Três Fragmentos Para Reflexão
O
intercâmbio integrativo e amoroso que fazemos conosco, com os outros
e com o ambiente que nos cerca produz uma identificação ativa.
O Eu Interior cria um laço – um elo de ligação
–
com aquilo que em
experiências anteriores pensávamos que se encontrava além
do Eu. Em uma palavra: vivemos um sentimento de unidade. Portanto, pela
meditação, passamos a interiorizar o amor e o respeito que
recebemos de outras pessoas –
em suma, a honestidade
e a falta de ambivalência delas para conosco. Achamos, então,
natural amar e respeitar os muitos e variados aspectos da natureza humana
que residem nos outros e dentro de nós próprios. Descobrimos
que podemos controlar nossos impulsos mais firmemente e aceitar nosso papel
na vida, e não precisamos mais nos dividir (tanto) em papéis
contraditórios. Não mais precisamos racionalizar nosso comportamento
nem fingir sermos diferentes do que nos sentimos na profundeza da Consciência
em nosso interior. Enfim, podemos descobrir em nosso próprio interior
novos reinos de liberdade e de compreensão. À medida que nossas
transformações são dirigidas a partir de nosso interior,
alcançamos autodomínio cada vez maior.
Papéis
Contraditórios
A
Alquimia e os Antigos Mistérios falavam de três etapas na evolução
pessoal: a Vermelha, da inocência; a Preta/Branca, da dualidade; e
a Dourada, da (re)integração. Por ignorância, passamos
a maior parte de nossa vida na etapa dualística, o que provoca um
sentimento de divisão em dois opostos. Podemos sentir conflitos,
desmerecimento e ansiedade constante e aguda. Empenhamos, geralmente com
o Eu Objetivo, Exterior, todo o esforço
para reconciliar os aspectos contraditórios desta autopercepção.
Com o Eu Exterior, procuramos descobrir as soluções, mas,
geralmente, nenhuma soluciona as divisões que sentimos em nosso interior.
Acabaremos aprendendo – por uma mistura de dor e de desenvolvimento
espiritual –
que a nossa
verdade interior e a ilusão de separatividade não podem ser
(re)conciliadas. Então, se examinarmos firme e sinceramente nossas
escolhas, quaisquer que sejam, é possível que possamos optar
por aquelas que produzem sentimentos de universalidade e de fusão
interior, e, quem sabe, seja possível também que passemos
a viver o júbilo, o amor e a paz que fluem do Eu Único.
Peregrinação
(Animação produzida e editada do
desenho Face Dove,
de Pablo Picasso)
Observação
1: Ou apre(e)ndemos ou continuaremos a padecer, andando de
ceca em meca procurando o que sempre esteve, está e estará
dentro de nós. Não há dois; só há um.
Dois é ilusão; um é libertação. Quanto
à Pedra Filosofal – Grande Cera Vermelha – Fulcanelli,
em As Mansões Filosofais, comentou: ... a
Pedra Filosofal se nos oferece sob a forma de um corpo cristalino, diáfano,
vermelho quando em massa, amarelo depois de pulverizado, o qual é
denso e muito fusível [funde a 64º C], embora
fixo a qualquer temperatura, e cujas qualidades próprias o tornam
incisivo, ardente, penetrante, irredutível e incalcinável.
É solúvel no vidro em fusão, mas se volatiliza instantaneamente
quando é projetado sobre um metal fundido. Mas que fique
claro - é o que insistem todos os adeptos - a Alquimia Operativa
tem por finalidade principal a preparação da Medicina (Veram
Medicinam).
Fulcanelli
acrescenta: ‘O
sapiente sabe apaziguar a sua dor’. O ramo de oliveira, símbolo
de paz e de concórdia, marca a união perfeita dos elementos
geradores da Pedra Filosofal. Ora, esta Pedra, pelos conhecimentos certos
que traz, pelas verdades que revela ao Filósofo, permite-lhe dominar
os sofrimentos morais que afetam os outros homens, e vencer as dores físicas,
suprimindo a causa e os efeitos de grande número de outras doenças.
A própria elaboração do Elixir mostra-lhe que a morte,
transformação necessária, mas não real aniquilamento,
não o deve afligir. Bem pelo contrário; a alma, liberta do
fardo corporal, goza, em pleno impulso, de uma independência maravilhosa,
toda banhada dessa inefável Luz acessível apenas aos espíritos
puros. Ele sabe que as fases de vitalidade material e de existência
espiritual se sucedem umas após outras, segundo leis que lhes regem
o ritmo e os períodos. A alma só deixa o seu corpo terrestre
para ir animar outro novo. O velho de ontem será a criança
de amanhã. Os desaparecidos reencontram-se, os perdidos reaproximam-se,
os mortos renascem. E a atração misteriosa que liga entre
si os seres e as coisas de evolução semelhante reúne,
sem eles saberem, os que ainda vivem e os que não existem já.
Não há, para o verdadeiro Iniciado, autêntica, absoluta
separação, e a ausência, só por si, não
lhe pode causar desgosto. Os seus afetos, ele os reconhecerá facilmente,
embora revestidos de diferente invólucro, porque o espírito,
de essência imortal e dotado de eterna memória, saberá
dar-lhos a distinguir... Estas certezas, materialmente controladas ao longo
do trabalho da Obra, garantem-lhe uma serenidade moral indefectível,
a calma no meio das agitações humanas, o desdém das
alegrias mundanas, um estoicismo resoluto e, acima de tudo, este pujante
reconforto que lhe dá o conhecimento secreto das suas origens e do
seu destino. No plano físico, as propriedades medicinais do Elixir
põem o seu feliz possuidor ao abrigo das taras das misérias
fisiológicas. Graças a Ele, o sapiente sabe acalmar a sua
dor. Batsdorff [Le Filet d’Ariadne] assegura que o Elixir
cura todas as doenças externas do corpo, ...úlceras, escrófulas,
quistos, paralisias, feridas, e outras moléstias semelhantes, sendo
dissolvido em um licor conveniente e aplicado sobre o mal, por meio de um
pano embebido no licor. Por seu lado, o autor de um manuscrito Alquímico
iluminado [La Génération et Opération du Grande-Oeuvre]
gaba igualmente as altas virtudes da Medicina dos Sapientes. ‘O Elixir
– escreve ele – é
uma cinza divina mais miraculosa do que qualquer outra, e distribui-se,
tal como é visto, conforme a necessidade que se apresenta, e não
se recusa a ninguém, tanto para a saúde do corpo humano e
o alimento desta vida caduca e transitória, como para a ressurreição
dos corpos metálicos imperfeitos... Na verdade, ele ultrapassa todas
as triagas e medicinas mais excelentes que os homens pudessem fazer, por
mais sutis que fossem. Ele torna o homem que o possui ditoso, grave, próspero,
notável, audacioso, robusto, magnânimo.’ Enfim, Tiago
Tesson dá aos novos conversos sábios conselhos do bálsamo
universal. ‘Falamos – diz
o autor – dirigindo-se
ao sujeito da arte, do fruto de bênção saído
de ti; agora, diremos como é preciso aplicar-te; é ajudando
os pobres e não as pompas mundanas; é curando os enfermos
necessitados, e não os grandes e poderosos da Terra. Porque temos
de ter cautela a quem damos, e saber quem devemos amparar nas enfermidades
e nas doenças que afligem a espécie humana. Não administres
este poderoso remédio senão por inspiração de
Deus, que tudo vê, tudo conhece, tudo ordena’.
Tabula
Smaragdima Hermetis
(O sapiente sabe apaziguar a sua dor)
Através
do processo de reintegração, orientado pelo Eu Interior, poderemos
vivenciar uma genuína integralidade e um sentimento real e concreto
da existência deste mesmo Eu
Interior.
Para tanto, precisamos estar dispostos a enfrentar nosso Terror
do Umbral – nosso inferno pessoal e os demônios que criamos,
que fazem com que nos amedrontemos ante a inverídica possibilidade
de perdermos nossa individualidade isolada e o medo infundado de que morreremos.
Observação
2: Mas, um dia, perderemos, sim, nossa
individualidade isolada. Isto
haverá de acontecer conscientemente, volitivamente e Iniciaticamente,
quando, então, realizaremos, iniludivelmente, a compreensão
mística da Unidade Cósmica. Até lá... Bem, até
lá, cada qual que cuide direitinho e com carinho do seu cada qual!