O PECADO ORIGINAL


(
Carpe Diem)

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

 

O pecado original1

foi escolher o mal

e abjurar o bem.2

 

 

Do sono-sem-sonhos

ao sono-com-sonhos...

 

 

O mal é um estágio

– uma espécie de deságio –

que será ultrapassado.

 

 

Tudo é bom; nada é mau.

Um miau... Um au-au...

 

 

 

 

 

 

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Notas:

1. Cada vez que resvalamos para a esquerda, para baixo, para o mal, ao invés de escolhermos o bem, por imitação (geralmente entorpecida) estamos insistindo nas preferências que nas primeiras vezes fizemos ao nos tornarmos conscientes de que existíamos. Ou, em outras palavras: começamos a construir nosso inferno pessoal ao nos percebermos como uma res cogitans (uma substância que pensa). Por este motivo, tenho insistido muito no ponto fundamental de que a Primeira Katégoría é a Liberdade. Por isto, também, fica a dupla pergunta: O que é o mal? O que é o bem? Ainda que não possamos abolir o dubito, ergo cogito, ergo sum (duvido, logo penso, logo existo), quando nos tornarmos livres, livres de verdade, integralmente livres, não mais, por ignorância [des]consentida, escolheremos o mal e suas parecenças. Não mais gastaremos ou desperdiçaremos nossa existência com coisas inúteis ou como propósito para malévolas intenções, cobiças, paixões e prazeres imediatos. Em duas palavras: seremos livres. Faremos o dia; faremos a hora; aproveitaremos concertadamente e categoricamente o momento. Ou em outras duas palavras: Carpe Diem. Mas não no sentido de apelo à fruição imediata dos prazeres, e, sim, no sentido de tornar a vida um evento extraordinário, como recomendou o Professor John Keating (Robin Williams) no filme Dead Poets Society (A Sociedade dos Poetas Mortos). Enfim, estaremos livres (ou estaremos em franco processo e progreso de ficarmos livres) do nosso ignorante pecado original, porque a coisa será mais ou menos como escreveu um poeta chinês da dinastia Tang: Colha a flor quando florescer; não espere até não haver mais flores, só galhos a serem quebrados. Mas, que flor? A nossa Rosa que, como um borrão vermelho, meio disforme, ainda está pregada na nossa Cruz, mas que quer enflorar e Peregrinar. Mas ela não enflorescerá sozinha, espontaneamente...

 

 

2. Na realidade, não houve propriamente uma abjuração do bem; quem não conhece ou esqueceu o que é o bem não pode optar por ele. Quem nunca provou bombom de licor da Kopenhagen acha bombom Sonho de Valsa simplesmente o máximo! E quando, por outro lado, edificarmos nosso Sanctum Cordis, não mais precisaremos nos ajoelhar em templos terrenos consagrados. Façamos já o dia; façamos já a hora; aproveitemos concertadamente e categoricamente o momento. Oh!, meu Deus! Oh!, meu Deus! Quando todos nós seremos livres? Porque eu sei: enquanto um de nós ainda não estiver liberto, todos nós seremos cativos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fundo musical:

Can Can

Fonte:

http://www.hotfiles.co.za/midi/misc/