ROBERT E. DANIELS
(Pensamentos e Reflexões)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Introdução
e
Objetivo do Trabalho

 

 

 

 

 

 

 

 

A Ordem Rosacruz – AMORC – é uma organização internacional não-sectária, de caráter místico-filosófico, constituída de homens e mulheres voltados à investigação, ao estudo e à aplicação prática e consciente das Leis Naturais e Espirituais. A AMORC tem por missão despertar o potencial interior do ser humano auxiliando-o em seu desenvolvimento, em espírito de fraternidade e respeitando a liberdade individual dentro da antiga e tradicional cultura Rosacruz. O propósito bussolar da Ordem Rosacruz é capacitar a todos o viver em harmonia com as forças cósmicas criativas e construtivas, para que possam ser alcançadas, conjuntamente, compreensão, saúde, felicidade, liberdade e paz. Para que este objetivo seja atingido, a Ordem oferece um sistema comprovadamente efetivo de instrução e orientação para que seja alcançado o autoconhecimento e a compreensão dos processos que determinam a existência e a manifestação da Vida. Esta profunda e prática Sabedoria, preservada e desenvolvida através dos milênios pelas Escolas de Mistérios Esotéricos, está à disposição de qualquer ser-no-mundo sincero, de mente aberta e de motivação positiva e construtiva. A AMORC não vende seus ensinamentos; oferece-os gratuitamente aos seus membros ativos juntamente com diversos outros benefícios.

 

A revista O Rosacruz é uma publicação (presentemente trimestral) da Jurisdição de Língua Portuguesa da AMORC, atualmente sob coordenação e supervisão do Grande Mestre Charles Vega Parucker, FRC. Seus textos não apresentam a palavra oficial da Ordem, salvo quando indicado explicitamente neste sentido e o conteúdo dos artigos nela divulgados representa tão-só o pensamento de seus autores. Os temas, normalmente, estão relacionados com os estudos e as práticas Rosacruzes, bem como com o misticismo, a arte e a ciência em geral.

 

Foi nesta revista – O Rosacruz – que o Místico Rosacruz Robert E. Daniels, FRC,1 (1929 – 2006), que foi admitido na Ordem em 1951, durante muitos anos, publicou diversos artigos manifestando suas convicções e reflexões místicas. Neste sentido, elaborei este despretensioso trabalho, garimpando em algumas dessas publicações Rosacruzes alguns fragmentos do pensamento do Frater Daniels que possam ser úteis e inspiradores para todos, Rosacruzes ou não. Em alguns excertos, fiz pequenas edições para ajustá-los a este tipo de texto, mas não adulterei o pensamento do Frater Daniels, pois o que ele escreveu representa o mais puro pensamento Rosacruz, e remendá-los ou retificá-los seria, no mínimo, uma heresia apostática.

 

Para os Rosacruzes da AMORC, nada mais tenho a acrescentar; mas se esta modesta contribuição estimular os que ainda não conhecem o programa de instrução da AMORC a se interessarem por conhecê-lo, este estudo bem cumpriu sua missão. A Página Principal da Ordem Rosacruz – Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa – é:

http://www.amorc.org.br/

 

 

 

 

.'. Ad Rosam Per Crucem .'.
.'. Ad Crucem Per Rosam .'.

 

 

 

 

Pensamentos e Reflexões
de
Robert E. Daniels

 

 

 

O viver em harmonia com o Cósmico requer mais do que simplesmente meditar por alguns minutos, todos os dias, e ler literatura mística. Implica em levarmos uma vida mística, vivendo segundo as condições que ela de nós exige. Estas condições consistem em que devemos nos tornar tão tolerantes como o Cósmico, tão mentalmente abertos como o Cósmico, tão amorosos como o Cósmico, e igualmente abrangentes ou universais em nossos pensamentos e conduta.

 

Se em nossos pensamentos e em nossa conduta somos preconceituosos, egoístas, invejosos, ciumentos ou dados ao ódio, nenhuma harmonia com o Cósmico pode existir, mesmo que nos entreguemos a estes sentimentos inarmônicos apenas ocasionalmente. O ritmo central do nosso viver diário deve ser bondoso, amoroso e generoso, cheio de nobre exaltação e compreensão solidária.

 

O contato com o Eu Interior pode surpreender e mesmo contrariar muitas das idéias que mantemos no momento sobre nossa vida ou assuntos específicos. O elevado padrão ético de conduta que ele nos infundirá poderá desapontar muitas pessoas. É por isso que muitos abandonam a prática mística da meditação, pois ela nem sempre justifica o que pensamos ser certo e bom para nós e para os outros.

 

Devemos nos colocar em meditação apenas poucos minutos, uma ou duas vezes no dia, se possível. Períodos mais longos não aumentam a eficácia da meditação. O que importa não é a quantidade, mas a qualidade de nossa experiência.2

 

Ao harmonizarmos nossa consciência, por meio da meditação, com a Divina Consciência Universal em nosso âmago, permitiremos que as Forças Espirituais guiem nossa vida e nossas atividades. Então, o Amor – a Lei que torna todas as coisas possíveis permitirá que entendamos nossas ocasionais tribulações como um aspecto do divino desabrochar que está ocorrendo em nosso interior.

 

O fardo da vida freqüentemente nos oprime duramente, destruindo a harmonia e a paz de nossa mente ou consciência, trazendo ansiedade, preocupação e, às vezes, desespero. Essas tribulações, embora difíceis de suportar, são muitas vezes necessárias, visto que em nosso desejo de coisas importantes na vida, causamos uma reação interior. A tribulação parece um contratempo, mas na realidade constitui uma oportunidade de aprendermos uma lição importante e removermos um obstáculo à consecução que desejamos.

 

Estamos tão acostumados a culpar outras pessoas das nossas dificuldades, de nossos problemas, que não percebemos que o nosso Carma pessoal está nos ensinando uma valiosa lição, necessária no momento. Se conseguirmos enxergar para além de nossa frustração, veremos a sabedoria do Cósmico atuando em nosso favor, ainda que estejamos feridos.

 

O progresso, em grande parte, só ocorre em reação a obstáculos... É verdade que grande progresso e benefício advêm de irradiarmos as qualidades positivas de amor, bondade, compaixão e boa vontade para com todos. Mas, é ao reconhecermos, compreendermos e superarmos os aspectos negativos de nossa personalidade que mais progredimos.

 

Todo pensamento, ação e experiência têm seu efeito sobre nós, determinando, de algum modo, uma parcela do nosso futuro e do nosso desenvolvimento mental e psíquico... É o que pensamos e a maneira como pensamos que determinam o que somos e o que viremos a ser.

 

O Cósmico tende para a segurança individual, para a confiança perfeita e para amor universal... Embora pareça estar ocorrendo um declínio nos aspectos materiais da vida humana, ele é um necessário prelúdio para um novo alvorecer, que haverá de se manifestar para a espécie humana.

 

 

 

 

Do ponto de vista Rosacruz, Misticismo é 'apreensão íntima e direta Deus ou do Cósmico, através do Eu Interior, isto é, pelo campo do subconsciente. O ideal do misticismo é a consecução final da união consciente com o Absoluto ou o Cósmico. O Misticismo ensina as Leis e os Princípios Cósmicos pelos quais o homem é levado a uma consciência mais íntima de seu Poder Divino.'3

 

Quando decidirmos fazer o esforço necessário para nos expressar e doar altruisticamente, a Estrada para o Despertar Espiritual será aberta a nossa frente. É então que advirão experiências que nos virão inspirar, enobrecer e preparar pra um Serviço maior.4

 

Só quando aprendermos a pensar em termos universais e nos considerarmos partes de um Grande Todo é que o crescimento e o desenvolvimento verdadeiros – rumo a uma sociedade melhor – terão lugar.

 

A Sabedoria do Cósmico habita a consciência interior de cada um de nós. Quando estudamos e praticamos os Princípios e as Leis que libertam o Eu Interior e desenvolvem nossa consciência psíquica, tornamo-nos mais intimamente harmonizados com a Consciência Universal, que nos propicia uma compreensão iluminada e uma capacidade de serviço útil a muitos.

 

Do ponto de vista Rosacruz, Conhecimento Esotérico é aquele que estimula uma simpática e harmoniosa sensibilidade interior, proporcionando a íntima convicção da veracidade da informação recebida...5 Conhecimento Esotérico é um discernimento superior, ou seja, é a Sabedoria superior do Cósmico que está sempre presente e pronta para nos inspirar e orientar... Ao nos tornarmos canais dos desígnios cósmicos, pelo desejo de prestar Serviço, poderemos receber Conhecimento Esotérico da mais sublime fonte de contato cósmico – desde que estejamos em condições de transmitir esse Conhecimento e empregá-Lo em alguma obra útil... Não podemos contar com a inspiração do Cósmico meramente para que ela permaneça [egoisticamente] no âmbito da nossa própria consciência.

 

Quando tivermos firmado nosso Coração no desenvolvimento interior, seremos assediados por adversidades e problemas... Devemos ter consciência de que as forças adversas procurarão obstruir nosso progresso... A mais alta evolução da consciência requer que nos destaquemos da multidão de modo a poder ascender, e a coragem espiritual é a qualidade que torna isto possível.

 

O desenvolvimento místico proporciona os recursos e as técnicas para o aumento da capacidade de todas as áreas de consciência, desde a consciência física até a superna e onisciente Consciência Cósmica.

 

É apenas natural, em nossa evolução espiritual, que façamos uma pausa, de tempos em tempos, para cristalizar o conhecimento que possamos ter adquirido e estabelecer a valia nosso progresso e sua utilidade para nós mesmos e para os outros. É durante esses momentos que poderemos sentir dúvidas e reservas quanto ao valor e à finalidade daquilo que tenhamos realizado ou à falta de progresso que por vezes sentimos. Essas pausas na Senda são necessárias. Não podemos ser sempre levados pela mão à mais alta consecução da vida, mas, devemos avaliar nossas próprias força e fraqueza interiores, a fim de dar início a uma nova espiral de progresso para uma meta que nem sempre podemos divisar.

 

A vida é um desafio permanente para pensarmos e fazermos o melhor que saibamos [e pudermos] ao enfrentarmos qualquer situação, e o nosso grau de sucesso determina se nos tornamos um pouco mais sábios em lidarmos com as circunstâncias difíceis. Naturalmente, muitas dificuldades da vida desaparecerão tão logo nossa atitude com as mesmas se modifique.

 

O aceitarmos de bom grado a adversidade – sem permitirmos que nossos pensamentos e nossas emoções se tornem negativos ao enfrentarmos críticas e acontecimentos desconfortáveis – auxilia no desenvolvimento de uma consciência superior e mais refinada.6

 

Não condeneis o discernimento de alguém apenas por diferir do vosso próprio discernimento. Não poderão ambos estar errados? [Citação de antiqüíssimo manuscrito. Apud Frater Daniels.]

 

A crítica a nós mesmos e aos outros raramente é justificada. Isto deve nos levar a ponderar seriamente sobre qualquer pensamento sobre os outros e sobre nós mesmos, antes de emitirmos nosso julgamento.7

 

Os estudos místicos mostram ao homem os atributos mais nobres e elevados da vida, capacitando-o, assim, a torná-lo verdadeiramente senhor do seu destino.8

 

Em todos os teus desejos, que a razão seja teu guia. Não deposites tuas esperanças além dos limites da probabilidade. Assim, o sucesso advirá a todos os teus empreendimentos e teu Coração não será atormentado pelo desengano. [A Ti Concedo. Apud Frater Daniels.]

 

Os verdadeiros Místicos são sempre homens e mulheres de ação; não são teoristas. Eles podem ser idealistas, porém, são verdadeiramente homens e mulheres de ação. Onde quer que seus Serviços sejam necessários, suas ações se desenrolam nos Planos Mental, Psíquico e Espiritual, bem como no Plano Material.

 

O Amor é a chave da harmonização mística. Quando verdadeiramente expressamos sentimentos de Amor, todo pensamento de egocentrismo é abandonado, de modo que o Eu Interior, mais sublime, pode ser experienciado e compreendido.

 

A Vida Mística é a busca da compreensão de tudo o que a Vida verdadeiramente significa, nos Planos Físico, Mental e Espiritual. Quando a ela nos devotamos, com profunda agudeza do espírito, apercebemo-nos da significação e da beleza de todas as coisas.9

 

 

 

 

A incoerência de assistir televisão está em que as pessoas encontram satisfação em passar horas contemplando, ociosamente, uma representação da vida ativa de outrem. [Sâr Validivar. Apud Frater Daniels.]

 

Na busca do conhecimento, devemos compreender que podemos freqüentemente aprender e compreender mais ao entrarmos em contemplação silenciosa do que através de leitura e de estudo, pois é pela contemplação que comprovamos os conhecimentos e a informação que adquirimos. A contemplação, em certo sentido, sintetiza nossos conhecimentos acumulados e os combina em um conjunto organizado... Se o conhecimento e a informação nos vêm à consciência tanto do íntimo quanto do exterior, é através do processo de contemplação que apreciamos essas impressões e lhes aplicamos nosso julgamento.

 

O desenvolvimento místico jamais foi uma prática simples e fácil, mas o domínio das técnicas de concentração, de meditação e de contemplação [que são distintas] proporcionará as mais fecundas recompensas que a vida tem a oferecer, e nos iniciará em um novo modo de pensar que transcende as experiências comuns.

 

Para os estão empenhados na Vida Mística, não pode haver negligência em relação aos padrões superiores de pensamento e de comportamento – necessários e fundamentais ao progresso e desenvolvimento do caráter místico.

 

O Ser – a parte espiritual de cada um de nós – expressa sua natureza pelos canais objetivos de comportamento mental e físico, e quanto mais desenvolvermos nosso cérebro e os aspectos mentais da consciência, maior será o campo de expressão do Eu Interior.

 

A Verdade Mística não poder comunicada a outrem. Devemos procurá-la e encontrá-la por nós mesmos, porque ela provém do interior, não do exterior.

 

A reencarnação é uma Lei do Universo, e não meramente uma doutrina religiosa... A Vida Real, para cada um de nós, começa no Cósmico. A vida na Terra é uma escola de preparação para esta Vida Real. É aqui, na Terra, que todas a Leis ou Princípios Cósmicos são cumpridos e demonstrados... Lembremo-nos, acima de tudo, de que aquilo que pensamos e fazemos hoje irá determinar [educativamente e retributivamente] o que o amanhã nos trará.

 

Somente pela pureza de pensamento e pela nobreza de propósito poderemos esperar alcançar uma consciência mais elevada. Conforme pensamos assim nos tornamos. Jamais transcenderemos nosso atual nível de consciência enquanto não eliminarmos de nossos pensamentos todas as coisas impuras da vida.

 

 

 

 

A influência mais notável que sofremos talvez se manifeste através de nossos próprios pensamentos. Pouco nos damos conta de como isto ocorre, mas o fato é que cada um dos pensamentos diários – especialmente a experiência emocional dos pensamentos – tem condicionado nosso estado de consciência e nossas perspectivas da vida.10

 

O elevado padrão ético de conduta que o Eu Interior nos infunde poderá constituir grande desapontamento para muitos. Em razão disto é que muitos abandonam a prática mística da meditação, a fim de evitar distúrbios e mal-estares em seu atual padrão de pensamento e de comportamento. Todavia, a Luz da Alma fica na expectativa de que o eu exterior, objetivo, sinta o desejo profundo de conhecer o amor e a harmonia que podem vir somente do íntimo, pois a meditação nos colocará em contato direto com a Consciência Anímica, que é Amor – Deus encarnado e vivente em nós, em nosso Coração.

 

Os principais elementos para uma meditação proveitosa são, nesta ordem, um motivo ou um desejo justo, a concentração e a relaxação.11 Pela elevação de nossa consciência e pelo desejo de sentirmos o amor, a complacência e a harmonia do Cósmico, nos tornaremos mais facilmente receptíveis à inspiração cósmica.

 

Ninguém está plenamente desperto para o significado da vida [e da Vida] enquanto não decide buscar por si mesmo.12

 

O fim supremo do conhecimento, ao ascendermos a Senda Mística, se constituirá do auxílio a da orientação que poderemos dar aos outros – que atrairemos com ímãs. Conheceremos, nessa doação, umas maiores satisfações da vida.

 

O conceito místico de Divindade Interior foi apreendido pelos Místicos há milhares de anos. No entanto, a maioria das pessoas insiste em pensar e em admitir um Criador de todas as coisas como um Ser externo ou como uma Força externa que existe no Universo. É verdade que Deus está presente em todas as coisas e em todas as partes do Universo, porém, nossa apreensão deste mesmo Deus é uma experiência interior por uma ascensão da consciência.13

 

O Rosa+Cruz procura se integrar a tal ponto à Consciência de Deus que acaba por manifestar grandes poderes criativos a Serviço da Humanidade. É a isto que levam os ensinamentos Rosa+Cruzes, e, graças a uma atitude sincera e dedicada, o eu exterior é como que, mais ou menos, colocado de lado, para permitir que o Eu Interior ganhe predominância e ponha em ação os poderes espirituais.13a

 

Que a Luz do Cósmico esteja sempre em cada um de nós, e que a irradiação de um Coração bondoso possa fluir do nosso ser para toda a Humanidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma Palavra Final

 

 

 

 

Não importa se o ser-no-mundo crê ou se não crê, até porque crer por crer, fideística e genuflexivamente, é, no mínimo, uma puerilidade infrutífera, estéril e infecunda. Não importa se o ser-no-mundo é ou não é membro de uma organização mística ou iniciática. Não importa também se o ser-no-mundo considera a atividade espiritual humana um mero efeito ou epifenômeno da organização material do organismo, do sistema nervoso ou do cérebro, e se o Universo é um mero sistema complexo de substâncias físicas organizadas de acordo com leis mecanicistas de causa e efeito, como pensaram, por exemplo, o filosófo e enciclopedista alemão Paul-Henri Thiry (Barão de Holbach, 1723–1789) – nascido Paul Heinrich Dietrich – e o médico e filósofo francês Julien Offray de La Mettrie (1709–1751), este um dos fundadores da ciência cognitiva, ou seja, ciência que envolve o estudo científico da mente e da inteligência. Nada disso realmente importa.

 

Então o que importa? Importam, sobremodo e exclusivamente, a sinceridade e o mérito de cada um. Religioso ou não-religioso, iniciado ou não-iniciado, gnóstico ou agnóstico, estou convencido de que o Deus potencial interior em cada Coração falará se for convidado a falar. Todavia, enquanto prevalecer o fiat voluntas mea (faça-se a minha vontade) ao invés do Fiat Voluntas Tua (Faça-se a Tua Vontade), esse mesmo Deus potencial interior permanecerá dorminhocamente surdo e mudo. E isto é, sem exceção, para todos: religiosos, não-religiosos, iniciados, não-iniciados, gnósticos, agnósticos, intraterrestres, extraterrestres et cetera.

 

Infelizmente, por outro lado, há aqueles que se sentem privilegiados por este ou por aquele motivo, salvos, por assim dizer, vaidosa e presuntivamente a priori. Estes estão mesmo mais por fora do que surdo em bingo, do que cego em tiroteio ou do que umbigo de vedete de teatro de revista.

 

 

 

 

PAX PROFUNDIS

 

 

 

 

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Notas:

1. No dia 1º de setembro de 1977, o Frater Robert E. Daniels assumiu o importante cargo de Grande Mestre da AMORC para os países de idioma inglês e espanhol. Sua folha de serviços na Ordem cobriu várias posições administrativas, começando, em 1963, com a supervisão do Departamento de Finanças, Coordenação, Expedição e Difusão. Mais tarde, foi transferido para o Reino Unido para dirigir o Escritório Administrativo lá existente. Em 1968, foi chamado de volta a San Jose para servir como Grande Tesoureiro.

Nota editada da fonte: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XX, nº 1, out., 1977.

2. E não há necessidade de se fechar os olhos para meditar; há necessidade, sim, de nos abstrairmos do mundo exterior, objetivo, e permitir, seja lá como for, que a Voz inaudível do Deus de Nossos Corações possa falar livremente.

3. E quando isto acontece, para um e para todos, o ser-no-mundo percebe que não há exterior nem interior, que não há em cima nem embaixo, que não há outro nem mesmo, que não há singular nem plural, que não há nem mesmo deuses sagrados ou deuses sobrenaturais. Realiza a Unidade e compreende que só há um Deus – o Deus de seu Coração – e que tudo é Um no seio do Desde–Sempre–Todo–Ad Æternum Unum. A coisa é exatamente como escreveu o Frater Daniels em A Natureza de Deus (que eu editei ligeiramente): Tentar sentir a presença de Deus como um exercício mental poderá ser muito desapontador, pois muitos ainda não aprenderam a expressar o Amor Divino latente em seus Corações, e que apenas espera liberação e reconhecimento. Recentemente, em um texto que publiquei, fiz um comentário que copio aqui: queiramos nós ou não queiramos nós, somos todos Um! Haveremos de encarnar e de desencarnar até criarmos calo na bunda e quantas vezes forem necessárias para aprendermos esta lição. Ou, em outras palavras: precisamos aprender e permitir que o Amor Divino latente em nossos Corações de apenas latente e rebuçado se torne manifesto e se esparrame.

 

 

Somos Todos Um

 

 

4. Alfred M. Martin, citado pelo Frater Daniels no texto O Futuro da Humanidade, afirmou: O supremo valor da vida não está na riqueza, nem no conforto, nem na fama, nem na felicidade, e, sim, no Serviço. Nada finalmente conta, exceto o Serviço; e isto sempre conta. E o Frater Daniels, no texto Procurar Dar; Não Condenar, recordou: O Serviço sempre foi o núcleo do ideal Rosacruz. E no texto Como Atrair Sucesso, escreveu: O sucesso no mundo haverá de ser uma real preparação para o Serviço a outros.

5. Aqui cabe o seguinte comentário: se duas pessoas recebem a mesma informação esotérica, e na primeira a informação produz uma simpática e harmoniosa sensibilidade interior e na segunda a mesma informação causa mal-estar e repulsa, a informação, por isso, não deixa de ser esotérica; só que não fez ou teve efeito esotérico sobre a segunda pessoa. Por isto e por outros motivos, o ensinamento de Jesus citado no Evangelho de São Mateus VII, 6 – Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para que não suceda que eles as calquem com os seus pés e que, voltando-se contra vós, vos dilacerem! – é tão atual hoje como era há dois mil anos. Na realidade, garrula quem não sabe; quem sabe não garrula. E se um Iniciado fala, fala se deve e se pode, fala quando deve e quando pode, e fala para quem deve e pode ouvir. Daí, o Axioma Zoroastriano: SABER, QUERER, OUSAR, CALAR.

6. Recentemente, recebi um e-mail da Equipe de Redação do Momento Espírita com um texto denominado Momento de Reflexão. Copio, a seguir, dois excertos deste e-mail. 1 º - Qualquer pessoa pode começar, mas apenas os ousados terminarão. (Napoleon Hill); e 2º - O que ser, como ser e quando ser é decisão individual. Mas, quando optarmos por sermos bons o dia todo, em todo lugar, com todas as pessoas, o mundo se tornará um lugar muito melhor para viver, amar e ser feliz.

7. Eu penso um pouco diferente e, por isto, prefiro refletir de outra forma: não criticar jamais, não julgar jamais.

8. Na verdade, não existe propriamente destino, entendido como uma personalização da fatalidade a que supostamente estão sujeitas todas as pessoas e todas as coisas do mundo. Nada é determinado de antemão por supostos demônios amedrontantes exteriores, por uma presumida providência conducente e existente lá ou acolá ou por leis naturais conscientemente premiadoras/retaliatórias. No Universo, não há seqüência de fatos supostamente fatais e irremediáveis predeterminados. Há, sim, seqüência de fatos como decorrência ou como conseqüência de pensamentos pensados, de palavras declaradas e de atos praticados, ou seja, as seqüências de fatos (compreendidos como benfazejos ou compreendidos como detrimentosos) estão reguladas pela Lei da Causa e do Efeito: Toda causa produz um efeito; todo efeito tem uma causa. Quando um corpo A age sobre um corpo B, este corpo B reage sobre o corpo A em mesma igualdade de módulo e direção, porém em sentido oposto. E assim, tanto quanto uma gota de chuva que cai e cria condições para que um efeito aconteça, cada um de nós é responsável pelas causas que produzir, pelos efeitos que advierem dessas mesmas causas produzidas e pelos efeitos dos efeitos (agora, então, novas causas) que possam seqüencialmente acontecer, pois a coisa não se esgota simplesmente em um efeito produzido por uma causa. Quem sabe, este último conceito seja parte da Harmonia Cósmica inconscientemente responsável pela existência relativa das Leis da Necessidade e da Retribuição. O fato é que, sem exceção, todos nós responderemos e retribuiremos educativamente por tudo o que fizermos com os nossos livres-arbítrios. A punição inexiste. O prêmio inexiste. A fortuitidade inexiste.

 

 

 

 

Lei da Causa e do Efeito

 

 

 

 

Efeitos dos Efeitos

 

 

9. Até porque – quem não sabe? – beleza e fealdade são categorias relativas.

10. Em Sobre Leitura e Livros, o filósofo alemão da corrente irracionalista Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de fevereiro 1788 – Frankfurt, 21 de setembro 1860) escreveu: Os pensadores podem ser divididos em os que primeiro pensam para si mesmos e os que, ao mesmo tempo, pensam para os outros. Bem, eu até consigo admitir que o mesmo pense primeiro em si e depois no outro; mas o que não consigo admitir é o pensar exclusivamente em si e só para si, egoisticamente, sem levar em conta o outro. Isto é uma espécie de quarta-moléstia exantematosa e espiritual da alma que deixa aquele que só pensa em si mesmo meio cinza sem perceber. De quebra, geralmente, o cara fede por todos os poros!

11. Qualquer meditação que não esteja ancorada em um motivo ou um desejo justo, isto é, que seja hipotética e egoística, só levará e produzirá desgosto, retrocesso e desarmonia. Isto está de acordo com a afirmação do Frater Daniels de que é o que pensamos e a maneira como pensamos que determinam o que somos e o que viremos a ser.

12. Isto é equivalente ao fato incontestável de que ninguém poderá nos dizer ou ensinar nada que o Deus de nosso Coração não possa fazê-lo mais concertadamente. In Corde loquitur nostro Vox Dei. Em nosso Coração fala a Voz de Deus. Este conceito místico está patentemente gravado na Página Principal da Ordem Rosacruz AMORC da Jurisdição Francesa Ancien et Mystique Ordre de la Rose-Croix – na qual está escrito: Connais-toi toi même, et tu connaîtras l'univers et les dieux. Conhece-te a ti mesmo, e tu conhecerás o Universo e os deuses.

13 e 13a. Na realidade, é um pouco mais do que isto. Na época em que o Frater Daniels e outros autores místicos escreviam e publicavam seus artigos, destinados aos Rosacruzes e ao público em geral, as coisas ainda não podiam ser ditas tão abertamente, como hoje, e os Princípios Rosacruzes, particularmente, eram ventilados publicamente com um certo ar de religiosidade e com uma certa repetição de chavões educativos e morais. Na Idade Média, os escritores utilizavam um outro método, muito mais complicado, e que, ainda hoje, de maneira geral, não foi inteiramente decodizado. Basta ler, por exemplo, Atalanta Fugiens, de Michael Maier (1568 – 1622), ou, mais recentemente, O Mistério das Catedrais (publicado em 1926) e As Mansões Filosofais (publicado em 1930), duas famosas obras de Alquimia escritas por Fulcanelli (provavelmente, 1839 – 1953) e editadas e prefaciadas por Eugène Léon Canseliet (1899 – 1982), para comprovar este fato irrefutável. O próprio conceito de Deus de nossos Corações, mais recente, não era bem explicado. O fato é que, se os temas místicos fossem tratados apenas sob a égide da Metafísica, de duas uma ou as duas: ou, por princípio e por temor, as pessoas não os aceitariam, ou, por incultura e por noite, não os entenderiam. Com o advento da Internet e com o trabalho meritório e libertador de diversas organizações, como, por exemplo, o da Ordo Svmmvm Bonvm, foi paulatinamente possível abordar os temas místicos com mais concertamento, com mais claridade e com mais efetividade, ainda que certas Leis e certos Princípios jamais possam ser ensinados ou divulgados fora das Escolas Iniciáticas. Então, quanto à esta matéria, resumidamente, pode ser dito que o Místico, primeiro, projeta e edifica o Deus de seu Coração; depois, se funde com Ele; e, em terceiro lugar, completando o Triângulo Iniciático, se torna seu próprio Deus. Daí, o seguinte Adágio Místico: Deus Homo est, que equivale a Homo est Deus. Já Protágoras de Abdera (Abdera, 480 a.C. – Sicília, 410 a.C.), tendo como base o pensamento de Heráclito de Éfeso (datas aproximadas: 540 a.C. – 470 a.C. em Éfeso, na Jônia), cunhou a frase: O homem é a medida de todas as coisas; das coisas que são, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são. Enfim, quando o ser-no-mundo tiver a coragem e a responsabilidade de assumir esta inexorabilidade mística, para tristeza e desencanto de tantos quantos abusam da ingenuidade e da boa-fé alheias, tudo será diferente. Este, efetivamente, é o primeiro passo para nos alforriarmos das injunções da Terceira Dimensão. O que virá depois? Cada um haverá de descobrir por si; mas já, então, na condição de seu próprio Mestre-Deus, liberto de crendeirices acachapantes e de genuflexões inúteis. Finalmente, não posso deixar de fazer justiça às entrelinhas que esses autores deixaram entrever aos que menos lêem e mais sentem interiormente. Observem este conceito, editado de duas frases em seqüência, do Frater Daniels: É o próprio ato de buscar o Reino de Deus [Alma Espiritual ou Buddhi] em nosso âmago [em nosso Coração] que nos põe em harmonização com o Cósmico [com o Mestre-Deus de nosso Coração]... [Fonte: O Deus de Nosso Coração, In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIII, nº 5, pp 105, jun., 1981.]

 

 

 

 


 

 

 

Bibliografia:

Daniels, Robert E. A busca individual. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXI, nº 4, pp 88-90, abr., 1979.

_____. A influência da vida mística. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXI, nº 5, pp 7-9, jun., 1979.

_____. O poder da vontade. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XX, pp 102-3, jul., 1978.

_____. A busca do conhecimento. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXII, nº 1, pp 8-10, out., 1979.

_____. A técnica rosacruz. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXII, nº 2, pp 8-10, dez., 1979.

_____. Conhecimento esotérico. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXI, nº 1, pp 7-9, out., 1978.

_____. Pensamento construtivo. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXII, nº 3, p 55-8, fev., 1980.

_____. A criação de uma vida proveitosa. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXII, nº 4, p 82, abr., 1980.

_____. A consecução de um nível superior de consciência. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXII, nº 6, pp 27-8, ago., 1980.

_____. Qual o caminho?. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIII, nº 1, pp 8-9, out., 1980.

_____. A evolução da consciência. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIII, nº 3, pp 128-9, fev., 1981.

_____. Procurar dar; não condenar. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIII, nº 4, pp 81-2, abr., 1981.

_____. O Deus de nosso Coração. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIII, nº 5, pp 105-6, jun., 1981.

_____. O futuro da humanidade. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIII, pp 128-9, ago., 1981.

_____. Reencarnação. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIV, nº 2, pp 35-7, dez., 1981.

_____. Como atrair sucesso. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIV, pp 55-5, fev., 1982.

_____. A natureza de Deus. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIV, pp 91-3, abr., 1982.

_____. Momento de decisão. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIV, nº 5, pp 108-9, jul., 1982.

_____. O ideal do caráter. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIV, nº 6, pp 128-9, ago., 1982.

_____. Harmonização com o Sanctum Celestial. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXIV, nº 5, pp 9-10, out., 1982.

_____. A Consciência Cósmica. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXV, nº 1, pp 31-2, dez., 1982.

_____. Discernimento mental. In: O Rosacruz, AMORC, Brasil, Vol. XXV, nº 4, pp 82-83, abr., 1983.

 

Páginas da Internet e Websites consultados:

http://www.rose-croix.org/

http://my.execpc.com/~aplehnen/al.htm

http://www.amorc.org.br/artigo4.htm

http://www.egrupos.net/grupo/
amorc/archivo/indice/21/msg/115/

http://www.amorc.org.br/artigo7.htm

http://www.amorc.org.br/

 

Agradecimento:

Agradeço penhoradamente ao Frater Paulo Roberto da Costa, integrante do staff administrativo da Divisão de Ensino e Instrução da Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa da AMORC, que teve a gentileza de me remeter por e-mail a fotografia do Frater Daniels e um resumo de sua biografia, cuja fonte consta da nota nº 1 deste trabalho.

 

Fundo Musical:

Rosicrucian Chant

Fonte:

http://svmmvmbonvm.org