A ENCOMENDAÇÃO
(Não quero reza nem panela)

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

 

No Velório do Brederodes

 

 

O macróbio foi comer capim pela raiz com um sorriso nos lábios. O padre, ao encomendar o corpo, deu início ao seu panegírico da seguinte forma:


O finado, que Deus o tenha na Santa Glória, era um trabalhador incansável, um admirador do Presidente Lula, um ótimo marido, um excelente cristão, um pai exemplar!


A viúva, assombrada, virou-se para o filho mais velho e cochichou ao seu órgão de audição:


Brederodinho, esse padre aí deve estar bêbado! Vá até o caixão e confirme se é mesmo o seu pai que tá horizontalizado lá dentro.

 

 

 

 

 

A verruguenta arquitetando sua panela
(com o som ligado, aponte o mouse para ela)

 

 

 

 

Quando minh'alma se render,

quero o Francis Albert Sinatra

soltando My Way pela goela.

 

 

Morrer, para mim, é Renascer,

e não serei chorado em capela.

Morrer não é só  ,

e muito menos esticar a canela!

 

 

Sei que não vou fenecer,

pois não vivi na descautela;

o tiro não sairá pela culatra,

pois não enriquei de ficela.

 

 

Vou esgravatar e percorrer

a Láctea luminosa e bela.

Não fui homem de mofatra

e nem de 'closar'1 a janela.

 

 

 

 

 

Lá vou eu! Quer vir comigo?
Então, ouça o Deus do seu Coração!

 

 

 

 

_____

Nota:

1. O sorridente senhor George Walker Bush, 43º presidente dos Estados Unidos da América, viveu, provavelmente sem saber, os últimos oito anos de janela fechada. Daí a crise! Por isto, criei o neologismo 'closar'. Como não desejo ver você tomar uma bucha, informo: 'closar' = fechar. Por outro lado, acho que valeria a pena dar uma conferida na obra As Profecias do Papa João XXIII (A História da Humanidade de 1935 a 2033), de Pier Capri, tradução de Rolando Roque da Silva, DIFEL - Difusão Editorial S. A. No Rio de Janeiro, o endereço que possuo é: Avenida Passos, 122, 11º andar. Em São Paulo, o endereço é: Rua Marquês de Itu, 79.

Há alguns anos, escrevi o trabalho Aonde Iremos Parar? (A Profecia do Papa João XXIII e o Suplício de Nicholas Berg). Se você quiser dar uma espiada, os endereços para consulta são:

http://svmmvmbonvm.org/
nickberg.htm

http://paxprofundis.org/
livros/aondeiremosparar/aondeiremosparar.html

 

Fundo musical:

Fita Amarela (Noel Rosa)

Fonte:

http://www.geocities.com/
locbelvedere/Musicas/Fitaamarela.htm

 

 

Fita Amarela

 

 

Quando eu morrer,

não quero choro nem vela;

quero uma fita amarela

gravada com o nome dela.

 

Se existe alma,

se há outra encarnação,

eu queria que a mulata

sapateasse no meu caixão.

(Oi, sapateia! Oi, sapateia!)

 

Não quero flores

nem coroa com espinho,

só quero choro de flauta

com violão e cavaquinho.

 

Estou contente,

consolado por saber,

que as morenas tão formosas

a Terra um dia vai comer.

 

Não tenho herdeiros,

não possuo um só vintém;

eu vivi devendo a todos,

mas não paguei nada a ninguém.

 

Meus inimigos

– que hoje falam mal de mim –

vão dizer que nunca viram

uma pessoa tão boa assim.

 

Quero que o Sol

não visite o meu caixão,

para a minha pobre alma

não morrer de insolação.