CONFISSÕES III

TRÊS MOMENTOS

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

Música de fundo: Yesterday
Fonte:
http://www.linux-video.net/Samples/Midi/

 

 

1º MOMENTO

 

 

O que vou relatar neste Primeiro Momento aconteceu há mais ou menos quarenta anos. Meu Eu Interior existia apenas em potência. Mas, eu não me esqueci. Naquele tempo – tempo hipócrita – os rapazes eram ensinados a respeitar as meninas 'de família' como se fossem suas irmãs. Com as 'mulheres da vida' ou 'da rua' ('da vida'? 'da rua'?) tudo era lícito e permitido; com as consideradas meninas 'de família' só mãozinha dada e beijinho suave, isso se elas deixassem ou autorizassem. Mão na perna? Nem pensar. A virgindade era tida como mais sagrada do que... Até hoje eu não descobri em relação a quê a virgindade era tida como mais sagrada. E acho que vou morrer sem saber, porque nunca me relacionei com uma mulher virgem. Dizem que quando uma garota perde a virgindade faz POC. Será? Mas, que a virgindade era tida como sagrada, isso era. Quem é do meu tempo sabe. Tempo muito besta! A virgindade dourada não é física. É espiritual. Não adianta nada ser fisicamente virgem, mas mentalmente um lasso e/ou um malévolo. Isso é hipocrisia. Mas comentarei isso outro dia.

O fato é que os rapazes acabavam procurando prostitutas, garçonetes, babás, empregadas domésticas etc. para satisfazer seus instintos sexuais (normais). Eu não fui diferente. Fui inteiramente diferente, sim, na forma como me relacionava com essas moças, que acabavam ficando comigo mais pela minha simpatia, do que por qualquer tipo de moleza que pudessem auferir. Eu era simplesmente um duro e filho de lavadeira. Mas era atencioso, carinhoso e sabia ouvir o que elas tinham para contar. Estou convicto de que uma das coisas mais terríveis é não se interessar pelo que o outro tem para dizer. Acho que, em parte, desenvolvi esse jeito com as mulheres porque era um pronto de marca maior. Mas, eu adorava estar com essas moças, pois não eram bestas como a maioria das 'meninas de família' daquela época. Aliás, sempre me aproximei mais dos sem-nada do que dos com-tudo. Não tenho nenhum tipo de diferença ou de preconceito contra os com-tudo, mas, os com-tudo são mesmo muito diferentes dos sem-nada. O fato é que os vagabundos e os miseráveis são os meus prediletos. Aprendi muito com esses Irmãos.

Certa vez, andando à-toa pelo Posto 6, em Copacabana, conheci uma moça, que pela aparência parecia ser uma empregada doméstica. Na verdade, nunca liguei para essas coisas. A mãe dos meus filhos (de quem estou divorciado há muitos anos) viveu até mais ou menos quinze anos na Favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e isso jamais fez qualquer diferença para mim. E eu quase me casei com uma prostituta.

Mas, o fato é que eu e essa moça à qual me referi acabamos namorando, e fomos – de lotação – festejar nosso romance em um hotel-matadouro (que nem banheiro tinha dentro do quarto!) que existia na Praça José de Alencar (que fica na confluência das Ruas do Catete, Marquês de Abrantes, Barão do Flamengo, Conde de Baependi e Senador Vergueiro), perto do Largo do Machado. A moça era interessante, mas não tirava o sutiã de jeito nenhum. Achei aquilo estranho, mas não disse nada. Não demorou muito para eu perceber que ela não tinha o seio direito. Ela havia sofrido uma mastectomia radical naquele seio e por isso tinha vergonha de tirar o sutiã. E não o tirou em nenhum momento, porque eu não toquei no assunto nem insinuei nada. Fiquei com essa moça algumas horas, e foi com ela que passei um dos melhores momentos de minha vida, tanto que me lembro desse fato até hoje. Hoje, quando me recordo dessa passagem, fico emocionado. Por onde andará essa irmã? Mas tenho certeza de que, sem exagero, apesar de não tê-la amado no sentido usual que é dado a este verbo, eu a amei como ser humano, talvez mais do que a muitas das moças maravilhosas com quem me relacionei ao longo de minha vida. Acho também que, sem falsa modéstia, para ela foram horas inesquecíveis. Talvez ninguém a tivesse tratado como eu a tratei. Sei lá. Quero estar enganado. Eu sou mais ou menos assim: ao conhecer uma pessoa, se há concordância de vibrações, sinto-me como se a conhecesse a meio século. E um seio – ou a falta dele – não muda absolutamente nada. Há certas mulheres que têm todos os seios e é como se não tivessem nenhum. Não existe pastel de vento? Pois é. Seios de vento.

A ventania, agora em outro sentido, pode ser exemplificada pelos políticos-pastéis de vento que, para se perpetuarem no poder, geralmente utilizam a mentira, a fraude e os panamás com (no mínimo) um duplo objetivo: locupletação e dominação. Não posso deixar de abrir um parêntesis aqui para apontar a farra legal que vigora no Congresso Nacional Brasileiro. Lembrete eqüipolente: Revolução Francesa. Cada um dos 514 Senhores Deputados tem garantido por Lei o que está discriminado abaixo:

Salário: R$ 12.000,00;

Auxílio-moradia: R$ 3.000,00;

Verba para despesas extras: R$ 7.000,00;

Verba para assessores: R$ 3.800,00;

Grana para trabalhar no recesso: R$ 25.400,00;

Verba de gabinete mensal: R$ 35.000,00;

Direito a transporte aéreo: 4 (quatro) passagens de ida e volta a Brasília por mês;

Direito de contratar até 20 servidores para cada gabinete;

Direito ao recebimento de 13º e 14º salários no fim e no início de cada ano legislativo;

Direito a 90 dias de férias anuais;

Direito a folga remunerada de 30 dias; e

O que não se sabe: R$ ????????

Arre!!! Olha a ventania!!!

 

 

Retornando: por que contei aquele fato da minha vida — o da moça mastectomizada? Porque acho que é educativo no sentido de que a solidariedade e o amor não se resumem a fazer um depósito bancário para os necessitados, ou a praticar uma boa ação aqui ou ali. Muita gente massageia o ego fazendo isso. Não vale lhufas.

Mas, muito femeeiro machão talvez tivesse brochado quando percebesse que a garota não tinha um seio, e resolvesse ir embora sem mais aquela. Isso se, de contrapeso, não dissesse umas coisas desagradáveis. E como ficaria a moça? Eu sempre pensei nessas situações, e quando aconteceram coisas assim segurei a onda. Em especial, com essa moça fui mais carinhoso do que seria se ela fosse, por assim dizer, 'inteira'. Passei por outras situações parecidas e sempre agi da mesma forma. E isso não tem nada a ver com ser ou não ser Rosacruz.

Nós não temos o direito de ferir ou de desprezar um ser humano. Nem mesmo um micróbio pode ser maltratado por nós. E o sofrimento que alguém carrega, por exemplo, por não possuir um seio, não pode ser agravado pelo desdém e/ou pelo desinteresse de quem descobre esse fato na hora H. Acho que são mais do que suficientes os conflitos psicológicos e os distúrbios emocionais que pessoas que passaram por esse trauma levam consigo para o resto de suas vidas. Já pensou o que é perder um seio? Isso é muito triste.

Enfim, eu me lembro como se fosse hoje: namorei, com algum esforço, essa moça 4 vezes em menos de 4 horas. Digo com algum esforço porque nunca fui chegado a exageros nessa matéria. Mas sei que ela ficou muito feliz, e eu, em termos místicos, não cumpri menos do que deveria ser cumprido. Nessa época eu ainda não era Rosacruz, mas já agia e pensava como se Rosacruz fosse, ainda que, repito, isso não tenha nada a ver com Rosacrucianismo. De qualquer forma, eu tenho lá minhas humildes desconfianças de que já nasci Rosa+Cruz. De certa maneira, a AMORC foi um festejado reencontro.

A troca energética que ocorre em uma relação sexual é algo que jamais poderá ser percebido com qualquer dos sentidos físicos. Só se o orgasmo for sentido em todo o corpo é que, talvez, possamos ter uma pálida idéia do que é, efetivamente, uma relação entre dois seres, ainda que as relações sexuais ejaculatórias, de uma maneira geral, 'empobreçam' os que se amam. Por isso, uma forma de contrabalançar essa diminuição, é, no mínimo, desejar, durante o clímax, todo o Bem e todo o Amor para todos os seres do Universo. Isso vale mais do que todas as dádivas que possamos fazer aos pobres. E, qualquer coisa que se mentalize nessa hora, dificilmente não se tornará realidade. Por isso, no momento em que o ponto mais alto da excitação sexual é atingido, é preciso cuidado com os pensamentos, pois eles seguirão seu curso independentemente de nossa vontade. Podemos, assim, praticar uma 'mágicka' sem saber que a estamos praticando. Os ocultistas conhecem isso muito bem.

ADENDO: Eu já havia concluído este Momento quando descolei a animação abaixo. É uma animação inocente que me fez lembrar que eu deveria acrescentar que os tais encontros que mencionei eram muito raros e difíceis. Arnaldo Jabor – em entrevista recente ao Jô Soares – citou o exemplo de Luis Carlos Prestes (1898-1990), que teve sua primeira experiência sexual a dois com 32 (trinta e dois) anos.

A verdade é que naquela época predominava a masturbação. Essa era a regra. Portanto, o episódio que relatei era uma exceção. Por isso, a inocente animação abaixo me trouxe algumas recordações: umas, cômicas; outras, nem tanto. O mundo contemporâneo, sob muitos aspectos, é menos hipócrita e muito mais sadio, ainda que, sob outros, pareça ter regredido aos tempos da Roma antiga. Essas são as aparentes contradições do processo entrópico a que tudo e todos estão sujeitos.

 

 

2º MOMENTO

 

 

Há algum tempo eu ia de carro para o IDHGE (Instituo de Desenvolvimento Humano e Gestão Empresarial) trabalhar. Em uma determinada esquina da Rua Professor Gabizo, na Tijuca, Rio de Janeiro, eu vi uma menina exposta (para quem quisesse ver) em uma espécie de tabuleiro fazendo todo o tipo de caretas que se possa imaginar. O quadro era, ao mesmo tempo, triste e dantesco. Logo percebi que era uma pobre doente incapacitada para tudo.

Imediatamente se aproximou de mim um homem enorme (que mais parecia um leão-de-chácara) com cara de debilóide, apontando para a menina e pedindo apenas com gestos uma esmola. Na hora entendi que ele simples e descaradamente estava explorando a doença da filha para arrumar um troco. Foi isso que me passou pela cabeça. Não conversei. Passei uma descompostura em regra no leão. Não sei como ele não me bateu (ou me mordeu). Apenas ficou calado e foi para a calçada. E lá ficou parado com um olhar distante... Cheguei a pensar que ele havia miado como uma leoazinha.

 

 

Há muito disso por aí. Pais e mães que exploram seus filhos, impedindo até que estudem. Outros estimulam que os filhos se prostituam. Outros violam os próprios filhos. Outros jogam os filhos no lixo. Por aí vai. Isso tudo é uma verdadeira barbaridade. Mas, essas notícias têm um outro lado perverso: podem nos induzir a incorrer no erro de julgar (o que em si já é um baita erro) a parte pelo todo.

Mas, voltando ao leão-de-chácara. Mais tarde refleti sobre a forte repreensão que dei naquele pai. Eu não deveria, sob nenhuma alegação, ter feito aquilo. Definitivamente não deveria. Há mil razões para desabonar e não autorizar atitudes como essa. Mas, vou comentar apenas uma das mil possíveis. Não poderia aquele pai não ter com quem deixar aquela filha, e, por isso, estivesse esmolando? Quem sabe poderia ser viúvo. Et cetera. Nós temos que estar atentos para não julgar ninguém e não cometer rodolfices como a que dei como exemplo. A paz interior é também ver as desgraças do mundo sem sofrer abalos emocionais, ou ter rompantes frente àquilo que consideramos como injustiças. Mesmo que o sujeito se indigne com possíveis e presumidos absurdos ele não deve se descontrolar. Isso é mais do que impróprio – é dar um passo para trás. Algum tempo depois me redimi da boçalidade que cometi. Mas isso guardarei para mim. Talvez aquele pai seja mesmo um leão. Vai ver que o seu silêncio foi um tremendo rugido de dor, e o meu urro de fera babaca foi um regougo de hiena vadia.

 

 

 

3º MOMENTO

 

 

Eu faço minhas merdas e depois me arrependo. E bota arrependimento nisso. No mesmo local do fato relatado acima, em outra ocasião, eu parei no sinal que fechara (atitude não muito prudente no Rio de Janeiro). Quase colado a mim estava um paraplégico sentado em uma cadeira de rodas. Essas coisas têm mesmo que acontecer exatamente comigo, que tenho uma mistura sangüínea de amargar [(mãe = Portugal) + (pai = Itália) + (avó materna = Espanha)]. Isso é mesmo uma bomba! Eu que o diga.

 

 

Não é que naquele instante em que estou parado no sinal pousa uma pombinha perto do deficiente físico, e o filho da puta saca não sei de onde um pedaço de pau enorme e tenta acertar a pombinha. Acho que só um sujeito mentalmente débil e muito perverso faz um treco desses. Bem, eu não pude ficar calado. Senti logo um enorme calor no corpo inteiro e fiquei furibundo. Esse eu esculhambei mesmo. E esculhambei pra valer.

Algum tempo depois (na verdade, poucas horas depois, como no caso do leão) também me redimi com ele. Tive muita pena daquele infeliz. Pensei comigo: talvez a incontida irritação contra a pombinha tivesse origem no fato de ele, preso até o último de seus dias àquela cadeira, não tenha podido suportar a liberdade daquele bichinho, que além de se locomover livremente, podia principalmente voar. Terá sido isso? Nunca saberei.

 

 

EPÍLOGO

 

Epílogo? Não sei por que essa palavra me lembra jazigo. O grande problema de lutar pela Paz, pela Justiça e pelo Bem é que poderemos cometer as mais inconscientes injustiças. Há algum tempo descobri uma fómula fantástica para saber como proceder em ocasiões difíceis. Quando a coisa acontecer você tem que ser rápido no gatilho. Imediatamente relaxe o sentido da visão, se abstraia de tudo e olhe para dentro. Aguarde. Em questão de segundos você saberá como proceder. Isso não falha nunca. Vou repetir em caixa alta (apesar de ter aprendido recentemente com meu muito querido Irmão +Vicente VeladoFRC, Iniciado do 7º Grau do Faraó e Abade Especial para o Terceiro Mundo da Ordo Svmmvm Bonvm – que palavras em caixa alta sobrecarregam os browsers, pois eles são afetados pela mudança de caixa no decorrer de um texto, principalmente se for usado o itálico, o que causa grande demora na carga de uma página): NÃO FALHA.

 

Não  há  progresso  sem  mudança.  E  quem  não  consegue  mudar  a  si  mesmo,  acaba  não  mudando  coisa  alguma.   (Geoge  Bernard  Shaw).

 

 

 

 

WEBSITES CONSULTADOS

 

http://www.physics.ubc.ca/~biophys/whatis.html

http://www.tonterias.com/

http://www.callme.com/justwebvideo/local_pictures/

http://www.barrysinclair.com/theclinic.htm