Últimos
Dias
Carl Gustav Jung passou pela transição
em 6 de junho de 1961, aos 86 anos, em sua casa, nas margens do lago de
Zurique, em Küsnacht, após uma longa vida produtiva que marcou
– e tudo leva a crer que ainda marcará muito mais – a
Antropologia, a Sociologia e a Psicologia. Foi, como salienta M. Viegas
Abreu, mais um mestre da vida do que propriamente um cientista
ou um terapeuta que tenha apoiado a sua arte ou a sua prática
profissional numa acepção científica quer da realidade
de curar quer dos métodos de cura. Jung foi um Místico.
Jamais poderia ter sido um nazista.
Influências
posteriores
A
influência da visão junguiana da religião não
se restringe à história das religiões ou à mitologia,
mas alcança a teologia e a hermenêutica bíblica –
é uma verdadeira renovação da teologia no seu todo.
Assim, vemos sua influência em numerosos teólogos protestantes
como Hans Schaer e Paul Tillich; católicos como Victor White e Teilhard
de Chardin; e ortodoxos como o teólogo da Igreja ortodoxa russa Paul
Evdokimov (1901-1970), que afirmou duplamente: 1º) Criado à
imagem de Deus e à sua semelhança, o homem possui uma orientação
essencial que o determina... Como toda a cópia atraída pelo
seu original, o homem-imagem aspira a se ultrapassar para se lançar
em Deus e encontrar Nele o apaziguamento da sua nostalgia; e 2º)
A idéia de Deus não é antropomórfica, o
homem não cria Deus segundo a sua imagem, não o inventa. Mas,
a idéia do homem é teomórfica, Deus é que o
criou à sua imagem. Tudo vem de Deus, a experiência de Deus
vem também de Deus, porque Deus é mais íntimo ao homem
do que o próprio homem. Isso é o que se pode conceber
como o máximo da ortodoxia! Entretanto, essa mesma ortodoxia não
foi uma barreira que o afastasse de Jung.
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Carta
de Jung a Victor White (1902-1960) |
Cronologia
26 de
julho de 1875: nascimento de Carl Gustav Jung em Kesswil, cantão
de Thurgau, Suíça. O pai é pastor protestante.
1879:
a família muda-se para uma aldeia próxima de Basiléia.
1886-1895:
estudos secundários no colégio de Basiléia.
1895-1900:
Jung estuda medicina na Universidade de Basiléia e interessa-se pela
Psiquiatria.
1900:
em dezembro torna-se médico adjunto do professor Eugen Bleuler, Diretor
da Clínica Psiquiátrica do Hospital Burghölzli da Universidade
de Zurique.
1902:
defesa de Tese de Doutorado (Psicopatologia e Patologia dos Fenômenos
Ditos Ocultos). A tese é um estudo de caso sobre uma jovem médium
espírita na qual Jung interpreta as manifestações dos
espíritos como personificações da própria médium.
1902-1903:
estágio e estudos em Paris (Salpêtrière) seguindo o
ensino de Pierre Janet.
1903:
casa com Emma Rauschenbach de quem terá cinco filhos. Primeiros trabalhos
sobre as associações de idéias e a teoria dos complexos.
1905:
assume um posto logo abaixo de Bleuler no Burghölzli. É nomeado
Privat-Dozent. Ministra cursos sobre hipnose.
1906:
publica Estudos Sobre Associações.
1907:
primeiro encontro com Freud em 27 de fevereiro. Publica A Psicologia
da Demência Precoce.
1908:
publicação de O Conteúdo das Psicoses.
1909:
viaja aos EUA com Freud, onde pronunciam conferências na Universidade
Clark. Deixa Burghölzli para se instalar em Küsnacht, na Seestrasse
228, às margens do lago de Zurique, residência que ocupará
até a sua morte. É colaborador no ensino de Psiquiatria na
Universidade de Zurique até 1913.
1909:
funda a Sociedade Sigmund Freud de Zurique. Demite-se do Burghölzli.
1910:
participa com Freud da fundação da Internationale Psychoanalytische
Vereinigung (IPV), mais tarde denominada de International Psychoanalytical
Association (IPA). Por influência de Freud, é eleito presidente.
1912:
publicação de Metamorfoses e Símbolos da Libido.
Esta obra causou várias divergências com Freud.
1913:
Freud rompe com Jung. Jung renuncia ao título de Privat-Dozent.
1914:
conferências no Bedford College em Londres (Sobre a Compreensão
Psicológica e Sobre a Importância do Inconsciente
em Psicopatologia; A Estrutura do Inconsciente). Participa
de um Congresso Médico em Aberdeen.
1916:
forma-se em torno de Jung o Clube Psicológico de Zurique. É
publicada As Relações Entre o Ego e o Inconsciente (ampliação
de A Estrutura do Inconsciente).
1917-1919:
é nomeado médico-chefe do campo de prisioneiros ingleses em
Château-d’Oex e posteriormente em Mürren.
1918:
publica Sobre o Inconsciente.
1920:
publica Os Tipos Psicológicos.
1921-1926:
viaja pela África, América Central e Índia.
1930:
presidente de Honra da Sociedade Médica Alemã de Psicoterapia.
1933:
ministra cursos livres na Escola Politécnica Federal.
1934:
ministra de 1º a 6 de outubro um Seminário em Basiléia:
O Homem à Descoberta da Sua Alma.
1935:
na Escola Politécnica torna regular seu curso e o tema é sobre
Psicologia Analítica.
1943:
publica Psicologia do Inconsciente.
1944:
a Universidade da Basiléia cria para Jung a cadeira de Psicologia
Médica, a qual abandonará em 1946 por problemas de saúde.
Publica Psicologia e Alquimia.
1946:
publicação de Psicologia da Transferência.
1948:
o Clube Psicológico de Zurique torna-se o Instituto C. G. Jung.
1952:
publica Resposta a Job.
1954:
publica Arquétipo Mãe.
1955:
publica Mysterium Coniunctionis. Segudo o próprio Jung,
só com Mysterium Coniunctionis minha Psicologia se situou definitivamente
na realidade e se cimentou historicamente como um todo. Com ela minha tarefa
estava terminada, minha obra feita e cumprida.
1957:
fundação da Sociedade Suíça de Psicologia Analítica.
Publicação de Presente e Futuro.
1958:
publica Um Mito Moderno.
1957-1959:
redige sua autobiografia.
6 de
junho de 1961: morre em Küsnacht, Zurique.
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Jung à beira do lago, em Zurique |
Excertos
do Pensamento Junguiano
A
ciência não deveria parar no umbral do ilógico.
A
deusa
razão é a nossa maior e mais trágica ilusão.
É
apenas através da psique que podemos estabelecer que Deus age sobre
nós.
O
que Deus realmente é permanece uma questão além da
compreensão de toda a Psicologia.
Encontramos
inúmeras imagens de Deus, mas não podemos produzir o original.
Não há dúvida em minha mente de que há um original
por trás de nossas imagens, mas é inacessível. Não
podemos nem mesmo estar a par do original, uma vez que sua tradução
em termos psíquicos é necessária para fazê-Lo
perceptível, no fim das contas... Por que deveríamos ser tão
pouco modestos, supondo que podemos apanhar um Ser Universal nos estreitos
limites de nossa linguagem? Sabemos que o Deus-imagem representa um grande
papel na Psicologia, mas não podemos provar a existência física
de Deus. Como cientista responsável, não vou pregar minhas
convicções pessoais e subjetivas que não posso provar...
Falando por mim mesmo, a questão de Deus existir ou não existir
é fútil. Estou suficientemente convencido dos efeitos que
o homem sempre atribuiu a um ser divino. Se eu devesse exprimir uma crença
além dessa ou devesse afirmar a existência de Deus, isso não
seria apenas supérfluo e ineficiente, mas mostraria que não
baseio minhas opiniões em fatos. Quando as pessoas dizem que acreditam
na existência de Deus, isso não me impressiona nada. Ou eu
conheço algo e não preciso acreditar nisso; ou acredito nisso
porque não estou certo de não conhecer. Estou bastante satisfeito
com o fato de conhecer experiências que não posso evitar chamar
de numinosas ou divinas.
Afinal
de contas, podemos imaginar Deus como um fluxo eterno de energia vital que
indefinidamente muda de forma, com tanta facilidade, que podemos imaginá-Lo
como uma essência eternamente imutável e inamovível.
Deus
não seria apenas a luz espiritual, aparecendo como a flor tardia
na árvore da evolução, não apenas o objetivo
espiritual da redenção na qual toda a criação
culmina, não apenas o fim e o propósito, mas, também,
a mais obscura causa primordial das mais negras profundezas da Natureza.
Há aí um tremendo paradoxo que manifestamente corresponde
a uma profunda verdade psicológica.
A
ausência de moralidade humana em Javé é um empecilho
que não pode ser ignorado... Notamos a falta de razão e de
valores morais, isto é, duas características principais de
uma mente humana madura. É portanto óbvio que a imagem jeovística
ou a concepção da deidade é menos do que certos espécimes
humanos: a imagem de uma força brutal personificada e de uma mente
antiética e não-espiritual, e inconsciente o bastante para
mostrar laços de gentileza e generosidade, com uma forte propensão
à violência... Essa imagem deve sua existência não
a uma formulação intelectual, mas, antes, a uma manifestação
espontânea, ou seja, à experiência religiosa de homens
como Samuel e Jó... As pessoas ainda perguntam: é possível
que Deus permita tais coisas?
É permissível admitir
que o 'Svmmvm Bonvm' é tão bom, tão alto, tão
perfeito, mas tão remoto que está inteiramente além
do nosso alcance. Mas é igualmente permissível admitir que
a realidade final é um Ser que represente todas as qualidades de
sua criação: virtude, razão, inteligência, bondade,
consciência 'e seus opostos', o que é um completo paradoxo
para nossa mente.
Escrevendo
a um ministro protestante suíço, em 1952, Jung comentou: Compartilho
inteiramente de sua opinião de que o homem vive inteiramente quando,
e apenas quando, ele se relaciona com Deus, com Aquele que dirige seus passos
e determina seu destino.
Quanto
ao Pai Nosso, Jung escreveu: A cautelosa súplica 'não
nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal' foi considerada
apropriada por Jesus, o Cristo, para lembrar seu Pai de suas inclinações
destrutivas para com a espécie humana e pedir a Ele que desista delas.
É
apenas através da psique que poderemos estabelecer que Deus age sobre
nós, mas somos incapazes de distinguir se essas ações
emanam de Deus ou do inconsciente.
Pode ocorrer facilmente que um cristão
que acredita em todas as figuras sagradas seja ainda subdesenvolvido e imóvel
no mais profundo de sua alma, porque ele tem Deus 'todo do lado de fora'
e não o experimenta na alma. Seus motivos decisivos, seus interesses
e seus impulsos dominantes não vêm da esfera da cristandade,
mas da psique inconsciente e subdesenvolvida, que é tão pagã
e arcaica como sempre... Sua alma está fora de compasso com suas
crenças externas... Sim, tudo deve ser encontrado fora — em
imagem e em palavra, na Igreja e na 'Bíblia' — mas nunca dentro.
Quero
dizer que conheço a existência de Deus-imagens em geral e em
particular. Sei que é uma questão de experiência universal,
e, como não sou exceção, sei que tenho tal experiência
também, à qual chamo Deus.
Não
criamos Deus, nós O escolhemos.
A
relação
médico-paciente – principalmente quando intervém uma
transferência deste último ou uma identificação
mais ou menos inconsciente entre médico e doente – pode conduzir
ocasionalmente a fenômenos de natureza parapsicológica.
Assim
como o corpo humano possui uma anatomia comum, acima e além das diferenças
raciais, também a psique humana possui um substrato que transcende
a toda diferença cultural e consciente.
Os
arquétipos existem pré-conscientemente e provavelmente formam
as dominantes estruturais de todos os seres vivos e a sua índole
específica.
Vi
logo que a Psicologia Analítica concordava singularmente com a Alquimia.
As experiências dos alquimistas eram minhas experiências, e
o mundo deles era, em um certo sentido, o meu. A seqüência toda
das operações alquímicas bem poderia representar o
processo de individuação de uma pessoa.
O 'self'
representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a realização
de sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra sua vontade. A
dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para que tudo
o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente, com ou sem
a concordância do sujeito, quer tenha consciência do que acontece,
quer não.
Mitos
e contos de fadas expressam processos inconscientes. A narração
dos contos revitaliza esses processos e restabelece a simbiose entre consciente
e inconsciente.
Eu tinha uma caixa de lápis envernizada,
amarela, do tipo comumente usada por crianças da escola primária,
com uma pequena trava e a costumeira régua. Na ponta desta régua
eu entalhei um pequeno homenzinho de cinco centímetros de comprimento
com uma casaca, chapéu e botas pretas brilhantes. Eu o colori com
tinta preta e cortei-o fora da régua e o coloquei na caixa onde fiz
para ele uma pequena cama. Eu até fiz uma coberta com um pedaço
de lã. Na caixa, eu também coloquei uma pedra preta do rio
Reno que eu pintei com guache para parecer como se fosse dividida em uma
parte de cima e uma de baixo, e que eu carreguei por muito tempo no meu
bolso. Esta era a pedra dele. E tudo isto era um grande segredo.
O
Livro Tibetano dos Mortos: A ele eu devo não
apenas muitas idéias e descobertas estimulantes mas também
muitos 'insights' fundamentais.
Pelo
uso de mandalas, a concentração é feita no domínio
interior que contém: a unidade da vida e da consciência
que, apesar de outrora possuída, está perdida e precisa ser
reencontrada. Em outra passagem, reflete Jung: Mandala significa
círculo, e mais especialmente, círculo mágico. As mandalas
não se difundiram só em todo o Oriente, mas também
existem entre nós. São numerosas no início da Idade
Média no mundo cristão. Muitas delas têm o Cristo no
centro e os quatro evangelistas ou seus símbolos nos quatro pontos
cardeais. Essa concepção deve ser muito antiga, uma vez que
entre os egípcios Hórus era representado do mesmo modo, com
seus quatro filhos.
Acho
que meus pensamentos giram em torno de Deus como os planetas em torno do
Sol, e são da mesma forma irresistivelmente atraídos por ele.
Eu me sentiria como o maior pecador em querer opor uma resistência
a esta força. Compreendi que Deus –
pelo menos para mim –
era uma das experiências
mais imediatas.
O
horóscopo é aquele 'manuscrito' de que se diz [Paulo,
Col., II, 14] que ele [Cristo] eliminou o vínculo
(...) e o removeu do caminho, ao gravá-lo na cruz.
Uma
outra experiência ocorreu naqueles dias. Eu estava indo para a escola,
quando, de repente, num 'flash', eu tive a impressão de ter acabado
e emergir de uma nuvem densa. Eu imediatamente soube: Agora eu sou eu!
De
repente, eu compreendi que Deus era, pelo menos para mim, uma das experiências
mais certas e imediatas.
A
Psicologia, como ciência relaciona-se, em primeiro lugar, com a consciência;
a seguir, ela trata dos produtos do que chamamos psique inconsciente, que
não pode ser diretamente explorada por estar em um nível desconhecido
ao qual não temos acesso. O único meio de que dispomos, nesse
caso, é tratar os produtos conscientes de uma realidade, que supomos
originários do campo inconsciente, esse campo de 'representações
obscuras' ao qual Kant, em sua Antropologia, se refere como sendo um mundo
pela metade. Tudo o que conhecemos a respeito do inconsciente foi-nos transmitido
pelo próprio consciente. A psique inconsciente, cuja natureza é
completamente desconhecida, sempre se exprime através de elementos
conscientes e em termos de consciência, sendo esse o único
elemento fornecedor de dados para a nossa ação. Não
se pode ir além desse ponto, e não nos devemos esquecer de
que tais elementos são o único fator de aferição
crítica de nossos julgamentos.
Nascemos
num dado momento, num dado lugar, e teremos, como os vinhos célebres,
as qualidades do ano e da estação que nos viram nascer.
O
que não enfrentamos em nós mesmos encontraremos como destino.
As
opiniões mutáveis dos homens rarissimamente me afetam. Os
pensamentos dos antigos Mestres têm para mim valor bem maior do que
os preconceitos filosóficos da mente ocidental.
Em um dos mais antigos textos [de
Alquimia] – o manuscrito de 'Comarius para Cleópatra' –
os metais [são] descritos como 'cadáveres' que
jazem espalhados no Hades, confinados e agrilhoados nas trevas
e no nevoeiro. O elixir da vida, as 'águas bentas', penetram neles
e despertam-nos do seu sono. [Hades
era considerado o deus do mundo inferior, soberano dos mortos. O nome Hades
era usado para designar tanto o deus como os seus domínios.]
Tudo
o que aprendi levou-me, passo a passo, a uma inabalável convicção
sobre a existência de Deus. Eu só acredito naquilo que sei.
E isso elimina a crença. Portanto, não baseio a Sua existência
na crença... Eu sei que Ele existe.
Como
símbolo psicológico, a Trindade significa, primeiramente,
a homoousia ou essência de um processo que se desenvolve em três
etapas e que podemos considerar como fases de um amadurecimento inconsciente
no interior do indivíduo. Nesta perspectiva, as Três Pessoas
divinas são personificações das três fases de
um acontecimento psíquico regular e instintivo, que tem uma tendência
e se expressar sempre sob a forma de mitologemas e através de costumes
rituais, como por exemplo nas iniciações da puberdade e da
vida masculina, nas ocasiões de nascimento, de casamento, de doença
e de morte. Os mitos e os ritos, como nos mostram, por exemplo, a medicina
do Antigo Egito, têm significado psicoterepêutico – até
mesmo em nossos dias. Em segundo lugar, a Trindade indica um processo secular
de tomada de consciência. Em terceiro lugar, a Trindade não
quer apenas representar, por exemplo, a personificação de
um processo em três etapas, mas ser, de fato, o único Deus
em Três Pessoas, as quais possuem, conjuntamente, uma só e
a mesma natureza divina, pois em Deus não há passagem de potência
ao ato, da virtualidade à realidade; pelo contrário, Deus
é a 'Pura Realidade', o próprio 'Actus Purus'. [Na
sua Metafísica, Aristóteles ensina: 1º)
Das coisas não existentes, algumas existem em potência, por
não existirem em ato; 2º) Deve-se supor um extremo
que seja motor sem ser móvel, ser eterno, substância e Ato
Puro; e 3º) A primeira entidade não tem matéria,
pois é enteléquia. Todas as coisas são e existem
em potência e/ou em ato. Uma coisa em potência é uma
coisa que tende a ser outra, como uma semente que tende a ser uma árvore.
Por outro lado, as coisas, mesmo em ato, também são e estão
em potência, para se manifestarem no eterno vir-a-ser como novos e
mais elaborados atos. A única coisa totalmente em ato é o
Ato Puro, que Aristóteles identificou com o Sumo Bem, isto é:
um pensamento de e em si mesmo, uma inteligência pura, um não-vir-a-ser,
um motor imóvel que tudo move sem ser movido por nada, ou seja, um
motor já e sempre em ato. Esse Ato não é nada em potência
e nem é a realização de potência alguma. Ele
é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de
coisa alguma. Simplesmente é.
Desse conceito, Tomás de Aquino derivou sua noção de
Deus, em que Deus seria Ato Puro, que Jung repetiu como 'Actus
Purus'.
Segundo Tomás: A Deus, porém, convém ser Ato Puro
e primeiro, de onde que ao mesmo tempo convém maximamente agir e
difundir sua semelhança em outros, e por isso a Ele, maximamente,
convém a potência ativa, já que a potência ativa
é dita na medida em que é princípio de ação.]
Tudo
é banal, tudo é 'nada mais do que'; e por isso as pessoas
são neuróticas. As pessoas estão simplesmente enfastiadas
de tudo, dessa vida banal, e por isso querem sensações. Querem
até uma guerra: todas querem uma guerra. Todas ficam felizes quando
há uma guerra e dizem: —
'Graças a Deus,
finalmente acontece algo, algo que é maior do que nós'.
Sabia
que esta pequena chama era a minha consciência, a única luz
que possuía. O conhecimento de mim mesmo era o único e maior
tesouro que eu possuía. Apesar de infinitamente frágil, comparado
aos poderes da sombra, era uma luz, minha única luz.
Quem olha para
fora sonha; quem olha para dentro acorda.
A psique tem duas condições
importantes. Uma é a influência ambiental e a outra é
o fato dado da psique quando ela nasce. Tudo que você faz aqui, tudo
isto, todas as coisas, foram fantasias para começar, e a fantasia
tem uma realidade própria. A fantasia, como você vê,
é uma forma de energia, a despeito de não podermos medi-la.
E assim, acontecimentos psíquicos são fatos, são realidades.
E quando você observa o fluxo das imagens internas, observa um aspecto
do mundo, do mundo interior, porque a psique, se você a entende como
um fenômeno que tem lugar nos chamados corpos vivos, é uma
qualidade da matéria, como nosso corpo consiste de matéria.
A neurose principal de nosso tempo é
o vazio.
A
perturbação psíquica de uma neurose e a própria
neurose podem ser concebidas como um 'ato frustrado de adaptação'.
Essa formulação corresponde à opinião de Freud,
para quem a neurose constitui, num certo sentido, uma tentativa de autocura.
A
neurose é sempre um substituto de um sofrimento legítimo.
Uso
a palavra 'individuação' para designar um processo através
do qual um ser se torna um 'individuum' psicológico, isto é,
uma unidade autônoma e indivisível, uma totalidade.
Uma
consciência inflacionada é sempre egocêntrica e só
tem consciência de sua própria presença. [Este
conceito é exatamente o oposto daquela realização pessoal
e intransferível de que somos todos um.]
A
sombra personifica o que o indivíduo recusa conhecer ou admitir e
que, no entanto, sempre se impõe a ele, direta ou indiretamente,
tal como os traços inferiores do caráter ou outras tendências
incompatíveis.
Há
tantos arquétipos quanto há situações típicas
na vida. Uma repetição sem-fim gravou essas experiências
em nossa constituição psíquica, não na forma
de imagens preenchidas de conteúdo, mas primeiro como formas sem
conteúdo, representando meramente a possibilidade de um certo tipo
de percepção e ação. Quando ocorre
uma situação
que corresponde a um arquétipo dado, aquele arquétipo se torna
ativado e uma certa compulsividade aparece, o que, como um guia instintivo,
ganha seu caminho contra toda a razão e vontade, ou então
produz um conflito de dimensões patológicas, o que vale dizer,
uma neurose.
O
ser humano não se torna iluminado ao imaginar figuras de luz, mas
ao se conscientizar da escuridão.
O
homem que apenas crê e não procura refletir, esquece-se de
que é alguém constantemente exposto à dúvida,
seu mais íntimo inimigo, pois onde a fé domina, ali também
a dúvida está sempre à espreita. Para o homem que pensa,
porém, a dúvida é sempre bem recebida, pois ela lhe
serve de preciosíssimo degrau para um conhecimento mais perfeito
e mais seguro. [Dubito,
ergo sum, vel, quod idem est, cogito, ergo sum. (Descartes, Inquisitio
Veritatis). Duvido, logo existo, ou, o que é a mesma coisa,
penso, logo existo.]
Ser 'normal'
é o ideal dos que não têm êxito, de todos os que
ainda se encontram abaixo do nível geral de adaptação.
Mas, para as pessoas dotadas de capacidade acima da média, que não
encontram qualquer dificuldade em alcançar êxitos e em realizar
sua cota-parte de trabalho no mundo, a compulsão moral a não
serem nada, senão normais, significa o leito de Procusto: mortal
e insuportavelmente fastidioso, um inferno de esterilidade e de desespero.4
A
própria Psicanálise, bem como as diretrizes
de pensamento às quais deu origem, e que são, na verdade,
um desenvolvimento ocidental, são uma tentativa de principiantes,
comparados com o que, no Oriente, constitui uma arte imortal.
De fato,
o significado especial de uma obra de arte reside no fato de que ela escapou
das limitações da pessoalidade e se colocou além dos
limites dos interesses pessoais de sua criação.
O
amor mata o que éramos, a fim de que surja o que não éramos.
O amor é para nós como uma morte.
Pensar
que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é
uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não
nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico,
com qualidades históricas específicas e, portanto, só
é completo quando tem relações com essas coisas. Se
um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é
como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo
exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo.
O
fiel não pode contestar o fato de que há 'somnia a Deo missa'
(sonhos enviados por Deus) e iluminações da alma impossíveis
de serem remetidas a causas externas. Seria uma blasfêmia afirmar
que Deus pode se manifestar em toda a parte, menos na alma humana.
Paga-se
mal a um mestre enquanto se permanece discípulo.
O
sonho chega como a expressão de um involuntário processo psíquico
inconsciente, além do controle da mente consciente. Mostra a verdade
interior e a realidade do paciente como efetivamente elas são: não
como eu conjecturo que seja e não como ele gostaria que fosse, mas
como é.
A
análise, na medida em que se restringe à decomposição,
deve ser necessariamente seguida por uma síntese.
Esse
é o segredo da Grande Arte e do seu efeito sobre nós. O processo
criativo, na medida em que somos hábeis a segui-lo, consiste na ativação
inconsciente de uma imagem arquetípica e em uma elaboração
dessa imagem em uma linguagem do presente, e faz isso possível para
que encontremos nosso caminho de volta aos momentos mais profundos da primavera
de nossas vidas.
A
reimersão ao estado de participação mística
é o segredo da criação artística e do efeito
que a Grande Arte tem sobre nós, porque não é o nível
de experiência do indivíduo que conta, mas a vida do coletivo.
Isso se deve ao fato de que cada grande obra de arte é objetiva e
impessoal e profundamente tocante. [O sorriso enigmático
da Monalisa, de Leonardo
da Vinci, é uma ilusão que aparece e desaparece devido
à maneira peculiar como o olho humano processa as imagens, afirma
um estudo sobre os mecanismos da visão da neurobióloga Margaret
Livingstone. Da Vinci pintou o sorriso da Monalisa usando sombras que
vemos muito melhor com nossa visão periférica, conclui
a pesquisadora.]
|
Monalisa
Leonardo Da Vinci |
Onde
o amor governa, não há desejo de poder; e onde o poder predomina,
falta amor. Um é a sombra do outro.
Tratando-se
de um estado subjetivo, cuja existência não pode ser legitimada
por nenhum critério exterior, nenhuma tentativa posterior de descrição
e explicação será bem sucedida, pois só quem
fez tal experiência poderá compreender e testemunhar tal realidade.
A 'felicidade', por exemplo, é uma realidade importante e não
há quem não a deseje; no entanto, não há qualquer
critério objetivo para testemunhar a existência indubitável
dessa realidade. Assim, justamente nas coisas mais importantes é
que devemos contentar-nos com nosso julgamento subjetivo.
Se o homem errado
utilizar o método certo, o meio certo operará errado. Esta
sentença, infelizmente verdadeira, da sabedoria chinesa, opõe-se
da maneira mais brutal à fé que professamos no método
'certo', sem levar em conta o indivíduo que o utiliza. Não
é o diploma médico, mas a qualidade humana, o decisivo.
Os dados reais
não mudam quando aplicamos a eles outros nomes. Só nós
poderíamos, casualmente, ser afetados. Se alguém concebesse
'Deus' como um 'puro nada', nada atingiria o princípio que nos ultrapassa.
Continuaríamos tão possuídos por Ele como antes.
É
a personificação das forças vitais que estão
fora de nossas mentes conscientes; dos caminhos e das possibilidades de
que nossa mente consciente unilateral não sabe nada; uma completude
que abraça as várias profundidades da natureza. Ela representa
a mais forte e inelutável ânsia em cada ser, a ânsia
de se perceber como ser. A ânsia e a compulsão de se autocompreender
é uma lei da natureza e, portanto, do poder invencível, até
mesmo se sua efetividade, no início, seja insignificante e improvável.
Aqui
[em Psicoterapia] temos de seguir a natureza como um guia. Então,
o que fazemos como terapeutas é menos uma questão de tratamento
do que de desenvolvimento das possibilidades criativas latentes no paciente.
O
homem que não atravessa o inferno de suas paixões também
não as supera. Elas se mudam para a casa vizinha e poderão
atear o fogo que atingirá sua casa sem que ele perceba. Se abandonarmos,
deixarmos de lado, e de algum modo esquecermo-nos excessivamente de algo,
corremos o risco de vê-lo reaparecer com uma violência redobrada.
Não sei
dizer como é um homem que desfrute de completa auto-realização
porque nunca vi nenhum. Antes de buscar a perfeição, devemos
viver o homem comum, sem automutilação.
O inconsciente
sabe mais do que o consciente, mas seu saber é de uma essência
particular, de um saber eterno, que, freqüentemente, não tem
nenhuma ligação com o 'aqui' e o 'agora', e não leva
absolutamente em conta a linguagem que fala nosso intelecto.
O
homem necessita de uma vida simbólica... Mas não temos vida
simbólica... Acaso vocês dispõem de um canto em algum
lugar de suas casas onde realizem ritos, como acontece na Índia?
Mesmo as casas mais simples daquele País têm pelo menos um
canto fechado por uma cortina no qual os membros da família podem
viver a vida simbólica, podem fazer seus novos votos ou meditar.
Nós não temos isso... Não temos tempo, nem lugar...
Só a vida simbólica pode exprimir a necessidade do espírito
– a necessidade diária do espírito –
não se esqueçam!
E como não dispõem disso, as pessoas jamais podem se libertar
desse moinho, dessa vida angustiante, esmagadora e banal...
O sonho é
uma porta estreita, dissimulada, no que tem a alma de mais obscuro e de
mais íntimo; abre-se sobre a noite original e cósmica que
pré-formava a alma muito antes da existência da consciência
do eu, e que a perpetuará até muito além do que possa
alcançar a consciência individual.
O principal objetivo da Terapia
Psicológica não é transportar o paciente para um impossível
estado de felicidade, mas, sim, ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência
diante do sofrimento. A vida acontece no equilíbrio entre a alegria
e a dor. Quem não se arrisca para além da realidade jamais
encontrará a verdade.
Todo
processo psíquico consiste em uma imagem e em um ser que está
imaginando, senão nenhuma consciência poderia existir e o evento
não teria fenomenalidade. Também a imaginação
é um processo psíquico, e por isso é completamente
fora de propósito perguntar-se se a iluminação (o 'satori',5
por exemplo) é
'real' ou 'imaginária'.
Não tenho
necessidade de crer em Deus. Eu o conheço.
Ela
[a Humanidade] projeta então o símbolo unificador
nos céus. Através desta projeção torna-se 'numinoso'
[o inexprimível, o misterioso, o tremendo, o 'totalmente outro',
propriedades que possibilitam a experiência imediata do divino] e
provido de forças míticas, e transforma-se no mito do salvador...
Mas considerando que os UFOs sejam fenômenos reais, materiais, de
natureza desconhecida, neste caso poderia ser um fenômeno de sincronicidade
[coincidência significativa ou correspondência entre um
acontecimento psíquico e um acontecimento físico não
ligados por uma relação causal, ou, ainda, entre sonhos, idéias
análogas ou idênticas que ocorrem em lugares diferentes, sem
que a causalidade possa explicar umas e outras manifestações]...
A situação psíquica da Humanidade, por um lado, e o
fenômeno dos UFOs como realidade física do outro, não
têm relação causal que possa ser reconhecida, mas parecem
coincidir de forma significativa.
Um
homem que nunca tenha atravessado o inferno de suas paixões, nunca
as superou.
Os sonhos fornecem
informações extremamente interessantes a quem se empenhar
em compreender o seu simbolismo. O resultado, é verdade, pouco tem
a ver com preocupações mundanas como comprar e vender. Mas,
o sentido da vida não é explicado pelos negócios que
se fez, assim como os desejos profundos do coração não
são satisfeitos por uma conta bancária.
Quanto
menos os pais aceitem seus próprios problemas, tanto mais os filhos
sofrerão pela vida não vivida de seus pais, e tanto mais serão
forçados a realizar tudo quanto os pais reprimiram no inconsciente.
Nenhuma
circunstância exterior substitui a experiência interna. E é
só à luz dos acontecimentos internos que entendo a mim mesmo.
São eles que constituem a singularidade de minha vida.
Todos nós
nascemos originais e morremos cópias. [Uns poucos, entretanto,
passam pela transição inteiramente renovados e verdadeiramente
originais.]
Quem
desejar encontrar uma resposta ao problema do mal, tal como é colocado
hoje em dia, necessita, em primeiro lugar, de um conhecimento de si mesmo,
isto é, de um conhecimento tão profundo quanto possível
de sua totalidade.
Esquecemos
do fato milenar de que Deus nos fala sobretudo através de sonhos...
A
libido denota
um desejo ou um impulso livre de qualquer tipo de autoridade, moral ou outra.
A libido é a apetência no estado natural. Do ponto de vista
genético, são necessidades corporais como a fome, a sede,
o sono e o sexo, e estados emocionais ou afetos, que constituem a essência
da libido.
Quanto
mais predomina a razão crítica, mais a vida se empobrece;
mas quanto mais aptos formos a tornar consciente o que é inconsciente
e o que é mito, maior parcela de vida integraremos. Superestimar
a razão tem algo em comum com o poder absoluto de um Estado: sob
sua dominação o indivíduo perece. [Por isso discordo
inteiramente da ditadura
republicana proposta pelo Positivismo.]
A
disposição individual é já um fator na infância;
é inata e não pode ser adquirida durante o curso da vida.
Eu
estava certo de que minha mãe tinha duas personalidades: uma inócua
e humana, a outra misteriosa. Esta outra emergia somente de vez em quando,
mas cada vez que isto acontecia era inesperado e amedrontador. Ela falava
como se estivesse conversando consigo mesma, mas o que ela dizia era para
mim (acertando o fundo de meu ser) e me deixava tonto em silêncio.
Erros
são, no final das contas, fundamentos da verdade. Se um homem não
sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento
saber o que ela não é.
Os
sonhos algumas vezes podem revelar certas situações muito
antes de elas realmente acontecerem.
Minha
primeira memória concreta era de brincar com tijolos e construir
torres, que eu depois destruía com um 'terremoto'.
O
terapeuta deve perceber a todo instante o modo pelo qual reage em confronto
com o doente. Não se reage só com o inconsciente. É
necessário perguntar sempre: 'como meu inconsciente vive esta situação?'
É preciso, pois, tentar compreender os próprios sonhos, prestar
atenção minuciosa em si mesmo e observar-se tanto quanto ao
doente, senão o tratamento poderá fracassar.
A
beleza está nos olhos de quem a contempla.
Assim,
como o nosso corpo é um verdadeiro museu de órgãos,
cada um com a sua longa evolução histórica, devemos
esperar encontrar também na mente uma organização análoga.
Nossa mente não poderia jamais ser um produto sem história,
em situação oposta ao corpo em que existe. Por ‘história’
não estou querendo me referir àquela que a mente constrói
através de referências conscientes ao passado, por meio da
linguagem e de outras tradições culturais; refiro-me ao desenvolvimento
biológico, pré-histórico e inconsciente da mente no
homem primitivo, cuja psique estava muito próxima à dos animais.
Esta
psique, infinitamente antiga, é a base da nossa mente, assim como
a estrutura do nosso corpo se fundamenta no molde anatômico dos mamíferos
em geral. O olho treinado do anatomista ou do biólogo encontra nos
nossos corpos muitos traços deste molde original. O pesquisador experiente
da mente humana também pode verificar as analogias existentes entre
as imagens oníricas do homem moderno e as expressões da mente
primitiva, as suas ‘imagens coletivas’ e os seus motivos mitológicos.
Assim
como o biólogo necessita da anatomia comparada, também o psicólogo
não pode prescindir da ‘anatomia comparada da psique’.
Em outros termos, o psicólogo precisa, na prática, ter experiência
suficiente não só de sonhos e outras expressões da
atividade inconsciente, mas, também, da mitologia no seu sentido
mais amplo. Sem esta bagagem intelectual ninguém pode identificar
as analogias mais importantes; não será possível, por
exemplo, verificar a analogia entre um caso de neurose compulsiva e a clássica
possessão demoníaca sem um conhecimento exato de ambos.
Nossas vidas têm tanto ou pouco
sentido quanto nelas colocamos.
Para
o filho, a 'anima' se oculta no poder dominador da mãe e a ligação
sentimental com ela dura às vezes a vida inteira, prejudicando gravemente
o destino do homem ou, inversamente, animando a sua coragem para os atos
mais arrojados.
A
projeção é um processo inconsciente, automático,
através do qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é
transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça
pertencer ao objeto. A projeção cessa no momento em que se
torna consciente, isto é, ao ser constatado que o conteúdo
pertence ao sujeito.
A via régia que nos leva ao inconsciente,
entretanto, não são os sonhos, como ele [Freud] pensava,
mas os complexos, responsáveis pelos sonhos e pelos sintomas.
O
complexo emocionalmente carregado é a imagem de uma determinada situação
psíquica com uma carga emocional intensa que se mostra incompatível
com a habitual disposição ou atitude da consciência.
Essa imagem é dotada de certa coesão interna, possui sua própria
totalidade e dispõe, ainda, de um grau relativamente alto de autonomia.
Isto é: está muito pouco sujeita às disposições
da consciência e, por isso, comporta-se na esfera da consciência
como um 'corpus alienum' [corpo alheio] cheio de vida...
No
jardim da minha casa havia um muro de pedras e em frente a este muro havia
uma elevação com uma pedra que era a minha pedra. Freqüentemente,
quando eu estava sozinho, eu me sentava nesta pedra e começava um
jogo imaginário que era o seguinte: 'Eu estou aqui sentado em cima
desta pedra e ela está embaixo'. Mas a pedra também podia
dizer 'eu' e pensar: 'Eu estou aqui deitada nesta elevação
e ele está sentado em cima de mim'. A questão aí surgia:
'Eu sou aquele que está sentado em cima da pedra, ou eu sou a pedra
na qual ele está sentado?' Esta pergunta sempre me deixava perplexo,
e eu me levantava e ficava pensando quem era o quê agora. A resposta
sempre permanecia obscura e minha incerteza era acompanhada de um sentimento
curioso e fascinante de escuridão. Mas não havia dúvidas
de que o que quer que fosse, esta pedra surgia em uma estranha relação
comigo. Eu podia sentar nela por horas fascinado pelo enigma que ela produzia.
Minha
experiência como médico assim como minha própria vida
confrontavam-me constantemente com a questão do amor, e eu nunca
fui capaz de dar uma resposta válida.
O
Ego é um dado complexo formado primeiramente por uma percepção
geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de
nossa memória. Todos temos uma certa idéia de já termos
existido, quer dizer, de nossa vida em épocas passadas; todos acumulamos
uma longa série de recordações. Esses dois fatores
são os principais componentes do ego, que nos possibilitam considerá-lo
como um complexo de fatos psíquicos.
É
este fator que eu chamo de arquétipo ou imagem primordial.
A imagem primordial pode ser adequadamente descrita como a percepção
que o instinto tem de si mesmo, ou como o auto-retrato do instinto. A imagem
primordial, também dita arquétipo, é sempre coletiva,
ou seja, é pelo menos comum a povos ou épocas inteiras
A
estrutura da psique é, de fato, tão contraditória ou
contrapontística, que não deve
existir constatação psicológica ou proposição
genérica alguma que não nos obrigue imediatamente a fazer
também a afirmação do seu oposto.
Freud
nunca se interrogou acerca do motivo pelo qual precisava falar continuamente
sobre sexo e por que esse pensamento a tal ponto se apoderara dele. Nunca
percebeu que a 'monotonia da interpretação' traduzia uma fuga
diante de si mesmo ou de outra parte de si que ele teria, talvez, que chamar
de 'mística'. Ora, sem reconhecer esse lado de sua personalidade,
era-lhe impossível pôr-se em harmonia consigo mesmo. Ele tornou-se
vítima do único lado que podia identificar, e é por
isso que o considero uma figura trágica, pois era um grande homem
e, o que é principal, tinha o fogo sagrado.
Quanto
mais profundas forem as 'camadas' da psique, mais perdem sua originalidade
individual. Quanto mais profundas, mais coletivas se tornam. O carbono do
corpo humano é simplesmente [um conjunto de átomos de]
carbono; no mais profundo de si mesma, a psique é o Universo.
Imagens
expressam não só a forma da atividade a ser exercida, mas
também, simultaneamente, a situação típica no
qual se desencadeia a atividade. Tais imagens são 'imagens primordiais',
uma vez que são peculiares à espécie, e se alguma vez
foram 'criadas', a sua criação coincide no mínimo com
o início da espécie. O típico humano do homem é
a forma especificamente humana de suas atividades. O típico específico
já está contido no germe. A idéia de que ele não
é herdado, mas criado de novo em cada ser humano, seria tão
absurda quanto a concepção primitiva de que o Sol que nasce
pela manhã é diferente daquele que se pôs na véspera.
O
destino quer – como sempre quis – que na minha vida todo o exterior
seja acidental e que só o interior represente algo de substancial
e determinante. É assim que todas as lembranças de acontecimentos
exteriores empalideceram; mas talvez nunca tenham representado algo de essencial,
ou apenas o foram na medida que coincidiam com as fases do meu desenvolvimento
interior. Um número incalculável dessas manifestações
exteriores caiu no esquecimento justamente porque, como então me
parecia, todas as minhas forças estavam empenhadas nelas. Ora, são
estes episódios exteriores que tornam uma biografia compreensível
– pessoas que se conheceram, viagens, aventuras, complicações,
golpes do destino e assim por diante. Com poucas exceções,
tudo isso se metamorfoseou no limite das minhas lembranças, em imagens
– fantasmas que minha mente não deseja reconstruir e nem dar
asas a minha imaginação... Não posso me referir aos
meus relacionamentos mais íntimos, que me voltam à mente como
lembranças longínquas, pois constituem não somente
minha vida mais profunda como também a dos meus amigos. Eles não
me pertencem e eu não posso expor aos olhos do mundo estas portas,
que para sempre deverão permanecer fechadas.
Primeira
lembrança de um sonho: Eu estava no campo e de repente descobri
um buraco escuro e retangular, no chão. Eu nunca o tinha visto antes.
Eu corri até lá e me debrucei sobre ele. Aí eu vi uma
escadaria de pedra que ia para baixo. Hesitante e com medo eu desci. No
fundo havia um portal em forma de arco, fechado por uma cortina verde. Era
uma cortina grande e pesada trabalhada com algo parecendo brocado, e parecia
muito suntuosa. Curioso para ver o que havia por trás, eu a puxei
para o lado. Eu vi diante de mim, na penumbra um quarto retangular, que
tinha uns 9 metros de comprimento. O teto era arqueado e de pedra aparente.
O chão era de lajotas, e no centro um tapete vermelho corria da entrada
até uma plataforma baixa. Nesta plataforma havia um rico trono dourado.
Eu não estou certo, mas, talvez, com uma almofada vermelha no assento.
Era um trono magnífico, um verdadeiro trono de rei dos contos de
fadas. Alguma coisa estava de pé nele, no que eu pensei primeiro
que era um tronco de uma árvore de uns 3,5 a 4,0 metros de altura
e 60 cm de diâmetro. Era uma coisa enorme que quase alcançava
o teto. Mas ele era de uma constituição curiosa: ele era feito
de pele e carne, e no topo tinha uma cabeça redonda sem rosto e nenhum
cabelo. No topo da cabeça havia um único olho, imóvel,
firmado para cima. Era um quarto com alguma iluminação apesar
de não haver janelas e nenhuma fonte de luz aparente. Sobre a cabeça,
entretanto, havia uma aura luminosa. A coisa não se mexia, mas eu
tinha a sensação de que poderia se despregar do trono e se
rastejar como uma minhoca em minha direção. Eu estava paralisado
de terror. Neste momento, eu escutei, de fora e de cima, a voz de minha
mãe. Ela dizia: 'Sim olhe para ele. Aquele é o devorador de
homens!'. Aquilo intensificou o meu terror ainda mais e eu acordei suando
e morrendo de medo. Por muitas noites seguidas eu fiquei com medo de ir
dormir temendo ter um outro sonho como aquele.
A
minha vida é o que eu fiz: a minha obra científica. São
inseparáveis uma da outra. A obra é a expressão da
minha evolução interior.
Rio
de Janeiro, 25 de junho de 2006.
_____
Notas:
1.
Ariano: suposta raça que abrangeria todos os indivíduos que
compartilhavam as línguas indo-européias no passado e seus
descendentes (não miscigenados) na atualidade. Sua existência
foi defendida por autores europeus do século XIX e posteriormente
retomada preconceituosamente pelos formuladores do racismo nazista. Os fósseis
encontrados, entretanto, desmentem
tal hipótese e demonstram a notável diversidade de configurações
físicas entre os primitivos arianos. Ariano (com letra A maiúscula
para diferenciar) é um Iniciado.
2.
O Complexo de Jung, criado por Carl Gustav Jung, entendia os vários
grupos de conteúdo psíquico que, desvinculando-se da consciência,
passam a atuar no inconsciente, onde continuam, numa existência relativamente
autônoma, a influir sobre a conduta. E, embora possa ser negativa,
essa influência também assume características positivas,
quando se torna o estímulo para novas possibilidades criativas. Trabalha-se
os complexos através das análises das personas. Um
complexo, na teoria junguiana, é um grupo de imagens relacionadas
entre si que têm um acento emocional comum e que se formam em torno
de um núcleo arquetípico.
3.
Arquétipo, na Psicologia Analítica, significa a forma imaterial
à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. Jung
usou o termo para se referir aos modelos inatos que servem de matriz para
o desenvolvimento da psique. Os arquétipos básicos são:
o selbst (si-mesmo, o verdadeiro centro da personalidade), a sombra,
o animus (imagem do masculino), a anima (imagem do feminino),
o mana, a grande mãe, o pai, o herói e a morte. Na opinião
de Jung, o principal arquétipo é o self. O self
é o centro de toda a personalidade. Dele emana todo o potencial energético
de que a psique dispõe. É o ordenador dos processos psíquicos.
Integra e equilibra todos os aspectos do inconsciente, devendo proporcionar,
em situações normais, unidade e estabilidade à personalidade
humana. Jung conceituou o self da seguinte forma: O 'self'
representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a realização
de sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra sua vontade. A
dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para que tudo
o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente, com ou sem
a concordância do sujeito, quer tenha consciência do que acontece,
quer não. Para Jung, a sombra é o centro do Inconsciente
Pessoal, o núcleo do material que foi reprimido da consciência.
A sombra inclui aquelas tendências, desejos, memórias e experiências
que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis
com a persona e contrárias aos padrões e ideais sociais.
Quanto mais forte for nossa persona, e quanto mais nos identificarmos
com ela, mais repudiaremos outras partes de nós mesmos. A sombra
representa aquilo que consideramos inferior em nossa personalidade e também
aquilo que negligenciamos e nunca desenvolvemos em nós mesmos. Em
sonhos, a sombra freqüentemente aparece como um animal, um anão,
um vagabundo ou qualquer outra figura de categoria mais baixa. Persona
é a máscara social que nós usamos, é aquilo
que pensamos ser, que aparentamos ser, que os outros acreditam que somos,
mas que na verdade não somos. A persona é uma camada
muito superficial da psique e tem grande importância social, pois
é por intermédio dela que nós assumimos papéis
dentro da sociedade. Mana é um termo melanésio que designa
um poder extraordinariamente atuante, que emana de um ser humano, de um
objeto, de um ato, de um acontecimento ou de seres e espíritos sobrenaturais.
Pode também significar saúde, prestígio, poder mágico
e poder de cura. É um conceito primitivo de energia psíquica.
4.
LEITO DE PROCUSTO por Fernando Kitzinger Dannemann:
A
criminalidade, além de ser a qualidade ou estado do que ou de quem
é criminoso, também indica a freqüência e natureza
dos atos criminosos num dado meio, numa época e lugar determinados,
constituindo, portanto, o conjunto e a história dos crimes. Já
a criminologia estuda a conduta do delinqüente em função
de alguns fatores, como os hereditários, os psicológicos e
os sociais, não dispensando a colaboração de outros
ramos do conhecimento para classificar os diversos tipos criminais e considerar
o tratamento que se deve dar a quem pratica um crime. Na antiguidade, o
castigo aplicado aos criminosos variava segundo as circunstâncias
do crime, a condenação pronunciada e as leis de cada país,
e o acontecido a Procusto é um exemplo disso.
Ele
era um famoso salteador da Ática, antiga região grega que,
segundo a tradição, dividia-se em doze estados pelasgos, os
primitivos habitantes que povoaram a Grécia e a Itália por
volta de 2000-1600 a. C., cujas cidades principais eram Atenas, Pireu e
Elêusis. Sanguinário ao extremo, Procusto não se limitava
a assaltar os viajantes que transitavam pelas estradas onde ele exercia
sua atividade criminosa, mas também os submetia a um suplício
bárbaro: os prisioneiros eram colocados em uma cama, e os de pequena
estatura, que não ocupavam toda a extensão do leito, sofriam
um processo de estiramento com cordas ligadas a roldanas, para que se adaptassem
perfeitamente a ele; já os de tamanho maior, simplesmente tinham
as partes que sobravam cortadas a machado.
Para
dar um fim a esse temido bandoleiro, o herói Teseu foi chamado pelos
moradores do lugar. Natural de outra região, a Argólida, ele
na época havia recuperado a espada e sandálias que haviam
pertencido a seu pai, o rei Egeu, de Atenas. Pondo-se a caminho, ao chegar
a Epidauro, terra do temido Perifetes, conhecido pela violência com
que atingia suas vítimas a golpes de clava de ferro, Teseu foi atacado
pelo bandido, mas não só o venceu como lhe tomou a arma, que
passou a levar consigo como recordação da sua primeira vitória.
Durante o resto da viagem que empreendeu para a Ática, o guerreiro
foi exterminando os monstros e os ladrões que encontrou pelo caminho,
entre os quais estava o facínora Procusto, submetido à mesma
tortura terrível que infligia às suas vítimas. Depois
disso, Teseu ainda realizou diversas façanhas, como a morte do Minotauro,
o rapto de Antíope, ou Hipólita, a rainha das amazonas, a
derrota que impôs às mesmas amazonas nas colinas de Atenas,
e outras mais.
Dessa
passagem mitológica nos ficou a expressão “leito de
Procusto”, aplicada às situações em que a utilização
da força atropela as diferenças existentes entre os indivíduos,
ou desrespeita as circunstâncias especiais que caracterizam os sistemas
de vida adotados pelas pessoas. No Direito, a figura mitológica costuma
ser invocada como metáfora de certos aspectos da atividade jurídica,
considerando semelhante a Procusto aqueles que tentam enquadrar, de modo
inadequado, determinada realidade em um conceito que a ela não se
ajusta, equívoco que sempre resulta em conseqüências negativas.
Fonte:
http://www.usinadaspalavras.com/
index.html?p=ler_texto&txt_id=19401&cat=7
5.
Satori é o estado de iluminação intuitiva perseguido
no Zen-budismo. Atingido o Satori, o próprio ser-no-mundo
passa a ser Zen, e o Zen integra-se no e com o ser-no-mundo. Tem
o mesmo sentido do religare latino. A não-ilusão
é o grande 'satori', a consciência exata, o quinto satori do
Grande Homem, segundo Taisen Deshimaru Roshi. Ele afirma ainda:
A mente indivisa não se refere nem ao grande nem ao pequeno,
nem ao próximo nem ao distante, nem ao ser nem ao não-ser,
nem ao ganho nem à perda, nem ao reconhecimento nem ao não-reconhecimento,
nem ao 'satori' nem ao não-'satori', nem à ilusão,
nem à vida e nem à morte. E também não
se refere nem ao vir-a-ser nem ao não-vir-a-ser. A mente
indivisa é. Mas, o que é uma mente indivisa?
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Música
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Summertime (George Gershwin)
Fonte:
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