PENSE BEM

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Lampejo

 

 

 

Tanto quanto o festejado paraíso,

o receado inferno é um desperdício

(ambos misto de utopia com suplício).1

Assim... Navegar é preciso!2

 

 

Nossa vida continuará abnormal

enquanto partejarmos assombrações.

Ao vencermos os joelhos e os dragões

será inevitável cairmos na real.

 

 

Precisamos dar mesmo um basta

em tudo o que é halloween.

Bolas! Por que out ao invés de in?

 

 

Eu não sou um iconoclasta;

apenas procuro argüir filosoficamente,

e tento usar o melhor da minha mente.3

 

 

 

 

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Notas:

1. Admitindo que o paraíso exista (que não admito), aquilo lá deve ser uma refrescante e renitente chatura paradisíaca. Ora, ficar para sempre    em um lugar que não sai da mesma e na mesma fica deve ser mesmo um boiante horror. Tenha a santa paciência! O inferno deve ser bem mais divertido. Lá, entre outros, talvez estejam May Banks-Stacey, Helena Blavatsky, Annie Besant, Mâ Ananda Mohî, Esclarmonde de Foix, Jeanne Guesdon, Nefertiti, o Senhor Buddha, o meu Irmão Akhenaton, Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, Francis Bacon, Paramahansa Yogananda, Avicena, Averróis, Michel Maier, Lord Raymund VI, Fulcanelli, Papus, François Jollivet-Castelot, Raymond Bernard, Sâr Alden, Sâr Validivar, Max Heindel, e, quem sabe, Fernando Pessoa – que bebeu todas, mas que não apodreceu; isto, se não foram todos para o limbo! Quando eu bater a alcatra na terra ingrata, vou procurar esse pessoal todo para bater um papinho.

2. Analogamente a Cneu Pompeu Magno, general e político romano, conhecido também em português como Pompeu, o Grande (Picenum, 106 a.C. – Egito, 48 a.C.) que disse que navegar é preciso; viver não é preciso, Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 1888 – Lisboa, 1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, escreveu no poema Navegar é Preciso que viver não é necessário; o que é necessário é criar. Outra interpretação comum deste poema diz respeito ao fato de que a navegação foi resultado de uma atitude racionalista do mundo ocidental (a navegação exigiria precisão), enquanto a vida poderia dispensar tal precisão. Mas, misticamente, isto tem outro significado. Como Fernando Pessoa era um Místico, o que provavelmente ele quis dizer com viver não é necessário; o que é necessário é criar é que precisamos nos livrar de nossos grilhões escravizantes. Em outras palavras: Viver ao invés de simplesmente viver, e Morrer para não morrer! Há algum tempo escrevi o texto O Lado Oculto de Fernando Pessoa. Lá, o fundo musical também é Foi Deus, só que interpretado pela fadista, cantora e atriz portuguesa, considerada o exemplo máximo do fado, Amália da Piedade Rebordão Rodrigues (Lisboa, 1920 – Lisboa, 1999). Se você tiver interesse em ler as maluquices (mas nem tanto) que meti neste texto, o endereço é:

http://paxprofundis.org/livros/pessoa/ppppppp.htm

 

Navegar é Preciso
(Fernando Pessoa)

 

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
Navegar é preciso; viver não é preciso.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser
o meu corpo e a (minha alma)
a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a Humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da Humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

 

 

 


Nota editada das fontes:

http://pt.wikisource.org/wiki/Navegar_%C3%A9_Preciso

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_pessoa

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pompeio

 

3. Ou, pelo menos, penso que uso.

 

Fundo musical:

Foi Deus (Alberto Janes)

Fonte:

http://tdvarios.blogs.sapo.pt/973.html