JOSÉ ALENCAR
(Pensamentos e Reflexões)

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução e Objetivo

 

 

 

O Vice-Presidente da República José Alencar Gomes da Silva (ou, para os amigos, simplesmente Zé Alencar) foi a personalidade brasileira que, nesta oportunidade, escolhi para estudar.

 

Sua luta contra o câncer vem comovendo a sociedade brasileira, não pela luta em si, mas pela forma como esta luta tem sido travada: com dignidade, em primeiro lugar, mas, também, com bravor, muita fé e bom humor. Vocês já repararam que quando Zé Alencar sorri parece que o mundo inteiro sorri com ele? É como diz a música: When you're smilin', the whole world smiles with you!

 

Eu, que não sou propriamente seu amigo, mas que sou seu admirador, só posso dizer: mete bronca, Zé; güenta firme aí! Quando o angu fica pronto e no frigir dos ovos, tudo dá certo. Agora Zé, você tem que parar com o torresminho e a Maria da Cruz!

 

 

 

Biografia de José Alencar

 

 

 

José Alencar – Certidão de Nascimento

José Alencar – Certidão de Nascimento

 

 

 

O Vice-Presidente da República José Alencar Gomes da Silva nasceu em 17 de outubro de 1931, no lugarejo de Itamuri, município de Muriaé, na Zona da Mata mineira, filho de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva. Aos 14 anos de idade, deixou a casa paterna para trabalhar de balconista em uma loja de armarinhos da cidade de Muriaé. Quando trabalhava como balconista, ganhava 300 mil réis e pagava 220 mil réis em moradia. Os 80 mil réis que sobravam ainda eram suficientes para dar um presente para a mãe todos os meses. — Mesmo que fosse uma caixa com três sabonetes — disse o Vice-Presidente.

 

Pouco tempo depois, tendo recebido proposta mais vantajosa, transferiu-se para Caratinga, município localizado próximo da mesorregião do Vale do Rio Doce, onde continuou a trabalhar de balconista. Aos 18 anos, emancipado pelo pai, estabeleceu-se como comerciante, com a lojinha “A Queimadeira”, cujo nome foi sugerido por um viajante português, o senhor Lopes, sob o curioso argumento de que se fosse um bar, seria Bar Cristal; mas não é um bar, então é A Queimadeira, porque vai vender barato... Ali se vendia de tudo um pouco: tecidos, calçados, chapéus, guarda-chuvas, sombrinhas, armarinho etc.

 

Depois de “A Queimadeira”, o hoje Vice-Presidente da República foi viajante comercial, atacadista de cereais, dono de fábrica de macarrão, atacadista de tecidos e industrial do ramo de confecções.

 

Em 1967, em parceria com o empresário e Deputado Luiz de Paula Ferreira, da área de beneficiamento de algodão, fundou em Montes Claros a Companhia de Tecidos Norte de Minas – Coteminas, hoje um dos maiores grupos industriais têxteis do País.

 

A Coteminas tem hoje 11 unidades industriais em quatro estados brasileiros – Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina – e uma na Argentina. As doze fábricas produzem e distribuem fios, tecidos, malhas, camisetas, meias, toalhas de banho e de rosto, roupões e lençóis, vendidos no mercado interno, nos Estados Unidos, Europa e países do MERCOSUL.

 

Na condição de empresário, José Alencar dedicou-se também às entidades de classe empresarial, tendo sido Presidente da Associação Comercial de Ubá, Diretor da Associação Comercial de Minas, Presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e Vice-Presidente da Confederação Nacional da Indústria.

 

Reafirmando a vocação de servir – fio condutor de sua vida de empresário e cidadão – colocou a sua experiência administrativa a serviço de Minas e do Brasil, candidatando-se ao Palácio da Liberdade, em 1994, inovando a campanha eleitoral com uma postura de elevado sentido ético e de pregação cívica.

 

Em 1998, colocou seu nome novamente como candidato ao Senado Federal, elegendo-se Senador por Minas Gerais com consagradora votação: quase três milhões de votos.

 

Finalmente, em 2002, compôs a chapa do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, elegendo-se Vice-Presidente da República para o período 2003/2006.

 

Recebeu inúmeros títulos de reconhecimento, entre os quais os de Doutor Honoris Causa, concedido pelo Conselho Universitário da Universidade Federal de Viçosa (MG), em dezembro de 2002; Professor Honoris Causa, concedido pelo Conselho Superior da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), em junho de 2003; Professor Honoris Causa, concedido pelo Conselho Técnico Administrativo do Senai/Cetiqt, do Rio de Janeiro, em julho de 2003; Doutor Honoris Causa, concedido pelo Conselho Universitário da Universidade Estadual de Minas Gerais – Unimontes, de Montes Claros (MG), em abril de 2004.

 

Foi distinguido também com as seguintes condecorações: Nacionais - Ordem do Mérito Legislativo – 1985; Comenda do Mérito Cairu – 1985; Ordem de Rio Branco, Oficial – 1989; Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, Comendador – 1991; Ordem do Mérito Militar, Grã-Cruz – 2003; Ordem do Mérito Judiciário Militar, Grã-Cruz – 2003; Medalha do Pacificador – 2003; Ordem de Rio Branco, Grã-Cruz – 2003; Ordem do Mérito Naval, Grã-Cruz – 2003; Ordem do Mérito Aeronáutico, Grã-Cruz – 2003; Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, Grã-Cruz – 2003; Ordem do Mérito da Defesa, Grã-Cruz – 2003. Estaduais - Medalha da Associação Comercial de Minas - Empresário Destaque – 1970; Medalha da Associação Comercial de Minas - Empresário Destaque – 1975; Comenda do Mérito Industrial – 1976; Grande Medalha da Inconfidência – 1983; Medalha do Mérito Santos Dumont – 1985; Medalha da Ordem do Mérito Legislativo – 1985; Medalha Alferes Tiradentes - Bicentenário da Inconfidência Mineira – 1989; Medalha Comemorativa do Dia do Estado de Minas Gerais – 1989; Medalha do Grande Mérito Comercial – 1987; Comenda do Mérito Municipalista - 2003; Medalha Promotor de Justiça Ozanam Coelho – 2003; Grande Colar da Ordem do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – 2003; Grande Colar do Mérito Legislativo Municipal – Câmara Municipal de Belo Horizonte – 2003; Ordem do Mérito Aperipê – Governo do Estado de Sergipe – 2004; Colar do Mérito da Corte de Contas Ministro José Maria de Alkmim, do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais – 2004.

 

É Cidadão Honorário dos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e do Distrito Federal, bem como dos seguintes municípios brasileiros: Além Paraíba, Alpinópolis, Araguari, Arcos, Belo Horizonte, Betim, Bom Despacho, Carangola, Caratinga, Cataguases, Divinópolis, Formiga, Frutal, Guaxupé, Itabira, Ituiutaba, Janaúba, João Monlevade, Juiz de Fora, Lavras, Leopoldina, Mariana, Monte Alegre, Monte Carmelo, Montes Claros, Paracatu, Pará de Minas, Paraopeba, Passos, Patos de Minas, Patrocínio, Pirapora, Poços de Caldas, Ponte Nova, Pouso Alegre, Prata, Rosário da Limeira, Santa Luzia, São João del Rei, São Sebastião do Paraíso, Sete Lagoas, Teófilo Otoni, Timóteo, Tiradentes, Três Corações, Tupaciguara, Turmalina, Ubá, Uberaba, Uberlândia, Varginha e Várzea da Palma, todos em Minas Gerais, e Campina Grande (PB) e Natal (RN).

 

José Alencar Gomes da Silva é casado com a Senhora Mariza Campos Gomes da Silva e tem três filhos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.

 

Eugen Berthold Friedrich Brecht (Augsburg, 10 de fevereiro de 1898 – Berlim, 14 de agosto de 1956), certa vez, disse: há homens que lutam um dia, e são bons; há outros que lutam muitos dias, e são muito bons; há homens que lutam muitos anos, e são melhores. Mas há os que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis! José Alencar é um desses imprescindíveis.

 

 

 

Reflexões e Pensamentos Alencarinos

 

 

 

Eu tenho uma marca na minha vida: não tenho medo da morte. O que eu não quero é vida que não possa ser objeto de orgulho.

 

Emocionado ao dizer que não tem medo da morte: ... não se sabe o que vem depois dela. Se for para encontrar o papai e a mamãe, eu quero morrer agora. A esperança de encontrar pessoas queridas é um alento muito grande e uma grande razão para não ter medo do momento da morte.

 

Sou de família católica, mas nunca fui de ir à missa. Nem agora faço isso. Quando a coisa aperta, rezo o Pai-nosso. Ultimamente, tenho rezado umas duas, três vezes ao dia.

 

Por exemplo, nesse meu caso de saúde, há muitas pessoas que não pronunciam a palavra câncer. Eu penso que devemos acabar com esse preconceito e falar de câncer, discutir o câncer porque nós podemos vencer o câncer... Todos sabem que o diagnóstico precoce é o fator principal para se combater o câncer.

 

Sinto a obrigação de ser absolutamente transparente quando me refiro à doença em público – ninguém tem nada a ver com o câncer do José Alencar, mas com o câncer do vice-presidente, sim. Um homem público com cargo eletivo não se pertence.

 

Desconheço o sentimento da angústia. Nunca tive isso. Desde pequeno sou assim, e não é a doença que vai mudar isso.

 

Quando fiz uma operação que durou 18 horas, ouvi muita gente falando: ‘É muita coragem’. Mas que coragem? Se o médico disse que eu tenho que operar, eu opero e acabou.

 

O desespero não ajuda.

 

Eu passei por quinze cirurgias... Eu cheguei a sancionar lei da UTI. Eu não parei de trabalhar.

 

Quando eu ficar curado vou merecer até diploma de oncologista.

 

Eu não tenho medo da morte, eu já falei isso. Tenho certeza que vou morrer um dia, todos nós temos. Mas se Deus quiser me levar agora não precisa de câncer para isso. Se não quiser que eu vá, não há câncer que me leve e tudo indica que Ele não quer me levar agora.

 

Não tenho medo da morte porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho. Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar Dele.

 

Como cristão, não colocaria em minha plataforma política a defesa da união civil de pessoas do mesmo sexo, por considerar o homossexualismo uma forma de violência à natureza humana.

 

O Estado é um péssimo administrador... O Estado quebrou vários bancos públicos em uma época em que o que mais dinheiro deu no Brasil foi banco.

 

 

 

 

 

Quando soube da diminuição de seus tumores: Não sabia se deveria contar a todos a boa notícia. Pensei que, sabendo que eu ainda posso viver mais um pouco, o pessoal iria parar de falar tão bem de mim.

 

Se alguém defende meu nome por causa de dinheiro para campanha, peço que me esqueçam. Me exauri nas campanhas.

 

Golpe de falso seqüestro: Eu estava sozinho, em casa, e atendi um cidadão dizendo que havia seqüestrado minha filha. Ele a colocou no telefone, ela chorou e disse:

— Papai, eu fui assaltada.

E eu tinha absoluta segurança de que era ela, pela voz. Então, eu dialoguei com o camarada por algum tempo, com paciência, e no fim acabou tudo bem. Alencar contou que o interlocutor lhe pediu R$ 50 mil e que travou o seguinte diálogo com o suposto seqüestrador:

Eu disse para ele: — eu não tenho nada aqui, eu estou no Rio, eu não tenho dinheiro aqui.

— Não tem jóia?

Eu disse: — não tem jóia.

— Mas sua mulher não tem jóia?

— Não tem jóia; ela não usa jóia.

— Qual é a atividade do senhor?

Eu disse: — eu sou vice-presidente da República.

Ele disse assim: — O quê?

— Eu sou o vice-presidente da República.

— Qual é o nome do senhor?

— José Alencar Gomes da Silva.

E nisso chegou o meu pessoal, a Marisa e as meninas. Elas ligaram para a Maria da Graça, minha filha. Ela estava em casa; tudo bem.1

 

Os partidos políticos, como componentes do poder político nacional, não se fazem no curto prazo; os partidos se fazem com trabalho, com dedicação, e também com comportamento correto, para que eles comecem a ganhar a confiança nacional.

 

O Partido Republicano Brasileiro (PRB) tem compromisso com o trabalho, a dedicação, a probidade e o exemplo de honradez.

 

Quando se fala hoje em Economia de Mercado, há que se acrescentar responsável.

 

A simples reprodução do conhecimento não é a principal atribuição da universidade, que deve ter o ser humano como questão primordial, para evitar o distanciamento da realidade social em que está inserida.

 

As lições da vida pública são muitas. A gente aprende todo dia na vida pública. Agora, eu poderia dizer que uma das mais importantes lições é a convicção, a consciência de que o trabalho honrado pode nos levar a um novo tempo no Brasil. Porque hoje a grande preocupação reside no fato de que alguns homens públicos não têm contribuído para a respeitabilidade da categoria. Claro que isso é uma minoria. Felizmente, a grande maioria é constituída de gente séria, gente boa, mas o ideal é que todos estivessem firmes no propósito de merecer uma eleição. O Brasil precisa disso. E o Brasil passará a ser outro país.

 

Eu não sei se eu poderia passar algum ensinamento para os jovens brasileiros. O que eu poderia dizer é que, como diziam os antigos de Minas, fora da lei não há salvação. Vamos procurar realizar o nosso trabalho rigorosamente obedecendo às leis. É muito mais fácil crescer dentro da lei do que à margem dela, o que pode nos levar à perdição. O que eu tenho recebido como ensinamento é que vale a pena obedecer rigorosamente às normas, não só éticas mas também às morais, as normas comportamentais. A vida pública é uma doação. Ninguém precisa pensar que vai ser feliz ingressando na política para se servir. Tem que ter a consciência absolutamente segura de que está ali para servir, e não para se servir.

 

A principal característica do comportamento republicano é justamente esse compromisso sério com a Democracia, com o respeito, com a causa pública. A República – a 'res publica'.2 Nós estamos prestando um serviço à República. O comportamento tem que ser aquele capaz de colocar a República como fim, não como meio para vantagens subalternas. Ser republicano é respeitar a República.

 

O Rio é o berço da República, foi a capital da República durante muitos anos e pertence a cada brasileiro. Em Minas, nos acostumamos desde cedo a trabalhar, ganhar uns trocados e vir gastar no Rio. Costumava me hospedar num hotel antigo chamado Vera Cruz, na Rua Pedro I. Esse hotel, de tão comprido que era, ia da Rua Pedro I até o Largo da Carioca. Depois o hotel foi demolido e, no lugar, construíram o Hotel Presidente.

 

Tenho uma familiaridade grande com o centro do Rio, onde não existia nenhuma violência. Foram muitas as vezes que voltei do teatro, do cinema, meia-noite ou mais, na Cinelândia, passando pelo terminal de bonde na Lapa. Parava para comer no Spaghettilândia, pagava 15 “pratas” por um espaguete à bolonhesa e descia pela Rua do Lavradio, Rua dos Inválidos e Rua do Senado. Ali havia becos e nunca me passou pela cabeça que pudesse haver qualquer assalto; e nunca houve. O Rio teimava pela paz, pelo respeito e era importante não só pelas praias, mas pelas tradições políticas e culturais que estavam reunidas no Centro. Houve um momento em que o Palácio Monroe, peça histórica da Cidade, em frente ao Teatro Municipal, foi demolido. Aquilo doeu para todos nós, pois não aceitávamos o fim do Palácio. Provavelmente se não tivessem demolido o Monroe, nós não estaríamos vendo hoje uma tentativa de demolição do Senado em Brasília. Enfim, freqüentei muito o Rio, que era uma cidade realmente maravilhosa e continua sendo. Há até uma música que diz: O Rio de Janeiro continua sendo. Continua lindo, e concordo.

 

A Democracia é um péssimo regime; só que não há outro melhor. (Winston Churchill, apud José Alencar).

 

É preciso que tenhamos condições de fazer transporte moderno e econômico, construir núcleos residenciais que acolham as pessoas que vivem em favelas, com educação, saúde e tudo que uma família necessita. As favelas não são culpadas por isso que vem acontecendo no Rio. A esmagadora maioria dos moradores da favela é constituída de gente boa.

 

O Rio exerce esse poder de liderança: ainda que não seja mais a capital da República, o que acontece no Rio reflete no Brasil.

 

Lembro-me que, na época da guerra, os fazendeiros iam para minha casa, à noite, para ouvir meu pai ler o Correio da Manhã, sob a luz do lampião... Naquele tempo não havia rádio nem luz elétrica.

 

Há certo equívoco quando se separa a empresa das questões de interesse público. Sempre considerei a empresa como um bem da comunidade. A empresa é uma fração da Economia e a força econômica de qualquer país é representada por quatro componentes básicos: setor primário, setor secundário, setor terciário e infra-estrutura. São as empresas que representam esses quatro segmentos da Economia; empresas minúsculas, pequenas, médias, estatais e privadas. A PETROBRAS, por exemplo, é uma fração gigantesca da Economia, já a pastelaria da esquina é uma fração minúscula da Economia. Nós queremos uma Economia próspera, forte, independente, para que se alcancem os objetivos sociais e o objetivo maior: o bem comum. Como ter uma Economia forte, próspera e independente se nós condenamos o lucro? Como uma empresa pode ser forte, próspera e independente se não der lucro? Se der prejuízo? É preciso que nós, ao aceitarmos a idéia de que a empresa pertence à comunidade, compreendamos a razão pela qual o empresário vive mais pela empresa do que dela. O empresário se realiza com o sucesso e progresso da empresa, com seu engrandecimento, e este engrandecimento significa o engrandecimento de uma fraçãozinha da Economia nacional... A empresa é um bem da comunidade e em vez de abominar o lucro, iremos aplaudi-lo. Só assim chegaremos a uma Economia capaz de proporcionar o bem comum. As grandes empresas, prósperas e fortes pagam melhor e têm uma preocupação com a educação dos filhos dos operários. Mas, independentemente disso, as empresas que são prósperas estão colaborando para a prosperidade da Economia do país. Isso é o óbvio, mas é preciso que o óbvio seja trazido à tona para discussão.

 

Lição paterna: — Meu filho, cuidado com quem você vai andar. E outra coisa: lembra-se sempre que o importante na vida é poder voltar.

 

No Brasil, o profissional que acaba de se formar encontra dificuldade de se colocar no mercado. É preciso orientar e dar independência ao jovem profissional.

 

O Brasil vai bem, apesar da política monetária; não graças à política monetária.

 

Eu não tenho medo da morte. Eu tenho medo da desonra. Porque o homem honrado, especialmente o homem que milita na vida pública, não morre nunca. Agora, se ele for um camarada desonrado, ele morre em vida.

 

O trabalho é uma coisa muito boa. Eu nunca parei.

 

 

 

 

De vez em quando me acontece um certo complexo de culpa.3 Porque eu sou vice-presidente da República e as pessoas não têm, de um modo geral, esse tratamento que eu tenho tido. Será que nós não podemos fazer isso para todo mundo, meu Deus?

 

Provavelmente, uma das razões pelas as quais o Presidente Lula me convidou para ser o vice foi que eu não era doutor. Se eu fosse doutor, ele já ficava na inferioridade. Assim, a gente ficava mais ou menos empatado. Como ele fala: 'Nós dois analfabetos'.4

 

Se os doutores chegassem e dissessem que eu estou definitivamente curado, tomaria um gole para comemorar.

 

Todas as pessoas do Rio podem votar em Minas porque o Rio é uma das melhores coisas que Minas possui no coração.

 

Eu sempre digo: eu e o Lula somos duas lideranças sindicais. Ele, liderança sindical dos trabalhadores; eu, liderança sindical dos empregadores.

 

O Lula é do interior de Pernambuco e veio para o Sul muito cedo, passando por muitas dificuldades. Eu saí da casa de meu pai aos 13 anos e, é claro, isso pode ter alguma semelhança. Agora, a minha vida é muito mais modesta.

 

Taxas de juros brasileiras: Já gastamos, até agora, em oito anos de Governo, quase R$ 1,2 trilhão.

 

A Ministra Dilma é um nome capaz de atender a qualquer cargo. Tem também uma sensibilidade social muito grande... É natural que haja quem prossiga o trabalho que Lula iniciou, especialmente Dilma... Como chefe da Casa Civil, que é como se fosse uma superintendência, ela está a par de tudo e está preparada para dar continuidade a todos esses programas que o Brasil precisa.

 

Para assumir a Vice-presidência da República, eu saí de todas as empresas... Eu não pertenço a nada...

 

Um ídolo, na vida política, é o Lula, sem dúvida alguma; são raros os brasileiros que têm as qualidades do Lula. Nós somos amigos, com muita honra para mim.

 

As altas taxas de juros têm se constituído em um entrave terrível ao crescimento econômico e um obstáculo incontornável para a geração de novos empregos e a recuperação da renda do trabalho, no Brasil.

 

A humildade é a mais importante de todas as virtudes, tão importante que sem ela não há virtude que o seja. (Miguel de Cervantes, apud José Alencar).

 

A todo momento, peço a Deus para me conceder a graça da humildade.

 

O sofrimento é enriquecedor.

 

A morte consciente é melhor do que a morte repentina. Ela nos dá a oportunidade de refletir.

 

Estou preparado para a morte como nunca estive nos últimos tempos. A morte, para mim, hoje, seria um prêmio. Tornei-me uma pessoa muito melhor. Isto não significa que eu tenha desistido de lutar pela vida. A luta é um princípio cristão, inclusive. Vivo, dia após dia, de forma plena. Até porque nem o melhor médico do mundo é capaz de prever o dia da morte de seu paciente. Isto cabe a Deus, exclusivamente.

 

Eu digo que o prestígio do presidente Lula junto às classes produtoras sérias do Brasil é muito grande. Eu digo que, hoje, os produtores são intransigentes a favor do Lula.

 

Não importa a cor do gato; o que importa é que ele cace o rato. (Den Xiaoping). Não importa a coloração ideológica; o que importa é o bem comum. (Tradução dos cientistas políticos). Apud José Alencar.

 

Na política externa, destaco o fato de fazer crescer o prestígio do Brasil no conceito das nações. Hoje, o Brasil senta à mesa. Essa luta para entrar como membro permanente no Conselho de Segurança da ONU vai acontecer porque a respeitabilidade conquistada pelo Brasil é muito grande.

 

Estamos convivendo com uma política monetária, na minha opinião, equivocada. Não estou falando da política econômica como um todo, estou falando da política monetária. Refiro-me à taxa de juros, ao custo a que nos leva à rubrica representativa dos juros com que nós rolamos nossa dívida. Nós vamos gastar, em oito anos, coisa parecida como R$ 1,3 trilhão de juros, quando nós podíamos gastar a metade, e teríamos economizado R$ 600 bilhões. Se considerar a parcela do Governo Federal do PAC, que é de R$ 60 bilhões, seriam 10 PACs... O Lula tem o estilo dele, mas a responsabilidade maior é dele, porque ele é que é o Presidente. E o Lula tem um modo de ser que eu respeito. Ele, por exemplo, é muito bem orientado pela equipe de assessores que tem. Ele sabe que o José Alencar não é economista. Ele também não é, então ele tem que se valer da orientação daqueles que estão em condições do ponto de vista acadêmico, do ponto de vista de conhecimento teórico ou mesmo prático da Economia. Então, o que estou falando é que aceito contestação, mas é preciso que haja contestação capaz de me convencer, e, por enquanto, não houve. Pois bem: a taxa de juros alta inibe também os investimentos porque você não vai investir em uma atividade produtiva, se essa atividade não remunerar o custo de Capital. O Capital é apenas um dos fatores de produção. Então eu vejo o Lula dizendo: — Vamos comprar, vamos gerar emprego, vamos investir. E a política monetária agindo diametralmente de forma oposta.

 

Diante da crise, o estímulo ao consumo por meio de desonerações, como a do IPI, são medidas pontuais. Eu não gosto muito dessas medidas porque elas acabam levando a uma dose de subjetividade. Você pega, por exemplo, e diz: vamos reduzir o IPI da indústria automobilística. Então, vem outro e diz: vamos reduzir também o IPI da indústria de bicicletas.

 

Precisamos de uma reforma tributária capaz de corrigir todas essas discrepâncias que prejudicam alguma coisa da Economia.

 

A reforma política é ampla, e é uma missão difícil, porque cada um tem a sua reforma na cabeça. Alguns pugnam pela Constituinte, uma Constituinte exclusiva. Eu acho que existem muitos pontos que são importantes, e uns dependem dos outros. Por exemplo: nós queremos o financiamento público de campanha porque assim o tratamento será igual para todos. Para que isto aconteça, é preciso que todos compreendam que a contribuição, para efeito de campanha eleitoral, será destinada ao Partido, e não ao candidato. Então, para o caso de eleições proporcionais, a lista será fechada. É preciso que todos passem a acreditar e respeitar os partidos para que isto possa se realizar.

 

É preciso um povo sadio para se ter uma nação forte e respeitada pelos outros países, que ocupe com dignidade seu lugar no mundo.

 

Aqueles que condenam a política social do Governo Lula como assistencialista, e condenam a existência dela, nem pensam na sorte e na vida dessas famílias. O que o Governo está fazendo é dar uma demonstração de sensibilidade com relação aos mais pobres e aos muito pobres. Paralelamente, o Brasil se organiza para crescer, como já está acontecendo, e gerar empregos para todos, inclusive para esses.

 

É preciso muitos recursos, mais recursos, para a educação e a saúde. A educação no Brasil conta hoje, por exemplo, com uma proliferação de universidades por toda parte. Isso é bom. Mas, por exemplo, é preciso que os advogados saiam dessas escolas superiores sabendo português. Do contrário, eles não conseguem nem registro na OAB para atuar como advogados. Para isso, é preciso que se fortaleça o ensino básico. É fundamental que se cuide melhor dos primeiros doze anos da escola. É preciso também que haja investimentos no técnico, porque nem todos desejam exercer atividades de nível superior. Alguns querem exercer atividades de trabalho, até manual. Por isso, o Governo está empenhado no trabalho para a instalação das escolas técnicas federais em todas as cidades-pólo. Isto é de uma importância muito grande para o País, porque vai preparar aquilo que nós possuímos de melhor, que é a força de trabalho. Então, vamos formar, preparar essa força de trabalho, não só no ensino médio, como também no ensino superior. Ambos, porém, embasados nos nove anos primorosos. Esses nove anos primorosos são essenciais.

 

Acho que esse saldo de inflação que tem aí, tem duas razões básicas, na minha opinião. A primeira delas é a força inercial de uma inflação por longo tempo no Brasil. O outro fator é que aquela inflação trouxe a chamada correção monetária, que foi um desastre, porque ainda que ela corrigisse, ela nos ensinou a conviver com inflação, e nós convivemos uma vida com inflação que foi danosa para a Economia brasileira, graças à correção monetária.

 

 

 

 

Não sou contra a reeleição. Mas é aquela história: cada país tem a sua cultura. Os cinco anos sem reeleição deram ao Juscelino tempo para fazer um excelente Governo, um Governo de grandes realizações. Então talvez um Governo de cinco anos sem reeleição fosse melhor do que com reeleição. O Lula tem procurado evitar que isso faça qualquer perturbação na vida administrativa, mas, de qualquer maneira, isto não é bom. Talvez, o ideal fosse cinco anos sem reeleição.

 

Eu já assumi a Presidência por mais de 400 dias, e o Lula faz questão de dizer que nunca perdeu nenhum minuto de sono – ele fala – enquanto está viajando, porque sabe que estou aqui.

 

A arma nuclear utilizada como instrumento dissuasório é de grande importância para um País que tem 15 mil quilômetros de fronteiras a oeste e tem um mar territorial e, agora, esse mar do pré-sal de 4 milhões de quilômetros quadrados de área... Nós, brasileiros, às vezes somos muito tranqüilos. Nós dominamos a tecnologia da energia nuclear, mas ninguém aqui tem uma iniciativa para avançar nisso. Temos que avançar nisso aí.

 

A minha posição sobre a Lei de Anistia é a seguinte: em 1979, quando foi promulgada pelo presidente de então, que era o general Figueiredo, essa anistia foi considerada ampla, irrestrita e prevalecendo para todos os lados. E eu sou da roça. Lá na roça, os antigos, quando havia um caso assim, parecido, naturalmente respeitadas as proporções, eles falavam assim: Vamos deixar os defuntos em paz; não vamos desenterrar os defuntos. Então, acho que os arquivos devem ser postos – como estão – à disposição. Agora, a modificação da Lei da Anistia eu sou contra. Acho que ela foi muito bem lançada na época, e pôs término àquele período.

 

O Brasil precisa acabar com a impunidade porque a impunidade encoraja o crime. Então, há muitas leis que não são observadas, porque o País ganhou uma cultura da impunidade. As pessoas dão um jeito e fogem da lei. E fora da lei não há salvação. Então, temos que acabar com a impunidade no Brasil, claro, sem tirar o direito de defesa. Tem que haver punição para as coisas erradas; não pode continuar assim, não. Esse negócio de liberação de droga, eu lembro, por exemplo, quando houve na Suíça. Digo para você que foi um inferno, eles voltaram atrás. Eu me lembro como ficaram as praças. Então, com relação às drogas, tem que haver um trabalho coercitivo e um trabalho educativo, paralelamente, porque nós temos também que procurar educar os filhos.

 

A imprensa tem que ser livre. A liberdade de imprensa é um dos instrumentos mais importantes para o fortalecimento da Democracia. Não pode haver Democracia sem a imprensa livre. Você não pode cercear o direito à liberdade de imprensa.

 

Já tinha planejado minha morte porque esse tumor é recorrente. Com esse negócio de que Deus está me curando, tenho que começar tudo de novo, reprogramar minha vida.

 

Se eu recebesse a notícia de que fui curado, abraçaria a Mariza5 e diria: — Muito obrigado por ter cuidado tão bem de mim.





Um Poeminha pro Zé Alencar

 

 

 

Você – que não se alapa em conca

ainda que não seja insubstituível,

é, sim, um brasileiro imprescindível.

 

Você – que tem pendor pra estronca

vá digladiando, vá peregrinando,

que nós, em silêncio, vamos orando.

 

Você – que não tem medo de farronca

sabe que tudo é justo, que tudo é bom.6

Tudo, em verdade, é uma parte do OM.7

 




 

 

 

______

Notas:

1. Também recebi um telefonema semelhante a este. O episódio está relatado do texto que divulguei intitulado Chamada à Cobrar (Aconteceu Comigo). Para lê-lo, por favor, dirija-se a:

http://paxprofundis.org/livros/
chamadaacobrar/chamadaacobrar.htm

2. República = res publica = coisa pública; o Estado; a administração do Estado.

3. O acesso à medicina de ponta.

4. Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de entrega do título de presidente emérito da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) ao vice-presidente da República, José Alencar, em São Paulo-SP, 9 de novembro de 2009:

Meu querido companheiro José Alencar, vice-presidente da República, e sua companheira Mariza Campos Gomes da Silva:

Cumprimentar o companheiro Josué, e cumprimentando o Josué estarei cumprimentando as irmãs, os netos e os irmãos do José Alencar, que nunca mais me mandou a Maria da Cruz!*

Quero cumprimentar a minha companheira Marisa Letícia Lula da Silva e Cumprimentar o Governador do Estado de São Paulo, José Serra, e cumprimentando o José Serra eu também estarei cumprimentando todos os governadores, porque não me deram a nominata e eu não sei quantos têm aqui. Então, estão cumprimentados todos os governadores. Eu só estou vendo aqui o Eduardo Braga rindo ali, estou vendo o Luiz Henrique que passou, mas está todo mundo cumprimentado. E também, como eu não sou candidato, eu não preciso cumprimentar muita gente daqui para frente.

Quero cumprimentar o companheiro Temer, presidente da Câmara dos Deputados, em nome do qual eu cumprimento os deputados federais e estaduais aqui presentes, cumprimentar a companheira Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, e cumprimentando todos os ministros aqui presentes, Senadores, Deputados, o nosso prefeito Kassab, e cumprimentar o companheiro Paulo Skaf, presidente da Federação.

Eu não sei, José Alencar, se você percebeu que nós mudamos o protocolo aqui. No protocolo original, você teria que falar antes de mim, mas é uma injustiça. É uma injustiça porque este reconhecimento que a FIESP está fazendo com você, eu acho que era uma coisa que poderia ter acontecido antes, mas é importante que as coisas não aconteçam tão antes, mas aconteçam quando têm que acontecer.

Eu acho, Paulo, que é um momento extraordinário de a gente prestar uma homenagem a uma pessoa que eu acho que é muito singular e muito especial. Não existe possibilidade de existirem muitos 'José Alencar' por este Brasil afora. Tem muito empresário, tem muito ministro, tem muito político, agora eu penso que o José Alencar é uma figura especial, especial pelo seu comportamento como ser humano, como pai, como companheiro.

Não são poucas as vezes em que eu e o José Alencar – não podem ser muitas vezes – às vezes, de vez em quando, tomando um gole, a gente começa a falar da vida da gente e a gente começa a chorar. E que bom que a gente chora, viu, Zé? Porque o problema é que tem ser humano que não chora, e quem não chora não tem sentimento. Então, eu acho tão bonito. Quando você falou no nome do teu pai você começou a chorar. Que bom que depois de tantos anos você ainda guarda do teu pai as mesmas emoções que você tinha quando saiu de casa, aos 14 anos. E o Josué vai puxar a você porque o Josué também é chorão. Eu lembro que quando você estava no hospital, que eu ficava conversando com o Josué lá, os olhos dele, de verdes, ficavam vermelhos, todo lacrimejando.

Mas, Zé, eu penso que foi uma dádiva de Deus eu ter te encontrado. Certamente que não foi uma paixão, como a da Mariza por você, mas foi uma coisa política... Eu considero inusitado. Como eu sou um cara que acredita em Deus, e alguns me chamam de atrasado porque eu acredito, e acredito piamente que tem um ser superior que guia os nossos passos e que faz a gente dar certo, faz a gente acontecer, mas não tinha por que eu demorar quase 70 anos para te conhecer. Eu [com] 58 e você, na época, [com] 70 anos. A gente poderia ter se conhecido há muito mais tempo. Quem sabe, eu não tivesse perdido tanta eleição. Quem sabe eu tivesse...

A verdade é que o Zé Alencar, por simplicidade, por companheirismo, ele nunca vai reconhecer, mas quem faz política neste País sabe do seguinte: eu já estava cansado de ter 30% de votos nas eleições presidenciais. E eu tinha uma agonia. O Dulci participou de uma reunião, quando foi decidir que eu seria candidato pela terceira vez, e eu dizia: gente, eu não posso ser candidato igual ao que eu fui as outras vezes. Eu vou para o matadouro, sabe, porque viram todos contra mim, gente. Não tem jeito.

Bem, quando eu fui convidado para a tua festa de 50 anos, de aniversário da tua vida empresarial, eu jamais imaginei ir à tua festa. Eu falava: eu vou à festa desse empresário, grande empresário, o que eu vou fazer lá? Não tem nada para ir lá. O pessoal insistiu, insistiu, insistiu e aí, cada vez mais, eu acredito que Deus estava com o dedinho ali. Eu fui, sentei humildemente, candidato três vezes derrotado... Desfilavam governadores por tudo quanto é lado, governador de tudo quanto é partido político, autoridades, ministros. Só o Itamar Franco é que não foi porque estava com uma certa birra com o José Alencar. E eu pensava: o que eu estou fazendo aqui? Estou lá, daqui a pouco chega um baixinho que trabalha com o José Alencar, o Adriano, e vem com um papelzinho: O Zé Alencar perguntou... O senador perguntou se o senhor quer falar. Eu falei: não, o que eu vou falar, pô? O que eu vou falar? Aí não falei. Aí fiquei lá. Aí o Zé Alencar foi falar. Quando o Zé Alencar começou a contar a vida dele, Serra, eu, na hora, eu falei: está aí o meu vice. Por Nossa Senhora, foi uma coisa... quase um toque de mágica, eu falei: encontrei o meu vice. E aí era preciso tentar conversar com ele.

Antes a gente já tinha feito uma reunião. Embora eu não conhecesse o Zé Alencar, eu ficava sempre hospedado no Hotel Wembley, hotel de três estrelas, em que eu era bem tratado, nada de graça porque sempre cobraram, até que o Zé Alencar um dia me ofereceu a suíte dele, em que eu passei a ficar lá e passamos a conversar um pouco de política. E aí, quando eu desconfiei que eu tinha encontrado a minha cara-metade na política, eu falei: agora eu preciso conversar com ele. Por sorte, o PMDB tinha derrotado ele em uma disputa interna, que não vamos entrar em detalhes aqui, e eu cheguei em Brasília, no gabinete do José Alencar – ele estava do jeito que está agora aí, rindo – eu falei: Zé, eu vim aqui te fazer uma proposta. Eu acho que o PMDB não foi leal com você ontem, te derrotou, e eu queria saber se você está disposto a ser o meu vice na próxima eleição. Você, obviamente, vai ter que trocar de partido político porque o PMDB está em outra. Você... Ele não hesitou: será que o PT me aceita? Eu falei: Aceita, aceita. Eu era que estava aceitando, eu estava necessitando.

E foi como se a gente encontrasse duas pedras... duas peças que se encaixassem perfeitamente bem. Primeiro, porque tinha um pouco de preconceito, possivelmente por culpa nossa mesmo ou por preconceito mesmo, mas tinha um espaço a ser preenchido que o José Alencar preencheu. No começo, muita gente não quis, não é, Zé? Depois, no meio da campanha, esse pessoal precisava mais do Zé Alencar do que eu porque ele passou a ser a coqueluche da esquerda do PT nos debates por este País afora. Pensem num estado que tinha mais gente sectária, era onde o Zé Alencar era chamado mais para convencer as pessoas da boa aliança.

E eu penso que o Zé Alencar tem, sinceramente, metade da responsabilidade que eu tenho pelo fato de a gente estar governando este País há oito anos... sete. Ele, muitas vezes, não se valoriza, acha que não tem nada disso, tal. Eu acho, Zé, que não é apenas a questão de votos, é a questão da garantia. Você foi uma espécie de um fundo garantidor, que eu precisava. É verdade, porque com você na Vice, eu chegava nos debates, e eu falava: olha, você não entende nada, meu filho, você não entende nada. O meu empresário aqui é o Zé Alencar. Está aqui, ó. Ó o tamanhão do bicho aí. Porque isso passou a dar respeitabilidade, passou a ganhar uma dimensão que a gente não tinha e eu acho que isso foi uma coisa determinante, Zé. Além disso, esses sete anos de convivência... que poderia ser mais se o pessoal quisesse, não é, Zé? O pessoal não quer, o pessoal fica discutindo esse negócio aí de contar os mandatos, então nós dois... Nós dois, até que a gente agüentaria mais uns cinco anos de batalha. Mas, como democratas, nós estamos quietinhos. Vamos esperar o jogo ser jogado.

Mas uma coisa interessante é o seguinte: olhem, eu tenho dito em todos os lugares em que eu vou que eu não acredito que em algum momento da história política alguém tenha tido um vice-presidente em que o presidente confia tanto quanto eu confio no Zé Alencar. Nós não temos divergências; quando tem, elas são explicitadas, nós somos companheiros dos bons e dos maus momentos, nós fazemos aquilo que nós entendemos que o Brasil precisa que seja feito, ele um pouco mais à esquerda do que eu. Eu virei um sindicalista mais conservador e ele, um empresário mais esquerdista, ele mais duro na queda, e eu penso que isso foi bom para o Brasil. Foi bom para mim, eu acho que foi bom para ele, acho que foi bom para o Brasil.

Eu vou contar uma história, viu, Zé, para terminar com uma história... Hoje de manhã eu encontrei o Roberto Setúbal, e eu estava lembrando, Josué, daquela conversa na tua casa, ainda em 2002. Não tinham sequer chegado as eleições e eu fui jantar na casa do Josué – eu, o Zé Alencar, o Dr. Olavo Setúbal e o Roberto Setúbal – e aí começamos a conversar. E aí o Dr. Olavo Setúbal começou a perguntar assim para mim: 'Candidato, o que você vai fazer com os conflitos agrários, e não sei das quantas?' E eu dizia: Ó, Dr. Olavo, no nosso programa nós vamos dizer isso, isso, isso, isso, isso, e o Dr. Olavo dizia: 'O Império não vai deixar'. Aí perguntava outra coisa, eu respondia outra coisa e o Dr. Olavo falava: 'O Império não vai deixar'. Eu sei que foram quatro perguntas, quatro respostas e o Império não estava deixando a gente fazer nada. Nós já tínhamos tomado acho que um segundo gole, já era tarde, aí o Zé Alencar falou: 'Escuta aqui, Dr. Olavo, eu quero saber que diabo de Império é esse, porque se esse Império for tão ruim para o Brasil como o senhor está dizendo, eu pego em armas para derrotar esse Império'. O Dr. Olavo, o Dr. Olavo Setúbal até tomou um susto com esse nervosismo do Zé Alencar. Mas também eu estava cansado de tanto 'o Império não deixa'. E a verdade é que a história do Brasil tem um pouco de 'o Império não deixa' há muito tempo, e tem uma parte das pessoas que acreditaram que o Império não deixando, não podia deixar mesmo, e não acontecia.

Eu acho que homens como o Zé Alencar, que vieram antes de nós, que tiveram coragem, que enfrentaram, a gente provou que a gente consegue dar passos importantes.

Então, Paulo, eu acho que a FIESP fez um tento extraordinário fazendo esta homenagem ao Zé Alencar. Eu, sinceramente, conheço muita gente, e a desgraça de a gente estar ficando velho é que a cada vez a gente conhece mais gente, os anos vão passando e a gente vai (incompreensível). Agora, o que conta na vida da gente é a amizade, o que conta na vida da gente...

Eu não sei, Zé, como é que você se sentiu, mas aquele companheiro à beira de um fogão de lenha, ali, dizendo da galinha que você gosta, aquilo é mais sincero do que duzentos discursos em um palanque em época de eleição. Aquilo, na verdade, é o que marca na vida da gente. Todos nós aqui, todos nós aqui somos faceiros, achamos que temos muitos amigos, mas na hora em que você estiver precisando, você conta nos dedos da mão - eu já tenho um a menos – você conta nos dedos da mão quem são os verdadeiros companheiros que nós construímos na vida.

Na época do bem-bom, todo mundo é companheiro. Na época de vacas magras é que a gente sabe quem é companheiro. Eu posso dizer alto e em bom som: você, Zé, foi muito mais meu companheiro na época das vacas magras do que na época das vacas gordas. Por isso, minha gratidão pelo homem que você é. E que Deus permita que esse câncer, você o massacre. Faça como o Cassius Clay fez com o Foreman, porque eu acho que se tem uma pessoa neste mundo que tem a necessidade de viver, pelos bons serviços prestados a este País, esse homem se chama José Alencar Gomes da Silva.

Meus parabéns, querido. E que Deus te dê muitos anos de vida.

* Maria da Cruz é uma cachaça produzida na cidade de Pedras de Maria da Cruz, Minas Gerais, onde é envelhecida por três anos em tonéis de Amburana, e engarrafada em vidro com tampa de rosca. Está cachaça é de propriedade do atual vice-presidente José Alencar.

5. Mariza Campos Gomes da Silva, sua esposa.

6. Tudo é justo... Tudo é bom... Em termos universais. Não é justa a mais-valia... Não é bom o lucro, retido pelo capitalista, resultante da diferença entre o que ele paga pela mão-de-obra e o valor que ele cobra pela mercadoria produzida por essa força de trabalho.

7. O OM – é o mantra mais importante do Hinduísmo e de outras religiões. Diz-se que ele contém o conhecimento dos Vedas e é considerado o corpo sonoro do Absoluto, Shabda Brahman. O OM é o som do infinito e a semente que fecunda os outros mantras. O som é formado pelo ditongo das vogais A e U, e a nasalização, representada pela letra M. Por isto, é que, às vezes, aparece grafado AUM. Escutar o mantra OM é como escutar o próprio Brahman, o Ser. Simbolicamente, pronunciar o mantra OM é como se transportar à Residência de Brahman. A visão do mantra OM é como a visão da própria Forma. A contemplação do mantra OM é como atingir a Forma de Brahman. Como fazer a vocalização correta sem nunca haver escutado este mantra da boca de alguém que sabe? O mantra se faz em uma exalação profunda, e sempre em ritmo regular. Após a exalação, vem uma inspiração nasal prolongada. Não pode haver tremor na voz ao repetir o mantra. A nota musical em que se emite o som não interessa em absoluto. É, portanto, aquela que resultar mais natural para você. Quando houver mais pessoas junto, todos devem tentar se afinar. O OM começa com a boca aberta, emitindo um som mais parecido com um A, mantendo a língua colada no fundo da boca e a garganta relaxada. O som nasce no centro do crânio, se projeta para frente e vibra na garganta e no peito. Após alguns segundos de vocalização, a língua deve se recolher para trás. Assim, aquele som similar ao A se transforma em uma espécie de O aberto, que vai fechando progressivamente. No final, sem fechar a boca, a língua bloqueia a passagem de ar pela garganta e o som se transforma em um M, que, em verdade, não é exatamente um m, mas uma nasalização. Esta nasalização se chama anunásika em sânscrito, que significa literalmente com o nariz, e deriva da palavra násika, nariz. Se você prestar atenção à vibração que acontece durante a vocalização, perceberá que ao emitir a letra O inicial (que começa como um A, não esqueça), a nasalização do M já está contida nela. Ou seja, é um som que se faz com o nariz; não é uma letra m. Ao perseverar na vocalização, você sentirá nitidamente que a vibração se origina no centro da cabeça e vai se expandindo até abranger o tórax e o resto do corpo. Resumindo, o OM começa com a boca aberta e termina com ela entreaberta. O OM é a vibração primordial, o som do qual emana o Universo, a substância essencial que constitui todos os outros mantras, sendo o mais poderoso de todos eles. Ele é o gérmen; esta é a raiz de todos os sons da Natureza. Com o OM, vamos até o fim, até o Silêncio de Brahman (o Absoluto). O fim é imortalidade, união e paz. Este é o motivo pelo qual o sânscrito é considerado uma língua sagrada na Índia; seu potencial vibratório produz efeitos em todos os níveis.

 

 

 

 

Páginas da Internet consultadas:

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Om

http://airesrover.blogspot.com/2009/
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2010/01/23/na-terra-de-jose-alencar/

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http://pt.wikiquote.org/
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http://www.presidencia.gov.br/vice_pres/

 

Fundo musical:

Oh, Minas Gerais! (letra adaptada da valsa italiana Viene Sul Mare por José Duduca de Moraes)

Fonte:

http://windy.vis.ne.jp/art/download/downloade0.htm