Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

 

Recentemente, divulguei um texto sobre as reflexões e os pensamentos de Santa Teresa de Ávila. Ao final, na nota nº 6, ponderei: Eis aqui um perigo retardantíssimo: imaginar que nossos equívocos (pecados) são maiores do que realmente são e nos culparmos absurda e crescentemente, ainda que matar uma formiguinha ou um mosquitinho seja igualmente abominável a matar uma vaca ou uma baleia. E quem come carne de animais é cúmplice: mata por tabela! E eu, que não mato e não como, também mato e também sou cúmplice. Somos ou não todos um? O pecado-ambigüidade do outro é de todos nós. Agora, com a mais plangente irritação, vou ampliar estes ensimesmamentos.

 

 

 

 

 

 

 

Matar uma joaninha vermelhinha

ou um zumbidor dipterinho1,

e lacerar uma doce doceirinha2

ou um voador besourinho

são coisas incompatíveis com a Coisa.

 

 

Trucidar um sem eira nem beira

ou estropiar uma célula,

e danificar um figo-de-figueira

ou vindimar uma libélula

são coisas incombináveis com a Coisa.

 

 

Caçar um proboscídeo elefante

ou arpoar um tubarão-baleia,

e infanticidar um sem-teto infante

ou esfriar um cabra-de-peia

são coisas inconciliáveis com a Coisa.

 

 

Moer um parvo sem malícia

ou menoscabar um doente mental,

e ser implacável e sem qualquer blandícia

ou dar uma de borboleta-vendaval

são coisas inconcordáveis com a Coisa.

 

 

Alterar e corromper para enriquecer,

e, enriquecendo, depois mesquinhar,

e, devagar, devagarinho, com cautela mentir,

e, mentindo, viver para se abarrotar

são coisas inconformáveis com a Coisa.

 

 

Censurar e julgar os diferentes

e condená-los ao suplício do fogo,

e dar de brinde a um alopécico mil pentes

ou ser um insatisfazível boca-de-fogo

são coisas inarmonizáveis com a Coisa.

 

 

 

Quem é você quem sou eu?

para provocar uma ou outra coisa–ai?

Até causar mágoa a um clavicórneo abreu

é mesmo uma abominosa coisa!

 

 

Eu – que não tanjo e não abato

padeço com tanto desvirtuamento

porque cumplicio no que não mato.

E, ouço ecoar um assombramento:

 

 

 

 

 

 

 

 

Vale a pena ver!
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Notas:

1. Os dípteros pertencem à ordem de insetos holometabólicos, ou seja, que sofre metamorfose completa durante o seu desenvolvimento, com cerca de 150.000 espécies, de ampla dispersão no mundo, vulgarmente conhecidos por moscas, mosquitos e mutucas. Distinguem-se dos demais insetos, por terem apenas o par de asas correspondentes às anteriores, e as posteriores transformadas em estruturas denominadas balancins (o balancim, no caso, funciona como órgão de equilíbrio; é derivado das transformações das asas posteriores e de estrutura clavada, exclusivo dos insetos dípteros e localizado em cada lado do tórax).

2. No caso, uma formiga-doceira.

 

Páginas da Internet consultadas

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Fundo musical:

Butterfly Kisses (Bob Carlisle & Randy Thomas)

Fonte:

http://www.downloading-music.org/
Bob+Carlisle-Butterfly+Kisses.html