EM TORNO DA QUESTÃO DAS ESMOLAS

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

Música de fundo: Pobre Menina - Leno e Lilian
Fonte:
http://www.conselhonet.com.br/voice/alpha/l.asp

 

 

 

 

E muitos de nós ainda temos o descaramento de reclamar da vida!!! Mas, não temos uma cama para dormir??? Como será que dorme essa criança da foto??? Estará esta criança ainda viva??? Quem se importa com esta criança???

 

O  fato  irrecorrível  e  irredutível  é  que  se  alguém  ganha  —  LUCRA  —  necessariamente  alguém  terá  que  perder.

 

Tenho ouvido e lido de tudo sobre essa matéria — a questão das esmolas. Acho, realmente, muito difícil acertar na mosca com uma proposta concertada se as pessoas devem ou não devem dar esmolas. Mais adiante direi como eu procedo. Mas, o fato é que uns dizem que dar esmolas incentiva o ócio. Outros dizem que a responsabilidade pelas questões sociais é dos governos. Há quem chegue mesmo a pensar que os sem-nada são uma necessidade. Outros afirmam peremptoriamente que tudo é uma questão de karma. Certas pessoas asseguram que muitos pedintes estão muito bem de vida, mas continuam a esmolar porque são uns safados. Há, por outro lado, quem não dê esmolas porque ache que o esmolambado vai tomar tudo de cachaça na primeira esquina. Outros, ainda, consideram que não têm nada com isso. Pensam assim: Se eu trabalhei para conseguir as coisas, porque eles não podem trabalhar também? Outros tantos não dão esmolas, particularmente se forem crianças os pedintes, porque entendem que são os pais que estão mandando essas crianças esmolar. Há quem afirme que muitos pais chegam ao absurdo de alugar seus filhos para esmolar para os alugadores. Há, inclusive, alguns monstros que se descartam dos filhos como se fossem trapos velhos, que, se viverem, muito provavelmente, no mínimo, se tornarão mendigos. Outros molestam os próprios filhos. Tudo é horrendamente possível. Hoje, 18 de Dezembro de 2004, eu soube do caso de uma senhora que cria amorosamente uma criança que achou em uma lata de lixo quando ainda era bebê. Mas, (porra!) em uma lata de lixo? Bendita senhora que eu não conheço. E, por aí vai. Mas, há os que desconsiderando tudo isso – ou nem sequer fazendo qualquer tipo de juízo de valor – dão esmolas!

 

 

O primeiro parágrafo deste estudo, em grande medida, está relacionado com aquilo que as pessoas geralmente negam que têm: PRECONCEITO. O PRECONCEITO (qualquer opinião ou sentimento, quer favorável quer desfavorável, concebido sem exame crítico; idéia, opinião ou sentimento desfavorável formado a priori, sem maior conhecimento, ponderação ou razão; atitude, sentimento ou parecer insensato, especialmente de natureza hostil, assumido em conseqüência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio), às vezes, aparece embutido em certas palavras que usamos para expressar nossa impercebida intolerância associada ao nosso mesquinho preconceito. A Sociedade Feminina Brasileira tem se queixado do tratamento machista existente na gramática portuguesa — o eterno MACHISMO GRAMATICAL. Os senso comum e os verbetes dos dicionários informam:

Cão: melhor amigo do homem.
Cadela: puta.

Vagabundo: homem que não trabalha; quem leva a vida no ócio; indolente; vadio.
Vagabunda: puta.

Touro: homem forte.
Vaca: puta.

Pistoleiro: homem que mata pessoas; assassino de aluguel.
Pistoleira: puta.

Aventureiro: homem que se arrisca; viajante; quem se compraz em aventuras.
Aventureira: puta.

Garoto de rua: menino pobre que vive na rua.
Garota de rua: puta.

Homem da vida: pessoa letrada pelo conhecimento adquirido ao longo da vida.
Mulher da vida: puta.

O galinha: o 'bonzão' que traça todas.
A galinha: puta.

Tiozinho: irmão mais novo do pai.
Tiazinha: puta.

Feiticeiro: homem muito atraente e encantador.
Feiticeira: puta.

E para finalizar....

Puto: nervoso; irritado; bravo. (Em Portugal, menino, filho, criança. Os putos da Mouraria).
Puta: puta

Precisamos refletir muito nas palavras que usamos, no sentido que queremos emprestar a elas e no que elas possam representar como focos de desarmonia, de ofensa e de preconceito. Careca, baixinho, gordo, narigudo, quibe, pivete, bêbado, chincheiro, dumbo, peidão, galego, gringo, viado, crioulo, polaco, piranha, cara de rei de baralho velho, entre outras, são expressões que não deveríamos usar. Apelidar pessoas com apelidos ofensivos é um ato de desamor e de desrespeito. As pessoas podem dizer que não ligam, fingir que não ligam, mas, no fundo no fundo, não gostam e, em seus íntimos, sofrem com esses apelidos ofensivos. Por outro lado, dar um apelido carinhoso para uma pessoa representa exatamente o oposto a tudo isso. Eu, por exemplo, apelidei o WD que trabalha comigo de Paulinho Chimarrão. Ele é gaúcho, adora o Internacional e passa as tardes bebendo chimarrão e fazendo xixi. Sei que ele gostou do novo apelido que ganhou. Agora, eu gostaria de entender por que as pessoas se dirigem ou se referem aos homossexuais chamando-os de viados ou às prostitutas de cadelas ou de vacas? Eu — que quase me casei com uma linda prostituta — acho isso um absurdo. Essas coisas também não deixam de ser esmolas. Mas, às avessas! Portanto, esmolas de merda. Somos todos um. Convite: visite.

 

 

 

 

 

 

Eu não tenho a menor dúvida de que a miséria do mundo é decorrente dos sistemas econômicos instalados e auto-sustentados na base de tudo que possa, minimamente, ser classificado como perverso, usurpador e não-fraterno. A globalização como hoje está desenhada e implementada é pura e simplesmente medonha. Ela se assemelha, mais ou menos, a uma grande tubulação-bomba-de-sucção, por onde são chuchados os tudo e mais as personalidades-alma da Humanidade. (Esta última frase está pessimamente construída, mas a idéia é rigorosamente correta). João Paulo Câmara Chaves — mais técnico e mais elegante do que eu — afirma: Tudo foi feito para que o Capital agisse livremente no Planeta, estabelecendo-se um globototalitarismo, dando condições para que a grande burguesia internacional reinasse absoluta, através da opinião única e da padronização da linguagem. Concordo e apaludo esta reflexão. E gosto muito de quem escreve coisas como essa aí.

 

MONSTRENGO  NEOLIBERAL  COM  UM  MARTELO  EM UMA  DAS  MÃOS

 

E os mercados comuns e as áreas de livre comércio não são nada mais nada menos do que instrumentos dessa medonha globalização, projetados para defender os interesses de grupos estanques de países. Às vezes mais de uns países do que de outros. Por que a Argentina não consegue se acertar com o Brasil? Alguém anda querendo papar alguém nessa história.

Já afirmei em outros textos que o laissez faire, laissez passer (palavra de ordem do Liberalismo econômico, cunhada no século XVIII pelos fisiocratas franceses, proclamando a mais absoluta liberdade de produção e comercialização de mercadorias) não foi abolido. Hoje, amparada em lei, leva o nome de livre concorrência. É mais simpático e mais fácil de deglutir, mas, em todos os sentidos, muito mais laissez e muito mais passer do que há dois séculos. Então, de novo, não posso deixar de acompanhar o pensamento de João Paulo Câmara Chaves, já citado, quando afirma: O Neoliberalismo passou a impor a sua lógica sobre o mundo do trabalho, flexibilizando a legislação e reduzindo os benefícios conquistados pela classe trabalhadora, como é o caso da previdência, em escala mundial. O espetáculo do desenvolvimento tecnológico e científico tomou conta do mundo, porém o homem ficou longe desse processo, pois todo esse 'show' serviu como um grande instrumento para a burguesia aumentar a mais-valia, reduzindo o número de postos de trabalho e aumentando a carga de trabalho dos trabalhadores que permaneceram no mercado. (Grifos meus). Mas, não é exatamente isso? Lumpemproletariado? Lumpemproletário? Lúmpen? Artérias sangrando sem parar, isto sim.

 

 

Eu não posso deixar de comentar aqui o fato de que conheço uma alta personalidade que, recentemente, simplesmente disse: Vivo 24 horas pensando em como ganhar dinheiro, e hoje, só atendo pessoas que possam me trazer algum tipo de vantagem. Esta personalidade carrega em seu bolso um terço e nunca se afasta dele! Quando ouvi esses comentários sabem o que eu disse? Nada. Um professor de Química e amigo comum que estava presente, elegantemente, desceu o porrete. Quando ele terminou de verbalmente surrar esta alta personalidade, sabem o que ela disse? Nada. Eu, como tinha ouvido calado a babaquice, calado fiquei depois de concluídos os argumentos contra-babaquice expostos pelo professor amigo meu. Em casos patologicamente crônicos como esse, falar não adianta nada, e só faz produzir um clima vibratório demoníaco. É melhor tentar orientar o babaca sussurrando em silêncio. Mentalmente. Faz mais efeito. Aliás, apenas de passagem, comento que muito mais efetiva e nobre, por assim dizer, é a projeção mental em relação à projeção astral.

 

 

O que são, geralmente, por exemplo, as Constituições dos Estados? Simplesmente, no que concerne à estrutura e manutenção do poder, princípios estabelecidos pelo próprio poder para amparar e resguardar especificidades que só interessam a esse mesmo super-fedorento poder. Os ditos grupos sempre estão alertas para manter, aprimorar e ampliar o que foi conquistado. Seus próceres não brincam em serviço e dormem todos com um olho sempre aberto. Como eles conseguem é um mistério para mim.

Observem o que está contemplado no Artigo 170 da Carta Magna Brasileira:

Constituição Federal

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

III - função social da propriedade;

IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor...

Mesmo que a lei reprima o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros, conforme está disposto no Art. 173, § 4º, desta mesma Carta Magna, a livre concorrência nunca foi, não é e jamais será livre, e mesmo que fosse ou que venha a ser é absurda na origem, porque, como Princípio Universal para lá de evidente, o que a Natureza e o Cósmico 'dão de graça', não legitima, ainda que amparado em lei, a compra e a venda do que quer que seja com objetivo de lucrar. Aliás, o comprar e o vender são mesmo absurdos em si. Então, o que são e o que pretendem as megas fusões? Não vou nem comentar aprofundadamente isso para não perder tempo. Apenas vou lembrar que a meta é sempre a mesma: diminuir e/ou inibir ao máximo possível a concorrência que outras empresas possam oferecer e, particularmente, anular a concorrência que uma empresa, antes da fusão, representava para a outra. Fundidas não concorrem entre si e podem enfrentar melhor os outros segmentos do mercado. Só isso e mais nada. O povo? A sociedade? Ora, o povo e a sociedade que explodam. Mas, antes de explodirem, que comprem nossos produtos. O fato irrecorrível e irredutível é que se alguém ganha — lucra — necessariamente alguém terá que perder. Terei enlouquecido de vez com esta linha de pensamento?

Se isto que estou elucubrando é verdade e não uma loucura, então o Artigo 20, inciso I da Lei Antitruste — limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa — é também um equívoco. A livre concorrência e a livre iniciativa pode. Mas, não pode livre concorrer e livre iniciativar demais. Ora, o que é demais? E, o que é de menos? Demais é quando você suga até matar o outro. De menos é quando você suga o outro, mas o mantém vivo para continuar a ser sugado. Transfundir homeopaticamente, eis o segredo das trevas. O interesse privado, tendo como objetivo o lucro e o domínio do mercado, em contraposição às necessidades do coletivo, será sempre perverso, não-fraterno e cósmica e maiormente ilegítimo. A própria Lei 8.884/94 em seu Artigo 29 apenas doura a pílula: Os prejudicados, por si ou seus legitimados do artigo 82 da Lei 8.078, de 11 de Setembro de l990, poderão ingressar em juízo, para, em defesa de seus interesses individuais ou individuais homogêneos, obter a cessação de práticas que constituam infração da ordem econômica, bem como o recebimento de indenização por perdas e danos sofridos, independentemente do processo administrativo, que não será suspenso em virtude do ajuizamento de ação. Em um lampejo, me fiz a seguinte pergunta: Não são os próprios governos que cometem as maiores e as piores infrações da ordem econômica, dando o exemplo e a deixa para que a sociedade faça a mesma coisa ou pior? Quebrar a cláusula pétria do direito adquirido é o mais insignificante dos exemplos. Depois, desrespeitar a coisa julgada e o ato jurídico perfeito é uma moleza molíssima.

Ainda que eu não concorde com a primeira parte da afirmação abaixo, eu a reproduzi em destaque, porque a segunda parte contém algo de verdadeiro, e servirá para podermos refletir sobre os nossos próprios egoísmos, equívocos e transigências.

 

Dios  no  ha  creado  la  pobreza.  La  hemos   creado  nosotros  con  nuestro  egoísmo.

 

De repente me dei conta de que estava viajando e me desviando do tema central deste ensaio: a questão das esmolas. Mas, o que tudo isso tem a ver com as esmolas? Tudo. Então, não viajei coisa alguma. Quando apoiamos políticos que prometem defender nossos interesses pessoais (por exemplo, função social da propriedade, livre concorrência e defesa do consumidor), estamos esquecendo dos miseráveis do mundo que não possuem nada, que não são concorrentes a nada e que não têm nada para defender. Muitos não têm sequer um simples banquinho para colocar suas melequinhas em baixo. Consumir por consumir é fundamentalmente e egolatricamente esquecer da miséria do mundo. É, em muitos casos, uma patologia? É. Mas, se torna progressivamente uma patologia crônica porque não nos damos conta da miséria mundial. Muitos de nós pensamos assim: Tenho dinheiro. Eu o ganhei honestamente. Vou comprar. E esquecemos a miséria do mundo. Quando achamos lícita e sadia a livre concorrência, estamos esquecendo da miséria do mundo. Quando acrescentamos mais um objeto de desejo à nossa coleção, estamos esquecendo da miséria do mundo. Quando compramos um anel de brilhantes, não sabemos (porque nunca nos preocupamos com isso) que uma parte dos diamantes que circulam pelo mundo é oriunda do Zaire, catados sem parar por crianças escravizadas para satisfazer a insânia dos poderosos e dos sovinas e a maluquice dos nossos desejos ilusórios. As holdings internacionais adoram as pedrinhas e estão se lixando para as crianças, que acabam morrendo inanes ou de AIDS. Acham até os compradores comuns uns grandes imbecis, mas necessários para manter a máquina funcionando. Querem pedras? Temos zilhões para dar (vender, ora!) a eles. Nós também, como regra, não damos a mínima, e acabamos nem sequer nos lembrando da miséria do mundo. Nem queremos saber a procedência das pedrinhas. Na verdade, não queremos saber a procedência de nada. É barato? Está em conta? Eu compro. E esquecemos sempre da miséria do mundo. Levar vantagem tornou-se uma obsessão. Obsessão desarrazoada, mas uma obsessão.

 

Me  dá  uma  pedrinha  aí!

 

Quando vamos a um restaurante e gastamos R$ 100,00 (ou mais) em um almoço regado a vinho, estamos esquecendo da miséria do mundo. Não é por nada, não, mas eu adoro tomar uma sopinha de entulho (em pé) em um restaurante que fede a mijo na Estação Leopoldina. Sempre de madrugada, porque a noite é sempre a noite. Vira e mexe dou um pulinho lá. Sempre gostei das coisas simples. Do cheiro de mijo em restaurante não gosto, mas, que fazer? Aquilo está longe de ser um restaurante. É um boteco xexelento no qual se reúnem motoristas de táxi e de ônibus para fazer uma boquinha. Outro dia, ao vir de Niterói da residência de um Irmão Querido, parei nesse mata-fome e tomei uma das melhores sopas de entulho de minha vida. Eu estava muito contente, porque, entre outras coisas, havia conhecido um gambá pequenininho e um papagaio que faz ôôôôôôôôôôôôôôô... A sopa estava meio fria, mas estava saborosa. E é sempre a mesma inana: o dono trouxe (e trará até morrer ou se aposentar) a sopa com metade do dedo polegar direito dentro do repasto, que eu havia solicitado que viesse sem carne. Depois, disfarçadamente, chupou o dedão. Eu fingi que não vi (como de hábito) e tomei a sopa toda acompanhada de um ovo cozido e de um pão francês (que é fabricado no Brasil) cortadinho. O pão estava borrachento, mas o enfiei pra dentro com muito gosto. Ainda bem que o dono do tira-gosto não tinha um panariço no dedão. Já pensaram?

Quando compramos, sem necessidade, um celular de R$ 1000,00 que só falta falar, estamos esquecendo da miséria do mundo.

 

Shopping  Center  =  Lugar  de  aMORTEcimento  em  relação  às  Misérias  do  Mundo

 

Quando enxotamos um pivete ou um sem-nada, esquecemos de que esses seres humanos são nossos irmãos. Enfim, quando esquecemos de ser solidários (e os exemplos são milhares) estamos contribuindo para que tudo piore. E estamos incluídos nesse tudo piore. Ou aprendemos que, enquanto houver um único ser humano faminto, sedento, doente e desprovido, seremos e estaremos todos famintos, sedentos, doentes e desprovidos, ou continuaremos a ser cúmplices (por omissão ou em comissão) da sacanagem mundial globototalizatória. Contudo, temos o privilégio de escolher onde queremos amarrar nosso burro! O que é certo é que a abundância de uns poucos é a miséria de bilhões. A cumplicidade de milhões é a desgraça de bilhões. Por tudo isso (e mais um pouco), no Rio de Janeiro, por exemplo, as favelas não desceram para o asfalto simplesmente porque desceram. Desceram porque não tinham mais para onde subir. Somos todos responsáveis. E não adianta chiar, bradar iradamente, vociferar ou esbravejar. São todos sinônimos decorrentes de nosso esquecimento da miséria do mundo. O próprio tráfico, somos nós que estimulamos. Quem compra uma dolinha ou um papelote, está alimentando esse mercado — que interessa prioritariamente aos barões do tráfico internacional — e contribuindo para que aumente e se alastre a miséria do mundo. Recentemente, um jornal brasileiro de circulação nacional deu como manchete de primeira página: Tráfico começa a vender crack nas favelas do Rio. As estatísticas têm demonstrado que o número de dependentes dessa perigosíssima droga tem aumentado. Segundo o Conselho Estadual Antidrogas – CEAD, neste ano, até 19 de Dezembro de 2004, foram atendidas 126 pessoas que usaram crack. Por outro lado, há grupos interessadíssimos em que, por exemplo, os Estados Unidos se afundem cada vez mais nas drogas. É preciso explicar?

 

 

Não sei se é verdade, mas dizem que o Governador Carlos Lacerda previu com precisão o êxodo descensional da favela em direção ao asfalto. Isso aconteceu há mais de quarenta anos. Se for verídica a informação, ele acertou em cheio. O que eu não sei (e acho que ninguém sabe) é se a previsão foi feita antes ou depois de Lacerda ter ganho um espelho mágico de uma 'senhora', que recebida em audiência no Palácio, depois de elogiar a atuação de Lacerda à frente do Executivo Carioca, deu-lhe de presente um espelho falante que ela mesma 'fabricara' especialmente para ele, em conformidade com certas regras secretas que ela aprendera na Terra do Nunca com o avô materno do Peter Pan. Lacerda, entre incrédulo e assombrado, recebeu o presente com um certo temor, balbuciou educadamente um muito obrigado e, mais tarde, à noite, sem perder um segundo, trancou-se em seus aposentos, e pendurou o espelho na parede. Depois de consultar o espelho mágico por mais de 5 longas horas sobre diversas questões da política local e nacional, acabou não resistindo e, no final, questionou o valioso objeto de superfície extremamente polida e brilhante, que incrivelmente, com absoluta convicção, falava como gente grande:

Espelho, espelho meu, há neste Brasil Governador mais bonito do que eu?

Na bucha o espelho respondeu: — Ora Carlos, que papel, você esqueceu do Rafael?

Conta a lenda que Lacerda ficou irritadíssimo com a resposta e, na manhã seguinte, deu o espelho mágico de presente. Afinal, Rafael não era Governador, era apenas Vice. Jogava sinuca melhor do que ele, mas era Vice. O espelho só poderia estar brincando, pensou Lacerda. A História Universal não registra que qualquer Vice tenha sido mais bonito do que o Titular. Os Doze Césares não lhe saíram da cabeça por dias. Foram torturantes aqueles dias. Não há registros, entretanto, de quem recebeu esse espelho, nem onde ele se encontra hoje. Nem a Sandra Cavalcante sabe onde foi parar o tal espelho. Eu também nem desconfio. Nem quero saber. Eu se tivesse um espelho desses ficaria maluco em menos de meia hora. Ou mais maluco do que já sou! Esse mistério nem o SNI conseguiu solucionar. O Golbery do Couto e Silva se esforçou muito para encontrar a preciosa peça, mas acabou desistindo. Na época, ficou muito sentido por ter que digerir esta derrota, e caiu de cama por uma semana. Os médicos, como sempre, disseram que era uma virose. Rafael de Almeida Magalhães, quando soube da história, adorou e morreu de rir. Tancredo Neves e Antonio Carlos Magalhães nunca comentaram o assunto. Quando alguém perguntava alguma coisa, eles desconversavam. Tancredo chegava a morder a gravata nervosamente. ACM continua desconversando até hoje. — Espelho mágico? Isso só pode ser intriga dos meus inimigos. Nunca vi esse espelho nem conheço ninguém que o tenha visto. Por que vocês não perguntam isso pro Arruda? Ou pro Jader? — responde sempre ACM. Isso é o que comentam na Bahia e em Brasília. Outros dizem que os Anões do Orçamento chegaram a contratar os serviços do detetive carioca Bechara Jalkh para descobrir o paradeiro do espelho mágico, mas nem ele obteve sucesso. Comenta-se, à boca pequena, ainda, que, de uma feita, o Presidente Figueiredo – emburradíssimo com uma providência adotada pelo Aureliano Chaves – teve uma crise nervosa cavalar e teria dito: — Se eu pego essa velha que fez esse espelho, eu prendo e arrebento essa bruxa! Foi preciso um telefonema do ex-presidente Ernesto Geisel para ele se acalmar. Na verdade, dizem que o Geisel ordenou ao Figueiredo: — Ou você esquece essa velha fabricante de espelhos que falam o que não deveriam falar, ou ponho você pra andar à cavalo três horas seguidas de meio-dia às três da tarde. Figueiredo, preocupadíssimo com sua coluna vertebral que já não andava lá muito boa, só disse duas palavras e sossegou: — Sim, Chefe. Mas, a mania de prender e arrebentar ele manteve durante todo o seu reinado, digo, toda a sua presidência. Armando Falcão só repetia: — Nada a comentar. Delfim Netto ficava nervosíssimo quando alguém tocava nesse assunto, e começava a comer um chocolate atrás do outro. Hoje, quando esse assunto é ventilado, Delfim, mais sereno, responde: — A Economia não precisa de espelhos falantes. Isso é um ultraje à minha inteligência. O Doutor Ulisses Guimarães comentou uma vez com o Renato Archer: — Eu não sou rampeiro Renato, mas daria tudo para pôr a mão nesse espelho mágico. Será que... Bem, sei lá. O Brasil tem dessas coisas. Até parece Maracutzil. O fato é que esse espelho nunca foi encontrado. Talvez a CIA ou o FBI saibam. Papai Bush nunca comentava esse assunto. Quando um assessor murmurava alguma coisa, corria para o Salão Oval e telefonava para o Reagan. O que eles conversavam não se sabe até hoje. As fitas ainda não foram liberadas. A antiga KGB eu acho que sabia, mas sempre ficou na moita. Dizem em Moscou que se algum membro do Politburo (o Political Bureau russo) falasse em espelho – qualquer espelho, mesmo daqueles pequenininhos que as senhoras carregam em suas bolsas – perto do Boris Yeltsin, ele tomava sem pestanejar uma garrafa de vodka pelo gargalo de uma vez só. Como ele podia tomar uma garrafa de vodka sem pestanejar eu nunca pude compreender. Depois dormia três dias sem parar roncando como uma mula. Há informações seguríssimas de que quase foi expurgado por causa disso. Vladimir Putin já estava de olho no poder. Antes dele, Gorby desmaiou na Praça Vermelha quando uma senhora moscovita de 96 anos lhe pediu um espelho emprestado para arrancar umas barbinhas que estavam brotando em seu rosto. Foi um caos nacional. Chegaram a botar os tanques na rua. O que nós ficamos sabendo aqui no ocidente é que foram exercícios de rotina. Foi isso que o Pradva noticiou. Eu, como conhecia a história, juntei os pauzinhos e não acreditei na notícia. E Leonid Brejnev rosnava se algum infeliz se atrevesse a tocar nesse assunto. — Mando você prrro Sibérrria — dizia furibundo. Acho que esse espelho que fala é uma ameaça internacional. Já pensou esse espelho nas mãos do... É melhor que continue mudo e não apareça jamais.

 

 

 

 

DROGAS

 

Tudo o que foi refletido até esta linha conduz à questão-título deste estudo: Esmolas. Pensamos, na maioria das vezes, que oferecer um óbolo a quem quer que seja deva ser sempre algo em dinheiro ou uma coisa material. Não é assim. Sempre que somos solidários, estamos dando algo de nós. Sempre que damos uma força a alguém, estamos dando algo de nós. Sempre que nos interessamos por um problema ou uma dificuldade de outra pessoa e emprestamos nossa ajuda, estamos dando algo de nós. Sempre que emitimos, em silêncio, um bom pensamento, estamos dando algo de nós. Sempre, enfim, que permitimos que nosso Deus Interior interaja com outros seres, estamos dando algo de nós.

No dia 18 de Dezembro de 2004 participei da penúltima aula de um curso de Web Design, no qual estou matriculado. Quando as aulas terminam, lá pelas 17:30 horas, sempre dou carona a um rapaz até a Central do Brasil, pois ele mora em não sei onde e precisa ir de trem. Esse rapaz, que deve ter uns 25 anos, é Testemunha de Jeová. É simpático, boa-pinta, mas muito tímido e contraído. Neste sábado, quase chegando ao lugar em que costumo desembarcá-lo, comentei: — Preciso lhe dizer algo. Não vou comentar o que vou dizer, mas penso que você deveria refletir um pouco no pensamento que enunciarei. Se você quiser, comentaremos o assunto no dia 8 de Janeiro, quando teremos nossa última aula de WD. Então ouça: Nenhum de nós, religiosos ou não, encontrará Deus fora. Só dentro. No Coração. Você está vendo todas essas pessoas na rua? Pois é. Potencialmente, todas têm Deus em seus Corações. O que precisamos fazer, é lenta e diariamente construir esse Deus transformá-Lo de potência em ato para que um dia Ele possa se expressar livremente. Nessa trajetória, acabaremos todos percebendo que Deus jamais poderá ser encontrado nos templos ou nas igrejas. Não há religião neste Planeta que possa operar o milagre de construir esse Deus por nós. Só nós poderemos fazê-lo. Por isso, somos todos irmãos. Ele ficou me olhando, e disse:Vou pensar no assunto. Esmolar é também provocar no outro a possibilidade de uma reflexão. Mas, nunca se deve fazer afirmações tendenciosas. Desagradar ou prejudicar a harmonia alheia é uma atitude muito grave. Arrotar sapiência (de merda) é um horror. Já, estimular uma reflexão no outro é um ato de amor. É um dos maiores óbolos que podemos ofertar a alguém.

Sob outro aspecto, podemos esmolar em dinheiro. Um real, dois reais ou mais. Cada um dará o que pode ou o que acha que deve dar. Dividir não é errado nem antiético. O que é antiético e não podemos jamais fazer, em nenhuma circunstância, é pensar que estamos emprestando a Deus quando damos uma esmola. Isso é ridículo e absurdo. E passa a não ter qualquer valor. Na verdade, vale menos alguma coisa (– alguma coisa). O valor presuntivo da presuntiva boa ação se desfaz como uma bolinha de fumaça.

 

 

Eu, conforme afirmei na quinta linha deste ensaio, direi agora como procedo, quando, por exemplo, dou uma esmola material. Primeiro: sempre converso com o necessitado. Tudo bem? Está estudando? Você só vai conseguir vencer na vida se estudar. Não desista nunca. Eu fui filho de lavadeira e venci. Fique com Deus. Et cetera. Segundo: Emito um pensamento construtivo para o despossuído. Terceiro: Imediatamente procuro me esquecer do acontecido. Com a prática que adquiri, esta terceira fase demora menos do que três segundos. No limite, até o sentimento de alegria em poder ter praticado uma presumível boa ação se perde com o regozijo interno. Quando passarmos para o 'lado de lá', haveremos de ter que dissolver até essas coisas. Equivocam-se aqueles que pensam que apenas as ditas 'coisas ruins' deverão ser transmutadas. Sei que isso é difícil de ser compreendido, mas é assim que as coisas sucederão. Paixões, desejos, cobiças e emoções são uma só e a mesma coisa.

Conclusão: Quando praticamos um ato de solidariedade, não podemos meter Deus no meio desse gesto. Não podemos imaginar que um empréstimo esteja sendo feito a Deus. Ou a um Santo, a um Avatar ou a um Mestre Ascencionado, se for o caso. Não podemos admitir que Deus (ou Alguém) esteja nos observando e tomando nota de nossas pressupostas boas ações, para nos recompensar alhures nesta vida ou em outra. Não existe nem alhures nem algures. Temos que nos acostumar com o nenhures, que é um imperativo categórico. Conclusivamente, não podemos massagear nosso Ego com nossas presumidas boas ações, pois, se assim o fizermos, de nada valerão os presumidos bons atos que praticarmos. Definitivamente, acredito que uma das melhores e maiores esmolas que podemos dar a alguém é transmitir sempre um pouco de alegria e de bom humor. A alegria pode curar qualquer doença e rir é um dos melhores remédios. O que não podemos é ficar rindo o dia inteiro. Não somos hienas para ficar gargalhando e regougando à-toa. Mas, a falta de senso de humor é, em certo sentido, uma patologia. Acho, então, que ficou claro porque contei a história verídica do mata-fome que fede a mijo (porque os motoristas de ônibus e os taxistas mijam sem piedade em volta do restaubuteco à toda hora), e a estória fictícia do espelho mágico. A premonição de Lacerda, contudo, parece que aconteceu mesmo. Relendo a estória do espelho falante eu quase me mijei de rir. Só me esqueci de comentar o conteúdo do discurso que o Sarney fez no Senado sobre esse assunto. Quase foi declarado Estado de Emergência Nacional. Só eu mesmo!

 

 

 

 

Oscarito  e  Ankito

Oscarito e Ankito
(Aponte o mouse para a fotografia do Grande Oscarito)

 

Grande  Otelo
Carmen  Miranda
Carequinha
Grande Otelo
Carmen Miranda
Carequinha

 

 

Zéze  Macedo
Wilson  Grey
Zéze Macedo
Wilson Grey

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SITES CONSULTADOS

 

http://www.edualter.org
/material/fundacio%20bofill/prof/annex7.1.htm

http://www.sublimando.blogger.com.br
/pobresa1.jpg

http://www.mansunides.org
/30horesperlafam/ajuda.htm

http://cat.oneworld.net/article/archive/1564/

http://www.oyitas.org.ar/imgs08.htm

http://csociales.uchile.cl/rehuehome/facultad
/publicaciones/Excerpta/excerpta7/pobre0.htm

http://members.tripod.com/~shats/N11/moneta.htm

http://ns.rds.org.hn/pobreza/index.php3

http://elmundosalud.elmundo.es/elmundosalud
/2003/10/15/neuropsiquiatria/1066220959.html

http://www.ucm.es/info/hcs/cial/noticia24.htm

http://www.obispadogchu.org.ar/caminante/teresa/teresa08.htm

http://sovrana.com/roasting.htm

http://news.bbc.co.uk
/hi/spanish/news/newsid_2590000/2590185.stm

http://www.gendarmerie.gv.at
/html/ueberuns_07_uno2.htm

http://www.gendarmerie.gv.at/html/ueberuns_07_uno2.htm

http://www.bagunsite.org.br
/Galeria/Ilha%20do%20Rato/page_01.htm

http://www.consumidorbrasil.com.br/consumidorbrasil
/textos/cidadao/livreconcorrencia.htm

http://www.verparacreer.net
/imagen.php?f=1058738400&n=1

http://www.sinpro-rio.org.br
/publicacoes/jornal/jp29/global.html

http://www.npl.com/~melissa/Photos/thanksgiving/

http://www.fundacion.udg.mx/html/Prevencion.htm

http://gilgamesh.zip.net/

http://www.arquivo.ael.ifch.unicamp.br/recon1.htm

http://www.brazilbrazil.com/carmen.html

http://www.correioweb.com.br/hotsites/jk3/?materia=120

http://markinho.blogspot.com
/2002_11_01_markinho_archive.html

http://memoriaviva.digi.com.br/grey/

http://www2.uol.com.br
/JC/_1999/0910/cc0910e.htm