Rodolfo Domenico Pizzinga


 

 

 

 

 

 

 

INSTANTES1

 

 

 

 

e eu pudesse viver novamente minha vida, na próxima, trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais, seria mais tolo ainda do que tenho sido.

Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico, correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios. Iria a lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e comeria menos lentilha, teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida: claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos; não perca o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.


 

 

 

Breves Comentários e Reflexões

 

 

autor desse texto, talvez Jorge Luis Borges (1899-1986), talvez não, quis dizer uma coisa, porém, geralmente, as pessoas que o lêem entendem outra. Os rápidos comentários e as rápidas reflexões que se seguirão não tratarão nem de um caso nem de outro. Meio que por alto, vou tentar discutir e examinar partes desse texto-desabafo de maneira mística e metafísica, simplesmente porque ele, como tudo, se presta para esse tipo de análise. Mas, como sempre, de forma pitoresca, quando couber, e, óbvio, salvo melhor juízo. Seria um total contra-senso que eu pretendesse ser o dono de qualquer verdade, mesmo porque a verdade de cada um é sempre relativa, e a minha, que se atualiza dia-a-dia, não é melhor nem pior do que a verdade de ninguém.

Em princípio, objetivamente é impossível retrocedermos no tempo ou vivermos novamente a mesma vida. Como deixou escrito (Gibran Kahlil Gibran, 1883-1931), a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados. E é ridícula essa coisa de dizer: — se eu pudesse voltar aos meus vinte anos, com a experiência que tenho hoje, tudo seria diferente! Não é partir que é morrer um pouco; voltar, sim, é que é morrer um pouco, e, normalmente, qualquer volta é infrutífera, pois, quando voltamos, encontramos as coisas diferentes. Usualmente a volta gera inadaptações de toda ordem. Richard Burton (1925-1984) e Elizabeth Taylor (1932-), por exemplo, casaram-se e se divorciaram duas vezes. O primeiro casamento foi em 1964 e terminou em divórcio em 1973. O segundo foi em 1975 e terminou um ano depois. Repetindo: usualmente as voltas (quaisquer voltas) geram inadaptações de toda ordem. Simbolicamente, a única volta bem-aventurada é a volta à casa paterna. Se, por outro lado, por empréstimo, viermos a receber uma nova vida, poderemos cometer mais erros ou menos erros. Cometeremos menos erros se nos tornarmos conscientes dos erros que praticamos nesta vida. Caso contrário... Seja como for, o estado ideal é nos tornarmos Senhores de nossas experiências, Mestres de nossas futuras existências e Livres de dependências e de prisões acachapantes, isto é, de cobiças, de desejos, de paixões, de maus pensamentos e de más intenções. No mínimo, pois precisamos nos libertar de muitas coisas mais.

Ser mais tolo, em uma próxima e presumida vida, é um contra-senso. Agora, ser mais ingênuo ou mais puro é outra coisa. Mas ingenuidade não deve significar que o indivíduo deva ser abestalhado, crédulo, inexperiente, inocente (útil ou inútil), pacóvio ou simplacheirão, mas, sim, rico em nobreza, honradez, probidade, dignidade, franqueza e honestidade; isto tudo, em uma palavra, significa pureza. Ou em outra: autoconsciência. Consciente. E só a Iniciação produz isso.

O que se deve levar, de verdade, a sério? A si mesmo? O mundo não gira só para nós ou apenas em torno de nós. Isso é narcisismo. Sobre o narcisismo, Sigmund Schlomo Freud (1856-1939) escreveu uma passagem interessante: Na origem, toda a libido está acumulada no isso, ao passo que o eu está ainda em curso de formação ou débil. O isso emite uma parte dessa libido para investimentos dos objetos eróticos e, mais tarde, o eu, que se fortaleceu, procura se apoderar dessa libido de objeto e a se impor ao isso como objeto de amor. O narcisismo do eu é, portanto, um narcisismo secundário, retirado dos objetos. Custe o que custar, temos que aprender que só se deve, realmente, levar a sério o que precisa ser levado a sério. Isto dito assim, com tanta simplicidade e tanta trivialidade, pode até parecer uma ridicularia. Então, repetindo o que venho dizendo há muito tempo: só se deve levar mesmo a sério o que fala a Voz Silente em nosso Coração. Eu não posso explicar com palavras o que possa ser isso; mas quem já ouviu essa Voz ou quem a ouve regularmente, apenas leva a sério o que essa Santa Voz sussurra. Talvez fosse interessante ler um texto que escrevi há algum tempo, cujo título é Sanctum Sanctorum (Um Experimento Místico de Criação Mental) disponibilizado em:

http://paxprofundis.org/
livros/sanctum/sanctorum.htm

Ser menos higiênico? O que é isso, companheiro? Essa não! Isso é ser um porcalhão, besuntão, bodegueiro, lambão, lambarão, lambuzão ou pataloco. Todos sinônimos. Ter mania de limpeza é outra coisa; isso é ser obcecado, extravagante, excêntrico, ou, o que mais triste, ser patologicamente um mental. Quase sinônimos. O filme As Good as It Gets (Melhor é Impossível), dirigido por James Laurence Brooks, com, entre outros atores, Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear e Cuba Gooding Jr., mostra essa obcecação esquisita muito bem. Precisamos encontrar o meio-termo. Grande ensinamento! Mas, se, por um lado, tudo o que é demais é moléstia, por outro, tudo o que é de menos é doença. Outro grande ensinamento! Agora, prezado Autor, tenha a santa paciência; ser menos higiênico é mesmo uma porca e louca esquizofrenia! Exalação almiscarada de bode não-castrado do tipo bodum, cê-cê, chulé et cetera e tal não há Dom Helder Câmara nem Madre Teresa de Calcutá que agüente. Quer feder, meu chapa? Vai feder em Maracutsil ou no raio que o parta!

Correr mais riscos, depende. Pelo bem, pela beleza e pela justiça temos que correr todos os riscos. Nestes casos, não é uma questão nem de mais nem de menos; é uma questão de todos, pois somos todos UM. Só aparentemente a dor pode doer sozinha. Fome e miséria não vicejam em pedra!

Viajar mais, depende. Viajar apenas para satisfazer ilusões? Para charlar? Para bostejar? Para quê? Isso é papo furado, ainda que qualquer viagem seja, de uma forma ou de outra, sempre ilustrativa e enriquecedora. Até parece que eu sou um chato de galochas dizendo essas coisas, mas não sou; só penso que viajar por viajar, exclusivamente por lazer, seja inútil. Bom mesmo é fazer uma espécie de turismo acadêmico, para que se complementem lazer e aprendizagem. Para quem não leu, uma boa leitura são as obras de Raymond Bernard (1923-2006), particularmente Encontros com o Insólito e As Mansões Secretas da Rosacruz. Nesses livros, estão relatadas várias passagens e ocorrências insólitas de algumas viagens feitas por esse grande Místico francês. Aquelas, sim, foram Viagens! Como aperitivo, quem desejar poderá ler Raymond Bernard (Pensamentos Místicos), de minha autoria, em:

http://paxprofundis.org/
livros/bernard/bernard.html

Contemplar mais entardeceres, sim. Simbolicamente, o nascer e o pôr do Sol são Illuminantes e educativos. Mas o Verdadeiro Aton está em nossos Corações. (Não há quem não sinta lá alguma coisa ao contemplar em silêncio um nascer do Sol.) Só que esse sacrossanto e eterno Aton não nascerá ou se levantará sozinho. Seu nascimento depende de nós, exclusivamente de nós e de mais nada nem de ninguém. Nascido, não se porá jamais!

Subir mais montanhas? Isso não é para qualquer um; pelo menos, para mim é que não é. Eu não subo nem em monte de cupim. Pode ser monte de Nasutitermes globiceps, de Cornitermes cumulans, de Syntermes molestus ou de Syntermes grandis; se qualquer um desses isópteros fizer monte, eu não subo. Se minha felicidade depender de subir montinhos, montões ou montanhas, vou morrer infeliz. Ora bolas! Agora seriamente: em termos místico-metafísicos, a primeira montanha que precisamos subir e vencer é a montanha das nossas indignidades; a segunda é a que leva à Porta Sagrada de nosso Mestre-Deus interior. Não há uma terceira montanha. E se alguém pensa que subirá essas montanhas em igrejas ou templos está quadradamentequadradamente enganado. Quando muito, ali serão adquiridas as sandálias para a Caminhada. E só! O subimento da Montanha feito por Jesus (e por muitos outros Iniciados que subiram suas Montanhas pessoais) deve ser entendido desta forma alegórico-místico-esotérica, não literalmente. Misticismo não é como jogo do bicho, que vale o que está escrito; é necessário saber ler as (ou nas) entrelinhas. Imaginar ou infantilmente acreditar, por exemplo, que seja um fato concreto ou histórico – porque está na Bíblia – que Jonas tenha sido abocanhado e engolido por um grande peixe ou por um grande monstro marinho (em grego këtos), que tenha passado três longos dias e três intermináveis noites no estômago escuro e 'remelexento' desse këtos desgorgomilado, que se sentiu como se estivesse sepultado, e que depois de se arrepender foi vomitado em uma praia pelo këtos etc., é mesmo uma crença e uma imaginação imaginosa, imaginativa, imaginante e imaginal. Há, por outro lado – o que é muito pior – quem ainda acredite (e é muita gente que acredita) que Jesus possa ter dito: Ninguém vai ao Pai senão por mim. Nessa frase, eu não sei o que é pior, se é o ninguém, ou se é o senão. Se eu tivesse que escolher o maior absurdo bíblico, certamente eu escolheria exatamente esse. Não sei, mas pode ser que Jesus tenha dito algo mais ou menos assim: — Meus ensinamentos são um Caminho, uma Via, um Estágio da verdade universal relativa, uma Possibilidade de libertação e uma das Chaves para a Vida. Para você projetar e construir Seu Pai como eu projetei e construí o Meu [seu Aton-Mestre-Deus interior], estes ensinamentos, ainda que não sejam exclusivos ou definitivos, poderão ser uma opção. Como muitos vieram antes de Mim, muitos virão depois de Mim. Mas você é livre para escolher outros Sendeiros. Ora, desde quando a Barca de São Pedro é a única construção destinada a navegar e a transportar o pessoal rumo ao céu? Isso só mudará quando for percebido que absurdos como esses (pois se opõem à razão e ao bom senso) só interessam ao poder eclesial e a mais ninguém. Remate: cada qual que cuide de subir suas montanhas individuais e não queira subir a Montanha que Jesus subiu; a Dele, só Ele pôde subir, porque venceu Seu inferno e Seus demônios pessoais.

Nadar em mais rios? Em quantos? Não seremos mais livres ou mais felizes nadando em mais ou em muitos rios, nem seremos mais prisioneiros se não nadarmos em rio algum. Tanto a liberdade como a prisão, tanto a felicidade como a infelicidade, somos nós que construímos; e todas não dependem de rios, riachos, córregos, ribeiros, regatos, arroios etc. Aliás, tudo que está do lado de fora, sejam montanhas, sejam rios, só conspira para nos fazer retroceder. Todavia, se conscientemente nadarmos para além do rio formado pelas lágrimas das nossas depravações transmutadas, ou se subirmos e ultrapassarmos a montanha construída pelas nossas iniqüidades compreendidas, é bem possível que escapemos do Hades, de Hécate, das Erínias, das Moiras, das Harpias, de Tanatos, de Hypnos, das Górgonas, e que nos libertemos de todos os demônios fedorentos que construímos, consciente ou inconscientemente, ao longo de nossa existência.

Ter mais problemas reais e menos problemas imaginários vai exclusivamente de como encaramos e olhamos a vida e o outro. Um problema real, por exemplo, é a fome do ser-no-mundo, que é, irredutivelmente, um ser-consigo-comigo-e-com-todos. Logo, a fome do outro é a sua fome, é a minha fome, é a fome de todos. A dor do outro é a sua dor, é a minha dor, é a dor de todos. A carência do outro, qualquer que seja essa carência, é sua, é minha, é de todos. Já escrevi muito sobre isso; nesta oportunidade apenas redirei: Somos todos UM. Nosso egoísmo será educativamente compensado em forma de lágrimas, lágrimas e mais lágrimas. Um dia aprenderemos ou aprenderemos. Enquanto isso, as lágrimas não secarão.

Tratar de ter, ou de viver, somente bons momentos, meu Poeta? Nem utopicamente isso é possível. Além de a dualidade impedir isso, nossa ignorância natural e nosso congênito abastardamento não permitem que percebamos lá muita coisa além daquilo que é sensorial, e tudo que é meramente sensorial – porque é ilusório – não pode propiciar ou redundar em apenas bons momentos. Nem poeticamente isso é possível. Esse nheéng nheéng é quimericamente inconsistente e impossível, como tudo que é utópico não é possível e nem consistente. Por outro ângulo, como aprender e apreender, isto é, assimilar mentalmente e abarcar com profundidade o que quer que seja, apenas vivendo bons momentos? Longe estou de admitir ou de ser favorável a qualquer tipo de inflicção, nem acredito que só se aprenda com a dor, pela dor e na dor. Pelo contrário. Mas também é absoluta e inteiramente impossível só se aprender em meio a playboyismos ociosos, festas e folganças. Laisser-faire? Laisser-aller? Laisser-passer? Vivre et laisser vivre não significa apenas querer ou pensar em gozar a vida e em viver bons momentos; isto é um projeto, muito mais do que egoísta, totalmente irrealizável. Além de utópico e quimérico, como eu disse. Mas há alguns cagalhoças (paisanos e militares, religiosos e irreligiosos, corruptores e corruptos etc.) que vivem dessa forma e que canalizam suas energias só para esse fim. Lágrimas, lágrimas e mais lágrimas educativas!

Que a vida é feita só de momentos, eu concordo. Mas os momentos não são impermeáveis ou estanques; tudo está interligado, coligado. E tudo está, educativamente, sob o olho da Lei Cósmica de Causa e Efeito. Não perder o agora, claro que sim. Podemos, sem saber, estar dando o último inspiro. Todavia, sofreguidão e desejo ou ambição de conseguir sem demora algo (lícito ou ilícito, proveitoso ou ruinoso), só conduzem a duas coisas: decepções e mágoas originadas por desgostos derivados de inesperadas inexecuções. Na via prestigiosa do Misticismo, particularmente, a primeira palavra é paciência. Se a impaciência adiantasse alguma coisa, eu seria o primeiro da fila para comprar o bilhete da celeridade. A Ordem Rosacruz AMORC me ensinou que não é assim.

 

 

Ninguém pode voltar a viver; não a mesma vida. O que fizemos, o que falamos e o que pensamos passam a fazer parte dos Registros Akáshicos. Mas todos nós podemos, paulatinamente, começar a Viver de maneira consciente, e deixar impresso nesse Registro não só uma pequena ou grande contribuição para o Summum Bonum, mas nossa própria Impressão Digital Cósmica.

Seja qual for a idade, a cada instante estamos morrendo para esta vida. E daí? Estamos fazendo o quê por nossa Vida Eterna? Essa, sim, é a grande pergunta.

Epílogos ou epilògus: eu entendi muitíssimo bem o que o autor desses Instantes quis dizer. Resolvi contraditar o texto porque, se for lido ao pé da letra – e eu sei que há quem já o tenha lido assim – pode levar um desavisado a pendurar uma no pescoço, vestir dois calçados feitos de uma sola com tiras que prendem cada um a um chulé, isto é, as legítimas e conhecidíssimas sandálias havaianas, e sair pelaí confundindo geringonça com leite-de-onça e babilaque com a Rita Cadilac. E a despesa-confusão ou confusão-despesa não poderá ser debitada na conta do senhor José Abelardo Barbosa (Chacrinha) de Medeiros, que nasceu, lá longe, em Surubim, em 20 de janeiro de 1916 – que veio para distribuir bacalhau e para confundir, não para explicar necas de pitibiribas – e que recebeu seu passaporte para o céu em 30 de junho de 1988, aqui pertinho, no Rio de Janeiro. O Velho Guerreiro nada tem a ver com isso.

Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem? Vocês querem bacalhau? Teresinha!

 


 

 

Nota:

1. Poema atribuído ao poeta e ensaísta argentino – mundialmente conhecido por seus contos e tido como o pai da literatura fantástica latino-americana – Jorge Luis Borges (mas que muitos acreditam que não seja de Borges, o que não importa absolutamente nada, se importasse alguma coisa). Em O Labirinto, de sua autoria, disse Borges: Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta, cujo centro foi o Minotauro. Este é o labirinto de Creta, cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem, e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. Este é o labirinto de Creta, cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem, e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações, como Maria Kodama e eu nos perdemos. Este é o labirinto de Creta, cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem, e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações, como Maria Kodama e eu nos perdemos naquela manhã, e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto.

 

 

Música de fundo:

Concerto em Fá Menor (Johann Sebastian Bach)

Fonte:

http://www.abcmusical.com.br/midi.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Burton

http://www.congressodeconvergencia.com/

http://es.wikipedia.org/wiki/Reloj

http://www.chromasia.com/galleries/0608081852.php

http://www.fiatpax.pro.br/ensaios/light/light.htm