Recentemente,
divulguei um texto sobre as reflexões e os pensamentos de Santa
Teresa de Ávila.
Ao final, na nota nº 6, ponderei: Eis aqui um perigo retardantíssimo:
imaginar que nossos equívocos (pecados)
são maiores do que realmente são e nos culparmos absurda e
crescentemente, ainda que matar uma formiguinha ou um mosquitinho seja igualmente
abominável a matar uma vaca ou uma baleia. E quem come carne de animais
é cúmplice: mata por tabela! E eu, que não mato e não
como, também mato e também sou cúmplice. Somos ou não
todos um? O pecado-ambigüidade do outro é de todos nós.
Agora, com a mais plangente irritação, vou ampliar estes ensimesmamentos.
Matar
uma
joaninha vermelhinha
ou um zumbidor dipterinho1,
e
lacerar uma doce
doceirinha2
ou
um
voador
besourinho
são
coisas incompatíveis com a Coisa.
Trucidar
um sem eira nem beira
ou
estropiar uma célula,
e
danificar um figo-de-figueira
ou
vindimar uma libélula
são
coisas incombináveis com a Coisa.
Caçar
um proboscídeo elefante
ou
arpoar um tubarão-baleia,
e
infanticidar um sem-teto infante
ou
esfriar um cabra-de-peia
são
coisas inconciliáveis com a Coisa.
Moer
um parvo sem malícia
ou
menoscabar um doente mental,
e
ser implacável e sem qualquer blandícia
ou
dar uma de borboleta-vendaval
são
coisas inconcordáveis com a Coisa.
Alterar
e corromper para enriquecer,
e,
enriquecendo, depois mesquinhar,
e, devagar, devagarinho, com cautela mentir,
e,
mentindo, viver para se abarrotar
são
coisas inconformáveis com a Coisa.
Censurar
e julgar os diferentes
e
condená-los ao suplício do fogo,
e
dar de brinde a um alopécico mil pentes
ou
ser um insatisfazível boca-de-fogo
são
coisas inarmonizáveis com a Coisa.
Quem
é você –
quem
sou eu? –
para
provocar uma ou outra coisa–ai?
Até
causar mágoa a um clavicórneo abreu
é
mesmo uma abominosa coisa!
Eu
– que não tanjo e não
abato –
padeço
com tanto desvirtuamento
porque
cumplicio no que não mato.
E,
ouço ecoar um assombramento:
Vale
a pena ver!
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Notas:
1.
Os dípteros pertencem à ordem de insetos holometabólicos,
ou seja, que sofre metamorfose completa durante o seu desenvolvimento, com
cerca de 150.000 espécies, de ampla dispersão no mundo, vulgarmente
conhecidos por moscas, mosquitos e mutucas. Distinguem-se dos demais insetos,
por terem apenas o par de asas correspondentes às anteriores, e as
posteriores transformadas em estruturas denominadas balancins (o balancim,
no caso, funciona como órgão de equilíbrio; é
derivado das transformações das asas posteriores e de estrutura
clavada, exclusivo dos insetos dípteros e localizado em cada lado
do tórax).
2.
No caso, uma formiga-doceira.
Páginas
da Internet consultadas
http://abstract.desktopnexus.com/wallpaper/38473/
http://media.photobucket.com
Fundo
musical:
Butterfly
Kisses (Bob Carlisle & Randy Thomas)
Fonte:
http://www.downloading-music.org/
Bob+Carlisle-Butterfly+Kisses.html