Fragmentos do Livro de Urântia
(Parte XII)

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

 

 

Originalmente, a adoração aos ancestrais acontecia mais como um medo do que como um culto; mas estas crenças contribuíram definitivamente para uma disseminação ulterior do medo e da adoração dos fantasmas. Os devotos dos cultos primitivos dos ancestrais-fantasmas temiam até mesmo dar um bocejo, sob pena de que um fantasma maligno entrasse nos seus corpos nesse momento... O medo de fantasmas foi a nascente de todas as religiões do mundo; e, durante eras, muitas tribos sempre se agarraram à velha crença em alguma espécie de fantasmas. Ensinavam que o homem tinha boa sorte, quando o fantasma estava satisfeito, e, má sorte, quando ele estava irado.

 

A religião evolucionária pagou um preço terrível pelo conceito do espiritismo dualista. A filosofia primitiva do homem era capaz de reconciliar a constância espiritual com as vicissitudes da sorte temporal, apenas postulando duas espécies de espíritos: uma, boa, e a outra, má. E, se bem que esta crença haja capacitado o homem a reconciliar as variáveis do acaso com um conceito de forças imutáveis supramortais, esta doutrina, desde então, tornou difícil, para os religiosos, conceber a Unidade Cósmica. Os deuses da religião evolucionária têm encontrado oposição, em geral, nas forças das trevas... Mesmo no século XX, o conceito do bem e do mal, como coordenada cósmica, permanece muito vivo na filosofia humana; a maioria das religiões do mundo ainda traz esta marca cultural de nascença, de dias longínquos, de quando emergiram os cultos dos fantasmas... O Corão contém todo um capítulo que é devotado ao mau-olhado e aos feitiços mágicos, e os judeus acreditavam plenamente neles. Todo o culto fálico cresceu como uma defesa contra o mau olhado. Os órgãos da reprodução eram considerados como sendo o único fetiche que poderia torná-lo sem efeito. O mau-olhado deu origem às primeiras superstições sobre marcas pré-natais nas crianças, impressões maternais, e em certo momento esse culto chegou a ser quase universal... E assim, foi crescendo e se expandindo uma filosofia mundial que consistia nos aspectos que se seguem: 1°) o dever – aquelas coisas que devem ser feitas para manter os espíritos em uma disposição favorável, ou, pelo menos, neutra; 2°) o certo – as condutas e as cerimônias corretas destinadas a ganhar dos espíritos uma posição ativa no interesse próprio; e 3°) a verdade – o entendimento justo dos espíritos e uma atitude correta para com eles, e, portanto, para com a vida e a morte.

 

À medida que as idades passaram, os vivos começaram a inventar métodos de resistir aos mortos. Muitas técnicas foram desenvolvidas para amedrontar os fantasmas e para afastá-los, entre as quais, podem ser citadas as que se seguem:

1. Cortar a cabeça e atar o corpo à sepultura.

2. Atirar pedras à casa do morto.

3. Castrar ou quebrar as pernas do cadáver.

4. Enterrar o cadáver sob as pedras (esta é uma das origens das modernas lápides sepulcrais).

5. Cremar (invenção mais recente, para impedir as maquinações dos fantasmas).

6. Lançar o corpo ao mar.

7. Expor o corpo para ser comido por animais ferozes.

 

Supunha-se que os fantasmas ficassem perturbados e amedrontados com o barulho; gritos, sinos e tambores afastavam-nos dos vivos. E estes métodos antigos ainda estão em voga, hoje, nos velórios dos mortos. Misturas de odores fétidos eram utilizadas para banir os espíritos indesejáveis. Imagens horríveis dos espíritos eram construídas para que eles fugissem depressa, quando contemplassem a si próprios. Acreditava-se que os cães pudessem detectar a aproximação de fantasmas, coisa que avisavam com uivos; e que os galos cantassem quando eles estivessem por perto. O uso do galo nos cata-ventos veio em perpetuação desta superstição.

 

O homem não se limitou à coerção sobre os fantasmas; por meio de rituais religiosos e de outras práticas, ele logo tentou compelir o espírito à ação. O exorcismo era o emprego de um espírito para controlar ou banir um outro, e estas táticas acabaram também sendo utilizadas para amedrontar os fantasmas e os espíritos. O conceito do espiritismo-dual, de forças boas e más, ofereceu ao homem uma ampla oportunidade de opor um agente ao outro, pois, se um homem poderoso pode vencer outro mais fraco, então, certamente, um espírito forte poderia dominar um fantasma inferior. A maldição primitiva era uma prática coercitiva destinada a intimidar os espíritos menores. Posteriormente, este costume se expandiu, levando à prática de lançar maldições aos inimigos.

 

O culto cristão inicial foi o mais eficaz, atraente e duradouro entre todos os rituais jamais concebidos ou legados, mas muito do seu valor foi destruído em uma idade científica, pela aniquilação de muitos dos seus princípios originais subjacentes. O culto cristão tem sido desvitalizado pela perda de muitas das suas idéias fundamentais... Um culto sem sentido vicia a religião quando tenta suplantar a Filosofia e escravizar a razão; um culto genuíno cresce... Um culto que queira sobreviver deve simbolizar aquilo que é permanente em presença da mudança incessante; deve glorificar aquilo que unifica o fluir da sempre mutante metamorfose social; e deve reconhecer os verdadeiros significados, exaltar as belas relações e glorificar os bons valores de nobreza autêntica... Nenhum culto pode sobreviver se retardar o crescimento moral e se deixar de fomentar o progresso espiritual. O culto é o esqueleto estrutural em torno do qual cresce o corpo vivo e dinâmico da experiência espiritual pessoal – a Verdadeira Religião.

 

O objetivo da magia, da feitiçaria e da necromancia era e continua sendo duplo: 1°) assegurar uma visão sobre o futuro; e 2°) influenciar favoravelmente o meio ambiente. Os objetivos da ciência são idênticos aos da magia. A Humanidade está progredindo da magia para a ciência, não por meio da meditação e do raciocínio, mas, sim, por intermédio de uma experiência longa, gradual e dolorosa. O homem avança gradativamente até a verdade, com recuos, começando pelo erro, progredindo no erro e, finalmente, alcançando o limiar da verdade. Apenas com o advento do método científico ele voltou o seu olhar para a frente... A magia foi um ramo da árvore religiosa evolucionária que, finalmente, teve como fruto uma era científica. Por exemplo: a crença na Astrologia levou ao desenvolvimento da Astronomia; a crença em uma Pedra Filosofal fez deslanchar a Química e levou à mestria com os metais; e a crença em números mágicos fundamentou a ciência da Matemática... Hoje, Urântia está no alvorecer da sua evolução intelectual. Metade do mundo está tentando avidamente alcançar a Luz da Verdade e os fatos das descobertas científicas, enquanto a outra metade está languidamente jogada nos braços da superstição antiga e de uma magia disfarçada apenas de um modo tênue.

 

 

 

 

A fascinação da superstição primitiva foi mãe da curiosidade científica posterior. Havia uma emoção dinâmica progressiva – medo + curiosidade – nestas superstições primitivas; havia uma força motriz progressiva na magia de outrora. Estas superstições representavam a emergência do desejo humano de conhecer e de controlar o meio ambiente planetário.

 

A pobreza era apenas uma parte do ritual da mortificação da carne, o que, infelizmente, tornou-se incorporado aos escritos e aos ensinamentos de muitas religiões, notadamente, do Catolicismo. A penitência é a forma negativa deste ritual, muitas vezes tolo, de renúncia. Mas tudo isto ensinou ao ser-no-mundo o autocontrole, o qual foi um avanço que valeu a pena na evolução social. A renúncia, ou a autonegação, e o autocontrole foram dois dos maiores ganhos sociais da religião evolucionária primitiva. O autocontrole deu ao homem uma nova filosofia de vida; ensinou a ele a arte de aumentar a fração que corresponde à sua etapa de vida, diminuindo o denominador das demandas pessoais, em vez de tentar sempre aumentar o numerador da gratificação egoísta.

 

 

 

 

O culto da continência sexual originou-se como um ritual entre os soldados, antes de entrarem nas batalhas; em dias posteriores, tornou-se a prática dos 'santos'. Este culto tolerava o casamento apenas como um mal menor do que a fornicação. Muitas grandes religiões do mundo têm sido influenciadas adversamente por esse culto antigo, mas nenhuma mais marcadamente do que o Catolicismo. O apóstolo Paulo era um devoto deste culto, e a sua visão pessoal é refletida nos ensinamentos que ele vinculou à teologia cristã: 'É bom para um homem não tocar em uma mulher'. 'Gostaria que todos os homens fossem como eu'. 'Digo, pois, aos que não são casados e aos viúvos, ser bom para eles permanecerem como eu.' Paulo sabia muito bem que estes ensinamentos não eram uma parte dos ensinamentos de Jesus, e o seu reconhecimento disto é ilustrado por esta declaração sua: 'E me permito dizer isto, mas isso não me foi passado como um mandato ou mandamento'. E este culto levou Paulo a desprezar as mulheres. E o pior de tudo isto é que a sua opinião pessoal vem, há muito, influenciando os ensinamentos de uma grande religião mundial. Se os conselhos do fabricante de tendas e professor tivessem sido obedecidos literal e universalmente, então, a raça humana teria chegado a um fim súbito e inglório. Ademais, o envolvimento de uma religião e o antigo culto da continência conduz diretamente a uma guerra contra o casamento e contra o lar, as verdadeiras fundações da sociedade e as instituições básicas do progresso humano. E não é de se admirar que todas estas crenças fomentaram a formação de sacerdócios celibatários nas várias religiões de muitos povos. Algum dia, o homem haverá de aprender como desfrutar da liberdade sem licença, da nutrição sem a glutoneria e do prazer sem a devassidão. O autocontrole é uma política de regulamentação do comportamento humano melhor do que a renúncia extrema. E Jesus jamais transmitiu aos seus seguidores estas visões extravagantes e pouco razoáveis.1

 

Presentes e subornos são dados aos homens; mas quando se os oferece aos deuses, eles são descritos como sendo dedicados, tornados sagrados ou são chamados de sacrifícios.

 

Não há pecado verdadeiro quando há ausência de deslealdade consciente à Deidade em nosso Coração.

 

A religião evolucionária nasce de um medo simples; o medo que surge na mente humana quando ela se confronta com o desconhecido, com o inexplicável e com o incompreensível... Milhares de pessoas supostamente inteligentes ainda acreditam que alguém possa nascer sob a regência de uma estrela de boa ou de má sorte, e que a justaposição dos corpos celestes determina o resultado de várias aventuras terrenas. Os cartomantes ainda estão sendo freqüentados pelos crédulos.

 

 

 

 

Para aqueles mortais que não se libertaram das algemas primitivas do medo, há o perigo real de que toda a prece possa levar a uma sensação mórbida de pecado e a convicções injustificadas de culpa, reais ou fantasiosas. Mas, nos tempos modernos, não é provável que tantos gastem tanto tempo em preces, a ponto de que isso os leve a reflexões nocivas sobre a própria indignidade ou culpabilidade. Os perigos que se relacionam à distorção e à deturpação da oração vêm mais da ignorância, da superstição, da cristalização,2 da desvitalização, do materialismo e do fanatismo.

 

Tanto as preces quanto a magia surgiram como fruto das reações de ajustamento do homem ao meio ambiente urantiano. Mas, à parte essa relação generalizada, pouco têm em comum. A prece sempre indicou uma ação positiva da parte do ego que a pronuncia; tem sido sempre psíquica e algumas vezes espiritual. Por outro lado, a magia tem significado uma tentativa de manipular a realidade, sem afetar o ego do manipulador, do executor da magia. Apesar das suas origens independentes, a magia e a prece têm sido freqüentemente inter-relacionadas nos seus estágios avançados de desenvolvimento. Partindo de fórmulas e passando por rituais e encantamentos, a magia elevou-se algumas vezes, chegando ao umbral da verdadeira prece. E a prece, algumas vezes, tem se tornado tão materialista que chegou a se degenerar em uma técnica pseudomágica de evitar o uso dos esforços, os quais são os requisitos mesmos para a solução dos problemas urantianos... A oração mais verdadeira é, na realidade, uma comunhão entre o homem e o Deus de seu Coração.

 

O surgimento da idéia do sacrifício, em qualquer religião, diminui infalivelmente o alto potencial de eficácia da verdadeira prece, no sentido de que os homens substituem a oferenda da consagração da sua própria vontade de cumprir a vontade de Deus pelas oferendas de coisas materiais... Nenhuma prece pode ser ética quando o suplicante busca uma vantagem egoísta sobre os seus semelhantes.3 A prece egoísta e materialista é incompatível com as religiões éticas, que estão fundadas sobre o amor não-egoísta e divino. As preces desprovidas de ética retroagem até os níveis primitivos da pseudomagia e são indignas das civilizações avançadas e das religiões esclarecidas. A prece egoísta transgride o espírito de toda a ética baseada na justiça do amor... A prece nunca deve ser prostituída a ponto de se tornar uma substituta para a ação. Toda prece dentro da ética é um estímulo à ação e um guia para os esforços progressivos na direção das metas idealistas de realização do supra-eu... Quando a oração não busca nada para quem a faz nem para os seus semelhantes, então, tal atitude da personalidade-alma tende para o nível da verdadeira adoração. As preces egoístas envolvem confissões e súplicas e, freqüentemente, consistem em pedidos de favores materiais. A prece torna-se um tanto mais ética quando lida com o perdão e busca a sabedoria para uma mestria mais elevada de si próprio. Enquanto o tipo não egoísta de prece é fortalecedor e confortador, a prece materialista está fadada a desapontar e a desiludir, pois até mesmo as descobertas científicas avançadas demonstram que o homem vive em um universo físico de Lei e de Ordem. A infância de um indivíduo (ou de uma raça) é caracterizada pela prece primitiva, egoísta e materialista. E, em uma certa medida, todas as preces de pedidos são eficazes, no sentido de que invariavelmente conduzem aos esforços e ao exercício daquilo que contribuirá para a realização das respostas a estas preces. A prece real da fé contribui sempre para aumentar a técnica de viver, ainda que os pedidos não sejam dignos de um reconhecimento espiritual. Todavia, cuidado! A pessoa espiritualmente avançada, no entanto, deve ter um grande cuidado ao tentar desencorajar uma mente primária ou imatura a respeito deste tipo de prece.

 

 

 

 

A prece é a técnica pela qual, mais cedo ou mais tarde, toda religião se torna institucionalizada. E, com o tempo, a prece torna-se associada a inúmeras agências e agentes secundários, alguns que ajudam, e outros que são decididamente deletérios, tais como os sacerdotes, os livros ditos sagrados, os rituais e os cerimoniais de adoração. As mentes de maior iluminação espiritual devem, todavia, ser pacientes e tolerantes com os intelectos menos dotados, aqueles que ardentemente almejam um simbolismo para que o seu fraco discernimento espiritual seja mobilizado. Os fortes não devem encarar os fracos com desdém. Aqueles que estão cientes de um Deus 'intra Corde', sem simbolismos, não devem negar a ministração da graça do símbolo àqueles que encontram dificuldade em adorar uma Deidade, por assim dizer, 'extra Corde'. Na prece de adoração, a maioria dos mortais visualiza algum símbolo, como meta e objeto para as suas devoções.

 

O misticismo, como técnica para o cultivo da consciência da presença de Deus, é, em si, totalmente louvável; mas, quando leva ao isolamento social e culmina em fanatismo religioso, tal prática não é senão repreensível. E, muito freqüentemente, aquilo que os místicos superexaltados consideram inspiração divina, não passa de meras exaltações do profundo da sua própria mente. O contato da mente mortal com o Ajustador residente, ainda que freqüentemente favorecido pela meditação devotada, é, com mais freqüência, facilitado pelo Serviço Sincero e de Coração, isto é: da ministração não-egoísta aos nossos semelhantes.

 

A personalidade-alma do ser-no-mundo requer exercício espiritual tanto quanto alimento espiritual. O êxtase religioso é permissível quando resulta de antecedentes sadios, mas esta experiência é, freqüentemente, o produto de influências mais puramente emocionais do que de uma manifestação de caráter espiritual profundo. As pessoas religiosas não devem considerar todos os pressentimentos psicológicos vívidos nem todas as experiências emocionais intensas como revelações divinas nem como comunicações espirituais. O êxtase espiritual genuíno vem associado, em geral, a uma grande calma interna e a um controle emocional quase perfeito. Estes alcançamentos não são pseudo-alucinações nem êxtases em forma de transe. A mente humana pode atuar em resposta à chamada inspiração, quando é sensível, seja às exaltações do subconsciente, seja aos estímulos do supraconsciente. Nos dois casos, parece ao indivíduo que tais ampliações do conteúdo do consciente são mais ou menos alheias ao próprio controle. O entusiasmo místico incontido e o êxtase religioso desenfreado não são as credenciais de nenhuma inspiração nem credenciais supostamente divinas. O teste prático de todas as experiências religiosas ou místicas, de êxtases e de inspirações, é o de observar se estes fenômenos levam um indivíduo a:

1. gozar de uma saúde física melhor e mais completa.

2. funcionar mais eficiente e praticamente na sua vida mental.

3. socializar mais plenamente e mais alegremente a sua experiência religiosa ou mística.

4. espiritualizar mais completamente a sua vida no cotidiano e a se desempenhar fielmente dos deveres comuns da existência mortal rotineira.

5. aumentar o seu amor e a sua apreciação da verdade, da beleza e da bondade.

6. conservar os valores sociais, morais, éticos e espirituais normalmente reconhecidos.

7. ter mais discernimento espiritual interior – a consciência de Deus em seu Coração.

 

A verdadeira prece é tanto moral, quanto religiosa; a magia não é nem moral nem religiosa... A prece genuína aumenta o crescimento espiritual, modifica as atitudes e produz aquela satisfação que vem da comunhão com a Divindade 'intra Corde'. É um transbordamento espontâneo da consciência de Deus 'in Corde'. Se quiserdes chegar a fazer uma prece eficaz, deveríeis ter em mente as Leis sob as quais os pedidos prevalecem:

1. Deveis qualificar-vos para uma prece poderosa encarando – com sinceridade e coragem – os problemas da realidade do universo. Deveis possuir vigor cósmico.

2. Deveis ter exaurido, honestamente, toda a capacidade inerentemente humana de ajustamento. Deveis ser industriosos.

3. Deveis entregar e abandonar todo desejo da mente e toda aspiração da alma ao abraço transformador do crescimento espiritual. Deveis ter experimentado um enaltecimento dos significados e uma elevação dos valores.

4. É preciso escolher, de todo o Coração, a Vontade Divina 'in Corde'. É preciso anular o centro morto da indecisão.

5. Não apenas deveis reconhecer a Vontade Divina 'in Corde' e escolher cumpri-La, mas deveis fazer uma consagração sem reservas e uma dedicação dinâmica para, de fato, cumprir a Vontade desta Divindade 'in Corde'.

6. A vossa oração deverá ser dirigida exclusivamente à Sabedoria Divina, para que possa acontecer a realização da Perfeição Divina possível.

7. E deveis ter confiança – uma confiança viva, inabalável.

 

O mistério e o poder têm sempre estimulado os sentimentos e os temores religiosos, enquanto a emoção tem funcionado sempre como um fator condicionante poderoso do seu desenvolvimento. O temor tem sido sempre o estímulo religioso básico. O medo molda os deuses da religião evolucionária, motivando o ritual religioso dos crentes primitivos. À medida que a civilização avança, o medo é modificado pela reverência, pela admiração, pelo respeito e pela simpatia; e, então, é condicionado, ainda, pelo remorso e pelo arrependimento. Jesus, a revelação do mais elevado tipo de vida religiosa, proclamou: — Deus é amor.

 

 

 

Lembrai-vos sempre de que os cultos não são formados para descobrir a verdade; mas, sempre, para promulgar as crenças de uma verdade acreditada como verdade.

 

 

 

 

 

 

A religião tem sido sempre, antes de tudo, uma questão de ritos, rituais, observâncias, cerimônias e dogmas. Geralmente, ela se encontra contaminada por aquele erro que provoca discórdias persistentes: a ilusão do povo escolhido. As idéias religiosas cardinais – encantamento, inspiração, revelação, propiciação, arrependimento, expiação, intercessão, sacrifício, prece, confissão, adoração, sobrevivência pós-morte, sacramento, ritual, resgate, salvação, redenção, aliança, impureza, purificação, profecia, pecado original – remontam todas aos tempos iniciais do temor primordial dos fantasmas.

 

O poder de qualquer idéia repousa não na sua certeza ou na sua presumida verdade; mas na força da sua sedução sobre os seres-no-mundo.

 

De maneira geral, a religião evolucionária não toma providências para assegurar as necessárias mudanças ou sua desejável revisão; diferentemente da ciência, ela não se prepara para a sua própria correção progressiva... Isto significa que a fé, que uma vez foi entregue aos santos, deve, em teoria, ser tanto definitiva (ou imodificável) quanto infalível. Entretanto, é certo que o progresso verdadeiro irá modificar, ou destruir, o próprio culto que resiste ao desenvolvimento. Portanto, a sua revisão acaba sempre tendo que ser imposta.

 

A religião tem limitado o desenvolvimento social de muitas maneiras; mas, incontestavelmente, sem a religião, não teria havido uma moralidade e uma ética duradouras nem uma civilização que valesse a pena. A religião foi a mãe de grande parte da cultura não-religiosa: por exemplo, a escultura originou-se na moldagem dos ídolos, a arquitetura, na construção dos templos, a poesia, nos encantamentos, a música, nos cânticos para os cultos, o drama, nos ritos para se guiar os espíritos, e a dança, nos festivais sazonais de adoração. Contudo, ao mesmo tempo em que se chama a atenção para o fato de que a religião foi essencial para o desenvolvimento e a preservação da civilização, deve ficar registrado que a religião natural tem, em muito, contribuído para limitar e paralisar esta mesma civilização que, por outro lado, ela fomentou e manteve. A religião tem estorvado as atividades industriais e o desenvolvimento econômico; tem sido imprevidente quanto ao trabalho e tem desperdiçado o Capital. Ela não tem sido sempre útil à família; não tem fomentado adequadamente a paz e a boa vontade; algumas vezes, negligenciou a educação e atrasou a ciência; tem empobrecido, indevidamente, a vida, pretendendo enriquecer a morte. De fato, a religião evolucionária, de origem humana, tem sido culpada por todos esses erros e por muitas outras faltas e desacertos. Todavia, ela manteve a ética cultural, a moralidade civilizadora e a coerência social, e tornou possível à futura Religião Revelada compensar muitas destas imperfeições evolucionárias. Contudo, a Religião da Revelação deve sempre ser limitada pela capacidade do homem para recebê-La. O futuro de Urântia, sem dúvida, será caracterizado pelo aparecimento de educadores que primordialmente insistirão na fraternidade-unidade de todas as criaturas. Mas é de se esperar que os esforços sinceros e ardentes dos profetas futuros sejam dirigidos menos para o fortalecimento de barreiras inter-religiosas e mais para o aumento da irmandade religiosa de culto espiritual entre os muitos seguidores das diferentes teologias intelectuais tão características de Urântia de Satânia.

 

A religião não pode nunca se tornar um fato científico. A Filosofia pode, verdadeiramente, repousar em uma base científica, mas a religião permanecerá, para sempre, evolucionária, ou reveladora, ou uma combinação possível de ambas, como ela é no mundo de hoje. Todas as religiões evolucionárias novas são meras expressões avançadas de velhas crenças em novas adaptações e novos ajustamentos. O velho não deixa de existir; ele se funde com o novo, como no caso do Sikhismo, que cresceu e floresceu do solo e das formas do Hinduísmo, do Budismo, do Islamismo e de outros cultos contemporâneos. A religião primitiva era muito democrática; o selvagem tomava emprestado e emprestava facilmente. Apenas com a religião revelada apareceu o egotismo teológico, autocrático e intolerante.

 

É uma falácia, para qualquer grupo de religiosos, conceber o seu credo como a Verdade; tal atitude denota mais arrogância teológica do que certeza de fé. Todas as religiões de Urântia tirariam proveito do estudo e da assimilação do que há de melhor nas verdades contidas em qualquer outra fé, pois todas contêm verdades.4 Os religiosos fariam melhor em tomar emprestado o que há de mais profundo na fé espiritual viva do vizinho, do que em denunciar o que nela há de pior, nas suas superstições remanescentes e nos rituais sem valor.5

 

O que indica a qualidade de uma religião é: 1°) o nível dos seus valores – as suas lealdades; 2°) a profundidade dos seus significados – a sensibilização dos indivíduos à apreciação idealista desses valores mais elevados; 3°) a intensidade da consagração – o grau de devoção a estes valores divinos; 4°) o progresso sem entraves da personalidade nesse caminho cósmico de vida espiritual idealista, a compreensão da filiação a Deus6 e o progredir sem-fim na cidadania do universo.

 

O homem tem sido profundamente influenciado não apenas pelos seus conceitos da Deidade, mas também pelo caráter dos heróis que ele escolheu para honrar. É uma grande infelicidade que aqueles que chegaram a venerar o Cristo Divino tivessem negligenciado o homem – o valente e corajoso herói – Joshua ben José!

 

 

Joshua ben José

Jesus — o Gentio Ariano
(Pintura Original do Dr. Harvey Spencer Lewis)
Fonte: AMORC

 

 

O homem moderno está autoconsciente da religião, mas o hábito que tem de adoração está confuso, deixando-o em descrença devido à metamorfose social acelerada e aos desenvolvimentos científicos sem precedentes. Os homens e as mulheres pensantes querem que a religião seja redefinida, e esta exigência irá levar a religião a reavaliar a si própria. O homem moderno depara-se com a tarefa de fazer, em uma única geração, mais readequações dos valores humanos do que as que têm sido feitas em dois mil anos. E tudo isto influencia a atitude social para com a religião, pois a religião é um modo de vida tanto quanto uma técnica de pensar.

 

 

 

 

Continua...

 

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Notas:

1. Em outros trabalhos, expliquei que o celibato não é puramente carnal; antes, é Alquímico e Místico-espiritual. Um dia, cada ser-no-mundo haverá de compreender a sacralidade de um beijo! Segundo God Anubys, para que haja um verdadeiro Casamento Alquímico – e, portanto, uma União Cósmica Natural – a Essência Divina de cada um deve se unir a do outro por atração natural, antes que seus corpos possam se unir adequadamente. Nas antigas cerimônias místicas, o rito matrimonial físico jamais era realizado enquanto os dois Eus Interiores não tivessem encontrado a perfeita união – a sublime harmonização.

 

Casamento Alquímico

Casamento Alquímico

 

2. O filósofo, professor e político português José Leonardo Coimbra (Borba de Godim, Lixa, 30 de dezembro de 1883 – Porto, 2 de janeiro de 1936), conforme expliquei em trabalhos anteriores, denominou esta cristalização de cousismo. Seja como for, as reflexões nocivas sobre a própria indignidade ou culpabilidade é que, equivocadamente, levam à inócua mixórdia do toma-lá-dá-cá com a Divindade! E o tempo (que é Tempo e que não é tempo) vai passando...

3. Imagine, por exemplo, um vestibulando ou um concursando que, na(s) véspera(s) da(s) prova(s) destinada(s) a avaliar seus conhecimentos, resolvem fazer uma oração (ou uma promessa ou o que seja) para serem bem-sucedidos e, por assim dizer, passarem no vestibular ou no concurso. Ora, isto é buscar uma vantagem egoísta (ou um privilégio inconcebível) sobre os outros vestibulandos ou concursandos, ainda que, de maneira geral, todos façam a mesma coisa. Em uma situação destas, se a oração tiver algum cabimento, só tem para que o peticionário solicite tranqüilidade para fazer o exame. Qualquer coisa diferente disto é mais magia ou pseudomagia egoísta do que prece sincera e categórica. Como está escrito no Livro de Urântia, a prece egoísta transgride o espírito de toda a ética baseada na justiça do amor. Em outro sentido, o Livro de Urântia adverte e recomenda: Não sejais tão ociosos a ponto de pedir a Deus que resolva todas as vossas dificuldades; mas nunca hesiteis em pedir a Ele a sabedoria e a força espiritual para vos guiar e sustentar, enquanto vós próprios estiverdes enfrentando, corajosa e resolutamente, os problemas que forem surgindo.

 

 

 

 

4. Se algum leitor que têm acompanhado os estudos que tenho divulgado em parte não compreendeu o porquê de eu tentar estudar e divulgar tudo de tudo (ainda que eu só tenha recebido Iniciações da Antiga e Mística Ordem Rosæ Crucis – AMORC – e da Tradicional Ordem Martinista), este é o motivo: Todas as religiões de Urântia contêm verdades. E também, no mais abjeto ser que se possa conceber, há, no mínimo, um pingo de LLuz – da Eterna e Santa LLuz. Bem faz aquele que lê, ouve e medita sobre o que leu ou ouviu (de quem quer que seja e onde quer que seja).

5. Bolas! Não há iconoclasta – nem aqui, nem na China, nem no raio que o parta – que não seja preconceituoso, arrogante e bunda-mole. Não é verdade Terta?

 

 

O Iconoclasta Bunda-molíssimo

 

 

6. No âmbito da Iniciação, isto deve ser entendido como compreensão-realização da Unidade do Iniciado com o Deus de seu Coração e com toda a natura naturata, ainda que, a rigor, no Universo, não haja propriamente natura naturata, pois, se houvesse, a multiplicidade seria a Lei ao invés da própria Unidade. A multiplicidade é uma ilusão que deriva de nossa ignorância.

 

 

Multiplicidade = Ilusão + Ignorância

 

Observação: Baruch de Spinoza (1632 – 1677) concebia a Natureza sob um duplo aspecto: 1º) como um processo ativo e vital, denominado por ele de Natura Naturans – a Natureza Ativa, a Essência ou a Natureza Criadora; e 2º) como o produto passivo deste processo, Natura Naturata – a Natureza Passiva, o Acidente ou a Coisa Formada ou Criada.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.netanimations.net/gears.htm

http://inconfidenciamineira.com/?p=1549

http://anubysp.blogspot.com/2008/05/
casamento-alqumico-ou-mstico.html

http://www.newdads.ca/music/

http://www.geofoberhaus.com/mt/2007_10.html

 

Fundo musical:

Prelude nº 9 (Johann Sebastian Bach)

Fonte:

http://www.karaokenet.com.br/karaoke2/midisclassicos.htm

 

Direitos autorais:

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