1888:
Às três horas e vinte minutos da tarde de 13 de junho nasce
em Lisboa, capital portuguesa, Fernando António Nogueira Pessoa.
1893:
Em janeiro nasce seu irmão Jorge. O pai morre de tuberculose em 13
de julho. A família é obrigada a leiloar parte de seus bens.
1894:
No mês de janeiro, seu irmão Jorge morre. Cria, com apenas
seis anos de idade, seu primeiro heterônimo – Chevalier de Pas
– fato relatado pelo próprio Fernando Pessoa a Adolfo Casais
Monteiro (1908 – 1972), em uma carta de 1935 em que fala extensamente
sobre a origem dos heterônimos.
1895:
Em julho escreve seu primeiro poema. Sua mãe se casa pela segunda
vez, por procuração, na Igreja de São Mamede, em Lisboa,
com o comandante João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban
(África do Sul), o qual havia conhecido um ano antes.
1896:
Em 7 de janeiro, em companhia da mãe e de um tio-avô, Manuel
Gualdino da Cunha, parte para Durban, na África do Sul. Nasce Henriqueta
Madalena, irmã do poeta, em 27 de novembro.
1897:
Faz o curso primário em West Street. No mesmo Instituto, faz a Primeira
Comunhão.
1898:
Nasce, em 22 de outubro, sua segunda irmã, Madalena Henriqueta.
1899:
Ingressa na Durban High School em Abril. Cria o pseudônimo Alexander
Search.
1900:
Em janeiro, nasce o terceiro filho do casal, Luís Miguel. Em junho,
Pessoa passa para a Form III e é premiado em francês.
1901:
Em junho é aprovado no exame da Cape School High Examination.
Falece Madalena Henriqueta. Começa a escrever as primeiras poesias
em inglês. Em agosto, parte com a família para uma visita a
Portugal.
1902:
Em janeiro nasce, em Lisboa, o seu irmão João Maria. Vai à
ilha Terceira em maio. Em junho a família retorna a Durban. Em setembro
volta sozinho para Durban.
1903:
Submete-se ao exame de admissão à Universidade do Cabo, tirando
a melhor nota no ensaio em inglês e ganhando, assim, o Prêmio
Rainha Vitória.
1904:
Em agosto nasce sua irmã Maria Clara e em dezembro termina seus estudos
na África do Sul.
1905:
Parte definitivamente para Lisboa, onde passa a viver com a avó Dionísia.
Continua a escrever poemas em inglês.
1906:
Matricula-se, em outubro, no Curso Superior de Letras. A mãe e o
padrasto retornam a Lisboa e Pessoa volta a morar com eles. Falece, em Lisboa,
a sua irmã Maria Clara.
1907:
A família retorna mais uma vez a Durban. Pessoa passa a morar com
a avó. Desiste do Curso Superior de Letras. Em agosto, a avó
morre. Durante um curto período, estabelece uma tipografia.
1908:
Começa a trabalhar como correspondente estrangeiro em escritórios
comerciais.
1910:
Escreve poesia e prosa em português, em inglês e em francês.
1912:
Pessoa publica na revista Águia o seu primeiro artigo de
crítica literária. Idealiza Ricardo Reis.
1913:
Intensa produção literária. Escreve O Marinheiro.
1914:
Cria os heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto
Caeiro. Escreve os poemas de O Guardador de Rebanhos e também
Livro do Desassossego. Curiosamente, em uma tarde em que o escritor
português José Régio – pseudônimo de José
Maria dos Reis Pereira (1901 – 1969) – tinha combinado de se
encontrar com Pessoa, este apareceu, como de costume, com algumas horas
de atraso, declarando ser Álvaro de Campos, pedindo perdão
por Pessoa não ter podido aparecer ao encontro.
1915:
Sai em março o primeiro número de Orpheu. Pessoa
'mata' Alberto Caeiro.
1916:
Seu amigo Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 19 de maio de 1890
– Paris, 26 de abril de 1916) suicida-se. Sá-Carneiro, poeta,
contista e ficcionista português, foi um um dos grandes expoentes
do Modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração
d’Orpheu.
1918:
Pessoa publica poemas em inglês, resenhados com destaque no Times.
1920:
Conhece Ophélia Queiroz. Sua mãe e seus irmãos voltam
para Portugal. Em outubro, atravessa uma grande depressão que o leva
a pensar em se internar em uma casa de saúde. Rompe com Ophélia.
1921:
Funda a editora Olisipo, onde publica poemas em inglês.
1924:
Aparece a revista Atena, dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz.
1925:
Morre em Lisboa a mãe do poeta, em 17 de março.
1926:
Dirige, com seu cunhado, a Revista de Comércio e Contabilidade.
Requer patente de uma invenção sua.
1927:
Passa a colaborar com a revista Presença.
1929:
Volta a se relacionar com Ophélia.
1931:
Rompe novamente com Ophélia.
1934:
Publica Mensagem.
1935:
Em 29 de novembro, é internado com o diagnóstico de cólica
hepática. Morre no dia 30. O assento de óbito de Pessoa indica
como causa da morte bloqueio intestinal.
Objetivo
do Trabalho
Este
trabalho, de certa maneira e em um certo sentido, é uma espécie
de continuação-conclusão de um outro que há
tempos escrevi, O Lado Oculto de Fernando Pessoa, publicado, pela
primeira vez, na revista Presença Filosófica, volume
XII, números 1 a 4, Jan/Dez de 1986, e, posteriormente, revisado,
atualizado e ampliado em 2004 para ser divulgado no Website Pax
Profundis, que pode ser lido no endereço abaixo:
http://paxprofundis.org/
livros/pessoa/ppppppp.htm
Como
introdução àquele texto citei Pessoa: Ter sempre
na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-mestre dos
Templários, e combater, sempre em toda a parte, os seus três
assassinos — a ignorância, o fanatismo e a tirania. (Hyram,
Filosofia Religiosa e Ciências Ocultas. Notas e posfácio
de Petrus. 1933, p. 107.)
Por
isto, penso que a vida de Pessoa tenha sido mais ou menos assim: mais do
que viver para criar, criou para viver, e, em paralelo, combater seus próprios
demônios e mostrar ao mundo como é possível a cada um
combater os seus. Tudo isto em um crescente conhecimento do oculto, que
Pessoa jamais negou. Se não afirmou esta competência com todos
os esses e erres, pelo menos, não a negou peremptoriamente. Apesar
de ter tergiversado muito, acho que, até, deixou isto claro demais
em diversas prosas e em diversos poemas (tanto ortonímicos quanto
heteronímicos), pois, é sabido e admitido que o ortônimo
foi profundamente influenciado, em vários momentos, por doutrinas
esotéricas como a Teosofia1 e por sociedades secretas
como, por exemplo, a Maçonaria, ainda que estas influências,
muitas vezes, tenham sido, para ele, acabrunhantes e conflitantes. Mas nem
por isto, tanto quanto o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung
(1875 – 1961), Pessoa fugiu do oculto ou o desdenhou. Pelo contrário:
foi um pesquisador pertinaz de tudo o que dizia respeito à Alquimia,
à Astrologia, ao Rosacrucianismo, ao Espiritismo, à KaBaLa,
à Maçonaria, à Magia etc. Entretanto, dentre todas
as doutrinas que conheceu, foi a Teosofia – pela particularidade de
abranger todas as ciências exatas, ocultas, filosóficas e religiões
em geral – que o entusiasmou definitivamente. Chegou, inclusive, a
traduzir para a língua portuguesa The Voice of the Silence
(A Voz do Silêncio) – um livro Místico-iniciático
baseado no Livro dos Preceitos de Ouro, que Helena Petrovna Blavatsky
(1831 - 1891) havia memorizado enquanto residiu em uma lamaseria tibetana.
Uma
das maiores crises existenciais pelas quais passou Fernando Pessoa foi quando
tomou conhecimento da existência da Doutrina Teosófica, materializada
para a Humanidade por Helena Petrovna Blavatsky, definitivamente, em sua
Doutrina Secreta, obra, segundo a própria autora, escrita
com a ajuda dos Mahatmas e com mais de 2.000 citações
com indicações precisas de páginas e de autores. Não
deixa de ser profundamente curioso e significativo que, em 1888, justamente
no ano em que nasceu Fernando Pessoa, Madame Blavatsky tenha apresentado
ao mundo sua monumental obra – The Secret Doctrine, the Synthesis
of Science, Religion, and Philosophy (A Doutrina Secreta, Síntese
da Ciência, Religião e Filosofia) – onde foi
formulada e oferecida ao mundo a Teosofia.
Seja
como for – qual é mesmo, afinal, a importância se foi
cru, cozido, refogado, assado ou frito? – Pessoa, há muito,
sentira coisas semelhantes àquelas que conheceu ao se inteirar da
Teosofia, ao ler, não por acaso, um livro inglês sob
o título Ritos e os Mistérios dos Rosa-Cruzes. Eis
o relato de Pessoa sobre as sensações que a Teosofia lhe causou:
A Teosofia apavora-me pelo seu mistério e pelas suas grandezas
ocultistas, repugna-me pelo seu humanitarismo e ‘apostolismo’...
essenciais; atrai-me por se parecer tanto com um ‘paganismo transcendental’
(é este o nome que eu dou ao modo de pensar a que havia chegado);
repugna-me por se parecer tanto com o Cristianismo [talvez, tenha querido
se referir ao Catolicismo], que não admito. É o horror
e a atração do abismo realizados no além-alma. Um pavor
metafísico! Seja assim ou de outra forma, que eu prefiro, o
fato é que, progressivamente, seus escritos foram se tornando cada
vez mais crípticos e mais herméticos. À citação
acima, será que poderia ser aplicada sua confissão: O
poeta é um fingidor? Ora bem, quem lê apenas as linhas
críptico-herméticas (do que é críptico-hermético)
do que Pessoa escreveu não lê absolutamente nada. Pensa ter
lido, e, realmente, apenas leu. Ou melhor: leu, sim, mas não entendeu
o que está deliberadamente encoberto pelo véu. Só é
possível – se possível for – entender Fernando
Pessoa lendo as entrelinhas, que o Poeta, em sua humildade/simplicidade,
escreveu tão-só como linhas! O pior, o grotesco ou o mais
[des]interessante é que muitas pessoas (sem calemburgo) têm
a mania de comentar o que não entendem, e, ao comentarem, particularmente
fragmentos pessoanos, tomam alhos por bugalhos e fado por rock-'n'-roll,
barafundeando coisas inteiramente dessemelhantes. Fazer o quê?
Fazer
o quê? Bem, penso que para acompanhar e tentar entender os poucos
fragmentos que selecionei para compor este último e definitivo texto
que escrevi sobre Fernando Pessoa (fragmentos que não serão
comentados para evitar qualquer tipo de influência ou de interferência),
no que aparentemente for incompreensível, só há um
jeito: fechar os olhos e deixar, in Corde, a Vox Dei falar.
Ainda que alguns fragmentos sejam razoavelmente fáceis de ser compreendidos,
pois o Poeta nem sempre hermetizou seu pensamento, outros são impossíveis
de ser compreendidos em qualquer nível de razão, seja dianóica,
seja noética. Por isto, repito: não desesperar, relaxar, fechar
os olhos e, in Corde, deixar a Vox Dei falar. Se você
permitir, transracionalmente Ela falará! Seja como for, penso que
valha muito a pena dar uma conferida nos fragmentos abaixo. São inspiradores;
e se não fizerem espuma agora, farão no futuro-eterno-presente.
Finalmente,
peço perdão pelas gralhas involuntárias de digitação
e por eventuais equívocos cometidos. Então, se gralhas e equívocos
houver (descontadas as poucas atualizações da língua
portuguesa que pratiquei), sei que Pessoa não ficará aborrecido.
Acho, até, que gostará deste estudo não-hermenêutico
de sua obra, mas revisitativo no essencial. Espero que você também
não se avesse. E que goste. Mas não se esqueça: desconcordar
é um privilégio de uma inteligência livre. E as poucas
animações que enfiei no meio dos excertos nada têm a
ver com Pessoa; são – se forem – apenas educativo/explicativas.