida. Não eram
dois resignados que acreditavam que tudo é inútil tendo
como única certeza a inquestionável presença do
nada (de qualquer forma, se existir o nada ele é um pouco mais
do que nada — e isto, em termos metafísicos, é
importantíssimo!). Não eram, também,
dois desencantados que festejavam os escombros da vida, dois melancólicos
ou desesperançados que pudessem ter acreditado em uma aparente
ou real confusão cósmica ou em um presumido caos universal,
nem, entre outras errôneas interpretações que atribuem
aos seus rubais, acreditavam em um mundo interior, representado
pela dor, e em um mundo exterior, figurado pela festa, que se fundem
no mesmo nada, no qual nem a embriaguez funciona como atenuante ou lugar
de refúgio para a alma em conflito. Não. Tanto Omar como
Pessoa eram místicos profundos que escreveram seu misticismo
tão cripticamente e tão hermeticamente que até
hoje quase não são compreendidos. Comparemos juntos.
OMAR:
O
que, sem pedir, aqui enviados de onde? O
sem
pedir significa
reconhecimento de inconsciência (incapacidade para recordar)
desenvolvida
pelos apegos, equívocos, paixões, desejos, cobiças,
enfim, imperativos hipotéticos que arrastam o ser para a materialidade
— para o aspecto infernal, esquerdizante e negro simbolizado pelo
número 359 — esfera na qual prevalece,
como reconhece
Paramahansa
Yogananda já referido,
uma
densa satisfação dos prazeres sensoriais. Com isso,
vêm a anestesiação e o esquecimento:
aqui
enviados de onde?
Esquecemos nossa ORIGEM
MATRIZ e, ao lermos em Omar
Ah Amor! Se Tu e eu com o Destino pudéssemos conspirar,
pensamos em alguma mulher que o
Poeta-místico estivesse tentando cooptar para banir
todo esse triste Esquema das Coisas. Mas,
se aprendermos que, em Omar, Amor refere-se
ao Amor Divino desde sempre presente em cada ente, e que o Destino
simboliza a Lei da Retribuição,
o triste Esquema das Coisas
só será solucionado se for compreendido
e compensado. E, quando for compreendido, e quando for reciprocado,
não será mais triste nem alegre, mas ALEGRE
no seio da ALEGRIA da ILLUMINAÇÃO
e da REALIZAÇÃO INTERIOR do CRISTO
CÓSMICO. Ou ALLAH, para o Islã.
Por isso, precisamos peregrinar para compreender... Quatro rosas no
chapéu... Uma rosa vermelha no coração. A
Lembrança desta Impertinência... A
lembrança... Lembrança de D'US... Zikr.
PESSOA:
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Aqui o sentido é o mesmo. Diz respeito
também à questão do esquecimento. Os deuses mortais
que viveram em Pessoa foram (e não foram) esquecidos.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Não vive e vive. Não vive se os
equívocos foram superados. E vive, se foram superados, para,
de duas uma: ou para tentar arrastar o liberto novamente para a ilusão
ou para alertar que na mesma ilusão só podem ser auferidos
sofrimentos e lágrimas. No caso de Pessoa, ainda que se conheçam
seus flagrantes delitros, o
beber e a embriaguez representam, tanto quanto em Omar, o êxtase
da Comunhão do ser com o Eu Interior, pois, nesses instantes,
a vida morre enquanto o ser revive. Só
o preconceito e a ignorância podem misturar vinho
com VINHO.
E confundir PESSOA com Pessoa.
Em
1929, no Abel Pereira da Fonseca
[dedicada a Ophélia — Fernando Pessoa em flagrante
delitro]
Alguém
pode criticar ou julgar seus delitros?
OMAR: Outra
e mais outra Taça para afogar... Peregrinação.
Paramahansa Yogananda, inspirado em sua LLUZ
INTERIOR, diz bem: Ah, outra e mais outra taça do
VINHO
CELESTE! Em
êxtase, ...deixa-me acordar dessa imposição insultante.
Imposta por quem? Por nós. Fabricada por quem? Por nós.
Amimada por quem? Por nós. Insultante por que? Porque avilta
e ofende o DEUS QUE SOMOS E NÃO SABEMOS (porque não
queremos). Assim,
para Omar e para Fernando e para todos os místicos, as atitudes
errôneas do passado devem ser calcinadas e alquimizadas no Athanor
do Coração...
A Lembrança desta Impertinência!.
De onde? Por que? Para onde? Quando?
O DEUS que habita em nossos corações
sabe! Nós, que recusamos ouvir Sua Voz, não
sabemos. Não nos interessamos em desejar saber. Viver a vida
na flauta é melhor. Boemia: aqui me tens de regresso... Insubstituivelmente
só SABEREMOS quando o SOM DO SILÊNCIO
for ouvido. Então, quatro rosas
no chapéu... Que
símbolo final/Mostra o Sol já desperto? — pergunta
Pessoa. Omar responderia: — O Sol que chega com
o AMOR e com
o VINHO.
Com a ALEGRIA interior conquistada pela LEMBRANÇA
e pela união extática com o D'US
INTERNO. VINHO e
AMOR.
PESSOA:
A vida é um mendigo bêbado/Que estende
a mão à sua própria sombra.
Somos mendigos mendigando bênçãos
aqui e acolá. Somos mendigos putrificando
tudo aquilo com que entramos em contato. A água que entra em
nosso corpo chora de tristeza! Vivemos na caverna de nossa consentida
ignorância alimentada por nossa vaidade. Dormimos
o Universo. A
extensa massa/Da confusão das cousas nos enlaça... Mas...
da ...misteriosa sensação de isolamento e
abandono que enche de amargura até ao fundo da alma, Pessoa
acaba encontrando o CAMINHO e
revelando:
FERNANDO
PESSOA
...ele
mesmo era
A Princesa que dormia. |
Calmo
na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Rosacruz conhece e cala.
|
Cheio
de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha Alma!
|
Tudo
é verdade e caminho. |
Onde
o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando
Cala a voz, e há só o mar.
|
Que
símbolo fecundo
Vem na aurora ansiosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que
símbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Cristo.
Que
símbolo final
Mostra o Sol já desperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.
|
Por
fim, na funda Caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são Teus iguais.
|
OMAR
KHAYYAM
AH!
COM A UVA SUPRI MINHA VIDA... |
FAZE-ME
BEBER...
DO VELHO E CONHECIDO SUMO...
|
AQUELE QUE SUTILMENTE ME DEU FORMA... |
DÁ
AO HOMEM E DELE RECEBE O PERDÃO! |
...A
ÚNICA E VERDADEIRA LUZ
ACENDE PARA AMAR... |
...A
ROSA SOPRA... AO LONGO DO RIO... |
A
UVA QUE PODE COM LÓGICA ABSOLUTA... |
VINHO
VERMELHO — CANTA O ROUXINOL PARA A ROSA — PARA QUE
SEU ROSTO AMARELO SE TORNE ENCARNADO. |
E
O DESERTO AGORA É O PARAÍSO. |
TOLOS!
VOSSA RECOMPENSA
NÃO ESTÁ AQUI NEM ALI! |
OUVE
O RANGER DA
DRAGONA DO CARREGADOR! |
AH,
LUA DO MEU DELEITE... |
*
* * *
* * *
HOMENAGEM
A...
(Minhas Rubais)
Sei
que sou um repetidor.
Repetidor,
sim. Jamais um enganador.
Mas,
homens e mulheres claudicam....
Então,
repetir é espargir Amor.
*
Fernando
Pessoa e Omar
Viveram para Amar e Ensinar.
Quem
não os puder compreender,
Deve
se esforçar para 'zikrar'.
*
Consolado,
a cabeça em torvelinho,
Agora,
em silêncio, tomarei meu Vinho.
Que aquece, illumina e embriaga.
Pois
aprendi que não estou sozinho.
*
No
seio da Rosa+Cruz
Encontrei o Portal da LLUZ.
Compreendi
o segredo da morte:
A
Rosa pregada na Cruz.
*
De
Iniciação em Iniciação
Foi-se
abrindo meu coração.
Aprendi a reconhecer
Em
cada ser um Irmão.
*
Hoje
já não cometo o triste 'pecado'
De
me sentir escravizado e afastado.
Pelos
meus deuses-demônios internos
Dominado,
engabelado e manipulado.
*
Nasci
e morri tantas vezes,
E tantos foram os revezes.
Então, ouvi o Som do Silêncio:
Transmutaram-se
as antigas 'tezes'.
*
Como
Irmão, a todos desejo
Que
lutem e vençam o animalejo.
Ele
parece encantador, mas...
É
medonho e muito malfazejo.
*
Meu
Irmão: seja forte.
Pois não há milagre nem sorte.
O Som do Silêncio ensinará
Que
também não existe morte.
*
Cada homem é um Deus.
Irmãos: Rendam-se aos Seus.
Coragem, firmeza, determinação.
Vida dissoluta: intrepidez — adeus!
*
* *
Paz
Profunda e Fraternidade
Vencerão a agressividade.
A Lei deve ser cumprida:
No
Tempo, triunfará a Verdade!
*
* * *
* * *
DADOS
SOBRE O AUTOR
Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF,
1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração
Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia
& Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência
e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto
de Desenvolvimento Humano - IDHGE.
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ANEXO
I
Em
Nome de Deus,
O Clemente, O Misericordioso:
A Necessidade de Diálogo
entre as Civilizações
Sheikh
Jihad Hassan Hammadeh
Historiador e Cientista Social. Vice-presidente da Assembléia
Mundial da Juventude Islâmica-WAMY
No
decorrer dos séculos, a humanidade passou por inúmeros
conflitos cujas raízes encontravam-se plantadas em
questões étnicas e religiosas, marcadas sobretudo
pela intolerância e pela falta de conhecimento em
relação ao outro e a tudo o que era diverso
da realidade conhecida.
O
ápice destes conflitos sempre foi alcançado quando,
ao se perder a noção de justiça, os inocentes
morriam sob a égide de palavras como liberdade, direito
e religião. Na verdade, estas palavras sempre serviram
a objetivos outros que não a integridade física,
moral e espiritual das criaturas.
Com
a evolução dos tempos fez-se necessária
a instituição do diálogo —
único
meio inteligente para oferecer aos seres humanos uma qualidade
de vida decente e honrada —
pois ninguém,
em tempo algum, consegue conviver indefinidamente com a dor,
com a injustiça e com o preconceito.
Na
sociedade moderna, pensadores e filósofos de grande estatura,
aliados aos integrantes lúcidos que ainda sobrevivem
no nosso meio, estão concluindo que o único caminho
para uma sociedade segura, igualitária [respeitando
o sentimento e a opinião do Sheikh
Hammadeh,
prefiro o conceito de eqüidade, e, assim, neste sentido,
penso em uma sociedade equânime] e
desenvolvida é o entendimento, o respeito e a instituição
da justiça para todo e qualquer cidadão, seja
ele de que raça for, professe ele a religião que
professar, e tenha ele a condição social que tiver.
Muito
se perdeu ao longo dos séculos pelo simples fato de que
é mais fácil combater o desconhecido do que tentar
compreendê-lo. O desentendimento, ao invés de levar
ao progresso, sempre levou apenas à destruição
e ao retrocesso social e espiritual, acentuando as diferenças,
acendendo o ódio nos corações e levando
a um distanciamento cada vez maior entre os povos.
Porém,
cabe lembrar que nunca é tarde para se iniciar o diálogo,
e que aquele que realmente deseja a paz e busca uma convivência
harmoniosa com o outro, agindo com seriedade, procurando as
igualdades a partir do entendimento das diferenças, com
certeza alcançará êxito na sua empreitada.
Estamos em um momento crucial, no qual se faz necessário
agir de fato, pois o tempo está se esgotando, e se continuarmos
de braços cruzados nem nós nem nossos filhos terão
um amanhã.
O
homem evoluiu no campo material e tecnológico, mas se
esqueceu da evolução espiritual, da evolução
do ser humano enquanto criatura de Deus. E, com este esquecimento,
levou a sociedade a tal nível de desequilíbrio,
que hoje mais vale o poder político e financeiro do que
a vida de um ser humano.
Deus
— no Alcorão Sagrado —
é
claro quando ordena o diálogo entre as criaturas : “...E
debata com eles, e dialogue com eles da melhor forma possível".
Na
própria História do Islã, temos exemplos
claros de que o diálogo pode impedir guerras e pode mudar
pontos de vista, em princípio, negativos. Na primeira
emigração para a Abissínia, aliás,
a primeira emigração no Islamismo, descrentes,
que não viam com bons olhos os ensinamentos do Profeta
Muhammad (SAWAAS), viajaram até a presença do
Rei daquele País e depuseram contra os muçulmanos
que para ali haviam se dirigido, com o objetivo de vê-los
expulsos das novas terras. O Rei, que era cristão, impressionou-se
com as infâmias lançadas sobre os muçulmanos.
Porém, como homem justo que era, chamou à sua
presença um representante muçulmano para que ele
pudesse expor os princípios da sua fé. Ao ouvir
o depoimento o Rei lançou questionamentos, tentou entender
a doutrina islâmica e, dialogando com uma fé diferente
da sua, que vinha de um mundo diferente daquele conhecido por
ele, descobriu que, apesar de parecerem diferentes, havia muitas
semelhanças entre os dois grupos. E não só
os recebeu como lhes ofereceu proteção enquanto
estivessem em seus domínios. Isto é tolerância!
E, anos depois, este mesmo Rei converteu-se ao Islã por
livre e espontânea vontade.
Temos
ainda o exemplo do Acordo de Hudaibiya, no qual o Profeta Muhammad
firmou com os coraixitas, seus perseguidores ferrenhos e implacáveis,
um acordo de paz que evitou o derramamento inútil de
sangue e perdas de vidas de ambos os lados. Este acordo apenas
deixou de existir quando os coraixitas deixaram de cumprir o
que havia sido acordado, pois o Profeta, seguindo as ordens
de Deus, sempre procurou o diálogo. Isto é: a
busca do entendimento e da paz! Infelizmente, nos dias atuais,
o que vemos são superpotências que se aproveitam
de sua posição para massacrar países em
desenvolvimento, usurpando os direitos de seus cidadãos,
cometendo injustiças de toda sorte e chegando ao cúmulo
de impedir auxílio humanitário que poderia salvar
a vida de velhos e crianças, levando-os ao caminho da
fome e da doença.
Sob
a falsa bandeira da justiça, inventam palavras de ordem
e, com a desculpa de erradicar os fanatismos, destroem vidas
preciosas, pois, toda criatura de Deus tem um valor inimaginável
e não somos nós os detentores do conhecimento
da alma e do pensamento que impulsiona uma criatura pela luta
daquilo que ela julga justo. Ao invés de buscar o entendimento,
de compreender e tentar se fazer compreender, de mostrar seu
ponto de vista e tentar alcançar um meio-termo que agrade
a ambos os lados, estas superpotências arvoram-se o poder
de representantes divinos na terra, esquecendo-se de que o Criador
é Único e Absoluto e que a Sua ordem sempre foi
a busca da paz e da justiça.
Esquecem-se
das inúmeras contribuições científicas,
políticas, sociais, artísticas, arquitetônicas,
linguísticas, legais e médicas destes povos. Contrafeitos,
fecham os olhos para a herança que receberam destas populações
no que tange à formação dos valores familiares,
éticos e culturais.
Deus
diz no Alcorão Sagrado:
Quem tira a vida de um
inocente, é como se tivesse assassinado toda
Humanidade; e quem salva uma vida inocente, é
como se tivesse salvado toda a
Humanidade.
|
As
palavras divinas comprovam que tragédias como o atentado
aos Estados Unidos são tão abomináveis
quanto a matança de inocentes no Afeganistão,
na Espanha, na Irlanda, em Angola, ou em qualquer parte do mundo,
pois são fruto da falta de diálogo e de respeito,
que culminam na insensatez e na injustiça.
Como
seres inteligentes, é necessário que abramos os
olhos, a mente e o coração ao nosso próximo,
fazendo o possível para conviver em harmonia, mesmo que
em muitos casos não concordemos inteiramente com as idéias
que nos cercam. É preciso pensar no futuro e trabalhar
com afinco para que ele seja mais frutífero não
apenas para nós, mas para as gerações vindouras,
deixando de lado a demagogia e ensinando aos nossos filhos,
parentes, vizinhos, através de nossos exemplos, o caminho
da harmonia, do respeito e da cordialidade.
Algumas
pessoas já começaram este trabalho de modificação
interior. Procuram, através da pesquisa séria,
compreender o outro lado, e, por vezes, este é um trabalho
difícil. Porém, Deus dotou o ser humano de uma
capacidade incomensurável de reflexão; mas nós,
por preguiça e amor ao ócio, embotamos esta capacidade
deixando-a de tal maneira escondida, que muitas vezes nem temos
consciência de que ela se encontra viva dentro de nós.
Um
embate se trava entre o Ocidente e o Oriente, como se fossem
dois mundos completamente separados, como se Deus tivesse criado
dois tipos de seres e os tivesse distribuído por estes
dois extremos. Cabe refletir na ignorância deste ponto
de vista: Deus não cria pessoas de primeira e de segunda
classe. Criou, isto sim, seres com distintas formas de interagir
com o mundo. E o que se deve fazer é buscar na diferença
existente o caminho para melhorar nossa própria existência.
Não se pode viver olhando o vizinho como um eterno inimigo,
mas, sim, tentar transformar uma relação, por
vezes imbuída de ódio, em uma relação
proveitosa para ambos. Ninguém pode ser o melhor em tudo
e do sucesso do outro advirá o nosso próprio sucesso.
Basta lançar um olhar pelas pesquisas médicas
e veremos o quanto as tentativas de um podem fazer por toda
uma população, e quanto pode ser útil para
o avanço clínico. Isto se aplica a todos os campos
da vida, pois a existência é como uma teia de aranha
onde os fios se cruzam de tal forma que, se não houver
cuidado, toda a rede se destrói.
Comecemos
esta modificação com a correção
dos nossos pequenos e tão arraigados maus hábitos
e com um trabalho de aperfeiçoamento de nossas qualidades,
fortalecendo-as, substituindo, por exemplo, o mau humor por
um sorriso. O Profeta Muhammad dizia: “O sorriso para
um irmão é também uma caridade”.
E quanto se pode construir com este simples gesto!
Ao
continuar com este trabalho de modificação interior,
a cada dia a Humanidade ganhará um pouco mais da sua
hegemonia e terminará seus dias com a total recuperação
daquelas que são suas características ímpares:
o dom de amar o próximo e de ser por ele amado, de construir,
com a força de seu trabalho e de sua inteligência,
um mundo melhor para aqueles que estão por nascer. E,
sem dúvida, a construção daquele que deve
ser o grande objetivo dos seres humanos: seguir as ordens de
Deus e caminhar de mãos dadas, TODOS JUNTOS, rumo ao
Paraíso.
|
GUIA-NOS
À SENDA RETA
|
*
* * *
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ANEXO
II
RUBAIYAT
de Fernando Pessoa
Revista Contemporânea
3 (1926)
O
fim do longo inútil dia ensombra.
A mesma sp’erança que não deu se escombra,
Prolixa... A vida é um mendigo bêbado
Que estende a mão à sua própria sombra.
Dormimos o Universo. A extensa massa
Da confusão das cousas nos enlaça,
Sonhos; e a ébria confluência humana
Vazia ecoa-se de raça em raça.
Ao goso segue a dor, e o goso a esta.
Ora o vinho bebemos porque é festa,
Ora o vinho bebemos porque há dor.
Mas de um e de outro vinho nada resta.
Connais-toi
toi même,
et tu connaîtras l'Univers et les dieux.
Un
mystique authentique ne cherche pas une définition toute
faite de la Vérité, en supposant d'ailleurs qu'il
en existe une, mais il éprouve le besoin et le désir
de mieux comprendre le sens de l'existence. Il ne veut pas non
plus qu'on lui dicte ce qui est bien ou mal, mais qu'on le guide
dans l'éveil de sa conscience. En cela,
il veut vivre de façon libre et éclairée. |