Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

Judeus Ortodoxos Protestam

Durante Parada Gay em Israel

Fonte:

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo
/0,,MUL49219-5602,00.html

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não me incomodam absolutamente nada

os brinquinhos, as colores, os bordados...

Roupas fashions, cabelos gays e colorados,

os gays têm direito de fazer a sua parada.

 

 

Muito mais do que pré-qualificação, é medo

esse babado besta de se amotinar contra gay.

Os preconceituosos não dizem, mas eu sei:

 

 

É fácil gostar dos 'presumidamente' iguais;

difícil é amar os 'supostamente' desiguais.

Somos todos um, não strangers in the night.

 

 

Mas, ainda que sejamos um, somos desiguais;

nossas origens não são as mesmas e nem iguais.

  da pudicícia1 ninguém tem copyright!

 

 

 

 

 

 

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Notinha meio longa:

1. O que é impudicícia? O que é pudicícia? Quem é pudicíssimo? Quem foi ou é inteiramente casto, pudico, honesto, honrado, virtuoso e recatado? Eu ainda estou bem longe de subscrever qualquer um desses adjetivos–sinônimos. Fiz coisas do arco-da-velha e namorei mais meninas do que consigo contar quantas foram. E daí? Fiz outras coisas inconfessáveis das quais não me orgulho e, realmente, namorei muito; hoje não faço e estou muito bem-comportado. O Frank Sinatra (1915-1998) namorou muito mais do que eu e fez coisas que eu não fiz! E daí? Uns fazem umas coisas; outros fazem outras. A vantagem – se vantagem há – é que pessoas como eu, Sinatra e Sanctus Augustinus aprendem com seus erros. Como Sanctus Aurelius Augustinus (354-430), eu pensava: Dai-me a castidade e a continência; mas não ma deis já. Como o Santo católico, eu, que já havia sido admitido na AMORC, mas que longe estava de compreender o Rosacrucianismo e muito menos de poder dizer que era Rosa+Cruz, tinha um certo medo de me santificar antes da hora e de me curar da deliciosa concupiscência sem antes de tê-la aproveitado em toda a sua ignomínia.

O fato incontestado é que, gostem os pudicos ou não gostem os pudicos, os velhos moralistas–de–salão, patologicamente ou desfaçadamente, em geral, costumam, fingindo santidade, ser os reis da impudicícia. Impudicícia na moita e pelas caladas, claro! Santidade de araque em público e para os tolos circunjacentes, claro! E como vêem seus reflexos nos hipoteticamente impudicos, ficam desesperados e, se puderem, os destroem. Reflexo é mesmo uma verdadeira bosta. Quem gosta? Ver em si a suposta bosta que supostamente está refletida no outro é uma     Friedrich Nietzsche (1844-1900) estava absolutamente certo: Nunca odiamos aos que desprezamos. Odiamos aos que nos parecem iguais ou superiores a nós. E, entre outras possibilidades, odiamos os que nos metem medo, odiamos os que são mais livres do que nós e odiamos principalmente os que, de alguma forma, podem nos ameaçar e nos comprometer, acrescento eu, sem esgotar a lista dos ódios humanos. E, em um certo sentido, também cabe lembrar o historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento Niccolò di Bernardo Machiavelli (1469-1527): Os fins justificam os meios. Não para mim; mas para os impudicos, que, se puderem, esfolam para eliminar seus supositícios reflexos.

Impudico, desonrado, desavergonhado, indigno, atrevido e insolente é o pastor que ridicularizou e chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida, ao vivo e a cores, na televisão, no exato dia da Padroeira do Brasil. Atrevido, insolente, malcriado e, talvez, cleptomaníaco, foi o rabino descuidista que, recentemente, descuidou four beautiful ties (não confundir com tie break ou com black-tie) na Gucci, na Giorgio's e na Louis Vuitton, em Palm Beach, nos Estados Unidos. Impudicos e criminosos são aqueles que matam em nome de Deus. Impudicos e criminosos são os que corrompem e os que se deixam corromper. Impudicidade asquerosa, repugnante, sórdida, ignóbil, nauseabunda, nojenta, revoltante e repulsiva é a do padre pedófilo que tem o 'patopedof–ilógico' descaramento de consagrar e de transubstanciar a hóstia e o vinho no santo corpo e no santo sangue com as mesmas mãos que... Não sei como as mãos desses camaradas não queimam durante a consagração! Aliás, sei: suas mãos pedófilas não pegam fogo porque nunca consagraram nada e nunca transubstanciaram nada, simplesmente porque jamais se consagraram efetivamente e porque jamais se transubstanciaram interiormente a si próprios. Ainda bem que são minoria. Eu, quando cometo um deslize durante o dia, de noite, tenho enorme dificuldade em dar boa-noite aos meus Irmãos. Às vezes, o que é raro, a vergonha é tanta, que vou dormir sem Deles me despedir. Basta, por exemplo, dizer algo impensado ou fazer uma crítica inútil. Hoje, esses são os meus maiores pecados. Se eu fosse católico, isso bastaria para me impedir de receber a Santa Comunhão, quanto mais de pôr as mãos em uma hóstia consagrada. Paz e compreensão a esses padres desviados que não sabem o que fazem! Paz a todos os impudicos que não sabem o que fazem!

Contudo, doença é doença, sacanagem é sacanagem; ainda que sacanagem seja mesmo uma forma sacana de doença. Que o sujeito seja patologicamente um impudico cleptomaníaco ou um pedófilo impudico, eu misticamente compreendo, fico profundamente penalizado e não entro em uma de açodadadamente o julgar ou de maldosamente o crucifixar; mas tenho, com certeza, total dificuldade em compreender e de levar a sério pregações e discursos teológico-moralistas nos intervalos dos pontapés, das pedofilias e das cleptomanias, entre outras impudicas, estranhas e esquisitas deformações. Tudo isso (e o resto que não estou comentando nesta oportunidade, mas que já discuti em outros trabalhos) é uma mistura fedorenta de impudica falsidade com dissimulação impudica, e é, positivamente, uma impudica pilulona difícil de engolir. Esses desvios, como todos os outros, precisam de um tratamento especializado, que não pode ser encontrado nem na Bíblia, nem na Torah, nem nas igrejas, nem nas sinagogas. O difícil é a criatura compreender e aceitar que é ou que está enferma – primeiro passo para humildemente procurar um médico. Agora, quem espera por um milagre para se curar ou se automedica poderá acabar muito mal parado.

Voltando ao tema do soneto, mas ainda martelando no mesmo tema, sinceramente, não acredito que os judeus ortodoxos de Israel, de kipa e tudo, andem protestando contra os gays por uma questão meramente moral ou tão-só por uma questão de moral religiosa. O impertinente motorzinho é outro: há algo mais entranhado e mais recôndito em suas personalidades que nem eles sabem lá bem o que é. Sentem-se angustiados, mas não identificam o porquê da angústia. Entretanto, isto não é uma característica particular dos judeus ortodoxos de Israel; vale para todos os seres-no-mundo preconceituosos – que inconscientes de suas feridas (que normalmente só apresentam lesões internas, mas que putrefazem externamente) – que têm suas almas rebolando preconceituosamente em meio a um preconceituosíssimo atoledo.

É tudo muito simples: o autêntico religioso não é um moralista de ocasião e jamais qualifica de antemão, separa de antemão, julga de antemão ou condena de antemão. Seria muito bom e muito útil, por exemplo, que todo mundo consultasse o Evangelho de São Mateus, VII, 1 e 2.

Um causo verídico: quando, de uma feita, uma dama puta, que dizia venerar Jesus, procurou Dom Hélder Pessoa Câmara (Fortaleza, 7 de fevereiro de 1909 – Recife, 27 de agosto de 1999) no Palácio Episcopal, em Recife, para saber se era ou se não era pecado oferecer de grátis sua pererequinha aos detentos do presídio local, por caridade e especificamente e apenas na Sexta-feira da Paixão, Dom Hélder, com a bondade característica que o mundializou e o eternizou, respondeu algo mais ou menos assim: — Minha filha, não é pecado! Jesus lhe ama como você é. Vá em paz. Dom Hélder foi mesmo um Santo Rebelde! É claro que, neste caso, mais do que santidade na resposta dada por Dom Hélder, estava embutida muita sabedoria, muita psicologia e um tanto de malandragem (no bom sentido). O Arcebispo Emérito de Olinda e Recife sabia muito bem que não adiantaria nada, naquelas circunstâncias, passar uma severa reprimenda na puta ou fazer qualquer tipo de discurso moral ou religioso. A puta não iria mesmo mudar de profissão. Uma puta pode chegar a ganhar mais em um único dia fazendo vários michês ou um michê especial, do que trabalhando um mês inteiro como doméstica, diarista, garçonete ou o que valha. Só no inverno é que a coisa aperta um pouco, mas se a menina for uma especialista, nem tanto. E uma senhora puta, meio que já entrada nos anos, como parece ter sido o caso, não mudaria de atividade de uma hora para a outra, mesmo que Dom Hélder se opusesse ao seu estilo profissional de ganhar a vida, que, certamente, nada tem de fácil e que já vinha de muito longe. Essa novela terminou bem e com um final feliz: a puta partiu aliviada com a resposta e Dom Hélder ficou em paz com sua consciência. Eu, que não sou padre e muito menos arcebispo, me regozijei quando ouvi esse causo em uma entrevista no programa do Jô Soares, entrevista que foi dada por um simpático padre que fora amigo pessoal e assessor de Dom Hélder por nove anos. Eu, que não teria feito diferente, ri gostosamente e aplaudi em silêncio. Santo, Rebelde e Sábio era esse muito querido Dom Hélder!

Fico muito à vontade para comentar todos esses temas porque, além de ter namorado mais meninas do que hoje consigo lembrar ou contar, em um passado muito distante também fiz as minhas estrepolias e cometi alguns furtinhos bestas e sacaneantes. Mas, se eu estiver precisando, e, por exemplo, estiver dando sopa no IDHGE, caneta BIC® e clipe eu furto até hoje. E não tenho a menor intenção de deixar de furtá-los. O que não sou e nunca fui é hipócrita. Quando – que está às sete léguas de ser volta e meia – me pego resvalando para a hipocrisia, dou logo meia-volta e acerto meu passo. Afinal, quem é perfeito?

Espero, sinceramente, que esse episódio do protesto dos judeus ortodoxos contra a     em Israel e os comentários laterais que lucubrei sirvam para reflexão dos religiosos e dos não-religiosos. Mas, primeiro e principalmente, serviu para mim, que examinei dialeticamente essa matéria pensando aprofundadamente em meus equívocos de antanho e revisitei o meu passado bem lá longe, que foi meio enfermiço e meio inapropriado (do qual não lamento porque acabei me educando) porque foi o que poderia não ter sido, mas, tendo sido como foi, fez brotar em mim a mais profunda tolerância e a mais livre fraternidade. Estou convicto de que isso que aconteceu comigo só não acontece com quem não quer. Basta querer.

Como conclusão, arremato: o fato de sermos cosmicamente desiguais, porque, conscientes ou não desse fato, temos origens distintas e estamos em planos de compreensão diferentes, não nos dá o direito de – hipotética, desfraternizada, desproporcionada e preconceituosamente – favorecer um em detrimento de outro ou de prejudicar um em benefício de outro. Afinal, quem é perfeito? Eu? Você? O pastor que deu uma botinada na Santa? O rabino que descuidou umas gravatinhas? Aquele que mata em nome de Deus?

 

 

 

 

Rio de Janeiro, 10 de junho de 2007.

 

 

 

 

Fundo musical:

Strangers in the Night (Charles Singleton, Eddie Snyder & Bert Kaempfert)

Fonte:

http://homepage.ilr.it/luigiv/midiarea/P2.htm

 

Páginas da Internet consultadas:

http://users.telenet.be/
petra.van.der.haeghen1/interest.htm

http://www1.folha.uol.com.br/
folha/cotidiano/ult95u133501.shtml

http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Sobel