A
velhinha alçava a cruz…
Agonizava o Monteiro.
Ela dizia: — Jesus!
Ele dizia: — Dinheiro...
Havia
uma baleia encalhada em uma praia do Rio de Janeiro. Toda a gente se reúne,
olha, discute o que fazer etc. Emílio cutuca a baleia com sua bengala
e diz: — Abalei-a.
Era
costume, naquela época, que os bares oferecessem selos para substituir
as moedas de troco (como hoje fazem com balas). Certo dia, a moça
da caixa de um bar pergunta se Emílio aceita os selos, e ele recusa.
A moça, então, o acusa de ser antipático, ao que ele
responde: — Não sou nem quero sê-lo.
Foi
preciso que, humilde, Ele andasse na Terra
– Ele que era do céu, Senhor e Majestade –
Dizendo quanto amor o Amor de Deus encerra!
Nasceu aqui, qual nasce a vil Humanidade,
E o que por nós sofreu ainda hoje nos aterra.
Porém do Deus Terror fez Ele o Deus Piedade!
A
Gazeta da Tarde manifestou, ontem, a esperança de que, 'desta vez,
o conselheiro Rosa e Silva tem de lutar'. A Gazeta é danada para
ter esperanças! Pois não está ela vendo logo que este
negócio de lutar não é coisa que se aprenda no 'monde
où sans s´amuse'? Telegrama que chegou tarde para ser incluído
na seção respectiva:
'Lisboa, 3 - Houve, hoje, um combate
terrível no largo do Rocio. O rei D. José desceu, afinal,
de seu cavalo de bronze, pôs-se à testa dos portugueses monarquistas
do Rio de Janeiro e, apoiado pela esquadra comandada pelo infante d. Henrique,
desceu do seu nicho dos Jerônimos, reduziu o Teófilo Braga
mais o Beernardino a bife de cebolada. Estamos esperando o Alberto Estanislau
e o Eugênio da Silveira para tomarem o Governo. Pode incluir este
no serviço especialíssimo do Jornal do Brasil e do Correio
da Manhã. Quem duvidar da verdade dele, venha cá ver.
Ao ler a notícia da retirada
iminente do almirante Marques de Leão de pasta da Marinha, um deputado
que estava muito entusiasmado com o relatório, saiu-se com esta:
— É tal qual aquele general, que, à face do inimigo,
gritava às tropas: 'Preparemo-nos... e marchem!'
Ouvimos
dizer – e damos a notícia com todas as reservas – que
o Senado está disposto a dar andamento aos códigos que lá
estão há muitos anos aguardando parecer. Por mais incrível
que seja a notícia, ela terá algum fundamento, porque alguns
senadores descobriram que o Senado foi inventado para legislar. E parece
que têm razão.
O
sr. dr. chefe de Polícia recebeu ontem muitos parabéns por
ter ficado resolvido, no despacho coletivo, que a reforma da polícia
talvez venha a ser assinada um dia. E se não for assinada algum dia,
não quer dizer nada – será mais tarde.
Cartaz
de ontem, na porta de uma redação: 'O sr. senador... não
comparecerá hoje ao Senado.' Se começam a noticiar tudo que
não vai acontecer, vão ter um noticiário supimpa!
A
Comissão de Agricultura da Câmara propõe que se dê
a garantia de juros de 5 % ao ano a quem se propuser a explorar a borracha
do Amazonas. Eu sei de uma pessoa que faz isto muito mais barato. Não
quer saber de garantia nenhuma: pede só que se lhe dê... um
seringal.
Uma
esmola para o Pedro Sem, que já teve e hoje não tem!
A
propriedade vale mais do que a vida. Prova: os automóveis matam todos
os dias gente nesta Cidade e ninguém se queixa à polícia!
O
Correio da Manhã deu-nos, ontem, uma notícia gravíssima.
Afirmou que 'o céu é civilista'. Ora, toda a gente sabe que
o sr. arcebispo é hermista!2E
agora? Como é que se vai deslindar esta... esta... esta encrenca!
O
analfabetismo nos flagela e os que sabem ler não o fazem.
Homem,
tenha, ao menos estilo! Chame o paredro,3
que também parece desaforo e é português lídimo!
Banqueiros
na praia:
O Filho — Sabes, papai? A maré
baixa...
O Pai (muito distraído) — Pois compre, compre...
Aborrecidos
com os nossos furos sobre a peste bubônica, alguns colegas estão
muito interessados em sustentar que não há nada e vai tudo
bem, muito obrigado. É o caso do saloio:4
— Com que, então, tudo
em paz? Todos de casa iam passando bem?
— Perfeitamente. Apenas a casa ardeu toda há dias, com um incêndio.
— Que me diz?
— Ah! Esquecia-me. E, além do incêndio, morreu a sra.
sua mãe. Mas, tirando tudo, vai tudo muito bem.
— Então a minha mãe morreu no incêndio?
— Não senhor. Morreu do coração, quando soube
que o senhor seu irmão tinha sido assassinado no mesmo dia do incêndio.
Fora isso, vai tudo muito bem.
Se
a polícia abriu rigorosíssimo inquérito, se logo no
momento do crime ela prendeu o criminoso, que querem mais que ela faça
com criminosos tão inconscientes que não respeitam as autoridades
constituídas e fogem das suas mãos?
Dão-se
tiros de revólver. Chegam os repórteres.
O repórter:
— Que houve aqui?
O policial: —
Nada. Uns tirozinhos à-toa...
O
repórter: — Mas
vocês prenderam?
O policial: —
Sim, decerto. Prendemos este revólver.
Queixam-se
os norte-americanos de que as 'demoiselles', que concorrem com os homens
nos empregos, pensam mais no casamento do que no trabalho. Não é
tanto assim: um olho na missa; outro no padre.
Água
fria e conselho só se dão a quem pede.
Título
de uma notícia de ontem: Caiu a Bastilha e o delegado fica. É
exato. O delegado ficou, não só depois de ter caído
a Bastilha, mas, e antes disso, depois de ter havido o dilúvio, e
sido criado o mundo em seis dias, além de fatos menores.
LISBOA,
17 — Na sessão de hoje da Assembléia Constituinte, foi
aprovada por grande maioria a eliminação de alguns artigos
da Constituição, ainda não discutidos, considerados
inúteis.
O
Positivismo5
é uma grande doutrina: para os grandes erros, tem grandes remédios.
Clotilde
de Vaux |
Auguste
Comte |
A
Inglaterra faz parede6
e a Alemanha procura aproveitar-se para fazer guerra, em vez de fazer outra
parede – a da guerra. Duro com duro não faz bom muro.
O
casse-tête está servindo, na Praça Onze de Junho, para
os guardas civis acordarem os pretos velhos que ressonam, atirados pelos
bancos. Nem ao menos podem exclamar: 'Valha-nos São Benedito!'
Em
Lisboa, festejou-se a eleição do presidente com uma parada
militar. Mas a República Portuguesa ainda está muito atrasada:
não houve ponto facultativo.
Dizem
que a História registra diariamente fatos interessantes no que diz
respeito às crenças de cada um. Ahn! Palavra que não
sabia que a História fizesse semelhante asneira.
Não
faltam conferências. E, ainda por cima, todo o mundo, mais ou menos,
conferencia.
Um
marido, abandonado pela mulher, depois de em vão tentar uma reconciliação,
esfaqueia-a em plena rua. E se houvesse a reconciliação?
Ontem
veio o mundo abaixo. Sabeis por quê, cidadãos? Nem eu.
O
Código Civil deu lugar, no Senado, a uma troca de explicações...
Muito civil!
Um
cronista da Gazeta, falando da zona do vício e do crime, do bordel
ao ar livre em frente do Passeio Público: 'Nós estávamos
em uma pequena mesinha do fundo. Pelas demais mesas havia grupos de rapazes
bêbados a fazer alarido. E as mulheres – polacas gordas de rostos
cheios, francesas de talhe esbelto e pé pequeno...' Não eram
francesas; deviam ser chinesas.
Quando
a esmola é muita, o pobre desconfia.
Houve
uma época, principalmente no início do século
XX, que os mais ilustres literatos brasileiros publicavam nas
revistas e jornais de maior circulação oportunos
trocadilhos, que se tornaram uma febre na nossa literatura.
O
trocadilho nada mais é do que um jogo de palavras que apresentam
sons semelhantes ou iguais, mas que possuem significados diferentes,
de que resultam equívocos por vezes engraçados.
Havia,
no Rio de Janeiro, um quarteirão somente de bares e restaurantes
famosos chamado Galeria Cruzeiro, localizado entre a Avenida Rio
Branco e o Largo da Carioca. Os bares mais freqüentados eram
o da Brahma, o Nacional (em posição oposta) e o Imperador.
A nata da literatura se reunia mais no bar da Brahma, onde havia
um cidadão alto, forte, pele e cabelos de índio, que
tinha como ofício incentivar o consumo do chope – conhecido
pelos freqüentadores como o puxador de chope.
Conta-se que, uma tarde,
estavam por lá o poeta e jornalista Paula Ney e Emílio
de Meneses, e a pilha das bolachas de chope só fazia aumentar.
Então, propuseram entre si um concurso de trocadilhos, de
tal sorte que o que fizesse o melhor, a critério deles próprios,
estaria isento de pagar pilha das bolachas.
Graças
ao seu oportunismo, Paula Ney saiu na frente, apresentando logo
o seu trocadilho, eis que descia de um bonde um casal, os dois super
elegantes – o cavalheiro de terno de linho inglês, S
120, sapatos duas cores, portando uma linda bengala (exigência
da moda) de braços com sua linda esposa, grávida,
talvez, de sete ou oito meses, apresentando uma expressiva e simpática
barriga. Disse o imortal poeta: — Ali
vai uma bem galada!
Praticamente pouco restara
a Emílio de Meneses, quando ele vê descer de outro
bonde uma alegre moça, totalmente maquilada com os artifícios
usados na época – pó-de-arroz, rouge
berrante, bâton excessivo contornando a boca –
vestido nos joelhos, pouco comum, somente usado por 'determinadas
criaturas', com um menino de seus oito anos, tendo em sua mão
direita um pequena bengala, rara de ser encontrada porque era importada
da França. Emílio de Menezes não perdeu tempo:
— Aí
vem uma bengalinha!
Paula Ney logo se deu por
vencido e concordou que Emílio fora o vencedor no desafio
dos trocadilhos, e teve de enfrentar a conta do chope.
Texto
editado da fonte:
http://recantodasletras.com.br/frases/1567313
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Alma!,
já que não é mister que ansiosa gemas,
Alma!, fecunda enfim nas lágrimas que verto,
Possas tu germinar e florescer em poemas!
Deves
sempre seguir o fatídico exemplo:
Para que o mundo vil possa um dia adorar-te
É preciso enxotar os vendilhões do Templo.
De
uma vida sem fé ao glacial inverno
Furtei-me sacudindo o gelo da descrença.
Aquece-me outra vez este calor interno,
Anima-me outra vez uma alegria intensa.
Sobe
do chão o olhar, baixa-o das nuvens belas
E volve-o dentro em ti, pois fora o tens imerso
Na própria irradiação das tuas próprias mazelas.
Passam-se
as horas todas, dentro, apenas,
De um pequenino e colossal minuto.
De um minuto que encerra, hora por hora,
O Tempo imperecível e imortal.
Nem ouço a voz de minhas próprias penas
Só do Supremo Bem os sons escuto!
Vibra dentro em meu seio a eterna aurora,
Na glória deste dia de Natal!
Eu,
porém, só te vejo como outrora.
É que a velhice a recordar me incita:
Sou tarde. És meio-dia. Eu lembro a aurora...
Nobres
recordações, certezas, esperanças.
Pouco
importa as lutas os tormentos,
Os desenganos e os grandes desalentos
que tu tens ainda que sofrer...
Pois, em meio dos teus abatimentos,
Deus te segreda pela voz dos ventos:
— Algum dia, com certeza, hás de vencer!
Maldito
seja todo o anonimato!
Seja maldita a máscara que encobre
O rosto que de uma alma é o fiel retrato!
Bendito seja pois o anonimato
Da máscara que assim teu rosto encobre
No sagrado pudor e no recato...
Estou
morrendo às prestações!