MAHMOUD ABBAS
(Pensamento Geopolítico)

 

 

 

Mahmoud Abbas

Mahmoud Abbas

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Este texto complementa e encerra o estudo, pouco profundo, reconheço, sobre a Geopolítica do Oriente Médio, iniciado com o trabalho, já divulgado, Idéias Geopolíticas de Rami Khouri. Como eu disse naquele trabalho, podemos, mas não devemos viver no mundo sem conhecê-lo. Pelo menos, algumas informações de geopolítica precisamos ter. Não tenhamos dúvida quanto ao fato de a paz no mundo depender, em grande medida, de uma reconciliação concertada entre palestinos e judeus. O que acontece no Oriente Médio acaba refletindo no mundo inteiro. E assim, para acrescentar alguma coisa sobre esta matéria, já que o Website Pax Profundis não alija nada, hoje, estou publicando alguns pensamentos de Mahmoud Zeidan Abbas, Presidente da Autoridade Nacional Palestina, desde janeiro de 2005.

 

Sem escolha ou preferência, dedico este estudo a todos os seres-aí alijados, diaporizados e nakbados.

 

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

 

Mahmoud Abbas

Mahmoud Abbas

 

 

 

Mahmoud Zeidan Abbas, também conhecido pelo nome de guerra Abu Mazen, é Presidente da Autoridade Nacional Palestina desde janeiro de 2005.

 

Mahmoud nasceu na Palestina em 26 março de 1935.

 

Foi um dos fundadores, junto com Yasser Arafat, da Organização Fatah. Desempenhou também funções como Primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina entre março e outubro 2003.

 

Em 1948, quando tinha treze anos, abandonou a sua cidade natal como resultado da primeira guerra israelo-árabe e se tornou, à semelhança de outros árabes palestinos, um refugiado. A sua família fixou residência em Damasco, na Síria, onde Mahmoud cresceu e se educou. Trabalhou como professor do ensino primário, e, em 1957, se mudou para o Qatar, onde conseguiu um emprego como chefe de pessoal no funcionalismo público local. Em 1958, concluiu a sua formação em Direito na Universidade de Damasco.

 

Durante sua estada no Qatar, entrou em contato com os grupos políticos palestinos, tornando-se, junto com Yasser Arafat e Faruq Qaddumi (Abu al-Lutf), um dos fundadores do Fatah (ou Al-Fatah). À semelhança do que fizeram Arafat e outros militantes, adotou o nome de guerra Abu Mazen. Abu, que significa pai de, é um nome que os homens árabes tomam quando nasce o seu primeiro filho varão; neste caso, Mahmoud já era pai de um menino nascido em 1960 chamado Mazen.

 

Em 1964, tornou-se membro do Comitê Central da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e, em 1968, do Conselho Nacional Palestino. Neste ano, apóia a decisão de Arafat de integrar a Fatah na Organização, que reunia os grupos políticos e os grupos armados da causa nacionalista palestina.

 

Durante os anos setenta, manteve contatos com membros da esquerda e com grupos pacifistas de Israel, atitude reprovada pelos palestinos mais radicais.

 

Em 1982, concluiu o doutoramento em História pela Universidade Estatal de Moscou. A sua tese foi uma análise sobre as relações entre o Sionismo e o Nazismo, e lhe valeu a acusação de anti-semitismo por parte de grupos judaicos.

 

Dois anos antes, Mahmoud havia sido eleito membro do Comitê Executivo da OLP e, em 1984, tornou-se chefe do Departamento de Relações Externas da mesma organização. Em 1989, em pleno período da Primeira Intifada, realizou contatos secretos com representantes israelitas sob os auspícios de neerlandeses.

 

Em junho de 2007, dão-se violentos confrontos da Faixa de Gaza entre partidários do Hamas, então no Governo, e do Fatah. O Hamas toma pela força o controle sobre o território de Gaza, em uma ação condenada pela maior parte dos países e pelas Nações Unidas. Estas ações levam-no a declarar o estado de emergência.

 

Hoje, aos 78 anos, Mahmoud, como ele próprio afirmou, gostaria de ser lembrado apenas como alguém que trabalhou muito duro para conquistar algo para o seu povo.

 

 

 

Mahmoud Abbas
(Pensamento Geopolítico)

 

 

 

Bandeira do Estado Palestino

 

 

 

Vamos construir pontes de diálogo, em vez de postos de controle e muros de separação. Precisamos construir relações de cooperação com base na eqüidade e na paridade entre dois Estados vizinhos, em vez de estabelecer políticas de ocupação, assentamentos, guerras e eliminação mútua.

 

Só temos um objetivo: poder ser. E seremos.

 

Nós aderimos à renúncia da violência e à rejeição do terrorismo, especialmente ao terrorismo Estado.1

 

Após 63 anos de sofrimento: basta, basta, basta. É hora de o povo palestino obter a sua liberdade e os seus direitos. Chegou a hora da Primavera Palestina, da independência.

 

Não podemos construir as bases de um Estado sem Estado de Direito.

 

Nenhum Estado na Terra pode se dar ao luxo de permitir que várias autoridades coexistam uma ao lado da outra.

 

Há, ainda, alguns capítulos desta luta épica pela liberdade que temos de escrever antes que se fechem os cárceres da ocupação.

 

É o momento da verdade. O meu povo está esperando ouvir a resposta do mundo. Somos o último povo a estar ocupado. Permitirá o mundo que Israel esteja acima da lei? Será isto aceitável?

 

 

Não à guerra; sim à paz.

 

 

Nossos esforços não visam isolar Israel ou deslegitimá-lo, mas, conquistar legitimidade para o povo da Palestina. Queremos apenas deslegitimar as ações dos colonos.

 

O objetivo do povo palestino é o reconhecimento de seus direitos nacionais inalienáveis em seu Estado independente da Palestina, com Jerusalém Oriental como capital, em todas as terras da Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza – que Israel ocupou na guerra de junho de 1967 – em conformidade com as resoluções da legislação internacional e com o reconhecimento de uma solução justa e acordada para a questão dos refugiados da Palestina.

 

Reafirmo nosso interesse em respeitar todas as nossas obrigações e implementar todos os nossos compromissos.

 

Precisamos de apoio internacional para que o nosso povo possa viver uma vida de normalidade, de dignidade e de liberdade. Espero que o nosso grito por liberdade possa ser ouvido.

 

A Questão Palestina está intrinsecamente relacionada com as Nações Unidas, por meio das resoluções aprovadas por seus diversos órgãos e agências e pelo papel essencial e elogiável da United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East [Agência das Nações Unidas de Ajuda Humanitária e Emprego para os Refugiados Palestinos no Oriente Médio] - UNRWA - que representa a responsabilidade internacional em relação à situação dos refugiados palestinos, vítimas da Al-Nakba2 de 1948. Aspiramos e buscamos um papel maior e mais eficaz para as Nações Unidas no que diz respeito ao trabalho para alcançar uma paz justa e abrangente em nossa região, que assegure os inalienáveis e legítimos direitos nacionais do povo palestino, tal como definido pelas resoluções da legislação internacional das Nações Unidas.

 

Eu, certamente, posso me colocar no lugar de Israel. Eles são seres humanos, assim como nós somos. Eles querem paz e segurança dentro de suas fronteiras.

 

Israel reocupou as cidades da Cisjordânia por uma ação unilateral, e restabeleceu a ocupação civil e militar por uma ação unilateral, e é isto o que determina se um cidadão palestino tem ou não o direito de residir em qualquer parte do território palestino.

 

[Em esforços pela paz] não deixamos de bater em nenhuma porta, tentamos todos os canais, tomamos todos os caminhos e abordamos todos os aspectos formais ou informais de influência e estatura. Consideramos, positivamente, as várias idéias e propostas e iniciativas apresentadas por muitos países e partidos. Mas, todos esses esforços sinceros empreendidos pelas partes internacionais foram repetidamente destruídos pelas posições do Governo Israelense, que rapidamente acabou com as esperanças suscitadas pelo lançamento das negociações em setembro passado.

 

A questão central é a recusa do Governo Israelense em se comprometer com os termos de referência para as negociações, que se baseiam no direito internacional e nas resoluções das Nações Unidas, [Governo] que freneticamente continua a intensificar a construção de colônias no território do Estado da Palestina.

 

A questão central é que o Governo Israelense se recusa a se comprometer com os termos de referência para as negociações, que são baseadas no Direito Internacional e nas resoluções das Nações Unidas, e freneticamente continua a intensificar a construção de assentamentos no território do Estado da Palestina.

 

Nós [somos e] seremos capazes de mostrar ao mundo que merecemos independência e liberdade.

 

Não pode[re]mos construir um Estado viável com um país que está se desintegrando em pequenos pedaços.

 

Todos têm [a obrigação e] a responsabilidade de cumprir a lei e de respeitar a autoridade constituída.

 

As atividades relacionadas às colônias representam o núcleo da política de ocupação militar colonial das terras do povo palestino e toda a brutalidade da agressão e da discriminação racial contra o nosso povo que essa política acarreta. Essa política, que constitui uma violação do direito humanitário internacional e das resoluções das Nações Unidas, é a principal causa para o fracasso do processo de paz, o colapso de dezenas de oportunidades, e o enterro das grandes esperanças que surgiram quando da assinatura da Declaração de Princípios, em 1993, entre a Organização para a Libertação da Palestina e Israel, no sentido de alcançar uma paz justa que daria início a uma nova era em nossa região.

 

Estamos tentando levar o nosso povo a uma paz justa e segura, e queremos pavimentar o caminho para as próximas gerações.

 

Não permitiremos o caos armado, a tomada da lei nas mãos e os ataques à propriedade pública.

 

Eu só quero ter algum tempo de vida para alimentar meus filhos.

 

Nós temos a esperança de que, em vez de ultimatos, a diplomacia americana implante o diálogo e a persuasão. Este é o caminho que queremos nas relações internacionais.

 

Ninguém está acima da lei.

 

Nós queremos saber por que o Governo Israelense permite que os colonos judeus estejam armados e cometam crime após crime.

 

Hoje Gaza; amanhã Jerusalém!

 

Ninguém tem o direito de cancelar qualquer uma das questões que os israelenses e os palestinos negociam para encontrar uma solução definitiva para todas estas questões.

 

Os relatórios das missões das Nações Unidas, bem como de várias instituições israelenses e das sociedades civis, transmitem uma imagem terrível sobre o tamanho da campanha de colonização, da qual o Governo Israelense não hesita em se gabar, e que continua a executar por meio do confisco sistemático de terras palestinas e da construção de milhares de unidades de novas colônias em diversas áreas da Cisjordânia, especialmente em Jerusalém Oriental, e da construção acelerada do Muro de Anexação, que consome grandes extensões da nossa Terra, dividindo-a em ilhas separadas e isoladas e cantões, destruindo a vida familiar, as comunidades e os meios de subsistência de dezenas de milhares de famílias. A potência ocupante também continua a recusar licenças para nosso povo construir na Jerusalém Oriental ocupada, ao mesmo tempo que intensifica sua campanha de décadas de demolição e confisco de casas, desalojando os proprietários e residentes palestinos no âmbito de uma política multifacetada de limpeza étnica destinada a empurrá-los para longe de sua pátria ancestral. Além disso, foram emitidas ordens para a expulsão de representantes eleitos da cidade de Jerusalém. A potência ocupante também continua a realizar escavações que ameaçam nossos lugares santos, e seus postos de controle militar [checkpoints, no original] impedem nossos cidadãos de ter acesso às suas mesquitas e igrejas, e continua a cercar a Cidade Santa com um círculo de colônias destinadas a separar a Cidade Santa do resto das cidades palestinas.

 

O fato consumado, que muda a realidade, está minando a possibilidade real da existência do Estado da Palestina.

 

A guerra de agressão de três anos atrás, em Gaza, resultou na destruição maciça de casas, escolas, hospitais e mesquitas, e em milhares de mártires e feridos.

 

Nos últimos anos, as ações criminosas das milícias de colonos armados, que gozam da proteção especial do exército de ocupação, intensificaram-se com a perpetração de ataques freqüentes contra nosso povo, tendo como alvo casas, escolas, universidades, mesquitas, campos, plantações e árvores. Apesar de nossas repetidas advertências, a potência ocupante não agiu para conter esses ataques, e nós a consideramos totalmente responsável pelos crimes dos colonos.

 

A política de ocupação colonial israelense é responsável pelo fracasso continuado das sucessivas tentativas internacionais para salvar o processo de paz.

 

A política de colonização ameaça também minar a estrutura da Autoridade Nacional Palestina, e, até mesmo, acabar com sua existência.

 

Na verdade, o que testemunhamos é uma aplicação seletiva dos acordos, destinada a perpetuar a ocupação. Israel reocupou as cidades da Cisjordânia por meio de uma ação unilateral, e restabeleceu a ocupação civil e militar por meio de uma ação unilateral, e é Israel que determina se um cidadão palestino tem ou não o direito de residir em qualquer parte do território palestino. E está confiscando nossa terra e nossa água e obstruindo nosso movimento, bem como a circulação de mercadorias. E é Israel que obstrui nosso destino. Tudo isto é unilateral.

 

Nós poderíamos chegar a um ponto onde eu não conseguiria realizar o meu dever. Então, contra e apesar das minhas convicções, eu não continuarei sentado neste lugar.

 

O caminho para a paz é nos sentarmos juntos à mesa de negociação, não o caminho de assassinatos e de ações unilaterais.

 

A paz e a segurança não podem ser garantidas pela construção de muros e de postos de controle e pelo confisco de terras, mas, sim, pelo reconhecimento de direitos.

 

'Não deixem o ramo de oliveira cair da minha mão.' (Frase de Yasser Arafat em 1974, apud Mahmoud Abbas).

 

 

Yasser Arafat

 

 

Porque acreditamos na paz e por causa de nossa convicção na legislação internacional, e porque tivemos a coragem de tomar decisões difíceis para o nosso povo, e na ausência absoluta de justiça, decidimos adotar o caminho da justiça relativa – justiça que é possível e que poderia corrigir parte da grave injustiça histórica cometida contra nosso povo. Assim, concordamos em estabelecer o Estado da Palestina em apenas 22% do território da Palestina histórica...

 

Nosso povo continuará sua resistência popular pacífica à ocupação israelense, bem como à colonização, às políticas de apartheid3 e à construção do Muro de Anexação racista, e recebem apoio por sua resistência, o que é compatível com o direito humanitário internacional e com as convenções internacionais, e contam com a ajuda de pacifistas de Israel e de todo o mundo, refletindo um exemplo impressionante, inspirador e corajoso da força desse povo indefeso, armado apenas com seus sonhos, sua coragem, sua esperança e suas palavras de ordem diante de balas, tanques, gás lacrimogêneo e buldôzeres.

 

Confirmamos a nossa confiança na opção política e diplomática; confirmamos que não tomaremos medidas unilaterais. Nossos esforços não são destinados a isolar ou deslegitimar Israel; queremos ganhar legitimidade para a causa do povo da Palestina. Apenas visamos deslegitimar as atividades da colonização, da ocupação, do apartheid e a lógica da força implacável, e acreditamos que todos os países do mundo estão conosco a esse respeito.

 

Desejamos que sejam as características do nosso Estado: a preservação da segurança do cidadão e da ordem pública, para a promoção da autoridade judicial e do estado de direito; o fortalecimento do papel das mulheres por intermédio de legislação, de leis e de participação; a garantia à proteção das liberdades públicas e o fortalecimento do papel das instituições da sociedade civil; a institucionalização de regras e de regulamentos para assegurar a responsabilidade e a transparência no trabalho de nossos ministérios e departamentos; o enraizamento dos pilares da Democracia como base para a vida política palestina.

 

O Estado que queremos será um Estado caracterizado pelo império da lei, pelo exercício democrático e a proteção das liberdades e da igualdade de todos os cidadãos, sem discriminação, e a transferência de poder por meio das urnas.

 

A crise é muito profunda para ser negligenciada, e o mais perigoso são as tentativas de simplesmente contorná-la ou adiar sua explosão.

 

Não é possível, nem prático e nem aceitável retornar à negociação, como de costume, como se tudo estivesse bem. É inútil entrar em negociações sem parâmetros claros e na ausência de credibilidade e de um calendário específico. As negociações serão insignificantes enquanto o exército de ocupação continuar a consolidar a ocupação em vez de encerrá-la, e continuar a mudar a demografia de nosso País a fim de criar uma nova base sobre a qual alterar as fronteiras.

 

A justiça é possível neste mundo. A perda de esperança é o inimigo mais feroz da paz e o desespero é o mais forte aliado do extremismo.

 

Israel deveria cumprir o que está determinado no Mapa do Caminho [Road Map], que diz claramente: 'Israel deve cessar a expansão de todo tipo de assentamento, incluindo a expansão natural'.

 

A questão é saber se Israel quer a paz ou não, e se ele está pronto para respeitar os seus compromissos internacionais, nomeadamente o Mapa do Caminho.

 

Se você perguntar aos israelenses, se fizer uma pesquisa em Israel sobre o que pensam dos assentamentos, verá que mais de 70% dos israelenses são a favor da interrupção e de, inclusive, erradicá-los das terras palestinas.

 

Hoje, 130 países reconhecem a Palestina como Estado. Temos missões em vários países, inclusive na Europa, mas já temos embaixadas em 130 países.

 

Em 1947, a Resolução 181 estabeleceu um plano de partição entre Palestina e Israel. Israel foi formado e a Palestina se dissolveu. Por quê?

 

No momento em que Israel reconhecer a Palestina, todos os países árabes, ou melhor, todos os 57 países muçulmanos, irão reconhecer e normalizar suas relações com Israel. Você pode imaginar Israel vivendo em um oceano de paz?

 

Eu não tenho nenhuma linha vermelha. Eu me encontro com todo mundo. Meus colegas irão a qualquer lugar em Israel para encontrar quem quer que seja.

 

[Benjamin] Netanyahu é nosso parceiro e foi eleito pelo povo. Não me cabe criticá-lo. Eu não quero falar contra ele.

 

Eu não digo “não” para nada.

 

Temos que negociar com os israelenses pacificamente. Esta é a nossa meta. Nossa ideologia. Nossa política. É a cultura dos palestinos. Não queremos voltar à violência.

 

Existem em Israel muitos partidos que recusam aos palestinos o direito de viver. E fazem parte da comunidade israelense. Por que usarem o Hamas como pretexto e não querer negociar conosco?

 

Embora a retirada israelense da Faixa de Gaza represente uma decisão unilateral israelense, e embora o Governo de Israel, há mais de um ano, recuse o nosso pedido de uma coordenação bilateral em garantia de uma regulamentar retirada, estamos satisfeitos com a atual evacuação dos colonos e das tropas de ocupação. Para considerar esse passo tão limitado como o início de uma reconciliação para a solução do conflito, é preciso continuar a seguir adiante. Não deve continuar a política de colonização na Cisjordânia, não deve continuar a política de 'judaização' de Jerusalém e nem deve continuar a construção do muro de separação racial. Queremos que essa retirada constitua o início da aplicação das resoluções da legalidade internacional da ONU, principalmente do Mapa do Caminho, que declara a obrigação de pôr fim à ocupação de 1967 e resolve o resto dos problemas como o relativo aos refugiados. Este é o princípio fundamental para conseguir a paz e garantir a segurança. Eu já esclareci esta posição, tanto nos meus encontros com o Presidente Bush quanto nos com o Primeiro-ministro Sharon. Creio que o Presidente Bush tenha entendido. A prova disso é a sua iniciativa e as suas idéias sobre a solução dos dois Estados. Sharon, ao invés, continua a repetir os seus famosos três não, já precedentemente recusados por nós, ou seja: a sua insistência em criar grandes complexos de assentamentos dentro da Cisjordânia; a sua recusa em negociar sobre Jerusalém; e enfim, a sua recusa em aceitar a volta dos refugiados. No que se refere à pergunta sobre a minha confiança em Sharon, a questão não é pessoal, mas se refere ao destino de dois povos. Não pode existir uma paz com a ocupação, e para alcançar a paz é preciso reconhecer o outro e respeitá-lo.

 

O Mapa do Caminho indica o ponto de partida e o ponto de chegada. Por isto, as suas etapas não estão em contradição com a solução definitiva, que lança as bases para uma paz equilibrada e duradoura e coloca fim definitivamente à ocupação iniciada em 1967, que compreende a Cisjordânia junto com Jerusalém Leste e a Faixa de Gaza. A execução do Mapa do Caminho foi e é obstada por parte dos israelenses. Eles começaram com os bem conhecidos quatorze pontos de reserva sobre o Mapa do Caminho desde o momento da sua aplicação, e, depois, decidiram esse desempenho unilateral de Gaza.

 

A comunidade internacional segue o processo de paz entre Israel e a Palestina com interesse. Para nós, é uma fonte de satisfação, mas, pessoalmente, espero que a quantidade de ajuda econômica aumente no futuro. O desemprego no nosso território chega a 70%. Cerca de 50% da população vive abaixo do limite da pobreza.

 

Através do exercício da Democracia, o povo certamente dará seu próprio voto aos que querem construir o País e desenvolvê-lo, dará seu próprio voto aos que protegerão o seu futuro com racionalidade e moderação. Este é um importante fator de convencimento para qualquer organização ou ação.

 

O nosso povo, com os seus cidadãos cristãos e muçulmanos, é um povo religioso com um certo critério e uma certa moderação. Historicamente, a Palestina é a pátria na qual judeus, cristãos e muçulmanos viveram juntos e na qual cada um exerceu livremente a própria fé. Se, recentemente, nasceram algumas formas de extremismo religioso, isto pode ter vários motivos: reações a determinados momentos e reações políticas, sentimento de frustração e desespero. Por isto, eu afirmo que quando existir uma esperança, ou melhor, quando o cidadão palestino puder gozar plenamente todas as suas liberdades, melhorando assim as próprias condições de vida, o extremismo não terá mais lugar na nossa sociedade.

 

A Democracia não é uma mercadoria à venda. Trata-se de métodos de Governo e de cultura verdadeira e própria. Cada Democracia está ligada às características de uma sociedade.

 

Não creio que se chegará à guerra [com o Irã pelo seu programa nuclear]. Os resultados que vemos no Iraque nos demonstram que as guerras e os conflitos complicam os problemas sem resolvê-los. Tenho confiança de que os esforços europeus conseguirão desativar esta crise e se chegará a uma solução para este problema.

 

A Terra Santa pertence às três religiões monoteístas. É uma verdade que deve ser compartilhada por muçulmanos, cristãos e judeus racionais. Segundo o meu modesto parecer, o problema não é a religião em si mesma, porque a fé é uma questão que se refere ao homem e ao Criador. O crente é aquele que crê no homem criado à imagem do Criador. Quem ama a Deus ama seus próprios irmãos homens. O problema é outro: é a politização da religião e o uso instrumental da fé para objetivos políticos e algumas vezes racistas em recusar o direito do outro. O problema é a monopolização de Deus para as próprias causas e a mobilização das pessoas através desses conceitos perigosos. Eu sou um muçulmano crente e a minha fé verdadeira é em todos os Profetas. Creio nas outras religiões, a judaica e a cristã, apoio e encorajo o diálogo entre as fés para encontrar elementos comuns que contribuam para o desenvolvimento desse diálogo, como quis o falecido Papa João Paulo II, que trabalhou para a concórdia entre os filhos de Abraão.

 

O Papa João Paulo II era um corajoso defensor dos direitos do povo palestino, e tinha uma profunda amizade particular com o nosso falecido Presidente Yasser Arafat.

 

Nossa posição é clara e firme: não interferimos nos assuntos internos dos países árabes e não-árabes, mas, estamos com os povos desses países e apoiamos seus anseios...

 

Bem baixinho, a fim de evitar vazamento: De todos os países que abraçam a questão palestina, é pelo Brasil que tenho mais simpatia. Eu me sinto um de vocês.

 

Historicamente, Brasil e Palestina são amigos. A amizade vem sendo demonstrada de várias maneiras: seja por intermédio de apoio político, seja através de investimentos econômicos, seja na forma de ajuda humanitária. O Brasil talvez seja o nosso maior parceiro. Foram vocês que nos apoiaram na ONU, e a partir daí quase toda a América Latina seguiu o exemplo. Somos muito gratos.

 

Sou um otimista quando se fala de paz. Queremos alcançá-la o mais breve possível. Não pretendo culpar ninguém até aqui pelas falhas, mas, assim que Israel estiver pronto para estabelecer dois Estados, de acordo com as fronteiras registradas antes de 1967, os palestinos estarão sentados à mesa para iniciar uma negociação justa. Estamos prontos; não queremos mais do que isto... Estamos prontos para qualquer oferta de paz.

 

Parem de nos atacar. Parem os assentamentos. Parem com as agressões e com os ataques diários ao nosso povo. Daí, não precisaremos ir à Corte [Penal Internacional], e voltaremos imediatamente para a mesa de negociações.

 

 

 

 

Há, neste momento, uma mobilização sangrenta acontecendo no Oriente Médio, que poderá levar regiões como a Cisjordânia ao extremismo e a mudanças radicais. O mundo tem que fazer alguma coisa. Os moderados estão desaparecendo da política nesta região, e a janela de oportunidade está se fechando.

 

O Hamas não é obstáculo para a paz.

 

Se não houver uma intervenção internacional em favor da paz, então, não haverá paz. A questão vai muito além de palestinos e israelenses. A paz regional traz benefícios para o mundo inteiro. Ela reflete na Europa e nos Estados Unidos. O interesse é mundial. Mas, para que isto aconteça, é preciso que os países digam 'basta' e nos ajudem. Quando Netanyahu estiver pronto, nós também estaremos.

 

Não interferimos politicamente ou na logística da Primavera Árabe, mas estamos monitorando os acontecimentos na região. Esperamos que todos os países envolvidos alcancem seus objetivos. E torcemos para que não termine como uma grande decepção.

 

Quando o Governo Israelense compreender que seu País precisa da paz, assim como nós e todos os outros países, conseguiremos resolver o conflito.

 

Meu povo deseja exercer seu direito de desfrutar de uma vida normal, como o resto da Humanidade. Ele acredita naquilo que o grande poeta Mahmoud Darwish4 disse: Estar aqui, ficar aqui, permanente aqui, eternamente aqui. E temos um objetivo, um, um: ser.

 

Chegou a hora de nossos homens, de nossas mulheres e de nossas crianças terem uma vida normal, para que sejam capazes de dormir sem esperar pelo pior que o dia seguinte trará; para que as mães tenham certeza de que seus filhos voltarão para casa, sem medo de sofrer prisão, morte ou humilhação; para que os estudantes sejam capazes de ir para suas escolas e universidades sem checkpoints. Chegou o momento de as pessoas doentes serem capazes de chegar aos hospitais normalmente, e de nossos agricultores serem capazes de cuidar de sua boa terra sem medo de que a ocupação confisque seu terreno e sua água, aos quais o muro impede o acesso, ou o medo dos colonos, para os quais as colônias vêm sendo construídas em nosso território, e que arrancam e queimam oliveiras centenárias. O tempo chegou para os milhares de prisioneiros serem libertados das prisões, a fim de voltar para suas famílias e para seus filhos, para tomar parte na construção de sua pátria e da liberdade que sacrificaram.

 

É claro que eu acredito na paz. Se não acreditasse, não estaria sentado nesta cadeira. O poder da autoridade nunca me encantou. Estou aqui para servir ao meu povo e para conduzi-lo à conquista de um Estado soberano. Eu ainda acredito que 2013 poderá trazer a paz, mas, se ela não vier, vamos continuar tentando. Mas, não sei até quando. Não vou ficar neste cargo para sempre. Não sei até quando. Só Deus sabe.

 

No futuro, quando os livros escolares contarem a História da construção do Estado Palestino, como gostaria de ser lembrado? Como alguém que trabalhou muito duro para conquistar algo para o nosso povo. Apenas isso.

 

 

 

 

 

 

Paz Profunda

 

 

 

Tanta dolor! Tanta morte!

Quousque tandem5 malícia?

Tanta perda! Tanto corte!

Só um tantinho de letícia!

 

Paz ao ser-aí palestino,

mas, paz com harmonia.

Bem ao ser-aí palestino,

mas, bem sem desvalia.

 

Tanto choro! Tanto ai!

Quousque tandem restrição?

Tanto entra! Tanto sai!

Só um tiquinho de adição!

 

Paz ao povo de Abraão,

mas, paz com humanidade.

Bem ao povo de Abraão,

mas, bem sem ansiedade.

 

Tanta embroma! Tanto não!

Quousque tandem lero-lero?

Tanto desdém! Tanto senão!

Só um pouquinho de bolero!

 

Paz ao Oriente Primaveril,

mas, paz com irmandade.

Bem ao Oriente Primaveril,

mas, bem sem mortandade.

 

Isto é simples, exeqüível;

é só fazer o cavalo andar.

Ora, nada é inacontecível;

basta o dragão engarrafar.

 

Enfim, se isto for feito,

acabarão morte e corte.

Do que antes era defeito

 

E o viver fará sentido

como via de ascensão.

Nada será esquecido,

 

Não é nefelibatismo;

sim, eu acredito nisto.

Um renovado batismo:

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Não existe essa coisa de especialmente ao terrorismo Estado. Não há terrorismo melhor ou terrorismo pior para que um deles possa ser considerado especial e ser tratado de forma especial. Terrorismo é terrorismo; sangue é sangue; morte é morte.

2. Nakba é uma palavra árabe () que significa catástrofe ou desastre, e designa o êxodo palestino de 1948, quando, pelo menos, 711.000 árabes palestinos, segundo dados da ONU, fugiram ou foram expulsos de seus lares, em razão da guerra civil de 1947 – 1948 e da Guerra Árabe-Israelense de 1948. O êxodo palestino marca o início do problema dos refugiados palestinos, um dos principais elementos do conflito árabe-israelense. Segundo Mahmoud Abbas, a diáspora da Nakba de 1948 foi uma das piores operações de desenraizamento, de destruição e de remoção de uma sociedade vibrante e coesa, que vinha contribuindo de modo pioneiro e protagonista no renascimento cultural, educacional e econômico do Oriente Médio Árabe.

3. Originariamente, apartheid (separação) designou o regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos Governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pela preconceituosa minoria branca. A segregação racial na África do Sul teve início ainda no período colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições gerais de 1948. A nova legislação dividia os habitantes em grupos raciais (negros, brancos, de cor e indianos), segregando as áreas residenciais, muitas vezes através de remoções forçadas. A partir de finais da década de 1970, os negros foram privados de sua cidadania, tornando-se legalmente cidadãos de uma das dez pátrias tribais autônomas chamadas de bantustões. Nessa altura, o Governo já havia segregado a saúde, a educação e outros serviços públicos, fornecendo aos negros serviços inferiores aos dos brancos. O apartheid trouxe violência e um significativo movimento de resistência interna, bem como um longo embargo comercial contra a África do Sul. Uma série de revoltas populares e protestos causaram o banimento da oposição e a detenção de líderes antiapartheid. Conforme a desordem se espalhava e se tornava mais violenta, as organizações estatais respondiam com o aumento da repressão e da violência. Reformas no regime durante a década de 1980 não conseguiram conter a crescente oposição, e em 1990, o presidente Frederik Willem de Klerk iniciou negociações para acabar com o apartheid, o que culminou com a realização de eleições multirraciais e democráticas em 1994, que foram vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança de Nelson Mandela.

 

 

 

 

4. Mahmoud Darwish (Al-Birweh, 13 de março de 1941 – Houston, 9 de agosto de 2008) foi um poeta e escritor árabe nascido na Palestina, na época do Mandato Britânico da Palestina (comissão legal para a administração da Palestina. Atribuição do Mandato: 25 de abril de 1920; Fundação de Israel: 14 de maio de 1948). Darwish é considerado o poeta nacional da Palestina. Seu trabalho, que evoca a dor do deslocamento com paradoxos sutis, foi traduzido em mais de 20 línguas. Na sua obra, além da angústia do exílio, a Palestina aparece como metáfora do 'paraíso perdido', o nascimento e a ressurreição. Darwish é o autor da Declaração de Independência da Palestina, escrita em 1988, e lida pelo líder palestino Yasser Arafat (Cairo, 24 de agosto de 1929 – Clamart, 11 de novembro de 2004), quando declarou unilateralmente a criação do Estado Palestino.

5. Quousque tandem? = Até quando?

 

Páginas da Internet consultadas:

http://gustavoacmoreira.blogspot.com.br/2012/
10/a-direita-e-o-apartheid-algumas-notas.html

http://www.thelovelyplanet.net/tag/palestine/

http://writersviews.com/article-
israel-nation-war-hate-anger.php

http://www.flickr.com/photos/
alsheshany/3181089962/

http://en.netlog.com/Rakaan_Alsheshany

http://zameer36.com/palestine-decided-to-bring-
war-crimes-charges-against-israel-over-settlements/

http://rapnation.me/forum/index.php?
/topic/7108-pusha-t-millions-feat-rick-ross/

http://juntos.org.br/2012/04/somos-todos-
prisioneiros-palestinos/palestina-fight/

http://www.famousquotes.com/
author/abbas/5

http://thinkexist.com/quotes/
mahmoud_abbas/4.html

http://thinkexist.com/quotes/
mahmoud_abbas/3.html

http://thinkexist.com/quotes/
mahmoud_abbas/2.html

http://thinkexist.com/quotes/
mahmoud_abbas/

http://www.brainyquote.com/quotes/
authors/m/mahmoud_abbas.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Mahmoud_Abbas

http://news.bbc.co.uk/2/hi/
middle_east/1933453.stm

http://www.jornalopcao.com.br/

http://www.iranews.com.br/noticia/

http://www.30giorni.it/articoli_id_9430_l6.htm

http://www.conjur.com.br/

http://www1.folha.uol.com.br/
fsp/opiniao/fz2111200907.htm

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mawtini

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mahmoud_Darwish

http://pt.wikipedia.org/wiki/Apartheid

http://s203.photobucket.com/user

http://www.heavy.com/news/2012/11/yasser-
arafats-tomb-top-10-fact-you-need-to-know/

http://www.cartamaior.com.br/templates/
materiaMostrar.cfm?materia_id=18558

http://pt.wikipedia.org/wiki/Nakba

http://www.frasecelebre.net/
Frases_De_Mahmud_Abbas.html

http://www.quemdisse.com.br/
frase.asp?frase=96015

 

Música de fundo:

Mawtini (, Minha Pátria)
Composição: Ibrahim Touqan (poema) & Muhammad Fuliefil (melodia)

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/mawtini.html

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.