GIAMBATTISTA VICO
(Pensamentos)

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Introdução Objetivo da Pesquisa

 

 

 

Esta pesquisa apresenta para reflexão alguns pensamentos do filósofo italiano Giambattista Vico – considerado um Instrutor da Humanidade. Vico discerniu a explosiva mistura da Razão com a Mecânica, e ofereceu uma nova Ciência que poderia trazer as mais altas percepções da Renascença para dentro da metodologia dos primeiros investigadores modernos.

 

Segundo o próprio Vico, numa visão que a crítica atual confirma, quatro foram os autores que sobre ele maior influência exerceram: Platão, Tácito, Bacon e Grócio. De Platão, recebeu o sentido da Filosofia e da verdade; de Tácito, o sentido da Filosofia e da certeza; de Bacon, a vontade de combinar a certeza com a verdade; e de Grócio, a intenção de traduzir uma e outra nas instituições e na prática dos homens.

 

 

 

Nota Biográfica

 

 

 

Giambattista Vico (Nápoles, 23 de junho de 1668 – Nápoles, 23 de janeiro de 1744) foi um filósofo italiano.

 

Giambattista Vico foi o sexto dos oito filhos de Antonio Vico e Candida Masulio. Foi-lhe dado este nome por causa de São João Batista, e foi batizado na Igreja Católica, à qual permaneceu leal toda a vida. Desde a primeira infância, Vico combinou um agudo e amplo intelecto com um insaciável amor ao conhecimento, e muito da sua educação se deu na livraria de seu pai. Com a idade de sete anos, caiu do alto de uma escada – talvez, uma daquelas usadas para alcançar os livros na loja – e fraturou severamente a cabeça. Durante as cinco horas em que permaneceu completamente inconsciente e imóvel, o médico local declarou que ele ou morreria ou ficaria idiotizado. Apesar de sua convalescença levar três anos e sua constituição permanecer delicada durante toda a vida, ele se recuperou integralmente, e entrou na escola com dez anos. Vico ultrapassou seus colegas tão rapidamente que logo foi transferido para uma escola jesuíta, mas acabou deixando a escola para estudar por conta própria.

 

Uma visita casual à universidade atraiu sua atenção para o Direito Romano, em uma época em que a jurisprudência envolvia conhecimento de Ética, Teologia, Política, História, Filologia, línguas e Literatura. Embora ouvisse as detalhadas palestras de Don Francesco Verde, um distinguido professor de Direito, Vico percebeu que os princípios básicos eram facilmente perdidos nas minúcias. Então, voltou ao estudo autônomo mais uma vez. Com dezesseis anos, testou suas habilidades no tribunal assumindo um caso em defesa de seu pai. Ele obteve sucesso, mas decidiu não seguir a custosa prática do Direito. Achou que sua saúde era fraca, as cortes ruidosas, os casos tediosos e sua mente poética ficaria restrita demais naquela profissão, embora descobrisse na jurisprudência as chaves para um novo entendimento da Humanidade e da sociedade.

 

Enfim, abriu-se uma porta para Vico quando o bispo de Ischia, impressionado com suas concepções sobre o ensino da jurisprudência, recomendou-o ao seu irmão, o Marquês de Vatolia. Durante nove anos, Vico desfrutou das luxuriantes paisagens do Cilento e da grande biblioteca do Castelo de Vatolia. Ele lia autores antigos e escritores italianos desde Cícero a Boccaccio, de Virgílio a Dante Alighieri, de Horácio a Petrarca. Apreciava Platão, mas ficava aborrecido com os epicuristas, porque eles ensinavam uma moral de solitários e uma ética individualista que ignorava as leis imutáveis que governavam a Humanidade coletiva. Vico acabou olhando para a Filosofia Cartesiana, e, imediatamente, reconheceu nela as bases das ciências emergentes, mas, descobriu em Descartes erro e perigo. Em 1694, encontrou Dante ignorado, Ficino e Pico postos de lado e o Cartesianismo na vanguarda do debate intelectual. Vico empobreceu em uma cidade que pouco ligava para suas concepções. Ele ficou reduzido à composição de inscrições e à escrita de encômios sob encomenda, algo, às vezes, degradante, que ele continuou a fazer depois de ser indicado professor de Retórica na Universidade de Nápoles, em 1697. Dois anos depois, casou-se com Teresa Destito, e, enfim, foi pai de diversos filhos. Embora não tivesse gosto algum pela política acadêmica e seu cargo fosse dos menos remunerados na Universidade, seu brilhantismo e eloqüência levavam-no freqüentemente a pronunciar o discurso de abertura do ano acadêmico.

 

Em 1710, Vico publicou o De Antiquissima Italorum Sapientia (A Antiga Sabedoria dos Italianos), na qual tentava apresentar a sabedoria dos sábios jônios e etruscos através de uma análise filológica das palavras latinas. Acreditava que a Metafísica deve encontrar os fatos que podem ser convertidos em verdades e descobrir assim um princípio de causação enraizado no senso comum. Para Vico, este princípio só é encontrado em Deus, o verdadeiro e derradeiro Ens que contém toda a fé e toda a inteligência. A partir deste trabalho fundamental, Vico passou os doze anos seguintes elaborando a idéia de que a abordagem Histórica da lei como desenvolvida nas diferentes sociedades, aliada à visão metafísica da Lei Divina Imutável, poderia delinear uma Ciência que compreendesse as verdades conhecíveis pelo homem.

 

À medida que a reputação de Vico se espalhava, sua saúde debilitava-se e sua vida era complicada por problemas domésticos. Uma filha sofria de séria doença degenerativa, e um filho foi preso por vida dissoluta e dívidas. Já uma segunda filha ganhou renome como poetisa, e seu filho favorito foi indicado para a sua cátedra de Retórica. Quando os Bourbon assumiram o trono de Nápoles, Carlos III indicou Vico como historiógrafo real. Logo depois, sua saúde colapsou, e um câncer quase destruiu seu poder de falar. Durante quatorze meses, Vico ficou entre a prostração e a dor. Subitamente, um dia, ele se ergueu-se, reconheceu sua esposa e seus filhos e, tranqüilamente, cantou uma passagem dos Salmos. E, então, morreu rapidamente, passando à História em 20 de janeiro de 1744.

 

 

 

Pensamentos Viquianos

 

 

 

A memória é muito vigorosa nas crianças e, por isto, a imaginação é excessivamente viva, pois esta não é mais do que uma memória dilatada e composta.

 

As idéias iguais que nasceram em povos que não se conheciam devem ter um fundo comum de verdade.

 

A verdade é separada da falsidade em tudo o que foi preservado para nós, através dos longos séculos, por aquelas tradições comuns que, uma vez que foram preservadas por tanto tempo e por povos inteiros, devem ter tido uma base pública de verdade.

 

Os grandes fragmentos da Antigüidade, já inúteis para a Ciência porque se enferrujaram, quebraram ou dispersaram. Todavia, lançam grande luz quando limpos, reunidos e recuperados.

 

 

 

 

Observamos que todas as nações, tanto as bárbaras como as humanas, embora tão distantes entre si no espaço e no tempo, conservam estes três costumes humanos: todas têm alguma religião, todos contraem casamentos solenes e todas enterram os seus mortos.

 

No início, a natureza dos povos é cruel; depois se torna severa; em seguida, benevolente; mais tarde, delicada; e finalmente, corrupta.

 

A imaginação [fantasia] será tão mais robusta quanto mais fraco for o raciocínio.

 

A honra é o mais nobre estímulo da honra militar.

 

O homem é uma vontade, uma força e um conhecimento que tendem para o infinito.

 

Os filósofos, até agora, tendo contemplado a Divina Providência apenas pelo ângulo da ordem natural, demonstraram tão-somente uma parte, pela qual Deus, como Mente Soberana, livre e absoluta da Natureza, com seu eterno conselho, deu-nos naturalmente o ser, e, naturalmente, em nós o conserva, aprestam-se, por parte dos homens, as adorações com sacrifícios e outras divinas honras. Mas, não O contemplam pela parte que era mais própria dos homens, cuja natureza possui esta principal propriedade: de serem sociáveis.

 

Os homens – pela sua corrupta natureza, tiranizados pelo amor próprio, pelo qual seguem senão principalmente a própria utilidade – querem o que é útil para si e nada ao companheiro, não sendo capazes de pôr em conato as paixões, a fim de endereçá-las à justiça. Portanto, estabelecemos: que, no estado bestial, o homem ama somente a própria salvação [...] o homem, em todas essas circunstâncias, ama principalmente a própria utilidade.

 

A religião hebraica foi fundada pelo verdadeiro Deus na proibição da divinação, baseada na qual surgiram todas as nações gentílicas. [...] Esta dignidade é uma das principais razões pelas quais o mundo inteiro das nações antigas se dividiu entre hebreus e gentios.

 

O homem, por indefinida natureza da mente humana, onde quer que esta o precipite na ignorância, faz de si regra do Universo.

 

O Governo segue a natureza dos governantes.

 

O mais sublime trabalho da poesia é dar às coisas insensatas sentido e paixão.

 

A ordem das idéias deve seguir a ordem das coisas.

 

Os epicuristas ensinavam uma moral de solitários.

 

A verdade e o criado são intercambiáveis.

 

Não podemos demonstrar a Física através de suas causas porque os elementos que compõem a Natureza estão fora de nós.

 

As coisas que são provadas na Física são aquelas em que podemos fazer algo similar.

 

Toda teoria deve partir do ponto onde a área de que trata principiou a tomar forma.

 

Os homens, primeiro, sentem sem se aperceber; depois, se apercebem com espírito perturbado e comovido, e, finalmente, refletem com mente pura. Esta dignidade é o princípio das sentenças poéticas, que são formadas com sentidos de paixões e de afetos, diferentemente das sentenças filosóficas, que se formam pela reflexão com raciocínios. Por isto, estas mais se aproximam da verdade, quanto mais se elevam aos universais, e aquelas são tanto mais acertadas quanto mais se apropriam dos particulares.

 

Assim como a Metafísica contempla as coisas em todos os gêneros do ser, e é lógica, enquanto considera as coisas em todos os gêneros para significá-las, da mesma forma como a poesia é uma metafísica poética, pela qual os poetas teólogos imaginaram os corpos terem sido geralmente divinas substâncias, assim também a poesia pode ser considerada, agora, uma lógica poética, pela qual as expressa.

 

Os primeiros poetas foram teólogos, e com a sua Teologia fundaram as Repúblicas.

 

A Língua Sagrada criada por Adão, a quem Deus concedeu a Divina Onomathesia,1 é a imposição dos nomes às coisas, segundo a natureza de cada uma.

 

As mitologias devem ter sido os falares próprios das fábulas (que é o que o termo significa), pois, sendo as fábulas gêneros fantásticos, as mitologias devem ter sido suas próprias alegorias.

 

A ironia não pode começar senão nos tempos da reflexão, porque ela é formada pelo falso, em virtude de uma reflexão que veste a máscara da verdade.

 

Os homens que não sabem a verdade das coisas procuram se ater ao certo, pois, não podendo satisfazer ao intelecto com a Ciência, que, ao menos, a vontade repouse sobre a consciência.

 

A Filosofia considera a razão, de que procede a Ciência do verdadeiro; a Filologia observa a autoridade do humano arbítrio, de onde se origina a consciência do certo. Esta dignidade define, na segunda parte, os filólogos, como sendo todos os gramáticos, historiadores e críticos que se ocuparam da cognição das línguas e dos feitos dos povos, tanto em sua casa como nos costumes e nas leis, quanto nas guerras, tratados de paz, alianças, viagens e comércios. Esta mesma dignidade comprova terem falhado pela metade tanto os filósofos que não certificaram suas razões pelas autoridades dos filólogos, quanto os filólogos que não cuidaram de verificar suas autoridades com a razão dos filósofos. Se houvera ocorrido, teriam sido mais úteis às repúblicas e nos teriam antecedido ao meditar esta Ciência [Nova].

 

Os falares vulgares devem ser os testemunhos mais graves dos antigos costumes dos povos, celebrados ao tempo em que estes formaram as próprias línguas.

 

A primeira Ciência que se deve aprender é a Mitologia, ou seja, a interpretação das fábulas (pois, todas as histórias gentílicas possuem fabulosos princípios), já que as fábulas foram as primeiras histórias das nações gentílicas.

 

 

 

 

Certamente, este mundo civil foi feito pelos homens, cujos princípios podem, porque devem, ser descobertos dentro das modificações de nossa própria mente humana. A bem refletir sobre tal fato, causa estranheza [verificar] como todos os filósofos seriamente estudaram o modo de obter a Ciência deste mundo natural, do qual, pois que Deus o fez, somente Ele tem Ciência; e deixaram de meditar este mundo das nações, ou seja, o mundo civil, do qual pois que o fizeram os homens, podiam obter sua Ciência os homens.

 

As tradições vulgares devem ter tido públicos motivos de verdade, por isto nasceram e se conservaram por povos inteiros, em longos espaços de tempo. Este será outro grande mérito desta Ciência: o de reconhecer as razões do verdadeiro, que, com o correr dos tempos e com o modificar-se das línguas e dos costumes, chegam até nós razões revestidas de falsidade.

 

 

 

 

Sem que os povos tomassem conhecimento uns dos outros,2 nasceram separadamente idéias uniformes de deuses e de heróis.

 

Foram os próprios homens que fizeram este mundo de nações. Mas este mundo, sem dúvida, saiu de uma mente freqüentemente diversa e, às vezes, de todo contrária e sempre superior a estes fins particulares que os homens se haviam proposto. Destes fins restritos, feitos em parte para servir a fins mais amplos, se serviram sempre para conservar a humana geração nesta Terra. Por isto, querem os homens usar a libido bestial e dissipar seus benefícios, e fazem a castidade dos matrimônios, onde surgem as famílias; querem os pais exercer desmedidamente os impérios paternos sobre os clientes, e sujeitá-los aos impérios civis, de onde surgem as cidades; querem as ordens reinantes dos nobres abusar da liberdade senhorial sobre os plebeus, e se tornam escravos das leis, que fazem a liberdade popular; querem os povos livres se livrar do freio de suas leis, e seguem sujeitos aos monarcas; pois querem os monarcas, com todos os vícios que lhe assegurem a dissolução, aviltar seus súditos, e os dispõe a aceitar a escravidão de nações mais fortes; querem as nações dissiparem a si próprias, e vão salvar seus restos nas solidões, de onde, como fênix, novamente ressurgem. O que fez tudo isto foi, na verdade, a mente, pois que o fizeram com inteligência; não é questão de destino, porque o fizeram com livre escolha; nem foi acaso, pois que com perpetuidade, sempre assim fazendo, chegaram às mesmas coisas. Assim, pois, de fato, é refutado Epicuro, que defende o acaso, e seus seguidores, Hobbes e Maquiavel; é também refutado Zenão, e, com ele, Spinoza, que defendem o destino: ao contrário, foram confirmados os filósofos políticos, de que é príncipe o divino Platão, que estabelece como reguladora das coisas humanas a Providência. Sobre a Providência se fundamentam os primeiros governos do mundo, sendo a religião aquela que manteve firme o estado das famílias; depois, passando aos Governos civis heróicos, ou seja, aristocráticos, teve de ser a religião a principal sólida base; depois, dando seguimento aos Governos populares, a mesma religião serviu de meio aos povos para que a atingissem; detendo-se, finalmente, nos Governos monárquicos, tal religião foi o escudo dos príncipes. Por isto, perdendo-se a religião nos povos, nada lhes resta para viver em sociedade, nem escudo para se defender, nem meio para se aconselhar, nem base onde se afirmem, uma forma pela qual existam realmente no mundo.

 

Onde quer que um povo tenha crescido selvagem, em que as leis humanas não surtem mais efeito, o único meio poderoso de mitigar esta situação é a religião.

 

Com a língua poética dos gentios foram fundadas as primeiras leis e as primeiras religiões.

 

O senso comum3 é o julgamento sem reflexão, compartilhado por toda uma classe, por uma nação inteira ou por toda a raça humana.

 

Como, de fato, a Ciência nasce das verdades e o erro das falsidades, assim o senso comum nasce da verossimilhança.

 

Foi o temor que – ficticiamente – forjou os deuses4 no mundo.

 

História = Teologia civil e racional da Providência Divina.

 

O pensamento histórico pode ser construtivo e crítico igualmente, libertando-o da dependência de fontes escritas, devidamente autorizadas, e tornando-o genuinamente original e auto-suficiente, capaz de recuperar, através da análise científica dos dados, verdades que se perderam por completo.

 

Naquela densa noite de trevas que encobre a primeira e de nós tão distante Antigüidade, aparece a Luz Eterna desta Verdade, que nunca se apaga e da qual não se pode duvidar sob nenhuma condição: que este mundo civil, certamente, foi feito pelos homens, cujos princípios podem, porque devem, ser encantados dentro das modificações de nossa própria mente humana.

 

Temos dois vocábulos: 'verum' e 'certum', dos quais distinguimos os diversos significados, assim como todos distinguem o falso do dúbio; por isto, tanto se afasta o falso do dúbio, quanto o 'certum' do 'verum'. Se estas duas coisas não fossem diversas e distintas, não conseguiríamos que muitas coisas verdadeiras mostrando-se talvez dúbias, seriam por sua vez dúbias e certas, assim como, muitíssimas coisas falsas pudessem se ter por certas, assim seriam simultaneamente falsas e verdadeiras. O 'verum' nasce da conformidade da mente com a ordem da coisa, e o 'certum' é produto da consciência assegurada pela dúvida. Apela-se à razão da conformação com a ordem da coisa; por isto, se é eterna a ordem da coisa, é eterna a razão da qual se apresenta a eterna verdade; se a ordem da coisa contemplada é de tal natureza que não subsiste em todo o tempo, em todo o lugar e por tudo, não haverá somente uma razão provável nas coisas que esperam pela ordem cognitiva, nem por uma razão verossímil naquela que realizemos uma operação. Assim como o 'verum' é essência da razão, assim será elemento intrínseco do 'certum' a autoridade, tanto aquela sugerida por nosso próprio sentido que se chama 'auctoritas', quanto aquela imposta pelos outros, os quais denominaram autoridade, nascendo ambos da persuasão.

 

A natureza humana traz consigo esta propriedade: que sejam os sentidos as únicas vias pelas quais ela conheça as coisas.5

 

As coisas físicas são distintas da mente.

 

Como alguém poderá estar certo de ter visto o todo?6

 

Eu não concordo com a opinião de que os poetas se deleitam principalmente com o falso. Ousarei, ao contrário, afirmar que eles, como filósofos, procuram, como dever, fazer vir à luz a verdade. Já que o poeta ensina divertindo e o filósofo ensina com austeridade, um e outro ensinam os deveres e, um e outro descrevem os costumes dos homens, um e outro exortam às virtudes e distanciam dos vícios. Mas, o filósofo, tendo que tratar com eruditos, discute tudo isto segundo o gênero, e o poeta, em vez disto, por ter que tratar com o vulgo, persuade, portanto, mediante os fatos e os ditos sublimes dos personagens que imagina, utilizando como exemplos qualquer forma inventada. Por conseguinte, os poetas se afastam das formas da realidade cotidiana, para imaginar uma espécie mais eminente da mesma, abandonando a natureza incerta para seguir aquela que é constante. E, assim, para serem mais verdadeiros, seguem o fictício.

 

Os antigos filósofos naturais, contemplativos, conduziam seus estudos no intuito de agradar os deuses.

 

A Natureza é obra de Deus, e só Ele, por ser o criador da Natureza, é quem pode ser capaz de conhecê-la.

 

Os oradores agem como cortesãos, não como filósofos. Seus discursos, em conteúdo, têm apenas uma aparência de verdade. Os cortesãos fingem ser virtuosos, quando deveriam procurar a verdade comum a todos, para, assim, obterem com honestidade a aprovação de todos.

 

Arte de persuadir = capacidade de acalmar os ânimos + prender a atenção do ouvinte + comover todos.

 

O ouvinte [leitor] não deve apenas ouvir [ler], mas, acreditar também na importância do que foi dito [lido].

 

O defeito mais grave da nossa ordem de estudos é que, enquanto nos dedicamos com máximo zelo às disciplinas naturais, não fazemos o mesmo com relação à moral, e, em especial, a parte que trata da alma humana...

 

As coisas humanas, geralmente, estão dominadas pela ocasião e pela escolha, as quais são muito incertas, guiadas, como são, mais pela simulação e pela dissimulação.

 

Quatro atividades para melhorar a cultura da Humanidade: 1ª) pintura, escultura, arquitetura, música, poesia e eloqüência; 2ª) erudição em línguas e conhecimento da História; 3ª) invenções [inovação]; e 4ª) prudência.

 

Deus, por conhecer o verdadeiro, o gera desde a eternidade, e o faz dentro e fora do tempo. E o critério do verdadeiro é o ter comunicado a bondade de seus pensamentos durante a criação.

 

A mente humana, por ser finita e exterior a todas as demais coisas, agrupa os extremos das coisas, porém, nunca abarca o todo. Pode pensar as coisas, mas não entendê-las; e assim, a mente humana participa da razão, mas não é senhora da razão.

 

Deus é a primeira verdade, pois compreende todas as causas.

 

As utilidades mudam, mas a igualdade [Lei] é eterna.

 

Utilidade —› Necessidades Particulares —› Sociabilidade.

 

A utilidade desperta na mente do homem a idéia de igualdade, que é a causa do justo [de tender ao que é justo].

 

 

 

 

O temporal não pode ser a causa do eterno nem o corpo pode produzir o abstrato.

 

A repressão pelo medo é insuficiente para se fundamentar e justificar o [Estado de] Direito.

 

O Direito Natural das gentes nasceu privadamente entre os povos, sem nada saberem uns dos outros; depois, com as circunstâncias das guerras, das embaixadas, das alianças e dos comércios foi reconhecido como comum a todo o gênero humano.

 

Falsa Persuasão Falsidade Preconceito.

 

A cognição de Deus não termina nela mesma, de modo que ela se ilumine particularmente com os inteligíveis e, portanto, regule apenas as coisas morais... Mas, ela é convexa, onde o raio se refrata e se irradia para fora, para que a Metafísica conheça Deus providente nas coisas morais públicas, ou seja, nos costumes civis, com os quais vieram ao mundo e se conservaram as nações.

 

 

 

 

Todas as Repúblicas nasceram pela ação das armas, para depois se estabelecerem as leis.

 

'Omne ignotum pro magnifico est.' Tudo o que é desconhecido é tido por maravilhoso. (Publius Cornelius Tacitus, apud Vico).

 

Nações como a dos caldeus, dos citas, dos egípcios e dos chineses foram as primeiras a fundar a Humanidade do mundo antigo.

 

A ferocidade, a avareza e a ambição são os três vícios que põem à deriva todo o gênero humano.

 

Varrão [Marcus Terentius Varro (116 a.C. – 27 a.C.)] teve a diligência de recolher trinta mil nomes de deuses, nomes esses que se reportavam à diversas necessidades, fossem da vida natural, da vida moral, da vida econômica ou da vida civil dos primeiros tempos. (Sublinhado e negrito meus).

 

A mente humana, devido à sua natureza indefinida, quando cai na ignorância, faz de si regra do Universo no que respeita a tudo aquilo que ignora.

 

A mente humana é naturalmente inclinada pelos sentidos a se revelar fora no corpo, e, com muita dificuldade, por meio da reflexão, a se compreender a si mesma.

 

Os homens inteligentes estimam certo tudo o que dita a utilidade igual das causas.

 

O verdadeiro das leis é uma certa luz e um certo esplendor que ilumina o Direito Natural.

 

O homem caído no desespero de todos os socorros da Natureza deseja uma coisa superior que o salve.

 

O que regula todo o justo dos homens é a Justiça Divina – ministrada pela Divina Providência – para conservar a sociedade humana.

 

Ainda que este mundo tenha sido criado particular e no tempo, as ordens que o regulam são universais e eternas.

 

A sabedoria dos poetas teólogos antecedeu a Sabedoria da Filosofia [Iniciação], pois, tudo quanto primeiro haviam escutado os poetas acerca da sabedoria vulgar, depois, outro tanto compreenderam os Filósofos [Iniciados] acerca da Sabedoria Secreta. De modo que se pode dizer terem sido os poetas o senso e os Filósofos o intelecto do gênero humano.7

 

Concordância com Aristóteles: A mente humana não compreende coisa alguma da qual não tenha recebido algum estímulo dos sentidos.

 

Os fundadores da Humanidade gentílica, com a Teologia Natural [Metafísica], imaginaram os deuses. Com a Lógica, inventaram as línguas. Com a Moral, geraram os heróis. Com a Economia, fizeram as famílias. Com a Política, fundaram as cidades. Com a Física, estabeleceram os princípios de todas as coisas divinas... Com a Cosmografia, figuraram um Universo pleno de deuses. Com a Astronomia, levaram da Terra ao céu os planetas e as constelações. Com a Cronologia, deram início aos tempos. E com a Geografia, para dar um exemplo, os gregos descreveram o mundo dentro da sua Grécia.

 

 

Metafísica
(Segundo Giambattista Vico)

 

A poesia deve: 1º) ser apropriada ao entendimento; 2º) alcançar o fim a que se propôs; e 3º) ensinar a agir virtuosamente.

 

Os poetas da Antigüidade imaginavam que os deuses [particularmente Júpiter] eram a causa das coisas que sentiam e que admiravam.

 

Metafisicamente, a sabedoria poética começou a partir da contemplação de Deus pelo atributo da sua Providência.

 

Sabedoria Secreta dos Filósofos [ShOPhIa] —› Teologia Natural [Metafísica].

 

Religião —› Moral Poética.

 

A verdadeira amizade natural é o matrimônio, no qual, naturalmente, começam os três fins do bem, isto é, o honesto, o útil e o deleitável, pelo que o marido e a mulher passam, por natureza, a mesma sorte em todas as propriedades e adversidades da vida.

 

A Idade Média foi um período em que houve um retorno ao tempo da barbárie ('barbarie ritornata', barbárie retornada), havendo uma concordância entre os primeiros tempos bárbaros e os tempos bárbaros regressados. Todavia, há possibilidade de ocorrer uma terceira barbárie, a 'barbarie della riflessione' – a barbárie do intelecto.8

 

Devido à igualdade da Natureza Inteligente – que é a própria natureza do homem – todos são igualizados pelas leis, porquanto todos nascem livres.

 

Que governem o mundo aqueles que são por natureza melhores.

 

As almas não morrem com seus corpos. São imortais.

 

 

 

Desde que Adão era Cadete

 

 

 

Desde que Adão era cadete,

deuses o temor tem forjicado,

mil demonhos manufaturado,

óbices e travancas fraguado.

 

Mas, ajoelhações persistem,

credo em portentos resistem,

trutas com deuses insistem.

 

Tudo isto é um trino cacoete:

absência por improficiência,

ensurdecência por carência,

anuência por falta de Ciência.

 

Basta ter firmeza e dizer não,

pôr abaixo a porta do alçapão,

e ouvir o Santo Deus-Coração.

 

 

 

 

 

 

______

Notas:

1. Segundo Antonio Sergio da Costa Nunes, em sua tese de doutorado A Arqueologia da Linguagem em Giambattista Vico, Divina Onomathesia é linguagem comum a todos os homens por ação da Divina Providência.

2. Objetivamente isto é (quase) assim; mas, subconscientemente não é.

3. Em Filosofia, o senso comum (ou conhecimento vulgar) é a primeira suposta compreensão do mundo resultante da herança fecunda de um grupo social e das experiências que continuam sendo efetuadas. O senso comum descreve as crenças e as proposições que aparecem como normais, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar verdades mais profundas, como as científicas. Um tipo de conhecimento que se acumula no nosso cotidiano e é chamado de senso comum, baseado na tentativa e no erro. É o senso comum que nos permite sentir uma realidade menos detalhada, menos profunda e imediata, e vai do hábito de realizar um comportamento até a tradição que, quando instalada, passa de geração para geração. No senso comum, não há análise profunda, mas, sim, uma espontaneidade de ações relativa aos limites do conhecimento do indivíduo, que vão passando por gerações; o senso comum é o que as pessoas comuns usam no seu cotidiano, o que é natural e fácil de entender, o que elas pensam que seja verdade e que lhe traga resultados práticos herdados pelos costumes. Existem pessoas que confundem senso comum com crença, embora sejam coisas bem diferentes. Senso comum é aquilo que aprendemos em nosso dia-a-dia, e que não precisamos nos aprofundar para obter resultados. Por exemplo: uma pessoa vai atravessar uma pista; ela olha para os dois lados, mas, não precisa calcular a velocidade média, a distância ou o atrito que o carro exerce sobre o solo. Ela simplesmente olha e decide se dá para atravessar ou se deve esperar. Logo, o senso comum é um ato de agir e pensar que tem raízes culturais e sociais. Por tudo isto, o senso comum é um perigo.

 

 

 

 

4. Bem, não só os deuses, mas, os demônios também. Até é possível, e acho que foi assim mesmo, que os demônios tenham sido forjados primeiro, pois, sem demônios, qual a utilidade dos deuses? Agora, da mesma que não se deve misturar e colocar no mesmo balaio Cristianismo e catolicismo, Gnose e religião, não se deve confundir Deuses com deuses.

5. Os sentidos não são as únicas vias pelas quais é possível que conheçamos as coisas. Pelo contrário. Se fosse assim, ainda estaríamos na Idade da Pedra, e nossa tecnologia mais avançada ainda teria por base a pedra. O mínimo que precisa ser considerado para rebater o argumento viquiano é a intuição, que tem muito, para não dizer tudo, de assunção, e funciona pela Lei da Assunção.

6. Nem os mais Altos Iniciados podem afirmar que tiveram acesso ao Todo. Acessar o Todo significa se fundir com o Todo, e desta fusão não há retorno. Esta a Perfeita Unidade, na qual a individualidade desaparece absolutamente. Eu suponho que isto só possa acontecer bem além do Nível Dharmakayco. O Buddhismo admite, basicamente, três esferas de manifestação, ainda que a Verdade seja uma só: Nirmanakaya, Sambogakaya e Dharmakaya – que é a manifestação da Verdade em forma Absoluta, para além da necessidade de discriminação em conceitos. Representa a Verdade que está além da forma e da idéia. Corresponde à Mente do Senhor Buddha.

7. Penso que a coisa não tenha acontecido assim, nesta ordem. É mais razoável se entender e se admitir que a Iniciação só se mostrou quando o homem estava apto a compeendê-La. Afinal, a FiloShOPhIa é eterna, tendo existido desde sempre. Nós, simples mortais bestiais, é que damos aos cães as coisas santas e pérolas aos porcos; os Iniciados não. Vale a pena dar uma olhada no Evangelho de Mateus, VII: 6.

8. E foi exatamente isto que aconteceu na Segunda Grande Guerra, que nem Vico poderia imaginar que a Humanidade chegaria a tal grau de ferocidade vil, de barbaria e de selvageria.

 

Páginas da Internet consultadas:

http://animationsa2z.com/justice-and-low2.php

http://www.uece.br/cmaf/dmdocuments/2011_eticidade
_dos_princ%C3%ADpios_na_Scienza_Nuova.pdf

http://pt.wikipedia.org/wiki/Kaya_(budismo)

http://www.marilia.unesp.br/Home/
RevistasEletronicas/Kinesis/sergionunes.pdf

http://www.filosofianet.org/modules.php?
name=Content&pa=showpage&pid=25

http://pt.scribd.com/doc/26818333/Giambattista
-Vico-%C2%ABCiencia-Nova%C2%BB

http://www.slideshare.net/kularocha/
perspectiva-histrica-de-giambattista-vico

http://www.notable-quotes.com/
v/vico_giambattista.html

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Senso_comum

http://www.lifequoteslib.com/
authors/giambattista_vico.html

http://uncopy.net/tag/animated-gif/

http://graphics.glig.com/animated
+gifs/798099-Medusa

http://www.mercuryserver.com/

http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Acta
SciHumanSocSci/article/viewFile/2436/1707

http://www.mundialistas.com.br/

http://www.rubedo.psc.br/
Artlivro/logpoeti.htm

http://www.ponteiro.com.br/
vf.php?p4=8910

http://www.animationgold.com/
arrows.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Giambattista_Vico

http://www.levir.com.br/
inst-024.php

http://www.filosofia.com.br/
historia_show.php?id=83

http://www2.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arqu
ivos/218JoaoCavalcante_HumbertoGuido.pdf

http://frases.netsaber.com.br/busca_up.p
hp?l=&buscapor=Giambattista%20Vico

http://www.citador.pt/frases/
citacoes/a/giambattista-vico

 

Música de fundo:

Lazzarella
Composição: Domenico Modugno (música) & Riccardo Pazzaglia (letra)
Interpretação: Domenico Modugno

Fonte:

http://mp3skull.com/mp3/
domenico_modugno_lazzarella.html

 

Direitos autorais:

As animações, as fotografias digitais e as mídias digitais que reproduzo (por empréstimo) neste texto têm exclusivamente a finalidade de ilustrar e embelezar o trabalho. Neste sentido, os direitos de copyright são exclusivos de seus autores. Entretanto, como nem sempre sei a quem me dirigir para pedir autorização para utilizá-las, se você encontrar algo aqui postado que lhe pertença e desejar que seja removido, por favor, entre em contato e me avise, que retirarei do ar imediatamente.