Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

A TÍTULO DE INTRODUÇÃO

 

 

 

Não importa se concordamos ou se discordamos das reflexões alheias. Importa, sim, que, livre e dialeticamente, meditemos sobre elas. No platonismo, a Dialética era entendida como o processo de diálogo e de debate entre interlocutores comprometidos profundamente com a busca da (inatingível) Verdade, através do qual a personalidade-alma poderia se elevar, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou idéias. Já no hegelianismo, a Dialética, é a lei que caracteriza a realidade como um movimento incessante e contraditório, condensável em três momentos sucessivos (tese, antítese e síntese) que se manifestam simultaneamente em todos os pensamentos humanos e em todos os fenômenos do mundo material. Ora, nada está pronto e acabado para sempre; logo, aprender ad æternum é o que resta, pois, a cada síntese reconhecida, esta mesma síntese acabará por se tornar a tese de um novo triângulo dialético. Logo, os sucessivos triângulos não poderão ser iguais! Ou poderão? Vamos, então, refletir um pouco juntos, para que, precipitadamente, não consideremos igual o que é diferente, definitivo o que é transitório e imudável o que é mudável.

 

Sob o ângulo místico-religioso desta questão, podem ser citados, por exemplo, os monges beneditinos, para os quais a igualdade dos seres não só é uma realidade concreta, no Plano Cósmico, como os torna unos. Tanto é assim, que o objetivo dos congregados no cenóbio (convento) é o de irem todos para o Céu, como uma única alma, santificada no Cristo Jesus, para quem todos são iguais perante o Pai (Deus).

 

Em outra direção, a busca da igualdade na face da Terra foi o cerne de diversos movimentos de massa, como, por exemplo, a Revolução Francesa [influenciada pelos ideais do Iluminismo (movimento intelectual do século XVIII) e da Independência Americana (1776), foi um conjunto de acontecimentos que, entre 1789 e 1799, alterou o quadro político e social da França, tendo, como base de sustentação e de aglutinação, o questionamento do Antigo Regime (Ancien Régime) e a autoridade do clero e da nobreza], que aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria do girondino Jean-Nicolas Pache (1746 – 1823).

 

A questão e a busca da igualdade moveu, ainda, diversos transformadores da sociedade humana, como, por exemplo, Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), Karl Heinrich Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895). Marx, em O Capital, culminou seu pensamento-meta com o famoso lema A cada um segundo as suas necessidades, kernel da utópica sociedade comunista, que não chegou a ser atingido pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, URSS – fundada em 30 de dezembro de 1922 pela reunião dos países que formavam o antigo Império Russo, na Europa e na Ásia, e dissolvida oficialmente em 26 de dezembro de 1991 – e muito menos pela China contemporânea, já penetrada pelos teoremas (e sofismas) da Sociedade de Consumo. O que dizer da ditadura socialista – rigidamente centralizada – da República Popular Democrática da Coréia? O que dizer da minha querida Cuba, república socialista organizada e sustentada segundo o modelo marxista-leninista, ainda que Fidel Alejandro Castro Ruz (Birán, Holguín, 13 de agosto de 1926) esteja, por problemas de saúde, afastado do poder desde 1º de agosto de 2006?

 

Em vertente diametralmente oposta, a grande e contraditória contestação à busca da igualdade está no preceito máximo do Capitalismo: A cada um segundo as suas posses (e à capacidade de ser mais esperto do que os outros). Voltando rapidamente aos beneditinos, São Bento de Núrsia (480 – 547) – monge fundador da Ordem dos Beneditinos (Ordo Sancti Benedicti, ordem religiosa monacal católica), até hoje uma das maiores ordens monásticas do mundo, foi também o criador da Regra de São Bento – Regula Beneticti (aproveitada por Marx para desenhar a maquete do seu utópico paraíso comunista), provavelmente a mais importante e a mais utilizada Regula de vida monástica existente, inspiração de muitas outras comunidades religiosas – tentou, com a sua Regra, arrancar pela raiz o vício da propriedade, que, hoje, no Capitalismo, legitima os bens privados e a irrestrita liberdade do comércio e da indústria com o principal objetivo de adquirir lucro, coisa absurdo-esquizofrênica, pois, para alguém lucrar, beneficiar-se ou ganhar, alguém terá que perder, deixar de ter ou ser aviltado. Embora não pudessem ter sido transpostos com êxito para o século, os preceitos da Regra de São Bento funcionam muito bem no âmbito monástico. Na Ordo Sancti Benedicti (OSB), o que é de um é de todos.

 

Olhando, enfim, pelo ângulo bélico, verifica-se que a contestação e não-aceitação da igualdade está na base de todas as guerras, onde uma determinada etnia é vista como superior a outra, e, também, onde o Deus de uma etnia é considerado como o único verdadeiro, devendo este Deus ser imposto ao outro lado, fato que vem caracterizando a ação evangelizadora, tanto dos católicos como dos muçulmanos.

 

Sobre a igualdade, foi dito:

 

Platão (428-348? a. C): ... a igualdade natural de origem nos obriga à igualdade política, segundo a lei, e a não reconhecer outra superioridade além da conferida pela fama de virtude e de sabedoria.

 

Charles-Louis de Secondat, senhor de La Brède e Barão de Montesquieu (1689-1755): O espírito de igualdade extrema leva ao despotismo de um só.

 

Luc de Clapiers, Marquês de Vauvenargues (1715-1747): A igualdade é o ideal do espírito do homem, e a desigualdade o pendor do seu coração.

 

Homero (séc. IX a. C): Sempre um Deus faz que cada qual esteja com seu igual.

 

Johann Christoph Friedrich von Schiller (1759-1805): Não é verdade que a igualdade seja a Lei da Natureza. A Natureza nada fez igual. Sua Lei soberana é a subordinação e a dependência.

 

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos; as distinções sociais só podem ser baseadas na utilidade comum.

 

Luis Felipe Algell de Lama [Sofocleto] (1926-2004): O Comunismo e as mulheres dizem que todos os homens são iguais.

 

Luiza Cristina Fonseca Frischeisen: A igualdade é um valor que só pode ser estabelecido mediante a comparação entre duas ou mais ordens de grandeza, e assim, estará sempre relacionada a uma comparação entre situações e/ou pessoas, pois quando perguntamos se existe igualdade estamos sempre diante da indagação de qual igualdade, entre o quê e/ou quem. A igualdade é, portanto, uma relação entre dois termos. É importante lembrar que a igualdade, no campo do reconhecimento da individualidade de cada ser humano, está ligada à afirmação do princípio da não-discriminação, ou seja, reconhece-se que todos são iguais perante a lei, e, portanto, não pode haver discriminações que excluam determinadas pessoas ou grupos do exercício de determinado direito por terem realizado determinadas escolhas de modo de vida, como a opção religiosa, ou possuírem determinadas características intrínsecas, como as de gênero.

 

Logosofia: (apud Marco Aurélio Bicalho de Abreu Chagas): A igualdade é uma lei inexorável, e há de se entender que, como tal, não pode violar outras leis, pois todas se completam fazendo possível o equilíbrio do Universo.

 

Constituição da República Federativa do Brasil, Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, Art 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...

 

 

 

 

NADA É IGUAL A NADA

 

 

 

 

 

ão perguntarei se somos todos iguais. Ainda que discordando de alguns ou de muitos, mas com respeito por todas as idéias, ao contrário, afirmarei: nós não somos todos iguais; em muitos aspectos somos total e inconciliavelmente diferentes. Quando muito, aqui e ali, somos parecidos. Nada é igual a nada, e é exatamente o fato de o Universo global ser multifacetado, entrópico, rearranjável, incriado e plural em sua indissolvível finitude e ilimitada Unidade, que permite que Ele seja – por tudo isto e por outras coisas que eu não sei – normalmente inescrutável em suas Dimensões mais elevadas e tão belo e oportunizador como é! Na realidade, nós, habitantes temporários e aprendizes da Terceira Dimensão, praticamente só percebemos, e geralmente de maneira desigual, as coisas inerentes à esta Dimensão. Então, por que tanta vaidade? Então, por que tanta arrogância? Então, por que tanto egotismo? Resquícios fedorentos do Geocentrismo? Ora, convenhamos: a Terra é menos[menos] do que uma poeirinha no todo universal, e cada um de nós é menos[muito menos] em relação a essa poeirinha! Então, por que tanta... Por que tanto...

 

 

 

Nada é Igual a Nada

 

 

Rui Barbosa (1849-1923), que jamais aceitou o igualitarismo, deixou isto patente em conhecida reflexão de 1920: A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam... Tratar com desigualdade a iguais, ou [tratar] desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.[1] E Chaïm Perelman (1912 - 1984), apud Erik Frederico Gramstrup, disse:

1. A cada qual a mesma coisa.

2. A cada qual segundo seus méritos.

3. A cada qual segundo suas obras.

4. A cada qual segundo suas necessidades.

5. A cada qual segundo sua posição.

6. A cada qual segundo o que a lei lhe atribui.

 

Se estas reflexões são presumidas e possíveis verdades relativas relativamente aceitáveis, como classificar, por exemplo, um grupo de facínoras que seqüestra uma mulher grávida de oito meses para negociar um resgate? Serão iguais o grupo de seqüestradores e a pobre mulher grávida seqüestrada? Serão iguais o vivisseccionista empedernido e o animal-irmão vivisseccionado? Serão iguais os invasores do Iraque e o povo iraquiano? Serão iguais os corruptores, os corruptos e a sociedade espoliada? Serão iguais os sem-nada-sem-chances e os com-tudo-com-todas-as-chances? Serão iguais, porventura, os sem-terra, os sem-teto, os sem-trabalho, os sem-ventura, os sem-bulhufas e os especuladores-sacanocratas do mercado financeiro? Serão iguais os que estimulam negócios com Deus e aqueles que, por ignorância, acreditam e, pelos mais variados motivos, cedem a essas propostas indecentes e inúteis? Serão iguais os pedófilos e os pedofilizados? Serão iguais os enganadores e os enganados? Os traidores e os traídos? Poderiam ser considerados iguais os Três Estados, se fossem verificáveis, propostos em 1822 pelo pai da Sociologia e fundador do Positivismo Isidore Auguste Marie François Xavier Comte (1798 – 1857)? Propôs Comte: Todas as concepções humanas passam por três estádios sucessivos teológico (ou fictício), metafísico (ou abstrato) e positivo (ou científico) – com uma velocidade proporcional à velocidade dos fenômenos correspondentes. Seriam iguais, se fossem verificáveis, as três idades em que se divide a História da Humanidade (idade do Pai, idade do Filho, idade do Espírito, ou seja, Idade do novo Evangelho, o Evangelho eterno, o Evangelho do Espírito Santo com a plenitude da iluminação do Espírito Santo), segundo o pensamento do abade cisterciense e filósofo místico, defensor do milenarismo e do advento da idade do Espírito Santo, Joaquim de Fiore (1132 – 1202)? Poderão ser iguais Athma, Buddhi e Manas? Poderão ser iguais AUM, TAT e SAT? Poderão ser iguais a tese, a antítese e a síntese hegelianas? Poderão ser rigorosamente iguais a Luz, a Vida e o Amor? Poderão ser iguais fides, spes e caritas? Poderão ser iguais e ter as mesmas atribuições o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário? Poderão ser iguais Nephesh, Ruach e Neshamah? Poderão ser iguais a clave de sol, a clave de fá e a clave de dó? Poderão ser iguais os aprendizes, os companheiros e os mestres? Poderão ser iguais a idade da scientia, a idade da sapientia e a idade de plenitude intelectus? Poderão ser iguais, segundo o escritor português e meu amigo já falecido António Quadros (1923 – 1993), as três evidências da filosofia da história – relatividade da história perante a filosofia viva, irredutibilidade da história à ciência e relatividade do passado face ao presente? Serão os RNAs todos iguais? Serão os DNAs todos iguais? Serão as purinas (adenina e guanina) e as pirimidinas (citosina, timina e uracila), sem tirar nem pôr, todas iguais? Claro que não.

 

 

 

 

Seguindo. Mesmo sabendo que determinado ambiente possa produzir cópias moleculares, serão, em termos vibratórios e isotópicos, todas essas cópias rigorosamente iguais? Não podemos esquecer, por exemplo, que o carbono se apresenta em a Natureza com os isótopos (isótopos são átomos de um mesmo elemento cujos núcleos atômicos possuem o mesmo número de prótons mas diferentes números de nêutrons) 12C, 13C e 14C, o oxigênio com os isótopos 15O, 16O, 17O, 18O e 19O e o Hidrogênio com os isótopos 1H [Prótio (H) com um único próton no núcleo], 2H [Deutério (D) com um próton e um nêutron no núcleo] e 3H [Trítio (T) com um próton e dois nêutrons no núcleo]. Apenas imagine (e calcule para se distrair) quantas moléculas diferentes de água podem ser produzidas pela combinação dos três isótopos de Hidrogênio com os cinco isótopos de Oxigênio! Observe só: 1H—15O—1H, 2H—15O—1H, 3H—15O—1H, 2H—15O—2H... Agora, continue com todos os outros isótopos.

 

 

Prótio
Deutério
Trítio

 

 

Será, enfim, um clone (indivíduo geneticamente idêntico a outro produzido por manipulação genética), por assim dizer um gêmeo idêntico defasado no tempo, exatamente igual ao indivíduo que o originou? Isto vai longe!

 

 

 

 

 

Entretanto, da mesma forma que há uma diferença abismal entre direito e privilégio, entre moral e ética e entre um imperativo categórico e um imperativo hipotético, entre tantas outras diferenças abismais, há, também, uma inconcordável diferença entre igualdade e eqüidade. Sintetizando: se a igualdade, por um lado, é a qualidade ou o estado de igual, ou seja, o fato de não se apresentarem diferenças sensíveis de qualidade ou diferenças de valor, isto é, inexistência de diferenças entre dois ou mais elementos comparados, sejam objetos, idéias, conceitos ou quaisquer coisas que se comparem, isto é, em um cotejo, mostrarem-se as mesmas proporções, dimensões, naturezas, aparências e intensidades [por exemplo, se f(x) = 2x + 1, fazendo-se x = 1, tem-se que f(x) = (2 x 1) + 1 = 2 + 1 = 3; 50º F = 10º C; 1 g = 103 mg; 1 min = 60 s; 108 + 108 = 216; em termos de duração, Mahaprâlâya = Mahamânvântâra = 311.040 x 109 anos; ab = ab], a eqüidade, por outro lado, é a disposição de reconhecer, em conformidade com a lei, com o ideal de Justiça e com o Direito, aquilo que é facultado a um indivíduo ou a um grupo de indivíduos por força das leis vigentes em um país ou dos costumes (jurisprudência que se fundamenta na prática, no uso, em detrimento da lei escrita). Isto, para ficar apenas no âmbito da lei, da Justiça e do Direito. Já o Privilégio Místico, meritoriamente conquistado, porque só pode mesmo ser conquistado pelo mérito e por nenhuma outra via, é algo completamente distinto – só é alcançado pela Iniciação (que também não é a mesma, em termos de conseqüências, para todos os Iniciados). E a moral e os códigos morais, muitas vezes, esdrúxula e lamentavelmente, se aproximam dos imperativos hipotéticos e de orquestrações interesseiras, enquanto a Ética é sempre inconsciente de si mesma, categórica, universal e, em certo sentido – por que não? – mística. Logo, tentar agir com igualdade, mas sem eqüidade, é a mesma coisa que chover no molhado, isto é, chegar a nada de nada vezes nada igual a nada. Portanto, moral não é sinônimo de Ética, pois, a moral é humana, limitada, variável e, em sentido restrito, um produto cultural mais ou menos consciente; já a Ética é cósmica, universal, invariável e, em todos os sentidos, inconsciente de si mesma e do próprio Universo. A moral é fabricada; a Ética é o que é.

 

Em termos políticos, salvo melhor juízo, poder-se-ia pensar em igualdade (absoluta?) vinculada a sistemas totalitários[2], e eqüidade (mais ou menos relativa?) como estando relacionada com sistemas democráticos (por exemplo, o peso do voto de todos os eleitores deve ser igual, e, em termos jurídicos, a questão central em uma pendência ou em um conjunto de fatos e provas deverá, por princípio, orientar a formação de uma decisão judicial/administrativa proporcional e justa), ainda que a Democracia tenha lá seu quê de autoritarismo (sem ser totalitária) e tenda a ser, no futuro, substituída por um sistema político mais concertado – por exemplo, o Teocientificismo. Mas, discutir esta matéria não é o propósito imediato deste pequeno ensaio; e assim, seja como for, nada disto faz de nós, seres humanos, iguais, pois, se, em princípio, nada é igual a nada, muito menos dois seres humanos poderão ser exatamente iguais. Podemos, mesmo, ser até muito semelhantes, mas, de maneira geral, somos inteiramente diferentes. Este é o tema que pretendo desenvolver e esmiuçar a seguir neste rápido rascunho.

 

Imaginem, ab absurdo, se alguém propusesse ou afirmasse que Arcanjo Antonino Lopes do Nascimento, conhecido como Tim Lopes, (1950 – 2002), era igual a Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, um dos líderes do grupo criminoso Comando Vermelho, que definiu e determinou o seu assassinato! Imaginem se alguém propusesse ou afirmasse que um acutângulo é igual a um obtusângulo! Imaginem se alguém propusesse ou afirmasse que ab = ba! Como não perceber diferenças e desigualdades flagrantes e gritantes entre o Deus do Primeiro Testamento e o Deus do Segundo testamento? Se, por hipótese, vier a ser escrito um Terceiro Testamento, o Deus dessa nova obra será totalmente discrepante dos Deuses anteriores. Como é possível que hoje, 21 de dezembro de 2007, ainda se admita a infalibilidade papal? Teriam sido todos os papas espiritualmente e idoneamente iguais a partir de 18 de julho de 1870? A infalibilidade papal, na teologia católica, consiste no dogma que afirma que o Papa, quando delibera solenemente algo em matéria de fé ou de moral – ex cathedra (ou seja, com autoridade de quem tem título, oficialmente e, no caso, como pastor da Igreja Católica Universal) – está sempre correto. Este dogma foi explicitado na Constituição Dogmática Pastor Aeternus, sobre o primado e infalibilidade do Papa, promulgada pelo Concílio Vaticano I. O dogma é restrito às questões relativas à fé e à moral. A Constituição foi promulgada na Quarta Sessão do Concílio, em 18 de julho de 1870, pelo Papa Pio IX (início do Pontificado: 16 de junho de 1846; fim do Pontificado: 7 de Fevereiro de 1878). A parte dispositiva do documento tem o seguinte teor:

 

O Romano Pontífice, quando fala 'ex cathedra', isto é, quando no exercício de seu ofício de pastor e mestre de todos os católicos, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina de fé ou de costumes que deve ser sustentada por toda a Igreja, possui, pela assistência divina que lhe foi prometida no bem-aventurado Pedro, aquela infalibilidade da qual o divino Redentor quis que gozasse a sua Igreja na definição da doutrina de fé e dos costumes. Por isto, ditas definições do Romano Pontífice são em si mesmas, e não pelo consentimento da Igreja, irreformáveis.

 

Ainda que eu reconheça que são distintos os conceitos de infalibilidade e de impecabilidade, e que seja fato conhecido que a Igreja Católica nunca tenha defendido a tese de que um Papa não pudesse cometer pecados, por que, ainda assim, uma verdade papal, uma definição do Sumo Pontífice, que é reconhecidamente um ser como outro qualquer – sujeito a erros, falhas ou enganos – deveria ser irreformável e ser acatada, tal qual, por todos os católicos? Nada no Universo é permanente, estável, definitivo, perpétuo, e, portanto, tudo é reformável, modificável. Ora, não é difícil de compreender que uma presumida verdade relativa para um papa possa ser inteiramente diferente da verdade relativa de outro papa. E mais ainda: por que uma presumida verdade relativa para um papa deva ser a mesma verdade relativa a ser acatada e adotada por toda a confraria católica? Enfim, teriam Martinho Lutero (1483 – 1546), o pai espiritual da Reforma Protestante, Pio XII (início do Pontificado: 2 de março de 1939; fim do Pontificado: 9 de outubro de 1958) e João XXIII (início do Pontificado: 28 de outubro de 1958; fim do Pontificado: 3 de junho de 1963) sustentado em seus Corações as mesmas verdades relativas e as mesmas concepções religiosas e espirituais? Certamente que não. Conclusão: nessa matéria, penso que o livre exame protestante seja mais concertado do que o dogma da infalibilidade papal, que igualiza todos os papas quando decidem algo em matéria de fé ou de moral. Nem em uma saca de feijões os feijões são todos iguais!

 

Número, como é sabido, é um objeto da Matemática usado para descrever uma quantidade ou uma medida. O conceito de número, provavelmente, foi um dos primeiros conceitos matemáticos assimilados pela Humanidade no processo de contagem. Não posso deixar de, novamente e fazendo um parêntesis, citar uma reflexão de Ralph Maxwell Lewis, (Sâr Validivar), (1904 - 1987), 2º Imperator da Ordem Rosacruz AMORC de 1939 a 1987 para este 2º Ciclo Iniciático que teve início em 1915 (desse momento em diante, a Ordem passou a adotar e a ser reconhecida em todo o mundo pelo seu legítimo título Ancient Mystical Order Rosæ Crucis, forma abreviada do título latino Antiquus Arcanus Ordo Rosæ Rubæ et Auræ Crucis), inserida no texto O Mistério das Números e inclusa no livro Fragmentos da Sabedoria Rosacruz, obra organizada por Raymond Bernard (1923-2006): ... os símbolos dos números não têm poderes inatos. Conferir poderes anímicos aos números, como concluiu o meu Irmão Ralph, não passa de bizarra superstição. Haveremos de aprender que só há uma Magia – uma verdadeira Magia Sagrada que é a construção do Mestre-Deus de nossos Corações. In Corde loquitur nostro Vox Dei. Em nosso Coração fala a Voz de Deus. Comecei este parágrafo escrevendo: um número é um objeto da Matemática usado para descrever uma quantidade ou uma medida. Em princípio, os números são apenas isto. Mas, infelizmente, há desavisados que ficam a querer colocar chifre de boi em cabeça de cavalo.

 

Os próprios quadrados (ditos) mágicos nada têm de mágico ou de ultranatural; apenas a soma dos números das linhas, das colunas e das diagonais é constante. Alguns quadrados mágicos representam e simbolizam leis naturais, como é o caso, por exemplo, do Quadrado Mágico do Sol (Imagem do Verbo Divino), conforme Paracelso, que é um Quadrado de sexta ordem, possui número característico (constante específica ou planetária) igual a 111, tem por metal associado o ouro e o maior número que entra no Quadrado é 36, cujo Valor Secreto é 666. Mas isto é outra coisa, como outra coisa é o Valor Pleno da letra arqueométrica ALeF (1 + 30 + 80 = 111, que, por sua vez, é igual a 37 + 37 + 37). Observe, abaixo, o Quadrado Mágico de Saturno, que é de terceira ordem e tem por constante específica ou planetária o número 15, Valor Secreto de 5 – o número que aparece no centro do Quadrado.

 

 

 

Manrique Miguel Mom, no trabalho Ciclos Cósmicos da Humanidade, informa (editei a citação):

 

Desde 1750, se realizam escavações em Pompéia. Em uma delas, feita há mais de 60 anos, foi encontrada uma estranha inscrição datada, com certeza, da época destruição da cidade, no ano de 79 d. C., e que os arquitetos cristãos reproduziram profusamente mais tarde em diversos monumentos da Itália e da França, na igreja de Pievi Iersagui, perto de Cremona, no castelo de Carnac, sobre a Baía de Quiberam (Morhiban, Bretanha, zona famosa por seus monumentos megalíticos, dólmens e menires estranhamente alinhados) e no templo de Saint-Laurent de Rochemaure. Da mesma forma, e além de outros lugares, a inscrição foi descoberta em ruínas romanas situadas em Cirencester (Inglaterra), a 55 quilômetros a noroeste de Bristol, e em Doura Europos, antiga cidade síria sobre a margem direita do Eufrates, onde atualmente se eleva a localidade de Qalat es Salihiya, uns 440 quilômetros a nor–nordeste de Damasco. A inscrição é conhecida como Quadrado SATOR [que é, segundo a Chave de Salomão, o Quadrado Mágico de Saturno]. A inscrição se apresenta na seguinte forma:

 

 

 

Para Pitágoras, filósofo e matemático grego que nasceu em Samos entre 571 a. C. e 570 a. C. e morreu, provavelmente, em 497 a. C, o número era a essência e o princípio natural de todas as coisas. Eu ousaria dizer que a síntese do pensamento pitagórico está escondida na Tetractys, cujos números associados são: exotérico 10 (dez) e oculto 17 (dezessete). IAO (10 - 1 - 6).

 

 

 

Tetractys

 

Para Arthur Schopenhauer (1788 - 1860), o conceito numérico apresenta-se como a ciência do tempo puro. Já para Isaac Newton (1643 - 1727), número seria a relação entre a quantidade e a unidade. Euclides de Alexandria (360 a. C. - 295 a. C.), professor e matemático platônico, admitia que o número é um composto da unidade. E, entre tantos outros, mais modernamente, Bertrand Russell (1872 - 1970), um dos mais influentes matemáticos, filósofos e lógicos do século XX, número é a classe de todas as classes equivalente a uma dada classe.

 

 

 

 

Por outro lado, um número excessivo ou abundante é o número cuja soma de seus divisores (excluído o próprio número) é maior do que ele mesmo (p. ex.: 12). Um número perfeito é o número cuja soma de seus divisores (excluído o próprio número) é igual a ele mesmo (p. ex.: 6). Um número deficiente ou defectivo é o número cuja soma de seus divisores (excluído o próprio número) é menor do ele mesmo (p. ex.: 10). Um número levemente imperfeito é o número cuja soma de seus divisores é o próprio número menos a unidade (p. ex.: 4, 8, 16, 32). Números amigáveis são dois números cuja soma dos divisores de um resulta no outro e vice-versa. Exemplos de pares amigáveis: 220 e 284, 1.184 e 1.210, 17.296 e 18.416, 9.363.584 e 9.437.056. Números sociáveis são grupos de três ou mais números que formam um círculo fechado, pois a soma dos divisores do primeiro forma o segundo e assim por diante, até que a soma dos divisores do último forma o primeiro (p. ex.: 12.496, 14.288, 15.472, 14.536 e 14.264). Já o número 26 é o único que existe que se encontra entre um quadrado (25 = 52) e um cubo (27 = 33). E o número 69 é o único que existe cujos algarismos que compõem seu quadrado (692 = 4.761) e seu cubo (693 = 328.509) formam todos os números entre 0 e 9 sem repetição.

 

Um número natural é um número inteiro não-negativo (0, 1, 2, 3 ...). Em alguns contextos, número natural é definido como um número inteiro positivo, isto é, o zero não é considerado como um número natural. Um número primo é um número natural que pode ser dividido (deixa resto zero) apenas por dois números naturais, o 1 (um) e ele mesmo. Por exemplo, o número 3 é um número primo, pois seus dois únicos divisores naturais são 1 e 3. Uma definição alternativa é que o número primo é todo número que possui somente quatro divisores inteiros. Por exemplo, o 2 possui como divisores {1, 2, -1, -2}, totalizando quatro divisores inteiros, sendo então um número primo. Os números inteiros são somente aqueles constituídos dos números naturais {0, 1, 2 ...} e dos seus opostos {-1, -2, -3 ...}. Número racional é todo o número que pode ser representado por uma razão (ou fração) entre dois números inteiros. O conjunto dos números reais é uma expansão do conjunto dos números racionais que engloba não só os inteiros e os fracionários, positivos e negativos, mas também todos os números irracionais. Um número irracional é um número que não se pode expressar como quociente de dois números inteiros. Por exemplo: todas as raízes quadradas de números naturais que não sejam quadrados perfeitos, isto é, se a raiz quadrada de um número natural não for inteira, é irracional. Há ainda outros conjuntos de números, como os números complexos, números hipercomplexos, quaterniões, octoniões, sedeniões, complexos hiperbólicos etc.

 

Então, depois de todos estes argumentos, poderemos imaginar ou dizer que 26 é igual a 69? Poderá 666 ser igual a 999? Um número racional é igual a um número irracional? Um quadrado é igual a um triângulo? Uma laranja é igual a uma banana? Uma baleia é igual a uma formiga? Será uma Limnocharis flava igual a um Elephas maximus? Serão as partículas alfa e beta iguais? Serão iguais todos os neutrinos? Serão iguais todos os isótopos do chumbo [Pb-204 (1,4%), Pb-206 (24,1%), Pb-207 (22,1%) e Pb-208 (52,4%)]? Serão iguais uma pepita de ouro e uma amostra de pirita (FeS2, dissulfeto de ferro, ouro dos bobos)? Serão iguais uma pipeta e uma bureta? Serão iguais um reminhol e um urinol? Será um pródigo igual a um avaro, e um corrupto semelhante a um pundonoroso? Será o Sol igual à Lua? Será o amanhecer igual ao anoitecer? Serão as convicções de um piedoso muçulmano iguais as de um religioso budista? De um católico? De um judeu? A idéia de Deus de um Iniciado Rosa+Cruz será igual à de um religioso evangélico? De um espírita? De um ultramontano? Por acaso, um homem-sem-alma poderá ser igual a um santo? A um avatar? A um Mestre Cósmico Ascensionado? Serão os tipos de sangue O+, A+, B+, AB+, O, A, B e AB iguais? Poderão ser iguais o HDL (High-Density Lipoprotein), o LDL (Low-Density Lipoprotein) e o VLDL (Very Low-Density Lipoprotein)? Será o Mycobacterium tuberculosis igual à Matricaria chamomilla? Poderão as trevas ser iguais à Santa LLuz? Poderão as compreensões da vida (e da Vida) ser iguais? Poderão os infernos pessoais ser iguais? Ora, nem a Lei Homeopática dos Semelhantes (Similia Similibus Curentur) é lá tão semelhante assim, e o princípio homeopático do medicamento único (Unicismo) é muito difícil de ser aplicado. Daí, excelentes médicos homeopatas – como o Dr. Luiz São Thiago – preferirem e adotarem o Pluralismo/Complexismo homeopático. Daí, também, os medicamentos ãã (em partes iguais), de uso comum no receituário médico homeopático, para indicar que duas (ou mais) substâncias devem entrar com a mesma quantidade na composição do remédio. O que se conclui? Muito ou muitíssimo parecido, sim; igual, não. Nada é igual a nada. Por isto, particularmente no âmbito da Homeopatia, há, basicamente, quatro escolas distintas: a) Unicismo [prescrição de um único medicamento, à maneira de Christian Friedrich Samuel Hahnemann (1755 - 1843), com base na totalidade dos sintomas do doente – o similimum homeopático ou remédio de fundo, conhecido como o medicamento escolhido individualmente e capaz de uma abrangência total para todos os sintomas físicos e mentais do indivíduo]; b) Pluralismo [também conhecido por Alternismo, prescrição dois ou mais medicamentos para serem administrados em horas distintas, alternadamente, com a finalidade de um complementar a ação do outro, atingindo, assim, a totalidade dos sintomas do paciente]; c) Complexismo [prescrição de dois ou mais medicamentos para serem administrados simultaneamente ao paciente]; e d) Organicismo [prescrição do medicamento visando aos órgãos doentes, considerando as queixas mais imediatas do paciente]. Nada é igual a nada.

 

Poderá, ainda, o Quaternário Alquímico – formado pelo Fogo, pelo Ar, pela Água e pela Terra – ser igual em seus Elementos constitutivos fundamentais? O quente, o úmido, o frio e o seco serão iguais? Poderá o ouro ser igual ao chumbo? Na Idade Média (período da história mundial, especialmente européia, que, por convenção, se estende da queda do Império Romano, no século V, até a queda de Constantinopla, em 1453) a Arte Alquímica foi comparada a um ovo, no qual quatro instâncias estão unidas: a casca é a Terra; a clara é a Água; a membrana entre a casca e a clara é o Ar; e a gema é o Fogo. O quinto Elemento ou Quinta-essência é o pintainho. Ora, pergunto: serão iguais a casca, a clara, a membrana e a gema? E o pintainho? Igualdade, diversidade ou parecença no seio da Unidade?

 

 

 

 

O núcleo embriônico, em Alquimia, é comparado ao Sol nascente e ao Lapis (ou Pedra Filosofal). Sobre o Lapis, Fulcanelli[3] comentou:

 

... a Pedra Filosofal se nos oferece sob a forma de um corpo cristalino, diáfano, vermelho quando em massa, amarelo depois de pulverizado, o qual é denso e muito fusível |funde a 64ºC|, embora fixo a qualquer temperatura, e cujas qualidades próprias o tornam incisivo, ardente, penetrante, irredutível e incalcinável ... é solúvel no vidro em fusão, mas se volatiliza instantaneamente quando é projetado sobre um metal fundido.

 


O Alquimista, durante os passos que o conduzirão à conclusão do seu digno e laborioso Trabalho – Digna Merces Labore, Trabalho Dignamente Recompensado – sabe que o calor do Fogo é temperado pela friúra do Ar, e a secura da Terra é neutralizada pela umidade da Água. Por último, o Alquimista sabe também que essas quatro propriedades (diferentes) e os quatro Elementos (dessemelhantes) estão entre si relacionados – Unidade Místico-Alquímica – conforme mostra o diagrama abaixo:

 

 

Quente
AR
Úmido
FOGO
5
ÁGUA
Seco
TERRA
Frio

 

Não. Nada é absolutamente igual a nada, e não somos todos iguais. Viemos de instâncias cósmicas diferentes e voltaremos, temporariamente, para instâncias cósmicas diferentes, segundo nossos méritos ou deméritos pessoais. Nessa matéria, como em qualquer outra, não há milagre ou jeitinho hábil, esperto e astucioso de burlar as Leis Cósmicas. No Sagrado Alcorão, por exemplo, está escrito que tudo sempre esteve, está e ad æternum estará registrado no Livro Lúcido. Teremos que acabar admitindo que nossas compreensões e experiências culturais, materiais, individuais, coletivas, étnicas, espirituais, místicas etc. são totalmente diferentes e relativas, desejáveis e educativas. É utópico e romântico imaginar que somos todos iguais, que viemos do mesmo lugar, e que voltaremos para o mesmo lugar. Não somos; não viemos; não voltaremos. Somos, isto sim, derivações-manifestações, vibratoriamente distintas da mesma Unidade; derivações-manifestações, da mesma Vida – Vida-sempre-Vida – incriada, imorredoura, Vida que nunca teve princípio (ou criação) e que nunca poderá ter fim, pois, se tivesse tido princípio, teria vindo de alguma Coisa, e se tivesse fim, iria para alguma Coisa ou se transformaria em alguma Coisa. Em ambas as insustentáveis hipóteses, viria da própria Coisa e iria para a própria Coisa — a Coisa-Vida-sempre-Vida. O Teclado Universal é Um, e podemos, se quisermos, dizer que Ele é idêntico a si mesmo, pois não há dois Teclados Universais. Mas não podemos dizer que suas oitavas são todas iguais. Será o vermelho igual ao violeta? Serão todos os amarelos iguais? Serão iguais todos os azuis? Serão os Raios Cósmicos (radiações naturais cujo poder de penetração é muito superior ao de qualquer outra radiação conhecida) todos iguais? Serão iguais os raios X moles (com comprimento de onda da ordem de 1 Å) e os raios X duros (com comprimento de onda da ordem de 0,01 Å)? A resposta é não para todas essas indagações. Nada é igual a nada.

 

 

 

 

Enfim, o ser-no-mundo é o que é, permanecendo o que é enquanto quiser ser o que é, cada qual sendo o que quer ser. Talvez fosse melhor ajeitar esta última afirmação e reescrever: cada qual sendo o que pode ser, e sendo – muitas vezes sabendo, outras não sabendo – homo homini lupus (homem lobo do homem). Mas, o ser-no-mundo poderá mudar; se quiser. Poderá ascensionar; se quiser. Poderá se libertar; se quiser. Poderá tudo; se quiser. Nada está vedado; nada é impossível. Se tudo isto é assim mesmo, admitir que somos todos iguais é ridiculamente tentar igualizar o que, na origem e na própria manifestação, é desigual. É falazmente pretender minimizar nossas responsabilidades pessoais, e, pior: muitas vezes, (tentar) transferir essas mesmas responsabilidades para ordens ou graus ilusórios e inexistentes, em uma tentativa vã de desobrigação destas mesmas responsabilidades. Ora, ou aprendemos ou aprenderemos: a) tudo será compensado; b) tudo será retribuído; e c) tudo, no tempo que é tempo e que não é tempo, (relativamente) haverá de ser compreendido. Isto vale tanto para o mal que miseravelmente tramamos (que, às vezes, até poderá ser bem) quanto para o bem que amorosamente praticamos (que, às vezes, até poderá ser mal), pois, quando interferimos aleatória, ignorante e irresponsavelmente nas experiências dos outros, nos tornamos, com relação a essas mesmas experiências e ao experimentador, de um lado, cúmplices e sócios, de outro, co-autores e co-responsáveis. Mas, quando somos chamados... Quando somos solicitados... Bem, isto é outra coisa, como outras coisas são a misericórdia, a indulgência e a solidariedade. Seja como for, como escrevi mais acima, nessa matéria, como em qualquer outra, não há milagre ou jeitinho hábil, esperto e astucioso de burlar as Leis Cósmicas. Aqui se aplica o ditado: O vento que venta cá venta lá também. Não como talionato, não como punição; mas de forma estritamente educacional, em um sempre acrescentar, em um sempre evoluir. Então, que vente já! Por que esperar o temporal do lado de lá? Ou será que alguém pensa que poderá se esgueirar no meio das nuvens?

 

Por outro lado, podemos e devemos fazer o que quisermos. Assevera a Lei de Thelema: Do what thou wilt shall be the whole of the Law. [Faze o que tu queres e será toda a Lei.]. A Lei é a apoteose da liberdade; mas é também a mais estrita das injunções. Por isto, devemos estar cientes e conscientes de que somos responsáveis por tudo que fizermos e por tudo que quisermos, quer pela atração, quer pela repulsão que engendrarmos, quer pelo bem, quer pelo mal que praticarmos, pois, mesmo não fazendo, mas apenas querendo ou desejando, o simples querer ou desejar põe em movimento um certo fazer, o qual, na maioria das vezes, não percebemos as conseqüências deste querer‹–›desejar—›fazer. E também por isto somos diferentes, pois, houve, no passado, aqueles que nada quiseram ou desejaram, e há, no presente, aqueles que já nada querem ou desejam! Todavia, isto não significa inércia, não-reação, imobilismo, estagnação, apatia, indolência, falta de habilidade, inaptidão ou incapacidade; muito pelo contrário. Quem aprendeu a não querer e a não desejar sabe exatamente – não querendo e não desejando – o que deve e pode querer e o que deve e pode desejar. Não gasta sua energia com nuvens passageiras e ilusões acachapantes. Sabe, enfim, perfeitamente, o significado da Lei de Thelema: Do what thou wilt shall be the whole of the Law. E, por isto, não fica tentando colocar chifre de boi em cabeça de cavalo e nem fazendo magias marca roscofe.

 

 

 

 

Por último, que não se barafundeie o conceito místico-metafísico Somos Todos Um com a fantasia somos todos iguais. Somos Todos Um porque, minimamente, nos manifestamos no seio do inconsciente-educativo Todo-Sempre-Um, somos todos manifestações derivadas do incriado-vitalício Todo-Sempre-Um e somos todos irmãos no seio do finito-ilimitado Todo-Sempre-Um. Somos, por assim dizer, interdependentes; mas não somos todos iguais porque nossas autoconsciências (consciência pessoal que reflete sobre si própria, sobre sua condição existencial e sobre seus processos manifestantes) e nossas vibrações constitutivas são dissimilares, isto é, não são todas iguais em percepção, compreensão, manifestação e realização da Santa Unidade Toda-Sempre-Una.

 

Unidade, misticamente, é ausência de personalismo e de egoísmo; mas não perda de identidade por igualdade ou pelo que seja. Por isto, 13 4 10 1. Note-se que o sinal matemático , aplicado a estas reflexões, significa equivalente; não igual. Será que alguém poderia afirmar que os Mestres Cósmicos Ascensionados são todos iguais? Que perderam todos suas identidades? Ora bem, que se equivalham em Bondade, Beleza e Sabedoria, é outra coisa. Que se equivalham em outras categorias, isto também é outra coisa. Agora, ficar devaneando e mirabolando quais são ou quais seriam essas categorias é pura perda de tempo. Se categoricamente conseguirmos imitá-Los (um pouquinho!) em Bondade e Beleza, já teremos feito muitíssimo. Digo isto por experiência pessoal: de quando em quando escorrego ou caio. Mas quando isto acontece, procuro me levantar imediatamente. De cada escorregadela ou de cada tombo ficam registradas em minha mente a experiência e a vergonha de ter escorregado ou de ter caído. O que eu tenho certeza é que sairei desta encarnação bem melhor do que entrei. Meno male! Só mais um pouquinho: serão as escorregadelas e os tombos todos iguais?

 

 

 

 

 

CONCLUSÃO

 

 

Para concluir este pequeno ensaio – despretensioso e, provavelmente, com alguns erros reflexivos – observe os números a seguir, e reflita sobre as operações matemático-teosóficas abaixo:

 

71 = 7

7 28[4] 2 + 8 = 10 1 + 0 = 1

7 28 10 1

 

_______

 

72 = 49

49 4 + 9 = 13 1 + 3 = 4 1 + 2 + 3 + 4 = 10 1 + 0 = 1

49 1.225[5] 1 + 2 + 2 + 5 = 10 1 + 0 = 1

49 1.225 10 1

 

_______

 

73 = 343

343 3 + 4 + 3 = 10 1 + 0 = 1

343 58.996[6] 5 + 8 + 9 + 9 + 6 = 37 3 + 7 = 10 1 + 0 = 1

343 58.996 10 1

 

Os números 7[7], 49 e 343 estão interligados, correlacionados, mas são números diferentes. Por operações místico-matemático-teosóficas distintas observa-se que, por sucessivas equivalências, apresentam-se como representações da Unidade. E mais: simbolizam e patenteiam momentos (cíclicos) desta mesma Unidade. Enfim, a Unidade, esta sim, é igual e idêntica a si mesma, pois não poderia ser diferente ou discrepante de si mesma; mas suas derivações–manifestações vibratórias, Universo(s) afora, são inteiramente distintas. Podem até ser próximas – muito próximas! – mas são distintas.

 

 

 

ÚLTIMAS PALAVRAS

 

 

E assim, como último pensamento, resumirei e concluirei definitivamente este despretensioso rascunho. Somos todos desiguais, diferentes; mas somos todos manifestações do UM, no UM, com o UM e pelo UM. Por isso – e por outros motivos – Somos Todos Um. E ainda que o processo de evolução-compreensão das diversas etnias planetárias seja distinto em diversos aspectos, Somos Todos Um, no UM, com o UM e pelo UM. Todos nós começamos nossas Peregrinações em um ponto ou em um plano inferior, não necessariamente na Terra. E não há aquele que, do inexistente nada, tenha caído de pára-quedas na relativa regalia, na relativa segurança, no relativo conforto e na relativa tranqüilidade. Mérito relativo... Séculos... Milênios... Zilhões de anos... Então, por que os preconceitos, as hostilidades, as aprioridades, as antepaixões, as cismas, as implicâncias, os prejulgamentos, as xenofobias e as repulsões? Seja como for, o que precisamos ter em mente, como afirmou Ralph Maxwell Lewis (Sâr Validivar), é que a consciência é o ponto inicial do homem. Para o homem, o Universo, de certo modo, começa com a consciência; e o homem, para si mesmo, começa com a consciência... Através da consciência, através da compreensão, através da atualidade, o homem é, então, como diziam os velhos cosmologistas da antiga Grécia, os antigos sofistas: 'A medida de todas as coisas'. Como seres humanos talvez jamais cheguemos a conhecer a verdadeira realidade, em virtude de haver sempre um mediador entre ela e nós mesmos, que é a [nossa imperfeita] consciência. Não podemos, íntima e pessoalmente, entrar em contato com ela. Mas isto é secundário, já que devemos nos governar pela atualidade. Não é tão importante assim o que as coisas possam ser, mas como nos influenciam. (Grifo meu). [Por isso eu escrevi mais acima que ficar devaneando e mirabolando quais são ou quais seriam as categorias místicos-espirituais desenvolvidas e adquiridas pelos Mestres Ascensionados é pura perda de tempo.] Por conseguinte, continua o meu Irmão Ralph, compete-nos alargar a nossa compreensão; tornarmo-nos conscientes de tantas coisas quantas forem possíveis, a fim de, realmente, conhecermos o nosso teatro, o nosso palco e o papel que devemos desempenhar.[8] Todavia, o teatro, o palco e o papel que uma pessoa desempenha na vida não são iguais aos das outras pessoas. Somos todos diferentes e desiguais vivendo processos, compreensões e peregrinações distintas, ainda que a Unidade seja sempre una e a mesma. Este é o Segredo dos Segredos — o Segredo que precisamos deslindar e aprender. Somos Todos Um. Nada é igual a nada. Pax Profundis.

 

 

 

 

_______

Notas:

 

[1]. BARBOSA, Rui. Discurso proferido na sessão de 27 de junho: In: BAHIA. Assembléia Legislativa. Annaes da Assembléa Legislativa Provincial da Bahia: Sessões do anno de 1878. Bahia, Typ. Diário da Bahia, 1878, v. 1, apêndice p. 9.

[2]. Por exemplo, o Comunismo é a organização econômica e sociopolítica do Estado, idealizada por Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 - 1895) e por outros inúmeros precursores, que, como último estágio da evolução social e como resultado do triunfo das lutas do proletariado, será uma sociedade ideal, sem classes, sem propriedade privada sobre os meios de produção, com harmônica igualdade social e econômica para todos, sendo que os bens, que nessa fase serão produzidos em abundância (pois não haverá estruturas arcaicas que impeçam o constante desenvolvimento das forças produtivas), serão distribuídos segundo as necessidades de cada um. O Marxismo defendeu a organização socioeconômica e sociopolítica do Estado de acordo com o critério de distribuição segundo o qual de cada um segundo sua capacidade; a cada um, segundo suas necessidades. Contudo, em sua concepção clássica, a idéia de sociedade igualitária começou a ser cunhada durante o Iluminismo, para idealizar uma realidade em que não houvesse distinção jurídica entre nobreza, burguesia, clero e escravos. Durante a Revolução Francesa (conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro de 1799, alteraram o quadro político e social da França), o termo igualdade compunha a palavra-de-ordem dos revolucionários: Liberté, Egalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade e Fraternidade). Enfim, no contexto pós-moderno, a idéia de igualdade tem sido gradualmente abandonada e preterida pela idéia de diversidade.

[3]. Fulcanelli é, provavelmente, o pseudônimo de um Alquimista e Místico francês. A data do seu nascimento e a data da sua morte são desconhecidas, assim como a sua identidade, que ainda hoje é debatida. É considerado o Mestre do Alquimista francês Eugène Léon Canseliet (1899 - 1982), este que terá tido sucesso, em um laboratório na França, na transformação de 100 gramas de chumbo em ouro, perante o olhar de várias testemunhas. Os dois trabalhos conhecidos de Fulcanelli – O Mistério das Catedrais e As Mansões Filosofais – foram publicados após a sua morte, respectivamente em 1926 e 1930, e ambos têm longos prefácios de Canseliet. Envolto em grande mistério, muito se especula sobre Fulcanelli. Várias teorias surgiram em seu redor, como a de que seria um membro da Casa de Valois, uma família importante da Idade Média e do Renascimento, ou, ainda, como sugere Patrick Rivière, Fulcanelli seria na verdade Jules Violle, um físico famoso. Gostaria de acrescentar, ainda, que as Transmutações Alquímicas não são todas iguais, quer sob o aspecto quantitativo, quer sob a observação qualitativa. Dependendo de como é fermentada a Pedra Filosofal, se com ouro ou com prata muito puros, e dependendo da própria potência do Pó de Projeção e do respectivo leproso a ser curado, mais ou menos prata alquímica ou ouro alquímico são produzidos. Sob outro ângulo de observação, enquanto o zinco, por exemplo, ganha alguma coisa ao se converter em ouro, o chumbo perde alguma coisa. Seja como for, o Místico sincero e autêntico não está preocupado com transmutações objetivas, e, sim, com a Transmutação Místico-Iniciática do seu antimestre-deus no Mestre-Deus do seu Coração. Nada é igual a nada.

Nota editada e ampliada da Página:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fulcanelli

[4]. 28 é o Valor Secreto (VSN) de 7. A fórmula que permite calcular o Valor Secreto de qualquer número é:

VSN = [N(N + 1)] ÷ 2, na qual N é o número que se deseja saber qual é o Valor Secreto. Assim, para 7, tem-se:

VS7 = [7(7 + 1)] ÷ 2

VS7 = [7.8] ÷ 2

VS7 = 56 ÷ 2

VS7 = 28

[5]. 1.225 é o é o Valor Secreto (VSN) de 49.

[6]. 58.996 é o é o Valor Secreto (VSN) de 343.

Observação: O mesmo raciocínio e as mesmas operações matemáticas valem para 49 e para 343.

[7]. Os 7 sábios da Grécia; as 7 quedas a caminho do Gólgota; as 7 cabeças da Hidra de Lerna; o candelabro de 7 braços; o livro dos 7 selos; as 7 notas musicais (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si); as 7 vacas e as 7 espigas do sonho do Faraó; as 7 taças; as 7 trombetas do Apocalipse; as 7 linhas de orixá da Umbanda; os 7 algarismos romanos; os 7 astros sagrados dos antigos (Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno); as 7 cores refratadas pelo prisma; os 7 princípios da moral pitagórica (retidão de propósitos, tolerância na opinião, inteligência para discernir, clemência para julgar, ser verdadeiro em palavras e atos, simpatia e equilíbrio); as 7 virtudes humanas (esperança, fortaleza, prudência, amor, justiça, temperança e fé); os 7 pecados capitais (vaidade, avareza, ira, preguiça, luxúria, inveja e gula); as 7 virtudes cardinais (castidade, generosidade, temperança, diligência, paciência, caridade e humildade); as 7 rogatórias do Pai Nosso; et cetera.

[8]. LEWIS, Ralph M. (FRC). A doutrina da relatividade. In: O Rosacruz. AMORC; Jurisdição de Língua Portuguesa. 4º trimestre, nº 262, 2007, pp. 21 a 24.

 

 

 

 

 

Bibliografia:

 

BERNARD, Raymond. Fragmentos da sabedoria Rosacruz/Fragments de sagesse Rosicrucienne. 2ª edição. Coordenação de Maria A. Moura. Biblioteca Rosacruz, vol XIII. Rio de janeiro: Editora Renes, s. d.

FULCANELLI. O mistério das catedrais (e a interpretação esotérica dos símbolos herméticos da Grande Obra)/Le mystère des cathédrales. Tradução de Jean-Jacques Pauvert. Lisboa: Edições 70, 1964, 213 p.

______. As mansões filosofais/Les demeures philosophales. Tradução de António Last e António Lopes Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1977, 517 p.

 

Páginas da Internet consultadas:

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa

http://www.homeopatiafao.com.br/
detDestaque.asp?codigo_noticia=1

http://www.homeopatiaalmeidaprado.com.br/sgc/
basex/new4one.asp?idn=48&ss=149&cl=113

http://www.lepanto.com.br/
ApIgreja.html#Infalib

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Infalibilidade_papal

http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm

http://www.advogado.adv.br/
artigos/2000/machagas/a_lei_da_igualdade.htm

http://www.esmpu.gov.br/
dicionario/tiki-index.php?page=Igualdade

http://www.hottopos.com/
videtur17/erik.htm

http://paxprofundis.org/
livros/aleister/crowley.htm

http://www.geocities.com/
findeciclo/ps15mom1.htm

http://www.geocities.com/
Athens/Stage/4223/oesoterismocristao2.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Quadrado_m%C3%A1gico

http://www.ihp.org.br/docs/fmg20050206b.htm

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Igualdade

http://thinking4thinking.com/
pt/index.php

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Clone

http://www.educ.fc.ul.pt/
icm/icm99/icm17/numirra.htm

http://pt.wikipedia.org/
wiki/N%C3%BAmero

http://www2.uol.com.br/
princesasdomar/conto_maes.htm

 

Música de fundo:

Genafr6

Fonte:

http://media.afromix.org/music/midi/
drum_patterns/AFRICAN/index.es.html