Fragmentos
do Livro de Urântia
(Parte XII)
Rodolfo
Domenico Pizzinga
Originalmente,
a
adoração aos ancestrais acontecia
mais como um medo do que como um culto; mas estas crenças contribuíram
definitivamente para uma disseminação ulterior do medo e da
adoração dos fantasmas. Os devotos dos cultos primitivos dos
ancestrais-fantasmas temiam até mesmo dar um bocejo, sob pena de que
um fantasma maligno entrasse nos seus corpos nesse momento... O medo de fantasmas
foi a nascente de todas as religiões do mundo; e, durante eras, muitas
tribos sempre se agarraram à velha crença em alguma espécie
de fantasmas. Ensinavam que o homem tinha boa sorte, quando o fantasma estava
satisfeito, e, má sorte, quando ele estava irado.
A
religião evolucionária pagou um preço terrível
pelo conceito do espiritismo dualista. A filosofia primitiva do homem era
capaz de reconciliar a constância espiritual com as vicissitudes da
sorte temporal, apenas postulando duas espécies de espíritos:
uma, boa, e a outra, má. E, se bem que esta crença haja capacitado
o homem a reconciliar as variáveis do acaso com um conceito de forças
imutáveis supramortais, esta doutrina, desde então, tornou difícil,
para os religiosos, conceber a Unidade Cósmica. Os deuses da religião
evolucionária têm encontrado oposição, em geral,
nas forças das trevas... Mesmo no século XX, o conceito do bem
e do mal, como coordenada cósmica, permanece muito vivo na filosofia
humana; a maioria das religiões do mundo ainda traz esta marca cultural
de nascença, de dias longínquos, de quando emergiram os cultos
dos fantasmas... O Corão contém todo um capítulo que
é devotado ao mau-olhado e aos feitiços mágicos, e os
judeus acreditavam plenamente neles. Todo o culto fálico cresceu como
uma defesa contra o mau olhado. Os órgãos da reprodução
eram considerados como sendo o único fetiche que poderia torná-lo
sem efeito. O mau-olhado deu origem às primeiras superstições
sobre marcas pré-natais nas crianças, impressões maternais,
e em certo momento esse culto chegou a ser quase universal... E assim, foi
crescendo e se expandindo uma filosofia mundial que consistia nos aspectos
que se seguem: 1°) o dever – aquelas coisas que devem ser
feitas para manter os espíritos em uma disposição favorável,
ou, pelo menos, neutra; 2°) o
certo – as condutas e as cerimônias corretas destinadas a
ganhar dos espíritos uma posição ativa no interesse próprio;
e 3°)
a verdade – o entendimento justo dos espíritos e uma atitude
correta para com eles, e, portanto, para com a vida e a morte.
À
medida que as idades passaram, os vivos começaram a inventar métodos
de resistir aos mortos. Muitas técnicas foram desenvolvidas para amedrontar
os fantasmas e para afastá-los, entre as quais, podem ser citadas as
que se seguem:
1. Cortar a cabeça e atar o corpo à sepultura.
2. Atirar pedras à casa do morto.
3. Castrar ou quebrar as pernas do cadáver.
4. Enterrar o cadáver sob as pedras (esta é uma das origens
das modernas lápides sepulcrais).
5. Cremar (invenção mais recente, para impedir as maquinações
dos fantasmas).
6. Lançar o corpo ao mar.
7. Expor o corpo para ser comido por animais ferozes.
Supunha-se que os fantasmas ficassem
perturbados e amedrontados com o barulho; gritos, sinos e tambores afastavam-nos
dos vivos. E estes métodos antigos ainda estão em voga, hoje,
nos velórios dos mortos. Misturas de odores fétidos eram utilizadas
para banir os espíritos indesejáveis. Imagens horríveis
dos espíritos eram construídas para que eles fugissem depressa,
quando contemplassem a si próprios. Acreditava-se que os cães
pudessem detectar a aproximação de fantasmas, coisa que avisavam
com uivos; e que os galos cantassem quando eles estivessem por perto. O uso
do galo nos cata-ventos veio em perpetuação desta superstição.
O
homem não se limitou à coerção sobre os fantasmas;
por meio de rituais religiosos e de outras práticas, ele logo tentou
compelir o espírito à ação. O exorcismo era o
emprego de um espírito para controlar ou banir um outro, e estas táticas
acabaram também sendo utilizadas para amedrontar os fantasmas e os
espíritos. O conceito do espiritismo-dual, de forças boas e
más, ofereceu ao homem uma ampla oportunidade de opor um agente ao
outro, pois, se um homem poderoso pode vencer outro mais fraco, então,
certamente, um espírito forte poderia dominar um fantasma inferior.
A maldição primitiva era uma prática coercitiva destinada
a intimidar os espíritos menores. Posteriormente, este costume se expandiu,
levando à prática de lançar maldições aos
inimigos.
O
culto cristão inicial foi o mais eficaz, atraente e duradouro entre
todos os rituais jamais concebidos ou legados, mas muito do seu valor foi
destruído em uma idade científica, pela aniquilação
de muitos dos seus princípios originais subjacentes. O culto cristão
tem sido desvitalizado pela perda de muitas das suas idéias fundamentais...
Um culto sem sentido vicia a religião quando tenta suplantar a Filosofia
e escravizar a razão; um culto genuíno cresce... Um culto que
queira sobreviver deve simbolizar aquilo que é permanente em presença
da mudança incessante; deve glorificar aquilo que unifica o fluir da
sempre mutante metamorfose social; e deve reconhecer os verdadeiros significados,
exaltar as belas relações e glorificar os bons valores de nobreza
autêntica... Nenhum culto pode sobreviver se retardar o crescimento
moral e se deixar de fomentar o progresso espiritual. O culto é o esqueleto
estrutural em torno do qual cresce o corpo vivo e dinâmico da experiência
espiritual pessoal – a Verdadeira Religião.
O
objetivo da magia, da feitiçaria e da necromancia era e continua sendo
duplo: 1°) assegurar uma visão sobre o futuro; e 2°)
influenciar favoravelmente o meio ambiente. Os objetivos da ciência
são idênticos aos da magia. A Humanidade está progredindo
da magia para a ciência, não por meio da meditação
e do raciocínio, mas, sim, por intermédio de uma experiência
longa, gradual e dolorosa. O homem avança gradativamente até
a verdade, com recuos, começando pelo erro, progredindo no erro e,
finalmente, alcançando o limiar da verdade. Apenas com o advento do
método científico ele voltou o seu olhar para a frente... A
magia foi um ramo da árvore religiosa evolucionária que, finalmente,
teve como fruto uma era científica. Por exemplo: a crença na
Astrologia levou ao desenvolvimento da Astronomia; a crença em uma
Pedra Filosofal fez deslanchar a Química e levou à mestria com
os metais; e a crença em números mágicos fundamentou
a ciência da Matemática... Hoje, Urântia está no
alvorecer da sua evolução intelectual. Metade do mundo está
tentando avidamente alcançar a Luz da Verdade e os fatos das descobertas
científicas, enquanto a outra metade está languidamente jogada
nos braços da superstição antiga e de uma magia disfarçada
apenas de um modo tênue.
A fascinação da superstição
primitiva foi mãe da curiosidade científica posterior. Havia
uma emoção dinâmica progressiva – medo + curiosidade
– nestas superstições primitivas; havia uma força
motriz progressiva na magia de outrora. Estas superstições representavam
a emergência do desejo humano de conhecer e de controlar o meio ambiente
planetário.
A
pobreza era apenas uma parte do ritual da mortificação da carne,
o que, infelizmente, tornou-se incorporado aos escritos e aos ensinamentos
de muitas religiões, notadamente, do Catolicismo. A penitência
é a forma negativa deste ritual, muitas vezes tolo, de renúncia.
Mas tudo isto ensinou ao ser-no-mundo o autocontrole, o qual foi um avanço
que valeu a pena na evolução social. A renúncia, ou a
autonegação, e o autocontrole foram dois dos maiores ganhos
sociais da religião evolucionária primitiva. O autocontrole
deu ao homem uma nova filosofia de vida; ensinou a ele a arte de aumentar
a fração que corresponde à sua etapa de vida, diminuindo
o denominador das demandas pessoais, em vez de tentar sempre aumentar o numerador
da gratificação egoísta.
O
culto da continência sexual originou-se como um ritual entre os soldados,
antes de entrarem nas batalhas; em dias posteriores, tornou-se a prática
dos 'santos'. Este culto tolerava o casamento apenas como um mal menor do
que a fornicação. Muitas grandes religiões do mundo têm
sido influenciadas adversamente por esse culto antigo, mas nenhuma mais marcadamente
do que o Catolicismo. O apóstolo Paulo era um devoto deste culto, e
a sua visão pessoal é refletida nos ensinamentos que ele vinculou
à teologia cristã: 'É bom para um homem não tocar
em uma mulher'. 'Gostaria que todos os homens fossem como eu'. 'Digo, pois,
aos que não são casados e aos viúvos, ser bom para eles
permanecerem como eu.' Paulo sabia muito bem que estes ensinamentos não
eram uma parte dos ensinamentos de Jesus, e o seu reconhecimento disto é
ilustrado por esta declaração sua: 'E me permito dizer isto,
mas isso não me foi passado como um mandato ou mandamento'. E este
culto levou Paulo a desprezar as mulheres. E o pior de tudo isto é
que a sua opinião pessoal vem, há muito, influenciando os ensinamentos
de uma grande religião mundial. Se os conselhos do fabricante de tendas
e professor tivessem sido obedecidos literal e universalmente, então,
a raça humana teria chegado a um fim súbito e inglório.
Ademais, o envolvimento de uma religião e o antigo culto da continência
conduz diretamente a uma guerra contra o casamento e contra o lar, as verdadeiras
fundações da sociedade e as instituições básicas
do progresso humano. E não é de se admirar que todas estas crenças
fomentaram a formação de sacerdócios celibatários
nas várias religiões de muitos povos. Algum dia, o homem haverá
de aprender como desfrutar da liberdade sem licença, da nutrição
sem a glutoneria e do prazer sem a devassidão. O autocontrole é
uma política de regulamentação do comportamento humano
melhor do que a renúncia extrema. E Jesus jamais transmitiu aos seus
seguidores estas visões extravagantes e pouco razoáveis.1
Presentes
e subornos são dados aos homens; mas quando se os oferece aos deuses,
eles são descritos como sendo dedicados, tornados sagrados ou são
chamados de sacrifícios.
Não
há pecado verdadeiro quando há ausência de deslealdade
consciente à Deidade em nosso Coração.
A religião evolucionária
nasce de um medo simples; o medo que surge na mente humana quando ela se confronta
com o desconhecido, com o inexplicável e com o incompreensível...
Milhares de pessoas supostamente inteligentes ainda acreditam que alguém
possa nascer sob a regência de uma estrela de boa ou de má sorte,
e que a justaposição dos corpos celestes determina o resultado
de várias aventuras terrenas. Os cartomantes ainda estão sendo
freqüentados pelos crédulos.
Para
aqueles mortais que não se libertaram das algemas primitivas do medo,
há o perigo real de que toda a prece possa levar a uma sensação
mórbida de pecado e a convicções injustificadas de culpa,
reais ou fantasiosas. Mas, nos tempos modernos, não é provável
que tantos gastem tanto tempo em preces, a ponto de que isso os leve a reflexões
nocivas sobre a própria indignidade ou culpabilidade. Os perigos que
se relacionam à distorção e à deturpação
da oração vêm mais da ignorância, da superstição,
da cristalização,2
da desvitalização, do materialismo e do fanatismo.
Tanto
as preces quanto a magia surgiram como fruto das reações de
ajustamento do homem ao meio ambiente urantiano. Mas, à parte essa
relação generalizada, pouco têm em comum. A prece sempre
indicou uma ação positiva da parte do ego que a pronuncia; tem
sido sempre psíquica e algumas vezes espiritual. Por outro lado, a
magia tem significado uma tentativa de manipular a realidade, sem afetar o
ego do manipulador, do executor da magia. Apesar das suas origens independentes,
a magia e a prece têm sido freqüentemente inter-relacionadas nos
seus estágios avançados de desenvolvimento. Partindo de fórmulas
e passando por rituais e encantamentos, a magia elevou-se algumas vezes, chegando
ao umbral da verdadeira prece. E a prece, algumas vezes, tem se tornado tão
materialista que chegou a se degenerar em uma técnica pseudomágica
de evitar o uso dos esforços, os quais são os requisitos mesmos
para a solução dos problemas urantianos... A oração
mais verdadeira é, na realidade, uma comunhão entre o homem
e o Deus de seu Coração.
O
surgimento da idéia do sacrifício, em qualquer religião,
diminui infalivelmente o alto potencial de eficácia da verdadeira prece,
no sentido de que os homens substituem a oferenda da consagração
da sua própria vontade de cumprir a vontade de Deus pelas oferendas
de coisas materiais... Nenhuma prece pode ser ética quando o suplicante
busca uma vantagem egoísta sobre os seus semelhantes.3
A prece egoísta e materialista é incompatível com as
religiões éticas, que estão fundadas sobre o amor não-egoísta
e divino. As preces desprovidas de ética retroagem até os níveis
primitivos da pseudomagia e são indignas das civilizações
avançadas e das religiões esclarecidas. A prece egoísta
transgride o espírito de toda a ética baseada na justiça
do amor... A prece nunca deve ser prostituída a ponto de se tornar
uma substituta para a ação. Toda prece dentro da ética
é um estímulo à ação e um guia para os
esforços progressivos na direção das metas idealistas
de realização do supra-eu... Quando a oração não
busca nada para quem a faz nem para os seus semelhantes, então, tal
atitude da personalidade-alma tende para o nível da verdadeira adoração.
As preces egoístas envolvem confissões e súplicas e,
freqüentemente, consistem em pedidos de favores materiais. A prece torna-se
um tanto mais ética quando lida com o perdão e busca a sabedoria
para uma mestria mais elevada de si próprio. Enquanto o tipo não
egoísta de prece é fortalecedor e confortador, a prece materialista
está fadada a desapontar e a desiludir, pois até mesmo as descobertas
científicas avançadas demonstram que o homem vive em um universo
físico de Lei e de Ordem. A infância de um indivíduo (ou
de uma raça) é caracterizada pela prece primitiva, egoísta
e materialista. E, em uma certa medida, todas as preces de pedidos são
eficazes, no sentido de que invariavelmente conduzem aos esforços e
ao exercício daquilo que contribuirá para a realização
das respostas a estas preces. A prece real da fé contribui sempre para
aumentar a técnica de viver, ainda que os pedidos não sejam
dignos de um reconhecimento espiritual. Todavia, cuidado! A pessoa espiritualmente
avançada, no entanto, deve ter um grande cuidado ao tentar desencorajar
uma mente primária ou imatura a respeito deste tipo de prece.
A
prece é a técnica pela qual, mais cedo ou mais tarde, toda religião
se torna institucionalizada. E, com o tempo, a prece torna-se associada a
inúmeras agências e agentes secundários, alguns que ajudam,
e outros que são decididamente deletérios, tais como os sacerdotes,
os livros ditos sagrados, os rituais e os cerimoniais de adoração.
As mentes de maior iluminação espiritual devem, todavia, ser
pacientes e tolerantes com os intelectos menos dotados, aqueles que ardentemente
almejam um simbolismo para que o seu fraco discernimento espiritual seja mobilizado.
Os fortes não devem encarar os fracos com desdém. Aqueles que
estão cientes de um Deus 'intra Corde', sem simbolismos, não
devem negar a ministração da graça do símbolo
àqueles que encontram dificuldade em adorar uma Deidade, por assim
dizer, 'extra Corde'. Na prece de adoração, a maioria dos mortais
visualiza algum símbolo, como meta e objeto para as suas devoções.
O misticismo, como técnica para o cultivo da
consciência da presença de Deus, é, em si, totalmente
louvável; mas, quando leva ao isolamento social e culmina em fanatismo
religioso, tal prática não é senão repreensível.
E, muito freqüentemente, aquilo que os místicos superexaltados
consideram inspiração divina, não passa de meras exaltações
do profundo da sua própria mente. O contato da mente mortal com o Ajustador
residente, ainda que freqüentemente favorecido pela meditação
devotada, é, com mais freqüência, facilitado pelo Serviço
Sincero e de Coração, isto é: da ministração
não-egoísta aos nossos semelhantes.
A
personalidade-alma do ser-no-mundo requer exercício
espiritual tanto quanto alimento espiritual. O êxtase religioso é
permissível quando resulta de antecedentes sadios, mas esta experiência
é, freqüentemente, o produto de influências mais puramente
emocionais do que de uma manifestação de caráter espiritual
profundo. As pessoas religiosas não devem considerar todos os pressentimentos
psicológicos vívidos nem todas as experiências emocionais
intensas como revelações divinas nem como comunicações
espirituais. O êxtase espiritual genuíno vem associado, em geral,
a uma grande calma interna e a um controle emocional quase perfeito. Estes
alcançamentos não são pseudo-alucinações
nem êxtases em forma de transe. A mente humana pode atuar em resposta
à chamada inspiração, quando é sensível,
seja às exaltações do subconsciente, seja aos estímulos
do supraconsciente. Nos dois casos, parece ao indivíduo que tais ampliações
do conteúdo do consciente são mais ou menos alheias ao próprio
controle. O entusiasmo místico incontido e o êxtase religioso
desenfreado não são as credenciais de nenhuma inspiração
nem credenciais supostamente divinas. O teste prático de todas as experiências
religiosas ou místicas, de êxtases e de inspirações,
é o de observar se estes fenômenos levam um indivíduo
a:
1. gozar de uma saúde física melhor e mais completa.
2. funcionar mais eficiente e praticamente na sua vida mental.
3. socializar mais plenamente e mais alegremente a sua experiência religiosa
ou mística.
4. espiritualizar mais completamente a sua vida no cotidiano e a se desempenhar
fielmente dos deveres comuns da existência mortal rotineira.
5. aumentar o seu amor e a sua apreciação da verdade, da beleza
e da bondade.
6. conservar os valores sociais, morais, éticos e espirituais normalmente
reconhecidos.
7. ter mais discernimento espiritual interior – a consciência
de Deus em seu Coração.
A
verdadeira prece é tanto moral, quanto religiosa; a magia não
é nem moral nem religiosa... A prece genuína aumenta o crescimento
espiritual, modifica as atitudes e produz aquela satisfação
que vem da comunhão com a Divindade 'intra Corde'. É um transbordamento
espontâneo da consciência de Deus 'in Corde'. Se quiserdes chegar
a fazer uma prece eficaz, deveríeis ter em mente as Leis sob as quais
os pedidos prevalecem:
1. Deveis qualificar-vos para uma prece poderosa encarando – com sinceridade
e coragem – os problemas da realidade do universo. Deveis possuir vigor
cósmico.
2. Deveis ter exaurido, honestamente, toda a capacidade inerentemente humana
de ajustamento. Deveis ser industriosos.
3. Deveis entregar e abandonar todo desejo da mente e toda aspiração
da alma ao abraço transformador do crescimento espiritual. Deveis ter
experimentado um enaltecimento dos significados e uma elevação
dos valores.
4. É preciso escolher, de todo o Coração, a Vontade Divina
'in Corde'. É preciso anular o centro morto da indecisão.
5. Não apenas deveis reconhecer a Vontade Divina 'in Corde' e escolher
cumpri-La, mas deveis fazer uma consagração sem reservas e uma
dedicação dinâmica para, de fato, cumprir a Vontade desta
Divindade 'in Corde'.
6. A vossa oração deverá ser dirigida exclusivamente
à Sabedoria Divina, para que possa acontecer a realização
da Perfeição Divina possível.
7. E deveis ter confiança – uma confiança viva, inabalável.
O
mistério e o poder têm sempre estimulado os sentimentos e os
temores religiosos, enquanto a emoção tem funcionado sempre
como um fator condicionante poderoso do seu desenvolvimento. O temor tem sido
sempre o estímulo religioso básico. O medo molda os deuses da
religião evolucionária, motivando o ritual religioso dos crentes
primitivos. À medida que a civilização avança,
o medo é modificado pela reverência, pela admiração,
pelo respeito e pela simpatia; e, então, é condicionado, ainda,
pelo remorso e pelo arrependimento. Jesus, a revelação do mais
elevado tipo de vida religiosa, proclamou: — Deus é amor.
Lembrai-vos
sempre de que os cultos não são formados para descobrir
a verdade; mas, sempre, para promulgar as crenças de uma verdade
acreditada como verdade.
|
A
religião tem sido sempre, antes de tudo, uma questão de ritos,
rituais, observâncias, cerimônias e dogmas. Geralmente, ela se
encontra contaminada por aquele erro que provoca discórdias persistentes:
a ilusão do povo escolhido. As idéias religiosas cardinais –
encantamento, inspiração, revelação, propiciação,
arrependimento, expiação, intercessão, sacrifício,
prece, confissão, adoração, sobrevivência pós-morte,
sacramento, ritual, resgate, salvação, redenção,
aliança, impureza, purificação, profecia, pecado original
– remontam todas aos tempos iniciais do temor primordial dos fantasmas.
O
poder de qualquer idéia repousa não na sua certeza ou na sua
presumida verdade; mas na força da sua sedução sobre
os seres-no-mundo.
De maneira geral, a religião
evolucionária não toma providências para assegurar as
necessárias mudanças ou sua desejável revisão;
diferentemente da ciência, ela não se prepara para a sua própria
correção progressiva... Isto significa que a fé, que
uma vez foi entregue aos santos, deve, em teoria, ser tanto definitiva (ou
imodificável) quanto infalível. Entretanto, é certo que
o progresso verdadeiro irá modificar, ou destruir, o próprio
culto que resiste ao desenvolvimento. Portanto, a sua revisão acaba
sempre tendo que ser imposta.
A religião tem limitado o desenvolvimento
social de muitas maneiras; mas, incontestavelmente, sem a religião,
não teria havido uma moralidade e uma ética duradouras nem uma
civilização que valesse a pena. A religião foi a mãe
de grande parte da cultura não-religiosa: por exemplo, a escultura
originou-se na moldagem dos ídolos, a arquitetura, na construção
dos templos, a poesia, nos encantamentos, a música, nos cânticos
para os cultos, o drama, nos ritos para se guiar os espíritos, e a
dança, nos festivais sazonais de adoração. Contudo, ao
mesmo tempo em que se chama a atenção para o fato de que a religião
foi essencial para o desenvolvimento e a preservação da civilização,
deve ficar registrado que a religião natural tem, em muito, contribuído
para limitar e paralisar esta mesma civilização que, por outro
lado, ela fomentou e manteve. A religião tem estorvado as atividades
industriais e o desenvolvimento econômico; tem sido imprevidente quanto
ao trabalho e tem desperdiçado o Capital. Ela não tem sido sempre
útil à família; não tem fomentado adequadamente
a paz e a boa vontade; algumas vezes, negligenciou a educação
e atrasou a ciência; tem empobrecido, indevidamente, a vida, pretendendo
enriquecer a morte. De fato, a religião evolucionária, de origem
humana, tem sido culpada por todos esses erros e por muitas outras faltas
e desacertos. Todavia, ela manteve a ética cultural, a moralidade civilizadora
e a coerência social, e tornou possível à futura Religião
Revelada compensar muitas destas imperfeições evolucionárias.
Contudo, a Religião da Revelação deve sempre ser limitada
pela capacidade do homem para recebê-La. O futuro de Urântia,
sem dúvida, será caracterizado pelo aparecimento de educadores
que primordialmente insistirão na fraternidade-unidade de todas as
criaturas. Mas é de se esperar que os esforços sinceros e ardentes
dos profetas futuros sejam dirigidos menos para o fortalecimento de barreiras
inter-religiosas e mais para o aumento da irmandade religiosa de culto espiritual
entre os muitos seguidores das diferentes teologias intelectuais tão
características de Urântia de Satânia.
A
religião não pode nunca se tornar um fato científico.
A Filosofia pode, verdadeiramente, repousar em uma base científica,
mas a religião permanecerá, para sempre, evolucionária,
ou reveladora, ou uma combinação possível de ambas, como
ela é no mundo de hoje. Todas as religiões evolucionárias
novas são meras expressões avançadas de velhas crenças
em novas adaptações e novos ajustamentos. O velho não
deixa de existir; ele se funde com o novo, como no caso do Sikhismo, que cresceu
e floresceu do solo e das formas do Hinduísmo, do Budismo, do Islamismo
e de outros cultos contemporâneos. A religião primitiva era muito
democrática; o selvagem tomava emprestado e emprestava facilmente.
Apenas com a religião revelada apareceu o egotismo teológico,
autocrático e intolerante.
É
uma falácia, para qualquer grupo de religiosos, conceber o seu credo
como a Verdade; tal atitude denota mais arrogância teológica
do que certeza de fé. Todas as religiões de Urântia tirariam
proveito do estudo e da assimilação do que há de melhor
nas verdades contidas em qualquer outra fé, pois todas contêm
verdades.4
Os religiosos fariam melhor em tomar emprestado o que há de mais profundo
na fé espiritual viva do vizinho, do que em denunciar o que nela há
de pior, nas suas superstições remanescentes e nos rituais sem
valor.5
O
que indica a qualidade de uma religião é: 1°) o nível
dos seus valores – as suas lealdades; 2°) a profundidade dos seus
significados – a sensibilização dos indivíduos
à apreciação idealista desses valores mais elevados;
3°) a intensidade da consagração – o grau de devoção
a estes valores divinos; 4°) o progresso sem entraves da personalidade
nesse caminho cósmico de vida espiritual idealista, a compreensão
da filiação a Deus6
e o progredir sem-fim na cidadania do universo.
O homem tem sido profundamente influenciado
não apenas pelos seus conceitos da Deidade, mas também pelo
caráter dos heróis que ele escolheu para honrar. É uma
grande infelicidade que aqueles que chegaram a venerar o Cristo Divino tivessem
negligenciado o homem – o valente e corajoso herói – Joshua
ben José!
Jesus
— o Gentio Ariano
(Pintura Original
do Dr. Harvey Spencer Lewis)
Fonte: AMORC
O
homem moderno está autoconsciente da religião, mas o hábito
que tem de adoração está confuso, deixando-o em descrença
devido à metamorfose social acelerada e aos desenvolvimentos científicos
sem precedentes. Os homens e as mulheres pensantes querem que a religião
seja redefinida, e esta exigência irá levar a religião
a reavaliar a si própria. O homem moderno depara-se com a tarefa de
fazer, em uma única geração, mais readequações
dos valores humanos do que as que têm sido feitas em dois mil anos.
E tudo isto influencia a atitude social para com a religião, pois a
religião é um modo de vida tanto quanto uma técnica de
pensar.
Continua...
______
Notas:
1.
Em outros trabalhos, expliquei que o celibato não é puramente
carnal; antes, é Alquímico e Místico-espiritual. Um dia,
cada ser-no-mundo haverá de compreender a sacralidade de um
beijo! Segundo God Anubys, para
que haja um verdadeiro Casamento Alquímico – e, portanto, uma
União Cósmica Natural – a
Essência Divina de cada um deve se unir a do outro por atração
natural, antes que seus corpos possam se unir adequadamente. Nas antigas cerimônias
místicas, o rito matrimonial físico jamais era realizado enquanto
os dois Eus Interiores não tivessem encontrado a perfeita união
– a
sublime harmonização.
Casamento
Alquímico
2.
O filósofo, professor e político português José
Leonardo Coimbra
(Borba de Godim, Lixa, 30 de dezembro de 1883 – Porto, 2 de janeiro
de 1936), conforme expliquei em trabalhos anteriores, denominou esta cristalização
de cousismo.
Seja como for, as
reflexões nocivas sobre a própria indignidade ou culpabilidade
é que, equivocadamente, levam à inócua mixórdia
do toma-lá-dá-cá com a Divindade! E o tempo
(que é Tempo e que não é tempo) vai passando...
3.
Imagine, por exemplo, um vestibulando ou um concursando que, na(s) véspera(s)
da(s) prova(s) destinada(s) a avaliar seus conhecimentos, resolvem fazer uma
oração (ou uma promessa ou o que seja) para serem bem-sucedidos
e, por assim dizer, passarem no vestibular ou no concurso. Ora, isto é
buscar uma vantagem egoísta (ou um privilégio inconcebível)
sobre os outros vestibulandos ou concursandos, ainda que, de maneira geral,
todos façam a mesma coisa. Em uma situação destas, se
a oração tiver algum cabimento, só tem para que o peticionário
solicite tranqüilidade para fazer o exame. Qualquer coisa diferente disto
é mais magia ou pseudomagia egoísta do que prece sincera e categórica.
Como está escrito no Livro de Urântia, a
prece egoísta transgride o espírito de toda a ética baseada
na justiça do amor. Em outro sentido, o Livro de Urântia
adverte e recomenda: Não
sejais tão ociosos a ponto de pedir a Deus que resolva todas as vossas
dificuldades; mas nunca hesiteis em pedir a Ele a sabedoria e a força
espiritual para vos guiar e sustentar, enquanto vós próprios
estiverdes enfrentando, corajosa e resolutamente, os problemas que forem surgindo.
4.
Se algum leitor que têm acompanhado os estudos que tenho divulgado em
parte não compreendeu o porquê de eu tentar estudar e divulgar
tudo de tudo (ainda que eu só tenha recebido Iniciações
da Antiga
e Mística Ordem Rosæ Crucis – AMORC
– e da Tradicional
Ordem Martinista),
este é o motivo: Todas
as religiões de Urântia contêm verdades. E
também, no mais abjeto ser que se possa conceber, há, no mínimo,
um pingo de LLuz
– da Eterna e Santa
LLuz. Bem faz aquele que lê, ouve e medita sobre o que
leu ou ouviu (de quem quer que seja e onde quer que seja).
5.
Bolas! Não há iconoclasta – nem aqui, nem na China, nem
no raio que o parta – que não seja preconceituoso, arrogante
e bunda-mole. Não é verdade Terta?
O Iconoclasta Bunda-molíssimo
6.
No âmbito da Iniciação, isto deve ser entendido como compreensão-realização
da Unidade do Iniciado com o Deus de seu Coração e com toda
a natura naturata,
ainda que, a rigor, no Universo, não haja propriamente natura
naturata, pois, se houvesse, a multiplicidade seria a Lei ao invés
da própria Unidade. A multiplicidade é uma ilusão que
deriva de nossa ignorância.
Multiplicidade
= Ilusão
+ Ignorância
Observação:
Baruch de Spinoza (1632 – 1677) concebia a Natureza sob um duplo aspecto:
1º) como um processo ativo e vital, denominado por ele de Natura
Naturans – a Natureza Ativa, a Essência ou a Natureza
Criadora; e 2º) como o produto passivo deste processo, Natura
Naturata – a Natureza Passiva, o Acidente ou a Coisa Formada
ou Criada.
Páginas
da Internet consultadas:
http://www.netanimations.net/gears.htm
http://inconfidenciamineira.com/?p=1549
http://anubysp.blogspot.com/2008/05/
casamento-alqumico-ou-mstico.html
http://www.newdads.ca/music/
http://www.geofoberhaus.com/mt/2007_10.html
Fundo
musical:
Prelude
nº 9 (Johann Sebastian Bach)
Fonte:
http://www.karaokenet.com.br/karaoke2/midisclassicos.htm
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