UM POUCO MAIS DE VICO

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Objetivo do Estudo

 

 

 

Já escrevi um texto sobre o filósofo italiano Giambattista Vico, mas, tendo sido ele um Instrutor da Humanidade, estou, nesta oportunidade, fazendo uns pequenos acréscimos ao que já publiquei. Acho que valerá a pena conferir.

 

 

 

Giambattista Vico

Giambattista Vico

 

 

 

Breve Biografia

 

 

 

Giambattista Vico ou Giovan Battista Vico (Nápoles, 23 de junho de 1668 – Nápoles, 23 de janeiro de 1744) foi um filósofo italiano e um dos Instrutores da Humanidade. Foi-lhe dado este nome por causa de São João Batista, e foi batizado na Igreja Católica, à qual permaneceu leal toda a vida.

 

Desde a primeira infância, Vico combinou um agudo e amplo intelecto com um insaciável amor ao conhecimento, e muito da sua educação se deu na livraria de seu pai. Com a idade de sete anos, ele caiu do alto de uma escada – talvez uma daquelas usadas para alcançar os livros na loja – e fraturou severamente seu crânio. Durante as cinco horas em que permaneceu completamente inconsciente e imóvel, o médico local declarou que ele ou morreria ou ficaria idiotizado. Apesar de sua convalescença levar três anos e sua constituição permanecer delicada durante toda a vida, ele se recuperou integralmente e entrou na escola com dez anos.

 

Vico ultrapassou seus colegas tão rapidamente, que logo foi transferido para uma escola jesuíta. Dentro de um ano, contudo, ele viu seus professores devolvendo-o à anterior, e ele deixou a escola para estudar por conta própria. A Lógica Escolástica de Petrus Hispanicus e de Paulus Venetus dominou-o temporariamente, mas, quando foi convidado para assistir aos encontros de uma respeitada academia local, ele voltou aos seus estudos metafísicos com zelo renovado. Uma visita casual à universidade atraiu sua atenção para o Direito Romano, em uma época em que a jurisprudência envolvia conhecimento de Ética, Teologia, política, História, Filologia, línguas e Literatura. Embora ouvisse as detalhadas palestras de Don Francesco Verde, um distinguido professor de Direito, Vico percebeu que os princípios básicos eram facilmente perdidos nas minúcias, voltando ao estudo autônomo mais uma vez. Com dezesseis anos Vico testou suas habilidades no tribunal, assumindo um caso em defesa de seu pai. Ele se deu bem, mas se decidiu a não seguir a custosa prática do Direito. Achou sua saúde fraca, as cortes ruidosas, os casos tediosos e sua mente poética restringida demais naquela profissão, embora descobrisse na jurisprudência as chaves para um novo entendimento da Humanidade e da sociedade.

 

Enfim, abriu-se uma porta para Vico quando o Bispo de Íschia, impressionado com suas concepções sobre o ensino da jurisprudência, recomendou-o ao seu irmão, o Marquês de Vatolia. Durante nove anos, Vico desfrutou das luxuriantes paisagens de Cilentum e da grande biblioteca do Castelo de Vatolia. Ele lia autores antigos e escritores italianos desde Cícero a Boccaccio, de Virgílio a Dante, de Horácio a Petrarca. Apreciava Platão e o aborreciam os Epicuristas, porque eles ensinavam uma Moral de solitários e uma Ética individualista que ignorava as leis imutáveis que governavam a Humanidade coletiva. Ele olhou para a Filosofia Cartesiana, e imediatamente reconheceu nela as bases das ciências emergentes, mas, descobriu em Descartes erro e perigo. Em 1664, encontrou Dante ignorado, Ficino e Pico postos de lado e o Cartesianismo na vanguarda do debate intelectual. Vico empobreceu em uma cidade que pouco ligava para suas concepções. Ele ficou reduzido á composição de inscrições e à escrita de encômios sob encomenda, algo às vezes degradante, que ele continuou a fazer depois de ser indicado professor de Retórica na Universidade de Nápoles, em 1697. Dois anos depois, casou com Teresa Destito, e, enfim, foi pai de diversos filhos. Embora não tivesse gosto algum pela política acadêmica e seu cargo fosse dos menos remunerados na universidade, seu brilhantismo e eloqüência o levaram freqüentemente a pronunciar o discurso de abertura do ano acadêmico.

 

Em 1710, Vico publicou o De Antiqüíssima Italorum Sapientia (A Antiga Sabedoria dos Italianos), na qual tentava apresentar a sabedoria dos sábios jônios e etruscos através de uma análise filológica das palavras latinas. Esta forma primitiva de análise lingüística e conceitual – inspirada no Crátilo, de Platão, e na Sabedoria dos Antigos, de Francis Bacon – baseava-se na visão de que o conhecimento é um relacionamento causal entre o conhecedor e o conhecível. Só a aplicação disciplinada da razão pode converter a experiência em verdade. Este processo é a raiz da Ciência verdadeira, e não o método geométrico de Descartes. A Metafísica deve encontrar os fatos que podem ser convertidos em verdades, e descobrir, assim, um princípio de causação enraizado no senso comum. Para Vico, este princípio só é encontrado em Deus, o verdadeiro e derradeiro Ens que contém toda a fé e toda a inteligência. A partir deste trabalho fundamental, Vico passou os doze anos seguintes elaborando a idéia de que a abordagem histórica da lei, como desenvolvida nas diferentes sociedades, aliada à visão metafísica da Lei Divina Imutável, poderia delinear uma ciência que compreendesse as verdades conhecíveis pelo homem.

 

Em 1722, a cátedra de jurisprudência ficou vaga na universidade. Vico, já o autor do Diritto Universale, um abrangente e penetrante tratado de três volumes sobre a jurisprudência, esperava ser indicado para a cátedra, cuja remuneração era muito superior à de Retórica. Acabou sendo preterido em favor de um pensador insignificante, mas, embora chocado e desapontado, nesta recusa ele viu um chamado divino para abandonar os lucros mundanos, e voltou sua atenção exclusivamente aos escritos.

 

Na segunda década do século XVIII, um grupo de eruditos italianos nobres liderado pelo Conde Gian Artico di Porcia lançou um plano de publicar relatos biográficos de pensadores contemporâneos importantes. Cada pensador teria de escrever um relato de sua própria vida e educação, de modo que os estudantes pudessem ver como suas mentes excelentes evoluíram. Vico foi convidado a apresentar sua vida, e o fez. O projeto, por fim, se desfez, mas Porcia escolheu o relato de Vico, dentre os oferecidos e publicados, como um modelo para tais iniciativas. Assim, Vico escreveu a primeira autobiografia moderna. Em 1726, ele produziu seu Principi de una Scienza Nuova d'Intorno alla Commune Natura della nazione (Princípios de uma Nova Ciência a Respeito da Natureza Comum das Nações), seguindo-se nos próximos anos duas edições completamente revisadas e reescritas. A primeira Nova Ciência usava um método analítico e indutivo; a segunda era mais sintética; e a terceira acrescentava muito material novo.

 

À medida que a reputação de Vico se espalhava, sua saúde se debilitava e sua vida era complicada por problemas domésticos. Uma filha sofria de séria doença degenerativa, e um filho foi preso por vida dissoluta e dívidas. Uma segunda filha ganhou renome como poetisa, e seu filho favorito foi indicado para a sua cátedra de retórica. Quando os Bourbon assumiram o trono de Nápoles, Carlos III indicou Vico como historiógrafo real. Logo depois sua saúde colapsou, e o câncer quase destruiu seu poder de falar. Durante quatorze meses ele ficou entre a prostração e a dor, irresponsivo àqueles em torno de si. Subitamente, um dia, ele se ergueu, reconheceu sua esposa e seus filhos e, tranqüilamente, cantou uma passagem dos Salmos. E, então, morreu rapidamente, passando à História em 20 de janeiro de 1744.

 

Gianbattista Vico discerniu a explosiva mistura da razão com a Mecânica, e ofereceu uma nova Ciência que poderia trazer as mais altas percepções da Renascença para dentro da metodologia dos primeiros investigadores modernos. Tivessem as Ciências Sociais olhado para o humanismo de Vico antes do que para o Positivismo de Auguste Comte, para sua visão aberta do conhecimento nas Ciências Físicas antes do que para uma analogia geométrica crua, para o seu casamento entre a dignidade humana e a Providência Divina antes do que para um determinismo mecanicista, o mundo poderia ser consideravelmente diferente. Embora Vico não conseguisse passar a tocha do insight com seu brilho inalterado para as gerações subseqüentes, ele deixou uma mensagem que tem sido ouvida com renovado interesse e respeito na época atual.

 

 

 

Pensamentos Viconianos

 

 

 

A fantasia será tanto mais robusta quanto mais débil for o raciocínio.

 

Nada se pode saber sobre o homem – na verdade sobre nada partindo do que é externo ao ser humano.

 

A verdade é separada da falsidade em tudo o que foi preservado para nós, através dos longos séculos, por aquelas tradições comuns que, uma vez que foram preservadas por tanto tempo e por povos inteiros, devem ter tido uma base pública de verdade.

 

Os grandes fragmentos da Antigüidade, já inúteis para a ciência porque se enferrujaram, quebraram ou dispersaram, lançam grande luz quando limpos, reunidos e recuperados.

 

 

 

 

A Verdade e o criado são intercambiáveis.

 

A existência de Deus não pode ser provada 'a priori' pela existência da mente e das suas idéias.

 

Os métodos matemático e geométrico não são satisfatórios para a Ciência porque a certeza auto-evidente da Matemática deriva do fato de que ela é uma invenção humana.

 

 

Ondas

 

 

Não podemos demonstrar a Física através de suas causas porque os elementos que compõem a Natureza estão fora de nós. As coisas que são provadas na Física são aquelas que em podemos fazer algo similar.

 

Só as ciências humanas se aproximam da certeza.

 

Toda teoria deve partir do ponto onde a área de que trata principiou a tomar forma.

 

Ciência da Consciência Humana História da Evolução Humana.

 

De tudo o que foi apresentado genericamente a respeito do estabelecimento dos princípios desta Ciência, concluímos que: (1) há uma Providência Divina; (2) pelo casamento, são moderadas as paixões; e (3) a alma humana é imortal. E, uma vez que o critério que esta Ciência usa é o de que o que é sentido deve ser justo para todos os homens ou para a maioria, deve ser a regra da vida social. Tudo isto deve limitar a razão humana. Aquele que transgredir estas regras deve estar ciente de estar transgredindo toda a Humanidade.

 

A linguagem não pode nem ser completamente identificada com o pensamento nem inteiramente separada dele. A imaginação disciplinada em discernimento e emancipada de concepções paroquianas pode encontrar na linguagem as chaves da evolução humana.

 

A memória é muito vigorosa nas crianças, e, por isto, a imaginação é excessivamente viva, pois, esta não é mais do que uma memória dilatada e composta.

 

As idéias iguais que nasceram em povos que não se conheciam devem ter um fundo comum de verdade.

 

Observamos que todas as nações, tanto as bárbaras como as humanas, embora tão distantes entre si no espaço e no tempo, conservam estes três costumes humanos: todas têm alguma religião, todos contraem casamentos solenes e todas enterram os seus mortos.1

 

No início, a natureza dos povos é cruel, depois se torna severa, em seguida, benevolente, mais tarde, delicada, e, finalmente, corrupta.

 

Os filósofos, até agora, tendo contemplado a Divina Providência apenas pelo ângulo da ordem natural, demonstraram tão-somente uma parte, pela qual Deus, como Mente Soberana, livre e absoluta da Natureza (com seu eterno conselho, deu-nos naturalmente o ser, e naturalmente no-lo conserva), aprestam-se, por parte dos homens, as adorações com sacrifícios e outras divinas honras; mas, não O contemplam pela parte que era mais própria dos homens, cuja natureza possui esta principal propriedade: de serem sociáveis.

 

A ordem de ideias deve seguir a ordem das coisas.

 

Os homens, pela sua corrupta natureza, tiranizados pelo amor próprio, pelo qual seguem senão principalmente a própria utilidade, querem o que é útil para si e nada ao companheiro, não sendo capazes de pôr em conato as paixões, a fim de endereçá-las à justiça. Portanto, estabelecemos: que o homem no estado bestial ama somente a própria salvação [...] o homem em todas essas circunstâncias, ama principalmente a própria utilidade.

 

A religião hebraica foi fundada pelo verdadeiro Deus na proibição da divinação, baseada na qual surgiram todas as nações gentílicas. [...] Esta dignidade é uma das principais razões pelas quais o mundo inteiro das nações antigas se dividiu entre hebreus e gentios.

 

A História, como curso progressivo de eventos, conduz ou deverá conduzir à razão completamente esclarecida.

 

As pessoas, os grupos, as nações e as épocas individuais são apenas estágios definidos

 

Do mundo natural, só Deus tem o conhecimento, pois foi Ele quem o criou.2

 

O mundo social surgiu como o reino das necessidades, dos desejos e dos interesses humanos, como a disputa sempre renovada entre o homem, a Natureza e a História. A base empírica é o senso comum, que os homens aplicam às necessidades e utilidades de sua vida.

 

Os mitos são a expressão espontânea da Humanidade primitiva.

 

Os mitos estão ancorados em uma verdade histórica; não são reconstruções imaginosas de eventos naturais, mas, acontecimentos da vida social ou da política mitologizada.

 

Todas as formas de sociedade se desenvolvem a partir da organização das suas necessidades. Depois, são determinadas pelas utilidades e pelas mercadorias, e terminam com o domínio do prazer, do luxo e da riqueza (a barbárie refletida). Estas relações irão delinear as formas morais, políticas, artísticas e religiosas que caracterizam as culturas históricas individuais. Portanto, não é possível apontar um fato isolado como única causa da mudança social: todos os fatores estão inter-relacionados, e é sempre o todo que muda.

 

As sensações e a imaginação são as forças modeladoras da poesia, cujo conteúdo dá significado humano ao mundo. As duas primeiras idades do mundo – a idade dos deuses e a idade dos heróis – corresponderam ao tempo poético, no qual vigorou uma sabedoria poética.

 

Razões que justificam a importância da sabedoria poética para os primeiros povos: 1ª) reverência da religião – as nações gentílicas foram constituídas por fábulas; 2ª) a ordenação do mundo civil resultou desta sabedoria; 3ª) as fábulas deram material para investigações filosóficas altíssimas; 4ª) os filósofos puderam explicar várias coisas graças às expressões legadas pelos poetas; 5ª) os filósofos fizeram uso da autoridade da religião e da sabedoria dos poetas para comprovar os assuntos por eles meditados.

 

O homem primitivo se projetou sobre o mundo natural e, valendo-se de si próprio, se relacionou com ele. Foi o temor que ficticiamente forjou os deuses no mundo.

 

 

 

 

A passagem de um estágio histórico a outro é a passagem de uma forma inferior a uma forma superior de razão.

 

As doutrinas devem começar a partir do momento em que começam as matérias de que tratam, ou seja, a História começou a partir do momento em que o ser humano começou a pensar humanamente, e não quando os filósofos começaram a refletir sobre as idéias humanas.

 

O homem, desesperado de todos os socorros da Natureza, deseja uma coisa superior que o venha socorrer.3

 

O homem é uma vontade, uma força e um conhecimento que tendem para o infinito.

 

Os homens, primeiro, sentem sem se aperceber; depois, se apercebem com espírito perturbado e comovido; e, finalmente, refletem com mente pura. Esta dignidade é o princípio das sentenças poéticas, que são formadas com sentidos de paixões e de afetos, diferentemente das sentenças filosóficas, que se formam pela reflexão com raciocínios. Por isto, as sentenças filosóficas mais se aproximam da verdade, quanto mais se elevam aos universais,4 e as sentenças poéticas são tanto mais acertadas quanto mais se apropriam dos particulares.

 

Da lógica poética são corolários todos os primeiros tropos, dos quais a mais luminosa, e por ser luminosa, a mais necessária e a mais freqüente é a metáfora, tanto mais louvada, quanto mais às coisas sensatas dá sentido e paixão. Os primeiros poetas deram aos corpos o ser das substâncias animadas, capazes de quanto lhes pudesse conseguir, ou seja, de sentido e paixão, e, assim, fizeram as fábulas, de modo que cada metáfora vem a se uma pequena fábula.

 

A ironia não pode começar senão nos tempos da reflexão, porque ela é formada pelo falso, em virtude de uma reflexão que veste a máscara da verdade.

 

 

 

 

Tendo sido tão simples como as crianças – as quais, por natureza, são verdadeiras – as primeiras fábulas dos primeiros homens da gentilidade não podiam fingir o falso, razão pela qual, necessariamente, devem ser verdadeiras narrações.

 

' Nosce te ipsum.'5 (Sólon de Atenas, apud Vico).

 

Os homens que não sabem a verdade das coisas procuram se ater ao certo, pois, não podendo satisfazer ao intelecto com a Ciência, que, ao menos, a vontade repouse sobre a consciência.6

 

A Filosofia considera a razão, de que procede a ciência do verdadeiro; a Filologia observa a autoridade do humano arbítrio, donde se origina a consciência do certo.

 

A primeira ciência que se deve aprender é a Mitologia, ou seja, a interpretação das fábulas (pois, todas as histórias gentílicas possuem fabulosos princípios), já que as fábulas foram as primeiras histórias das nações gentílicas.

 

 

Mitologia Grega

Mitologia Grega

 

 

Este mundo civil foi certamente feito pelos homens, cujos princípios podem, porque devem, ser descobertos dentro das modificações de nossa própria mente humana. A bem refletir sobre tal fato, causa estranheza [verificar] como todos os filósofos seriamente estudaram o modo de obter a ciência deste
mundo natural, do qual, pois que Deus o fez, somente ele tem Ciência; e deixaram de meditar este mundo das nações, ou seja, o mundo civil, do qual, pois que o fizeram os homens, podiam obter sua ciência os homens.

 

As tradições vulgares devem ter tido públicos motivos de verdade. Por isto, nasceram e se conservaram por inteiros povos, em longos espaços de tempo.

 

O senso comum é o julgamento sem reflexão partilhado por uma classe inteira, por uma nação inteira, ou por toda a raça humana.

 

É verdade que os próprios homens fizeram este mundo de nações, mas, este mundo, sem dúvida, foi emitido a partir de uma Mente, muitas vezes diversa, às vezes, bastante contrária, e, sempre, superior aos fins específicos que os homens tinham proposto para si.7


 

 

 

 

Microcosmo no Macrocosmo

 

 

 

o homem é um com o Cosmo.

ouvirá o Silêncio em profusão.

 

Nada é abstruso ou invisível,

inexplicável ou imperceptível.

Mas, para meritar a Ciência,

só dando cabo da indolência.

 

Adormecemos e acordamos,

encarnamos e reencarnamos,

e a nossa personalidade-alma,

angustiada, espera com calma.

 

Senso comum? Até quando

Só ultrapassando cada sedução

será sentida a Voz do Coração.

 

Até lá, noite, dor e desolação,

angústia, frio e desertificação.

Não há esperteza nem milagre

que mudem o paladar do agre.

 

 

 


 

 

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Notas:

1. Para quem passou pela transição, talvez, nada possa haver de mais macabro do que ser enterrado. É um verdadeiro filme de terror! Sob qualquer aspecto que se analise a questão, o mais digno e bioecológico para um corpo morto é que ele seja cremado, para que o revertere ad locum tuum seja o mais rápido e higiênico possível. Mas, a cremação não deverá acontecer antes de decorridas 84 horas após a morte, e o corpo, já sem vida, não deve ser incomodado de forma alguma. Esgaravatar o corpo neste período ou cremá-lo antes de decorridas estas 84 horas são interferências negativas, descabidas, improcedentes e injustificadas no processo de revisitação educativa pela qual todos nós passaremos, e prejudicam a necessária preparação para a próxima encarnação, que começa quase imediatamente após a transição.

2. Se isto é ou foi assim, é inteiramente irrelevante; eu até acredito que não seja, e que nada tenha sido criado por ninguém. Mas, seja como for, quanto ao Conhecimento Verdadeiro (Sabedoria = ShOPhIa), ele só poderá ser alcançado por um triângulo insubstituível: Mérito, Trabalho e Humildade. Se transformarmos este triângulo em um quadrado, poderemos acrescentar a Paciência.

 

 

 

 

3. E assim, são arquitetados e fabricados os deuses, os demônios, os céus, os infernos, as religiões, os dogmas, os criacionismos, as escatologias, as teleologias, os apocalipses, os arrebatamentos, as verdades fundamentais, as obliqüidades abismais, as apócopes pensamentais, as proibições, as esperanças, os pecados, as penitências, os martírios, os ultramontanismos, as alocuções ex cathedra, as inquisições, as regras cerimoniais, as superstições, as genuflexões, os beija-mãos, os fanatismos, os preconceitos, as guerras santas, os genocídios etc. Por isto e por mais alguma coisa que eu porventura tenha me esquecido, já foram inventados, pelo menos, 30.000 deuses, e milhões de pessoas foram calcinadas, degoladas e trucidadas em nome deles! Só de pensar nisto tenho vontade de vomitar.

4. Por problema dos universais (ou problema medieval dos universais) os historiadores da Filosofia entendem ser a questão de saber se os universais são coisas ou meramente palavras. Esta questão divide os filósofos em realistas, como Platão, em que as espécies, como a espécie humana, são, em certo sentido, coisas, e em nominalistas, em que espécie não passa de uma palavra. O universal é um conceito filosófico que diz que existe algo que é partilhado por objetos particulares diferentes. Por exemplo, a circularidade é um universal que todas as coisas que são circulares partilham. Diz-se que os objetos circulares estanciam esse universal. Platão argumentou que, não só os universais eram reais, como só estes existiam verdadeiramente. Foi no século XII que as perspectivas nominalistas passaram a ser apresentadas. Abelardo não duvidou de que a hierarquia das espécies e dos gêneros de Aristóteles e de Porfírio descrevesse corretamente a estrutura do mundo. Deixou claro que quando afirma que as palavras são universais, não se refere às palavras no sentido físico (os sons que emitimos quando falamos), mas, às palavras como portadoras de significado. Foi na seqüência dos trabalhos de Abelardo que os seus contemporâneos introduziram o termo nomen (nome), e a partir daqui o conceito de nominalismo. No século XIII, à medida que os escritos de Aristóteles sobre a alma e a Metafísica se tornaram conhecidos, o Nominalismo praticamente desapareceu. Tomás de Aquino e Duns Escoto elaboraram várias formas sofisticadas de Realismo, reconhecendo os universais como realmente existentes. Mas, no século XIV, o Nominalismo voltou a ser recuperado, tendo sido Guilherme de Ockham o mais destacado dos nominalistas medievais. Ockhan rejeitou a idéia aristotélica de que o conhecimento intelectual resultava de as nossas mentes serem informadas por universais derivados de objetos percepcionados. Argumentou que o nosso conhecimento do mundo exterior começa com uma apreensão dos indivíduos.

5. Este apotegma, que significa conhece-te a ti mesmo, tem sido atribuído não só a Sólon de Atenas, mas, a diversos antigos sábios gregos, quais sejam: Bias de Priene, Quilon de Esparta, Cleóbulo de Lindos, Heráclito de Éfeso, Periandro de Corinto, Pítaco de Mitilene, Pitágoras de Samos, Sócrates de Atenas e Tales de Mileto.

6. É exatamente a ausência do conhecimento da Ciência que impõe ao ser-no-mundo o fiat voluntas mea, pois, desconhece o Fiat Voluntas Tua (Corde Dei). E é exatamente por isto que escrevo compulsivamente, a ver se, de uma forma ou de outra, consigo esclarecer sobre a inutilidade quimérica do fiat voluntas mea, dos quereres, dos desejos, das cobiças e das paixões.

7. Não posso deixar de comentar que a admissibilidade de um criador todo-poderoso – geralmente compreendido como plenipotenciário + autoritário + celibatário – acaba impedindo que a criatividade humana e outras categorias desejáveis possam se expressar em todo o seu esplendor, para o bem comum. Isto não se verifica apenas nas classes menos esclarecidas da população, mas, também, entre os pensadores mais augustos e festejados, que, com receio de ofender este criador todo-poderoso, se autolimitam e se auto-apocopam, como foi o caso, por exemplo, do padre dominicano, filósofo, teólogo e distinto expoente da Escolástica Tomás de Aquino (1225 – 1274), proclamado Santo e Doutor da Igreja, cognominado Doctor Communis ou Doctor Angelicus pela Igreja Católica, que, para o público em geral, tentou teologizar Aristóteles. Eu tenho a mais firme convicção que Tomás chegou a conclusões mais profundas que nunca publicou, porque, se tivesse publicado, o couro haveria de comer na casa de noca. Mas, eu gostaria de saber como Albert Einstein (1879 – 1955) poderia ter divulgado a sua Teoria da Relatividade (Relatividade Restrita ou Especial e Relatividade Geral), no annus mirabilis de 1905, se tivesse ficado preso a dogmas, nãopodes e imposições religiosas? E assim, como conciliar, por exemplo, segundo a Teoria da Relatividade, os conceitos já amplamente comprovados, que, como conseqüência da invariância da velocidade da luz (aproximadamente, 300.000 km/s no vácuo), o espaço e o tempo variem com o estado de movimento do observador, e a idéia de um criador todo-poderoso, em princípio, em si, invariante? Se um crente conciliar esta irrefutabilidade, a onipotência de Deus se torna inexplicável, porque, em função da velocidade, as coisas, digamos assim, ora poderão estar em um estado, ora poderão estar em outro, e o próprio Deus, de invariante passaria a variante; se não conciliar, jamais poderá compreender ou aceitar a Teoria da Relatividade e os avanços da Física dela derivados. Enfim, o que fazer com o conceito de Absoluto, que vem de muito longe? Bem, se, fantasmagoricamente, admitirmos que o Absoluto não está sujeito às leis físicas, que, presumidamente, Ele mesmo criou, o melhor mesmo é não dar a menor pelota para essa maluquice de Relatividade que Einstein inventou, e, no frio, dormir sob um edredom bem quentinho, e muito menos pensar em singularidade, que dá pesadelo.

 

 

A coisa toda depende!
A coisa toda propende!
A coisa toda ascende!

 

 

Páginas da Internet consultadas:

http://www.fondazionegbvico.org/ita/
pagina.asp?cod=13&area=2&cat=9

http://www.brainyquote.com/
quotes/authors/g/giambattista_vico.html

http://cosmo.fis.fc.ul.pt/~crawford/
artigos/cc_sr/node1.html

http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSci
HumanSocSci/article/viewFile/2436/1707

http://controversias-blog.blogspot.com.br/2013/
05/conversando-sobre-mitologia-grega.html

http://www.rubedo.psc.br/Artlivro/logpoeti.htm

http://widget.widgetlifes.com/
Shindong-masquerades-as-Goo-Hara-Kara/

http://www.ponteiro.com.br/vf.php?p4=8910

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Problema_dos_universais

http://www.gaiaonline.com/forum/barton-town/mount
-olympus-avi-contest-read-announcements/t.26134419/

http://kreativeanythingz.blogspot.com.br/
2011/07/fallen.html

http://mythologiagrega.blogspot.com.br/
2010/06/deuses-mitologicos.html

http://www.slideshare.net/kularocha/
perspectiva-histrica-de-giambattista-vico

http://www2.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos
/218JoaoCavalcante_HumbertoGuido.pdf

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/giambattista-vico

http://www.friendlyskies.net/
aoiforum/viewtopic.php?id=2554

http://www.teosofia.levir.com.br/
inst-024.php

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Giambattista_Vico

 

Música de fundo:

Ta Paidia Tou Piraia
Composição: Manos Hadjidakis

Fonte:

http://download.miditune.com/midi-5070-download
-tony_his_orchestra_baker-never_on_sunday.html

 

Direitos autorais:

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