Tenho
ouvido e lido de tudo sobre essa matéria — a questão
das esmolas. Acho, realmente, muito difícil acertar na mosca
com uma proposta concertada se as pessoas devem ou não devem
dar esmolas. Mais adiante direi como eu procedo. Mas, o fato é
que uns dizem que dar esmolas incentiva o ócio. Outros dizem
que a responsabilidade pelas questões sociais é dos
governos. Há quem chegue mesmo a pensar que os sem-nada são
uma necessidade. Outros afirmam peremptoriamente que tudo é
uma questão de karma. Certas pessoas asseguram que
muitos pedintes estão muito bem de vida, mas continuam a esmolar
porque são uns safados. Há, por outro lado, quem não
dê esmolas porque ache que o esmolambado vai tomar tudo de cachaça
na primeira esquina. Outros, ainda, consideram que não têm
nada com isso. Pensam assim: Se eu trabalhei para conseguir as
coisas, porque eles não podem trabalhar também? Outros
tantos não dão esmolas, particularmente se forem crianças
os pedintes, porque entendem que são os pais que estão
mandando essas crianças esmolar. Há quem afirme que
muitos pais chegam ao absurdo de alugar seus filhos para esmolar para
os alugadores. Há, inclusive, alguns monstros que se descartam
dos filhos como se fossem trapos velhos, que, se viverem, muito provavelmente,
no mínimo, se tornarão mendigos. Outros molestam os
próprios filhos. Tudo é horrendamente possível.
Hoje, 18 de Dezembro de 2004, eu soube do caso de uma senhora que
cria amorosamente uma criança que achou em uma lata de lixo
quando ainda era bebê. Mas, (porra!) em uma lata de lixo? Bendita
senhora que eu não conheço. E, por aí vai. Mas,
há os que desconsiderando tudo isso – ou nem sequer fazendo
qualquer tipo de juízo de valor – dão esmolas!
O
primeiro parágrafo deste estudo, em grande medida, está
relacionado com aquilo que as pessoas geralmente negam que têm:
PRECONCEITO. O PRECONCEITO (qualquer
opinião ou sentimento, quer favorável quer desfavorável,
concebido sem exame crítico; idéia, opinião ou
sentimento desfavorável formado a priori, sem maior conhecimento,
ponderação ou razão; atitude, sentimento ou parecer
insensato, especialmente de natureza hostil, assumido em conseqüência
da generalização apressada de uma experiência
pessoal ou imposta pelo meio), às vezes, aparece embutido
em certas palavras que usamos para expressar nossa impercebida intolerância
associada ao nosso mesquinho preconceito. A Sociedade Feminina Brasileira
tem se queixado do tratamento machista existente na gramática
portuguesa — o eterno MACHISMO GRAMATICAL.
Os senso comum e os verbetes dos dicionários informam:
Cão:
melhor amigo do homem.
Cadela: puta.
Vagabundo:
homem que não trabalha; quem leva a vida no ócio; indolente;
vadio.
Vagabunda: puta.
Touro:
homem forte.
Vaca: puta.
Pistoleiro:
homem que mata pessoas; assassino de aluguel.
Pistoleira: puta.
Aventureiro:
homem que se arrisca; viajante; quem se compraz em aventuras.
Aventureira: puta.
Garoto
de rua: menino pobre que vive na rua.
Garota de rua: puta.
Homem
da vida: pessoa letrada pelo conhecimento adquirido ao longo da vida.
Mulher da vida: puta.
O
galinha: o 'bonzão' que traça todas.
A galinha: puta.
Tiozinho:
irmão mais novo do pai.
Tiazinha: puta.
Feiticeiro:
homem muito atraente e encantador.
Feiticeira: puta.
E
para finalizar....
Puto:
nervoso; irritado; bravo. (Em Portugal, menino, filho, criança.
Os putos da Mouraria).
Puta:
puta
Precisamos
refletir muito nas palavras que usamos, no sentido que queremos emprestar
a elas e no que elas possam representar como focos de desarmonia,
de ofensa e de preconceito. Careca, baixinho, gordo, narigudo, quibe,
pivete, bêbado, chincheiro, dumbo, peidão, galego, gringo,
viado, crioulo, polaco, piranha, cara de rei de baralho velho, entre
outras, são expressões que não deveríamos
usar. Apelidar pessoas com apelidos ofensivos é um ato de desamor
e de desrespeito. As pessoas podem dizer que não ligam, fingir
que não ligam, mas, no fundo no fundo, não gostam e,
em seus íntimos, sofrem com esses apelidos ofensivos. Por outro
lado, dar um apelido carinhoso para uma pessoa representa exatamente
o oposto a tudo isso. Eu, por exemplo, apelidei o WD que trabalha
comigo de Paulinho Chimarrão. Ele é gaúcho, adora
o Internacional e passa as tardes bebendo chimarrão e fazendo
xixi. Sei que ele gostou do novo apelido que ganhou. Agora, eu gostaria
de entender por que as pessoas se dirigem ou se referem aos homossexuais
chamando-os de viados ou às prostitutas de cadelas ou de vacas?
Eu — que quase me casei com uma linda prostituta — acho
isso um absurdo. Essas coisas também não deixam de ser
esmolas. Mas, às avessas! Portanto, esmolas de merda. Somos
todos um. Convite: visite.
Eu
não tenho a menor dúvida de que a miséria do
mundo é decorrente dos sistemas econômicos instalados
e auto-sustentados na base de tudo que possa, minimamente, ser classificado
como perverso, usurpador e não-fraterno. A globalização
como hoje está desenhada e implementada é pura e simplesmente
medonha. Ela se assemelha, mais ou menos, a uma grande tubulação-bomba-de-sucção,
por onde são chuchados os tudo e mais as personalidades-alma
da Humanidade. (Esta última frase está pessimamente
construída, mas a idéia é rigorosamente correta).
João Paulo Câmara Chaves — mais técnico
e mais elegante do que eu — afirma: Tudo foi feito para
que o Capital agisse livremente no Planeta, estabelecendo-se um globototalitarismo,
dando condições para que a grande burguesia internacional
reinasse absoluta, através da opinião única e
da padronização da linguagem. Concordo e apaludo
esta reflexão. E gosto muito de quem escreve coisas como essa
aí.
E
os mercados comuns e as áreas de livre comércio não
são nada mais nada menos do que instrumentos dessa medonha
globalização, projetados para defender os interesses
de grupos estanques de países. Às
vezes mais de uns países do que de outros. Por que a Argentina
não consegue se acertar com o Brasil? Alguém anda querendo
papar alguém nessa história.
Já
afirmei em outros textos que o laissez faire, laissez passer (palavra
de ordem do Liberalismo econômico, cunhada no século
XVIII pelos fisiocratas franceses, proclamando a mais absoluta liberdade
de produção e comercialização de mercadorias)
não foi abolido. Hoje, amparada em lei, leva o nome de livre
concorrência. É mais simpático e mais fácil
de deglutir, mas, em todos os sentidos, muito mais laissez
e muito mais passer do que há dois séculos.
Então, de novo, não posso deixar de acompanhar o pensamento
de João Paulo Câmara Chaves, já citado, quando
afirma: O Neoliberalismo passou a impor a sua lógica sobre
o mundo do trabalho, flexibilizando a legislação
e reduzindo os benefícios conquistados pela classe trabalhadora,
como é o caso da previdência, em escala mundial. O espetáculo
do desenvolvimento tecnológico e científico tomou conta
do mundo, porém o homem ficou longe desse processo, pois todo
esse 'show' serviu como um grande instrumento para a burguesia aumentar
a mais-valia, reduzindo o número de postos de
trabalho e aumentando a carga de trabalho dos trabalhadores que permaneceram
no mercado. (Grifos meus). Mas, não é exatamente
isso? Lumpemproletariado? Lumpemproletário? Lúmpen?
Artérias sangrando sem parar, isto sim.
Eu
não posso deixar de comentar aqui o fato de que conheço
uma alta personalidade que, recentemente, simplesmente disse: Vivo
24 horas pensando em como ganhar dinheiro, e hoje, só atendo
pessoas que possam me trazer algum tipo de vantagem. Esta personalidade
carrega em seu bolso um terço e nunca se afasta dele! Quando
ouvi esses comentários sabem o que eu disse? Nada. Um professor
de Química e amigo comum que estava presente, elegantemente,
desceu o porrete. Quando ele terminou de verbalmente surrar esta alta
personalidade, sabem o que ela disse? Nada. Eu, como tinha ouvido
calado a babaquice, calado fiquei depois de concluídos os argumentos
contra-babaquice expostos pelo professor amigo meu. Em casos patologicamente
crônicos como esse, falar não adianta nada, e só
faz produzir um clima vibratório demoníaco. É
melhor tentar orientar o babaca sussurrando em silêncio. Mentalmente.
Faz mais efeito. Aliás, apenas de passagem, comento que muito
mais efetiva e nobre, por assim dizer, é a projeção
mental em relação à projeção astral.
O
que são, geralmente, por exemplo, as Constituições
dos Estados? Simplesmente, no que concerne à estrutura e manutenção
do poder, princípios estabelecidos pelo próprio poder
para amparar e resguardar especificidades que só interessam
a esse mesmo super-fedorento poder. Os ditos grupos sempre
estão alertas para manter, aprimorar e ampliar o que foi conquistado.
Seus próceres não brincam em serviço e dormem
todos com um olho sempre aberto. Como eles conseguem é um mistério
para mim.
Observem o que está contemplado no Artigo 170 da Carta Magna
Brasileira:
Constituição
Federal
Art.
170. A ordem econômica, fundada na valorização
do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
III
- função social da propriedade;
IV
- livre concorrência;
V
- defesa do consumidor...
Mesmo
que a lei reprima o abuso do poder econômico que vise à
dominação dos mercados, à eliminação
da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros, conforme
está disposto no Art. 173, § 4º, desta mesma Carta
Magna, a livre concorrência nunca foi, não é e
jamais será livre, e mesmo que fosse ou que venha a ser é
absurda na origem, porque, como Princípio Universal para lá
de evidente, o que a Natureza e o Cósmico 'dão de
graça', não legitima, ainda que amparado em lei,
a compra e a venda do que quer que seja com objetivo de lucrar. Aliás,
o comprar e o vender são mesmo absurdos em si. Então,
o que são e o que pretendem as megas fusões? Não
vou nem comentar aprofundadamente isso para não perder tempo.
Apenas vou lembrar que a meta é sempre a mesma: diminuir e/ou
inibir ao máximo possível a concorrência que outras
empresas possam oferecer e, particularmente, anular a concorrência
que uma empresa, antes da fusão, representava para a outra.
Fundidas não concorrem entre si e podem enfrentar melhor os
outros segmentos do mercado. Só isso e mais nada. O povo? A
sociedade? Ora, o povo e a sociedade que explodam. Mas, antes de explodirem,
que comprem nossos produtos. O fato irrecorrível e irredutível
é que se alguém ganha — lucra — necessariamente
alguém terá que perder. Terei enlouquecido de vez com
esta linha de pensamento?
Se
isto que estou elucubrando é verdade e não uma loucura,
então o Artigo 20, inciso I da Lei Antitruste — limitar,
falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência
ou a livre iniciativa — é também um equívoco.
A livre concorrência e a livre iniciativa pode. Mas, não
pode livre concorrer e livre iniciativar demais. Ora, o que
é demais? E, o que é de menos? Demais é quando
você suga até matar o outro. De menos é quando
você suga o outro, mas o mantém vivo para continuar a
ser sugado. Transfundir homeopaticamente, eis o segredo das trevas.
O interesse privado, tendo como objetivo o lucro e o domínio
do mercado, em contraposição às necessidades
do coletivo, será sempre perverso, não-fraterno e cósmica
e maiormente ilegítimo. A própria Lei 8.884/94 em seu
Artigo 29 apenas doura a pílula: Os prejudicados, por si
ou seus legitimados do artigo 82 da Lei 8.078, de 11 de Setembro de
l990, poderão ingressar em juízo, para, em defesa de
seus interesses individuais ou individuais homogêneos, obter
a cessação de práticas que constituam infração
da ordem econômica, bem como o recebimento de indenização
por perdas e danos sofridos, independentemente do processo administrativo,
que não será suspenso em virtude do ajuizamento de ação.
Em um lampejo, me fiz a seguinte pergunta: Não são
os próprios governos que cometem as maiores e as piores infrações
da ordem econômica, dando o exemplo e a deixa para que a sociedade
faça a mesma coisa ou pior? Quebrar a cláusula pétria
do direito adquirido é o mais insignificante dos exemplos.
Depois, desrespeitar a coisa julgada e o ato jurídico perfeito
é uma moleza molíssima.
Ainda que eu não concorde com a primeira parte da afirmação
abaixo, eu a reproduzi em destaque, porque a segunda parte contém
algo de verdadeiro, e servirá para podermos refletir sobre
os nossos próprios egoísmos, equívocos e transigências.
|
De
repente me dei conta de que estava viajando e me desviando do tema
central deste ensaio: a questão das esmolas. Mas, o que tudo
isso tem a ver com as esmolas? Tudo. Então, não viajei
coisa alguma. Quando apoiamos políticos que prometem defender
nossos interesses pessoais (por exemplo, função social
da propriedade, livre concorrência e defesa do consumidor),
estamos esquecendo dos miseráveis do mundo que não possuem
nada, que não são concorrentes a nada e que não
têm nada para defender. Muitos não têm sequer um
simples banquinho para colocar suas melequinhas em baixo. Consumir
por consumir é fundamentalmente e egolatricamente esquecer
da miséria do mundo. É, em muitos casos, uma patologia?
É. Mas, se torna progressivamente uma patologia crônica
porque não nos damos conta da miséria mundial. Muitos
de nós pensamos assim: Tenho dinheiro. Eu o ganhei honestamente.
Vou comprar. E esquecemos a miséria do mundo. Quando achamos
lícita e sadia a livre concorrência, estamos esquecendo
da miséria do mundo. Quando acrescentamos mais um objeto de
desejo à nossa coleção, estamos esquecendo da
miséria do mundo. Quando compramos um anel de brilhantes, não
sabemos (porque nunca nos preocupamos com isso) que uma parte dos
diamantes que circulam pelo mundo é oriunda do Zaire, catados
sem parar por crianças escravizadas para satisfazer a insânia
dos poderosos e dos sovinas e a maluquice dos nossos desejos ilusórios.
As holdings internacionais adoram as pedrinhas e estão
se lixando para as crianças, que acabam morrendo inanes ou
de AIDS. Acham até os compradores comuns uns grandes imbecis,
mas necessários para manter a máquina funcionando. Querem
pedras? Temos zilhões para dar (vender, ora!) a eles.
Nós também, como regra, não damos a mínima,
e acabamos nem sequer nos lembrando da miséria do mundo. Nem
queremos saber a procedência das pedrinhas. Na verdade, não
queremos saber a procedência de nada. É barato? Está
em conta? Eu compro. E esquecemos sempre da miséria do
mundo. Levar vantagem tornou-se uma obsessão. Obsessão
desarrazoada, mas uma obsessão.
Quando vamos a um restaurante e gastamos R$ 100,00 (ou mais) em um
almoço regado a vinho, estamos esquecendo da miséria
do mundo. Não é por nada, não, mas eu adoro tomar
uma sopinha de entulho (em pé) em um restaurante que fede a
mijo na Estação Leopoldina. Sempre de madrugada, porque
a noite é sempre a noite. Vira e mexe dou um pulinho lá.
Sempre gostei das coisas simples. Do cheiro de mijo em restaurante
não gosto, mas, que fazer? Aquilo está longe de ser
um restaurante. É um boteco xexelento no qual se reúnem
motoristas de táxi e de ônibus para fazer uma boquinha.
Outro dia, ao vir de Niterói da residência de um Irmão
Querido, parei nesse mata-fome e tomei uma das melhores sopas de entulho
de minha vida. Eu estava muito contente, porque, entre outras coisas,
havia conhecido um gambá pequenininho e um papagaio que faz
ôôôôôôôôôôôôôôô...
A sopa estava meio fria, mas estava saborosa. E é sempre a
mesma inana: o dono trouxe (e trará até morrer ou se
aposentar) a sopa com metade do dedo polegar direito dentro do repasto,
que eu havia solicitado que viesse sem carne. Depois, disfarçadamente,
chupou o dedão. Eu fingi que não vi (como de hábito)
e tomei a sopa toda acompanhada de um ovo cozido e de um pão
francês (que é fabricado no Brasil) cortadinho. O pão
estava borrachento, mas o enfiei pra dentro com muito gosto. Ainda
bem que o dono do tira-gosto não tinha um panariço no
dedão. Já pensaram?
Quando
compramos, sem necessidade, um celular de R$ 1000,00 que só
falta falar, estamos esquecendo da miséria do mundo.
|
Quando
enxotamos um pivete ou um sem-nada, esquecemos de que esses seres
humanos são nossos irmãos. Enfim, quando esquecemos
de ser solidários (e os exemplos são milhares) estamos
contribuindo para que tudo piore. E estamos incluídos nesse
tudo piore. Ou aprendemos que, enquanto houver
um único ser humano faminto, sedento, doente e desprovido,
seremos e estaremos todos famintos, sedentos, doentes e desprovidos,
ou continuaremos a ser cúmplices (por omissão ou em
comissão) da sacanagem mundial globototalizatória. Contudo,
temos o privilégio de escolher onde queremos amarrar nosso
burro! O que é certo é que a abundância de uns
poucos é a miséria de bilhões. A cumplicidade
de milhões é a desgraça de bilhões. Por
tudo isso (e mais um pouco), no Rio de Janeiro, por exemplo, as favelas
não desceram para o asfalto simplesmente porque desceram. Desceram
porque não tinham mais para onde subir. Somos todos responsáveis.
E não adianta chiar, bradar iradamente, vociferar ou esbravejar.
São todos sinônimos decorrentes de nosso esquecimento
da miséria do mundo. O próprio tráfico, somos
nós que estimulamos. Quem compra uma dolinha ou um papelote,
está alimentando esse mercado — que interessa prioritariamente
aos barões do tráfico internacional — e contribuindo
para que aumente e se alastre a miséria do mundo. Recentemente,
um jornal brasileiro de circulação nacional deu como
manchete de primeira página: Tráfico começa
a vender crack nas favelas do Rio. As estatísticas têm
demonstrado que o número de dependentes dessa perigosíssima
droga tem aumentado. Segundo o Conselho Estadual Antidrogas –
CEAD, neste ano, até 19 de Dezembro de 2004, foram atendidas
126 pessoas que usaram crack. Por outro lado, há grupos
interessadíssimos em que, por exemplo, os Estados Unidos se
afundem cada vez mais nas drogas. É preciso explicar?
Não
sei se é verdade, mas dizem que o Governador Carlos Lacerda
previu com precisão o êxodo descensional da favela em
direção ao asfalto. Isso aconteceu há mais de
quarenta anos. Se for verídica a informação,
ele acertou em cheio. O que eu não sei (e acho que ninguém
sabe) é se a previsão foi feita antes ou depois de Lacerda
ter ganho um espelho mágico de uma 'senhora', que
recebida em audiência no Palácio, depois de elogiar a
atuação de Lacerda à frente do Executivo Carioca,
deu-lhe de presente um espelho falante que ela mesma 'fabricara'
especialmente para ele, em conformidade com certas regras secretas
que ela aprendera na Terra do Nunca com o avô materno do Peter
Pan. Lacerda, entre incrédulo e assombrado, recebeu o presente
com um certo temor, balbuciou educadamente um muito obrigado e, mais
tarde, à noite, sem perder um segundo, trancou-se em seus aposentos,
e pendurou o espelho na parede. Depois de consultar o espelho mágico
por mais de 5 longas horas sobre diversas questões da política
local e nacional, acabou não resistindo e, no final, questionou
o valioso objeto de superfície extremamente polida e brilhante,
que incrivelmente, com absoluta convicção, falava como
gente grande:
—
Espelho, espelho meu, há neste Brasil Governador mais bonito
do que eu?
Na
bucha
o espelho respondeu: — Ora Carlos, que papel, você
esqueceu do Rafael?
Conta
a lenda que Lacerda ficou irritadíssimo com a resposta e, na
manhã seguinte, deu o espelho mágico de presente. Afinal,
Rafael não era Governador, era apenas Vice. Jogava sinuca melhor
do que ele, mas era Vice. O espelho só poderia estar brincando,
pensou Lacerda. A História Universal não registra que
qualquer Vice tenha sido mais bonito do que o Titular. Os Doze Césares
não lhe saíram da cabeça por dias. Foram torturantes
aqueles dias. Não há registros, entretanto, de quem
recebeu esse espelho, nem onde ele se encontra hoje. Nem a Sandra
Cavalcante sabe onde foi parar o tal espelho. Eu também nem
desconfio. Nem quero saber. Eu se tivesse um espelho desses ficaria
maluco em menos de meia hora. Ou mais maluco do que já sou!
Esse mistério nem o SNI conseguiu solucionar. O Golbery do
Couto e Silva se esforçou muito para encontrar a preciosa peça,
mas acabou desistindo. Na época, ficou muito sentido por ter
que digerir esta derrota, e caiu de cama por uma semana. Os médicos,
como sempre, disseram que era uma virose. Rafael de Almeida Magalhães,
quando soube da história, adorou e morreu de rir. Tancredo
Neves e Antonio Carlos Magalhães nunca comentaram o assunto.
Quando alguém perguntava alguma coisa, eles desconversavam.
Tancredo chegava a morder a gravata nervosamente. ACM continua desconversando
até hoje. — Espelho mágico? Isso só
pode ser intriga dos meus inimigos. Nunca vi esse espelho nem conheço
ninguém que o tenha visto. Por que vocês não perguntam
isso pro Arruda? Ou pro Jader? — responde sempre ACM.
Isso é o que comentam na Bahia e em Brasília. Outros
dizem que os Anões do Orçamento chegaram a contratar
os serviços do detetive carioca Bechara Jalkh para descobrir
o paradeiro do espelho mágico, mas nem ele obteve sucesso.
Comenta-se, à boca pequena, ainda, que, de uma feita, o Presidente
Figueiredo – emburradíssimo com uma providência
adotada pelo Aureliano Chaves – teve uma crise nervosa cavalar
e teria dito: — Se eu pego essa velha que fez esse espelho,
eu prendo e arrebento essa bruxa! Foi preciso um telefonema do
ex-presidente Ernesto Geisel para ele se acalmar. Na verdade, dizem
que o Geisel ordenou ao Figueiredo: — Ou você esquece
essa velha fabricante de espelhos que falam o que não deveriam
falar, ou ponho você pra andar à cavalo três horas
seguidas de meio-dia às três da tarde. Figueiredo,
preocupadíssimo com sua coluna vertebral que já não
andava lá muito boa, só disse duas palavras e sossegou:
— Sim, Chefe. Mas, a mania de prender e arrebentar
ele manteve durante todo o seu reinado, digo, toda a sua presidência.
Armando Falcão só repetia: — Nada a comentar.
Delfim Netto ficava nervosíssimo quando alguém tocava
nesse assunto, e começava a comer um chocolate atrás
do outro. Hoje, quando esse assunto é ventilado, Delfim, mais
sereno, responde: — A Economia não precisa de espelhos
falantes. Isso é um ultraje à minha inteligência.
O Doutor Ulisses Guimarães comentou uma vez com o Renato Archer:
— Eu não sou rampeiro Renato, mas daria tudo para
pôr a mão nesse espelho mágico. Será
que... Bem, sei lá. O Brasil tem dessas coisas. Até
parece Maracutzil. O fato é que esse espelho nunca foi encontrado.
Talvez a CIA ou o FBI saibam. Papai Bush nunca comentava esse assunto.
Quando um assessor murmurava alguma coisa, corria para o Salão
Oval e telefonava para o Reagan. O que eles conversavam não
se sabe até hoje. As fitas ainda não foram liberadas.
A antiga KGB eu acho que sabia, mas sempre ficou na moita. Dizem em
Moscou que se algum membro do Politburo (o Political Bureau russo)
falasse em espelho – qualquer espelho, mesmo daqueles pequenininhos
que as senhoras carregam em suas bolsas – perto do Boris Yeltsin,
ele tomava sem pestanejar uma garrafa de vodka pelo gargalo
de uma vez só. Como ele podia tomar uma garrafa de vodka
sem pestanejar eu nunca pude compreender. Depois dormia três
dias sem parar roncando como uma mula. Há informações
seguríssimas de que quase foi expurgado por causa disso. Vladimir
Putin já estava de olho no poder. Antes dele, Gorby desmaiou
na Praça Vermelha quando uma senhora moscovita de 96 anos lhe
pediu um espelho emprestado para arrancar umas barbinhas que estavam
brotando em seu rosto. Foi um caos nacional. Chegaram a botar os tanques
na rua. O que nós ficamos sabendo aqui no ocidente é
que foram exercícios de rotina. Foi isso que o Pradva noticiou.
Eu, como conhecia a história, juntei os pauzinhos e não
acreditei na notícia. E Leonid Brejnev rosnava se algum infeliz
se atrevesse a tocar nesse assunto. — Mando você prrro
Sibérrria — dizia furibundo. Acho que esse espelho
que fala é uma ameaça internacional. Já pensou
esse espelho nas mãos do... É melhor que continue mudo
e não apareça jamais.
|
Tudo
o que foi refletido até esta linha conduz à questão-título
deste estudo: Esmolas. Pensamos, na maioria das vezes, que oferecer
um óbolo a quem quer que seja deva ser sempre
algo em dinheiro ou uma coisa material. Não é assim.
Sempre que somos solidários, estamos dando algo de nós.
Sempre que damos uma força a alguém, estamos dando algo
de nós. Sempre que nos interessamos por um problema ou uma
dificuldade de outra pessoa e emprestamos nossa ajuda, estamos dando
algo de nós. Sempre que emitimos, em silêncio, um bom
pensamento, estamos dando algo de nós. Sempre, enfim, que permitimos
que nosso Deus Interior interaja com outros seres, estamos dando algo
de nós.
No
dia 18 de Dezembro de 2004 participei da penúltima aula de
um curso de Web Design, no qual estou matriculado. Quando as aulas
terminam, lá pelas 17:30 horas, sempre dou carona a um rapaz
até a Central do Brasil, pois ele mora em não sei onde
e precisa ir de trem. Esse rapaz, que deve ter uns 25 anos, é
Testemunha de Jeová. É simpático, boa-pinta,
mas muito tímido e contraído. Neste sábado, quase
chegando ao lugar em que costumo desembarcá-lo, comentei: —
Preciso
lhe dizer algo. Não vou comentar o que vou dizer, mas penso
que você deveria refletir um pouco no pensamento que enunciarei.
Se você quiser, comentaremos o assunto no dia 8 de Janeiro,
quando teremos nossa última aula de WD. Então ouça:
Nenhum de nós, religiosos ou não, encontrará
Deus fora. Só dentro. No Coração. Você
está vendo todas essas pessoas na rua? Pois é.
Potencialmente, todas
têm Deus em seus Corações. O que precisamos fazer,
é lenta e diariamente construir esse Deus –
transformá-Lo
de potência em ato –
para que um
dia Ele possa se expressar livremente. Nessa trajetória, acabaremos
todos percebendo que Deus jamais poderá ser encontrado nos
templos ou nas igrejas. Não há religião neste
Planeta que possa operar o milagre de construir esse Deus por nós.
Só nós poderemos fazê-lo. Por isso, somos todos
irmãos. Ele
ficou me olhando, e disse: — Vou
pensar no assunto. Esmolar
é também provocar no outro a possibilidade de uma reflexão.
Mas, nunca se deve fazer afirmações tendenciosas. Desagradar
ou prejudicar a harmonia alheia é uma atitude muito grave.
Arrotar sapiência (de merda) é um horror. Já,
estimular uma reflexão no outro é um ato de amor. É
um dos maiores óbolos que podemos ofertar a alguém.
Sob
outro aspecto, podemos esmolar em dinheiro. Um real, dois reais ou
mais. Cada um dará o que pode ou o que acha que deve dar. Dividir
não é errado nem antiético. O que é antiético
e não podemos jamais fazer, em nenhuma circunstância,
é pensar que estamos emprestando a Deus quando damos uma esmola.
Isso é ridículo e absurdo. E passa a não ter
qualquer valor. Na verdade, vale menos alguma coisa (– alguma
coisa). O valor presuntivo da presuntiva boa ação se
desfaz como uma bolinha de fumaça.
Eu,
conforme afirmei na quinta linha deste ensaio, direi agora como procedo,
quando, por exemplo, dou uma esmola material. Primeiro: sempre converso
com o necessitado. Tudo
bem? Está estudando? Você só vai conseguir vencer
na vida se estudar. Não desista nunca. Eu fui filho de lavadeira
e venci. Fique com Deus. Et cetera.
Segundo: Emito um pensamento construtivo para o despossuído.
Terceiro: Imediatamente procuro me esquecer do acontecido. Com a prática
que adquiri, esta terceira fase demora menos do que três segundos.
No limite, até o sentimento de alegria em poder ter praticado
uma presumível boa ação se perde com o regozijo
interno. Quando passarmos para o 'lado de lá', haveremos
de ter que dissolver até essas coisas. Equivocam-se aqueles
que pensam que apenas as ditas 'coisas ruins' deverão
ser transmutadas. Sei que isso é difícil de ser compreendido,
mas é assim que as coisas sucederão. Paixões,
desejos, cobiças e emoções são uma só
e a mesma coisa.
Conclusão:
Quando praticamos um ato de solidariedade, não podemos meter
Deus no meio desse gesto. Não podemos imaginar que um empréstimo
esteja sendo feito a Deus. Ou a um Santo, a um Avatar ou a um Mestre
Ascencionado, se for o caso. Não podemos admitir que Deus (ou
Alguém) esteja nos observando e tomando nota de nossas pressupostas
boas ações, para nos recompensar alhures nesta vida
ou em outra. Não existe nem alhures nem algures. Temos que
nos acostumar com o nenhures, que é um imperativo categórico.
Conclusivamente, não podemos massagear nosso Ego com nossas
presumidas boas ações, pois, se assim o fizermos, de
nada valerão os presumidos bons atos que praticarmos. Definitivamente,
acredito que uma das melhores e maiores esmolas que podemos dar a
alguém é transmitir sempre um pouco de alegria e de
bom humor. A alegria pode curar qualquer doença e rir é
um dos melhores remédios. O que não podemos é
ficar rindo o dia inteiro. Não somos hienas para ficar gargalhando
e regougando à-toa. Mas, a falta de senso de humor é,
em certo sentido, uma patologia. Acho, então, que ficou claro
porque contei a história verídica do mata-fome que fede
a mijo (porque os motoristas de ônibus e os taxistas mijam sem
piedade em volta do restaubuteco à toda hora), e a estória
fictícia do espelho mágico. A premonição
de Lacerda, contudo, parece que aconteceu mesmo. Relendo a estória
do espelho falante eu quase me mijei de rir. Só me esqueci
de comentar o conteúdo do discurso que o Sarney fez no Senado
sobre esse assunto. Quase foi declarado Estado de Emergência
Nacional. Só eu mesmo!
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Oscarito
e Ankito
(Aponte o mouse para a fotografia do Grande Oscarito)
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Grande
Otelo |
Carmen
Miranda |
Carequinha |
SITES
CONSULTADOS
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