Não
desespero: sou um homem sincero.
O
que vale mais? Meditar em uma taverna ou prosternado
na mesquita implorar o Céu?
Se
queres paz e serenidade, lembra-te da dor de tantos outros, e te julgarás
feliz.
Que
o teu saber não humilhe o teu próximo.
Busca
a felicidade agora; não sabes de amanhã.
Antes
de apertares a mão que te estendem, considera se um dia ela não
se erguerá contra ti.
Que
pobre o coração que não sabe amar e não conhece
o delírio da paixão. Se não amas, que Sol pode te aquecer
e que lua pode te consolar?
Quero
o Vinho que me dá calor.
Amanhã...
que sabes do amanhã?
Além
da Terra, pelo Infinito, procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma Voz me disse: Céu e Inferno estão em ti.
Tenho
igual desprezo por libertinos e por devotos.
Como
o rio ou como o vento, vão passando os dias. Há dois dias
que me são indiferentes:
o que foi ontem e o que virá amanhã.
Vem!
Vamos beber desta taça e
esquecer a nossa incurável ignorância.
Cristãos,
judeus, muçulmanos rezam com
medo do inferno; mas, se realmente soubessem os
segredos de Deus, não plantariam as
mesquinhas sementes do medo e da súplica.
O vasto
mundo: um grão de areia no espaço.
Eu
estava com sono e a Sabedoria me disse: a
Rosa da Felicidade não se abre para quem dorme.
As
nossas moradas são provisórias...
Os
sábios mais ilustres caminharam nas trevas da ignorância e
eram os luminares do seu tempo. O que fizeram? Balbuciaram algumas frases
confusas e depois adormeceram, cansados.
O mundo
gira distraído dos cálculos dos sábios. Renuncia
à vaidade de contar os astros...
Sono
sobre a Terra; sono debaixo da Terra. Homens chegam; outros partem.
Quando
morrermos, outra Rosa desabrochará.
Não
esperes nada...
Baixinho,
a argila dizia ao oleiro que a torneava: já fui como tu, não
te esqueças; não
me maltrates.
O
oleiro ia modelando as alças e os contornos de
uma ânfora. O barro que ele conformava era
feito de crânios de sultões e
de mãos de mendigos.
O
bem e o mal se entrelaçam no mundo. Não agradeças ao
Céu pela sorte que te coube, nem o acuses. Ele é indiferente!
Se
em teu Coração cultivaste a Rosa do Amor, quer tenhas procurado
ouvir a voz de Deus, quer tenhas
esgotado a taça do prazer, a tua vida não foi em vão.
Quem
sabe o que é Céu e o que é Inferno?
A
aragem mais leve é fatal à Rosa já desabrochada.
O
meu nascimento não aumentou o Universo nem
a minha morte lhe amputará o esplendor.
Não
te importes com o passado. Não sondes o futuro. Não
percas este instante. Eis a paz.
Presta
atenção à vertigem que
faz cair perto de ti os teus companheiros.
Recuso
o perdão que não pedi.
Falam
de um Criador... Por que
Ele deu forma às criaturas para destruí-las?
Fui
buscar os segredos do Universo e voltei invejando
os cegos que encontrei pelo caminho.
Sem
inquietação, ouve o
vasto Silêncio do Universo.
Sabes
se poderás terminar a frase que vais dizer?
Convicção
e dúvida; erro e verdade. Palavras
como bolhas de ar... Como a existência dos homens.
Não
creias que Deus vá fazer as contas dos
teus vícios e das tuas virtudes.
O
amor que não consome não é Amor.
O
Vinho... inunda-te de LLuz e
te liberta da prisão!
Eu
estava em uma olaria e mil ânforas murmuravam. Então,
uma delas comentou: — Silêncio, deixem que
esse homem se lembre dos oleiros e
dos compradores de ânforas que já fomos.
Não
te apegues; não questiones livros nem pessoas...
A
aurora encheu de Rosas a Taça do Céu e
o último rouxinol canta o seu meigo canto. E ainda há quem
pense em honras e glórias...
O
Vinho é da cor das Rosas; talvez
não seja o Sangue das Uvas, mas das Rosas. E o azul desta taça
talvez seja o céu cristalizado. E não seria a Noite a pálpebra
do Dia?
Não
tragam as lâmpadas; os
mortos não precisam delas.
Ouço
dizer que os amantes do vinho serão castigados no inferno. Se os
que amam o vinho e o amor vão para o inferno o paraíso deve
estar vazio.
Eu
enviei minha alma para o espaço sem-fim para um traço aprender
nos destinos do além. Minha alma, devagar, foi retornando a mim e
me disse: eu sou o céu e o inferno também.
Despe-te
dessas roupas que te envaidecem e que não trazias ao nascer.
É
preciso Viver; os mortos não se lembram!
Hoje
caiu a primeira pétala!
Páginas
da Internet consultadas:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Omar_khayyam
http://paxprofundis.org/
livros/omarkhayyam/omarkhayyam.html
http://www.alfredo-braga.pro.br/
poesia/rubaiyat.html
Fundo
musical:
Lawrence
Of Arabia (Theme Song)
Compositor: Maurice Jarre
Fonte:
http://www.gameroom.com/
sxybr/midis/TVTHEMESNMOVIES/