A meditação
é um luxo, ao passo que a ação é necessária.1
Conhecer
uma realidade é, no sentido habitual do termo «conhecer»:
tomar conceitos já feitos, doseá-los e combiná-los
até obter um equivalente prático do real. Mas, não
se deve esquecer que o trabalho da inteligência está longe
de ser um trabalho desinteressado. Não visamos, em geral, conhecer
por conhecer, mas, conhecer para tomar uma decisão, para tirar algum
proveito; enfim, para satisfazer algum interesse.
A
idéia de um futuro, prenhe de uma infinidade de possíveis,
é mais fecunda do que o próprio futuro, e é por isto
que há mais encanto na esperança do que na posse, no sonho
do que na realidade.2
É
preciso agir como homem de pensamento e pensar como homem de ação.
Demoraria
muito para se tornar um misantropo [aquele
que odeia a Humanidade ou sente aversão às pessoas] quem
se ativesse à observação de outrem. É notando
nossas próprias fraquezas que acabamos por lamentar ou por desprezar
o homem. A Humanidade da qual nos afastamos, então, é a que
descobrimos no fundo de nós. O mal se esconde tão bem, o segredo
é tão universalmente guardado, que cada um de nós é
aqui vítima do logro de todos: por mais severamente que pretendamos
julgar os outros homens, no fundo, acreditamos que sejam melhores do que
nós. É sobre esta feliz ilusão que assenta uma boa
parte da vida social.3
O que
é duração pura exclui toda idéia de justaposição,
de exterioridade recíproca e de extensão.
Não
há estado de alma, por mais simples que seja, que não mude
a cada instante, pois, não há consciência sem memória,
não há continuação de um estado sem adição,
ao sentimento presente, da lembrança de momentos passados. Nisto
consiste a duração. A duração interior é
a vida contínua de uma memória que prolonga o passado no presente,
seja porque o presente encerra distintamente a imagem incessantemente crescente
do passado, seja, mais ainda, porque testemunha a carga sempre mais pesada
que arrastamos atrás de nós, à medida que envelhecemos.
Sem esta sobrevivência do passado no presente, não haveria
duração, mas, somente instantaneidade.4
Pensar
consiste, ordinariamente, em ir dos conceitos às coisas, e não
das coisas aos conceitos.5
Se consciência
significa memória e antecipação, é porque consciência
é sinônimo de escolha.6
Para
um ser consciente, existir consiste em mudar, mudar para amadurecer, amadurecer
para se [re]criar
a si mesmo indefinidamente.
A vida
é um caminho de sombras e de luzes. O importante é que se
saiba vitalizar as sombras e aproveitar as luzes.
Escolher
é excluir.
A qualidade
é a quantidade de amanhã.
Falhamos
ao tentar traduzir exatamente o que se sente na alma: não se pode
medir o pensamento com a linguagem.
A inteligência
é caracterizada por uma incompreensão natural da vida.7
Não
existe matéria mais resistente nem mais substancial do que o tempo.
Porque a nossa duração não é apenas um instante
a seguir ao outro; se fosse, nunca haveria mais nada além do presente
– nenhum prolongamento do passado na atualidade, nenhuma evolução,
nenhuma duração concreta. A duração é
o progresso contínuo do passado que morde o futuro e vai inchando
à medida que avança. E, como o passado cresce sem parar, não
há nenhum limite à sua preservação. A memória
não é uma faculdade de arrumar recordações em
uma gaveta ou de inscrevê-las em um registo. Na realidade, o passado
se preserva a si mesmo, automaticamente. Provavelmente, nos acompanha na
sua totalidade a cada instante.
Mudamos,
logo somos.8
Há
coisas que só a inteligência é capaz de procurar, mas,
que, por si mesma, nunca achará. E estas coisas só o instinto
as acharia, mas, nunca as procura.
Raramente
nos acontece de querermos entrar em nós mesmos.
A
obediência ao dever é uma resistência a si mesmo.9
A
coesão social é devida, em grande parte,
à necessidade de uma sociedade se defender de outras.
O riso
é a Mecânica aplicada no ser vivo.
Nosso riso é
sempre o riso de um grupo.
No riso, há
sempre uma intenção inconfessada de humilhar e, conseqüentemente,
de corrigir o nosso próximo.
Parece que o
riso precisa de um eco.
Cada
um dos nossos atos visa uma certa inserção da nossa vontade
na realidade.
Uma
idéia é um pensamento que ficou de pé.
Falamos
mais do que pensamos.10
O espaço
concreto foi extraído das coisas. Elas não estão nele;é
ele que está nelas.
Antes
de tudo, consciência significa memória.
O nosso
espírito tem uma irresistível tendência para considerar
como mais clara a idéia que mais freqüentemente lhe serve.
Sonhar
é se desinteressar.
Os costumes
são uma das fontes da moral.
Nada
é menos do que o momento presente, se entendermos por isto o indizível
instante que separa o passado do futuro.
O instinto
é simpatia. Se esta simpatia pudesse alargar o seu objeto e também
refletir sobre si mesma, dar-nos-ia a chave das operações
vitais – do mesmo modo que a inteligência, desenvolvida e reeducada,
nos introduz na matéria. Porque, não é demais repeti-lo,
a inteligência e o instinto estão orientados em dois sentidos
opostos: aquela para a matéria inerte, este para a vida. A inteligência,
por meio da ciência, que é obra sua, nos desvendará,
cada vez mais completamente, o segredo das operações físicas;
da vida apenas nos dá, e não pretende, aliás, nos dar
outra coisa, uma tradução em termos de inércia. Gira
em derredor, obtendo de fora o maior número de visões do objeto
que chama até si, em vez de entrar nele. Mas, é ao interior
mesmo da vida que nos conduzirá a intuição, quero dizer,
o instinto tornado desinteressado, consciente de si mesmo, capaz de refletir
sobre o seu objeto e de o alargar indefinidamente. Que um esforço
deste gênero não é impossível é o que
demonstra já a existência no homem de uma faculdade estética
ao lado da percepção normal. O nosso olhar apercebe os traços
do ser vivo, mas justapostos uns aos outros, e não organizados entre
si. Escapa-lhe a intenção da vida, o movimento simples que
corre através das linhas, que as liga umas às outras e lhes
dá uma significação. É desta intenção
que o artista pretende se apossar, situando-se no interior do objeto por
uma espécie de simpatia, baixando, por um esforço da intuição,
a barreira que o espaço interpõe entre ele e o modelo. É
verdade que esta situação estética, como, de resto,
a percepção exterior, alcança apenas o individual.
Todavia, é possível conceber uma pesquisa orientada no mesmo
sentido da arte, e que tivesse por objetivo a vida em geral, do mesmo modo
que a ciência física, seguindo até o fim o rumo assinalado
pela percepção exterior, prolonga em leis gerais os fatos
individuais. Decerto esta filosofia jamais alcançará do seu
objeto um conhecimento comparável ao que a ciência tem do seu.
A inteligência continua a ser o núcleo luminoso em torno do
qual o instinto, mesmo alargado e depurado em intuição, é
apenas uma vaga nebulosidade. Mas, em vez do conhecimento propriamente dito,
reservado à pura inteligência, a intuição poderá
nos fazer apreender o que os dados da inteligência têm aqui
de insuficiente e nos deixar entrever o meio de os completar. (...) Pela
comunicação simpática que estabelecerá entre
nós e o resto dos vivos, pela dilatação que obtiver
da nossa consciência, introduzir-nos-á no domínio próprio
da vida, que é compenetração recíproca e criação
indefinidamente continuada.
O olho vê
somente o que a mente está preparada para compreender.11
Quando
a inteligência aborda o estudo da vida, necessariamente trata o ser
vivo como o inerte, aplicando a este novo objeto as mesmas formas, transportando
para este novo domínio os mesmos hábitos que deram tão
certo no antigo. E tem razão em fazer isto, pois, somente sob esta
condição o ser vivo oferecerá à nossa ação
o mesmo campo que a matéria inerte. Mas, a verdade à qual
se chega assim se torna absolutamente relativa à nossa faculdade
de agir. Nada mais é do que uma verdade simbólica.12
Contrariamente
à crença geral, a verdade não se impõe por si
mesma. O erro que entra no domínio público permanece nele
para sempre.13
As opiniões se transmitem, hereditariamente como as terras. Constrói-se
nelas. As construções acabam por formar uma cidade –
e a ditar a História.
Um
absoluto só pode ser surgir em uma intuição, enquanto
todo o resto tem a ver com a análise. [A
intuição é a única força capaz de enxergar
o que a Ciência não consegue enxergar].14
A vaidade
é o exercício do ridículo. A única cura para
a vaidade é o riso.
A intuição
é o que atinge o espírito, a duração, a mudança
pura.
Pensar intuitivamente
é pensar na duração.
O homem é
essencialmente um fabricador.
É verdade
que a faculdade de intuição existe em cada um de nós,
mas coberta por outras funções.
A mente é
a principal função da intuição.
Não
há nada na Filosofia que não possa ser dito na linguagem cotidiana.
A
situação será sempre cômica, se dois acontecimentos,
que sejam completamente independentes um do outro, acontecerem simultaneamente,
e se puderem ser interpretados em dois sentidos completamente diferentes.
No ato
de percepção, nós costumamos aproveitar algo que ultrapassa
a própria percepção.
Eu não
posso escapar à objeção de que não existe um
estado de espírito, porém simples, que não muda a cada
momento.
Na realidade,
o passado é preservado por si automaticamente.
A religião
é para o misticismo o que a popularização é
para a ciência.
O 'Homo sapiens'
é a única criatura dotada de razão, e também
é a única criatura que ancora a sua existência em coisas
irracionais.
A vida
não procede pela associação e adição
de elementos, mas, pela dissociação e divisão.
O presente contém
nada mais do que o passado, ou seja, o efeito já estava na causa.
Intuição
é uma a simpatia pela qual nos transportamos para o interior de um
objeto para coincidir com o que ele tem de único e, conseqüentemente,
de inexprimível. Ao contrário, a análise é a
operação que reduz o objeto a elementos já conhecidos,
isto é, comum a este objeto e a outros. Analisar consiste, pois,
em exprimir uma coisa em função do que ela não é.
Um
gênio é aquele que estimula a Humanidade a vencer
a sua inércia para aprender [e
mudar].
Albert
Einstein (1879 – 1955)
Áciido
Desoxirribonucleico (ADN ou DNA)
(James Dewey Watson & Francis Harry Compton Crick)
Alguma
outra faculdade que apenas o intelecto é necessária para a
apreensão da realidade.15
A
inteligência é a faculdade de fazer objetos artificiais, especialmente
ferramentas para fazer ferramentas.16
Não
há inferioridade que a inteligência não possa compensar.
Minhas
reflexões me trouxeram cada vez mais perto do Catolicismo, no qual
vejo a consumação do Judaísmo. Eu me converteria, se
não tivesse visto se preparar, de alguns anos para cá (em
grande parte, aliás, por culpa de certos judeus inteiramente destituídos
de senso moral), a tremenda onda de anti-semitismo que irá se desencadear
sobre o mundo. Resolvi permanecer entre aqueles que serão amanhã
perseguidos. Espero, porém, que um sacerdote católico venha
fazer sufrágios em minhas exéquias, desde que o Cardeal-arcebispo
de Paris o autorize. Caso não se dê esta autorização,
será preciso chamar um rabino, sem, porém, lhe ocultar, e
sem ocultar a quem quer que seja, minha adesão moral ao Catolicismo
e meu desejo previamente formulado de ser assistido pelas orações
de um sacerdote católico.
A Moral
do Evangelho é essencialmente a Moral da alma aberta: não
terão razão aqueles que observam que ela atinge o paradoxo,
e mesmo a contradição, nas mais precisas das suas recomendações?
O paradoxo, porém, desaparece, a contradição se esvanece,
desde que se considere o fim visado por essas máximas, que é
o de provocar um estado de alma... Bem-aventurado o pobre 'em espírito'!
O que é belo, não é o ser despojado, nem mesmo o despojar-se;
é o não sentir o despojamento.
Por
"imagem" entendo uma certa existência que é mais
do que aquilo que o idealista chama uma "representação,
porém, menos do que aquilo que o realista chama uma "coisa"
– uma existência situada a meio caminho entre a "coisa"
e a "representação".
Percebo
bem de que maneira as imagens exteriores influem sobre a imagem que chamo
meu corpo: elas lhe transmitem movimento. E vejo também de que maneira
este corpo influi sobre as imagens exteriores: ele lhes restitui movimento.17
No conjunto
do mundo material, uma imagem atua como as outras imagens, recebendo e devolvendo
movimento, com a única diferença, talvez, de que meu corpo
[cada um
de nós] parece escolher, em uma certa medida,
a maneira de devolver o que recebe.18
Na verdade,
o passado se conserva por si mesmo, automaticamente. Inteiro, sem dúvida,
ele nos segue a todo instante: o que sentimos, pensamos e quisemos desde
nossa primeira infância está aí, debruçado sobre
o presente, que a ele irá se juntar, forçando a porta da consciência
que gostaria de deixá-lo de fora.
Nossas
lembranças continuam em estado virtual; dispomo-nos, assim, apenas
a recebê-las adotando a atitude apropriada. Pouco a pouco, aparecem
como que uma nebulosidade que se condensasse; de virtuais, as lembranças
passam ao estado atual; e, à medida que seus contornos se desenham
e suas superfícies se colorem, elas tendem a imitar a percepção.
Nossa
inteligência, quando segue sua marcha natural, procede por percepções
sólidas, de um lado, e por concepções estáveis,
de outro. Ela parte do imóvel, e não concebe nem exprime o
movimento senão em função da imobilidade. Ela se instala
em conceitos pré-fabricados, e se esforça por prender, como
em uma rede, alguma coisa da realidade que passa.
Laplace
[Pierre Simon Laplace (1749 – 1827)] já
formulara com precisão: ‘Uma
inteligência que, em dado instante, conhecesse todas as forças
de que é animada a Natureza e a situação respectiva
dos seres que a compõem, se fosse bastante grande para submeter esses
dados à análise, abrangeria na mesma fórmula os movimentos
dos maiores corpos do Universo bem como os do átomo mais leve: nada
seria incerto para esta inteligência, e tanto o futuro como o passado
estariam diante de seus olhos.’ E Du Bois-Reymond
[Emil Heinrich du Bois-Reymond
(1818 – 1896)]: ‘Pode-se
imaginar o conhecimento da Natureza chegado a um ponto em que o processo
universal do mundo fosse representado por uma fórmula matemática
única, por um único imenso sistema de equações
diferenciais simultâneas, de onde se deduzisse, para cada momento,
a posição, a direção e a velocidade de cada
átomo do mundo.’ Huxley [Aldous
Leonard Huxley (1894 –1963)], por sua vez, exprimiu sob
forma ainda mais concreta a mesma idéia: ‘Se
a proposição fundamental da evolução for verdadeira,
a saber, que o mundo inteiro, animado e inanimado, é o resultado
da interação mútua, segundo leis definidas, das forças
possuídas pelas moléculas de que a nebulosidade primitiva
do Universo era composta, então, também é certo que
o mundo atual repouse potencialmente no vapor cósmico, e que uma
inteligência suficiente poderia, conhecendo as propriedades das moléculas
deste vapor, predizer, por exemplo, o estado da fauna da Inglaterra em 1868,
com tanta certeza quanto se diz do que acontecerá ao vapor da respiração
em um dia frio de inverno’.
É
necessário distinguir entre a unidade em que se pensa
e a unidade que coisificamos após nela termos pensado, assim como
entre o número em vias de formação e o número
uma vez formado. A unidade é irredutível enquanto nela se
pensa, e o número é descontínuo enquanto se constrói;
mas, quando se considera o número em estado de acabamento, objetiva-se:
e é precisamente por isto que aparece, então, como indefinidamente
divisível.
O tempo psicológico
é como um espaço ideal, onde supomos alinhados todos os acontecimentos
passados, presentes e futuros.
A representação
da personalidade pode ser entendida como uma série de estados psicológicos
distintos, cada um invariável, que produziriam variações
do eu por sua própria sucessão, e por outro lado um eu, não
menos invariável, que lhe serviria de suporte.
Que o deixemos
em nós ou que o coloquemos fora de nós, o tempo que dura não
é mensurável. A medida que não é puramente convencional
implica em efeito de divisão e de superposição. Ora,
não se poderia superpor durações sucessivas para verificar
se elas são iguais ou desiguais; por hipótese, uma não
é mais quando a outra aparece; a idéia de igualdade constatável
perde aqui toda significação. Por outro lado, se a duração
real se torna divisível, pela solidariedade que se estabelece entre
ela e a linha que a simboliza, ela consiste em um progresso indivisível
e global.
Escute uma melodia
de olhos fechados, pensando apenas nela, não justapondo mais sobre
um papel ou sobre um teclado imaginário as notas que você concebe
assim uma pela outra, que aceitam, então, tornar simultâneas
e renunciam à sua continuidade de fluidez no tempo para se congelar
no espaço. Você encontrará individida, indivisível,
a melodia ou a porção da melodia que tiver recolocado na duração
pura. Ora, nossa duração interior, encarada do primeiro ao
último momento da vida consciente, é alguma coisa como esta
melodia. Nossa atenção pode se desviar dela e conseqüentemente
de sua indivisibilidade; mas, quando tentamos a separar, é como se
passássemos bruscamente uma lâmina através de uma chama:
dividimos apenas o espaço ocupado por ela. Quando assistimos a um
movimento muito rápido, como o de uma estrela cadente, distinguimos
muito nitidamente a linha de fogo, divisível à vontade, da
indivisível mobilidade que ela subentende: é esta mobilidade
que é pura duração.
A mudança
nada mais é do que um escoamento ou de uma passagem, mas, de um escoamento
e de uma passagem que se bastam por si mesmos, o escoamento não implicando
uma coisa que corre e a passagem não pressupondo estados pelos quais
se passa: a coisa e o estado são apenas instantâneos artificialmente
tomados sobre a transição; e esta transição,
a única naturalmente experimentada, é a própria duração.
A perturbação
ocorre quase exclusivamente na memória dos eventos recentes; as impressões
recentes, ao que parece, extinguem-se mais rápido, enquanto as impressões
de muito tempo atrás são relembradas adequadamente, de modo
que a engenhosidade do paciente, sua perspicácia e sua habilidade,
em grande medida, permanecem intactas.
A unidade pode
ser entendida como eternidade, ou seja, uma essência intemporal do
tempo, uma eternidade abstrata, pois, é vazia; daí, não
se compreender como seria possível que coexistisse com ela uma multiplicidade
indefinida de momentos.19
O
caso mais extremo de alteração da relação temporal
entre o indivíduo e o mundo externo é o de asfixia brusca,
por exemplo, o sufocamento ou o afogamento. Nestes casos, segundo Bergson,
muitos dos que voltaram à vida declararam ter visto desfilar
diante de si, em um tempo muito curto, todos os acontecimentos esquecidos
de sua história, com suas mais íntimas circunstâncias
e na própria ordem em que se produziram.20
É,
por estes cristais bem recortados e este congelamento superficial,
uma continuidade que se escoa de maneira diferente de tudo o que já
vi se escoar. É uma sucessão de estados em que cada um anuncia
aquele que o segue e contém o que o precedeu. A bem dizer, eles só
constituem estados múltiplos quando, uma vez tendo-os ultrapassado,
eu me volto para observar os traços. Enquanto os experimentava, eles
estavam tão solidamente organizados, tão profundamente animados
com uma vida comum, que eu não teria podido dizer onde qualquer um
deles termina, onde começa o outro. Na realidade, nenhum deles acaba
ou começa, mas, todos se prolongam uns nos outros
Nunca
existiu sociedade sem religião.
Admitiremos,
de bom grado, quanto a nós, a existência de representações
coletivas, depositadas nas instituições, na linguagem e nos
costumes. Seu conjunto constitui a inteligência social – complementar
das inteligências individuais.
São
as “fabulações” ou “ficções”
que fazem surgir as representações fantasmáticas.
A
religião sempre foi a razão de ser da função
fabuladora [e
fundamentalmente ficcionista].
Uma
experiência sistematicamente falsa, erguendo-se diante da inteligência,
poderá detê-la no momento em que vá muito longe nas
conseqüências que a tire da experiência verdadeira.
Das
duas condições estabelecidas por Comte,
'ordem e progresso', é o progresso, às vezes
excluindo a ordem e sempre devido a iniciativas individuais, a que visa
uma parcela da Humanidade.
Há
uma franja de instinto em torno da inteligência, e lampejos de inteligência
subsistem no fundo do instinto.
A
religião é uma reação defensiva da Natureza
contra o poder dissolvente da inteligência.
O homem
sabe que morrerá. Todos os demais seres vivos, apegados à
vida, adotam simplesmente o impulso.
O élan
vital é um impulso original de criação de onde provém
a vida, e que, no desenrolar do processo evolutivo, inventa formas de complexidade
crescente, até chegar, no animal, ao instinto e, no homem, à
intuição, que é o próprio instinto tomando consciência
de si mesmo.
O
élan vital é o transbordamento
da energia criadora em um indivíduo capaz de ir além do que
é natural à espécie humana.
O
élan vital é a fonte de toda
moral e de toda religião.
Ainquietação,
de fato, mostra que a alma do grande místico não se detém
no êxtase, como no final de uma viagem. Há sempre um novo salto
para frente.
Onde
quer que alguma coisa viva, lá está, aberto em algum lugar,
um registo em que o tempo está sendo inscrito.
A
principal tarefa do século XX será a de explorar o inconsciente,
para investigar o subsolo da mente.
Não
há alegria maior do que a de se sentir um criador. O triunfo da vida
se expressa pela criação.
Sex
appeal é a tônica da nossa civilização.
A força
motriz da Democracia é o Amor.
Sempre somos
capazes de dar algo mais; mesmo nas pedras germinam flores.
É o real
que se faz possível, e não o possível que se torna
real.