Rodolfo Domenico
Pizzinga
|
Madonna
con il Bambino
e le Sante Caterina e Maddalena
Giovanni Bellini
1500 ca Venezia, Gallerie dell'Accademia |
inda
hoje muitas pessoas pensam que só existam quatro evangelhos,
e outras há que, mesmo sabendo da existência dos evangelhos
gnósticos, simplesmente os desqualificam. A questão em
aberto é por que a Igreja Católica (e seus acólitos),
ao correr dos séculos, remeteu essas obras para os porões
– isso quando não conseguiu queimá-las durante grande
parte da Idade Média, como foi o caso do Epitome Astronomiæ
Copernicanæ de Kepler, publicado entre 1617 e 1621, e que
foi colocado no Index de livros proibidos pela Igreja Católica
em 10 de Maio de 1619, simplesmente porque ela, a Igreja, abominava
a idéia de um modelo heliocêntrico. A razão da proibição
estava fundada no conteúdo questionável do Salmo 103:5
no qual está escrito: Fundaste a Terra sobre as suas bases,
e não vacilará pelos séculos dos séculos.
Mas isso é muito fácil de entender: quem tem o poder faz
de tudo para não o perder, nem que seja preciso queimar, mentir
e ranger. Historicamente, essa coisa toda começou em 1559 quando
Paulo IV fez publicar o primeiro Index Auctorum et Librorum Prohibitorum,
isto é, a primeira lista oficial de livros proibidos pela Igreja
Católica. Mas, eu pergunto: quem pode proibir o quê?
Ainda
que a maior parte da história conhecida tenha sido escrita pelos
vencedores – e a Igreja Católica é uma vencedora
– muitas obras foram preservadas da fúria piroclástico-eclesiástica
para que pudessem vir a público quando as liberdades não
estivessem mais, de um modo geral, tuteladas nem pela cristandade nem
pelos donos do poder – ainda que essa tutela não tenha
desaparecido completamente, como de fato jamais será inteiramente
abolida. De vez em quando essas tutelas parecem voltar e revolutear
como em um rodamoinho-delírio avassalador, principalmente sob
a forma de perseguição aos místicos. Então,
que os místicos tomem as precauções que acharem
convenientes, porque eu já tomei a minha: não dou a menor
bola para esses fedorentos. Isso para não usar aquele verbo que
você deve estar pensando (sinônimo de obrar e de defecar).
De
qualquer maneira, o que se passou exatamente há dois mil anos
jamais saberemos com exatidão. Quem escreve uma obra qualquer
– um evangelho, por exemplo – mesmo que procure ser fiel
às informações e aos fatos históricos, inconscientemente
(e até conscientemente) irá colori-la um pouco mais ou
um pouco menos de acordo com a sua cultura e com o seu próprio
nível de desenvolvimento espiritual e consciência dos episódios.
Não interpretar e não colorir é, de certa forma,
impossível. Por outro lado, no que concerne a percepções
místicas, estas podem ser realmente intuídas transracionalmente,
mas, uma coisa é intuí-las – acessá-las mística
e psiquicamente – outra é decodificá-las
concertadamente. A encarnação, naturalmente, impõe
um véu difícil (mas não impossível) de ser
desvelado. Como disse Xenófanes de Cólofon, a opinião
reina em tudo.
Quando
escrevi o texto Revisitação Comentada de Algumas Sentenças
Crípticas e Herméticas do Evangelho de Tomé,
afirmei: Na Palestina de vinte séculos atrás eram
basicamente falados três idiomas: o aramaico, pelo povo em geral;
o hebraico, pelos intelectuais judeus; e o grego, pelos comerciantes
e pelos negociantes. Por isso, cautela! É praticamente impossível
fazer com exatidão a transposição do tempo, da
voz, da pronúncia e dos modos verbais da origem para a contemporaneidade,
seja próxima ou mais remota. E os evangelhos inseridos na Bíblia
foram escritos muitos anos depois de os fatos ali narrados terem acontecido.
Teriam tais fatos realmente acontecido da forma como são geralmente
conhecidos? Mais cautela! Esse é, portanto, um outro nó
que deve ser levado em consideração e desatado adequadamente
na leitura de textos bíblicos, por exemplo. E as entrelinhas
dizem mais (mas ocultam!) do que as linhas, e como os suppressoris
librorum prohibitorum só lêem as linhas – pois
não enxergam mais do que um palmo à frente da focinheira
– não conseguiram apagar as entrelinhas! Ainda bem!
Para ler o ensaio sobre o Evangelho de Tomé dirija-se
a:
http://paxprofundis.org/livros/tome/tome.html
Mas,
afinal quem foi Maria Madalena? Isso importa? Não importa nada.
Não importa se foi ou se não foi casada com Jesus (aliás,
com relação a Jesus tudo é tabu, pecado, dogma
ou mistério, mas, Akhnaton, só para citar um exemplo,
foi casado com Nefertiti e ninguém se horroriza ou questiona
esse fato), se teve ou se não teve um filho com Jesus e se o
Santo Graal foi uma taça ou o seu útero. Especula-se sobre
tudo. Para aparecer na mídia, especula-se; para ser reconhecido,
especula-se; por esquizofrenia, especula-se; para simplesmente contraditar,
especula-se; para desqualificar, especula-se; por teologismo, especula-se;
para amedrontar, especula-se; para dominar, especula-se; enfim, especula-se
por todos os motivos, mas, em todos esses casos, essas especulações
são geralmente menores e maledicentes. Eu ficaria muito feliz
se soubesse (ou tivesse a certeza) de que o Mestre Jesus era casado,
e, por isso, vou especular um pouco também, mas por nenhum dos
motivos acima. Compare a animação abaixo da obra-prima
A Última Ceia de Leonardo da Vinci (1452 - 1519) –
considerado o talento mais versátil da Itália do Renascimento
– com a Madonna
con il Bambino e le Sante Caterina e Maddalena de Giovanni
Bellini que abre este ensaio. Por outro lado, por que entre o primeiro
apóstolo da esquerda (à direita de Jesus) e Jesus, na
obra de Leonardo, há um intervalo que desenha a letra V? Qual
o significado oculto da letra V? Seria esse apóstolo uma mulher?
Se Leonardo pintou uma mulher em A
Última Ceia, esta não poderia
ter sido outra que não tivesse sido Maria Madalena. De qualquer
forma, em um sentido puramente místico-alquímico,
pergunto: como poderia Jesus não ter sido casado?
O grave nesta matéria é que as pessoas quando pensam em
casamento pensam sempre em sexo e filhos. E o casamento
místico-alquímico nada tem de sexual no sentido
usual do conceito, nem obrigatoriamente deverá produzir filhos.
Mas, vou perguntar mais uma vez: o que importa tudo isso? Só
importaria (e mesmo assim relativamente) se soubéssemos exatamente
o que é um casamento
místico-alquímico.
|
Última
Ceia
Leonardo
da Vinci |
O
que de fato importa para nossa reflexão é que –
se a história for fidedigna – Maria Madalena esteve sistematicamente
ao lado de Jesus e teve acesso a informações misticamente
classificadas devido à sua condição de discípula
e de Torre Esotérica da Gnose Cristã. Segundo os historiadores,
ela deixou escrito um pequeno Evangelho – que das suas dezenove
páginas originais, segundo consta, chegaram à contemporaneidade
apenas seis – e é este Evangelho que, sem consultar comentadores,
passarei a examinar a partir de agora segundo um olhar puramente místico-iniciático.
E assim, meus dois dedos indicadores vão digitar o que o pensamento
comandar, pois o Evangelho de Madalena será, por assim dizer,
mais um tipo de catalisador para estimular minha reflexão sobre
temas profundamente místicos e importantíssimos para a
libertação do homem nesta Nova Era que está a começar.
O que for passagem do Evangelho de Maria Madalena estará em itálico
e sublinhado.
1 - Todas as
espécies, todas as formações, todas as criaturas
estão unidas; elas dependem umas das outras e se separarão
novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria
somente se separará de novo em sua própria essência.
Comentário:
Tudo é UM. All Are One. Mas, quando
se cumpre o tempo as criaturas retornam para o Plano Vibratório
que as originou, ou serão recicladas. Contudo, a evolução-movimento
ad semper é uma Lei Universal, e, por isso, pelo mérito
– e só pelo mérito – poderemos ascender, isto
é, mudar de Plano, de Faixa vibratória. Somos todos responsáveis
por tudo. Não há milagre; não há prêmio;
não há punição. Ou aprendemos, ou aprenderemos.
E então, quando aprendermos, não mais retornaremos para
a mesma essência, mas para uma oitava acima no seio da Essentia
Mater. E continuaremos a aprender... Pois em nosso interior
há um fragmento, uma centelha, indissociável da Eterna
Luz. Lumen de Lumine. Poderemos,
contudo, retornar, mas por compaixão.
2 - Jesus disse:
— Não há pecado; sois vós que os criais...
Comentário:
Essa questão do pecado está intimamente ligada
(entre outras ligações) à necessidade do homem
em separar o bem do mal, mas sem compreender exatamente o que seja um
e o que seja o outro. E assim, as várias teodicéias, particularmente
as derivadas da vertente judaico-cristã, chegaram ao limite de
inventar o mais absurdo de todos os pecados: o pecado original –
que pretende explicar a origem da imperfeição humana e
sua inclinação para praticar o mal, cujo nascedouro está,
segundo o Genesis, nos primeiros seres humanos criados por
Deus que, ao desobedecerem diretamente a Deus, viram sua condição
humana irreversivelmente modificada e temporariamente dessacralizada.
Escreveu Fernando Pessoa em Pecado Original:
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Antes de prosseguir
direi que nunca não é propriamente nunca: será
nunca enquanto quisermos que seja nunca. Seguindo. O pecado (e o pecado
original em primeiro lugar, quer seja ele considerado sob a perspectiva
evolucionista monogenista, quer seja ele considerado sob a perspectiva
evolucionista poligenista) foi e continua sendo um instrumento muito
bom e muito útil de exercitação do poder, pois
sem ele a indústria dos negócios salvíficos com
Deus já teria falido há muito tempo e os gerentes desses
negócios estariam desempregados.
Ora, aquilo que os místicos
denominam de Consciência Cósmica não é boa
nem é má – é neutra.
A essa neutralidade pode-se, de uma forma místico-iniciática,
denominar de Summum Bonum, que absolutamente não pode
ser confundida com ociosidade ou com inação. Mas, mais
do que a Justiça humana, comparativa e imageticamente,
o Summum Bonum é cego, surdo e mudo, já que a
Justiça é (teoricamente), por comparação,
apenas cega, não sendo (ou não devendo ser, no caso da
Humanidade) nem surda nem muda. O Summum Bonum é cego,
porque vê e não interfere; é surdo, porque ouve
e não opina; e é mudo, porque não se dissipa perdulariamente.
Se eu tivesse que escolher o maior bem que o homem possui eu escolheria
a LIBERDADE, pois a existência seria inútil
se algo ou alguém fizesse pelas criaturas o que elas devem fazer
por si. Portanto, a LIBERDADE está indissoluvelmente
amalgamada com a RESPONSABILIDADE. Em suma: o Summum
Bonum terá que ser conquistado. Individualmente. Por tudo
isso, entendeu Blaise Pascal (1623-1662): O Universo é uma
esfera cujo centro está em toda a parte e cuja circunferência
não está em parte alguma. Se trocarmos, na máxima
acima, Universo por Summum Bonum...
O que é, então,
o mal? Simplesmente o afastamento dessa neutralidade. E o que é
o bem? Simplesmente o contraponto ao afastamento dessa neutralidade.
Imagine-se um determinado Plano do Teclado Universal. Imagine-se agora
que nesse Plano se manifeste uma coisa qualquer. Para que essa coisa
manifestada possa ser promovida a um nível freqüencial mais
elevado é necessário que ela esteja o mais próximo
possível da neutralidade harmônica de sua faixa vibratória
– o Summum Bonum para aquela faixa – portanto,
nem boa nem má e nem justa nem injusta. Então, a afirmação
de que quanto mais alta for a freqüência vibratória
de um determinado ser, mais perto ele estará do Espírito
de Deus é um equívoco da compreensão dianóico/noética.
A psicopatia do mal é equivalente à paranóia do
bem, e tanto o malvado contumaz quanto aquele que infernizou sua própria
vida com a mania de fazer o bem a qualquer custo terão que compreender
esses exageros ou desarmonias. Mas, então, não se deve
praticar o bem? Tanto faz praticar o mal como o bem? Não. Como,
geralmente, os excessos e os deslizes são para menos, ou seja,
o afastamento da neutralidade se faz para a esquerda e/ou para baixo
(ainda que esquerda e embaixo sejam inteiramente relativos), o contraponto
para neutralizar esses excessos é pela via contrária,
isto é, o bem – ou o que a criatura humana julga que seja
o bem (que também é relativo). E quando um bem relativo
e individual é feito, esse bem afeta todo o Plano em que a coisa
beneficiada está inserida, e, por extensão, todo o Universo
– a coisa beneficiada e o Plano, pelo exercício do bem,
tendem a se aproximar da neutralidade para aquele Plano, isto é,
para o Summum Bonum que perpassa aquele Plano. Então,
quando Jesus afirmou, pelos escritos de Madalena, que não
há pecado; sois vós que os criais,
não estava dizendo outra coisa que não fosse
alertando para o distanciamento (volitivo ou não) da neutralidade
harmônica das freqüências vibratórias
que deslizam pelo e interagem com o Plano Terra – uma expressão
do Summum Bonum. Se assim não fosse, não seria
possível ao homem produzir, alcançar e realizar, ainda
que efemeramente, contatos místicos com esse Plano de harmonia
neutra, dinâmica e perpétua. Na meditação
sincera e desinteressada, na qual nada é desejado ou solicitado,
esse Plano pode ser percebido ou realizado, ainda que, repito, efemeramente,
mas fundamentalmente pelo trabalho e pelo mérito. Não
sei se a animação abaixo representa adequadamente esse
entendimento, mas é assim que eu o compreendo e que pude pictoricamente
expressá-lo. Observe, na animação, que nesse excelso
estado o ser não consegue discernir o que é bem e o que
é mal. A diferenciação se faz quando ele retorna
desse estado e, por comparação, atribui valores ao antes
e ao depois da experiência mística.
3 - A matéria
produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário
à Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibrou.
Comentário:
O que poderia significar paixão sem igual?
O que poderia significar Natureza Divina? Penso que
paixão sem igual possa estar referido ao afastamento
do Summum Bonum comentado no item anterior, que, para efeito
didático, pode ser denominado de Natureza Divina.
Como a queda do homem é uma ficção muito mal engendrada,
na verdade o afastamento se dá pela própria natureza das
manifestações (mal interpretada por Baruch Spinoza, 1632-1677,
como Natura Naturata – o Mundo e as coisas criadas –
em contraposição a Natura Naturans – Deus
e seus atributos eternos e infinitos). Não se pode comparar o
vírus H5N1 da gripe aviária, que anda ameaçando
a Humanidade agora em 2005, com os vírus causadores de mosaico
no feijão, nem esses mesmos vírus com um gato doméstico
ou com o homem. Suas freqüências de manifestação
são distintas. Leite de pedra não se tira e só
se compreende o que se pode compreender. Desejos, cobiças, paixões
e equívocos são mais ou menos intensos relativamente ao
maior ou menor distanciamento da harmonia universal para um dado Plano,
pois é nesse Plano que as criaturas desse Plano se manifestam
e compreendem como seres individualizados. E essa compreensão
em nada depende de uma maior ou menor cultura escolástica. Os
generais que fazem as guerras não podem compreender uma linha
das obras de Jacob Boehme (1575-1624), que era sapateiro, mas Jacob
Boehme, se estivesse vivo, saberia compreender muito bem o que esses
generais andam fazendo.
Portanto, quanto mais
distanciada uma natureza qualquer esteja de seu ponto de equilíbrio,
mais desequilibrada estará (ou ficará) em relação
ao Summum Bonum. Mas, como não querer (e condenar) que
uma sucuri não abrace uma capivara, ou que um tigre não
prede uma gazela? Da mesma forma que um autor místico, às
vezes, escreve coisas que nem ele próprio esperava que fosse
escrever, pois são inspirações existentes e oriundas
de Planos freqüenciais com os quais se harmonizou temporariamente
em função do serviço que está desempenhando,
muitos seres, muitas vezes, cometem barbaridades sem se dar conta do
que estão fazendo, e, portanto, para tais seres não são
barbaridades. Enfim, deve ser mais ou menos como está escrito
(se foi dito): Pai, perdoai-os pois não sabem o que fazem.
4 - Disse Jesus:
— A Paz esteja convosco. Recebei minha paz. Tomai cuidado para
que ninguém vos afaste do Caminho, dizendo: 'Por aqui' ou 'por
lá'...
Comentário:
Mais uma vez me socorro de Raymond Bernard: Na Via Iniciática
prestigiosa que seguimos, as tentações são numerosas,
as quedas ocasionais e a dúvida periódica. Nada é
mais fácil do que depois de achar o Caminho dele se afastar,
porque o Caminho não é sempre ensolarado, florido e perfumado.
Os apelos são gigantescos e o Corpo dos Desejos não dorme.
Mas estou convencido de que, por experiência pessoal, quando há
sinceridade o retorno é inevitável. E é quase uma
verdade absoluta que uma vez iniciado, sempre iniciado. Mas há
exceções – os excomungados. Estes traíram
e 'pecaram' no sentido mais abjeto do vocábulo. Voltarão?
Serão aceitos novamente? Depende exclusivamente deles. Eu não
os julgarei jamais. Mas, discordo inteiramente de Oscar Wilde (1854-1900)
quando afirmou: A única maneira de livrar-se de uma tentação
é ceder a ela. Por isso ele mesmo escreveu: Posso resistir
a tudo, menos à tentação.
5 - Onde está
a mente há um Tesouro...
Comentário
em três versos:
Onde está a mente
pura
Estará o sorriso
puro.
Contudo, nenhuma sinecura
Leva ao Mapa do Tesouro.
Pois o Mapa do Tesouro
Está no próprio
Coração.
Ele vale mais do que
ouro
E do que qualquer fraudação.
— Ei bambino! Toma
tino!
Vê se aprende esta
lição:
Tão-só
para o Peregrino
Se fará a Illuminação!
6 - Disse Maria Madalena:
— Mestre, aquele que tem uma visão vê com
a alma ou como espírito? Jesus respondeu e disse: —
Não vê nem com a alma nem com o espírito,
mas com a consciência, que está entre ambos – assim
é que tem a visão.
Comentário:
O melhor comentário a esta afirmação é
transcrever do Manual Rosacruz o conceito de personalidade-alma,
entendimento de todos os Rosacruzes e ensinado pelo fundador deste Segundo
Ciclo Iniciático da Ordem
Rosacruz AMORC, Dr. Harvey
Spencer Lewis (Mestre Alden): A personalidade é
o Eu, e o Eu é uma expressão da Alma no interior do corpo
do homem. A Alma se esforça para manifestar sua natureza divina
e qualidades cósmicas através da consciência objetiva
do homem. Na proporção em que o homem se torna consciente
de sua essência divina, sua Alma – e nessa mesma proporção
o Eu ou personalidade – com ela se identifica. A personalidade,
portanto, é a manifestação objetiva da reação
do indivíduo ao segmento inseparável da Alma Universal
com que o homem está infundido. À medida que
o homem eleva sua consciência objetiva e se torna mais sensitivo
às influências de sua própria Alma, mais a sua conduta
e os seus pensamentos representam a natureza espiritual da Alma. A Alma
é a essência perfeita no homem, pois é parte da
essência da Alma Universal que flui através
de todos os homens, da mesma maneira. É a personalidade, portanto,
que o homem deve gradualmente fazer evoluir. Esta evolução
consiste em fazer com que a personalidade se identifique, absolutamente,
com a natureza da Alma, para expressar, objetivamente, todas as qualidades
espirituais interiores. Assim, tudo se resume a duas palavras,
dois conceitos, preliminares que devem ser obedecidos por todo e qualquer
místico que está em Peregrinação: TRABALHO
e MÉRITO. Ambos, entretanto, comandados pela
VONTADE.
7 - E o desejo
disse à alma: Não te vi descer, mas agora te vejo subir.
Por que mentes, já que pertences a mim? A alma respondeu e disse:
Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como mero
acessório e não me reconheceste.
Comentário:
Aqui vale a pena recordar Emmanuel Kant (1724-1804). O imperativo
hipotético determina o curso de uma ação
para se chegar a um fim específico (se for Beta,
deverá ser Gama); o imperativo categórico
vale por si só e ordena o curso da ação que precisa
ser seguida e praticada devido às suas imparcialidade, correção
e necessidade (deve ser Alfa). Os imperativos
hipotéticos estão subordinados a uma determinada
condição: correspondem, por exemplo, a ações
praticadas como meio de evitar tal ou qual punição, ou
para se obter tal ou qual recompensa. O imperativo categórico
foi formulado por Kant nestes termos: Age como se a máxima
da tua ação devesse se tornar, pela tua vontade, uma lei
natural geral. Para concluir este comentário, parafrasearei
Marcel Proust (1871-1922): Quem apenas labora para possuir bens materiais
acaba não possuindo nada. Se o vácuo existisse, o vácuo
seria esse nada, que, ilusoriamente, pode representar tudo para o ignorante.
8 - A potência
ignorância inquiriu a alma dizendo: Aonde vais? Estás aprisionada
à maldade. Estás aprisionada, não julgues! E a
alma disse: Por que me julgas apesar de eu não haver te julgado?
Comentário:
Conforme já reproduzi mais acima, disse Bernard: ... as tentações
são numerosas... Mas, aprendi uma Lei que vou divulgá-la
agora. Todos sabemos que não se passa um dia em que não
sejamos tentados, e tentados de todas as formas. Mas, de onde vem o
desejo? Onde, realmente, se produz a tentação? Fora? Fora
poderá catalisar (desencadear pela própria presença
ou existência) o afastamento da neutralidade – vale dizer,
do harmonium ou do æquilibrium – mas é
dentro que a coisa toma forma e terá seguimento, se permitirmos.
Então, quando isso acontece comigo eu dou o seguinte comando
silente: DETERMINO, AGORA, QUE ESSE DESEJO SE DILUA.
NÃO CEDEREI. AGORA. ESTÁ SELADO. Posso
afirmar com segurança que não se passam dez segundos para
que desejos, paixões e pensamentos detrimentais se desfaçam.
Essas tentações, muitas vezes, costumam tentar tomar conta
e dominar o ser imediatamente antes de dormir ou enquanto o indivíduo
dorme. A fórmula acima resolve o problema imediatamente, como
resolve também quando alguém tem pesadelos (recorrentes
ou não). Evidentemente que essa fórmula – que, na
verdade, serve para tudo – só terá efeito se o indivíduo
realmente não estiver disposto a ceder exercendo a sua vontade
– que, em princípio, misticamente, deve ser soberana.
9 - Quando a
alma venceu a terceira potência, subiu e viu a quarta potência,
que assumiu sete formas. A primeira forma, trevas; a segunda, desejo;
a terceira, ignorância; a quarta, é a comoção
da morte; a quinta, é o reino da carne; a sexta, é a vã
sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são
as sete potências da ira...
Comentário
em forma de animação em flash:
10 - A alma respondeu
dizendo: O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi
derrotado... e meu desejo foi consumido e a ignorância morreu.
Em um mundo fui libertada de outro mundo; ... fui libertada... dos grilhões
do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante,
alcançarei em silêncio o final do tempo propício,
do reino eterno...
Comentário:
Um místico só poderá almejar e conquistar
a verdadeira Liberdade e a Illuminação
se vencer e tiver dominado os desejos, as iniqüidades, as paixões,
a tortura da ilusão, as cobiças... Então, a objetividade
tentadora que contamina a subjetividade será ultrapassada, assim
como a subjetividade conspurcada não terá ascendência
sobre o Eu... A ignorância será paulatinamente dissipada
pela Voz Interior... In corde... Mal e bem convergirão
para a neutralidade... Para a harmonia neutra, mas dinâmica...
O que estava esquecido, gradualmente, vai sendo lembrado... Faz-se o
Reino do Silêncio que é e não é silente...
A vida passa a ser uma real e efetiva expressão da VIDA...
11 - É
antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito...
não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador
nos legou.
Comentário:
Do Cristianismo original e das doutrinas de Jesus e
seus Pequeninos muito pouco ainda é mantido e divulgado nas religiões
dele derivadas. Inventou-se de tudo para que o poder secular não
desmoronasse, e a prístina espiritualidade em grande medida se
perdeu em meio ao autoritarismo eclesial.
Música
de fundo:
This Is The Time (Billy
Joel)
Fonte:
http://members.tripod.com/scottpreston/music.html
|