Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

 

 

 

 

Ultra-ortodoxos
Vão às Ruas de Jerusalém
Contra Parada Gay

Fonte:

http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL52629-5602,00.html

 

 

Manifestantes consideram o desfile do Orgulho Gay uma abominação. Sob o lema Deus Odeia A Devassidão, eles realizarão marcha no mesmo dia do evento.

 

 

Centenas de jovens religiosos se manifestaram violentamente nesta quinta-feira (14/6/2007) à noite, no bairro ultra-ortodoxo de Mea Shearim, em Jerusalém, contra a Parada Gay programada para 21 de junho na Cidade Santa. Os manifestantes – que consideram o desfile do Orgulho Gay uma abominação bloquearam ruas, queimaram pneus e latões de lixo, e jogaram pedras na polícia. Mea Shearim já foi palco, na véspera, de uma agitação similar.

A polícia israelense autorizou um desfile homossexual, na próxima quinta-feira (21/6/2007), em Jerusalém, assim como uma contramanifestação dos ultra-ortodoxos, no mesmo dia, disse nesta sexta-feira (15) o porta-voz da polícia Micky Rosenfeld.

A polícia decidiu permitir uma marcha de homossexuais no centro de Jerusalém, que terminará com uma festa nos jardins públicos — completou. O porta-voz também anunciou que a polícia autorizou uma manifestação dos ultra-ortodoxos na entrada de Jerusalém contra a parada gay, sob o lema Deus Odeia A Devassidão. Rosenfeld disse que mais de 7.000 policiais vão garantir a segurança dos participantes e evitar as desordens.

A Parada Gay de 2006, em Jerusalém, foi anulada após protestos dos judeus ultra-ortodoxos, que a consideraram uma afronta ao caráter sagrado da Cidade, mas os homossexuais fizeram um grande encontro no estádio local. Durante o evento de 2005, um judeu ultra-ortodoxo feriu três participantes com uma faca, e foi condenado a 12 anos de prisão.

 

 

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Breve Reflexão

 

 

Foi exatamente o abominável preconceito que produziu o execrável Holocausto. Eu, que não sou judeu, não me esqueci. Será que os judeus ultra-ortodoxos esqueceram? Auschwitz I foi esquecido? O Campo de Auschwitz I foi utilizado para internar membros da resistência e intelectuais poloneses. Mais adiante, ali também foram feitos prisioneiros de guerra soldados da ex-União Soviética, prisioneiros comuns alemães, elementos considerados anti-sociais e também os homossexuais. A entrada de Auschwitz I tinha (e, como lembrança, tem ainda hoje) as cínicas palavras: Arbeit Macht Frei (O Trabalho Liberta). Auschwitz II (Birkenau) foi esquecido? Em Auschwitz II foram encarcerados milhares de milhares de judeus; ali também foram executados mais de um milhão de judeus, de eslavos, de ciganos, de deficientes físicos e, como não poderia faltar nessa lista macabra, homossexuais. Auschwitz III (Monowitz) foi esquecido? Este Campo estava associado com a empresa Interessengemeinschaft Farbenindustrie AG (IG Farben) e produzia combustíveis líquidos e borracha sintética para dar sustentação ao esforço de guerra nazista. A intervalos regulares, eram feitas revisões sanitárias, por parte do pessoal médico de Auschwitz II, a fim de enviar doentes e débeis às câmaras de gás de Birkenau. E Belzec? E Bergen-Belsen? E Buchenwald? E Chelmno? E Dachau? E Flossenburg? E Gross-Rosen? E Maidanek? E Mauthausen? E Natzweiler-Struthof? E Neuengamme? E Nordhausen (Dora-Mittelbau)? E Plaszow? E Ravensbrück? E Sachsenhausen? E Sobibor? E Stutthof? E Terezin? E Treblinka? E Westerbork? Tudo isso foi esquecido? Por que tanto preconceito? Repito: eu, que não sou judeu, não me esqueci. Já estou pra lá de cheio de tudo isso, mas, de Coração, digo: Shalom.

 

 

Senhores ultra-ortodoxos, prestem muita atenção! O preconceito começa assim e é assim:

 

 

Agora, século XXI, esquecimento e manifestações violentas contra os gays e palavras de ordem nazi-intolerantes (que certamente serão ditas) na entrada de Jerusalém, em 21 de junho de 2007; depois, nem eles nem eu sabemos aonde toda essa muvuca fedorentérrima poderá chegar. Eu só fico imaginando o seguinte filme de horror: judeus adorando e dançando porque os militantes do Fatah e do Hamas estão se matando uns aos outros na Faixa de Gaza, e palestinos festejando e berrando por verem judeus se esculhambando e se preconceituando entre si. Pratos cheios, em ambos os lados, para esquizofrenias de qualquer matiz! O ódio, fundado ou infundado, do povo palestino contra o povo judeu é tanto, que melhor seria – para economizar balas e foguetes que os judeus também começassem já a se matar uns aos outros. Shalom. Salam. Então, senhores superortodoxos, começar pelos gays é uma ótima opção! Shalom.

Mas será que o Deus que se revelou a Moisés no Monte Horeb (Êxodo, III, 1) e que fez a aliança com os Patriarcas no Antigo Testamento escolhendo, segundo o que consta na Torah, seus descendentes como o povo eleito estará de acordo com a absurdeza desses preconceitos ultra-radicais veiculados pela mídia? Se eu fosse Deus, não estaria. Na mesma Torah, a Profecia de Zacarias começa com a veemente admoestação de para que o povo judeu se arrependa e volte sua face novamente para seu Deus. Não sei se, nesta situação, será propriamente o caso de os judeus hiperortodoxos se arrependerem, pois, só nos arrependemos quando nos conscientizamos de que nos equivocamos. Logo – s.m.j. a questão não é de arrependimento; é de compreensão. Somos todos um, gays e não-gays. Isso dói? Dói por quê? Em mim, nem comicha. Shalom.

Mutatis mutandis, mas circunscrito ao mesmo tema, primeiro, classificação indicativa, depois, censura obliterativa, e, dependendo da saudade e se houver margem, expatriação aflitiva. Não se educa com proibições censuradoras ou com censuras proibidoras. Simples: educa-se educando.

Seja como for, cabe lembrar duas sentenças de Aleister Crowley (1875-1947). Mas é preciso fazer os ajustes místicos à essas máximas, para não se incorrer no erro falaz de se acabar resvalando par o desmando irresponsável.

 

Do what thou wilt shall be the whole of the Law. [Faze o que tu queres e será toda a Lei.]. A Lei é a apoteose da liberdade; mas é também a mais estrita das injunções. Não há lei fora: faze o que tu queres. Tu não tens direito senão de fazer a tua vontade. Faze aquilo e nenhum outro te dirá não.

Love is the Law, Love under will. [Amor é a Lei, Amor sob vontade.].

 

 

 

Por quê?

 

 

 

 

 

 

Por que[m] o Orgulho Gay

é considerado abominação?

Por que[m] a Parada Gay

é considerada devassidão?

 

 

Se o Senhor é o meu pastor,

Ele me aceita como eu sou.

Sim, o Senhor é um bom pastor:

Ele me ama como eu ainda sou.1

 

 

 

 

 

 

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Nota:

1. Na verdade, não somos; estamos. Por isso, simbolicamente, diz o soneto: Ele me ama como eu ainda sou. Na Espiral da Vida, em princípio, a cada instante, mudamos de um estar ilusório para outro estar um pouco menos ilusório, mas, ainda assim, ilusório. [Outro dia, fiquei estarrecido com a sincera declaração da jornalista andaluza María del Pilar del Río Sánchez, esposa querida de José de Sousa Saramago – escritor português galardoado em 1998 com o Nobel da Literatura – quando afirmou em uma entrevista em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, que Saramago, hoje, é exatamente o mesmo como era no dia em que se casaram, há coisa de mais ou menos vinte anos. Se isso for verdade, o que não creio, é um baita desastre.] O fato é que, apenas na Grande Fusão Final, talvez, possamos, então, dizer que finalmente somos. Mas...

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.beth-shalom.com.br/campos/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Campo_de_
concentra%C3%A7%C3%A3o_de_Auschwitz

http://a-alma-aqui-e-alem.blogspot.com
/2005_01_01_archive.html

http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/
0,,MUL49953-5605,00.html

 

Música de fundo:

Eu Sei Que Vou Te Amar (Vinícius de Morais & Tom Jobim)
Interpretação: Maria Creuza e Vinícius de Morais
Soneto da Fidelidade: Declamação de Vinícius de Morais