CONTO
INICIÁTICO
UM ENCONTRO INESPERADO E INESQUECÍVEL COM UM ADEPTO MAIOR DA
ARTE SAGRADA
Rodolfo
Domenico Pizzinga
Música
de fundo: Adagio for strings
Fonte:
http://members.tripod.com/~icanseefar/webmusic.html
LIVRO I – UM DIA COMO OUTRO QUALQUER
Aquele 22 de Junho
de 2000 parecia ser um dia como outro qualquer. Pelo menos, ao acordar
naquela quinta-feira, eu pensava assim. Como tinha ido dormir muito
tarde (hábito que estava encontrando dificuldades para modificar),
acordara por volta das dez horas (para mim, alta madrugada) com uma
ligeira dor de cabeça e um transitório mau humor. Consolei-me
com o conselho bem-humorado de um amigo querido: Não se ache
horrível pela manhã, meu caro: continue a acordar ao meio-dia.
Contudo, um compromisso inadiável no Centro da Cidade impunha
que eu me apressasse. Às onze horas em ponto, refeito do mal-estar
que me incomodara ao levantar, eu já estava no escritório
do meu advogado tomando ciência dos últimos pormenores
de um Inventário no qual ele estava trabalhando para mim. Os
trâmites e as diligências vinham se arrastando há
mais ou menos dois anos e eu já estava saturado de assinar papéis,
dar emolumentos eventuais e ouvir explicações que não
entendia. Advogado gosta de explicar...
Apesar de o meu patrono, além
de amigo pessoal, possuir um caráter ilibado, aqueles encontros,
para mim, eram de amargar. Quando me livrei daquela maçante consulta
estava realmente faminto. A rima do dito popular me veio logo à
cabeça: Meio-dia, panela no fogo, barriga vazia. Então,
resolvi visitar um restaurante sui generis que eu não
freqüentava há alguns anos. Seu nome, apropriadamente, é
Boêmio e está localizado em um sobrado na Rua Santa Luzia,
no Centro da Cidade do Rio de Janeiro, bem próximo do escritório
do meu advogado. O aspecto singular desse estabelecimento é que,
de dia, funciona como restaurante natural, e, de noite, subsiste como
boate gay. Este é um dos muitos motivos do porquê
desta Cidade ser chamada de Maravilhosa! Aqui, há lugar para
todos. É um verdadeiro crisol transmutativo do percurso cristológico
para, em primeira instância, purificação e reintegração
de todos os entes que aqui habitam e convivem. Aliás, o bem-afortunado
Planeta Terra, globalmente, tem essa função. O carioca,
da gema ou não (etimologia: do tupi kari'oka —› kara'ïwa
= homem branco + oka = casa, ou seja, casa do homem branco),
generosa e normalmente, tende para o não-julgamento das preferências
e dos atos alheios. Naturalmente é bem-humorado e brincalhão
e se esforça para ser solidário e liberal. Geralmente,
tende para o descompromisso e comumente não está nem aí.
Estas últimas peculiaridades são características
particulares da personalidade de muitos cariocas; não podem ser
propriamente consideradas qualidades ou virtudes. Eu penso sinceramente
que são mesmo peculiaridades. Por outro lado, não apenas
por ser carioca, mas por outra ordem de percepção, particularmente,
não sinto nenhum distanciamento nem tenho nenhuma reserva contra
portadores da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, aviões,
atravessadores, leprosos, pivetes, descuidistas, trambiqueiros, libertinos,
prostitutas, estelionatários, entendidos, gays, ou quaisquer
outros seres humanos, geralmente condenados, marginalizados e desentendidos
pela sociedade e tidos como nocivos(?!) à segurança e
ao bem-estar coletivos. Para mim, são todos meus Irmãos
porque sei que eles estão em mim como sei que eu estou neles.
Sei que todos estão em todos. Não há dois Universos.
Nem inferno – no qual são lançados os impiedosos
– nem céu – para onde vão os piedosos. Céu
e inferno são estados ou condições vibratórias
temporárias, passageiras, pelas quais transita a personalidade-alma
em processo de reintegração rumo ao Centro da Idéia.
António de Lisboa (séc. XII – séc. XIII)
– o conhecido Santo Antônio – simbolizou esse aprendizado
pela passagem da consciência do ser por três estágios
progressivos e ascensionais: (Conticinium) Conticínio,
(Media Nox) Meia-noite e (Aurora) Aurora. Assim, eu
compreendo a todos, porque admito que, no momento propício e
no tempo adequado, todos encontrarão a vereda que conduz à
LUZ MAIOR; entretanto, apesar de amá-los e de, por isso mesmo,
não julgá-los, não os apóio. Eu seria incoerente
e irresponsável se os apoiasse. Não os apóio no
sentido de incentivá-los a permanecerem consutilizados e enredados
em seus desejos, suas cobiças e suas paixões sem auscultarem
outras alternativas; mas os apóio integralmente em meu silêncio
interior de uma forma mística e universal específica.
A VERDADEIRA ILUMINAÇÃO não pode acontecer apenas
para um ou para muitos; terá que se tornar uma realidade, ou
melhor, uma atualidade para TODOS. Sem exceção. Há
outras coisas, estas sim, indiscutível e realmente muito graves,
que me enervam e envergonham profundamente, e que a imensa maioria da
humanidade desconhece, e se e quando conhece ou dá guarida em
silêncio ou finge que não vê. Prefere não
se envolver. Quando se importa, muitas vezes se enreda por motivos sovinas,
inescrupulosos e subalternos. Freqüentemente, as motivações
são equivocadas e hipotéticas. Comissão e omissão,
igualmente e no mesmo teor, são formas de infringências
a serem oportunamente reconhecidas como tais e resgatadas no devido
tempo. Estas compensações, todavia, só acontecerão
quando forem úteis e benéficas para aqueles que devem
compreender. Antes, não. Sem me estender demais nessa matéria,
pois o exame de consciência e a confissão intestina são
atos exclusivamente pessoais, no campo da política, por exemplo,
recordar Voltaire reforça e reabastece o sentimento de cidadania,
impresso, de uma forma ou de outra, em todas as consciências.
Cedo a palavra ao filósofo: A política |nem sempre,
penso eu| tem a sua fonte antes na perversidade do que na grandeza
do espírito humano. A política, portanto, não
pode se constituir na contra-arte de se servir descaradamente dos seres
humanos. Nem de governar com o máximo de promessas com o mínimo
de realizações, como advertiu Júlio de Camargo
n’A Arte de Sofismar. Michelet, em O Povo, foi
absolutamente veraz quando registrou: Qual é a primeira parte
da política? A educação. A segunda? A educação.
E a terceira? A educação. Se a preguiça é
a mãe de todas as mazelas, a deseducação é
a madrasta. A indisciplina mental é a porta de entrada para toda
sorte de equívocos e de preconceitos. Mas, muito pior do que
a preguiça é o egoísmo. Este sim; é o grande
pai de todas as desgraças dos entes.
Refletindo sobre essas questões
fundamentais da existência, dei-me conta de que estava à
porta do Boêmio. Subi os degraus que conduzem ao interior do restaurante
e, como de costume, vi que o refeitório estava lotado. Com paciência
acabei encontrando um lugar desocupado. Durante o almoço, pude
observar que os garçons eram os mesmos da época em que
eu assomava com mais regularidade àquela simpática casa
de pasto. A comida era excelente e os preços consideravelmente
módicos. Os freqüentadores não pareciam também
ter mudado muito. A maioria era composta de pessoas de classe média
desejosas de se alimentarem bem sem terem que despender um valor elevado
por uma justa refeição. Fiquei feliz em ver que o negócio
ia bem e que o padrão dos serviços se mantinha o mesmo.
Afinal, ali ninguém estava se importando se aquele restaurante,
de noite, funcionava como boate gay. Muito menos eu. Mutatis
mutandis, lembrei-me da aventura incomum de Raymond Bernard em
Marráquexe e da Corporação dos Ladrões.
Depois, de alguns artistas, cantores e compositores nacionais e estrangeiros.
Será que alguém se importa se são gays
ou se não são? Eu sei que as pessoas comentam —
o que não deveriam fazer — mas será que, no fundo,
criticam mesmo? Se criticam, não deveriam.
Ao terminar minha refeição,
desci as escadas e, já na rua, resolvi ir à Igreja de
Santa Luzia. Há em mim uma permanente necessidade de me isolar
para escapar do burburinho citadino e para poder desfrutar um pouco
de paz interior e dialogar amorosamente com o D’ US do meu entendimento.
Fico muitas vezes a meditar no porquê de o ser humano estimar
e valorizar desproporcionadamente os bens materiais, o fausto e o seu
próprio corpo físico em detrimento de seu EU INTERIOR
IMORTAL, sacrificando covarde e diuturnamente seu compromisso primordial,
seu talento, sua honra, sua solidariedade natural, seu amor-próprio,
a consciência de seu valor intrínseco e os gérmenes
das virtudes cósmicas indecomponíveis nele desde sempre
inoculados, virtudes estas eticamente existentes por si mesmas. Em verdade,
é dever insubstituível de todos os seres humanos remodelar,
ajustar e esparramar humilde, caridosa e fraternamente as idéias
assuntíveis elevadas em proveito da coletividade. Sempre estive
convencido de que, particularmente, muitos pensam e definem cidadania
de maneira parcelar e incompleta. Gostaria de estar equivocado nessa
matéria.
Sentei-me confortavelmente
em um banco próximo à nave principal. A Igreja estava
praticamente vazia, o que facilitou meu relaxamento. Não sou
religioso no sentido estrito emprestado ao vocábulo. Mas, sinto-me
tão confortável em uma igreja quanto em qualquer outro
local de meditação ou de adoração. Entendo
que as religiões representam e tentam propagar o lado externo,
mais fácil, exotérico ou público, por assim dizer,
de PRINCÍPIOS E DE LEIS UNIVERSAIS IRREDUTÍVEIS, que perduram
perpetuamente na longa e inexistente noite (que é dia) do eviterno
e também inexistente tempo. Assim, as religiões nascem,
manifestam-se por um lapso de tempo, caem em obsolescência e,
ou desaparecem ou prosseguem existindo como fantasmas residuais anacrônicos,
tentando resistir aos impulsos atualizadores da Consciência Cósmica,
que se manifesta por intermédio Daqueles que podem. Tendo como
fato insubjugável de que a reintegração do ser
é irreversivelmente ascensional e assimptótica, acredito
que não poderá haver jamais uma religião definitiva
que satisfaça plenamente as diferentes e múltiplas aspirações
ao crescimento espiritual do ser singular e das diversas comunidades,
que funcionam como corpo coletivo da humanidade. Sempre haverá
o que aprender; sempre haverá o que ser atualizado. Aqueles que
se comprometem inabalavelmente com um modelo teológico qualquer,
coisificam (como pensaria Leonardo Coimbra) suas personalidades-almas,
impedindo-as de se apropriarem justamente de maior conhecimento e de
terem a oportunidade de ver com outros olhos e de ouvir com outros ouvidos
os múltiplos ângulos de uma mesma questão. Não
há verdade absoluta; todas as presumidas verdades devem ser contestadas
dialeticamente, pois são relativas a instantes diferenciados
da consciência em processo de reintegração permanente.
Por isso, está escrito que sentenciou Jesus: Nunca mais nasça
fruto de ti (Evangelho de Mateus, 21, 18 a 22). Certamente,
O Grande AMeN da Era Pisciana — A ROSA DE SHARON
— não repreendeu a figueira por tê-la encontrado
apenas coberta de folhas, pois, inclusive, e Ele era sabedor, não
era tempo de figos. Há, irrefragavelmente, uma admoestação
simbólica e um segredo ocultos nesse ato. Em conseqüência,
tomar ao pé da letra as sentenças figuradas contidas nos
Livros Sagrados, em que cada elemento funciona como disfarce
ou encobrimento para uma Lei Universal ou um Princípio Cósmico,
tem levado a Humanidade a cometer as maiores barbaridades e as maiores
injustiças, bem como, em acreditar em episódios que nunca
ocorreram, porque são meramente alegóricos ou metafóricos.
Também há a questão das transliterações,
das adulterações e das supressões. Mas, isto já
é outra coisa.
Entretanto, não pude
deixar de ficar entristecido ao recordar algumas adulterações,
inclusões e remoções cirúrgicas propositais
que foram impostas à humanidade, no que concerne a múltiplos
aspectos, por exemplo, do conteúdo da Sagrada Bíblia.
Por que, por exemplo, foram suprimidos cirurgicamente centenas de Evangelhos?
Por que são considerados apócrifos? Contemporaneamente,
algumas pessoas já sabem e entendem, minimamente, o porquê
de Jesus não poder ter morrido flagelado na cruz, e, também,
o porquê de não poder ter duvidado de seu PAI em sua aflitiva
hora. Na verdade, O glorificou. Talvez, um dia, fique mais clara a passagem
relativa à própria traição, que O arrastou
humilhado para que depusesse diante de Pilatus, o Grande Omisso e Covarde
da História Antiga. Contudo, talvez ele tivesse que fazer parte,
como fez, da epopéia vivenciada pelo Divino Avatar! Esta possibilidade
não pode ser afastada pelos estudantes de misticismo. Judá
Ihariotes, até hoje, tem sido considerado o bode expiatório
da quebra de fidelidade. Entretanto, a verdade dos fatos, muito provavelmente,
seja outra bem diferente! Já o milagre da ressurreição
de Lázaro, por outro ângulo, tão complexo de ser
entendido quanto as passagens anteriores, na verdade não aconteceu
tal qual está apresentado no Livro, pois o homem não estava
fisicamente morto. O fato é que, pelo SEGUNDO NASCIMENTO, Lázaro
foi elevado pelo Mestre Jesus à condição de INICIADO.
Após o RITUAL SECRETO de INICIAÇÃO, como era e
continua sendo o costume, trocou seu antropônimo. A confraria
católica o conhece sob outro nome! Neste momento voltei meu pensamento
para a afirmação: Ninguém vai ao Pai a não
ser por Meu intermédio. E refleti: como pode ser possível
que alguém possa acreditar que haja necessidade de um intermediário
(quem quer que seja) para poder comungar diretamente com o D’
US do seu próprio coração? Não teria esta
afirmação sido colocada a posteriore (por indução)
na Sagrada Bíblia com fins meramente autoritários, temporais
e mercantilistas? Ou, em outro sentido, a verbalização
deste pronunciamento tenha um significado esotérico que ultrapassa
quaisquer vínculos religiosos conhecidos? Vieram à minha
mente as guerras. Principalmente as que foram e são produzidas
em nome de deus. Ora, uma religião qualquer (isolada ou consorciada),
em qualquer tempo, que patrocine, apóie, administre e imponha
esse fratricídio abjeto e inominável, não pode
ter um relacionamento lógico ou de dependência com os PRINCÍPIOS
CÓSMICOS INCRIADOS, INALTERÁVEIS e ETERNOS, nem, muito
menos, tem o direito de se declarar representante desses PRINCÍPIOS
se propaga o conceito de que D’ US aprova, tolera e/ou sustenta
essa aberração. Os senhores das guerras, teólogos
ou leigos, consciente ou inconscientemente, estiveram e estão,
na verdade, a serviço de forças que são antagônicas
às LEIS que regulam e dão suporte à harmonia do
Universo. Não há razão de estado(!) que justifique
uma guerra. De qualquer Estado. Nada pode demonstrar que é justo
ou necessário e nada pode amparar um motivo de ordem superior
invocado por qualquer Estado para colocar seu interesse acima das necessidades
e dos interesses da humanidade. Isso é um crime repulsivo que
não admite livramento por fiança.
Enfim, acredito, firmemente,
que acontecerá o indefectível momento, no qual o ser haverá
de prescindir, definitivamente, da idéia antropomórfica
e malsã de que o VERDADEIRO D’ US possa aceitar favores
e bajulices, fazer negócios, distribuir sinecuras, apoiar enfrentamentos,
comprometer-se com indulgências (parciais ou plenárias)
e prodigalizar milagres a troco de dízimos, de mesuras, de auto-imolações,
de promessas, de benzeduras, de genuflexões hipócritas
e de rezas conjecturais fabricadas por demiurgos auto-intitulados, cujo
objetivo exclusivo e hediondo é implantar a ilusão nos
confrades que ainda não encontraram em seus corações
o D’ US ÚNICO que esteve, está e estará ad
æternum in imo corde. A consagração de uma
verdade, ainda que relativa, só pode ser avalizada pelo próprio
buscador da LUZ no SANTUÁRIO SAGRADO E INVIOLÁVEL DO SEU
CORAÇÃO. Os Iniciados gregos jamais antropomorfizaram,
por exemplo, Zeus, Poseidon, Apolo, Deméter, Atena e Afrodite.
Não os consideravam como deuses, mas símbolos que representavam
instâncias ou poderes existentes no Universo. Sabiam que a Natureza
é UMA. Ou em outros termos: NA MULTIPLICIDADE TUDO É UM.
Giordano Bruno (1548-1600) sobre esse tema escreveu: Considerando
que a matéria e a substância das coisas são indestrutíveis,
todas as partes que a compõem estão sujeitas a todas
as formas, pelo que o uno e o múltiplo se transformam no múltiplo
e no uno, se não num mesmo tempo e num único momento,
em vários tempos e momentos, em seqüência e em alternância.'
O Cristianismo Gnóstico,
portanto, veio para operar transmudações que não
eram possíveis até então. Assim, a própria
Liberdade não poderá, no futuro, continuar tutelada pelo
que quer que seja e em nome de quem quer que seja. Refletiu inspiradamente
Miguel Torga quando escreveu: Até que um dia, corajosamente,/Olhei
noutro sentido, e pude, deslumbrado,/Saborear, enfim,/O pão da
minha fome./— Liberdade, que estais em mim,/Santificado seja o
vosso nome. É esta Liberdade que está começando
a ser por todos reclamada. Não apenas no domínio das teologias;
mas em tudo que diz respeito ao pensamento, ao cumprimento das leis
e à autêntica liberdade de expressão. A festejada,
alvissareira e visível multiplicação geométrica
das ONGs é apenas um exemplo dos novos ares de mudança.
É sabido, contudo, que algumas, infelizmente, locupletam seus
cofres através de burlas e de estelionatos, operando intencionalmente
com o objetivo de obter vantagens ilegítimas para os próprios
sócios e de dar carona nesses ganhos aos parceiros conveniados.
São, mutatis mutandis, autênticas barrigas de
aluguel. A esperança está naquelas que agem filantropicamente,
criteriosamente e dentro dos limites estabelecidos na legislação
em vigor.
Em meio a essas recorrências
lucubrantes, preparei-me para orar e meditar um pouco. Como me alimentei
frugalmente, apesar de estar esfomeado ao adentrar no Boêmio,
pude me deixar ser absorvido no seio da Consciência Cósmica
e do D’ US do meu entendimento com relativa facilidade. Acho que
permaneci silente e em comunhão por mais ou menos dez minutos.
Abri, então, suavemente os olhos e me preparei para retornar
à casa, não sem antes agradecer pela dom da vida que em
mim se manifestava, e emitir um pensamento de paz e de misericórdia
para todos os meus irmãos: minerais, vegetais, animais e seres
humanos peregrinando ascensional e assintoticamente neste Planeta querido,
estação de passagem para futuras experiências e
inusitadas realizações. Não me esqueci daqueles
considerados párias. Orei principalmente por eles.
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LIVRO
II - ENCONTRO INESPERADO, INESQUECÍVEL E INICIÁTICO: AULA
MAGNA SOBRE ALQUIMIA
Quase ao chegar
ao pórtico da Igreja, percebi que, de pé, um senhor me
observava. Era um homem de aproximadamente cinqüenta e cinco anos.
Estava impecavelmente vestido. Trajava um elegante blazer azul-marinho
de lã, camisa azul clara e uma discreta gravata vermelha. A calça
pareceu-me ser cinza. Como sou meio negligente na maneira como me visto,
impressionou-me (a meu juízo) a forma requintada, mas discreta,
de como aquele senhor se apresentava. Percebi que ele olhava diretamente
para mim, exatamente em direção aos meus olhos. Tentei
desviar o olhar, mas, inexplicavelmente, não consegui. A situação
tornou-se ligeiramente embaraçosa, pois eu não sabia o
que fazer. Na realidade, quem tomou a iniciativa de falar alguma coisa
foi ele.
— Boa tarde —
disse o homem em tom amistoso e cordial.
— Boa tarde —
respondi com recíproca amabilidade.
Foi, então, que, inesperadamente,
em uma fração de segundo, senti o homem por inteiro. Para
o padrão brasileiro, era razoavelmente alto. Devia ter 1,85 m
de altura e seu rosto, adornado por uma bem tratada e esvoaçante
cabeleira grisalha, irradiava uma placidez magnética e fascinadora.
Mas seus olhos é que mais impressionavam. Eram de um incomum
azul-celeste, como a cor do céu quando está limpo e sem
nuvens, que, em alguns momentos, pareciam se transmutar em violeta-claro.
A sensação imediata que experimentei foi de que todo o
seu ser estava concentrado naqueles olhos. Recordei-me da descrição
de Raymond Bernard do seu primeiro encontro insólito com Maha
ocorrido em Lisboa. Não pude deixar de pensar a mesma coisa:
Ele tem uns olhos! Eram olhos que sabiam e possuíam um poder,
cuja força e sedução, embora invisível,
não havia como resistir. Mas, eram incrivelmente calmantes
e densamente acolhedores. Semelhantemente à Maha, segundo a descrição
de Raymond Bernard, seus outros traços fisionômicos não
despertavam interesse especial. Quem não olhasse nos olhos daquele
homem, talvez até o ignorasse. Todavia, com certeza, aquele não
era Maha.
O homem fez questão
de se apresentar: — Rodolfo, meu nome é Louis-Claude Lucel-Lafin.
Sou brasileiro, químico como você e me interesso também
pelo Magistério Sagrado. Meus amigos me tratam simplesmente por
Lucel-Lafin.
Aquilo funcionou como um soco
na boca do estômago. Senti um calor intenso subir rapidamente
pelo meu corpo. Minhas faces, devo supor, devem ter ficado vermelhas
como um tomate maduro. Como era possível que aquele desconhecido
pudesse saber o meu nome, que eu era químico e que, particularmente,
me dedicava ao estudo da Alquimia? Algumas horas depois eu compreenderia
o porquê. E ficaria eternamente grato por tê-lo encontrado
naquela tarde cinzenta de quinta-feira.
— Mas... —
não consegui terminar a frase. Lucel-Lafin interrompeu-me delicadamente
e falou: — Tenho acompanhado a sua vida há muito
tempo. Não me pergunte de que maneira nem como. Talvez você
possa fazer uma vaga idéia. De qualquer forma, tenho algo a lhe
propor.
Imobilizado pela surpresa,
só consegui murmurar um desajeitado hum, hum! Na realidade, naquelas
circunstâncias, eu poderia dizer o quê?
— Temos alguns assuntos
que devemos conversar; algo, também, que você precisa confirmar
pessoalmente — continuou o ilustre desconhecido. — Se você
aceitar o convite para ir à minha casa, acredito que não
se arrependerá. Tenho a mais inabalável convicção
— continuou Lucel-Lafin — de que sua vida mudará
inteiramente a partir deste nosso encontro. Há algo, inclusive,
que você precisa ver com os seus próprios olhos. E isto
não pode acontecer aqui.
Eu não sabia realmente
o que dizer. E aquele olhar... Mas, A VOZ em meu interior falou silenciosamente:
— Vá. Não receie. Estarei ao seu lado. Confie.
É chegado o tempo da confirmação.
Imediatamente após
ouvir A VOZ INTERIOR minha conhecida se pronunciar, respondi com uma
certa dose de ansiedade: — Aceito agradecido o convite. Estou
ao seu inteiro dispor Senhor Lucel-Lafin. — Obrigatoriamente quem
deve agradecer sou eu — falou o gentil-homem. E continuou: —
Nos dias atuais, é muito difícil alguém possuir
o mérito suficiente e o privilégio intransferível
de poder receber, o que terei, por missão, prazerosamente, de
lhe ensinar. Mas, não se esqueça: sou apenas um transmissor.
Um encaminhador. Nada pode ser passado se a hora não houver soado.
O próprio Mestre Jesus só interveio nas vidas daqueles
nas quais pôde intervir. E quando o fez, aplicou Leis e Princípios
que são desconhecidos fora das Escolas Iniciáticas Tradicionais
e Autênticas. Na verdade, nunca operou um milagre, como, geralmente,
é entendido no âmbito da Teologia Católica. Isso
eu sei que você sabe consistentemente.
Depois destas explicações
preliminares, já na calçada, Lucel-Lafin, pelo telefone
celular, ordenou ao seu motorista que nos encontrasse em frente à
Igreja. Cinco minutos depois parou um M... preto à nossa frente.
O motorista, vestido esportivamente, saiu do carro e, sem dizer uma
palavra, abriu a porta traseira esquerda. Fui convidado a entrar primeiro
e me acomodei no lado direito do automóvel. Ao meu lado sentou-se
Lucel-Lafin. Logo que o carro pôs-se em movimento, foram feitas
as apresentações. O motorista era filho do meu anfitrião
e seu nome era Pierre. Era um rapaz simpático, mas de poucas
palavras. O trânsito estava congestionado e Lucel-Lafin aproveitou
para me comunicar algumas passagens de sua vida. Era brasileiro, mas
filho de refugiados franceses que emigraram durante a Segunda Grande
Guerra. Seus pais haviam chegado ao Brasil em 1944 e ele nascera um
ano depois no Rio de Janeiro. Entretanto, fizera seus estudos superiores
em Paris. Mas foi em Toulouse que fora Iniciado na Alquimia. Naquela
mística Cidade concluiu com êxito o Magistério Filosofal
com a prematura idade de trinta e cinco anos. Era viúvo e seu
único parente vivo no Brasil era seu filho. Pierre ouvia calado
o relato que seu pai me honrava em pôr a par. Sobre a Grande Obra,
nem uma palavra. Pensei no aforismo: Da Grande Obra pouco dizer,
muito fazer, sempre calar. O carro prosseguia lentamente e o fluxo
só melhorou na Avenida Presidente Vargas. Lucel-Lafin continuava
a me contar alguns episódios de sua vida e do seu interesse pela
Química. Eu pouco falava. Evitava interrompê-lo. Se ele
estava me relatando todas aquelas coisas, algum motivo deveria ter.
Homens como aquele não falam à-toa. Enfim, chegamos à
Avenida Edson Passos e começamos a subir em direção
ao Alto da Boa Vista. Consultei o relógio e verifiquei que faltavam
vinte e cinco minutos para as três horas da tarde. Nesse instante,
Lucel-Lafin, afavelmente, virou-se para mim e me solicitou que eu cobrisse
meus olhos com uma venda negra. Pediu-me que nada receasse, e que aquela
providência era necessária para minha própria segurança.
Se eu divulgasse extemporaneamente o que haveria de assistir ainda naquele
dia, ele e seu filho correriam risco de morte. Eu próprio, segundo
ele, teria minha integridade ameaçada. Por isso, a insubstituível
necessidade de eu não ter conhecimento do local para onde estava
sendo conduzido. Depois ele me autorizaria a tornar pública minha
insólita experiência daquela quinta-feira.
Concordei com as explicações
que me foram dadas e assenti, sem nenhuma apreensão, em colocar
a venda. Deste momento em diante nada mais foi dito. O automóvel
deslizava suavemente pela estrada sinuosa que conduz ao Alto. A partir
de agora, por medida acautelatória, não me permito dar
mais nenhuma informação sobre o percurso. Apesar de vendado
e mesmo sem saber para onde estava sendo levado, poderia descrever alguma
peculiaridade do itinerário que permitisse o desvelamento da
residência de Lucel-Lafin e de seu filho. Afinal, era para lá
que eu estava sendo conduzido.
Em um dado
momento, provavelmente já distante da via principal, o carro
reduziu a velocidade, dobrou à direita e, lentamente, adentrou
por uma estrada que me pareceu ser de terra batida.
Mais
ou menos cinco minutos depois diminuiu a marcha e parou. Percebi que
Pierre saltara para abrir um portão. Pelo ruído que fez
ao abrir, admiti que só poderia ser de ferro. Já no interior
da propriedade, Lucel-Lafin autorizou-me a retirar a venda, o que fiz
prontamente. O carro deslocava-se agora vagarosamente em meio a um florido
jardim esplendidamente bonito e muito bem cuidado, cercado de belíssimas
e variadas árvores por todos os lados. Como a janela do carro
estava aberta, constatei imediatamente a inacreditável e impressionante
diferença do clima em relação ao Centro da Cidade.
Lá garoava e estava frio; aqui... Pude sentir a inaudita pureza
do ar e aproveitei para fazer um rápido exercício respiratório.
E a luminosidade daquela (agora morna) tarde de início de inverno
parecia sublime. Eu diria mesmo, de certa forma, celestial. Eu estava
sentindo uma paz interna incomum que ainda não desfrutara anteriormente.
Não daquela forma. E, todo o meu ser usufruía daquele
paraíso magnético de bem-estar e harmonia.
Lucel-Lafin
me observava discretamente sem dizer uma palavra. Pierre continuava
mudo. Desde que fomos apresentados só o ouvi dizer: — Muito
prazer. Fora educado, eu reconheço. Mas absolutamente econômico
e reservado. Isso realmente não me incomodava, pois, de relance,
também pude observar seus olhos: eram iguais ao do pai, só
que não possuíam a mesma força nem a mesma intensidade.
De qualquer forma, segundo Lucel-Lafin havia me informado, o rapaz só
tinha vinte anos. Mas, inegavelmente, aquele jovem espargia uma luz
peculiar e uma tranqüilidade pouco comum. Era indubitavelmente
uma promessa...
Um pouco mais à frente
surgiu a residência dos Lucel-Lafin. Aquela construção
não era propriamente uma residência no sentido usual do
termo. Era uma mansão monumental de três andares. À
primeira vista, parecia possuir uma enorme quantidade de quartos, tal
o grande número de janelas que podiam ser vistas do local em
que me encontrava. Não dava a impressão de ter sido construída
recentemente, mas sua estrutura edificada em forma retangular aparentava
solidez e, certamente, como o jardim, era muito bem cuidada. Fiquei
imaginando como aquela mansão poderia estar localizada ali, em
algum lugar abscôndito daquela floresta tropical do Alto da Boa
Vista, e quanto dinheiro teria sido gasto para erguê-la. Fiquei
imediatamente envergonhado desse último pensamento, totalmente
anormal em minha natureza. Acaso se justificasse um pouco pela opulência
da mansão, pensei com meus botões, obviamente para aliviar
minha consciência do pensamento indevido. De nada adiantou aquele
subterfúgio. Continuei acanhado.
Talvez tendo lido meus pensamentos,
Lucel-Lafin interessou-se em explicar: — Esta casa não
me pertence. Eu e meu filho temos a honra de administrá-la. Vamos
entrar para você conhecê-la. Enquanto nos encaminhávamos
para a grande porta de madeira à nossa frente, Pierre foi estacionar
o carro em algum lugar. Eu só tornaria a vê-lo às
22,30 horas, quando minha visita estaria encerrada. De qualquer sorte,
precisamos subir os sete degraus da escada que nos separavam da grande
porta da entrada da residência.
Ao entrar, nos encontramos
em um enorme vestíbulo que permitia ingresso ao interior da mansão.
O que eu vi no grande salão é indescritível. A
peça era extraordinariamente sóbria, mas, ao mesmo tempo,
lindíssima. Tudo parecia estar absolutamente organizado e limpo.
Continha a maior pinacoteca particular a que eu tivera acesso. Quadros,
iluminuras, aquarelas, símbolos esotéricos e alquímicos
diversos, além de esculturas e obras primorosas, enfim, eu me
encontrava em uma bizarra galeria de arte. Acaso todas aquelas peças
seriam Arquétipos Universais? Que idéia! Olfativamente
senti um aroma de incenso pairando no ar. Pelo odor, que eu conhecia
muito bem, só poderia ser de rosa musgosa.
— Por favor, acompanhe-me
— interrompeu-me amavelmente Lucel-Lafin. — Vamos nos acomodar
por algum tempo na biblioteca. Depois terei prazer em ciceronizá-lo
para que você conheça o resto da residência.
Já no interior da biblioteca,
Lucel-Lafin assentiu que eu examinasse algumas das obras lá existentes.
Os livros estavam formidavelmente organizados. Todos estavam catalogados
e eu não vi um grão de poeira em nenhum dos quais tive
o privilégio de manusear. Entretanto, desde que chegamos não
vi um empregado sequer! Foi o próprio Lucel-Lafin quem abrira
a porta principal. Havia obras em francês, inglês, alemão,
latim, hebraico e em algumas outras línguas. Originais dos mais
afamados e ilustres alquimistas estavam ali preservados para um propósito
provavelmente muito especial. Em um lugar de destaque estavam organizadas
as obras de Harvey Spencer Lewis, de Ralph Maxwell Lewis, de Platão,
de Plotino, de Raymond Bernard, de Jacob Boehme, de Robert Fludd, de
Thomas Vaughan, de John Heydon e de outros rosacruzes ilustres. Havia,
também, obras de Saint-Martin, de Papus, de Éliphas Lèvi,
de Madame Blavatsky, de Saint-Yves D’Alveydre e de Rudolf Steiner.
Fiquei impressionado com a quantidade de livros sobre misticismo, além
das obras sobre Alquimia, que aquela aconchegante biblioteca abrigava.
Lá havia também um exemplar do Grande Livro SÍMBOLOS
SECRETOS DOS ROSACRUZES DOS SÉCULOS XVI E XVII.
Depois de eu ter me deliciado
com aqueles livros por uns bons quinze minutos, Lucel-Lafin, educadamente,
interrompeu-me em meu devaneio, e convidou: — Sente-se, Rodolfo.
Atendi prontamente e me acomodei confortavelmente em uma poltrona de
couro em frente ao meu anfitrião. Ele monologou por mais ou menos
duas horas e meia. Talvez um pouco mais. Eu não disse um ai.
Na verdade, fui entronizado em uma sabedoria milenar, da qual eu pensava
que sabia alguma coisa. Fui autorizado a divulgar um resumo do que me
foi ensinado naquele inesquecível final de tarde, bem como propagar
a incrível demonstração que me fora prometida para
depois do jantar. Mas apenas três anos depois.
Antes, porém, Lucel-Lafin
deu início à sua aula magna sobre Alquimia conclamando:
— Vamos orar. — Levantou-se, ajoelhou e colocou a mão
esquerda sobre o coração e a direita sobre a esquerda.
Eu fiz o mesmo. Em silêncio e comovido ouvi o Adepto pronunciar:
— Que a Essência Divina do Universo Ilimitado e o D’US
de nossos corações, com o suplicado auxílio dos
Mestres Ascensionados e da Sagrada Hierarquia Cósmica, possam
santificar este Sagrado Momento, tornado Sagrado pelos nossos pensamentos
e pelas nossas mútuas condutas. Assim Seja. Muito emocionado
e com os olhos umidificados, acompanhei: — Assim Seja. Sentamo-nos
novamente e o resumo do que posso revelar está abaixo transcrito,
segundo meu entendimento.
O que você vai alcançar
hoje é para ser guardado no tabernáculo do seu coração.
Dispensei todos os meus auxiliares para que possamos não ser
interrompidos. Receba com humildade o que você vai ouvir e ver
e distribua adequadamente com inteligência e com parcimônia
o que achar conveniente. Tenha cuidado! As pessoas não só
rejeitam o que lhes parece inverossímil, como criticam, menoscabam
e, às vezes, tornam-se agressivas quando são contrariadas
em suas convicções. A tentativa de persuasão é
o pior dos instrumentos para disseminar a LUZ. Um método particularmente
interessante e efetivo é a combinação da refutação
com a maiêutica socrática, que você conhece. Este
método, primeiro purifica as falsas certezas; depois, pela arte
obstétrica espiritual progessiva, as personalidades-almas parturientes
alcançam fragmentos da VERDADE CÓSMICA, pois só
podem aprender de si mesmas. Se possível, use sempre este sistema,
que consiste, conforme você sabe, na multiplicação
de perguntas, de tal sorte a induzir o interlocutor à descoberta
das verdades que já existem potencialmente em seu próprio
interior e na conceituação geral de um objeto ou de uma
categoria qualquer. Quando questionado, responda com sinceridade, sem
vulgarizar o que deve ser mantido secreto. Uma navalha na mão
de uma criança certamente poderia provocar um desastre irreversível.
Evite desafiar seus interlocutores com assuntos e temas que possam desagradá-los
ou intimidá-los. Jamais obrigue as pessoas com quem você
vier a ter o prazer de conversar a adotar suas idéias. Se e quando
alguém estiver preparado para ouvir o que você tem para
ensinar, então ensine. Do contrário, fique calado. Tome
cuidado também com os que festejam seus limitados saberes místicos.
Quem realmente sabe geralmente não faz discurso. A verborréia
é própria dos que nada sabem. Registre este aspecto da
Lei: seus conhecimentos, por privilégio adquirido, são
seus e não das pessoas, em geral. Os delas, elas terão
que descobrir por si mesmas. O Conhecimento Superior não pode
ser passado daquele que sabe para aquele que não está
preparado para saber. Então, seu encargo é auxiliá-los
e guiá-los a reconhecerem as verdades relativas em suas intelectualidades
pessoais. Sempre com tolerância, com respeito e com senso de oportunidade.
Não se olvide de que nem você e nem eu poderemos jamais
ter acesso integral à VERDADE ABSOLUTA. Ninguém jamais
poderá. Por ser ABSOLUTA, esta VERDADE é regalia exclusiva
do Ancião dos Dias, a Causa sem Causa, o Primeiro Um, o Absoluto,
em uma palavra, D’US. Ainda que esse mesmo D'US esteja em seu
coração e no coração de todos os entes,
jamais poderá ser integralmente desocultado ou conhecido. E,
por último, tenha sempre em mente e não se afaste em nenhuma
oportunidade desta máxima: O Deus do seu coração
é apenas e tão-somente o Deus do seu coração,
ainda que todos os corações e D' US sejam uma só
e a mesma coisa.
Todavia, você pode e
deve divulgar o que irá aprender hoje. Espere, no mínimo,
três anos para publicar aquilo que, hoje, você vai conhecer.
O Iniciado fez uma pequena pausa, e prosseguiu. Conforme já havia
lhe comunicado esta residência não me pertence. Aliás,
em verdade, desde sempre, é um patrimônio inalienável
da Humanidade. Aqui, uma vez por ano, se reúnem VINTE E DOIS
ADEPTOS, representantes dos TREZE QUE SÃO UM, para trabalhar,
adorar e preparar o regime político que governará a futura
humanidade. Este regime é por nós designado de ARISTOCRACIA
FILOSÓFICA INTERNACIONAL, que está sendo estruturado e
será implementado e dirigido por um CONSELHO ARISTOCRÁTICO
INTERNACIONAL. A Organização das Nações
Unidas, presentemente, apesar das resistências e das variadas
desobediências à sua Carta, tem auxiliado a preparar as
consciências para o advento desta Magna Era. As Fraternidades
e as Ordens Místicas têm outra função. Contudo,
as mudanças que devem ser implementadas demandam um profundo
amadurecimento da sociedade e uma compreensão avançada
e intimorata de determinadas Leis e de alguns Princípios Cósmicos
que ainda não podem ser totalmente difundidos. Sem dúvida,
eu e você não veremos, nesta encarnação,
a implantação efetiva deste Sistema Internacional de Governo.
Acredito que você tenha entendido o que acabei de dizer. Infelizmente,
a burocracia mental reage morosamente ao novo e uma antecipação
açodada seria desastrosa e irremediavelmente contraprodutiva.
Recomendo a você, Rodolfo, que leia a obra de Bulwer Lytton, Vril,
the Power of the Coming Race (A Raça Futura que nos
suplantará).
Após me observar por
alguns segundos, continuou. Este, entretanto, não é o
único local de encontro desses abnegados e incógnitos
servidores. Há mais onze residências semelhantes a esta
instaladas em onze diferentes países deste Planeta de D’US.
Em cada residência, dadas as vibrações particulares
do país em que está localizada, um trabalho específico
é desenvolvido. Por este motivo, todas as nossas residências
possuem vinte e dois quartos ou celas, se você preferir. Uma para
cada Adepto. Aqueles que nos auxiliam na manutenção e
na conservação das residências têm acomodações
confortáveis e espaçosas em prédios ao lado das
residências, nos limites das propriedades. Meu filho, Pierre,
mora em um desses anexos desta residência, que hoje você
nos dá o prazer de visitar.
A partir deste momento, cerraram-se-lhe
suavemente os olhos, e o Adepto continuou sua dissertação
como se eu ali não estivesse. Esta situação incomum,
com pequenas pausas pedagogicamente pensadas, prolongou-se até
o encerramento do discurso. Dentre as mudanças que serão
postas em execução - continuou Lucel-Lafin -
uma delas será a distribuição generalizada dos
Frutos da GRANDE OBRA para satisfação e gáudio
de todos. As doenças, então, praticamente, terão
sido varridas da face da Terra e as injustiças de toda sorte
não mais serão praticadas. Eu me restringirei neste nosso
encontro a falar exclusivamente sobre Alquimia. De qualquer forma, o
primeiro passo já foi dado. Na noite de quinta-feira, em 22 de
junho de 1916, o Dr. Harvey Spencer Lewis, que você conhece muito
bem, fez uma demonstração pública da antiga Arte-ciência
da transmutação. Foi a primeira vez, na história
dos Estados Unidos da América, que foi realizada uma convocação
dessa natureza. O então Imperator dos Rosacruzes tomou todas
as providências necessárias, e, inclusive, convidou um
jornalista representante do New York World para testemunhar o solene
acontecimento. Naquela oportunidade, foi transmutado em ouro puríssimo
um pequeno pedaço de zinco com cerca de meia polegada de largura,
uma polegada de comprimento e 1/32 polegadas de espessura. Eu estava
impressionadíssimo com aquela revelação. Não
pelo fato em si que é público e que eu também conhecia.
Mais pelo motivo particular de Lucel-Lafin outrossim conhecê-lo.
E, coincidência ou não, hoje era também uma quinta-feira.
E mais: lembrei-me de que era 22 de junho. Coincidência?! Coisas
como aquelas que estavam acontecendo não admitem coincidências.
E eu não estava ali por acaso! Acasos, crendices e milagres são
artigos comprados pela ignorância humana. O medo e a ignorância
necessitam se alimentar dessas pobrezas.
Harvey
Spencer Lewis
Meu ilustre
anfitrião, agora recostado comodamente na poltrona irmã
gêmea da qual eu me assentara, prosseguiu. Eu sei que você
também tem conhecimento deste episódio. O que, talvez,
você, Rodolfo, não tenha ainda cogitado adequadamente,
é sobre a conjugação perfeita dos números
que envolvem a data em que o Doutor Lewis procedeu à transmutação
daquele pedacinho de zinco. Preste atenção: Primeiro,
o dia da semana escolhido foi uma quinta-feira! Este sempre foi um dia
particularmente especial desde o tempo do ILUSTRE FARAÓ AKHNATON.
Continua sendo para todos os rosacruzes. O número 5 está
associado à letra HE, que aparece duas vezes no SANTO NOME (IEVE);
este número está também ligado ao Pentagrama de
Fausto e, portanto, à palavra que representa o signo do microcosmo
T(1)E(2) — T(1)R(2)A(3) — GRAM — MA — TON, ou,
em outras palavras, a imagem mais perfeita possível da ‘criação’
neste Plano e que oculta CERTAS PALAVRAS de forma direta, de maneira
inversa e por transposição de letras, facultando ao místico-iniciado
determinadas condições espirituais inauditas. Minimamente,
compare este NOME de 14 LETRAS com o NOME do FARAÓ e procure
pesquisar a segunda possibilidade cabalística para o valor pleno
da letra hebraica IOD (IoD), a letra inicial do SANTO NOME. Segundo:
o número 22 está vinculado às vinte e duas letras
do alfabeto hebraico, aos vinte e dois Arcanos Maiores do Tarô
e aos números 231 (conforme está prescrito no Sepher Yezirah,
há duzentas e trinta e uma formações, e toda criatura
e toda palavra emanaram, [emanam e continuarão a emanar]
de um NOME) e 253 (valor secreto de 22), que se reduzem, respectivamente,
a 6 e a 1. UM = UNIDADE. TUDO É UM. O NADA NÃO EXISTE;
SE EXISTISSE ERA ALGUMA COISA E PARTE INTEGRANTE DO UM. Terceiro: junho
é o sexto mês do ano! 6 é o número obtido
da adição de 231 e é exatamente o valor oculto
da TRINDADE (1 + 2 + 3 = 6). E 6 é também o valor externo
da sexta letra do alfabeto já aludido – VAV – igualmente
presente no SANTO NOME. E, por último, temos que examinar o ano
da transmutação: 1916. A adição teosófica
dos algarismos deste ano gera um dos mais esotéricos números
consagrados pelo Alto Simbolismo – DEZESSETE, oculto dos olhos
profanos na DÉCADA MÍSTICA DE PITÁGORAS ou TETRACTYS.
Nada acontece ao sabor do acaso. Harvey Spencer Lewis – SÂR
ALDEN procedeu à transmutação naquele dia exatamente
de acordo com determinada LEI, mas poucos se aperceberam, até
hoje, dos princípios envolvidos por detrás do fato em
si, que já é grandioso. Ainda devo acrescentar algo interessantíssimo.
Lucel-Lafin ficou por alguns instantes em silêncio e depois
continuou. As quatro atuais estações do ano acontecem
devido à presente inclinação do eixo do nosso Planeta.
Mas isto já ocorreu de forma diferente. A inclinação
já foi outra. Atualmente, o ANO SOLAR começa, aproximadamente,
no dia 22 de Março, quando, em a Natureza, acontece o fenômeno
denominado de EQUINÓCIO DA PRIMAVERA, que assinala o início
da primavera no hemisfério boreal e o outono no hemisfério
austral. Esta palavra é derivada do latim (‘aequinoctium’)
e significa ‘noite igual’, quando, em toda a Terra, a duração
do dia é igual à da noite. Nesta data inicia-se, para
todos os seres, o CICLO DA ALMA, que se prolonga até 21 de Março
do ano seguinte. Em 22 de Junho o verão já está
instalado no hemisfério norte e no hemisfério sul está
hospedado o inverno. Denomina-se SOLSTÍCIO, ou seja, sol estático,
às posições relativas em que se encontra a Terra
em 22 de Junho e em 22 de Dezembro. Essas datas sempre tiveram um significado
esotérico especial. Podem existir pequenas variações,
mas são irrelevantes. O fato é que, em 22 de Junho está
ocorrendo o SOLSTÍCIO DE VERÃO no hemisfério norte
e, inversamente, está acontecendo o SOLSTÍCIO DE INVERNO
no hemisfério sul. Esta palavra procede do latim – ‘solstitium’.
No SOLSTÍCIO DE JUNHO, a manifestação física
sobre a Terra, ancorada em Leis Cósmicas que não serão
objeto deste nosso encontro, atinge o máximo, e as atividades
físicas da Natureza alcançam o clímax. Para aqueles
que conhecem estas LEIS e sabem aplicá-las... Entretanto, Rodolfo,
memorize e retenha esta advertência: O Místico Autêntico
e Verdadeiro Iniciado em sua jornada em busca da LUZ MAIOR, em um dado
momento, como fizeram Éliphas Lèvi e Papus, abandonam
definitivamente a magia cerimonial e a teurgia. Louis-Claude de Saint-Martin
também recusou a teurgia em proveito da Senda do Coração.
Até os primeiros anos do século XX o misticismo esteve
muito próximo dessas práticas. Isto mudou muito e o processo
de mudança continua. Por outro lado, lamentavelmente, as religiões
estabelecidas e as que vêm proliferando em cada esquina, ou tendem
a retornar ao ultramontanismo, ou caem no abismo indefectível
das opiniões pessoais e/ou se precipitam na horripilante venda
de favores e de milagres, como se D’US estivesse disponível
para aceitar e ser corrompido por jabaculês, à semelhança
de um hipotético administrador escuso de uma bodega chinfrim.
Percebi, neste comentário, um misto de desencanto e de irritação
na voz de meu amigo. Aliás, foi o único momento em que
o vi meio passado. Rememorei minhas reflexões lá na Igreja,
antes de conhecer Lucel-Lafin. De certa forma eram coincidentes com
as dele. Outros, como você – já prosseguia
Lucel-Lafin – nunca se permitiram vincular a essas práticas
arrebatadoras e perigosas ou delas depender. Não mais que no
Santuário Interior de cada ente será conquistado o CASTELO.
É aí que o MERCÚRIO se casará com o ENXOFRE.
Só aí é que ocorrerá a ALQUIMIA DEFINITIVA
MÍSTICA UNIVERSAL IRREDUTÍVEL. A Alquimia Operativa é
um caminho para O CAMINHO. Mas, não é necessário
que alguém veja ou opere uma transmutação alquímica
para encontrar e percorrer O CAMINHO. Assim, o conhecimento e a aplicação
das Leis que regem a Alquimia Operativa, auxiliam, mas não definem
ou determinam absolutamente nada. É pelo exercício da
vontade e da razão que o Alquimista anseia e autoriza sem reservas
a expressão da VONTADE e da RAZÃO CÓSMICAS. Voltaremos
a conversar sobre este tema mais tarde. Respirei fundo com
essas últimas palavras.
Poderíamos, se
fosse o caso, ficar trocando idéias sobre os números e
suas implicações cósmicas por horas, talvez dias.
A base de tudo no Universo é a GEOMETRIA SAGRADA ou LUZ CÓSMICA,
isto é, há conexões irredutíveis que existem
entre as proporções e as formas que se manifestam no microcosmo
e no Macrocosmo e que estruturam a Unidade Universal. Os fractais são
o exemplo mais simples para demonstrar a excelsitude desta Lei. O medo
e a insegurança, portanto, são provocados pelo sentimento
de separatividade. Pela Alquimia Interior são ativados e integrados
os dois hemisférios cerebrais e intensificadas as funções
psíquicas da glândula pineal. Esta pequena glândula
é o elo de ligação entre as oitavas mais elevadas
do Teclado Cósmico e o plano físico, ou entre o quadrado
inferior e o Triângulo Superior. Ela é o que restou na
Humanidade atual do Terceiro Olho. Por isso Descartes, que você
sabe que foi Rosacruz, acreditava que esta minúscula glândula
era a sede da alma.
Geometria
Sagrada
Geometria
Sagrada
Dodecahedron
Mas
deixarei para você o aprofundamento dessas questões. Vamos
voltar à Arte de Hermes. A Alquimia é uma Verdadeira Arte
que permite ao Adepto preparar um certo Elixir ou Medicamento, que é
insubstituivelmente útil para a saúde e para a comodidade
da vida neste Planeta. Nossos Antigos Mestres e Senhores confeccionaram
sua PEDRA – por inspiração do MAIS ALTO –
da mesma forma que operamos hoje. Há uma MATÉRIA-PRIMEIRA
que, entre outras operações, deve ser convenientemente
submetida à ação do FOGO SECRETO ou PRIMEIRO AGENTE.
Nosso Hierofante Inspirador mais conhecido foi Hermes Trismegistus,
tido como um deus ou rei pré-faraônico, que deixou gravada
a Sua Tábua em uma lâmina de esmeralda. Nosso Irmão
Fulcanelli traduziu-a de forma bastante apropriada. Eu vou MODIFICÁ-LA
um pouco e resumi-la da seguinte forma:
É verdade, sem mentira, certo e inteiramente verdadeiro:
Aquilo que está embaixo É e NÃO É
semelhante ao que está em cima, e o que está em
cima É e NÃO É como o que está embaixo.
Entretanto, tudo provém do INCONSCIENTE PRIMEIRO UM;
e as coisas ditas criadas nascem por adaptação
e por multiplicação desta CAUSA PRIMEIRA. O SOL
é seu Pai e a LUA é sua Mãe. Tu —
que desejas te tornar um Adepto da Sagrada Arte — deves
separar a Terra do Fogo e o espesso do sutil com grande vigilância
e aturado zelo. ELE ascende da Terra e descende do Firmamento
adquirindo a FORÇA das Instâncias Superiores e
das Inferiores. Quem possui O LAPIS FILOSOFAL conquista a Glória
do Mundo e toda ininteligibilidade desaparece. É FORÇA
por detrás da força, pois é capaz de triunfar,
tanto sobre as coisas sutis quanto sobre as sólidas.
Assim foi criado o Mundo. Este é o segredo secretíssimo
de como opera a OBRA SOLAR.
|
O
Adepto fez uma nova pausa e continuou: Tudo que existe no Universo
foi engendrado pela mesma Mãe. Raimundo Lullo em seu ‘Testamento’
ensina muito bem. Assim deixou escrito: Omnia in Unnum. Os metais, para
nós Alquimistas, são corpos compostos de três elementos:
MERCÚRIO DOS FILÓSOFOS, ENXOFRE DOS FILÓSOFOS e
SAL. O MERCÚRIO – que é feminino – é
o constituinte metálico; o ENXOFRE – masculino –
dá a cor e o grau de combustibilidade; e o SAL é o elo
de união. Segundo esse critério, o ouro é perfeito,
pois, como disse no século XIII o monge britânico Rogério
Bacon,‘compõe-se de um mercúrio, puro, fixo, brilhante,
vermelho e de um enxofre puro, fixo, vermelho e incombustível’.
Por essas simples idéias que estou lhe transmitindo, você
pode facilmente perceber que, para nós, Adeptos da Arte, é
teórica e praticamente possível transmutar um leproso
em OURO ALQUÍMICO. Isto se fundamenta no fato de sabermos que
todos os metais são compostos de elementos idênticos, só
que em proporções distintas. A insecabilidade química
é uma falácia. Logo, pela ação de um agente
externo catalisante, essas proporções podem ser alteradas.
Esta Teoria foi exposta no século XIII por Geber n’A Suma
das Perfeições do Magistério’. Entretanto,
enganam-se os que pensam que a nossa PEDRA FILOSOFAL tenha por si própria
qualquer poder transmutatório. Mas, é com ela que pode
ser produzido o PÓ DE PROJEÇÃO, que é o
produto da fermentação da PEDRA com ouro ou com prata
(ambos purificados) por fusão direta. O PÓ resultante
desta operação será VERMELHO ou BRANCO, respectivamente.
Com o PÓ VERMELHO obtém-se OURO: com o BRANCO, PRATA.
Alquimicamente, as Rosas Branca e Vermelha simbolizam, respectivamente,
a tintura lunar e a tintura solar... Mas a nossa PEDRA tem uma finalidade
primordial: a preparação da MEDICINA UNIVERSAL. A transmutação
ou crisopéia é um teste de controle de qualidade que dá
ao Adepto da Arte a certeza de que logrou êxito em sua peregrinação.
Mais tarde ampliarei esta questão. A verdadeira transmutação
que perseguem todos os Adeptos é a TRANSMUTAÇÃO
INTERIOR. A Alquimia Operativa é um incidente não obrigatório
na trajetória iniciática. Os leprosos interiores devem
ser transmutados em puro OURO. Os Adeptos perseguem o encontro consciente
e inefável com o CRISTO CÓSMICO nos seus Santuários
Sacrossantos, tornados e mantidos inviolados pelos seus pensamentos,
palavras e atos. No coração... Nesse sentido, administram
a si próprios, em dias específicos do ano, uma diluição
da PEDRA FILOSOFAL, que atua não somente no corpo físico,
mas também tem ação direta sobre os outros corpos
constitutivos do ser, potencializando as faculdades intelectuais e verticalizando
os poderes anímicos, permitindo acesso a oitavas vibratórias
e a planos de consciência elevadíssimos. Com o tempo, o
Alquimista vai adquirindo, permanentemente, um estado de superconsciência,
o que lhe permite servir à Humanidade incognitamente. Entretanto,
repito: o Processo Iniciático independe desse Elixir e da própria
Pedra. Servir, contudo, é o objetivo primordial dos Adeptos Maiores.
Incognitamente, devo enfatizar. De qualquer sorte, meu amigo, tudo se
resume a uma seqüência muito simples:
Mas, a verdade verdadeira,
oculta em todos os tratados sobre Alquimia —
admitiu Lucel-Lafin — é que o vero mercúrio
sobre o qual aplicaram e aplicam aturados esforços todos os adeptos,
é um segundo mercúrio, obtido do primeiro. Há,
portanto, uma interação — iterada e hermética
— primária entre o fogo e a água que produz o sal
(água ígnea ou fogo aquoso), dissolvente utilizado na
preparação do MERCÚRIO FILOSÓFICO, que produzirá,
ao fim e ao cabo de tanto labor, a tão almejada PEDRA FILOSOFAL.
Esse é o segredo da MAGNA OBRA. Entretanto, não pode ser
esquecido jamais — advertiu enfaticamente Lucel-Lafin, fazendo
questão de se reportar a Funcanelli — que, na base
de todo o trabalho, só existe um mercúrio, e o segundo
deriva obrigatória e necessariamente do primeiro. O segundo mercúrio
é por isso conhecido como MERCÚRIO DOS SAPIENTES, SAL
CELESTE OU SAL FLORIDO. In Mercurio est quicquid quae runt Sapientes.
No Mercúrio está tudo o que buscam os Sapientes. Esta
é a tradução da advertência em latim.
Ao terminar esta primeira
parte, o Senhor Lucel-Lafin disse acreditar que a Alquimia estava voltando
a se tornar um foco de interesse generalizado, principalmente no domínio
da física, pois há alguns anos foram descobertas, através
de um fantástico esforço de síntese, determinadas
estruturas simétricas, quem sabe lentamente (re)orientando os
pesquisadores para o consenso pré-socrático de que, no
Universo, tudo é oriundo de uma única MATÉRIA-PRIMA.
E, do resultado da combinação de duas partículas
ou de dois elementos primários mais um terceiro, que permite
a ligação dos outros dois, todas as coisas existem e se
manifestam. Nos filhos não estão unidos o pai e mãe?
A fórmula 23 + 23 = 46 ainda não foi decifrada. Entretanto,
teosófica e cabalisticamente, 46 = 10, porque 4 + 6 = 10 = 1.
Isto é: UNIDADE. A recente Teoria das Cordas também parece
ser uma promessa alvissareira. E ainda estamos nos primórdios
do conhecimento da Lei do Fractal. A radiatividade natural, a desintegração
de núcleos, a fissão e a fusão nucleares e os avanços
das recentes descobertas no âmbito da física, da química,
da físico-química, da medicina e da biologia acabarão
terminativamente por convencer os cientistas da possibilidade de ocorrerem
transmutações sem ser necessário o dispêndio
de fabulosas quantidades de energia para bombardear os núcleos
atômicos. Os próprios conhecimentos estocados sobre as
leis que regulam os fenômenos nucleares, acabarão por ser,
em um primeiro momento, redirecionados para fins exclusivamente civis.
Em etapa posterior, outra forma ainda desconhecida de energia (absolutamente
limpa, mais efetiva e mais poderosa) obsoletará o triunfalismo
nuclear. Contemporaneamente, já se sabe, entre tantos exemplos
que poderiam ser escolhidos, que o isótopo radioativo 107 do
cádmio desintegra-se por emissão de um pósitron
ou por captura eletrônica convertendo-se em prata. Apenas por
curiosidade mostrarei as equações nucleares:
48Cd–107
—› 47Ag–107
+ ß+ (emissão de pósitron; pouco provável)
48Cd–107
+ e– —› [47Ag–107]*
T (meia-vida) = 6,7 horas (por captura de um elétron da camada
K)
[47Ag–107]*
(excitado) —› 47Ag–107
+ (estado
base por emissão de um fóton gama de 0,0939 MeV).
Outro aspecto curioso que
o Adepto Lucel-Lafin comentou, foi o fato de o potássio, nos
organismos (quando necessário), poder transmutar-se em cálcio.
(Lembrei-me logo de como gosto de bananas-ouro e de água de coco).
O interessante é que, para que isso ocorra, era preciso haver
hidrogênio livre disponível! Imaginar que esse hidrogênio
pudesse, substantivamente ou adjetivamente, resultar da radiólise
da água (ainda que uma ínfima radiólise possa acontecer
nos organismos vivos) seria uma calamidade, pois, neste processo formam-se,
entre outros, radicais livres |OH|*, que acabam produzindo água
oxigenada (H2O2).
|OH|*
+|OH|*
—›
H2O2
É
outra, portanto, a origem desse hidrogênio, pois ele não
se encontra na forma de radical livre nos organismos. De qualquer forma,
resumidamente, a reação final que responde pelo processo
é:
19K–39
+ 1H–1 —› 20Ca–40
No
caso dos isótopos 40 e 41 do potássio as transmutações
não ocorrem desta maneira.
Finalmente,
uma outra curiosidade científica. Apesar de o ouro não
possuir isótopos naturais, em processos nucleares artificiais
são produzidos diversos radioisótopos deste metal, por
exemplo:
Ocorrência
(abundância) natural de 79Au–197:
100%
Radioisótopos:
Au–172 Au–173
Au–174 Au–175 Au–176 Au–177 Au–178 Au–179
Au–180 Au–181 Au–182 Au–183 Au–184 Au–185
Au–186 Au–187 Au–188 Au–189 Au–190 Au–191
Au–192 Au–193 Au–194 Au–195 Au–196 Au–198
Au–199 Au–200 Au–201 Au–202 Au–203
Au–204
Já há algum
tempo, sabe-se, por exemplo, que os isótopos 177 a 195, 197,
203 e 205 do mercúrio se desintegram em ouro (radioativo) por
captura de um elétron K. Exemplificando para o Hg-200, a equação
nuclear provável é:
80Hg–200
+ e–
—› 79Au–200 , cuja massa
atômica é 199.9707179 ± 0.0000553 uma. (e–
é um elétron negativo capturado da camada K).
Radioisótopos
de platina (Pt–188 e Pt–189 por exemplo) por captura de
um elétron positivo produzem ouro (radioativo). Exemplificando
para o radionuclídeo 78Pt–188 tem-se:
78Pt–188 + e+ —›
79Au–188, cuja massa atômica
é 187.9650850 ± 0.0001080 uma. (e+
é um elétron positivo ou pósitron).
Mas,
voltando à aula magna sobre a GRANDE OBRA proferida por um Adepto
para um neófito, ouvi o que transcrevo: Nossa Arte não
pode ser ensinada nas escolas, pois é, concomitantemente, INICIÁTICA,
PRIMORDIAL e INDIVULGÁVEL. Recomendo a você que consulte
também o livro ‘Le Trésor des Alchimistes’,
de Jacques Sadoul. Entrementes e resumidamente, devo lhe dizer: é
INICIÁTICA porque o ‘modus operandi’ genuíno
só pode ser obtido por iniciação direta, ou seja,
de Mestre a discípulo; é PRIMORDIAL porque é tradicional,
ou seja, repousa em princípios inalteráveis na noite do
incriado tempo; e não é divulgada porque deve ser SECRETA,
para que o mundo não caia no abismo. Você poderia imaginar
ouro sendo produzido, em escala mundial, por todos e em todos os lugares?
Seria o caos econômico e social sem possibilidade de reversão.
A cupidez é insaciável e incontrolável naqueles
que a embalam. O ouro é, em certo sentido, uma maldição.
Logo, os Três Componentes Básicos da OBRA nunca puderam,
não podem e jamais poderão ser universalmente divulgados.
Nem, tampouco, a OBRA em si. Só podem ser alcançados pela
Iniciação. Agora, como já lhe expliquei, tempo
virá no qual a situação planetária global
será outra. Os benefícios dos resultados da Arte serão
livremente divulgados e generosamente distribuídos. Mas, para
que isso possa acontecer ampliadamente, as Leis da Necessidade e da
Reciprocidade devem estar equilibradas. Mas a Arte em si, repito, não
será jamais devassada indiscriminadamente. Nas próprias
Ordens Iniciáticas Tradicionais, o acesso aos respectivos Círculos
Internos é para aqueles poucos que se mantiveram sinceros e firmes
no Caminho e que fizeram jus a esse excepcional privilégio. A
ARTE SANTA, portanto, só pode ser conquistada pela INICIAÇÃO.
Apenas alguns raros predestinados puderam, isoladamente, assenhorear-se
Dela. Há uma LEI CÓSMICA que sintetiza isto que estou
lhe dizendo:
|
Neste
momento Lucel-Lafin fez outra pausa. Verifiquei que já eram quase
seis horas da tarde. Pela janela da biblioteca observei que começara
a anoitecer. Pensei ter visto um estranho homúnculo no jardim,
mas não dei maior importância ao fato. Eu estava com sede
e com uma urgente aflição para ir rapidamente ao lavabo.
Aquela insubsistente visão era, sob qualquer aspecto, naquele
momento, irrelevante. Contudo, não me arrisquei a mover um músculo.
Achei que seria desconsideração e falta de respeito interromper
o Adepto. Usei minha imaginação e tentei dominar as necessidades
fisiológicas que me atormentavam.
Meu insigne anfitrião
inspirou profundamente por três vezes e, por três vezes,
pronunciou cadenciadamente um conjunto de vogais que eu nunca tinha
ouvido, e que não posso, hoje, recordar-me da seqüência
exata. NÃO HAVIA UMA ÚNICA CONSOANTE NAQUELE SOM REPETIDO.
Por alguns instantes eu perdi a consciência de tempo e de lugar.
E algo de muito especial aconteceu. Uma sensação de paz
interior inimaginável apossou-se de todo o meu ser, e, emocionado,
agradeci pelo que estava recebendo. Como que por encanto, a sede e a
necessidade de ir ao banheiro desapareceram. Com os olhos semicerrados,
mas certamente percebendo que eu já retornara à consciência
da consciência, Lucel-Lafin continuou calmamente. Acredito
que você esteja compreendendo tudo que estou a lhe ensinar. Prossigamos,
então. Antes de chegarmos às conclusões sobre a
Arte de Hermes, gostaria de fazer umas breves considerações
sobre alguns Alquimistas famosos. Diversos de nossos irmãos eram
padres católicos. Até alguns Papas foram Alquimistas.
Entretanto, a Igreja não admite este fato abertamente. As abadias,
como é sabido, eram invioláveis, e ofereciam um relativo
conforto em meio à insegurança generalizada da Idade Média.
Tomás de Aquino, por exemplo, foi discípulo de Alberto,
o Grande. Ambos foram canonizados e são reverenciados como santos
católicos. Ainda que se insista em rejeitar o fato inconteste
de Tomás ter sido iniciado na Arte, no tratado ‘Aurora
Consurgens’ o Aquinate minimiza sua obra teológica e assevera
que é na Arte Alquímica que reside a verdadeira glória
do Altíssimo. Disse Tomás: ’A mais bela Aurora nascente
que está acima da beleza e da salvação da humanidade’.
Esta obra começa pela evocação da Sabedoria Cósmica
como ordenadora do Processo Alquímico. Esta Sabedoria inconfundível,
diz Aquino, está ligada ao surgimento do Dia ou da Hora de Ouro,
e ensina que a passagem da noite obscura para a Aurora está associada
à Perfeição do Magistério e do próprio
ouro.
Entrega do Próprio Coração
Tomás de Aquino: Aurora Consurgens
Na
‘De Alchimia’, Alberto, por sua vez, dá alguns conselhos
aos postulantes. Eu reproduzirei para você os principais: ‘Discrição,
silêncio, assiduidade, paciência e perseverança.’
Arnaldo de Villeneuve, médico e teólogo, procedeu a uma
transmutação diante da Cúria Romana. Legou-nos
o ‘Grande Rosário’. Raimundo Lulle, o nosso Doutor
Iluminado, foi outro Amoroso da Ciência. Em Montpellier, em 1289,
foi iniciado na Arte por Villeneuve. Morreu com oitenta anos em um navio
genovês. Nicolas Flamel nasceu próximo a Pontoise, por
volta de 1330. Há uma oração de sua autoria ao
Deus Eterno que termina mais ou menos assim: ‘Que esta Grande
Obra que aqui faço a conclua com sucesso. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo eu Lhe peço a PEDRA CELESTE que comanda e reina Convosco’.
Sua primeira projeção foi sobre mercúrio obtendo
prata puríssima. Na segunda, com a PEDRA VERMELHA, ainda sobre
mercúrio, obteve ouro, mais puro, mais maleável e mais
suave do que o ouro natural.
Nicolas
Flamel: Trabalhadores no Jardim
Nicolas
Flamel: Massacre
dos Inocentes
Nicolas
Flamel: Serpente Crucificada
Basile
Valentin, monge beneditino alemão, nos deixou uma obra magistral:
‘Doze Chaves da Filosofia’. Dois fatos devem ser destacados
na vida deste Adepto. Primeiro: foi quem descreveu e nomeou os TRÊS
PRINCÍPIOS. Segundo: é dele a enigmática máxima
VISITA INTERIORA TERRÆ RECTIFICANDO INVENIES
OCCVLTUM LAPIDEM VERAM MEDICINAM. Nesta fórmula secreta,
hoje conhecida mas ainda não decifrada, as primeiras letras de
cada palavra formam o nome-código da substância incógnita
que atua como solvente na Obra. Não possui, contudo, nenhuma
relação com os sulfatos inorgânicos conhecidos dos
químicos.
Basile
Valentin
VITRIOL
Bernardo
– o Bom Trevisano – nasceu, duzentos e quinze anos depois,
onde o festejado Santo Português – António de Lisboa,
conhecido como António de Pádua – viveu seus últimos
anos, isto é, em 1406. Sei que este fato é do seu conhecimento.
Segundo nossos arquivos, concluiu seu Trabalho Filosófico com
oitenta e dois anos. Peregrinou por sessenta e oito anos, mas só
obteve SUA PEDRA quando decidiu retornar aos ensinamentos de Geber,
autor, conforme já lhe falei, de ‘A Suma das Perfeições
do Magistério’. Aqui faço uma primeira advertência
Rodolfo: fuja dos sopradores e dos mentirosos. Eles empobreceram Bernardo
e são a ruína dos neófitos. O Bom Trevisano nos
deixou duas obras escorreitas: ‘A Palavra Abandonada’ e
‘Tratado da Filosofia Natural dos Metais’. Outro ilustre
Alquimista da Idade Média foi, sem dúvida, Denis Zachaire,
nascido em 1510. Deixou escrito o ‘Opúsculo da Filosofia
Natural dos Metais’. Morreu em 1556 assassinado por um primo.
Mais uma advertência, meu amigo: cuidado com os sofistas e com
os invejosos. Seduzem para depois saquear e matar. Alexandre Sethon
– o autêntico Cosmopolita – fez diversas projeções
públicas comprovadas e, por isso, acabou padecendo nas garras
do Eleitor de Saxe, Christian II. Uma terceira advertência faço
agora: Se o temor impede a iluminação, a vaidade destrói
as conquistas. Se o mérito é condição ‘sine
qua non’ para que o aprendiz possa lograr bom sucesso, o privilégio
de mantê-lo impõe redobrado mérito. Não se
abandona uma árvore que já deu frutos. Ela necessita de
cuidados permanentes. Portanto, meu irmão Rodolfo, vaidade e
mérito são imiscíveis. O privilégio, conquistado
pelo trabalho meritório, é destruído pela vaidade.
E, a SANTA ShOPhIa, culminação perseguida e derivada de
todo um labor filosófico, místico, iniciático,
árduo e sistemático, não é alcançada.
A meio-caminho o candidato cai. Combater, dominar e, finalmente, transmutar
a vaidade, é imprescindível e irredutivelmente necessário
para o bom êxito na consecução integral da Arte.
Não se esqueça nunca de que a Arte da Alquimia não
é a coisa em si; ela é parte de um processo místico-iniciático,
no qual o que realmente importa é a transmutação
do próprio Adepto. O ouro não poderá jamais ornar
um corpo mórbido e sem alma. Outro grande Alquimista, Teósofo
Cristão e Rosacruz foi Robert Fludd. Três de suas máximas
são: 'Deus colocou seu Tabernáculo no Sol'. 'Vosso corpo
é o Templo do Espírito Santo que em vós reside,
e que recebestes de Deus'. 'Deus está em toda parte: no céu,
nas regiões infernais, nos mais longínquos mares, na noite
e nas trevas'.
|
Robert
Fludd
Robert Fludd (1574-1637): Svmmvm Bonvm (Frankfurt,
1629)
O Adepto
fez novamente uma pequena pausa, e prosseguiu. Nessa lista quase
interminável de Adeptos devo acrescentar mais alguns e suas obras
principais, para, em seguida, poder lhe falar especificamente do nosso
Magistério. Em 1666 nosso irmão Irineu Philalèthe
– o Amante da Verdade – que era inglês de nascimento
e se considerava habitante do Universo, fez publicar ‘Entrada
Aberta ao Palácio Fechado do Rei’, obra na qual se confessa
indigno de que D’US se sirva dele para aqueles propósitos,
bem como afirma ter adquirido horror e desdém pelo ouro e pela
prata. Por revelação, previu que os Adeptos voltariam
para render ações de graças e de louvores a D’US.
Fez diversas projeções reconhecidas jamais ocultando que
se utilizava da PEDRA FILOSOFAL. Um dia desapareceu sem deixar rastro.
Lascaris foi outro de nossos irmãos. A meta primordial de sua
vida foi propagar a verdade da Alquimia. Um de seus disfarces prediletos,
talvez por conhecer a vida de Aristóteles, era se fazer passar
por arquimandrita de um Mosteiro da antiga cidade-estado de Mitilene,
na mitológica Ilha de Lesbos, terra do Filósofo Teofastro
e da Sacerdotisa Safo. Várias projeções documentadas
são atribuídas a Lascaris. Desapareceu, como por encanto,
no transcurso do segundo quartel dos setecentos. Prosseguindo nessa
nossa revisitação histórica, lembro-me, agora,
do Conde de Saint-Germain, que dizia se chamar ‘Sanctus Germanus’
– o Santo Irmão. Além de Alquimista, possuía
o hermético conhecimento de fazer as pérolas aumentarem
de tamanho e de brilharem extraordinariamente. Também sabia como
fazer os diamantes crescer e, se necessário, lhes tirava as manchas.
Após levar uma vida de castidade irreprochável, desapareceu.
Sua última aparição pública registrada parece
ter sido em 15 de Fevereiro de 1785, em Paris, quando participou de
uma Convenção Maçônica, na qual, entre outros,
estava presente Louis-Claude de Saint-Martin, o inspirador do Martinismo.
Isto sei que você sabe.
O Adepto fez novamente
uma breve pausa e eu aproveitei para mudar de posição
na poltrona. Durante sua explanação, além de não
interrompê-lo, ficava imóvel para não perturbá-lo.
Com o cair da noite, o frio se intensificara e uma chuva torrencial
desabara. Aquela maravilhosa sensação de profunda paz
e de felicidade ímpar que eu desfrutara ao passar pelo jardim
de delícias da RESIDÊNCIA DOS ADEPTOS desaparecera. Relâmpagos
e trovões violentíssimos provocavam fortes ruídos
por causa das descargas elétricas na atmosfera. Uma ventania
avassaladora soprava impetuosa e incessantemente. Algo infreqüente
e prenunciador estava acontecendo! As condições climáticas
mudaram tão bruscamente, que eu estava tendo uma certa dificuldade
para me concentrar. Onde teria se abrigado o homúnculo que eu
pensara ter visto uma hora atrás? Eu estava viajando nesses pensamentos,
quando Lucel-Lafin questionou-me: — Você está
apreensivo por causa do temporal, Rodolfo? — De modo nenhum,
Senhor Lucel-Lafin. Mas... O Adepto não permitiu que
eu concluísse a frase e, gentilmente, propôs continuar
sua exposição. Neste século que se encerra
– retornou o Alquimista ao seu Monólogo Iniciático
– alguns Filósofos da Arte se destacaram. O primeiro foi
o Dr. Harvey Spencer Lewis, de quem já falamos. Seu filho, Ralph
Maxwell Lewis, que o sucedeu como Imperator da AMORC, teve, certamente,
acesso aos segredos dos quais o pai era depositário. O terceiro
foi Fulcanelli, que fez publicar duas obras singulares. ‘O Mistério
das Catedrais e a Interpretação Esotérica dos Símbolos
Herméticos da Grande Obra’ divulgada em meados dos anos
vinte, foi a primeira. Quatro anos mais tarde, trouxe à luz ‘As
Mansões Filosofais e o Simbolismo Hermético nas suas Relações
com a Arte Sacra e o Esoterismo da Grande Obra’. Os dois livros
foram prefaciados por Eugênio Canseliet, que também era
um Agricultor Celeste. Em 1937 Jacques Bergier encontrou-se com Fulcanelli
que, durante a conversa, previu(?!) algo semelhante: ‘as forças
nucleares podem ser desencadeadas por intermédio de disposições
geométricas adequadas de materiais específicos puríssimos,
sem que haja necessidade de serem utilizadas a técnica do vácuo
ou a eletricidade’. As explicações que o Adepto
deu a Bergier continham enfaticamente a advertência, de que a
radiação proveniente da utilização assassina
e irresponsável dos artefatos bélicos de natureza nuclear
que acabariam por ser produzidos – como acabaram sendo –
poderia envenenar a atmosfera e contaminar todo o Planeta. Hoje, como
você sabe, o arsenal nuclear estocado e as armas químicas
e biológicas em poder dos diversos governos, e outras que você
nem desconfia que possam existir, podem, em poucos dias, provocar a
extinção da vida que se manifesta neste Planeta. Lamentavelmente,
o milênio que está a nascer começará com
lágrimas e ranger de dentes. O Gigante Americano sofrerá
um revés imprevisto. Voltará a fazer guerras. Palestinos
e judeus tornarão a se desentender gravemente. E o nosso Brasil
será palco de mudanças impossíveis de serem ainda
concebidas. Mas, tudo isso, são apenas as dores de um parto feliz.
O século XXI não terminará sem que mudamentos estruturais
aconteçam, particularmente no campo da Economia. A própria
Educação será reestruturada. E a Medicina sofrerá
avanços inimagináveis. Mais atenção será
dada à Homeopatia e à Ciência dos Florais. No âmbito
do Direito, a Justiça passará também a socorrer
aos que dormem. Enfim, estamos em um outro ciclo astrológico
diferente do anterior, que teve seu início em 5 Fevereiro de
1962. Por último, gostaria de homenagear Armand Barbault, que
demonstrou que por meios puramente alquímicos podem ser obtidos
produtos irredutíveis, portanto, impossíveis de serem
reproduzidos por processos sintéticos conhecidos da nossa química
hodierna.
Agora, antes de concluirmos
e de lhe falar sobre a nossa PEDRA e sobre o nosso MAGISTÉRIO,
vou lhe relatar alguns acontecimentos históricos antigos e incontestáveis
da veracidade da Obra, pois, estas transmutações foram
levadas a bom termo por pensadores renomados, sem que o Adepto (ou seu
emissário) que lhes ofereceu um pouco do PÓ DE PROJEÇÃO
estivesse presente. Compreenda, Rodolfo: as transmutações
alquímicas foram, nas circunstâncias conhecidas e documentadas,
procedidas diretamente pelos cientistas, geralmente, apenas em presença
de parentes e de testemunhas escolhidas por eles próprios, mas
na ausência do Artista. Esses transmudamentos foram cumpridos
por João Batista Van Helmont, médico e químico
belga, em 1618 e por Johann Friedrich Schweitzer – conhecido por
Helvetius – também médico, em 1666. O curioso, nestes
episódios específicos, é que ambos eram frontalmente
contrários e hostis à Alquimia. É claro que, depois
de procederem às respectivas transmutações, acabaram
por se convencer, se converter e defender a SANTA ARTE. Entretanto,
no correr dos séculos, muitas outras pessoas tiveram o privilégio
de assistir a uma transmutação, permanecendo, contudo,
por questões de segurança, no anonimato. Pascal foi uma
dessas pessoas. A assembléia de Iniciados e o jornalista que
estavam presentes e assistiram, em 1916, ao Dr. Lewis transmutar zinco
em ouro, inserem-se nessa categoria de privilegiados. Entretanto, bendito
é também aquele que não viu. Mas, por um processo
iniciático extraordinário de beleza indescritível
conseguiu sentir e realizar internamente a Bendita Arte-ciência-místico-esotérico-iniciático-espiritual
da Transmutação Alquímica Interior de seus leprosos.
Jolivet Castelot, Alto Dignitário da Rose-Croix da França
e antigo Presidente da Sociedade Francesa de Alquimia não pode
ser esquecido nesta revisitação histórica que faço
para você. Produziu ouro por transmutação alquímica
demonstrando, em diversas ocasiões, a veracidade dos Princípios
e das Doutrinas seculares dos Rosacruzes.
Nova pausa. Depois de inspirar
profundamente por três vezes, mas sem emitir os sons vocálicos
como da outra vez, com os olhos ainda cerrados, Lucel-Lafin continuou.
Vamos concluir esta primeira parte de sua Iniciação à
Alquimia. Contudo, antes de jantarmos e de visitarmos a residência,
devo enfatizar: O fim último de Nossa Arte é a transmutação
do próprio Postulante. Se ele chegar a concluir seu Trabalho,
então se tornará um ADEPTO MENOR. Quando se desobrigar
de compulsoriamente encarnar para cumprir a Lei da Retribuição
neste Plano, aí é considerado um ADEPTO MAIOR. Voltaremos
a falar sobre esse tema mais tarde.
Muito lentamente, como
se estivesse regressando de um estado alterado de consciência,
Lucel-Lafin retornou ao plano da consciência objetiva, abriu suavemente
os olhos e esboçou um fraternal sorriso, que era um misto de
contentamento, de alegria, de amabilidade e de profundo amor por mim.
Eu pude sentir e identificar tudo isso muito agudamente e fiquei, mais
uma vez, profundamente comovido. Percebi, também, em meu interior,
que ele projetava silente e mentalmente um certo SOM que reverberava
em todo o meu ser. Esse MANTRA eu conhecia e sabia quais eram
seus efeitos. Seus olhos azuis-celestes estavam fixados em um ponto
acima das minhas sobrancelhas, sem que eu sentisse qualquer mal-estar.
Pelo contrário! Em sinal de reconhecimento e de profunda gratidão,
da mesma forma, repercuti para esse irmão querido o mesmo SOM,
desejando-lhe saúde, amor e a mais profunda paz. Quando nos levantamos
para jantar, ele me abraçou com muito carinho e pronunciou:
MAAT
HOTEP.
Eu não pude deixar de repetir: MAAT HOTEP. Esta
saudação significa: QUE
A PAZ DE MAAT
ESTEJA
COM VOCÊ.
E acrescentei do fundo do meu ser: AUM
RAH
MAH. Nada mais foi acrescentado. Nem precisaria ser.
Lucel-Lafin perguntou se eu
me incomodava em jantar na cozinha. Lembrou-me - o que não era
necessário - que havia dispensado todos os auxiliares naquele
dia, que já era noite. Eu lhe disse que me sentia honrado e feliz
em poder apenas estar a seu lado. Ele, então, pessoalmente, foi
preparar algo para nos alimentarmos. De repente, certamente por ter
suavizado o efeito daquele conjunto de vogais que ele emitira durante
a preleção sobre a GRANDE ARTE, minha necessidade fisiológica
voltou com impetuosidade. Pedi licença para me retirar por alguns
instantes e me dirigi a um lavabo que meu amigo e irmão indicara.
Consultei o relógio e constatei que eram exatamente sete horas
da noite. Portanto, fazia exatamente sete horas que eu não ia
ao banheiro! Não pude deixar de pensar na minha companheira.
Duvido que ela agüentasse sete horas sem ir ao banheiro! Acho que
em toda a minha vida nunca havia vertido tanta urina como naquele momento.
Depois do alívio, um suspiro involuntário de regozijo
encerrou minha estada naquele recinto. Lá fora, a borrasca amainara
um pouco. Da janela do lavabo, que tinha, mais ou menos, uns doze metros
quadrados, observei que não estava mais relampejando. Descontraído,
lembrei de uma piada típica de carioca: Em dias de tempestade,
relâmpagos e trovoadas o local mais seguro é bem pertinho
da sogra. Não há raio que a parta! Mas, meu pensamento
voou imediatamente para a minha sogra. Àquela hora, talvez estivesse
passeando sozinha por Copacabana. Quem sabe, polemizando com alguém
sobre algum assunto sem pé nem cabeça! Beijei-a no rosto
e fiz uma coisinha mental por ela. Misericórdia D’US meu,
pelos que sofrem sem saber o motivo dos seus sofrimentos. Misericórdia.
Compaixão. Piedade. Um pouquinho de Luz!
Mas, por onde andaria aquele
estranho homúnculo? Aquela visão não me saía
da cabeça. Teria sido um delírio momentâneo? Ou
será que... Ao voltar à cozinha a mesa estava posta. Impressionei-me
com a prontidão do meu Mestre. Eu só estivera no lavabo
por, no máximo, cinco minutos! Lucel-Lafin havia esquentado uma
sopa de legumes que foi servida acompanhada de torradas de pão
integral. Para beber, água. E que água! Foi a melhor sopa
que eu provei nos últimos tempos. Os legumes, pensei, talvez
tivessem passado por alguma transmutação. Mas que bobagem!
Só eu mesmo para pensar essas tolices.
Antes de jantarmos, entretanto,
meu gentil anfitrião fez uma prece, rogando por paz e concórdia.
Agradeceu o alimento a nós disponibilizado e suplicou para que
cessasse a fome no mundo. Ouvi em silêncio a Oração
do Adepto, e, ao final, acompanhei: QUE SEJAM FEITAS A VONTADE E
A RAZÃO DOS MESTRES DA G .'. L .'. B .'. E NÃO AS NOSSAS.
ASSIM SEJA! Pedi autorização para tomar mais um pouco
daquela sopinha espetacular e foi a primeira vez que vi Lucel-Lafin
rir com desenvoltura. Acabou comentando: — Essa sopa foi de
ontem. Acho que o povo tem razão quando diz que no dia seguinte
a sopa fica mais apurada e mais saborosa. Não pude deixar
de fazer uma gracinha. — Com a fome que eu estava, Senhor Lucel-Lafin,
a sopa poderia ser da semana passada. De qualquer forma está
ótima. O Adepto ficou satisfeito com a minha franqueza e perguntou
se eu queria alguma sobremesa. Respondi que estava satisfeito e agradecido.
Também, além de, geralmente, me alimentar moderadamente,
não queria perder tempo. Havia muito que aprender.
Terminada a refeição,
Lucel-Lafin convidou-me para dar um rápido passeio pela RESIDÊNCIA.
Agora me lembro de um pormenor: ele quase não se alimentou! Caminhamos
pela casa por mais ou menos meia hora. Devo registrar apenas dois pontos
que julgo fundamentais. Primeiro: Ao chegar ao segundo andar da RESIDÊNCIA
DOS ADEPTOS (agora, quase quatro anos depois, compreendo inteiramente
a finalidade daquela monumental mansão) fiquei literalmente chocado.
O contraste com o andar inferior era de tal magnitude, que parecia que
eu me encontrava em outro lugar. A pompa, o luxo, as tapeçarias,
as obras de arte, a beleza indescritível do mobiliário
do primeiro andar inexistiam ali. Embaixo tudo se contrapunha com a
sobriedade, com a simplicidade e, porque não, com a pobreza do
segundo. Não era possível estabelecer um paralelo entre
os dois pavimentos. Havia tão-só vinte e dois quartos.
Onze de cada lado, como que formando um ALBaM, no meio do qual
um enorme corredor era o único meio de acesso. Os quartos, na
verdade, como já havia adiantado Lucel-Lafin, eram celas, aposentos
de verdadeiros religiosos. Não de uma religião, qualquer
que seja ela, que possa ser entendida tal como usualmente é.
Mas os religiosos que ali eventualmente se reuniam, tinham por objetivo
o religamento consciente da humanidade com as Hierarquias Cósmicas
e com a própria Divindade que sempre esteve, está e estará
presente in imo pectore em todos os seres. Esta religação,
conforme já me explicara o meu irmão e amigo, haveria
de incluir, no futuro, uma total mudança nos hábitos e
nos conceitos da sociedade que nos sobrepujará.
Todas as celas possuíam
três cômodos. Uma sala de trabalho pessoal, um quarto de
dormir e um modesto banheiro. Tudo muito simples e funcional. No quarto,
por exemplo, só havia uma pequena cama de solteiro, um armário
de duas portas, um cabideiro, uma cadeira e um modesto oratório,
em frente ao qual, na parede, estava fixado um espelho ligeiramente
côncavo.
No terceiro andar, muito mais
modesto ainda do que o segundo, havia apenas uma GRANDE SALA com uma
enorme mesa retangular de trabalho. O piso era formado de um mosaico
constituído de pedras de mármore quadradas e rigorosamente
iguais, brancas e pretas, alternadas como no jogo de xadrez.
|
Vinte
e duas cadeiras rigorosamente equivalentes estavam dispostas ao redor
da mesa. Afastadas da mesa, estavam ordenadas, em uma única fileira,
onze cadeiras. Estas últimas eram diferentes e mais modestas
do que as outras vinte e duas, ainda que naquele salão não
existisse nenhum sinal indicativo de requinte. Naquele local respirava-se
serenidade, moderação e despojo. Portanto, naquela SALA
só entravam, no máximo, trinta e três pessoas. Isso
é tudo que me permito relatar. Entretanto, não posso deixar
de registrar que, em um dado momento, por uma fração ínfima
de tempo, tenho certeza de que vislumbrei um Senhor muito distinto a
nos observar, de pé, próximo à cabeceira da grande
mesa. Seu olhar era igual ao de Lucel-Lafin e parecia aprovar nossa
rápida estada naquele recinto. Mas, imediata e irracionalmente,
a hesitação invadiu minha mente. Um certo desespero apossou-se
de minh’alma. Momentaneamente retornei ao ponto zero. Dúvida.
Indecisão. Desespero. Teria mesmo tido aquela visão? Lembrei-me
do poema DEUS de Fernando Pessoa. Apossei-me consentidamente
de dois versos e, mentalmente, acrescentei três (in)apropriados(!?):
Às vezes sou o Deus que trago em mim,
Às vezes não sou mais do que um ateu.
Às vezes tudo é beleza sem-fim,
Às vezes tudo é noite, tudo é breu.
Às vezes nem sou Deus nem sou ateu.
Contudo, logo me recompus
dos escombros de minha insegurança e confiei na representação
intelectual instantânea que aquela percepção astral
me ofertara. Havia se reconstituído o himeneu. Nada comentei
com Lucel-Lafin sobre este episódio. Quando a oportunidade se
fizesse, incontestavelmente ele se pronunciaria. Só preciso acrescentar
um pormenor: encimando a Porta que permitia o acesso à GRANDE
SALA havia um Frontão Triangular isósceles, cujo ângulo
superior era certamente de 144º e muito semelhante ao frontão
da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, no qual o relevo
central representa a Caridade.
LIVRO
III – A PROJEÇÃO
Quando retornamos ao andar
térreo da RESIDÊNCIA, Lucel-Lafin convidou-me para ir ao
LABORATÓRIO. Solenemente disse: — Agora cumprirei o
dever, que farei com prazer, de lhe mostrar uma Transmutação
Alquímica in vitro. Mais uma vez, devo repetir, a verdadeira
transmutação – a TRANSMUTAÇÃO DIVINA
– terá que ocorrer no próprio postulante. IN VIVO.
IN CORDE.
Desta forma fui introduzido
ao LABORATÓRIO DA RESIDÊNCIA DOS ADEPTOS. A bem da verdade
e antes que me esqueça, devo registrar que o único espaço
ao qual não pude ter acesso foi ao SANCTUM SANCTORUM da RESIDÊNCIA.
Ele estava vedado para mim. Mas Lucel-Lafin teve a gentileza de me mostrar
onde o SANTUÁRIO estava localizado e informar, com toda singeleza,
que eu não estava preparado para ali entrar. Essa comunicação
foi suficiente para mim. Eu conheço as Regras. E, por conhecê-Las,
não fiz nenhuma objeção nem o questionei sobre
o porquê do impedimento. Sobre a Porta que dava acesso àquele
Local Sagrado também havia um Frontão Triangular isósceles.
O LABORATÓRIO está
localizado nos fundos da RESIDÊNCIA, no lado oposto da cozinha.
TRÊS DEGRAUS conduzem à porta do LABORATÓRIO. Uma
réplica reduzida dos Frontões anteriores coroava a entrada
do LABORATÓRIO. Na realidade, os Três Frontões eram
iguais; só diferiam em tamanho. Seu interior, ainda que semelhante
a um laboratório comum de Química, continha alguns aparelhos
que eu não conhecia. Há uma única grande bancada
dupla no centro repleta de utensílios e, ao redor, armários
com várias prateleiras abarrotadas de reagentes químicos,
de frascos contendo líquidos de diversas cores, de balões
de vidro de diversos tipos, de buretas, de tubos de ensaio, de cadinhos
variados, de provetas, de pipetas, de bécheres, de almofarizes
etc. Em um canto, havia o que eu presumi que fosse um Athanor.
No lado oposto, havia uma pequena capela habitualmente encontrada em
laboratórios de Química. Pensei encontrar Pierre no LABORATÓRIO.
Mas não. Ele havia desaparecido nas brumas da noite. Eu só
o veria mesmo na hora de partir. Também não vi o estranho
homúnculo por ali. Estaria fazendo companhia a Pierre? Que pensamentos
desconexos para uma ocasião como aquela. Tratei rapidamente de
me recompor mentalmente.
Lucel-Lafin, depois que eu
examinei rapidamente o LABORATÓRIO, convocou-me: —
Oremos: Que a Benção dos MESTRES possam santificar esta
hora e nossos procedimentos; e que possamos ser dignos do que vamos
realizar. Assim Seja. — Assim Seja — repeti convicto
do selamento da Oração. Antes de proceder à prometida
Transmutação, Lucel-Lafin, por mais ou menos meia hora,
epilogou a narrativa que começara naquela tarde de quinta-feira.
Ambos nos sentamos em bancos comuns existentes em laboratórios
de Química, e o resumo das idéias que ouvi são
as seguintes. Aos potenciais Peregrinos sugere-se: adquiram um almofariz
de ágata. Ou construam um almofariz de LUZ, de VIDA e de AMOR
no Coração.
Os ADEPTOS MAIORES sabem
que A MATÉRIA-PRIMA do MAGISTÉRIO ALQUÍMICO é
um corpo único, universal, e possui natureza metálica.
É um sal duplo, uma pirita que contém ferro e antimônio.
Lucel-Lafin, para ilustrar essa caridosa informação, abriu
o livro de Jacques Sadoul – ‘O Tesouro dos Alquimistas’
– ao qual já havia feito referência, na parte relativa
à Matéria-Prima, e leu a nota de rodapé que alude
ao fato de, em 1616, o Autor Anônimo da obra ‘As Núpcias
Químicas’ dar uma chave para a consecução
da GRANDE OBRA, utilizando o alfabeto latino e princípios elementares
de KaBaLa. O que esse autor anônimo fez foi substituir
as letras da palavra Alquimia pelos seus valores numéricos aritmológicos
latinos e depois somá-los. É evidente que o desconhecido(?!)
Autor usou a palavra latina para esse desvelamento, ou seja: ALCHYMIA.
Aqui Lucel-Lafin fez uma advertência: a utilização
do alfabeto latino para cálculos cabalísticos ou outras
operações pode levar o pesquisador desavisado a erros
inconciliáveis. De qualquer forma, o Autor Ignorado apresentou
o seguinte cálculo: A = 1; L = 12; C = 3; H
= 8; Y(I) = 9; M = 13; I(Y) = 9; e A = 1. A soma destes
números é igual a 56 (cinqüenta
e seis), que é equivalente ao valor aproximado da massa atômica
do ferro! Este fato é particularmente notável, porque
em 1616 conheciam-se pouquíssimos elementos químicos e
se desconhecia(?!) a Teoria das Massas Atômicas. Curiosamente,
a adição teosófica de 56 é 11. A décima
primeira Lâmina do Tarô é A FORÇA. Na Tábua
de Esmeralda de Hermes Trismegistus, que Lucel-Lafin resumira na parte
da tarde, há um trecho que, explicitamente adverte: Este
é o mais forte de todos os poderes, a FORÇA de todas as
forças, pois sobrepuja todas as coisas sutis e pode penetrar
tudo que é sólido. Isto me fez lembrar um trecho
da Ladainha Lauretana. Virgo Potens; Virgo Clemens; Virgo Fidelis,
cuja tradução é: Virgem Poderosa; Virgem Clemente;
Virgem Fiel...
Lucel-Lafin, outra vez serviu-se
de um livro que estava em uma pequena mesa ao lado da grande bancada,
novamente de um autor desconhecido, que trata das ‘Meditações
Sobre os 22 Arcanos Maiores do Tarô’, e leu um trecho
para mim. — Preste muita atenção, Rodolfo, no
simbolismo deste excerto. Medite sobre ele e você alcançará
mais uma chave do hermetismo da GRANDE OBRA. Escreveu o Autor que quis
se manter no anonimato: O estado de virgindade é a consonância
de três princípios: o Espiritual, o Anímico e o
Corporal. A virgindade é, pois, a unidade do que está
no alto e do que está em baixo e a Força, isto é,
a ação concordante dos três mundos. Porque a Força...
é a unidade dos três mundos... na qual o Divino, o Coração,
e o Corpo estão unidos. — Lembre-se Rodolfo — concluiu
Lucel-Lafin: A FORÇA É A VIRGINDADE; E A VIRGINDADE
É A FORÇA.
O FOGO SECRETO –
a água seca – é composto do salitre filosófico
e do tártaro filosófico. Um determinado corpo, sob o aspecto
alquímico, torna-se FILOSÓFICO por procedimentos físicos.
Por isso, por exemplo, a importância da luz lunar – que
possui a característica de ser polarizada – em um passo
da OBRA. Este FOGO (ou PRIMEIRO AGENTE) é um sal duplo preparado
laboriosamente pelo Postulante. Em nada se assemelha ao fogo ordinário.
O MERCÚRIO FILOSÓFICO provém da MATÉRIA-PRIMA
e é obtido sob a influência do FOGO SECRETO. Depois é
transmutado no MERCÚRIO DOS SAPIENTES.
O MAGISTÉRIO compõe-se
de três fases ou Obras distintas. Na Primeira Obra, o concurso
do Orvalho ('ros') é indispensável. Na Segunda Obra, o
puro é separado do impuro e é obtida uma Medicina ainda
de ordem inferior. Nesta fase é lograda a 'Rebis', que será
trabalhada pacientemente na última etapa do MAGISTÉRIO,
no interior do Ovo Filosófico. Na TERCEIRA OBRA, o Artista, já
possuindo a 'Rebis', pela cocção irá levá-la
à perfeição. Esta via de obtenção
do 'LAPIS', descrita sumariamente por Lucel-Lafin, refere-se
à denominada via úmida, que tende a se prolongar por anos
para ser concluída com sucesso. Se sucesso houver! Há,
contudo, mais duas vias: a seca, que dura algumas semanas, e a breve,
de duração, no máximo, de quatro dias. Contudo,
os corpos utilizados não são os mesmos nas três
vias! Mas, qualquer que seja o caminho utilizado pelo Agricultor, há
um instante na peregrinação em que o concurso de POTÊNCIAS
SUPERIORES torna-se imprescindível. Isto sempre foi assim. Desde
a Atlântida. É e continuará sendo.
—Já é,
agora, chegado o momento — continuou meu anfitrião
— de encerrar este incompleto, modesto e sucinto estudo sobre
a Alquimia, cujo objetivo, conforme você sabe, é colocar
o Adepto em relação íntima com o D’US de
seu coração. Devo, contudo, ainda, repassar alguns conceitos
e fazer, se você não se importar, alguns acréscimos.
A Alquimia pode ser operativa
(ou prática) ou transcendental. Em ambos os casos, só
um Iniciado pode ter acesso a esse antigo, mas sempre novo conhecimento.
Iniciados eram (e são) aqueles que buscavam (e buscam) a ILLUMINAÇÃO
INTERNA. E a senda para o alcançamento dessa iluminação,
da qual os filósofos voltados para o tema sempre falaram, é
interior. É no âmago do ser, no santuário sagrado
e inviolável da consciência do ser, que haverá de
existir a autêntica e insubstituível CRISOPÉIA.
O Reino dos Céus está dentro, Rodolfo, não fora.
A PEDRA DOS FILÓSOFOS está em todos os lugares e em todos
os seres viventes. O Rei e a Rainha dormem no ser. Assim, pela ALQUIMIA
INTERNA, o neófito, percorrendo ascensionalmente os degraus da
Justiça, da Fortaleza, da Temperança e da Prudência,
encharcado de Fé (transracional), Esperança e Caridade,
alcançará o Adeptado. Um dia – é o seu supremo
ideal – será aceito como par dos Mestres. E será
também Mestre. Seu ser terá sido, então, igualado
ao SER. Sua luz, agora é LUZ. Ele e o Pai (Mãe) realizaram
a Suprema Androginia. O ser singular, agora Andrógino, funde-se
no e com o TODO. São UM. Contudo, esta é apenas uma etapa...
Apenas mais uma etapa... Pois a reintegração é
ilimitada... E assintótica... Uma imagem interessante e muito
antiga que pode ilustrar simbolicamente este conceito é o da
dicotomia dialética de Zenão (séc. VI a.C.-séc.
V a.C.). Nenhuma meta poderá jamais ser alcançada in totum,
porque antes de a meta ser alcançada metade do caminho deve ser
percorrido. Depois disso a metade da metade, e depois ainda a metade
da metade e assim 'ad infinitum'. Por isso Aquiles — 'o pé
veloz' — nunca poderá alcançar a tartaruga. A compreensão
e a realização de D'US será sempre incompleta,
relativa e ilimitada. Por isso, deuses e demônios são emocional
e racionalmente criados e, com o passar do tempo, perdem a soberania.
Novos deuses e novos demônios substituem os anteriores. Só
pela Iniciação 'in corde' poderá o ente não
se iludir nem com a razão nem com a emoção, porque
nessa circunstância incomparável e iluminante prevalecem
a RAZÃO e a VONTADE do D'US INTERNO, que lentamente se desvela
e se amalgama alquimicamente com o ente, transmutando a razão
e a emoção em OURO indesbotável. Essa é
a dor da Iniciação. Ela não tem fim. Mas, incomparavelmente
mais doloroso do que tudo é ser devorado pelos erros, pelas paixões,
pelas cobiças, pela ignorância e pelos desejos inferiores.
Os entes, obrigaroriamente, terão que decifrar o enigma da ESFINGE
para não serem devorados.
Mas qual será o objetivo
da Alquimia Prática? Repito uma vez mais: simplesmente a obtenção
preliminar da MEDICINA UNIVERSAL — a própria PEDRA —
e do OURO POTÁVEL, detentor de propriedades ainda desconhecidas
da Medicina. Intermediariamente, o processo permite a obtenção
da LUZ INEXTINGUÍVEL. E, por último, o PÓ DE PROJEÇÃO.
Deve-se ter sempre em mente, Rodolfo, de que a meta de todo Iniciado
é o Jardim das Hespérides. A MEDICINA UNIVERSAL, entre
várias possibilidades, progressivamente transmutando o Adepto,
coloca-o em um plano transnoético de consciência. A libertação
de 'Malkuth', único plano onde não está configurada
a Androginia, assim, poderá ocorrer, eximindo o Alquimista-Iniciado
da obrigação de neste plano continuar a atuar compulsoriamente.
Ao aprender todas as lições, será diplomado em
'Malkuth'. Mas, voltar ao Mundo da Concretização –
à Caverna – é um ato de misericórdia e de
solidariedade que nenhum Iniciado Autêntico se recusa a exercitar.
Leia ‘A República’, de Platão. Geralmente,
estes Iniciados, como fizeram, por exemplo, Pitágoras, Platão
e Plotino, retornam, incognitamente, para servir àqueles que
estão nas sombras. Entretanto, geralmente, são execrados,
caluniados, vilipendiados, perseguidos e desonrados. Não raras
vezes são assassinados. Não se pode esquecer de Sócrates,
que acusado de impiedade, foi envenenado com cicuta. Jacques de Molay
e Giordano Bruno foram calcinados. Joana D’Arc também foi
queimada viva. Nada foi mais medonho, durante a Idade Média,
para a disseminação da LUZ do que os infames Tribunais
do Santo Ofício.
Uma pista que a Alquimia
parece deixar aos pesquisadores é de que o processo operativo
apóia-se em leis radioativas ainda desconhecidas, já que
a física nuclear só conhece, até o momento, processos
que não incluem exclusivamente operações que requeiram
uma matéria, um cadinho de terra refratária, um forno.
VITRIOLVM, Crvcibulvm, Athanor. É no cadinho que o VITRIOLVM
morre para renascer, transmutado, espiritualizado, purificado. É
no cadinho que a MATÉRIA-PRIMA sofre a paixão semelhante
a do próprio Cristo e de todos os Cristos. É no cadinho
que se opera o percurso cristológico de purificação,
no qual são repetidas TRÊS VEZES A MESMA SÉRIE DE
SETE OPERAÇÕES. É no cadinho que se resume e se
replica a OBRA DIVINA, cuja meta é auxiliar a livrar o homem
do medo, da igorância e da dor. É em um cadinho que, daqui
a pouco, faremos juntos nossa projeção.
Mas como
saber, como ter certeza de que a PEDRA foi adequadamente produzida?
Como confirmar sua potência? A resposta é simples: TRANSMUTAÇÃO.
Pela cura de um leproso (metal inferior), ou seja, pela transmutação
de um metal menos perfeito em OURO. A Transmutação Alquímica
Operativa é tão-somente um teste da potência da
PEDRA, ou em termos mais atuais: Transmutação é
meramente controle de qualidade. Também já lhe expliquei
isso. Desculpe-me se estou sendo repetitivo. Mas estes pontos são
fundamentais. O ouro não tem valor para o Adepto. De certa forma,
o Adepto morre para o Mundo da Concretização!
E o PÓ DE PROJEÇÃO,
nesse processo, funciona, opera, enfim, como indutor artificial da transmutação.
Artificial porque os metais usuais, no estado natural (minérios),
estão em processo lento de evolução, alcançando
a perfeição como ouro nativo. A produção
de ouro alquímico é uma simples aceleração,
portanto artificial, do processo natural. A LEI DA NECESSIDADE é
universal. Nada existe no Universo que se evada desta LEI. Minerais,
vegetais, animais, seres humanos, corpos celestes, galáxias,
enfim, o próprio Universo estiveram, estão e estarão
sujeitos à essa LEI.
Raciocinando quimicamente
— acredito que assim facilitará sua compreensão
— o PÓ DE PROJEÇÃO age como se tivesse função
catalítica e, nesse sentido, é o catalisador universal.
Opera em minutos o que a Natureza leva milênios (ou milhões)
de anos para realizar no reino mineral. Talvez bilhões!
Uma observação
de suma relevância deve ser acrescentada: as Transmutações
Alquímicas não são todas iguais, quer sob o aspecto
quantitativo, quer sob a observação qualitativa. Dependendo
de como é fermentada a PEDRA FILOSOFAL, se com ouro ou com prata
muito puros, e dependendo da própria POTÊNCIA do PÓ
DE PROJEÇÃO (que pode ser elevada ao SÉTIMO GRAU)
e do respectivo leproso a ser curado, mais ou menos prata alquímica
ou ouro alquímico são produzidos. Sob outro ângulo
de observação, enquanto o zinco, por exemplo, ganha alguma
coisa ao se converter em ouro, o chumbo perde alguma coisa. E assim,
sob os moldes da físico-química contemporânea, os
dois processos poderiam, especulativamente, ser assim esquematizados:
30Zn—64 + 49X—133
—› 79Au—197 (incremento)
82Pb—208 - 3Y—11
—› 79Au—197 (decremento)
Tudo converge, assim,
para o ouro, para o sol (e para o SOL) e o PÓ tem o poder secreto
e alquímico de operar a transmutação. A Transmutação
Alquímica, entretanto, não é um processo tão
elementar assim. A coisa se passa, substantivamente, mas não
exclusivamente, no nível nuclear, e o ganho ou perda em cada
caso (e em todos os outros) não se faz em uma só etapa.
Tudo se passa (sempre) em conformidade com a LEI DO TRIÂNGULO.
E como não poderia deixar de ser: o ouro alquímico, semelhantemente
ao ouro nativo, também não apresenta isótopos.
E a tão incompreendida insecabilidade elementar fica proscrita.
A Alquimia Prática ou Operativa é uma ciência antiqüíssima,
positiva, que utiliza nas suas operações técnicas
particulares, que permitem ao Adepto chegar a um fim previsto, irredutível
e específico.
A posse da GEMA HERMÉTICA
foi festejada por vários adeptos. Eugénio Canseliet, discípulo
dileto de Fulcanelli, afirmou que quem a possui tem assegurado o tríplice
apanágio: Conhecimento, Saúde, Riqueza. Henrique de Linthaut
assegurou que ela encerra o Mistério da Criação,
iluminando as coisas tenebrosas. O Cosmopolita asseverou que, pela consecução
da OBRA, o Filósofo percebe e aprende como o mundo foi criado.
E Fulcanelli, para enaltecê-la e a todo o labor alquímico,
deixou, como você sabe, duas obras monumentais: 'O Mistério
das Catedrais' e 'As Mansões Filosofais'. Certamente, Fulcanelli,
de todos os autores antigos e modernos, é, de longe, o mais didático,
o mais sincero, o mais convincente e o mais fraterno que dissertou sobre
a 'ARS MAGNA', e o que mais reverenciou a PEDRA FILOSOFAL. Já
Paracelso disse que a Alquimia não visa apenas obter o 'LAPIS',
mas CURAR. CURAR, não apenas o corpo, mas auxiliar a CURAR a
personalidade-alma. Acho que você já deve ter compreendido
essas regras preliminares.
Por último, é
preciso que se leve em conta que os Alquimistas possuem, entre todas
as superlativas qualidades que deles se possa presumir, esperar ou admitir,
um altíssimo senso ecológico. E assim, compreendem que
modificações ou alterações ambientais provocadas
são deletérias ao próprio equilíbrio planetário
e universal. Por via de conseqüência, as transmutações
que realizaram — ou permitiram que fossem realizadas — sempre
ocorreram em mínimas quantidades. A riqueza à qual aludiu
Canseliet, nesse sentido, só pode e só deve ser entendida
como de ordem espiritual, mística, esotérica, iniciática
e hermética. A trajetória real da PURIFICAÇÃO
CRISTOLÓGICA opera-se, em última instância, no próprio
Alquimista. É no próprio ser singular que toda a coisa
atua.
De qualquer forma, hoje, como
sempre, alguma forma de Alquimia está sendo operada em cada elétron
do Universo, pois as LEIS DA NECESSIDADE e DA REINTEGRAÇÃO
são universais. Por isso, Rodolfo, não esqueça
jamais:
—
É chegada a hora, 'frater' Rodolfo — pronunciou-se
nobremente Lucel-Lafin — de você constatar com seus próprios
olhos uma Transmutação Alquímica. Deixo a sua escolha
o leproso que você deseja ver glorificado.
Eu estava assombrado com aquela
oferta singular. Quis dizer alguma coisa, mas não consegui. Como
sobre a bancada do LABORATÓRIO DA RESIDÊNCIA DOS ADEPTOS
havia amostras de diversos metais, achei que, para facilitar, o chumbo
serviria para a demonstração. — Acho que poderíamos
projetar sobre o chumbo. Que acha o Senhor? — Falei timidamente.
Lucel-Lafin concordou e os preparativos começaram. Meu Ilustre
Mestre deu-me um pequeno pedaço de chumbo para examinar. Eu disse
que estava de acordo, pois era chumbo mesmo. Ele, sabendo que sou químico,
não insistiu para que eu testasse a amostra do metal. O chumbo
já era conhecido há 4.000 anos a. C. É um metal
anfótero e muito tóxico. Mas se manejado com precaução
não causa danos a quem o manipula. Sua massa atômica aproximada
é 207, apresenta coloração azulado-prateada e funde
a 327,4° C. É, portanto, completamente diferente do ouro.
Mesmo um leigo reconhece imediatamente a diferença entre os dois.
Em acréscimo, o ponto de fusão do ouro é 1063 °C
e as densidades em g/cm³ do chumbo e do ouro são, respectivamente,
19,3 e 11,3. Confundir chumbo com ouro é o mesmo que não
diferir uma banana de uma laranja. E um químico, com uma consistente
experiência laboratorial como eu, que particularmente aprecia
bananas, jamais poderia desconhecer a diferença entre chumbo,
ouro, bananas e laranjas.
O Illuminado
solicitou minha ajuda para montar a aparelhagem na qual seria processada
a transmutação. Isto, obviamente, foi um gesto de cortesia
e de confiança de Lucel-Lafin. Sobre a bancada colocamos um tripé
e sobre este um triângulo de porcelana. Acomodado sobre este triângulo
foi posto um cadinho de porcelana, que como todo químico sabe,
tem o formato de um tronco de cone e é utilizado nos laboratórios,
geralmente, para fundir ou calcinar minérios, minerais e metais
ou para realizar operações químicas ou físico-químicas
específicas que solicitam altas temperaturas. Sob o cadinho foi
adaptado um possante bico de gás.
Quando tudo estava pronto
Lucel-Lafin propôs: — Oremos: Que esta SANTA HORA,
com a bendição de nossos Irmãos Maiores, dos Mestres
e de NOSSO IRMÃO IMMANUEL, possa repercutir emocional e misticamente
em nossos corações. ASSIM SEJA. Eu não consegui
dizer uma única palavra. O Adepto compreendeu, pois, inquestionavelmente,
sabia que eu havia acompanhado, validado e selado mentalmente a oração.
Então, ele me pediu
que eu escolhesse um pequeno pedaço de chumbo e o colocasse no
cadinho. O bico de gás foi aceso para fundir o chumbo. Quando
o metal alcançou o ponto de fusão, Lucel-Lafin, de uma
pequena caixa branca e translúcida de porcelana, provavelmente
japonesa, retirou um grão de um pó avermelhado e o recobriu
cuidadosamente com cera branca de abelha. Isto feito, pediu-me que lançasse
a bolinha por ele preparada no metal em fusão. Com toda dignidade
e com todo cuidado fiz o que me foi ordenado. Em silêncio, aguardamos
que a CRISOPÉIA se processasse. Imediatamente o chumbo em fusão,
por ação do pó avermelhado, começou a borbulhar
violentamente. Em um dado momento pensei que aquela coisa toda, que,
não sei porquê, me lembrou uma traquitanda, iria explodir.
Mas, não. Semelhantemente ao temporal de algumas poucas horas
atrás que amainara, a violência inicial foi cedendo e a
massa apenas se movia em ondas no cadinho. Acho que aquele temporal
teve alguma vinculação com o que estava acontecendo agora!
Finalmente tudo se acalmou.
Mais ou menos quinze minutos
depois... OURO.
Agora, sim! Eu havia momentaneamente
perdido a voz e um pouco do comedimento que estava me auto-impondo até
aquele inigualável momento. Eu não sabia se estava sonhando
ou se estava acordado. Lucel-Lafin sorria e seus olhos azuis-celestes
estavam radiantes. Instantes depois, eu comecei a saltar de alegria
dentro do LABORATÓRIO DA RESIDÊNCIA DOS ADEPTOS e falava
emocionadíssimo sem parar: OURO! OURO! OURO!
Alguns minutos depois de ter
presenciado o mais espetacular fenômeno místico-alquímico
operativo da minha vida, já recomposto física e emocionalmente,
Lucel-Lafin tomou a palavra pra fazer suas considerações
finais. — Rodolfo, devo reprisar alguns conceitos e, humildemente,
oferecer alguns temas para que, no futuro, você possa meditar.
Primeiro, em memória desta SAGRADA NOITE, quero lhe oferecer
esta pequena porção de ouro alquímico que produzimos.
Aconselho que você não a utilize para fins mundanos. —
Certamente que não, Senhor Lucel-lafin. Respondi com a mais profunda
sinceridade. — Vou guardá-la com carinho em um local seguro.
Verdadeiramente, eu gostaria de ficar com esta peça de ouro alquímico.
Agradeço, sensibilizado, sua bondade. E sempre que vier a olhá-la,
hei de me lembrar deste 22 de Junho de 2000.
Depois de arrumarmos rapidamente
o LABORATÓRIO DA RESIDÊNCIA DOS ADEPTOS, Lucel-Lafin convidou-me
para fazer um rápido lanche. Tomamos chá de maçã
com torradas. Meu amigo ofereceu-me frutas, mas polidamente recusei.
Estava ansioso para ouvir seus comentários derradeiros. Este
último ato aconteceu novamente na biblioteca. O relógio
de pêndulo da biblioteca, que antes eu não havia notado,
marcava vinte e uma horas e cinqüenta minutos. Eu não o
percebera, talvez, porque o aparelho apenas marcasse o tempo e indicasse
as horas. Aquele relógio ou era mudo ou havia sido silenciado
intencionalmente. Optei por esta segunda hipótese. Eu não
conhecia nenhum relógio de pêndulo que não anunciasse
os quartos de hora, as meias horas e as horas. No mínimo tocava
as horas inteiras.
Lucel-Lafin apanhou um livro
em uma das estantes e começou sua última locução.
— Tenho nas mãos uma obra insólita publicada em
1887 por Franz Hartmann. Seu título é: 'An Adventure Among
the Rosicrucians'. Vou ler alguns trechos e tecer alguns comentários.
Recomendo a você que adquira um exemplar. A Ordem Rosacruz–AMORC
lançou-a há nove anos em português sob o título
de 'Uma Aventura Entre os Rosacruzes'. Logo na segunda página,
Hartmann cita alguns versos de Lord Byron que os lerei para você.
'Aquele que ascende ao alto da montanha,/encontra os mais elevados
picos envoltos em neve;/Aquele que sobrepuja ou submete a humanidade,/deve
contemplar o ódio dos que estão lá embaixo. Embora
no alto o Sol da glória brilhe,/e muito abaixo terra e oceano
se espraiem,/à sua volta há rochas gélidas e poderosamente
ressoam tempestades/por sobre sua cabeça descoberta,/recompensando
assim as lutas que a essas alturas conduziram. Já nos limites
do Mosteiro Teosófico dos Irmãos da Rosa-Cruz Dourada,
o Imperator dessa Fraternidade ensina ao visitante: ... se imaginas
que tens uma ‘vontade própria’, com um modo de ação
diferente do da Vontade Universal, apenas pervertes uma parte insignificante
da mesma e a opões ao grande Poder Original... Tua vontade só
poderá agir poderosamente se permanecer idêntica à
Vontade do Espírito Universal. Tua Vontade será mais forte
se não tiveres vontade própria e permaneceres obediente
em tudo à Lei. O Verdadeiro Adepto, Rodolfo, dirige com responsabilidade
e concertamento o poder da Vontade Universal nele manifesto, e nunca
o aplica contra as Leis de D’US e da Natureza. Como bem se expressou
o Imperator dessa Ordem A Vida é Universal e está em toda
a parte; Ela é uma só com a Vontade. Eu resumo e sentencio:
ELA É UMA SÓ PORQUE É SÓ UMA. NÃO
HÁ DUAS VONTADES. HÁ UM ÚNICO D’US E UM SÓ
UNIVERSO.
Neste momento, Lucel-Lafin
fechou suavemente os olhos, e, como se estivesse lendo o livro com os
olhos semicerrados, ensinou-me: — No transcurso do milênio
que está a chegar, será consideravelmente aumentado o
contingente de seres que acabarão por se tornar seus próprios
mestres. Dentre os poderes que se manifestarão, decorrentes dessa
mais elevada condição místico-espiritual, inserem-se,
entre outros, a projeção psíquica, a clarividência
e a clariaudiência. O ente passará a raciocinar mais por
si e aceitará cada vez menos (ou até não aceitará)
que outros pensem ou decidam por ele. Progressivamente, tornar-se-á
menos incompleto, ainda que, jamais, possa vir a ser inteiramente completo.
Isto, porque sua intelectualidade concordará em se abastecer
das idéias arquetípicas, portanto universais. Seu Eu Superior
transmutará em ato os requisitos necessários para a aquisição
progressiva da SABEDORIA UNIVERSAL PERPÉTUA. Aprenderá
ipso facto a não temer as eventuais resistências
e as influências antagônicas, bem assim, compreenderá
que o PRINCÍPIO UNO UNIVERSAL, nele existente desde sempre, não
é alterado ou perturbado pela oposição, irritado
pela contradição e confundido por sofismas. Este PRINCÍPIO
UNO UNIVERSAL é incriado, independente, imaculado, imutável,
onipotente, livre, mas, paradoxalmente, inacessível em Sua integralidade.
Contudo, nada disso será alcançado pela força,
seja ela de origem científica, seja ela de origem teológica;
mas tão-só pela FORÇA INTERIOR OU BELEZA INEXAURÍVEL
E PELO PODER DA VONTADE que dissipam as sombras e as ilusões.
Meu adorado Frater
teceu mais algumas considerações sobre esta obra magnífica,
e arrematou: — Em ‘A República’, do
Divino Platão, no Livro X, pode-se extrair e parafrasear, como
conclusão do nosso labor de hoje, o seguinte pensamento: Trair
a Verdade é o pior dos atos. Buscar a Verdade deve se constituir
na única e verdadeira meta do ser. Este é o verdadeiro
e exclusivo sentido da INICIAÇÃO. Pela VERDADE, com a
VERDADE e na VERDADE os mistérios são desocultados e a
LLUZ se faz.
Então, com os trabalhos
encerrados, não pude deixar fazer uma última pergunta.
Sobre aquela curiosidade humana que estava me atormentando há
algum tempo atrás. — Senhor Lucel-Lafin, da primeira vez
em que estivemos nesta biblioteca, pensei ter visto um estranho homúnculo
barbudo, cabeludo e narigudo a nos observar pela janela. Quando casualmente
olhei para ele, desapareceu como que por encanto. Foi uma segunda visão
que tive nesta SAGRADA RESIDÊNCIA ou ele realmente existe? Lucel-Lafin
sorriu e falou gentilmente: — Ele existe e é de carne e
osso como você. Não é um gnomo ou um duende como
você, equivocadamente, talvez tenha deduzido ao vê-lo rapidamente.
Eu o encontrei vagando a esmo em uma praça de Copacabana, e depois
de conversar com ele por meia hora, convidei-o para vir morar na residência.
Ele insiste em só ser chamado por ThiLTaBoL. Não é,
obviamente, seu verdadeiro nome. Ele tem um nome de batismo que seus
pais lhe deram ao nascer. Contudo, se você utilizar o método
cabalístico denominado ALBaM e transliterar para o alfabeto
latino as letras hebraicas encontradas, compreenderá porque ele
escolheu para si essa denominação esdrúxula e picaresca.
As vogais que introduziu neste apodo têm um significado especial.
Junte tudo e você compreenderá a luta interior que esse
nosso irmãozinho empreende para compensar amorosamente erros
inconscientes cometidos em um passado distante. Quanto à sua
primeira visão, só posso lhe dizer que foi real. Eventualmente,
nosso IRMÃO MAIOR projeta-se para nossa SALA DE TRABALHO. Principalmente,
quando, em caráter excepcional, recebemos um visitante.
Pela segunda vez naquela noite,
a figura solitária e doentia da minha sogra apareceu em meus
pensamentos. Semelhantemente a ThiLTaBoL, desde jovem trocou seu nome.
Não admite e não suporta ser chamada pelo nome com o qual
foi batizada! Ai daquele que tentar chamá-la pelo nome recebido
pelos pais! Há miséria, doença e ignorância
em todos nós. Misericórdia D’US meu, repeti a súplica
que fiz no lavabo, pelos que sofrem sem saber o motivo dos seus sofrimentos.
Misericórdia. Compaixão. Piedade. Compreensão.
Um pouquinho de Luz! Particularmente, agora, para aquela mãe
e para aquela filha. Uma, por ser incuravelmente doente: outra, por
sofrer com e pela mãe sem quase nada poder fazer! Eu, como místico,
ajudo de duas maneiras: em silêncio e objetivamente, quando necessário.
Retomando a palavra, meu ilustre
anfitrião ofereceu: — Se você me honrar em aceitar,
desejo lhe ofertar uma gota do nosso ELIXIR. Ele o auxiliará
em sua caminhada solitária e em suas pesquisas místicas.
Pronta e penhoradamente aceitei.
Lucel-Lafin, então, pingou UMA ÚNICA GOTA do líquido
sob minha língua. Agradeci com humildade e beijei respeitosamente
a mão que me servira. Os efeitos desta MEDICINA UNIVERSAL operaram
instantaneamente e continuam operando até hoje em todo o meu
ser.
Era chegada a hora de partir.
Eram vinte e duas horas e trinta minutos. Minha despedida do Adepto
foi, ao mesmo tempo, dolorosa, e emocionante. Um abraço longo
e comovente nos separou. Provavelmente para sempre. Suas últimas
palavras ainda ressoam em meu coração: PAZ PROFUNDA,
MEU FRATER. PESQUISE OS MISTÉRIOS DO NOME IMMANUEL.
Pierre nos aguardava com o
motor do carro em funcionamento e a porta direita traseira aberta. Não
soube, não sei hoje e acho que nunca irei saber como ele pôde
estar preparado para partirmos exatamente naquele momento. O que eu
sei é que Lucel-Lafin não o avisara que minha visita havia
sido concluída. Pierre solicitou que eu me acomodasse a gosto
e partimos lentamente. No bolso direito da minha calça, dentro
de um pequeno saquinho de veludo vermelho, estava o OURO FILOSOFAL que
produzimos. Apalpei-o para ter certeza de que ainda continuava ali.
Claro, continuava.
Não resisti em dar
uma derradeira olhadela na RESIDÊNCIA DOS ADEPTOS e vi, pelo vidro
traseiro do automóvel, Lucel-Lafin e ThiLTaBoL, ambos no terceiro
degrau da escadaria, acenando calorosamente para mim. Então chorei.
Saudade! Alegria! Tristeza! Sabedoria transmitida! Amor incondicional!
Chorei pela Humanidade ainda perdida neste Planeta repleto de bem-aventuranças
que ela insiste em transformar em vale da morte e de ilusões.
Orei em silêncio por todos os seres do Universo. Agradeci. Agradeci
muito.
Ao chegar ao portão
que isola a RESIDÊNCIA do mundo exterior, Pierre, educadamente,
dirigiu-se a mim e me pediu que colocasse a venda novamente. E arrematou:
— Queira me desculpar. Mas o senhor sabe que esta providência
é necessária para nossas mútuas seguranças.
Até chegarmos ao Largo da Usina não disse mais uma palavra.
Isso foi, em boa medida, prudencial, elegante e conveniente. Pude rever
mentalmente o que aprendera naquele interlúdio de aproximadamente
nove horas. Foi como se estivesse ouvindo ainda Lucel-Lafin a me ensinar
os segredos invioláveis guardados por séculos no seio
das Fraternidades Iniciáticas:
Como expliquei, a transmutação
do ouro pode ser entendida da forma abaixo. Tomemos para exemplo o zinco:
30Zn—64 + 49X—133
—› 79Au—197
A partícula
49X—133 só por desatenção
poderá ser considerada como um dos isótopos do índio
(In—113 e In—115). Isto seria equivalente a admitir
que bastaria metalurgicamente adicionar (fundir) zinco ao índio,
que existe em pequenas quantidades nas minas de zinco, que se obteria
ouro. Por outro lado, o hipotético número de massa da
partícula X é, em média, 19 unidades superior
à média dos números de massa dos dois isótopos
do índio (114), número que equivale também à
diferença entre o número atômico desta hipotética
partícula e o número atômico de zinco (49 –
30 = 19). Após estas explicações, parece ficar
evidente que a aquisição material, que o zinco recebe
para se transmutar em ouro, envolve energias de uma natureza tão
refinada e hermética que alteram ao mesmo tempo sua estrutura
nuclear e sua periferia eletrônica. E mais. A adição
de 133 unidades de massa ao núcleo de zinco e de 49 elétrons
à sua periferia denotaria, se fosse o caso, uma modalidade de
fusão nuclear absolutamente fantástica, se comparada aos
conhecimentos atuais da Física Nucelar. Já o processo
de transmutação do chumbo (82Pb—208
—› 79Au—197 + 3Y—11)
é fissionalmente mais fácil de ser compreendido, ainda
que ambos os processos – que se constituem em um – apenas
sejam do conhecimento dos Altos Iniciados e Hierofantes das Sociedades
Iniciáticas.
Finalmente, é preciso
observar que a coisa, sob os moldes da físico-química
hodierna, fica mais complicada de ser entendida se se levar em conta
os diversos isótopos, quer do zinco, quer do chumbo, quais sejam:
a) zinco: 30Zn—64, 30Zn—66,
30Zn—67, 30Zn—68
e 30Zn—70
b) chumbo: 82Pb—204, 82Pb—206,
82Pb—207 e 82Pb—208
E assim, ainda que se
considere que cada elemento seja ele próprio o mesmo(?!), para
cada isótopo que o compõe, uma reação alquímica
específica deverá, obrigatoriamente, acontecer, para que
o processo chegue a bom termo, pois aqui não se trata nem de
fusão nem de fissão nucleares.
Não se esqueça,
Rodolfo, de que estamos falando de Alquimia. No Universo não
pode haver encarnação sem que ocorra precedentemente a
desencarnação. Esta é a LEI DA NECESSIDADE que
opera conjuntamente com a LEI DA RETRIBUIÇÃO ou LEI DA
RECIPROCIDADE. Freqüentemente, o ilusório (‘mâyâvico’)
poder sobre o relativo e o fugaz impõe solertemente aos entes
que não ouçam e não respeitem seu Eu Interno e
que se afastem do Absoluto. As LEIS referidas objetivam, lentamente,
ensinar a todos os seres que nenhum prazer terrenal poderá satisfazê-los
completamente, ainda que uma outra LEI, paradoxalmente, mas, invulneravelmente,
jamais possa deixar de se manifestar também. Refiro-me à
LEI DA ILUSÃO PERMANENTE. Por isso, Rodolfo, compreender é
necessário, pois renunciar é imperativo. E só se
renuncia quando se compreende! Pois, a renúncia pela renúncia
é a pior das patologias! A renúncia pela renúncia,
resultado oriundo da ignorância e do medo, no mínimo, pode
levar ao infra-sexo, profundamente detrimental para o ente. Remonte,
por um momento, à Parábola do Filho Pródigo! A
alegria do Pai, quando o filho retorna à casa paterna, simboliza
tudo que conversamos e praticamos neste abençoado 22 de junho.
Da mesma forma que o chumbo se regenerou, toda a natureza naturada está
em irredutível processo de regeneração e de reintegração.
Isso inclui, portanto, os próprios seres. Todos. Assintoticamente,
não esqueça. O próprio ouro não representa
a conclusão e o fim definitivo da PEREGRINAÇÃO.
É tão-somente um limite a ser ultrapassado em uma JORNADA
ILIMITADA! Mas, todas as ilusões exteriores, a magia cerimonial,
os ‘passes’, os ritualismos teúrgicos e a própria
Alquimia Operativa são meras provas faustianas. Guarde, permanentemente,
em sua memória, a confissão de Saint-Martin a Liebisdorf:
‘Não há mais Iniciação senão
a de D’US e de seu VERBO ETERNO, que está em nós...’
Definitivamente compreenda: A Alquimia Operativa é um caminho
para o VERDADEIRO CAMINHO que pode prescindir desse caminho.
Retornando à Alquimia
Operativa, objeto prático-teórico de nossas atenções
‘laterais’ neste dia, a dificuldade parece chegar ao limite,
mas não para os Adeptos da Arte, quando da transmutação
do mercúrio, que apresenta isótopos com números
de massa abaixo e acima do número de massa do ouro (79Au—197).
Ou seja: 80Hg—196, 80Hg—198,
80Hg—199, 80Hg—200,
80Hg—201, 80Hg—202
e 80Hg—204.
Curiosamente – e se
deve meditar sobre isso – o mercúrio não apresenta
isótopos com números de massa iguais a 197. Aliás,
não há em a natureza nenhum elemento que possua um isótopo
com número de massa igual a 197. Enfim, conclusivamente, pode-se
admitir que os procedimentos alquímicos operativos manipulam
quantidades específicas de energia, e o(s) processo(s) envolve(m)
sempre técnica(s) intranuclear(es) e extranuclear(es) desconhecida(s)
da ciência contemporânea.
Fui acordado de minhas elucubrações
no Largo da Usina, quando Pierre anunciou simpaticamente que eu já
podia retirar a venda negra. Quinze minutos depois, ele estava estacionando
na porta do prédio em que moro. Convidei-o a subir, mas ele recusou
polidamente. Despediu-se desejando-me sucesso, saúde e paz. Seria
ele também um dos VINTE E DOIS? Isso, provavelmente, eu jamais
viria a saber.
LIVRO
IV – UMA MADUGRADA DIFERENTE DE TODAS OS OUTRAS
Era quase uma hora da manhã,
e todos os acontecimentos vividos por mim naquele dia não me
saíam da cabeça. Como poderiam? Fiz uma revisão
geral desde a hora em que acordei até aquele momento. Tudo era
fantástico. Fantástico demais para o meu gosto e para
a minha ignorância. Fantástico demais para a normalidade
da vida que estou acostumado a viver. Mas, verossímil em função
de determinadas experiências pessoais de natureza místico-iniciática
pelas quais tive a honra e o privilégio de passar.
Sobre a mesa à minha
frente o pequeno pedaço informe de OURO alquímico parecia
querer me dizer: É VERDADE! Bem, como tenho certeza absoluta
de que estou no pleno gozo de minhas faculdades mentais e orgânicas,
e como aquele pedaço de OURO ali estava sem que eu o tivesse
adquirido de outra forma a não ser pela qual a descrevi nestas
mal traçadas linhas, concluí que não estava delirando,
sonhando(?) ou enlouquecendo. Minha formação científica
me obriga a cuidados adicionais no julgamento de fatos que envolvam
a ciência. Mas a Alquimia é uma forma especial de Ciência
que não encontra paralelo nas ciências tradicionais. Feitos
todos os cotejamentos e confrontamentos, só pude concluir que
eu estivera realmente na RESIDÊNCIA DOS ADEPTOS. Mas, um fato
estarrecedor me deixou absolutamente perplexo: de repente, percebi que
a maioria dos livros a que Lucel-Lafin havia feito referência
em nosso insólito encontro estava sobre a mesa ao lado do pequeno
pedaço de OURO ALQUÍMICO. Havia uma pilha de DEZESSETE
livros olhando para mim! Não sei como, consegui consultar todos
eles! Eu já estava começando a tirar de letra todos aqueles
fatos inabituais. Mas como aqueles livros foram parar ali? Quem os havia
colocado?
De repente, aquela VOZ SILENCIOSA
que fala comigo quando quer e me auxilia quando manifesto ignorância,
entrou no circuito. Eu lhe disse na Igreja: Vá. Não
receie. Estarei ao seu lado. Confie. É chegado o tempo da confirmação.
Você teve o privilégio de sancionar o que vem estudando
teoricamente há anos. Siga as recomendações. Só
publique os fatos hoje vividos por você, no mínimo, daqui
a três anos. Não antes. Agora, reflita sobre o nome do
Adepto que o acolheu na RESIDÊNCIA. Não se esqueça,
conforme sugeriu seu Iniciador-Encaminhador de pesquisar também
os segredos do NOME IMMANUEL.
Imediatamente pus-me a trabalhar.
Louis-Claude Lucel-Lafin. Seu nome possui 21 letras. A Lâmina
XXI do Tarô é a do LOUCO, que representa uma passagem na
evolução. A letra hebraica correspondente é XhIN,
cujo valor pleno é 360 (300 + 10 + 50). A adição
dos algarismos do número 360 é igual a 9, que representa
três voltas completas em torno do TRIÂNGULO. Três
repetições de sete operações (vinte e uma
operações) são necessárias para completar
a OBRA ALQUÍMICA. E mais: 21 = 2 + 1 = 3. No TRIÂNGULO
ARQUEOMÉTRICO DO VERBUM, a LETRA PLANETÁRIA DE
JESUS é exatamente a letra XhIN, mas aqui deve-se pensar
e trabalhar com o seu valor externo ou aritmológico, que é
300, pois 300 = 3. TRINDADE. Mercúrio. Enxofre. Sal. Esta letra
ShIN está associada às LETRAS ZODIACAIS I
(Y) = 10, Ph = 80 e V (O) = 6. E,
logo me veio à mente a palavra ShOPhIa (300 + 6 + 80
+ 10 = 396). 396, segundo Saint-Yves D’Alveydre, é o NÚMERO
DA SABEDORIA DIVINA. Assim tem-se: SheMAH-IM (300 + 40 + 1
+ 5 + 10 + 40 = 396). Logo pode-se estabelecer a seguinte equivalência:
ShOPhIa
= SheMAH-IM = 396 |
Por isso, a Filosofia só
pode operar nos limites da dianoia (entendimento ou razão
discursiva) e/ou da noesis (inteligência ou razão
intuitiva), que são, segundo Platão, os dois setores nos
quais se subdivide o mundo inteligível ou noeta. O Iniciado
se esforça para trabalhar na esfera da ShOPhIa, ou seja,
em planos ou estados transracionais. Seu interesse é, nesse sentido,
a FiloShOPhIa.
Voltando à Lâmina
XXI do Tarô, esta possui, ainda, um nome esotérico: AMOR.
Nas ‘Meditações Sobre os 22 Arcanos Maiores
do Tarô’, livro que estava incluso na pilha que havia
aparecido misteriosamente em minha casa, verifiquei que o Autor Anônimo
oferece diversas reflexões sobre esta Lâmina. Apresentarei
resumidamente aquelas que considero mais importantes. É o LOUCO
do BEM, pois caminha da esquerda para a direita. Aqui faço
uma breve pausa para concordar inteiramente com o Autor da obra aludida.
Os Arcanos do Tarô são mais do que símbolos e até
mais do que exercícios espirituais: ... são arquétipos
ativos e iniciadores. O AMOR, assim, tem sua contraparte atual
no esquema cósmico, ou seja, embute ocultamente três aspectos
distintos que compõem um todo. Metafísico. Filosófico.
Místico. Este Arcano adverte para o perigo da pura intelectualidade
que impede a ascensão e o acesso à ShOPhYa pela
vereda do AMOR. O Arcano O DOIDO (ou O LOUCO) está
– conforme ensina o Autor Desconhecido – vinculado à
transformação da consciência individual em CONSCIÊNCIA
CÓSMICA. Ele ensina sobre a possibilidade de poder ser alcançado
o Plano da Consciência Transcendente ao mesmo tempo em que adverte
para o perigo nela encerrado. Esse perigo, contido na elevação
da consciência, contém a indiferença, a insuficiência,
a irresponsabilidade e o ridículo. Em uma palavra, a loucura.
A LUZ ABSOLUTA pode cegar o intelecto e mergulhar o místico nas
trevas. O EXERCÍCIO DA VONTADE de pensar não pode ser
abandonado, nem pode ser desdenhada a produção de pensamentos
conscientes em prol do próprio místico e da sociedade.
O retiro permanente em busca da LUZ – que já existe no
próprio retirante – e/ou o atordoamento contemplativo para
dentro de si mesmo são contrários à estabilidade
psíquica e ao propósito real do processo iniciático.
A meta verdadeira do Iiniciado Consciente é suplantar a consciência
intelectual, mas jamais prescindir dela. Ultrapassar o intelecto é,
pois, torná-lo superativo, enquanto passar sem o intelecto é
reduzi-lo à passividade completa. Este é, assim, o Arcano
do matrimônio dos opostos (conjunctio oppositorum), vale
dizer, da união da intelectualidade discursiva e da razão
intuitiva com a espiritualidade místico-iniciática-iluminadora.
Isto se compreende por ALQUIMIA DIVINA. Na Primeira Epístola
aos Coríntios Paulo deixou escrito: Se alguém
dentre vós julga ser sábio aos olhos deste mundo, torne-se
LOUCO para ser sábio... As núpcias do Sol com a Lua
simbolizam estes conceitos, cujo resultado é a PEDRA FILOSOFAL.
Neste processo, indução e dedução devem
obrigatoriamente coincidir, isto é, o esforço da consciência
humana e a REVELAÇÃO DO ALTO devem se tornar harmônicos
e unificados. A GRANDE OBRA da PEDRA é, insubstituível
e irrefragavelmente, proporcionar a união da espiritualidade
com a intelectualidade. O LOUCO é assim, o Arcano da
formação da PEDRA FILOSOFAL na qual está concentrada
a dupla certeza: a da revelação do Alto (que está
dentro de cada um de nós) e a do conhecimento humano. Por esse
motivo O LOUCO caminha da esquerda para a direita e não
afasta o cão que o ataca. Só depois destas reflexões
foi que pude entender as pequenas, mas verdadeiras e significativas,
modificações que Lucel-Lafin introduziu na Tábua
de Hermes, ao reproduzi-la, parcialmente, de memória para mim.
É verdade, sem mentira, certo e inteiramente verdadeiro:
Aquilo que está embaixo É e NÃO É semelhante
ao que está em cima, e o que está em cima É e NÃO
É como o que está embaixo. Cabe ao Alquimista transmutar
o NÃO em SIM. Essa é a OBRA.
Depois de muito pesquisar
e de consultar os livros que vieram do nada, resolvi, então,
examinar mais detidamente o nome do meu Iniciador. Senti um arrepio
percorrer todo o meu corpo quando percebi que, anagramaticamente, Lucel-Lafin
é equivalente a FULCANELLI. Isto teve o efeito de uma bomba arrasa-quarteirão
sobre minha cabeça. Farei umas breves considerações
sobre esse nome e deixo ao leitor interessado nessa matéria um
aprofundamento pessoal mais enriquecedor. FULCANELLI possui dez letras,
portanto está associado à Décima Lâmina do
Tarô - A RODA DA FORTUNA - e à décima letra do alfabeto
hebraico – IOD. Ao se trabalhar com estas categorias
do esoterismo místico-cabalístico, deve-se ter o cuidado
de operar conjuntamente, ou seja: Alfabeto e Tarô. Por outro lado,
se é feita a transliteração das letras do nome
do Adepto para o alfabeto hebraico, obtém-se 262, porque F =
80, U = 6, L = 30, C = 20, A = 1, N = 50, E = 5, L = 30, L = 30 e I
= 10.
Minimamente, devo comentar
que: 1°) 262 = 10 = 1; 2°) 262 é equivalente a BVB,
significando que a UNIDADE se manifesta pela DUALIDADE. VAV
é o gancho. BETh, que preside a primeira palavra do
Gênese, possui valor pleno 412 (2 + 10 + 400), que, por
adição, gera o SETE. E sete foram(?!) os dias... E sete
são os passos da OBRA... que devem ser repetidos... VAV
é o mesmo(!) gancho que une as duas letras HE do SANTO
NOME IEVE. 3°) FULCANELLI começa com F e termina
com I ( 80 + 10), equivalente aos três L embutidos em
seu nome (30 + 30 + 30), ou seja, 90 (TzaDE) – O BRAÇO
DIVINO. 4°) Por último, os valores plenos das letras de FULCANELLI
= LUCEL-LAFIN = 681. A adição de seus algarismos é
igual a 15, valor secreto de 5 (1 + 2 + 3 + 4 + 5): PENTEGRAMA DE FAUSTO
e letra hebraica HE. A redução deste número
gera o número 6, valor secreto da TRINDADE, porque 1 + 2 + 3
= 6. A TRINDADE me perseguiu desde o momento em que conheci Lucel-Lafin!
Eu já estava ficando
cansado e com sono, mas ainda havia algo a fazer. Refletir sobre o NOME
IMMANUEL. Sintetizo da seguinte forma o que pude pesquisar e intuir:
|
1°) IMMANUEL = IMMA + NUEL
2º) IMMA = 10 + 40 + 40 + 1 = 91
3º) NUEL = 50 + 6 + 5 + 30 = 91
4º) IMMA = NUEL = 91
5°) 91 = 9 + 1 = 10 = 1 = UNIDADE ... Tudo é UM! Pitágoras.
TETRACTYS. 1 = 10 = 4. ALeF, IOD, DaLeTh...
6°) IMMANUEL = 10 + 40 + 40 + 1 + 50 + 6 + 5 + 30
7°) IMMANUEL = 182 = 1 + 8 + 2 = 11 ... 11 = 2. A PAPISA.
A 'ShOPhIa' edificou sua casa, esculpindo SETE COLUNAS. (Provérbios
IX, 1).
8°) 11 = FORÇA —› ESTA É
A FORTALEZA FORTE DE TODA FORTALEZA PRESENTE NAS OITO LETRAS DO NOME
IMMANUEL (em Aramaico a grafia do NOME IMMANUEL é com J, que
é equivalente ao IOD hebraico) PORQUE ELE É A
ROSA DE SHARON, O LÍRIO DOS VALES...
9°) As duas letras MeM, numericamente, equivalem a 80 (40
+ 40), que, por sua vez, equivale ao valor externo da letra PhE
e ao valor AThBaSh da letra VAV. No sistema ALBaM
existe a mesma equivalência... No NOME IMMANUEL...
10°) As quatro vogais (vogais por transliteração para
o alfabeto latino) do NOME são: IAUE. Mas, um
dos valores ocultos de A é HE e U
= O = V. Portanto, em IMMANUEL está embutido
ocultamente IEVE.
11°) As três primeiras vogais do NOME são: IAU
= IAO
12°) Por meio de determinadas operações cabalísticas
que envolvem os valores externo, pleno e AThBaSh das letras
I e M, chega-se à igualdade ou equivalência:
IM = RA. Assim, IMMA = RAMA = AMRA
13°) RAMA = AMRA = 8 = HeTh. Esta letra hebraica
é o símbolo de barreira. E assim, pecar é errar
a meta. Por outro lado, a oitava Lâmina do Tarô é
A JUSTIÇA! Peca, outrossim, aquele que substitui a realização
interior de D’US pela abstração intelectual de D’US.
14°) Em outra dimensão MeM = TeTh = ThaV
15°) O VERBUM DIMISSUM ET INENERRABILE...
16º)
Eu sou a ROSA DE SHARON o Lírio dos Vales... (Cânticos,
II, 1).
17º)
A alma farta pisa o favo de mel; mas à alma faminta tem doce
sabor o alimento mais amargo. (Provérbios, XXVII,
6).
18º)
O escarnecedor busca a Sabedoria e não a encontra; mas é
fácil o conhecimento para o prudente. (Provérbios,
XIV, 7).
19º)
A PRIMA MATERIA deriva do FIAT — o VERBUM
da Criação.
Concepção
Harmônica da luz da Natureza
Mons
Philosophorum
O sono e o cansaço
acabaram por me derrubar. Não consegui continuar a trabalhar.
Eram 5 horas da manhã. Alta madrugada. Antes, porém, orei
pela HUMANIDADE. Enviei um pensamento de amor a Louis-Claude Lucel-Lafin
e a Pierre Lucel-Lafin. E, também, a ThiLTaBoL Decidi que, no
dia seguinte, decifraria o segredo do seu nome. Não me esqueci
do Adepto que se projetou para nos visitar no Salão de Trabalho
da RESIDÊNCIA DOS ADEPTOS, e, muito menos, do meu AMADO MESTRE
INTERIOR. Fui dormir com meus últimos
pensamentos voltados para
D’US, projetando meu ser interior no seio da .'. G .'. L .'. B
.'.
LIVRO V – O DIA SEGUINTE
Acordei às seis horas
da manhã. Achei muito estranho acordar àquela hora, porque
eu tinha ido dormir às cinco da manhã. Uma hora de sono
para mim é só um aperitivo. Preciso dormir, pelo menos,
oito horas por dia. Meu organismo me obriga, ainda, nesta encarnação,
a esse descanso prolongado. Apenas uma hora de sono e eu estava descansado
como se tivesse dormido oito horas seguidas! Estranhei aquela alteração
biofisiológica!
Não resisti. Antes
mesmo de atender às minhas necessidades orgânicas fui dar
uma espiadela no pedacinho de OURO ALQUÍMICO. Surpresa das surpresas!
Ele NÃO estava em cima da mesa conforme eu o havia deixado! A
pilha de dezessete livros também havia desaparecido! OURO e livros
haviam sumido do mapa! Teriam evaporado alquimicamente? Quase me estabaquei
no chão. Entretanto, em pouco tempo, acabei compreendendo intuitivamente
o que havia se passado. Lembrei-me de que eu fora dormir mais ou menos
às dez horas da noite do dia anterior. Tinha resolvido descansar
um pouco, mas acabei emendando até o dia seguinte. Por isso a
sensação incomum (que era real) de ter dormido tempo suficiente
e a (correta) percepção de descanso físico e mental
satisfatórios. Na verdade, eu estivera no escritório do
meu advogado naquele dia de manhã e almoçara em casa.
Não sei explicar porque o Boêmio apareceu no 'Sonho'.
Há muitos anos que eu lá não ia! Houve, devo admitir,
uma superposição de tempos e de eventos aparentemente
não relacionados. A Igreja de Santa Luzia foi o gancho para que
história se desenrolasse. A compreensão do que se passou
me aliviou. O entendimento de toda a Coisa impeliu-me a imitar e a pronunciar
a frase do centurião. Contrito murmurei: Domine, non sum
dignus ut intres sub tectum meum, sed tantum dic VERBUM (INENARRABILE)
et sanabitur anima mea.
Eu havia passado por uma LONGA
E INTEGRAL INICIAÇÃO PSÍQUICA sob a supervisão
e o acompanhamento do meu MESTRE INTERIOR! A VERDADE está dentro,
no CORAÇÃO, por assim dizer. E só pode ser conquistada
por etapas. Sucessivas. Por isso, Lucel-Lafin, meu INICIADOR PSÍQUICO,
não me propôs ensinar as manipulações da
GRANDE OBRA. Ele estava convicto de que eu não poderia compreender
integralmente todas as operações. E mesmo que as compreendesse,
não saberia como executar a OBRA com a perfeição
que o MAGISTÉRIO FILOSOFAL exige e impõe. Eu não
estava pronto. Ainda. Meu intelecto, resultante do processo sucessivo
de organização do meu corpo físico através
das encarnações passadas, não havia alcançado
o necessário grau de perfeição para poder compreender
o que meu eu interno pudesse perceber. Devo encontrar em meu SANTUÁRIO
INTERIOR as respostas, e meritocraticamente receber, quando os tempos
estiverem ajustados, as progressivas e necessárias INICIAÇÕES
para guiarem consistentemente minha existência e minha reintegração
rumo aos PLANOS DA BELEZA INEFÁVEL, que me conduzirão,
assintoticamente, não tenho dúvida, em direção
ao CENTRO DA IDÉIA. Tenho certeza absoluta de que, também,
um dia, apontarei minha Excalibur em direção ao céu,
e gritarei tão alto quanto gritou o Rei Arthur após ter
recebido a Iluminação: TERRA E REI SÃO UMA
COISA SÓ!
Lucel-Lafin havia me ensinado,
em meu Sonho Iniciático, também, a jamais, sob nenhuma
alegação, me deixar seduzir pela magia arbitrária
e depauperante. Exclusivamente a GNOSE MÍSTICA DIVINA poderá
iluminar as consciências. As erudições políticas,
científicas e teológicas pafiosas, a magia subterrânea
e paralisante, o gnosticismo teúrgico ultrapassado e descaracterizado,
e os mistérios subalternos infelicitadores SERÃO, exclusivamente,
pela FÉ TRANSRACIONAL (ou seja, pela inabalável convicção
advinda da dialética trabalhada nos níveis de razão
associada ao poder intuitivo e à experiência místico-extático-iniciática
pessoal e intransferível), TRANSMUTADOS ALQUIMICAMENTE em SABEDORIA
(ShOPhYa = 396) ou LOGOS IMANENTE, em INICIAÇÃO
CÓSMICA, em GNOSE SEMPITERNA E INTERATIVA, e em MISTICISMO AUTÊNTICO
E PRIMORDIAL. E tudo aquilo que for aprendido deve ser compartilhado,
na justa medida da capacidade e das possibilidades daqueles que estiverem
aptos a receber. Esta é a LEI DA CIDADANIA UNIVERSAL e parte
integrante da verdadeira FRATERNIDADE CÓSMICA.
A PEDRA FILOSOFAL está
e continuará a estar, SIM, NO MEU CORAÇÃO. Ela
ali foi incrustada e permanecerá até o último dos
meus dias transmutando os leprosos fedorentos que, indecorosamente,
ainda teimo em acalentar em minha personalidade. Peço perdão
a...
Confiteor Deo omnipotenti
et vobis, fratres,
quia peccavi nimis
cogitatione, verbo et opere:
mea ignorantia,
mea ignorantia,
mea ignorantia.
Orare pro me
ad DOMINUM D’ UM nostrum.
|
A PEDRA está e continuará
a estar incrustada, SIM, NO MEU CORAÇÃO, para que eu não
me esqueça jamais do COMPROMISSO assumido e dos ENSINAMENTOS
recebidos no plano do meu subconsciente pessoal com meu MESTRE INICIADOR,
que se resumem em SETE SIMPLES CONCEITOS OU CATEGORIAS:
HUMILDADE
= DÓ = TERÇA-FEIRA
SOLIDARIEDADE = RÉ = DOMINGO
CIDADANIA
UNIVERSAL = MI = SEXTA-FEIRA
MISERICÓRDIA
= FÁ = SÁBADO
VONTADE
= SOL = QUARTA-FEIRA
AMOR
INCONDICIONAL = LÁ = QUINTA-FEIRA
JUSTIÇA
= SI = SEGUNDA-FEIRA |
Ao concluir estas últimas
reflexões, senti um esplêndido olor a incenso meu conhecido.
Sem pestanejar, FORMEI UMA LOJA e pronunciei mentalmente uma oração.
Entreguei-me no seio do Cósmico e projetei mentalmente minha
personalidade-alma para o SANCTUM CELESTIAL, construído
e lapidado pelo Dr. Harvey Spencer Lewis e por determinados Adeptos
que com ele colaboraram. O que aconteceu devo guardar INVIOLÁVEL
no meu coração.
Mestres
e Irmãos da .'. G .'. L .'. B .'.
Mestres e Irmãos da .'. R+C .'. ETERNA .'.
Mestres e Irmãos da .'. Ordem Rosacruz – AMORC .'.
Mestres e Irmãos da .'. Ordem Martinista – TOM .'.
Mestres e Irmãos da .'. O .'. S .'. B .'.
Mestres e Irmãos da .'. O .'. S+B .'.
Mestres e Irmãos da .'. O .'. M .'.
Mestres e Irmãos do .'. 7º GF .'.
SENHORES TRANSTERRENAIS E FILHOS DO SOL:
.'. AKHNATON .'.
.'. IMMANUEL .'.
.'. KUT HU MI .'.
.'. SÂR ALDEN .'.
.'. SÂR VALIDIVAR .'.
.'. SÂR PHŒNIX .'.
.'. LOUIS-CLAUDE DE SAINT-MARTIN .'.
.'. RAYMOND BERNARD .'.
.'. VICENTE VELADO .'.
.'. MESTRE APIS .'.
Que eu possa ser um instrumento permanente de
Concórdia, Luz e Mansidão,
Beleza, Amor Incondicional e Caridade,
Humildade, Esperança e Prudência,
Justiça, Temperança e Fortaleza,
Liberalidade, Magnanimidade e Entendimento,
Paz Profunda, Tolerância e Harmonia,
Solidariedade, Cidadania Universal e Vontade.
Que eu possa compreender e COMPREENDER.
Para que o serviço por mim desempenhado seja
Verdadeiro e Digno,
Frutífero e Consistente,
Altruísta e Elucidativo.
Mas, acima de tudo,
QUE SEJAM FEITAS AS VOSSAS VONTADES,
E não a deste humilde e ignorante neófito.
AUM... AUM... AUM... AUM... AUM... AUM... AUM... |
Resolvi,
mais tarde, almoçar fora. É claro que não poderia
escolher outro restaurante. De metrô, fui para o Centro da Cidade
do Rio de Janeiro, e me encaminhei direto para o Boêmio, restaurante
que eu não freqüentava, realmente, há muitos anos.
Quando lá cheguei, à uma hora da tarde, fiquei surpreso
ao saber que o restaurante, há alguns anos, havia mudado de dono
três ou quatro vezes. Acabei almoçando no Delírio
Tropical.
Só
ficou restando uma tarefa: descobrir o mistério e o segredo embutidos
no nome do estranho homúnculo barbudo, cabeludo e narigudo que
fazia questão de ser chamado por ThiLTaBoL.
Ou ThiLTaBoL. Mas de uma coisa estou convicto:
não existe no Universo carma negativo. A LEI DO CARMA baseia-se
no AMOR ELUCIDATIVO, CARITATIVO E CRIATIVO, e a idéia de castigo
ou de punição é produto de incompreensão
do funcionamento desta LEI.
Recentemente voltei ao ex-Boêmio.
Chama-se, agora (2004), Kilo Express, especializado em cozinha brasileira
e oriental. Serve saladas e pratos quentes à quilo.
O cheiro do mata-fome é desanimador! Agora, uma chinesa parece
ser a dona do local. Conversei improdutivamente com ela alguns pouquíssimos
intermináveis minutos, pois não entendi bulhufas do que
aquela sorridente e simpática oriental falou. Eu fazia uma pergunta
e ela respondia com duas ou três palavras incompreensíveis
e começava a rir. Que situação! Fiquei sem saber
se ela ria de mim ou para mim. Na verdade, não fez nenhuma diferença.
Informação mesmo: zero! Respeitosamente agradeci as informações
que não obtive e segui meu caminho morrendo de rir por dentro.
Este encontro inesperado mais pareceu a recente conversa do Porteiro
Zé com o alemão. Ora bolas! O que eu poderia esperar?
MAAT
HOTEP
IAO
AUM
*
* *
IMPORTANTE
Este
conto é ficcional. Na realidade, o episódio relatado nunca
ocorreu comigo. Na primeira versão, em pdf, não fiz este
comentário. A idéia foi transmitir, sem avisar a priori,
alegoricamente, algumas Leis e Princípios Místicos, que
permitissem ao leitor ser alçado a planos de consciência
nos quais a Razão e a Vontade Cósmicas possam, independentemente
da razão e da vontade humanas, livremente se manifestar. Contudo,
são verídicos todos os relatos de transmutações
elencados na estória. O que acontece in vitro acontece
in vivo. O Elixir ou Medicina Universal, portanto, simboliza
mudança interior permanente, renascimento em um plano mais sutil
de compreensão. A Pedra Filosofal, por sua vez, é o esforço
e o trabalho ininterrupto para alcançar progressivamente realizações
interiores sucessivas das Leis que regulam as diversas relações
universos-Universo, seres-Mente Cósmica, seres-seres, tudo isso
passível, necessariamente, de ser atualizado permanentemente,
ainda que a Atualidade Cósmica seja inatualizável. Este
é o simbolismo da potencialização da Pedra até
a sétima potência. Nesta potencialização,
o Místico-Alquimista deseja e trabalha para que, com ele, todos
possam encontrar o Caminho da LLUZ e a
Liberdade Interior. Há uma frase lapidar de Vicente Velado, FRC
e Abade da Ordo
Svmmvm Bonvm
para o Terceiro Mundo, que resume estes esclarecimentos finais: 'É
provável, até, que em estágio mais avançado
da evolução das espécies no planeta Terra surjam
andróginos e estes venham a prescindir, futuramente, de corpo
físico. Sabem o que isso significaria? Praticamente a imortalidade
das expressões individuais da Vida — não mais promovida
pelo sonhado Elixir da Juventude mas simplesmente decretada pelo evoluir
natural dos seres.'
Todas
as possíveis verdades que os entes possam conhecer serão
sempre relativas — isto deve ser repetido para que seja fixado
e compreendido — e suscetíveis de sofrer atualizações
ou modificações e de adquirir novas interpretações.
O que não muda é a VERDADE ÚNICA. Esta, nenhum
ser poderá jamais ter acesso integral. Por isso a Lemúria
deu lugar à Atlântida e as religiões se sucedem
umas às outras. Gary
L. Stewart,
Imperator da Confraternidade Rosæ+Crucis —
'Ros+Crucis' — na primeira monografia de uma série
que inclui os estudos Rosa-Cruzes Tradicionais desde os Graus de Neófito
ao Nono Grau do Templo e também os Graus do Illuminati
e da Hierarquia, referindo-se ao trabalho Rosacruz, assim se expressa:
'Este processo deve ser de transcendência e de transformação
que nunca permite estagnação ou deterioração
grosseira. Ele deve sempre se refinar e melhorar, e, periodicamente,
desprender a aparência de sua pele exterior e a densidade de sua
expressão material.' Enfim, disse Spinoza (1632-1677):
Todas as coisas excelentes são tão difíceis quanto
raras. Assim, o vermelho da Pedra representa o sacrifício
simbolizado pela 'crucis'. Por tudo isso, peço desculpas
pelos equívocos do texto — que certamente existem —
pois foi escrito por um neófito em busca da LLUZ
em seu interior.
*
* *
DADOS
SOBRE O AUTOR
Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor
em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ.
Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê
Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor
de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador
Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.
Rio de Janeiro, RJ, 22 de Janeiro de 2004.
1ª Revisão do texto: 23 de Agosto de 2004.
2ª Revisão do texto: 8 de Dezembro de 2004.
SITES
CONSULTADOS: (acessados entre 1° de Novembro de 2003 e 23 de Agosto
de 2004)
www.amorc.org.br
http://www.orosacruz.hpg.ig.com.br
www.alquimiaeespagiria.ubbi.com.br
http://www.svmmvmbonvm.org/
http://maat-order.org/
http://svmmvmbonvm.org/aumrah/
http://www.svmmvmbonvm.org/latinoportal.htm
http://www.sriyantras.com/
http://www.portaldelmilenio.com.ar/
http://www.portaldelmilenio.com.ar/metafisica/geometria/
http://www.elgrial.com/links/links.htm
http://www.alchymie.net/
http://www.geocities.com/rcportal/movimentorc.htm
http://www.geocities.com/j_saiz_g/index.html
PAZ
PROFUNDA
PAZ
PROFUNDA