Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Este é o décimo oitavo estudo (com um exercício regularizador) de dois fragmentos editados, ampliados e comentados da coleção O Homem (Alfa e Ômega da Criação), uma publicação em quatro volumes da Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa da Antiga e Mística Ordem Rosæ Crucis, AMORC. Para ler o ensaio que deu origem à esta série, por favor, dirija-se a:

http://paxprofundis.org/livros/
halfaomega1/halfaomega1.htm

 

 

 

Dois Fragmentos Para Reflexão

 

 

 

A Bíblia afirma que o pecado de Adão foi imperdoável porque foi cometido por instigação de Satã – a personificação do mal – que Deus vem combatendo desde então e que combaterá por toda a eternidade. A pergunta que se impõe é a seguinte: por que um Pai amoroso e todo-poderoso, onibenevolente e compassivo, infligiria uma punição tão prolongada e abrangente, e mesmo qualquer punição, por um único ato de cedência à tentação, por uma simples mordidinha? Especulando: se somos ignorantes hoje, o que dizer da época em que Adão viveu? Punir não educa; só causa revolta e mais revolta, insubmissão e mais insubmissão. Seja como for, se aceitarmos a existência do mundo como campo de batalha entre Deus e o mal – um conceito proclamado por judeus, cristãos e religiões islâmicas, e com mais ênfase pela religião persa de Zoroastro – então Deus não é todo-poderoso. Ele pode estar certo da vitória final, mas, enquanto isso, satã vai vencendo muitas escaramuças nesta Terra, transformando-a em um vale de lágrimas, desmentindo, com isso, a afirmação de que a criação foi muito boa.

Observação 1: Já citei esta passagem de Epicuro (341 a.C – 270 a.C) em outros textos. Acho que não custa nada repeti-la aqui. Deus, ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode, é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso: o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente: portanto, nem sequer é Deus. Se pode e quer, que é a única coisa compatível com Deus, de onde provém, então, a existência dos males? Por que razão não os impede? Uma outra versão seria: Deus deseja prevenir o mal, mas não é capaz? Então, não é onipotente. É capaz, mas não deseja? Então, é malevolente. É capaz e deseja? Então, por que o mal existe? Não é capaz e nem deseja? Então, por que lhe chamamos Deus? Os deuses, segundo Epicuro, viviam em perfeita harmonia, desfrutando da bem-aventurança (felicidade) divina. Não seria preocupação divina atormentar o homem de qualquer forma. Os deuses deveriam ser tomados como foram em tempos remotos, modelos de bem-aventurança e não seres instáveis, com paixões humanas, que devem ser temidos. Desta forma, Epicuro procurou tranqüilizar as pessoas quanto aos tormentos futuros ou após a morte. Não há porque temer os deuses nem em vida e nem após a vida. Epicuro também ponderou: É sem valor pedir aos deuses aquilo que nós mesmos podemos realizar.

 

 

 

 

 

A polarização prazer/dor é um instrumento indispensável à evolução. Do ponto de vista místico-evolucionário, a dor, o sofrimento e a morte nada mais são do que veículos indispensáveis e educativos para o aperfeiçoamento compreensivo da existência. O místico aprende a evitar (ou dominar) as situações desfavoráveis com uma atitude mental positiva e pelo controle de emoções negativas como ciúme, inveja e egoísmo. Também, a experiência do nosso sofrimento presente (ou passado) permite-nos auxiliar outras pessoas pela assunção, que pode ser misticamente interpretada como compaixão plena.

 

 

 

 

Exercício místico: Observe. Pode ser que, de repente, algo aconteceu em sua vida que a transformou completamente (mas não irreversivelmente). Por que isto aconteceu? Só você poderá descobrir. Relaxe e tente olhar mentalmente para o passado. Tente fazer uma ligação entre o que está acontecendo agora (efeito) com algum pensamento, com alguma verbalização inadequada ou com algum ato impróprio (causas). Com absoluta isenção, tente compreender a ignorância praticada. Se, por exemplo, foi algo que trouxe um dano de qualquer natureza a alguém, faça já a devida compensação, entrando em contato com quem foi prejudicado e resolvendo a situação. Seja como for, mentalmente, mude o quadro de desarmonia e discordância em bem, beleza, amor e solidariedade. Lembre-se: o arrependimento é apenas a primeira etapa da reconciliação, mas o concertamento implica em uma atitude de reestruturação/restauração do que foi desestruturado. Não existe perdão para nenhum de nossos atos, mas podemos refazer, reorganizar e recompor o que desbaratamos, destroçamos, devastamos, dilapidamos, arruinamos, malbaratamos e estragamos. Muitas vezes, atitudes de reconciliação, em qualquer nível, mudam o rumo de nossas vidas inteiramente. Mais uma vez direi: se nós sairmos desta vida tendo transmudado apenas uma imperfeição, uma falha de caráter, então a encarnação foi proveitosa. Teremos a eternidade e mais seis meses para corrigir o resto... Mas, que não dure tanto tempo assim!

 

 

 

 

 

 

 

 

Fundo musical:

Impossible Dream (Man of La Mancha)
Compositores: Joe Darion & Mitch Leigh

Fonte:

http://www.nena.com.br/midis/americanas.htm