Tenho
observado que a imensa maioria das pessoas quando lê um texto
metafísico ou um ensaio de natureza mística, geralmente
faz essa leitura como se estivesse lendo um romance ou uma matéria
interessante em um jornal. As pessoas gostam, elogiam o texto, apreciam
as animações, mas não refletem adequadamente no
que estão lendo. Chegam a fazer ilações verdadeiramente
absurdas, o que é muito triste e, de certa forma, perigoso.
Por
outro lado, alguém pode
se concentrar em um texto esotérico, místico, metafísico
etc. com esse raio de música de fundo que eu coloquei? É
claro que não. Esse é um pout-pourri de
músicas de carnaval, próprias, portanto, para carnaval.
São músicas maravilhosas, alegres e fazem um 'bemzinho'
à alma, mas não servem como companhia em uma leitura meditativa.
Foi
bom te ver outra vez Zezé com essa enorme cabeleira... Vou beijar-te
agora bem na frente da Turma do Funil porque é carnaval nesta
Cidade Maravilhosa e há mais de mil palhaços no salão.
Depois, vê se me dá um dinheiro aí! Mas que calor-ô-ô-ô-ô-ô-ô,
mamãe! Eu quero é mamar! Tristeza, por favor,
vê se vai para o raio que o parta bem no meio da multidão!
É isso,
por exemplo, o que vai na cabeça de quem lê o que quer
que seja com a incômoda companhia de um fundo musical inadequado.
Em outras palavras: chupar cana e assoviar não dá. Ao
mesmo tempo não dá! Só se estiverem faltando um
ou dois dentes na boca do cara, mas, mesmo assim, não dá.
E por falar em falta de dentes, há algum tempo fiz uma homenagem
ao simpático irmão aí em baixo, mas acho que nem
ele é capaz de assoviar
e chupar cana ao mesmo tempo.
Olha só a alegria e os olhinhos dele!
Para
se ler um texto e aproveitar o máximo da leitura há umas
certas regras que devem ser obedecidas. Eu vou dizer como eu faço,
e espero que possa auxiliar alguém que esteja tendo algum tipo
de dificuldade ao ler ensaios que possam ser complicados ou difíceis.
Primeiro:
A primeiríssima coisa é ter à disposição,
seja no computador, seja em papel, um bom dicionário. Ninguém
pode ler um assunto qualquer e passar por cima das palavras achando
que uma palavra é mais ou menos isso ou mais ou menos aquilo.
Senão, pode pensar que veemente é 'ver com a mente'!
Quem não consulta freqüentemente um dicionário, acaba
dizendo que o bandido criou um 'poblemaço' tensoativo(!?)
e surfactante(!?) para moça que foi 'estrupada'. Há,
em outra direção, pessoas que adoram esnobar, e metem
palavras no que dizem ou no que escrevem sem saber o que essas palavras
significam. A frase e o texto acabam ficando, sei lá, parecendo
um mondrongo. E por aí vai. Espalharam por aí que o bichano
aí embaixo é um chupa cabras. Acho esse simpático
animal mais parecido com certos textos que eu leio de quando em quando.
Português
é muito difícil, e por mais que se conheça a língua
haveremos de escorregar. Eu, particularmente, tenho uma dificuldade
infernal com os ques, os quês, os porques, os por ques, os por
quês e os porquês. Faltou algum? Esse troço é
mesmo um inferno! Recentemente escrevi pressionar com c – 'precionar'
– e ontem digitei paralisar com z — 'paralizar'!
Ora, pressionar vem de pressão (pressão sobre alguma coisa)
e paralisar (quase que meto um z de novo!) vem de paralisia (ser atingido
por paralisia). Então, para evitar amolação, dicionário
na mão evita escorregão no meio do salão. Não
apenas para procurarmos falar e escrever corretamente (sinceramente
acho isso irrelevante, pois, o que vale é a mensagem), mas, primordialmente,
para compreendermos adequadamente o sentido de um vocábulo que
se desconhece.
Segundo:
Para se ler um texto esotérico, 'mágicko' místico,
metafísico simbólico etc. é necessário que
a disponibilidade interna do leitor esteja compatível com o tipo
de leitura que vai proceder. Então, antes de qualquer coisa,
uns trinta segundos de preparação ou de meditação
serão excelentes. Um copinho de água também ajuda.
Também, se a pessoa não estiver interiormente bem, deverá
deixar a leitura para depois. Ler um texto complicado com preocupações
na cachola ou com uma 'aporrinhola' qualquer atazanando é
inútil.
Terceiro:
Isolamento. Algum tipo de isolamento é necessário. Esses
assuntos não podem ser absorvidos e compreendidos em meio à
balbúrdia. Se o texto a ser lido estiver no computador, será
útil algum silêncio e um pouco de privacidade, pois ler
na telinha não é tão confortável quanto
ler sentado em uma poltrona. Para quem sofre das veias varicosas do
ânus e da parte inferior do reto é um verdadeiro suplício
hemorroidal – reconheço e fico penalizado.
Quarto:
Finalmente, para se ler um ensaio no âmbito nas modalidades que
estou examinando neste curto texto, há um macete que não
falha. É necessário ler parágrafo por parágrafo.
O que é isso? Você lê um parágrafo e pára.
Pensa no que leu. Discute mentalmente com o autor do texto. Elabora
sobre o que leu. Concorda... Discorda... Reescreve mentalmente o que
leu... Se não compreendeu, feche os olhos e relaxe. Não
pense no que acabou de ler. Espere. Talvez uma forma de inspiração
explique o conteúdo da informação. Se a inspiração
não vier siga em frente. Pode ser que no parágrafo seguinte,
ou um pouco mais abaixo, a dúvida seja sanada.
O
que realmente não é possível é ler avidamente
um texto místico sem refletir. Não adianta nada. Nas entrelinhas
é que estão as grandes lições. Os autores
místicos costumam escrever por metáforas, e deixam lacunas
nos seus escritos de maneira proposital. Maldade? Não. O esforço
para compreender é pessoal. Sendo assim, nada é valorizado
quando a coisa vem mastigadinha, explicadinha e pronta para ser engolida.
E mais: ninguém deve aceitar o que alguém escreve como
a última palavra naquele assunto. É preciso refletir sobre
o discurso e chegar às próprias conclusões. Dialética,
é a chave. E, ainda que o assunto só possa ter uma explicação
correta, cada um lerá interiormente de acordo com sua cultura
e com sua experiência pessoais. Não há verdade absoluta
e definitiva para o ser em processo de evolução ou de
reintegração; as verdades são relativas. Por isso,
repito uma vez mais: HUMILDADE!
Bem,
eu não resisto a uma animaçãozinha. Cacoete de
professor aposentado. Assim, tentei resumir toda essa arenga em uma
singela animação. Dê uma olhada e veja se eu cometi
algum equívoco. Se você não concordar, sugestão:
mentalmente crie uma para você. Isso é muito bom. Sacode
os neurônios.