> MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA

COMENTÁRIOS TARDIOS DE UM MÍSTICO SOBRE O
MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA

 
Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

 

Música de fundo: Hino da Internacional Socialista
Fonte:
http://portalmidi.z6.com.br/mid_h.htm

 

 

 

        Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto.

Solo de Clarineta
Érico Veríssimo

 

 

 

INTRODUÇÃO


     Há algumas razões para que este livro digital seja diferente dos anteriores e um pouco mais do que um simples texto divulgado via Internet. Não me limitei a parafrasear o Manifesto. Aliás, este freqüente e muitas vezes mal aplicado procedimento literário não foi utilizado. Lancei mão dos argumentos do Texto para reforçá-los ou para refutá-los, e, sempre que conveniente, contra-argumentei com idéias e com relatos baseados em experiências pessoais íntimas (sensu lato), que colhi nos últimos trinta e cinco anos. Muitos acharão este artigo digital uma grande bosta. Mas, quem consegue transmitir conceitos de Matemática Superior, de Química, de Física Quântica e de Relatividade a uma criança? O que acabei de dizer não foi uma indelicadeza. Não desejo que ninguém interprete desta maneira. Mas, no âmbito do misticismo-iniciático tudo é muito difícil e laborioso. Falo por mim. O fato concreto é que o Manifesto do Partido Comunista (se se colocar entre parênteses as ponderações absolutamente corretas que encerra, e são muitas) estimulou soluções violentas para problemas seculares, que não poderiam, não podem e não poderão jamais ser solucionados pela via da porrada, do tiro e da insurreição. Por outro lado, foi a inidônea aplicação desta ideologia que, por exemplo, determinou a brutal invasão e anexação do Tibete. Isto eu não aceito. Ponto. A PAZ, a PAZ de
João XXIII, de Jeanne Guesdon, de Harvey S. Lewis, de Ralph M. Lewis, de Christian Bernard, de Raymond Bernard, de Maria, de Jesus, de Vicente Velado, de Einstein, de Kant, de Akhnaton, de Nefertiti, de Petrarca, de Francis Bacon, de Leibniz, de Mestre Apis (Ankh, Udja, Seneb), de Gracián, de Ludwig Borne, de Lenon e de muitos outros não poderá ser alcançada enquanto existir um único regime autoritário ou totalitário na Terra. Enquanto for negada a autonomia individual. Enquanto houver ocupação ou incorporação de um Estado por outro. Enquanto alguns Estados insistirem em manter, sofisticar e ampliar seus arsenais bélicos. E enquanto acontecer deliberada ingerência das grandes potências nos Estados menores. Isto, minimamente. Na ex-União Soviética, sob o domínio sanguinário de Stalin (que tinha desmedido prazer em determinar a tortura e a execução dos seus amigos pessoais e mais leais seguidores), foram mortos mais seres humanos do que os assassinos puderam enterrar. O Império Soviético foi mantido e se expandiu às custas da morte de 60 milhões de seres humanos! Ventila-se inclusive que, certa vez, Stalin, o 'bondoso' Tio Josef, abandonou um espetáculo do Lago dos Cisnes apresentado pelo Ballet Bolshoi e dirigiu-se à Lubianka. Lá matou com tiros na cabeça alguns antigos partidários e, depois, voltou calmamente e feliz ao teatro para assistir o segundo ato. O Paizinho do Comunismo acabou, no final do seu reinado de terror, na Sala das Colunas do Palácio dos Sindicatos. Tudo poderia ter acontecido de outra maneira, Paizinho! Outros regimes de cariz positivista também cometeram suas atrocidades. Bem assim as ditaduras de direita. O Brasil, por exemplo, compreendeu, perdoou, mas não esqueceu. E o Chile de Augusto Pinochet? E a Argentina de Jorge Rafael Videla? De qualquer forma, por amor, empenhei longas e agradáveis horas sentado em frente ao computador para dividir com os que aceitarem um pouco da minha experiência pessoal. Ao apertar cada tecla do computador para digitar o texto meu coração exultava de alegria e de fraterna solidariedade. Não via a hora de pôr este trabalho no ar.

     Fui admitido como neófito na
Ordem Rosacruz – AMORC em 1969. Os Rosacruzes de hoje, vinculados à AMORC do Brasil e países de língua portuguesa, não devem esquecer dois nomes: Ralph Maxwell Lewis (Sâr Validivar) e Maria A. Moura. Hoje, acumulo conhecimentos que incluem também, entre outros, os veiculados pela Tradicional Ordem Martinista – TOM e pela Ordem de Maat – OM, das quais tenho também a satisfação, a honra e o privilégio de ser membro. Isto, todavia, não significa nada. Ou melhor: significa tudo, pois só me traz, a cada novo dia desta agradecida encarnação, a certeza inconfundível de que continuo um neófito. Mas, um iniciante mais sincero e mais consciente de minhas obrigações e minhas responsabilidades comigo, com o outro, com todos, com a Natureza e com o Universo. Por esses motivos, com profundo respeito pelos autores do Manifesto e pela própria Doutrina, procurei mostrar neste ensaio, s.m.j., alguns dos possíveis equívocos propostos no Documento. Mas, como para os seres não há verdade absoluta... E como faz quase 160 anos que o Manifesto nasceu... Devo acrescentar ainda que muitas partes do Manifesto não foram examinadas nesta oportunidade. Não poderiam. Em breve, pretendo fazer uma revisão deste ensaio e completar sua análise, no que couber, com comentários adicionais que considerar necessários. De qualquer sorte, desejo que fique absolutamente claro que, neste momento, não tenciono discutir pormenorizadamente os aspectos ideológicos do Texto. Jesus, não tenho qualquer dúvida, teria subscrito as críticas que o Manifesto fez à sociedade do século XIX. Mas, um comentário rápido devo fazer: as ideologias parecem ser diferentes umas das outras, mas, em suas entranhas e motivações, são todas hipotéticas e, exatamente por isso, caducifólias e fugazes. Posso até, por isso, ser acusado de ter praticado um ludíbrio. Não foi o caso. Eu não perderia meu precioso tempo dessa forma. Na verdade, apenas intento mostrar algumas incompatibilidades do Pronunciamento Comunista com alguns aspectos do Misticismo Tradicional-Iniciático, da mesma forma como fiz, muito superficialmente, reconheço, no livro digital anteriormente divulgado, cujo título é: Neo-neoliberalismo. Principalmente aquelas incompatibilidades sanguinárias. Não sei se isto já foi feito antes. Mas, como John Lenon (1940-1980), estou fazendo a minha parte para dar uma chance à PAZ. Também, por outro lado, devo me policiar, pois, prolixo como sou, esta meditação acabaria se tornando uma obra de Santa Engrácia. Que fique claro, outrossim, que reconheço a importância histórica, social e espiritual que o Sistema Comunista ofereceu (e ainda oferece) à Humanidade. O Marxismo cumpriu e vem cumprindo uma etapa importante no despertar das consciências. Cada um, eu sei, entenderá esta afirmação à sua maneira. Eu tenho a minha. Nestas lucubrações, repito, só me detive para examinar, maiormente, os aspectos místico-iniciáticos que são substantiva e diametralmente diversos de quaisquer religiões (ainda que hoje se mate mais em nome de deus do que em toda a história da Humanidade) e de todas as ideologias. Também toquei de leve em aspectos teológicos. Só de leve. Mas, no transcurso da leitura deste mal arrumado livro digital, acredito que as coisas vão se clarear. Então, antes que me esqueça, sugiro aos que não conhecem a obra Vril, the Power of the Coming Race (A Raça Futura que nos Suplantará), de Bulwer-Lytton, que a consultem. É um livro que emocionará ao mais convicto agnóstico. Os comunistas, particularmente, haverão de adorá-la. Há, evidentemente, outras obras que tratam do mesmo tema. Mas esta é de fácil leitura e embute conceitos místicos que precisam ser examinados por todos, nomeadamente pelos amantes da LUZ e da PAZ. E Sir Edward George Earle Bulwer-Lytton (1803-1873) era um Iniciado. Sabia o que estava escrevendo. Estudioso dos problemas metafísicos do homem e de sua relação com o Universo, incursionou no campo do ocultismo, relacionando-se com Éliphas Lèvi (1810-1875) e chegando a ser designado, em 1871, ‘Gran Patron’ do Metropolitan College da Societas Rosicruciana in Anglia. Uma de suas frases mais sábias é: A magia da língua é o mais perigoso de todos os feitiços. Estava absolutamente certo. A magia da língua produziu, por exemplo, o Terceiro Reich e vem parindo seitas e mais seitas que enganam a boa disposição infantil de milhões de pessoas. E a televisão acabou por se tornar o veículo preferencial de disseminação e de esparrame das ilusões vendidas por essas empresas. Políticos mal-intencionados também empurram suas mentiras através da telinha mágica. Pobres e iludidos lúmpenes! Lúmpenes maníaco-televisuais! Somos todos responsáveis... Aproveito, enfim, para convidar o leitor a ler o Anexo I O MISTÉRIO DA VIDA E A GRANDE AMEAÇA de autoria do Frater Vicente Velado, OS+B. Por tudo isso, para começar de maneira divertida e amena, acho bom lembrar alguns ditados populares: 1. A consciência tranqüila é o melhor remédio contra a insônia. 2. A instrução é a luz do espírito. 3. Ainda que sejas prudente e velho, não desprezes um bom conselho. 4. Antes que o mal cresça, corta-lhe a cabeça. 5. A ignorância da LEI não desculpa ninguém. 6. A ociosidade é a mãe de todos os vícios. 7. Aquele que não conhece a verdade pode ser chamado de ignorante; mas aquele que a conhece e mente sobre ela é um criminoso. 8. Com vinagre não se apanham moscas. 9. Cada panela tem sua tampa. 10. De boas intenções o inferno está cheio.


PREFÁCIO À EDIÇÃO ALEMÃ DE 1872


     A Liga dos Comunistas, associação operária internacional que, nas circunstâncias de então, só podia evidentemente ser secreta, encarregou os abaixo-assinados, no Congresso que teve lugar em Londres em Novembro de 1847, de redigir um programa detalhado, simultaneamente teórico e prático, do Partido e destinado à publicação. Tal é a origem deste Manifesto, cujo manuscrito foi enviado para Londres, para ser impresso, algumas semanas antes da Revolução de Fevereiro. Publicado primeiro em Alemão, houve nesta língua, pelo menos, doze edições diferentes na Alemanha, na Inglaterra e na América do Norte. Traduzido em inglês por Miss Helen Macfarlane, apareceu em 1850, em Londres, no Red Republican, e, em 1871, teve na América, pelo menos, três traduções inglesas. Apareceu em francês, pela primeira vez, em Paris, pouco tempo antes da insurreição de Junho de 1848, e, recentemente, em Le Socialiste, de Nova Iorque. Atualmente, prepara-se uma nova tradução. Fez-se em Londres uma edição em polonês, pouco tempo depois da primeira edição. Apareceu em russo, em Genebra, na década de 60. Foi também traduzido em dinamarquês pouco depois da sua publicação original.

     Ainda que as circunstâncias tenham mudado muito nos últimos vinte e cinco anos, os princípios gerais expostos neste Manifesto conservam ainda hoje, no seu conjunto, toda a sua exatidão. Alguns pontos deveriam ser retocados. O próprio Manifesto explica que a aplicação dos princípios dependerá, sempre e em toda a parte, das circunstâncias históricas existentes, e que, portanto, não se deve atribuir demasiada importância às medidas revolucionárias enumeradas no final do Capítulo II. Esta passagem, atualmente, teria de ser redigida de maneira diferente, em mais do que um aspecto. Dados os imensos progressos da grande indústria nos últimos vinte e cinco anos e os progressos paralelos levados a cabo pela classe operária na sua organização em partido, dadas as experiências práticas, primeiro na Revolução de Fevereiro, depois, e, sobretudo, na Comuna de Paris, que, durante dois meses e pela primeira vez, pôs nas mãos do proletariado o poder político, este programa envelheceu em alguns dos seus pontos. A Comuna demonstrou, nomeadamente, que a classe operária não pode se contentar com tomar tal qual a máquina estatal e fazê-la funcionar por sua própria conta. (Ver Manifesto do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores, A Guerra Civil em França, onde esta idéia está mais amplamente desenvolvida). Além disso, é evidente que a crítica da literatura socialista apresenta uma lacuna em relação ao momento atual, uma vez que só chega a 1847. E, de igual modo, se as observações sobre a posição dos comunistas face aos diferentes partidos da oposição (Capítulo IV) são ainda hoje exatas nos seus princípios, na sua aplicação elas envelheceram, porque a situação política se modificou completamente e a evolução histórica fez desaparecer a maior parte dos partidos que ali se enumeram.

     No entanto, o Manifesto é um documento histórico que já não temos direito de modificar. Uma edição posterior será talvez precedida de uma introdução que poderá preencher a lacuna entre 1847 e os nossos dias; a atual reimpressão foi tão inesperada para nós, que não tivemos tempo de escrevê-la.


Karl Marx, Friedrich Engels.
Londres, 24 de Junho de 1872.

 

*    *    *


     Um espectro ronda a Europa – o espectro do Comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se em uma Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e o Tsar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha.

     Que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a pecha infamante de comunista?

     Duas conclusões decorrem desses fatos:

1ª) O Comunismo já é reconhecido como força por todas as potências da Europa; e

2ª) É tempo de os comunistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver, seus fins e suas tendências, opondo um Manifesto do próprio partido à lenda do espectro do Comunismo.

     Com este fim, reuniram-se, em Londres, comunistas de várias nacionalidades e redigiram o Manifesto seguinte, que será publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês.
 

BURGUESES E PROLETÁRIOS
 

     A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes.

     Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, em uma palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou em uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou em destruição das duas classes em luta.

     Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais.

     A sociedade burguesa moderna – que brotou das ruínas da sociedade feudal – não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado.

     Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.

     Dos servos da Idade Média nasceram os burgueses livres das primeiras cidades; desta população municipal saíram os primeiros elementos da burguesia.

     A descoberta da América, a circunavegação da África ofereceram à burguesia em ascensão um novo campo de ação. Os mercados da Índia e da China, a colonização da América, o comércio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, das mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até então, ao comércio, à indústria, à navegação, e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição.

     A antiga organização feudal da indústria, onde esta era circunscrita a corporações fechadas, já não podia satisfazer às necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporações; a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina.

     Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais: a procura de mercadorias aumentava sempre. A própria manufatura tornou-se insuficiente; então, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A grande indústria moderna suplantou a manufatura; a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionários da indústria, aos chefes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos.

     A grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da América; e o mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comércio, da navegação e dos meios de comunicação por terra. Este desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a extensão da indústria; e, à medida que a indústria, o comércio, a navegação e as vias férreas se desenvolviam, crescia a burguesia, multiplicando seus capitais e relegando a segundo plano as classes legadas pela Idade Média.

     Vemos, pois, que a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca.

     Cada etapa da evolução percorrida pela burguesia era acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada administrando-se a si própria na comuna; aqui, república urbana independente, ali, terceiro estado, tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, pedra angular das grandes monarquias, a burguesia, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno. O governo moderno não é, senão, um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.

     A burguesia desempenhou na História um papel eminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus superiores naturais ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do pagamento à vista. Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra: em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.

     A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados.

     A burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias.

     A burguesia revelou como a brutal manifestação de força na Idade Média – tão admirada pela reação – encontra seu complemento natural na ociosidade mais completa. Foi a primeira a provar o que pode realizar a atividade humana: criou maravilhas maiores do que as pirâmides do Egito, os aquedutos romanos, as catedrais góticas; conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas invasões e as Cruzadas.

     A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção constituía, pelo contrário, a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores. Essa revolução contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se ossificar. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas.

     Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte.

     Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou da indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias-primas autóctones, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país, mas em todas as partes do Globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades, que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e de nações que se bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio universal e uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual.

     As criações intelectuais de uma nação tornam-se propriedade comum de todas. A estreiteza e o exclusivismo nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis; das inúmeras literaturas nacionais e locais nasce uma literatura universal.

     Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a torrente da civilização mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China, e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar o que ela chama civilização, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra: cria um mundo à sua imagem e semelhança.

     A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural. Do mesmo modo que subordinou o campo à cidade, os países bárbaros ou semi-bárbaros aos países civilizados, subordinou os povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente ao Ocidente.

     A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou as populações, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A conseqüência necessária dessas transformações foi a centralização política. Províncias independentes, apenas ligadas por débeis laços federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes, foram reunidas em uma só nação, com um só governo, em uma só lei, em um só interesse nacional de classe, em uma só barreira alfandegária.

     A burguesia, durante seu domínio de classe, apenas secular, criou forças produtivas mais numerosas e mais colossais do que todas as gerações passadas em conjunto. A subjugação das forças da natureza, as máquinas, a aplicação da química à indústria e à agricultura, a navegação a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo elétrico, a exploração de continentes inteiros, a canalização dos rios, populações inteiras brotando na terra como por encanto — que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social?

     Vemos, pois: os meios de produção e de troca, sobre cuja base se ergue a burguesia, foram gerados no seio da sociedade feudal. Em um certo grau do desenvolvimento desses meios de produção e de troca, as condições em que a sociedade feudal produzia e trocava, a organização feudal da agricultura e da manufatura, em suma, o regime feudal de propriedade, deixaram de corresponder às forças produtivas em pleno desenvolvimento. Entravavam a produção em lugar de impulsioná-la. Transformaram-se em outras tantas cadeias que era preciso despedaçar; foram despedaçadas.

     Em seu lugar, estabeleceu-se a livre concorrência [o livre-comércio], com uma organização social e política correspondente, com a supremacia econômica e política da classe burguesa.

     Assistimos hoje a um processo semelhante. As relações burguesas de produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna – que conjurou gigantescos meios de produção e de troca – assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as potências infernais que pôs em movimento com suas palavras mágicas. Há dezenas de anos, a história da indústria e do comércio não é, senão, a história da revolta das forças produtivas modernas contra as modernas relações de produção e de propriedade que condicionam a existência da burguesia e seu domínio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise demole regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade — a epidemia da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se reconduzida a um estado de barbárie momentânea; dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem aniquilados. E por que? Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas de que dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se por demais poderosas para essas condições, que passam a entravá-las; e, todas as vezes que as forças produtivas sociais se libertam desses entraves, precipitam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.

     As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo voltam-se hoje contra ela própria. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas - os operários modernos, os proletários. Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do Capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o Capital. Esses operários, constrangidos a se venderem diariamente, são mercadorias — artigos de comércio como qualquer outro. Conseqüentemente, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência e a todas as flutuações do mercado. O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho, despojando o trabalho do operário de seu caráter autônomo, tiram-lhe todo atrativo. O produtor passa a um simples apêndice da máquina, e só se requer dele a operação mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender [o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin mostra isso]. Desse modo, o custo do operário se reduz, quase exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e perpetuar sua existência. Ora, o preço do trabalho – como de toda mercadoria – é igual ao custo de sua produção. Portanto, à medida em que aumenta o caráter enfadonho do trabalho, decrescem os salários. Mais ainda, a quantidade de trabalho cresce com o desenvolvimento do maquinismo e da divisão do trabalho, quer pelo prolongamento das horas de labor, quer pelo aumento do trabalho exigido em um tempo determinado pela aceleração do movimento das máquinas etc. A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da corporação patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista. Massas de operários, amontoados nas fábricas, são organizadas militarmente. Como soldados da indústria, estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do Estado Burguês, mas, também, diariamente, a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da fábrica. E esse despotismo é tanto mais mesquinho, odioso e exasperador quanto maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo. Quanto menos o trabalho exige habilidade e força, isto é, quanto mais a indústria moderna progride, tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo das mulheres e das crianças. As diferenças de idade e de sexo não têm mais importância social para a classe operária. Não há senão instrumentos de trabalho, cujo preço varia segundo a idade e o sexo. Depois de sofrer a exploração do fabricante e de receber seu salário em dinheiro, o operário torna-se presa de outros membros da burguesia, do proprietário, do varejista, do usurário etc. As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenos industriais, pequenos comerciantes e pessoas que possuem rendas, artesãos e camponeses, caem nas fileiras do proletariado: uns porque seus pequenos capitais – não lhes permitindo empregar os processos da grande indústria – sucumbiram na concorrência com os grandes capitalistas; outros porque sua habilidade profissional é depreciada pelos novos métodos de produção. Assim, o proletariado é recrutado em todas as classes da população. O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Logo que nasce começa sua luta contra a burguesia. A princípio, empenham-se na luta operários isolados; mais tarde, operários de uma mesma fábrica; finalmente operários do mesmo ramo de indústria, de uma mesma localidade, contra o burguês que os explora diretamente. Não se limitam a atacar as relações burguesas de produção; atacam os instrumentos de produção: destroem as mercadorias estrangeiras que lhes fazem concorrência, quebram as máquinas, queimam as fábricas e esforçam-se para reconquistar a posição perdida do artesão da Idade Média. Nessa fase, constitui o proletariado massa disseminada por todo o país e dispersa pela concorrência. Se, por vezes, os operários se unem para agir em massa compacta, isto não é ainda o resultado de sua própria união, mas da união da burguesia que, para atingir seus próprios fins políticos, é levada a pôr em movimento todo o proletariado, o que ainda pode fazer provisoriamente. Durante essa fase, os proletários não combatem ainda seus próprios inimigos, mas os inimigos de seus inimigos, isto é, os restos da monarquia absoluta, os proprietários territoriais, os burgueses não-industriais, os pequeno-burgueses. Todo o movimento histórico está, desse modo, concentrado nas mãos da burguesia, e qualquer vitória alcançada nessas condições é uma vitória burguesa. Ora, a indústria, desenvolvendo-se, não somente aumenta o número dos proletários, mas os concentra em massas cada vez mais consideráveis; sua força cresce e eles adquirem maior consciência dela. Os interesses, as condições de existência dos proletários se igualam cada vez mais à medida que a máquina extingue toda diferença do trabalho, e, quase por toda, parte reduz o salário a um nível igualmente baixo. Em virtude da concorrência crescente dos burgueses entre si e devido às crises comerciais que disso resultam, os salários se tornam cada vez mais instáveis; o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna a condição de vida do operário cada vez mais precária; os choques individuais entre o operário e o burguês tomam cada vez mais o caráter de choques entre duas classes. Os operários começam a formar uniões contra os burgueses e atuam em comum na defesa de seus salários; chegam a fundar associações permanentes a fim de se prepararem na previsão daqueles choques eventuais. Aqui e ali a luta se transforma em motim. Os operários triunfam às vezes; mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito imediato, mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores. Esta união é facilitada pelo crescimento dos meios de comunicação criados pela grande indústria e que permitem o contato entre operários de localidades diferentes. Ora, basta esse contato para concentrar as numerosas lutas locais, que têm o mesmo caráter em toda parte, em uma luta nacional, em uma luta de classes. Mas, toda luta de classes é uma luta política. E a união que os habitantes das cidades da Idade Média levavam séculos para realizar, com seus caminhos vicinais, os proletários modernos a realizam em alguns anos por meio das vias férreas.

     A organização do proletariado em classe e, portanto, em partido político, é incessantemente destruída pela concorrência que fazem entre si os próprios operários. Mas, renasce sempre, e cada vez mais forte, mais firme, mais poderosa. Aproveita-se das divisões intestinas da burguesia para obrigá-la ao reconhecimento legal de certos interesses da classe operária, como, por exemplo, a lei da jornada de dez horas [conquista ainda absurda] de trabalho na Inglaterra. Em geral, os choques que se produzem na velha sociedade favorecem de diversos modos o desenvolvimento do proletariado. A burguesia vive em guerra perpétua; primeiro, contra a aristocracia; depois, contra as frações da própria burguesia cujos interesses se encontram em conflito com os progressos da indústria. E, sempre, contra a burguesia dos países estrangeiros. Em todas essas lutas, vê-se forçada a apelar para o proletariado, reclamar seu concurso e arrastá-lo, assim, para o movimento político, de modo que a burguesia fornece aos proletários os elementos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria. Ademais, como já vimos, frações inteiras da classe dominante, em conseqüência do desenvolvimento da indústria, são precipitadas no proletariado, ou ameaçadas, pelo menos, em suas condições de existência. Também trazem ao proletariado numerosos elementos de educação. Finalmente, nos períodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva, o processo de dissolução da classe dominante – de toda a velha sociedade – adquire um caráter tão violento e agudo, que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta, ligando-se à classe revolucionária, a classe que traz em si o futuro. Do mesmo modo que outrora, uma parte da nobreza passou para a burguesia, em nossos dias, uma parte da burguesia passa para o proletariado, especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto. De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado pelo contrário, é seu produto mais autêntico. As classes médias – pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos, camponeses – combatem a burguesa, porque esta compromete sua existência como classes médias. Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras; mais ainda, reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a roda da História. Quando são revolucionárias é em conseqüência de sua iminente passagem para o proletariado; não defendem, então, seus interesses atuais, mas, seus interesses futuros; abandonam seu próprio ponto de vista para se colocar no do proletariado.

     O lumpemproletariado [no vocabulário marxista, termo designativo da camada flutuante do proletariado, destituída de recursos econômicos, e especialmente caracterizada pela ausência da consciência de classe], esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade, pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a se venderem à reação.

     Nas condições de existência do proletariado já estão destruídas as da velha sociedade. O proletário não tem propriedade; suas relações com a mulher e os filhos nada têm de comum com as relações familiares burguesas. O trabalho industrial moderno e a sujeição do operário pelo Capital – tanto na Inglaterra como na França, tanto na América como na Alemanha – despojam o proletário de todo caráter nacional. As leis, a moral e a religião são para ele meros preconceitos burgueses, atrás dos quais se ocultam outros tantos interesses burgueses.

     Todas as classes que no passado conquistaram o poder trataram de consolidar a situação adquirida, submetendo a sociedade às suas condições de apropriação. Os proletários não podem se apoderar das forças produtivas sociais, senão abolindo o modo de apropriação que era próprio a estas e, por conseguinte, todo modo de apropriação em vigor até hoje. Os proletários nada têm de seu a salvaguardar; sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes.

     Todos os movimentos históricos têm sido, até hoje, movimentos de minorias ou em proveito de minorias. O movimento proletário é o movimento independente da imensa maioria em proveito da imensa maioria. O proletariado – a camada inferior da sociedade atual – não pode se erguer, pôr-se de pé, sem fazer saltar todos os estratos superpostos que constituem a sociedade oficial.

     A luta do proletariado contra a burguesia estrato – embora não seja na essência uma luta nacional – reveste-se, contudo, dessa forma nos primeiros tempos. É natural que o proletariado de cada país deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia.

     Esboçando, em linhas gerais, as fases do desenvolvimento proletário, descrevemos a história da guerra civil, mais ou menos oculta, que lavra na sociedade atual, até a hora em que essa guerra explode em uma revolução aberta, e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia.

     Todas as sociedades anteriores, como vimos, se basearam no antagonismo entre classes opressoras e classes oprimidas. Mas, para oprimir uma classe é preciso poder garantir-lhe condições tais, que lhe permitam, pelo menos, uma existência de escravo: o servo, em plena servidão, conseguia tornar-se membro da comuna, da mesma forma que o pequeno burguês, sob o jugo do absolutismo feudal, elevava-se à categoria de burguês. O operário moderno, pelo contrário, longe de se elevar com o progresso da indústria, desce cada vez mais abaixo das condições de sua própria classe. O trabalhador cai no pauperismo, e este cresce ainda mais rapidamente do que a população e a riqueza. É, pois, evidente que a burguesia é incapaz de continuar desempenhando o papel de classe dominante e de impor à sociedade, como lei suprema, as condições de existência de sua classe. Não pode exercer o seu domínio porque não pode mais assegurar a existência de seu escravo – mesmo no quadro de sua escravidão – porque é obrigada a deixá-lo cair em uma tal situação, que deve nutri-lo em lugar de se fazer nutrir por ele. A sociedade não pode mais existir sob sua dominação, o que quer dizer que a existência da burguesia é, doravante, incompatível com a da sociedade.

     A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares — a formação e o crescimento do Capital. A condição de existência do Capital é o trabalho assalariado. Este se baseia exclusivamente na concorrência dos operários entre si. O progresso da indústria – de que a burguesia é agente passivo e inconsciente – substitui o isolamento dos operários, resultante de sua competição, por sua união revolucionária mediante a associação. Assim, o desenvolvimento da grande indústria socou o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos. A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.


PROLETÁRIOS E COMUNISTAS


     Qual a posição dos comunistas diante dos proletários em geral? Os comunistas não formam um partido à parte oposto aos outros partidos operários. Não têm interesses que os separem do proletariado em geral. Não proclamam princípios particulares segundo os quais pretenderiam modelar o movimento operário.

     Os comunistas só se distinguem dos outros partidos operários em dois pontos: 1° - Nas diversas lutas nacionais dos proletários destacam e fazem prevalecer os interesses comuns do proletariado, independentemente da nacionalidade; e 2° - Nas diferentes fases por que passa a luta entre proletários e burgueses, representam, sempre e em toda parte, os interesses do movimento em seu conjunto.

     Praticamente, os comunistas constituem a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país — a fração que impulsiona as demais. Teoricamente, têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário.

     O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: constituição dos proletários em classe, derrubada da supremacia burguesa e conquista do poder político pelo proletariado.

     As concepções teóricas dos comunistas não se baseiam, de modo algum, em idéias ou princípios inventados ou descobertos por tal ou qual reformador do mundo. São apenas a expressão geral das condições reais de uma luta de classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob os nossos olhos. A abolição das relações de propriedade que têm existido até hoje não é uma característica peculiar e exclusiva do Comunismo.

     Todas as relações de propriedade têm passado por modificações constantes em conseqüência das contínuas transformações das condições históricas. A Revolução Francesa, por exemplo, aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa.

    O que caracteriza o Comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e a mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseada nos antagonismos de classe, na exploração de uns pelos outros.

     Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: abolição da propriedade privada. Censuram-nos, a nós comunistas, o querer abolir a propriedade pessoalmente adquirida, fruto do trabalho do indivíduo, propriedade que se declara ser a base de toda liberdade, de toda independência individual.

     A propriedade pessoal, fruto do trabalho e do mérito! Pretende-se falar da propriedade do pequeno burguês, do pequeno camponês, forma de propriedade anterior à propriedade burguesa? Não precisamos aboli-la, porque o progresso da indústria já a aboliu e continua a aboli-la diariamente. Ou, porventura, pretende-se falar da propriedade privada atual, da propriedade burguesa?

     Mas, o trabalho do proletário, o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário? De nenhum modo. Cria o Capital, isto é, a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente. Em sua forma atual a propriedade se move entre os dois termos antagônicos: Capital e Trabalho.

     Examinemos os dois termos dessa antinomia. Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal, mas, também, uma posição social na produção. O Capital é um produto coletivo: só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade, e, mesmo, em última instância, pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade.

     O Capital não é, pois, uma força pessoal; é uma força social. Assim, quando o Capital é transformado em propriedade comum, pertencente a todos os membros da sociedade, não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social. O que se transformou foi apenas o caráter social da propriedade. Esta perde seu caráter de classe.

     Passemos ao trabalho assalariado. O preço médio que se paga pelo trabalho assalariado é o mínimo de salário, isto é, a soma dos meios de subsistência necessária para que o operário viva como operário. Por conseguinte, o que o operário obtém com o seu trabalho é o estritamente necessário para a mera conservação e a mera reprodução de sua vida. Não queremos de nenhum modo abolir essa apropriação pessoal dos produtos do trabalho, indispensável à manutenção e à reprodução da vida humana, pois essa apropriação não deixa nenhum lucro líquido que confira poder sobre o trabalho alheio. O que queremos é suprimir o caráter miserável desta apropriação, que faz com que o operário só viva para aumentar o Capital, e só viva na medida em que o exigem os interesses da classe dominante.

     Na sociedade burguesa, o trabalho vivo é sempre um meio de aumentar o trabalho acumulado. Na sociedade comunista, o trabalho acumulado é sempre um meio de ampliar, de enriquecer e de melhorar cada vez mais a existência dos trabalhadores.

     Na sociedade burguesa, o passado domina o presente; na sociedade comunista é o presente que domina o passado. Na sociedade burguesa, o Capital é independente e pessoal, ao passo que o indivíduo que trabalha não tem nem independência nem personalidade. A abolição de semelhante estado de coisas é o que a burguesia verbera como a abolição da individualidade e da liberdade. E com razão. Porque se trata efetivamente de abolir a individualidade burguesa, a independência burguesa e a liberdade burguesa.

     Por liberdade, nas condições atuais da produção burguesa, compreende-se a liberdade de comércio, a liberdade de comprar e de vender.

     Mas, se o tráfico desaparece, desaparecerá também a liberdade de traficar. Ademais, toda a fraseologia sobre a liberdade de comércio, bem como todas as bazófias liberais de nossa burguesia só têm sentido quando se referem ao comércio tolhido e ao burguês oprimido da Idade Média; nenhum sentido têm quando se trata da abolição comunista do tráfico, das relações burguesas de produção e da própria burguesia.

     Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas, em vossa sociedade, a propriedade privada está abolida para nove décimos de seus membros. E é precisamente porque não existe para estes nove décimos que ela existe para vós. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propriedade que só pode existir com a condição de privar de toda propriedade a imensa maioria da sociedade.

     Em resumo, acusai-nos de querer abolir vossa propriedade. De fato, é isso que queremos.

     Desde o momento em que o Trabalho não mais pode ser convertido em Capital, em dinheiro, em renda da terra, em uma palavra, em poder social capaz de ser monopolizado, isto é, desde o momento em que a propriedade individual não possa mais se converter em propriedade burguesa, declarais que a individualidade está suprimida. Confessais, pois, que quando falais do indivíduo, quereis referir-vos unicamente ao burguês, ao proprietário burguês. E este indivíduo, sem dúvida, deve ser suprimido.

     O Comunismo não retira a ninguém o poder de se apropriar de sua parte dos produtos sociais, apenas suprime o poder de escravizar o trabalho de outrem por meio dessa apropriação.

     Alega-se, ainda, que, com a abolição da propriedade privada, toda a atividade cessaria; uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo.

     Se isso fosse verdade, há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido à ociosidade, pois os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham. Toda a objeção se reduz a essa tautologia: não haverá mais trabalho assalariado quando não mais existir Capital.

     As acusações feitas contra o modo comunista de produção e de apropriação dos produtos materiais têm sido feitas igualmente contra a produção e a apropriação dos produtos do trabalho intelectual. Assim como o desaparecimento da propriedade de classe equivale, para o burguês, ao desaparecimento de toda a produção, também o desaparecimento da cultura de classe significa, para ele, o desaparecimento de toda a cultura. A cultura, cuja perda o burguês deplora, é, para a imensa maioria dos homens, apenas um adestramento que os transforma em máquinas.

     Mas não discutais conosco enquanto aplicardes à abolição da propriedade burguesa o critério de vossas noções burguesas de liberdade, de cultura, de direito etc. Vossas próprias idéias decorrem do regime burguês de produção e de propriedade burguesa, assim como vosso direito não passa da vontade de vossa classe erigida em lei, vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de vossa existência como classe.

     A falaz concepção interesseira que vos leva a erigir em leis eternas da natureza e da razão as relações sociais oriundas do vosso modo de produção e de propriedade – relações transitórias que surgem e desaparecem no curso da produção – a compartilhais com todas as classes dominantes já desaparecidas. O que admitis para a propriedade antiga, o que admitis para a propriedade feudal, já não vos atreveis a admitir para a propriedade burguesa.

     Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados diante desse desígnio infame dos comunistas. Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? No Capital, no ganho individual. A família, na sua plenitude, só existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na supressão forçada da família para o proletário e na prostituição pública.

     A família burguesa desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento, e uma e outra desaparecerão com o desaparecimento do Capital.

     Acusai-nos de querer abolir a exploração das crianças por seus próprios pais? Confessamos este crime.

     Dizeis também que destruímos os vínculos mais íntimos, substituindo a educação doméstica pela educação social. E vossa educação não é também determinada pela sociedade, pelas condições sociais em que educais vossos filhos, pela intervenção direta ou indireta da sociedade por meio de vossas escolas etc? Os comunistas não inventaram essa intromissão da sociedade na educação, apenas mudam seu caráter e arrancam da educação a influência da classe dominante.

     As declamações burguesas sobre a família e a educação, sobre os doces laços que unem a criança aos pais, tornam-se cada vez mais repugnantes, na medida em que a grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho.

     Toda a burguesia grita em coro: Vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mulheres!

     Para o burguês, sua mulher nada mais é do que um instrumento de produção. Ouvindo dizer que os instrumentos de produção serão explorados em comum, conclui naturalmente que haverá comunidade de mulheres. Não imagina que se trata precisamente de arrancar a mulher de seu papel atual de simples instrumento de produção.

     Nada mais grotesco, aliás, do que a virtuosa indignação que, a nossos burgueses, inspira a pretensa comunidade oficial das mulheres que adotariam os comunistas. Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mulheres. Esta quase sempre existiu.

     Nossos burgueses, não contentes em ter à sua disposição as mulheres e as filhas dos proletários, sem falar da prostituição oficial, têm singular prazer em se cornearem uns aos outros.

     O casamento burguês é, na realidade, a comunidade das mulheres casadas. No máximo, poderiam acusar os comunistas de querer substituir uma comunidade de mulheres, hipócrita e dissimulada, por outra que seria franca e oficial. De resto, é evidente que, com a abolição das relações de produção atuais, a comunidade das mulheres que deriva dessas relações, isto é, a prostituição oficial e não-oficial, desaparecerá.

     Além disso, os comunistas são acusados de querer abolir a pátria — a nacionalidade. Os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem. Como, porém, o proletariado tem por objetivo conquistar o poder político e erigir-se em classe dirigente da nação, tornar-se ele mesmo a nação, ele é, nessa medida, nacional, embora de nenhum modo no sentido burguês da palavra.

     As demarcações e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia, com a liberdade do comércio e o mercado mundial, com a uniformidade da produção industrial e as condições de existência que lhe correspondem.

     A supremacia do proletariado fará com que tais demarcações e antagonismos desapareçam ainda mais depressa. A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação.

     Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra.

     Quando os antagonismos de classe, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações.

     Quanto às acusações feitas aos comunistas em nome da religião, da filosofia e da ideologia em geral, não merecem um exame aprofundado.

     Será preciso grande perspicácia para compreender que as idéias, as noções e as concepções, em uma palavra, que a consciência do homem se modifica com toda mudança sobrevinda em suas condições de vida, em suas relações sociais, em sua existência social?

     Que demonstra a história das idéias, senão que a produção intelectual se transforma com a produção material? As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante. Quando se fala de idéias que revolucionam uma sociedade inteira, isto quer dizer que, no seio da velha sociedade se formaram os elementos de uma nova sociedade, e que a dissolução das velhas idéias marcha de par com a dissolução das antigas condições de vida.

     Quando o mundo antigo declinava, as velhas religiões foram vencidas pela religião cristã; quando, no século XVIII, as idéias cristãs cederam lugar às idéias racionalistas, a sociedade feudal travava sua batalha decisiva contra a burguesia então revolucionária. As idéias de liberdade religiosa e de liberdade de consciência não fizeram mais do que proclamar o império da livre concorrência no domínio do conhecimento.

     Sem dúvida – dir-se-á – as idéias religiosas, morais, filosóficas, políticas, jurídicas etc. modificaram-se no curso do desenvolvimento histórico, mas, a religião, a moral, a filosofia, a política e o direito mantiveram-se sempre através dessas transformações.

     Além disso, há verdades eternas, como a liberdade, a justiça etc., que são comuns a todos os regimes sociais. Mas o Comunismo quer abolir estas verdades eternas, quer abolir a religião e a moral, em lugar de lhes dar uma nova forma, e isso contradiz todo o desenvolvimento histórico anterior.

     A que se reduz essa acusação? A história de toda a sociedade até nossos dias consiste no desenvolvimento dos antagonismos de classe, antagonismos que se têm revestido de formas diferentes nas diferentes épocas.

     Mas, qualquer que tenha sido a forma desses antagonismos, a exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato comum a todos os séculos anteriores. Portanto, nada há de espantoso que a consciência social de todos os séculos, apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha movido sempre sob certas formas comuns, formas de consciência que só se dissolverão completamente com o desaparecimento total dos antagonismos de classe.

     A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade. Nada de estranho, portanto, que, no curso de seu desenvolvimento, rompa, do modo mais radical, com as idéias tradicionais.

     Mas deixemos de lado as objeções feitas pela burguesia ao Comunismo.

     Vimos acima que a primeira fase da revolução operária é o advento do proletariado como classe dominante, ou seja: a conquista da Democracia.

     O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar, pouco a pouco, todo Capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante, e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas.

     Isto, naturalmente, só poderá se realizar, a principio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que, no desenrolar do movimento, ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção.

     Essas medidas, é claro, serão diferentes nos vários países. Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas em prática:

1. Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado.

2. Imposto fortemente progressivo.

3. Abolição do direito de herança.

4. Confiscação da propriedade de todos os emigrados e sediciosos.

5. Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com Capital do Estado e com o monopólio exclusivo.

6. Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte.

7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral.

8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura.

9. Combinação do trabalho agrícola e industrial — medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo.

10. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material etc.

     Uma vez desaparecidos os antagonismos de classe no curso do desenvolvimento, e sendo concentrada toda a produção propriamente dita nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político, pois, o poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra.

     Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constitui forçosamente em classe, se se converte por uma revolução em classe dominante e, como classe dominante, destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói, juntamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes, destrói as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.

     Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classe, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.


LITERATURA SOCIALISTA E COMUNISTA
O SOCIALISMO REACIONÁRIO
O SOCIALISMO FEUDAL
 

     Devido à sua posição histórica, as aristocracias da França e da Inglaterra viram-se chamadas a lançar libelos contra a sociedade burguesa. Na Revolução Francesa de Julho de 1830 e no Movimento Reformador Inglês haviam sucumbido mais uma vez sob os golpes deste odiado oportunismo. Elas não podiam mais travar uma luta política séria; só lhes restava a luta literária. Ora, também no domínio literário, tornara-se impossível a velha fraseologia da Restauração.

     Para criar simpatias, era preciso que a aristocracia fingisse descurar seus próprios interesses e dirigisse sua acusação contra a burguesia, aparentando defender apenas os interesses da classe operária explorada. Desse modo, entregou-se ao prazer de cantarolar sátiras sobre os novos senhores e de lhes segredar ao ouvido profecias de mau augúrio.

     Assim nasceu o Socialismo Feudal, no qual se mesclavam lamúrias e libelos, ecos do passado e ameaça sobre o futuro. Se por vezes a sua crítica amarga, mordaz e espirituosa feriu a burguesia no coração, sua impotência absoluta em compreender a marcha da História Moderna terminou sempre por um efeito cômico.

     À guisa de bandeira, estes senhores arvoraram a sacola do mendigo, a fim de atrair o povo; mas, logo que este acorreu, notou suas costas ornadas com os velhos brasões feudais e dispersou-se com grandes gargalhadas irreverentes.

     Uma parte dos legitimistas franceses e a Jovem Inglaterra ofereceram ao mundo esse espetáculo divertido.

     Quando os campeões do feudalismo demonstram que o modo de exploração feudal era diferente do da burguesia esquecem de uma coisa: o feudalismo explorava em circunstâncias e condições completamente diversas e hoje em dia cadentes. Quando ressaltam que sob o regime feudal o proletariado moderno não existia, esquecem de uma coisa: a burguesia moderna é precisamente um fruto necessário de seu regime social.

     Aliás, ocultam tão pouco o caráter reacionário de sua crítica, que sua principal queixa contra a burguesia consiste justamente em dizer que esta assegura, sob o seu regime, o desenvolvimento de uma classe que fará ir pelos ares toda a antiga ordem social.

     O que reprovam da burguesia é, sobretudo, ter produzido um proletariado revolucionário, do que haver criado o proletariado em geral. Por isso, na luta política, participam ativamente de todas as medidas de repressão contra a classe operária. E, na vida diária, a despeito de sua pomposa fraseologia, conformam-se perfeitamente em colher os frutos de ouro da árvore da indústria e trocar honra, amor e fidelidade pelo comércio de lã, de açúcar, de beterraba e de aguardente.

     Do mesmo modo que o pároco e o senhor feudal marcharam sempre de mãos dadas, o Socialismo Clerical marcha lado a lado com o Socialismo Feudal. Nada é mais fácil do que recobrir o ascetismo cristão com um verniz socialista. Não se ergueu também o Cristianismo contra a propriedade privada, o matrimônio e o Estado? E em seu lugar não predicou a caridade e a pobreza, o celibato e a mortificação da carne, a vida monástica e a Igreja? O Socialismo Cristão não passa de água-benta com que o padre consagra o despeito da aristocracia.


O SOCIALISMO PEQUENO-BURGUÊS
 

     Não é a aristocracia feudal a única classe arruinada pela burguesia, não é a única classe cujas condições de existência se estiolam e perecem na sociedade burguesa moderna. Os pequenos burgueses e os pequenos camponeses da Idade Média foram os precursores da burguesia moderna. Nos países nos quais o comércio e a indústria são pouco desenvolvidos, esta classe continua a vegetar ao lado da burguesia em ascensão.

     Nos países nos quais a civilização moderna está florescente forma-se uma nova classe de pequeno-burgueses, que oscila entre o proletariado e a burguesia; fração complementar da sociedade burguesa, ela se reconstitui incessantemente. Mas, os indivíduos que a compõem se vêem constantemente precipitados no proletariado devido à concorrência; e, com a marcha progressiva da grande indústria, sentem aproximar-se o momento em que desaparecerão completamente como fração independente da sociedade moderna e em que serão substituídos no comércio, na manufatura e na agricultura por capatazes e empregados.

     Nos países como a França – nos quais os camponeses constituem bem mais da metade da população – é natural que os escritores, que se batiam pelo proletariado contra a burguesia, aplicassem à sua crítica do regime burguês critérios pequeno-burgueses e camponeses, e defendessem a causa operária do ponto de vista da pequena burguesia.

     Desse modo se formou o Socialismo Pequeno-burguês. Sismondi é o chefe dessa literatura, não somente na França, mas também na Inglaterra.

     Esse Socialismo analisou, com muita penetração, as contradições inerentes às relações de produção modernas. Pôs a nu as hipócritas apologias dos economistas. Demonstrou, de modo irrefutável, os efeitos mortíferos das máquinas e da divisão do trabalho, a concentração dos capitais e da propriedade territorial, a superprodução, as crises, a decadência inevitável dos pequeno-burgueses e dos camponeses, a miséria do proletariado, a anarquia na produção, a clamorosa desproporção na distribuição das riquezas, a guerra industrial de extermínio entre as nações, a dissolução dos velhos costumes, das velhas relações de família e das velhas nacionalidades.

     Todavia, a finalidade real desse Socialismo Pequeno-burguês é: ou restabelecer os antigos meios de produção e de troca e, com eles, as antigas relações de propriedade e toda a sociedade antiga, ou então fazer entrar à força os meios modernos de produção e de troca no quadro estreito das antigas relações de propriedade, que foram destruídas e necessariamente despedaçadas por eles. Em um e em outro caso, esse Socialismo é ao mesmo tempo reacionário e utópico.

     Para a manufatura, o regime corporativo; para a agricultura, o regime patriarcal: eis sua última palavra. Por fim, quando os obstinados fatos históricos lhe fizeram passar completamente a embriaguez, essa escola socialista abandonou-se a uma verdadeira prostração de espírito.
 

O SOCIALISMO ALEMÃO OU O ‘VERDADEIRO’ SOCIALISMO


     A literatura socialista e comunista da França, nascida sob a pressão de uma burguesia dominante, expressão literária da revolta contra esse domínio, foi introduzida na Alemanha quando a burguesia começava a sua luta contra o absolutismo feudal.

     Filósofos, semifilósofos e impostores alemães lançaram-se avidamente sobre essa literatura, mas se esqueceram de que, com a importação da literatura francesa na Alemanha, não eram importadas ao mesmo tempo as condições sociais da França. Nas condições alemãs, a literatura francesa perdeu toda significação prática imediata e tomou um caráter puramente literário. Aparecia apenas como especulação ociosa sobre a realização da natureza humana. Por isso, as reivindicações da Primeira Revolução Francesa só eram, para os filósofos alemães do século XVIII, as reivindicações da razão prática em geral; e a manifestação da vontade dos burgueses revolucionários da França não expressava, a seus olhos, senão as leis da vontade pura, da vontade tal como deve ser, da vontade verdadeiramente humana.

     O trabalho dos literatos alemães limitou-se a colocar as idéias francesas em harmonia com a sua velha consciência filosófica ou, antes, a apropriar-se das idéias francesas sem abandonar seu próprio ponto de vista filosófico. Apropriaram-se delas como se assimila uma língua estrangeira: pela tradução.

     Sabe-se que os monges recobriam os manuscritos das obras clássicas da Antigüidade pagã com absurdas lendas sobre santos católicos. Os literatos alemães agiram em sentido inverso a respeito da literatura francesa profana. Introduziram suas insanidades filosóficas no original francês. Por exemplo, sob a crítica francesa das funções do dinheiro, escreveram alienação humana; sob a critica francesa do Estado burguês, escreveram eliminação do poder da universidade abstrata, e assim por diante. A esta interpolação da fraseologia filosófica nas teorias francesas deram o nome de filosofia da ação, verdadeiro socialismo, ciência alemã do socialismo, justificação filosófica do socialismo etc.

     Desse modo, emascularam completamente a literatura socialista e comunista francesas. E como, nas mãos dos alemães, essa literatura deixou de ser a expressão da luta de uma classe contra outra, eles se felicitaram por se terem elevado acima da estreiteza francesa e terem defendido não verdadeiras necessidades, mas a necessidade do verdadeiro; não os interesses do proletário, mas os interesses do ser humano, do homem em geral, do homem que não pertence a nenhuma classe nem a realidade alguma, e que só existe no céu brumoso da fantasia filosófica.

     Esse socialismo alemão, que tão solenemente levava a sério seus desajeitados exercícios de escolar, e que os apregoava tão charlatanescamente, perdeu, não obstante, pouco a pouco, seu inocente pedantismo.

     A luta da burguesia alemã, e especialmente da burguesia prussiana, contra os feudais e a monarquia absoluta, em uma palavra, o movimento liberal, tornou-se mais séria.

     Desse modo, apresentou-se ao verdadeiro Socialismo a tão desejada oportunidade de contrapor ao movimento político as reivindicações socialistas. Pôde lançar os anátemas tradicionais contra o Liberalismo, o regime representativo, a concorrência burguesa, a liberdade burguesa de imprensa, o direito burguês, a liberdade e a igualdade burguesas; pôde pregar às massas que nada tinham a ganhar, mas, pelo contrário, tudo a perder nesse movimento burguês. O Socialismo Alemão esqueceu, muito a propósito, que a crítica francesa, da qual era o eco monótono, pressupunha a sociedade burguesa moderna com as condições materiais de existência que lhe correspondem e uma constituição política adequada — precisamente as coisas que, na Alemanha, se tratavam ainda de conquistar.

     Para os governos absolutos da Alemanha, com seu cortejo de padres, pedagogos, fidalgos rurais e burocratas, esse Socialismo converteu-se em espantalho para amedrontar a burguesia que se erguia ameaçadora.

     Juntou sua hipocrisia adocicada aos tiros e às chicotadas com que esses mesmos governos respondiam aos levantes dos operários alemães.

     Se o verdadeiro Socialismo se tornou, assim, uma arma nas mãos dos governos contra a burguesia alemã, representava, além disso, diretamente, um interesse reacionário, o interesse da pequena burguesia alemã. A classe dos pequenos burgueses, legada pelo século XVI, e, desde então, renascendo sem cessar sob formas diversas, constitui na Alemanha a verdadeira base social do regime estabelecido.

     Mantê-la é manter na Alemanha o regime estabelecido. A supremacia industrial e política da burguesia ameaçam a pequena burguesia de destruição certa; de um lado, pela concentração dos capitais, de outro, pelo desenvolvimento de um proletariado revolucionário. O verdadeiro Socialismo pareceu aos pequenos burgueses como uma arma capaz de aniquilar esses dois inimigos. Propagou-se como uma epidemia.

     A roupagem tecida com os fios imateriais da especulação, bordada com as flores da retórica e banhada de orvalho sentimental – essa roupagem na qual os socialistas alemães envolveram o miserável esqueleto das suas verdades eternas – não fez, senão, ativar a venda de sua mercadoria entre tal público.

     Por outro lado, o Socialismo Alemão compreendeu, cada vez mais, que sua vocação era ser o representante grandiloqüente dessa pequena burguesia.

     Proclamou que a Nação Alemã era a nação-tipo, e o filisteu alemão, o homem-tipo. A todas as infâmias desse homem-tipo deu um sentido oculto, um sentido superior e socialista, que as tornava exatamente o contrário do que eram. Foi conseqüente até o fim, levantando-se contra a tendência brutalmente destruidora do Comunismo, declarando que pairava imparcialmente acima de todas as lutas de classes. Com poucas exceções, todas as pretensas publicações socialistas ou comunistas que circulam na Alemanha pertencem a esta imunda e enervante literatura.
 

O SOCIALISMO CONSERVADOR OU BURGUÊS

 

     Uma parte da burguesia procura remediar os males sociais com o fim de consolidar a sociedade burguesa. Nessa categoria enfileiram-se os economistas, os filantropos, os humanitários, os que se ocupam em melhorar a sorte da classe operária, os organizadores de beneficências, os protetores dos animais, os fundadores das sociedades de temperança, enfim os reformadores de gabinete de toda categoria. Chegou-se até a elaborar esse socialismo burguês em sistemas completos. Como exemplo, citemos a Filosofia da Miséria, de Proudhon.

     Os socialistas burgueses querem as condições de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que fatalmente dela decorrem. Querem a sociedade atual, mas eliminando os elementos que a revolucionam e a dissolvem. Querem a burguesia sem o proletariado. Como é natural, a burguesia concebe o mundo em que domina como o melhor dos mundos possível. O Socialismo Burguês elabora em um sistema mais ou menos completo essa concepção consoladora. Quando convida o proletariado a realizar esses sistemas e a entrar na nova Jerusalém, no fundo o que pretende é induzi-lo a manter-se na sociedade atual, desembaraçando-se, porém, do ódio que ele vota a essa sociedade.

     Uma outra forma desse Socialismo, menos sistemática, porém mais prática, procura fazer com que os operários se afastem de qualquer movimento revolucionário, demonstrando-lhes que não será tal ou qual mudança política, mas somente uma transformação das condições da vida material e das relações econômicas que poderá ser proveitosa para eles. Notai que, por transformação das condições da vida material, esse Socialismo não compreende em absoluto a abolição das relações burguesas de produção – o que só é possível por via revolucionária – mas, apenas reformas administrativas realizadas sobre a base das próprias relações de produção burguesas e que, portanto, não afetam as relações entre o Capital e o Trabalho assalariado, servindo, no melhor dos casos, para diminuir os gastos da burguesia com seu domínio e simplificar o trabalho administrativo de seu Estado. O Socialismo Burguês só atinge uma expressão adequada quando se torna uma simples figura de retórica.

     Livre-câmbio, no interesse da classe operária! Tarifas protetoras, no interesse da classe operária! Prisões celulares no interesse da classe operária! Eis sua última palavra, a única pronunciada seriamente pelo Socialismo Burguês.

     Ele se resume nesta frase: os burgueses são burgueses - no interesse da classe operária.


O SOCIALISMO E O COMUNISMO CRÍTICO-UTÓPICOS

 

     Não se trata aqui da literatura que, em todas as grandes revoluções modernas, formulou as reivindicações do proletariado (escritos de Babeuf etc.).

     As primeiras tentativas diretas do proletariado para fazer prevalecer seus próprios interesses de classe, feitas em uma época de efervescência geral, no período da derrubada da sociedade feudal, fracassaram necessariamente, não só por causa do estado embrionário do próprio proletariado, como devido à ausência das condições materiais de sua emancipação, condições que apenas surgem como produto do advento da época burguesa. A literatura revolucionária que acompanhava esses primeiros movimentos do proletariado teve forçosamente um conteúdo reacionário. Preconizava um ascetismo geral e um grosseiro igualitarismo.

     Os sistemas socialistas e comunistas propriamente ditos, os de Saint-Simon, Fourier, Owen etc. aparecem no primeiro período da luta entre o proletariado e a burguesia, período acima descrito. (Ver o Capítulo Burgueses e Proletários). Os fundadores desses sistemas compreendem bem o antagonismo das classes, assim como a ação dos elementos dissolventes na própria sociedade dominante. Mas não percebem no proletariado nenhuma iniciativa histórica, nenhum movimento político que lhe seja próprio.

     Como o desenvolvimento dos antagonismos de classe marcha de par com o desenvolvimento da indústria, não distinguem tampouco as condições materiais da emancipação do proletariado, e põem-se à procura de uma ciência social, de leis sociais, que permitam criar essas condições.

     À atividade social substituem sua própria imaginação pessoal; às condições históricas da emancipação, condições fantasistas; à organização gradual e espontânea do proletariado em classe, uma organização da sociedade pré-fabricada por eles. A história futura do mundo se resume, para eles, na propaganda e na prática de seus planos de organização social. Todavia, na confecção de seus planos, têm a convicção de defender, antes de tudo, os interesses da classe operária, porque é a classe mais sofredora. A classe operária só existe para eles sob esse aspecto de classe mais sofredora.

     Mas, a forma rudimentar da luta de classes e sua própria posição social os levam a se considerar bem acima de qualquer antagonismo de classe. Desejam melhorar as condições materiais de vida para todos os membros da sociedade, mesmo dos mais privilegiados. Por conseguinte, não cessam de apelar indistintamente para a sociedade inteira, e mesmo se dirigem, de preferência, à classe dominante. Pois, na verdade, basta compreender seu sistema para reconhecer que é o melhor dos planos possíveis para a melhor das sociedades possíveis.

     Repelem, portanto, toda ação política e, sobretudo, toda ação revolucionária; procuram atingir seu fim por meios pacíficos e tentam abrir um caminho ao novo evangelho social pela força do exemplo, por experiências em pequena escala que, naturalmente, sempre fracassam.

     A descrição fantasista da sociedade futura, feita em uma época em que o proletariado, pouco desenvolvido ainda, encara sua própria posição de um modo fantasista, corresponde às primeiras aspirações instintivas dos operários a uma completa transformação da sociedade.

     Mas, essas obras socialistas e comunistas encerram também elementos críticos. Atacam a sociedade existente em suas bases. Por conseguinte, forneceram em seu tempo materiais de grande valor para esclarecer os operários. Suas propostas positivas relativas à sociedade futura, tais como a supressão da distinção entre a cidade e o campo, abolição da família, do lucro privado e do trabalho assalariado, proclamação da harmonia social e transformação do Estado em uma simples administração da produção, todas essas propostas, apenas anunciam o desaparecimento do antagonismo entre as classes, antagonismo que mal começa e que esses autores somente conhecem em suas formas imprecisas. Assim, essas propostas têm um sentido puramente utópico.

     A importância do Socialismo e do Comunismo Crítico-utópicos está na razão inversa do desenvolvimento histórico. Na medida em que a luta de classes se acentua e toma formas mais definidas, o fantástico afã de abstrair-se dela essa fantástica oposição que se lhe faz, perde qualquer valor prático, qualquer justificação teórica. Eis porque, se, em muitos aspectos, os fundadores desses sistemas eram revolucionários, as seitas formadas por seus discípulos são sempre reacionárias, pois se aferram às velhas concepções de seus mestres apesar do ulterior desenvolvimento histórico do proletariado. Procuram, portanto – e nisto são conseqüentes – atenuar a luta de classes e conciliar os antagonismos. Continuam a sonhar com a realização experimental de suas utopias sociais: estabelecimento de falanstérios isolados [comuna societária, espécie de «grande hotel» cooperativista, para habitação e produção em comum, ideada por Charles Fourier, filósofo e economista francês (1772-1837)], criação de colônias no interior, fundação de uma pequena Icária, edição da nova Jerusalém e, para dar realidade a todos esses castelos no ar, vêem-se obrigados a apelar para os bons sentimentos e os cofres dos filantropos burgueses. Pouco a pouco, caem na categoria dos socialistas reacionários ou conservadores descritos acima, e só se distinguem dele por um pedantismo mais sistemático e uma fé supersticiosa e fanática na eficácia miraculosa de sua ciência social.

     Opõem-se, pois, encarniçadamente, a qualquer ação política da classe operária, porque, em sua opinião, tal ação só pode provir de uma cega falta de fé no novo evangelho. Desse modo, os owenistas, na Inglaterra, e os fourieristas, na França, reagem respectivamente contra os cartistas e os reformistas.


POSIÇÃO DOS COMUNISTAS DIANTE DOS DIFERENTES PARTIDOS DE OPOSIÇÃO

 

     O que já dissemos no capítulo II basta para determinar a posição dos comunistas diante dos partidos operários já constituídos e, por conseguinte, sua posição diante dos cartistas na Inglaterra e dos reformadores agrários na América do Norte.

     Os comunistas combatem pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária, mas, ao mesmo tempo, defendem e representam, no movimento atual, o futuro do movimento. Aliam-se na França ao partido democrata-socialista contra a burguesia conservadora e radical, reservando-se o direito de criticar as frases e as ilusões legadas pela tradição revolucionária.

     Na Suíça, apóiam os radicais, sem esquecer que esse partido se compõe de elementos contraditórios, metade democratas-socialistas, na acepção francesa da palavra, metade burgueses-radicais.

     Na Polônia, os comunistas apóiam o partido que vê em uma revolução agrária a condição da libertação nacional, isto é, o partido que desencadeou a insurreição de Cracóvia, em 1846.

     Na Alemanha, o Partido Comunista luta de acordo com a burguesia, todas as vezes que esta age revolucionariamente: contra a monarquia absoluta, a propriedade rural feudal e o espírito pequeno-burguês.

     Mas nunca, em momento algum, este Partido se descuida de despertar nos operários uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe entre a burguesia e o proletariado, para que, na hora precisa, os operários alemães saibam converter as condições sociais e políticas, criadas pelo regime burguês, em outras tantas armas contra a burguesia, a fim de que, uma vez destruídas as classes reacionárias da Alemanha, possa ser travada a luta contra a própria burguesia.

     É para a Alemanha, sobretudo, que se volta a atenção dos comunistas, porque a Alemanha se encontra às vésperas de uma revolução burguesa, e porque realizará essa revolução nas condições mais avançadas da civilização européia, e com um proletariado infinitamente mais desenvolvido que o da Inglaterra no século XVII e o da França no século XVIII, e, por conseguinte, a revolução burguesa alemã só poderá ser o prelúdio imediato de uma revolução proletária.

     Em resumo, os comunistas apóiam, em toda parte, qualquer movimento revolucionário contra o estado de coisas social e político existente. Em todos estes movimentos, põem em primeiro lugar, como questão fundamental, a questão da propriedade, qualquer que seja a forma, mais ou menos desenvolvida, de que esta se revista.

     Finalmente, os comunistas trabalham pela união e pelo entendimento dos partidos democráticos de todos os países. Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder com ela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.

     Proletários de todos os países: uni-vos!

 

Karl Marx

Karl Marx
 
 

Friedrich Engels

 Friedrich Engels

 

Marx e Engels

Marx e Engels
 
 

Marx, Engels, Lenin, Stalin

Marx, Engels, Lenin, Stalin

 

 

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COMENTÁRIOS SOBRE O MANIFESTO

 

Foice e Martelo


     A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes.

     Esta é a frase que dá início ao capítulo Burgueses e Proletários. Ela é verdadeira porque esta é uma verdade eterna. Eterna enquanto a PAZ não for realizada interiormente, e só conhece a PAZ – Bhagavad-Gita, II – quem esqueceu o desejo. O Universo não descansa e a Consciência Universal, no seu incriado começo e impossível fim, sistólica e diastolicamente, a cada 311 040 x 109 anos, está sempre a tomar consciência de si mesma. Mas, as razões dianóica e noética não poderão compreender isso jamais. Ainda que o Universo seja ilimitado, ele é finito, pois nada vem do nada. De nihilo nihil, conforme registrou sabiamente Lucrécio (98?-55 a.C) em Da Natureza, I. Mas, adentro da ilimitabilidade do Cósmico, que não deve ser confundida com infinitude, a autoconsciência não foi, não é e jamais poderá ser igualitária. Este é um aparente paradoxo que, para ser compreendido, impõe mais do que uma elevação da alma das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou idéias. Ainda que o Manifesto condene no Socialismo e o Comunismo Crítico-utópicos o grosseiro igualitarismo, excluindo a cúria comunista, na prática, foi isso que acabou acontecendo. Claro, para o operariado. Não para os vovos tsares.

     Não adianta tentar tapar a realidade com uma tela vazada. Cada ente é um microcosmo único, especial, necessário, com seu código genético humano-cósmico próprio, que ao longo da existência manifestará vocações, inclinações e aptidões peculiares. Logo, qualquer doutrina que, a priori, sustente e postule a igualdade absoluta dos homens comete um equívoco de base metafísica. Por outro lado, isto não significa, em absoluto, que seja eticamente correto e moralmente efetivo ...quinhoar desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam. Estas reflexões parecem contraditórias, mas não são. A verdadeira Lei da Igualdade não pode estar, como propôs a Águia de Haia – o notável jurista brasileiro Rui Barbosa (1849-1923) – alicerçada em desigualdade social proporcionada à desigualdade natural. Foi, e continua sendo, esse maldito entendimento de desigualdade natural que gerou todas as formas de verdadeira opressão, da escravidão ao sistema de estratificação tradicional da Índia [grupo social fechado, de caráter hereditário, cujos membros pertencem à mesma raça, profissão ou religião]. Isto acaba produzindo grupos de pessoas que acabam se destacando dos demais por suas ocupações, seus privilégios, seus costumes e seus múltiplos e abichornados preconceitos. O Manifesto está correto em muitas razões, entretanto equivocado em vários pontos e nas soluções que propõe. Juntos, iremos ver alguns desses pontos.

     Já tive oportunidade de comentar esse tema quando examinei rapidamente, em outro livro digital, alguns fragmentos do pensamento ruiano. Assim, há equívoco em ambas as doutrinas. O Comunismo desejou aniquilar pela violência a fome satânica e insaciável do Capitalismo (da burguesia), e o Liberalismo Cientificista de Rui pretendeu adocicar esta mesma fome, no caso brasileiro, com paliativos, para tentar atenuar a crise em que estava mergulhado o Brasil depois da promulgação da Lei Áurea e da Proclamação da República. Ora, a desigualdade humana é um fato. Ainda que o Universo seja um, as pessoas são desiguais porque têm origens cósmicas distintas. E porque o processo de autoconsciência não é universal e não se dá no mesmo momento para todos. Plantar e colher são instantes diferenciados e específicos. O processo de reintegração cósmica possui diversos caminhos. Madre Tereza de Calcutá escolheu um; Joana D’Arc, outro. E Max Heindel (1865-1919), um terceiro. Mutatis mutandis, em uma orquestra, vários são os instrumentos musicais e vários também são os músicos. Talvez o número 2144 explique estas lucubrações! Esta afirmação poderá escandalizar os distraídos e os desinformados, e alvoroçar alguns religiosos piegas e fanáticos. Basta, tão-somente, tentar comparar o incomparável, e qualquer inteligência perceberá de plano que igualdade e Igualitarismo são impossibilidades cósmicas e que a luta entre as múltiplas classes é um fato, sob certos aspectos, ainda inexorável. Mas, um dia (quando?), todas essas fantasias da realidade objetiva, no mínimo, serão suavizadas. Até lá, a reciclagem, oriunda da entropia necessária, prevalecerá.

     Alguém já disse que o Igualitarismo é o ópio dos invejosos. A inveja é ambígua: está amalgamada tanto ao sentimento de tristeza que a presumida felicidade do outro motiva no invejoso, quanto ao ilusório sentimento de satisfação e de contentamento que este sente ao ver a desgraça e o infortúnio daquele que inveja. A inveja é uma verdadeira merda. Ou como deixou escrito Stuart Mill (1806-1873) no livro On Liberty: A inveja é a mais maligna de todas as paixões. Não sei se é realmente a mais maligna, mas que é depauperadora e atrasadora é. No trabalho digital Justiça Social, Igualitarismo e Inveja: A Propósito do Livro de Gonzalo Fernandez de la Mora, Eduardo O. C. Chaves ressalta que uma de três atitudes são passíveis de ser assumidas, face à possibilidade de que alguém possa aparentar maior grau de felicidade ou sucesso do que outrem: a) EMULAÇÃO – desejar ser como o outro, agir como ele e querer possuir as coisas que o outro possui; b) RESIGNAÇÃO – Aceitar a real ou suposta inferioridade relativamente ao outro; e c) INVEJA – Desejar que o outro perca aquilo que tem, e que, por inveja, gostaria que lhe pertencesse. Essas reflexões conduzem ao seguinte resumo:

 

EMULAÇÃO: POSITIVA —› MOLA PROPULSORA DO
PROGRESSO E DO DESENVOLVIMENTO

 

RESIGNAÇÃO: NEUTRA —› CONDUZ À ESTAGNAÇÃO
 

INVEJA: NEGATIVA —› LEVA À INVOLUÇÃO


     Faltou a Chaves definir a ATITUDE MÍSTICA. O MÍSTICO-INICIADO não é um nefelibata nem, muito menos, um egoísta ou um simplório. Esforça-se diuturnamente para alcançar uma percepção íntima e direta da MENTE UNIVERSAL. Este esforço é exercido pelo EU INTERIOR, que se empenha para dominar a astralidade, campo no qual operam os desejos, as cobiças e as paixões. E também as emulações, as resignações e as invejas (ódios, desgostos, insatisfações etc.). Os desejos... andam na contramão do esforço místico-espiritual. Bhagavad-Gita, II.

     É a prevalência do corpo astral sobre o EU que propicia as falsas emulações, as resignações estagnantes e as invejas involutivas. Todas essas coisas têm duas origens: fora e dentro. Mas é dentro que ferve o caldeirão. Quanto maior o domínio do corpo astral sobre o EU maior a insegurança ontológica do ser. Isto pode levar a diversos tipos de transtornos mentais que não podem ser sanados em uma encarnação. Tenho afirmado em outros ensaios que a trabalha 24 horas por dia, 365 dias por ano, para cooptar os incautos. As forças das trevas não dão trégua ao ser humano. O ideal supremo do MÍSTICO-INICIADO é sua união consciente com o D’US DE SEU CORAÇÃO que constrói diuturnamente. O MÍSTICO-INICIADO sabe que quando soar a hora querida da COMUNHÃO CÓSMICA CONSCIENTE, o D’US DE SEU CORAÇÃO haverá de se manifestar na singular intimidade de seu interior. Nos antigos rituais havia a seguinte PROMESSA ROSACRUZ: O HOMEM É DEUS E FILHO DE DEUS, E NÃO HÁ OUTRO DEUS SENÃO O HOMEM. D’US HOMO EST. Mas, o MÍSTICO-INICIADO consciente, particularmente o ESTUDANTE ROSACRUZ, filiado a qualquer Fraternidade Rosacruz autêntica, também sabe que tudo é parte do UM, e que ele, o(s) outro(s) e a DIVINDADE formam, portanto, um único CORPO CÓSMICO. Nestas palavras está dito tudo que pode ser dito. O que não pode ser dito terá que ser descoberto in corde.

     Por outro lado, retornando ao tema deste livro digital, a débâcle do Comunismo no Leste Europeu e na União Soviética não prova absolutamente nada e pode provar tudo. Depende de como é analisada. E assim, o Japão, ainda que tenha acabado por aceitar o Capitalismo ocidental, jamais, em suas entranhas, adotará por inteiro os hábitos da civilização ocidental. Estas duas últimas considerações podem, à primeira espiada, não estar interligadas. Mas estão. O Manual Rosacruz, livro publicado pela Suprema Grande Loja da AMORC, define evolução como desenvolvimento progressivo e aperfeiçoamento de tudo que se manifesta ou está na concepção da Mente Cósmica. Mesmo a chamada degeneração ou desintegração faz parte da evolução, representando uma de suas fases. Evolução significa avanço progressivo. É a Lei fundamental da Natureza e todo elemento da Natureza tende para a perfeição e está se tornando cada vez mais elevado em sua freqüência vibratória e mais perfeito em suas manifestações. (Sublinhados meus. O vocábulo evolução pode, sem prejuízo, ser permutado por reintegração, que está mais de acordo com os próprios princípios rosacruzes e martinistas e com a Atualidade do Universo).

     Assim, não poderia ser distinto. Diferenças, desigualdades e disparidades são inerentes ao processo de TOMADA DE CONSCIÊNCIA pelas consciências. Agora, se e quando as consciências se transmutarem em SUPERCONSCIÊNCIAS... E os homens em DEUSES... Nesse sentido, reflitam comigo: como comparar Madre Tereza de Calcutá (1910-1997) com uma mãe que dá, maltrata ou assassina seu próprio filho?

 

Madre Tereza de Calcutá

 

     Uma pobre mãe que age desta forma, ainda não pode apreender o que disse, certa vez, Madre Tereza: Cristo em mim: Ele age através de mim: Ele me inspira e me dirige como Seu instrumento. Eu nada faço... Ele faz tudo.

     Como comparar Tomás de Torquemada (1420-1498), primeiro inquisidor-mor da Espanha, que durante os dezesseis anos em que cumpriu sua missão infernal, estimulou, permitiu, ejaculou e ordenou que fossem instaurados aproximadamente cem mil processos inquisitoriais e torturadas, humilhadas e executadas milhares de pessoas, como, por exemplo, o Monge Dominicano Italiano Girolamo Savonarola (1452-1498). Torquemada aterrorizou toda uma nação. Morreu delirando aos 78 anos com as mãos encharcadas de sangue. Já Savonarola, médico, filósofo, profeta, reformador, político e hábil legislador, passou prematuramente pela transição imposta pelos tribunais do santo ofício aos 45 anos, no mesmo ano que Torquemada, mas, como mártir, por causa de suas idéias contrárias à decadência desonrante, de todos conhecida, do Pontificado de Roma. Ao proclamar, em Florença, o Reino do Cristo, verberava contra os vícios e a luxúria. Ousou acusar a Igreja Católica, bradando: A tua luxúria fez de ti uma prostituta. És um monstro abominável. Criaste uma casa de devassidão. Transformaste-te, de alto a baixo, em casa de infâmia. E o que faz a mulher pública? Acena a todos que passam; quem tiver dinheiro pode entrar e fazer o que desejar. Savonarola acabou torturado, enforcado e queimado. Os pedaços que sobraram foram lançados no Rio Arno, na bela Florença, que foi fundada no ano 200 a.C., como colônia etrusca.

 

Torquemada

Tomás de Torquemada

 

Girolamo Savonarola

Girolamo Savonarola


     Como comparar, ainda, o Dezoito (1889-1945) com Albert Einstein (1879-1955)? Uma semana antes de passar pela Grande Iniciação, o místico Einstein enviou uma carta a Bertrand Russell (1872-1970) na qual concordava em subscrever um MANIFESTO contra a proliferação de armas nucleares e no qual também constava a proibição de seu fabrico. Einstein, em 1944, já houvera escrito ao Presidente Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) implorando que não lançasse a bomba nuclear sobre o Japão. Ele sabia, mais do que ninguém, os efeitos devastadores da radiação nuclear. Roosevelt faleceu repentinamente(?!) em 12 de abril de 1945 sem ter podido ler a carta. O Pedreiro-Livre Harry S. Truman (1884-1972), pelos motivos conhecidos, não atendeu ao pedido do qual Einstein era porta-voz e... E de novo. A antiga União Soviética precisava conhecer o poderio bélico dos EEUU. E o Japão, que já havia concordado em se render, não foi ouvido. O establishment fez ouvidos de mercador... Primeiro, Hiroshima; depois, Nagazaki.

     Como comparar, então, os pilotos do Correio Aéreo Nacional (criado em 20 de Fevereiro de 1941) com aquele pequeno indivíduo que pôs a voar e a trovejar o mortífero Enola Gay? E o outro que arrasou Nagazaki? Primeiro, urânio: LITTLE BOY. Depois, plutônio: FAT MAN. 6 de Agosto: Hiroshima. 9 de Agosto: Nagazaki.

 

Hiroshima

Hiroshima

 

Hiroshima

Hiroshima

 

Nagazaki

Nagazaki

 

Nagazaki

Nagazaki

 


       La preuve est faite: la bombe fonctionne sans intérêt stratégique, les armes de destruction massive ne peuvent servir qu'a une seule chose: AFFIRMER SA SUPÉRIORITÉ EN SACRIFIANT MASSIVEMENT DES POPULATIONS INNOCENTES
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     Como comparar João XXIII com Pio XII ou com Flavius Petrus Sabbatius Justinianus? Como comparar o destemor de um jornalista investigativo como Arcanjo (Tim) Lopes, com a covardia insana daqueles que roubam a vida e buscam calar e ocultar as verdades, como o conhecido traficante Elias Maluco e seus colaboradores?

 

Papa João XXIII

Papa João XXIII

 

     Como comparar Sérgio Vieira de Mello (1948-2003) com aqueles que o assassinaram? Como comparar ódio, terrorismo e crueldades com amor, solidariedade e bem-quereres? O que está em cima não pode ser comparado com o que está embaixo. Sol e Lua não são iguais. E o ouro não é igual ao zinco nem ao chumbo. Falta alguma coisa no zinco e sobra alguma coisa no chumbo para que ambos possam ser ouro. Entretanto, tudo converge para o ouro! Por isso, serão, mas ainda não são. Isso está explicado em outros trabalhos digitais apresentados neste site, e, nas entrelinhas, no entendimento rosacruz de evolução apresentado um pouco mais acima. Ora, o que não presta (ainda) será reprocessado. Apenas isso.

     Por que, então, a luta de classes? Porque os seres, em sua maioria, são ainda dominados e comandados pelo corpo astral, que impõe desejos, cobiças e paixões e sentimentos de dúvida, de desconfiança, de indolência, de orgulho, de avareza, de inveja, de submissão, de despotismo, de intolerância, de preconceito, de dominação, de tirania, de crueldade, de ressentimento etc. Explica-se, assim, porque, contraditoriamente, para uns o Igualitarismo é a solução; e, para outros, a resposta é a subjugação. E, se for necessário, violência, guerra e morte. No mínimo. E em ambas as facções. Opressores e oprimidos, se puderem, esfolam-se uns aos outros.

 

Pelourinho

Pelourinho


     Os seres são diferentes, efetivamente, porque a reintegração se dá, por assim dizer, em ritmos diferentes. Nada de novo com esta observação. Então, um cachorro, por exemplo, não é igual ao vírus da AIDS (do inglês Acquired Immunodeficiency Syndrome). Nem uma cobra venenosa pode ser igual a um passarinho. Golfinho é golfinho; tubarão é tubarão. E bicho de duas patas é diferente de bicho de quatro patas. Talvez, sem avançar demais neste tema, o melhor exemplo seja lembrar que, há, conhecidamente, quatro reinos na Terra: minérios e minerais, vegetais, animas e seres humanos. Entre os homens, particularmente, há uma longa lista de classes e de subclasses no domínio das etnias, das religiões, do conhecimento, das habilidades e da própria manifestação da autoconsciência da Consciência Cósmica. Equivocam-se os autores do Manifesto quando, em um reducionismo simplista e insustentável, admitem, apenas, a existência de duas classes de seres humanos inimigas e diametralmente opostas: burguesia e proletariado. Reduzir a Humanidade a dois termos simples é considerá-los – os termos – mais fundamentais do que o próprio fenômeno e as Leis que provocam objetivamente, não apenas a desigualdade social, mas todas as outras mazelas que desarmonizam e comprometem o próprio processo cósmico do existir, do conviver e do reintegrar (ou evoluir, se houver preferência por este termo). No presente momento da peregrinação coletiva da Humanidade, a única igualdade possível (ainda que isso não me satisfaça nem um pouco, mas compreendo que deva ser assim) é a igualdade perante a lei. Logo, fazer justiça JUSTA é dar a todos e a cada um uma parte proporcionada JUSTA da riqueza global. Voltarei a este tema mais adiante.

       Em outro sentido, apenas para reforçar estas lucubrações, o Positivismo também produziu o seu reducionismo quando pretendeu ter descoberto a pólvora com a Lei dos Três Estados. Pólvora molhada. Por que apenas três estados? Estará(ão) o(s) Universo(s) reduzido(s) a apenas três oitavas? O fim da experiência humana esgotar-se-á, porventura, no Estado Positivo ou Científico? Este profetismo é totalmente inconseqüente e fraudador porque limita o que in potentia é ilimitado. Não deixa de ser, em certo aspecto, um neocolonialismo positivo ou um arianismo científico perigosíssimo. Quem não rezar (ou não puder rezar) nessa cartilha está fadado a ser alijado. Não aceito isso. A desigualdade social e a luta permanente de classes advêm exatamente do fato de a sociedade ainda estar desigualmente estruturada em múltiplas castas (por exemplo, estratificação tradicional da Índia, de caráter hereditário, cujos membros pertencem à mesma raça, profissão ou religião), classes e subclasses e, em virtude desta inconsistência estar lamentavelmente alicerçada em bases puramente hipotéticas e superlativamente preconceituosas. Por isso, esta mesma sociedade trata desigualmente e desumanamente como desiguais os que, na verdade, cosmicamente e pelo sangue, são iguais. Não em mérito (porque o mérito é coisa adquirida, conquistada, não herdada), mas, repito, pelo sangue. Somos todos UM. E se somos todos UM, temos que nos ajudar em tudo. Sempre. A própria escravidão, que vinha de longe, foi um dos mais malevolentes subprodutos do poder absoluto e arbitrário, que só consegue se alimentar do próprio poder. Spartacus foi assassinado (crucificado) por Marcus Licinius Crassus porque ousou lutar contra a escravidão desafiando Roma. Eu sou Spartacus. Todos eles eram Spartacus... Morreram todos crucificados em uma longa fila de cruzes até chegar a Roma.

       Mas, o grande Aristóteles (nasceu em 384 a.C., em Stagirus, Grécia; morreu em 322 a.C., em Chalcis, Grécia) contemporizou com a escravidão e foi preconceituoso com as mulheres (A Natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior.). Há 2300 anos também disse Aristóteles: Se cada ferramenta pudesse cumprir, por si só, a sua função; se, por exemplo, a agulha do tear pudesse trabalhar sozinha, o mestre não necessitaria de nenhum ajudante e o amo de nenhum escravo. Então, admitia: a família compõe-se de quatro elementos: os filhos, a mulher, os bens e os escravos – os instrumentos animados. Conclusão: há a casta dos homens livres, isto é, a dos cidadãos, e a dos escravos, ou seja, dos trabalhadores sem direitos políticos. Resumindo: Aristóteles assemelhou os escravos às mulheres, e uma família organizada está composta de escravos e de pessoas livres. Aliás, o Estado de inconsciência (ou de semiconsciência) da sociedade pode ser debitado em parte a certas proposituras estabelecidas pelo peripatetismo e pelo tomismo, que exerceram e ainda exercem certa (na realidade, muita) influência no pensamento ocidental. O modelo aristotélico-tomista ainda viceja em certas confrarias retrógradas. Interessa! Muito! Nos regimes totalitários (que são superlativamente escravocratas e apocópicos) não há possibilidade de avanço, nem há, EFETIVAMENTE, igualdade de oportunidades e liberdade veraz. Exemplo: Comunismo. Há um arremedo deficiente e esdrúxulo de justiça social, ainda que a teoria comunista seja magnífica no que encerra de magnífico.


PARA MEDITAR
Vírus da AIDS
Cachorro
Vírus da AIDS
Cachorro


     Sob outro ângulo e guinando para um tema que pode parecer não estar vinculado ao anterior, mas nem tanto, as ideologias políticas e religiosas que sustentam que o homem (legalmente) deve exigir de deus e tomar posse, por causa disto ou por causa daquilo... encarnam deturpações manipuladoras, insanas e hediondas do próprio sentido da vida, da organização micro e macroscópica universal e da convivência social. Nesse particular – já comentei essa matéria – interpretam-se erroneamente os vocábulos direito e privilégio. Direito vincula-se à legalidade e ao que representa a realidade. Privilégio submete-se à legitimidade e ao entendimento do que é atualidade. O direito, como a moral, são produtos humanos; o privilégio, como a ética, têm ancoragem cósmica. Logo, a apropriação e a lucratividade podem ser legais (nos casos em que realmente são); jamais serão legítimas. Mas, ainda que os diversos diplomas legais, em sua maioria, sejam cosmicamente ilegítimos, enquanto não forem modificados e atualizados devem ser cumpridos e respeitados. Um mau acordo é sempre melhor do que acordo nenhum. Better a lean peace than a fat victory, sentenciou o médico e escritor Thomas Fuller (1654-1734). Daí, a luta de classes. Mas, na medida em que o egoísmo decrescer e a solidariedade prosperar, os acordos tornar-se-ão mais fraternos e mais concertados. O próprio Fuller ensinou que só se dá valor à água quando o poço seca. Por isso, tão certo quanto AUM MANI PADME HUM pode mudar a face do Planeta, os desterrados e oprimidos de hoje, segundo mérito, honradez, esforço e purgação de sentimentos abjetos serão os heróis de amanhã. Mas, a base de sustentação social tem que estar, sempre e exclusivamente, fundeada em IMPERATIVOS CATEGÓRICOS. Vou repetir isso até ficar rouco.

     A atualidade do Universo não é cartorial. Ainda que parte do conhecimento possa ser adquirida pela indução, a verdadeira sabedoria só se instalará paulatinamente no ser pela via dedutiva. Bons frutos colherá aquele que se dispuser a fazer um estudo sistemático, adensado e comparativo das obras platônica e aristotélica. O passo posterior será examinar criteriosa e cuidadosamente as Eneadas de Plotino e o pensamento de Francis Bacon, reduzindo o que puder ser reduzido aos planos dianóico e/ou noético. Como afirmou o matemático, lógico e metafísico britânico Alfred North Whitehead (1861-1947), reconhecido como um dos maiores pensadores do século XX, a ciência moderna induziu na Humanidade a necessidade de descrer. Seu progressivo pensamento e sua progressiva tecnologia fizeram da transição pelo tempo, de geração para geração, uma verdadeira migração para um ignoto oceano de aventuras. O próprio benefício da descrença está em que ela é perigosa e requer habilidade para evitar males. Devemos esperar, portanto, que o futuro revele perigos... Portanto, só pelo aprofundamento das reflexões sobre a Filosofia da Ciência e sobre o Misticismo Tradicional e Autêntico poderá o homem começar a compreender o Universo, a sociedade e a si próprio. Ao serem descobertos os padrões dos eventos estes devem ser ajustadamente interpretados; mas, autenticamente, só a FiloShOPhYa esotérico-iniciática poderá unificar as diversas descobertas da ciência em uma ordem compreensível e harmônica. Progresso sem harmonia é caos. E ordem baseada principalmente na indução poderá gerar o supremo caos. O século XXI está chegando ao limite da dissonância e a Humanidade, por opção ignorante, está aprendendo pela dor. Todos esses sistemas hipotéticos criados pela vaidade só têm produzido entenebrecimento da alma. Talvez, um dia, se descubra que o Sol é azul e não amarelo, e se aprenda o significado universal dos números 111 (cento e onze), 144 (cento e quarenta e quatro) e 666 (seiscentos e sessenta e seis). Este é um breve e sintético resumo do calvário no qual as paixões humanas estão sendo depuradas. Quando forem adequadamente compreendidas as Leis da Reciclagem, da Necessidade e da Reciprocidade Amorosa e Educativa, então, talvez, o processo de libertação e de reintegração, que é um, se faça mais concertada e suavemente. Nesta matéria, desventuradamente, aqueles que presumem compreender estas Leis irredutíveis, em alta percentagem, também agasalham preconceitos, laboram em equívocos e demonstram graves distorções de entendimento. Em duas palavras: a Necessidade é universal e o Carma não é punitivo. Não há um grão de poeira no Cósmico que não esteja sujeito tanto à Reestruturação quanto à Compensação Pedagógica, Amorosa e Educativa pelas desarmonias praticadas, sejam em comissão, sejam por omissão. Os próprios exageros altruístas (teológicos, laicos e outros) deverão ser compreendidos e ajustados. Ninguém tem o direito de obrigar ou induzir ninguém a nada, principalmente segundo seu entendimento pessoal, que é e será sempre falho e relativo, e, justamente por isso, reciclável e atualizável. Ninguém pode, de forma deliberada, alterar a experiência alheia. Os ditos Livros Sagrados foram escritos por homens. Inspirados, até admito. Mas, homens. Em nome de quem ou do quê alguém pode perdoar ou não perdoar, justificar ou não justificar, excluir ou não excluir, decidir ou não decidir, matar ou não matar? Os atos de solidariedade, de misericórdia, de compaixão, de generosidade devem estar duplamente apoiados: primeiro, em IMPERATIVOS CATEGÓRICOS; segundo, em ShOPhYa (396). Os próprios Avatares, Santos Homens e Mestres Ascensionados e os nossos Pais Cósmicos não andam por aí realizando prodígios e fazendo milagres a torto e a direito. Como, então, os sistemas criados pelo homem (que é, por enquanto, apenas homem) podem prometer o irrealizável? O aprendizado seguirá sempre(?!) a ordem:

ShOPhYa
COMPREENSÃO
AMOR
DOR


     A burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias. Esta é outra constatação do Manifesto. Está correta. Mas este não é só um equívoco da burguesia. Burgueses, lato sensu, somos todos, comunistas, capitalistas, religiosos e místicos. Uns, mais; outros, menos; uma minoria, quase nada. Só os INVISÍVEIS QUE FAÍSCAM estão fora desta categoria. O homem, em seu estágio presente de realização da vida, preso, como já explicado, a desejos, paixões e cobiças, obriga-se a depender exageradamente de bens materiais. Valoriza o que é objetivo em detrimento do eterno que está em seu interior. É preciso dinheiro para comprar whisky e vodka. É necessária sempre maior quantidade de dinheiro para satisfazer criações mentais ilusórias. Enfim, é preciso dinheiro para fazer mais dinheiro. Em conseqüência, o ente credita à realização de seus desejos a maior felicidade que possa alcançar. Um exemplo específico, geralmente desconsiderado nessa dialética, é a necessidade sexual. Há indivíduos que, patologicamente, são verdadeiras máquinas sexuais. O desejo descontrolado e doentio, quando não satisfeito de imediato, leva à prática compulsiva da masturbação incessante, comprometendo e destruindo energias constitutivas do ser que deveriam e poderiam ser utilizadas para finalidades espiritualmente elevadas, que não a simples satisfação de paixões astrais inferiores. O infra-sexo é uma condição espúria e anômala da personalidade que inclui outras formas degradantes de satisfação sexual. Não é, portanto, correto, reduzir as amarguras da Humanidade a uma simples exploração descarada, direta e brutal. O Manifesto, nesta matéria, também está equivocado. O próprio homem se incumbe de se auto-explorar. O exemplo sexual foi apenas um. A inconsistência político-ideológica, a preconceituosa devoção religiosa e a violenta agressão à vida são mais três de muitos exemplos que poderiam ser listados. A Humanidade perde tempo com inutilidades de toda ordem; e a televisão, hoje, também, tornou-se o pior instrumento de exploração das consciências, abusando, inclusive, das fragilidades e das patologias abscônditas dos entes. Os perversos especialistas em comunicação sabem direitinho como manipular as carências, os temores, as ilusões, os preconceitos e os fantasmas que povoam e circulam nas cabeças humanas. Mistura-se de tudo na televisão. De cultos religiosos a sexo explícito. E por aí vai. Há exceções. Benditos programas televisivos que funcionam como verdadeiras pedras filosofais virtuais. [Este conceito foi concebido pelo Frater Vicente Velado – Abade da Ordo Svmmvm Bonvm (OS+B) – para a Internet, que eu, agora, estou estendendo aos bons programas veiculados nos poucos canais de televisão sérios e dignos existentes no Brasil. O site da OS+B é:

http://svmmvmbonvm.org

Entretanto, sou viscerosamente contrário a qualquer forma de censura. Quem pode censurar a minha alma ou a tua? Mas, tenho que concordar com o Manifesto quando afirma que o dinheiro sempre foi a mola maldita que, em todos os tempos, produziu os maiores desconfortos e sofrimentos para o homem. Muitos sabem, mas muitos não sabem o significado cósmico dos trinta dinheiros! Com trinta dinheiros uma vida foi vendida! E os parceiros das trevas que vendem e compram vidas não sabem o que fazem. Se soubessem... Eles, os trinta dinheiros, simbolicamente, representam as paixões, os desejos, as traições, as incongruidades, as concupiscências, as promiscuidades, os assassinatos, as violências, os falsos testemunhos... a degradação.

     Outro aspecto do Manifesto: Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se ossificar. Isto é assim e não é assim. Idéias secularmente veneradas podem ser uma coisa boa, mas podem ser algo medonho. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas, prossegue o Documento. Estou perfeitamente cônscio de que estou trabalhando em um texto do século XIX, mais exatamente de 1847. Portanto, sei também que algumas partes do Manifesto já estão politicamente ultrapassadas. Mas reconheço que foi um dos mais importantes documentos produzidos no milênio passado. As conseqüências dele advindas mudaram a face do Planeta. Dito isto, continuarei a pinçar algumas meditações do texto e prosseguirei este exercício salutar. Então, que não se esqueça: foi também por causa da manutenção de idéias antigas e veneradas que o Comunismo caiu no Leste Europeu e na União Soviética. E ainda não desmoronou em outros países porque há tempo para plantar e tempo para colher. O Capitalismo também cairá na hora certa. Ambos os sistemas não são consentâneos à Humanidade. O Sistema Neoliberal usurpou da Humanidade o sangue e o suor que o Comunismo por descaminhos e equívocos tentou evitar. A própria Democracia está eivada de erros e de contradições. Cairá também. As monarquias e as ditaduras ainda exuberantes serão oportunamente dissolvidas. O insuportável terá seu fim quando as consciências estiverem aptas a poder existir em paz, harmonia, solidariedade, justiça e amor.

     Tudo o que era sagrado é profanado... Bem, o que era realmente SAGRADO não foi e não poderá ser jamais profanado. Se foi profanado é porque não era SAGRADO. O SAGRADO é SAGRADO. E ainda bem que muitos conceitos tidos como sagrados foram tratados com irreverência e acabaram por ser desrespeitados. Senão continuaríamos na Idade da Pedra. Um exemplo contemporâneo de algo considerado sagrado que haverá de ser repensado é a crença(?) na infalibilidade papal. O Ultramontanismo (doutrina que defende a posição tradicional da Igreja católica italiana de sustentar a tese da infalibilidade do papa) é uma aberração sem amparo racional e cósmico. Infalibilidade? Há outros exemplos piores, mas eu desejo reproduzir agora o entendimento (correto) de Sant’Ana Dionísio (1902-1991) sobre o VÍCIO OU PECADO COUSISTA apresentado na Introdução às Obras de Leonardo Coimbra: ...tendência funesta e irreprimível do homem ... para considerar como estático e definitivo, como realidade concluída e firme de uma vez para sempre, para não dizer como coisa feita, as próprias realidades espirituais, as idéias, os símbolos, as estratificações jurídicas, os transitórios preconceitos políticos ou sociais, as convenções históricas tidas como sagradas ou invioláveis, os princípios ou dogmas de ordem religiosa, múltiplas idéias-crenças, tidas como inalteráveis, de ordem científica. Este vício ou pecado cousista pode se apresentar sob dois aspectos terríveis: o primeiro, conforme pensava Leonardo Coimbra (1833-1936); o segundo, como repiques eventuais de cousismos aparentemente ultrapassados. Contra estes últimos é que o místico deve dar atenção redobrada. Por exemplo: nada justifica que sejam postas em ação as forças da Natureza para tentar solucionar pela violência o que quer que seja. O(s) ser(es) deve(m) compreender que seu(s) julgamento(s) de valor(es) pode(m) estar [(e geralmente está(ão)] mascarado(s) e equivocado(s). As conseqüências dessas práticas acabam afetando diretamente o invocador e, por carambola, todo o Universo. O místico Vicente Velado adverte: ...no que diz respeito aos místicos e ocultistas, é muito importante que NÃO se façam invocações aos Elementais voltadas para a agressão ou qualquer outro tipo de dano a outros seres. Cada vez que isso é feito, cria-se uma condição maléfica para todos e não apenas para aquelas criaturas que alguém julgue estar atacando legitimamente. Lembrem-se de que a legitimidade de um ataque é matéria altamente subjetiva e que depende exclusivamente dos pontos de vista das partes envolvidas. Quando seres animados, dotados de autoconsciência e de livre-arbítrio, como as criaturas humanas, exercem ataques – simplesmente atacando ou como ‘prevenção, para se defender’ – e envolvem nisso entes da VIDA INCONSCIENTE, um forte e perigoso foco de negatividade se forma e pode produzir círculos viciosos de violência, dor, destruição e morte. Pensem nisso antes de fazerem alguma ‘simples’ invocação sobre uma ‘mera’ pedra. (O texto integral está reproduzido, com autorização do autor, no Anexo I).

     Em outro ponto do Manifesto Comunista pode-se ler: Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades, que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e de nações que se bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio universal e uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual.

     Aqui vou repetir o que escrevi no livro digital Excertos Escolhidos do Pensamento de Rui Barbosa: As leis(?) foram e são elaboradas e promulgadas pelos detentores do poder, para beneficiar, quase exclusivamente, as classes dominantes. O laissez-faire, laissez-passer – do Liberalismo ao Neoliberalismo – acabou, também, por produzir a tão famigerada globalização (por enquanto mera mutação maquilada do imperialismo capitalista neoliberal), que vem se notabilizando pela ascensional assimetria de suas diretrizes econômico-financeiras, e pela insensibilidade político-fiscal que impõe aos países do Terceiro e do Quarto Mundos, multiplicando geometricamente uma sangria de receitas e de recursos, e avultando uma dívida externa progressiva impossível de ser satisfeita, pelo menos no que concerne ao principal. Aliás, o que menos desejam os países credores é que os saldos devedores sejam quitados pelos países que se socorrem dos créditos internacionais. Há instrumento de pressão e de persuasão mais poderoso do que uma ação isolada ou combinada sobre países como o Brasil, proprietários de uma dívida externa absurdamente mal adquirida? Entretanto, é claro que a globalização é o caminho – o único caminho – para minimizar as desigualdades sociais dos seres no mundo; mas é também óbvio que todos os critérios que a originarem e nos quais ainda está ancorada terão de ser drasticamente redirecionados e reavaliados. A globalização, tal como é praticada, é egoísta, é mesquinha, é interesseira, é falsa, é usurpadora, é ilegítima e é autoritária. É, na realidade, da forma como está estruturada, um novo totalitarismo dissimulado, fraudulento e exterminador. Acreditar que os fatos econômicos se desenvolvam eticamente por si sem nenhuma interferência legislativa (ou sob uma legislação privilegiável e anacrônica – o que é mais desapropriado e mais malévolo, pois legaliza a usura) é permitir a gestação e o parto de toda a sorte de rupturas, de desnivelamentos e de impasses. Não há cidadão de segunda categoria. Cidadão é, antes e acima de tudo, gente. Portanto, em uma sociedade meritocrática, todos têm direito a tudo. Privilégio é outra coisa. Logo, a globalização em curso terá, no futuro, que estar ancorada, minimamente, em três pilares:

1º) Amorabilidade Universal e Incondicional, isto é, Fraternidade Categórica

2º) Solidariedade

3º) Cidadania


     No Manifesto, a crítica à burguesia é feroz e, na maior parte das vezes, correta. Mas não é correto incluir na crítica à sociedade ... demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. Na verdade, hoje, tudo isso ainda é muito pouco. São bilhões de irmãos e de irmãs com fome, com sede e sem condições mínimas para viver decentemente. Há doença e miséria por toda parte. A AIDS (SIDA), infelizmente, não é o último flagelo. Se a Humanidade não reverter já o ECOCÍDIO, as VIVISSECÇÕES, as MATANÇAS EM NOME DE deus e do PODER, as ILEGITIMIDADES e todas as demais formas de ABUSO e de ANIQUILAMENTO, acredito que haverá uma intervenção drástica na Terra para por cobro a toda essa insanidade. Nossos PAIS CELESTES estão atentos ao que está acontecendo aqui. Por isso, a recomendação de Vicente Velado e de outros místicos: TOLERÂNCIA, ORAÇÃO E SERVIÇO em prol do entendimento entre todos os povos.

     Ricos, sem o saber, são aqueles que possuem, pelo menos, uma cama para dormir. Os autores do Manifesto, quero crer, não desejavam que a Humanidade continuasse a se locomover em carros de boi. A globalização é necessária. Alquimizada. Não da forma como está posta.

     O Sistema Capitalista realmente morreu e não percebeu. Em verdade foi uma doutrina natimorta. Mas, negar o avanço necessário da pesquisa, da tecnologia, da civilização, da indústria e do comércio não é possível. Agora, tudo isso terá que ser orquestrado de outra forma. Já escrevi o que vou reproduzir adiante. Acho mesmo que estou ficando meio gagá; dei, ultimamente, para repetir as coisas como em uma eterna ladainha. Mas não faz mal, penso. Nem todos lerão todos os livros digitais que produzi. A maioria jamais os lerá. Muitos são chatos, difíceis e cansativos. Reconheço. Fazer o quê?

     Há, por exemplo, que substantivamente serem repensados os sentidos dos vocábulos legalidade e legitimidade. Pergunta-se: Há, porventura, legitimidade na legalidade de alguns salários que alcançam cifras 100, 200, 300 e até 2000 vezes maiores do que o valor estabelecido para o salário-mínimo vigente no Brasil? Mais, quem sabe? Pergunta-se: Os sistemas financeiro e bancário podem continuar a desfrutar os lucros que auferem? A quem interessa o perpétuo pagamento dos serviços das dívidas interna e externa dos países devedores (o Brasil inclusive e primordialmente)? O fato (o nó górdio) inconciliável é que o que a Natureza oferta gratuitamente não pode ser comprado ou vendido. E a Natureza tudo oferece sem nada pedir em contrapartida. Absolutamente nada. Só quer que a deixem em paz. Comprar e vender são pratos de uma mesma balança cujo fiel é a ética (universal). O lucro, assim, não pode escravizar, submeter, espoliar ou amesquinhar. A lucratividade não pode estar baseada na mais-valia, nem nas diferenças interpessoais, intersociais e internacionais. A sociedade planetária é um corpo orgânico, uno, e lucrar, pura e simplesmente, é considerá-la um aglomerado de partículas inorgânicas. Isto, todavia, nem sequer é verdade para os minérios e minerais, que nada mais são do que corpos orgânicos em estado de dormência, cuja vida está latente. (Que me perdoem meus colegas químicos, mas isto é assim mesmo). Lucrar, assim, só pode ter um significado social se embutir os conceitos de partilhar e dividir, apoiados em ações efetivas que reflitam, transparentemente, o realizar e o concretizar. O homem é um ser social encravado em uma sociedade múltipla, todavia, orgânica. TUDO É UM. A única alternativa de indissolubilidade e de eqüidade sociais é pela co-participação e co-gestão, não só de patrões e empregados (ou entre Capital e Trabalho), mas de toda a sociedade e entre todos os países. O NEOGLOBALISMO será assim. No futuro do futuro isto nem será assim. Mas, falar disso agora seria loucura! A última coisa que a Humanidade haverá de compreender nessa matéria é que o lucro, tal como hoje é concebido, é uma impossibilidade, ainda que legalmente amparado. Se alguém lucra é porque outrem perde. Se uns têm em excesso é porque outros têm muito pouco, ou nada têm. A Democracia, nos moldes em que hoje se apresenta, não pode ser a culminação do processo liberal. O Liberalismo econômico é apenas mais um tentáculo ideológico da ignorância e da avareza humanas, e a Democracia, da forma como está estruturada, acabará compulsoriamente por fracassar.

     O mundo caminha inexoravelmente para uma forma de entendimento global, cujo Sistema que acabará por prevalecer é a ARISTOCRACIA FILOSÓFICA. Vou reescrever o que já escrevi. Resumidamente.

     Enquanto prevalecerem tipos de razão (razão filosófica, razão científica, razão alquímica, razão econômica, razão de Estado etc.), qualquer análise acabará por produzir sempre um absurdo uma razão irracional porque qualquer razão isolada, estanque, é incompleta e insubsistente. E, geralmente, embute uma generosa dose de vanidade. Reproduzo, abaixo, o quadro digital A VAIDADE do artista Fernando Carreiro, apresentado no site infracitado, que vale a pena ser visitado:

 
http://www.mecenas.com.br/fernando_carreiro/a_vaidade.htm

 

A VAIDADE


     As razões terão que ceder espaço à RAZÃO CÓSMICA in corde; e as vontades individuais, humanas, terão que se submeter (sem perda do livre-arbítrio) à VONTADE, ou como disse Plotino, ao UNO-EM-SI. Este evolver ininterrupto e ilimitado pode ser compreendido como a construção mística do Mestre-Deus Interior in corde.

     A Princesa Adormecida, entretanto, está acordando. E o Príncipe que já a está a beijar encontra-se nu e sem adornos. As mais belas jóias e os mais SAGRADOS SELOS DE SUA AUTENTICIDADE, ele os traz em seu CORAÇÃO. Em sua mão direita há um pergaminho com uma espiral no centro da qual, em letras douradas, está inscrita a frase: EU SOU A LUZ. E quando Príncipe e Princesa compreenderem e realizarem a UNIDADE, iluminados perceberão que o ser representa, neste plano, o Centrum & Miraculum Mundi, e que D'US escolheu o melhor para sua eterna morada. Assim, deseja-se propor e prever para bem próximo (o que é bem próximo?):

a) Teodicéia1 + Teodicéia2 + ... + Teodicéian —› TEODICÉIA (será isto possível?)

b) TEODICÉIA + Ciência + Filosofia + Alquimia —› YN-RI —› TEOCIENTISMO DIALÓGICO (TEOCIÊNCIA DIALÓGICA ou TEOCIENTIFICISMO DIALÓGICO)

     E assim nascerá uma nova classe de pensadores: os TEOCIENTISTAS. A salvaguarda da Humanidade acontecerá pela (re)aquisição de um conhecimento superior, percebido e difundido primeiramente por MELQUISEDEQUE, do qual as FRATERNIDADES INICIÁTICAS, as IGREJAS OCULTAS e os remanescentes dos atlantes foram e são fiéis depositários.

     Entrementes, pergunta-se: Quosque Tande esses filhos de mães envergonhadas Abutere PATIENTIA NOSTRA?

     Seguindo, tem-se: As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo voltam-se hoje contra a própria burguesia. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas — os operários modernos, os proletários. Aqui aparece outro equívoco dos Autores. A burguesia não será morta nem pelas armas que forjou nem pelos homens que foram e são sacrificados por ela. Se tivesse que ser extinta por esta via, isto já teria acontecido. Ela será dissolvida porque é ilícita, como são ilícitas as produções humanas fundadas em imperativos hipotéticos. Agora, só um cego ou um nefelibata não percebeu ainda que a sociedade humana está próxima de cruzar a fronteira do absurdo irretornável. Mas, se os agentes da e seus acólitos pensam que vão levar a Terra à insanidade global e coletiva estão enganados. AQUELES QUE PODEM E FAÍSCAM estão atentos e intervirão quando e se for necessário. A JUSTIÇA CÓSMICA, sob qualquer roupagem, não é atributo de ninguém, e, portanto, não é dos operários, não é dos proletários e não é dos que oprimem. Até porque, particularmente, proletários e operários são, em cumprimento a LEIS que possivelmente tenham começado a compreender, escolhendo conscientemente uma dada experiência em uma encarnação específica, ou, em outro nível, por não poderem, ainda, ter outra escolha. Reconheço que esta matéria é quase impossível de ser compreendida imediatamente. Ao primeiro exame, parece uma total insanidade. Mas aqui não é o momento adequado para uma explicação justa e concertada sobre esse tema. Isso daria um livro digital completo. Recomendo aos que se escandalizaram, para uma iniciação ao assunto, a obra de Harvey Spencer Lewis, Mansões da Alma, a Concepção Cósmica. Isto não quer significar, acho que não há dúvida, que eu esteja defendendo as sobrevalias, as insânias do Liberalismo e seus filhotes e todo o resto de incongruências que os vários sistemas, incluindo o próprio Comunismo, impuseram e impõem aos seres. Não. Minha posição é clara. Mas, da mesma forma que o Muro de Berlim caiu, cairão todos os muros. Da mesma forma que se esgotou o ciclo revolucionário-ditatorial brasileiro, esgotar-se-ão todas as ditaduras. Só não podem se esgotar e cair todos de uma vez. Seria o caos. E ai daquele que pegar em armas para resolver pela força qualquer querela. Pobres terroristas! Pobres homens-bomba! Pobres inocentes úteis! Pobres revolucionários! Pobres Ches! Com inteligência, sagacidade, diálogo, exemplo, tolerância, prudência... tudo se resolve. Ou quase tudo.

     Lições são dadas e lições são aprendidas, até com simples notas oficiais, declarações públicas e matérias pagas na imprensa. O lado bom e construtivo da Internet também, maiormente, está auxiliando a transmutar mentes e corações. Há poucos dias recebi um e-mail relatando que, em uma recente feira de informática (COMDEX), Bill Gates (de todos nós) fez uma infeliz e impensada comparação entre a indústria de computadores e uma específica (bobeira vaidosa de amador) indústria automobilística, e declarou: Se a GM tivesse evoluído tecnologicamente tanto quanto a indústria de computadores, estaríamos todos dirigindo carros que custariam 25 dólares e que fariam 1000 milhas por galão (algo como 420 km/l). A General Motors, respondendo na bucha o atrevimento, divulgou o seguinte comentário a respeito desta declaração:
 
SE A MICROSOFT FABRICASSE CARROS:

1) Todas as vezes que fossem repintadas as linhas das estradas você teria que comprar um carro novo.

2) Ocasionalmente, dirigindo a 90 km/h, de repente, seu carro morreria na auto-estrada sem nenhuma razão aparente, e você teria apenas que aceitar isso e religá-lo (desligar o carro, tirar a chave do contato, fechar o vidro, sair do carro, fechar e trancar a porta, abrir e entrar no carro, sentar-se no banco, abrir o vidro, colocar a chave no contato e ligar) e... seguir adiante.

3) Ocasionalmente, a execução de uma manobra à esquerda, poderia fazer com que seu carro parasse e falhasse. Você teria então que reinstalar o motor! Por alguma estranha razão, você aceitaria isso também.

4) A Apple faria um carro em parceria com a Sun, confiável, cinco vezes mais rápido e dez vezes mais fácil de dirigir. Mas apenas poderia rodar em 5% das estradas.

5) Os indicadores luminosos de falta de óleo, de gasolina e de bateria seriam substituídos por um simples ‘Falha Geral ou Defeito Genérico’.

6) Os novos assentos obrigariam a todos a terem o mesmo tamanho ‘default’ de bumbum.

7) Em um acidente, antes de entrar em ação, o sistema de ‘air bag’ perguntaria: ‘Você tem certeza de que quer usar o ‘air bag?’.

8) No meio de uma descida pronunciada e perigosa, quando você ligar ao mesmo tempo o rádio, o ar condicionado e as luzes, ao pisar no freio, apareceria uma mensagem do tipo ‘este carro realizou uma operação ilegal e será desligado’!

9) Se desligar o seu carro 98 utilizando a chave, sem antes ter desligado o rádio ou o pisca-alerta, quando for ligá-lo novamente, ele iria checar todas as funções do carro durante meia hora, e ainda lhe daria uma bronca para não fazê-lo novamente.

10) A cada novo lançamento de carro, você teria que reaprender a dirigir, voltar à auto-escola e tirar uma nova carteira de motorista.

11) Para DESLIGAR seu carro, você teria que apertar o botão ‘Iniciar’...

     Todos nós que, por necessidade, tivemos que cair nos braços da MICROSOFT, conhecemos, por exemplo, o que me foi ensinado recentemente por um irmão querido: os problemas apresentados pelo MS Word são incompatíveis com publicações na Internet, a não ser que se use o MS Front Page (mais um estratagema da Microsoft para prender usuários aos seus produtos). E o MS Word, particularmente, deve ser evitado porque facilita a ação dos vírus de Windows. Mas, há problemas mais complexos (e até e principalmente éticos), e muito piores do que os apontados acima, que o usuário comum desconhece. Enfim, como bem comentou minha amiga Waldéa Barcellos, pode não ser verdade que o fato (a gaffe do nosso Billy) tenha ocorrido, mas que é ‘verdade’ é. E, se tiver sido, mister Gates bem que poderia ter ido dormir sem essa... se realmente fosse um CIDADÃO DO MUNDO. Mas, inquestionavelmente, por mais romântico que pareça, tenho certeza de que alguém na MICROSOFT registrou a mensagem. Essa Empresa (como todas as empresas do mundo) não é constituída só de desalmados e de usurpadores. Vou me arriscar a fazer uma profecia, algo que não é do meu feitio: Até 2106 (no máximo) todas as pessoas do Planeta terão livre acesso aos computadores e receberão gratuitamente todos os programas necessários para sua utilização. Eu, que reencarnarei em 2090 como médico e alquimista, com certeza verei isto acontecer. Mas é preciso que sobrevivamos até lá. Então, devemos orar, trabalhar e assumir compromissos efetivos em prol da PAZ, da TOLERÂNCIA, da CIDADANIA, da FRATERNIDADE REAL, enfim, de todas as virtudes categóricas que possam reverter o imbróglio global no qual está enfiada a Humanidade. Vingança, armas, terrorismo, guerra, matança... JAMAIS. Um puxão de orelha de quando em quando, de vez em quando ou de quando em vez, tudo bem. Armar uma certa zona em meio aos vendilhões é uma estratégia inteligente. Mas, vou insistir, matar NÃO. NUNCA. SOB NENHUMA ALEGAÇÃO.

     Aqui, outra incompreensão posta no Manifesto. O lumpemproletariado, esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade, pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a vender-se à reação.

     Segundo a Doutrina Marxista, o lumpemproletariado é composto de lumpemproletários, isto é, a camada flutuante do proletariado que é destituída de recursos econômicos e é especificamente caracterizada pela ausência de consciência de classe. Ausência de consciência? Ou consciência incipiente? A explicação que já ofereci anteriormente também se aplica aqui. Por isso vou repeti-la, ampliando: A JUSTIÇA CÓSMICA, sob qualquer roupagem, não é atributo de ninguém, e, portanto, nem dos operários, nem dos proletários, nem dos lumpemproletários. Nem dos burgueses que gozam de situação social e econômica confortável e muitas vezes mal adquirida. De ninguém. Infelizes carrascos de sempre. Infelizes soldados especializados que compõem pelotões de fuzilamento. Infelizes juízes que condenam à morte. Infelizes cientistas que sacrificam animais. Infelizes incendiários que queimam florestas. Infelizes aqueles que exaurem ecossistemas. Deixem o(s) ouro(s) e as pedras preciosas em paz. Também são nossos irmãos. Mas, ninguém pode ser morto por ser avaro ou cobiçoso. Quem é quem para julgar alguém e condenar esse alguém à morte? Baseado em que padrões? Reproduzo, abaixo, o quadro digital A CANÇÃO DAS ARARAS do artista Sérgio de Abreu, apresentado no site infracitado, que também vale a pena ser por todos visitado:


http://www.mecenas.com.br/sergio_de_abreu/a_cancao_das_araras.htm

 

A CANÇÃO DAS ARARAS

 

     Repetindo, então: proletários, operários e lumpemproletários são, em cumprimento a LEIS que começaram a compreender, escolhendo conscientemente uma dada experiência em uma encarnação específica, ou, em outro nível, por não poderem, ainda, ter outra opção. Todos nós, idem. Em um curso superior qualquer, não se passa do 1° período para o 3°, nem do 5° para o 10°. Ninguém pode aprender a escrever sem saber o alfabeto. Repito, também: é preciso meditar e compreender o número 2144. Não há, assim, putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade. Há, sim, uma sociedade heterogênea constituída de camadas e subcamadas que compõe a SOCIEDADE HUMANA. Não se arranca simplesmente um dente porque está doendo. Operar preventivamente as amígdalas é um crime contra a natureza humana. E não se liquida a burguesia porque ignora as primícias das LEIS CÓSMICAS. Um bom exemplo: de que forma o Presidente Lula alcançou a Suprema Magistratura da Nação? Era um sem-nada que chegou à Presidência da República do Brasil. Lula não se vendeu à reação para servir às suas manobras.

     Por tudo que já foi comentado, foi também uma visão distorcida ter disseminado: É natural que o proletariado de cada país deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia.

     Nessa mesma linha, continua contrária aos preceitos místicos a insuflação então proposta: ...até a hora em que essa guerra explode em uma revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia.

     Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: abolição da propriedade privada, proclama também o Manifesto. E proclama ainda: Os proletários nada têm de seu a salvaguardar; sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes. E também: É natural que o proletariado de cada país deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia.

 

Estrela Comunista

 

     Reconheço que qualquer propriedade pessoal é antagônica à LEI MAIOR constitutiva e inerente à própria existência do Universo. Fala-se de e em deus, e negócios de toda ordem são feitos em nome dele e presumidamente com ele. Até terrenos no céu já foram vendidos em determinadas confrarias. E houve quem os comprasse. Indulgências foram vendidas no passado. Et cetera. Busca-se apoiamento em deus para explorar, negociar, comprar, vender, prosperar e até matar. A propriedade privada está incluída nessa maracutaia azeda. Tudo isso é verdade. Mas, há um Direito Internacional Público e Privado vigente que deve ser respeitado e cumprido. A propriedade particular adquirida honestamente, com o suor do rosto, tem que ser preservada. Ainda. Sei que este pensamento é recusado pelos comunistas. Mas, repito, repito e repito: não haverá de ser pela guerra e pela luta armada que a compreensão será enfiada na cabeça da chamada burguesia. Parafraseando Victor Hugo (1802-1885), eu já escrevi isto, as reformas e as mudanças podem reformar e mudar tudo, menos o coração do homem. Este mesmo coração só muda e se reconstrói por volição pessoal, por esforço pessoal e por compreensão pessoal. E mudar não implica em estagnar depois de mudar. O mudamento está associado à reintegração do ente rumo ao CENTRO DA IDÉIA. A petrificação ou cristalização de um conceito impõe a horizontalidade, contrário, em essência, à verticalidade reintegratória, ambas filosoficamente desvinculadas de qualquer entendimento teológico ou de qualquer presunção teleológica, ainda que, no Universo, não haja dentro ou fora, em cima ou embaixo, e, conseqüentemente, horizontal ou vertical. O Universo é. Pode-se até admitir a existência de vários universos. Mas todos compõem um único Universo. A propriedade privada particular desaparecerá gradualmente. Lentamente. Na porrada só gerará reações. Drásticas, dolorosas, cíclicas e odientas. Quem é você, cara-pálida, para tomar o que eu conquistei e comprei com meu dinheiro? Essa será sempre a reação natural e a resposta que será dada quando, pela força, se tentar mudar in statu quo ante. Um exemplo; quando os governos aumentam impostos ou fazem confiscos, a grita é geral. Ou não? Não adianta, por último, pretender enxugar a vampirização capitalista se a vampirização emocional e espiritual continuar. A liberdade, primeiro, terá que ser conquistada dentro, não fora. E, na hora propícia, em amor e por amor, o Capital não será mais apenas uma força pessoal; será, como requestam os comunistas, uma força social.

     O Manifesto Comunista, em suas múltiplas argumentações contra a burguesia, afirma: Os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem. Aqui reside uma questão complicada e de difícil compreensão. A pátria deve ser respeitada, como devem ser cumpridas as leis que dão sustentação a qualquer regime. O ordenamento jurídico não pode ser rompido. Não são boas as leis? Não está adequado o ordenamento jurídico? Que se os mudem. O Brasil, por exemplo, mudou com sua Constituição Cidadã. (Consultar o Anexo III). Hoje, em 2004, dezesseis anos depois, muito do que estava disposto naquela Carta mudou. E muito do que lá ainda está nem sequer foi aplicado ou implementado. O próprio Deputado Ulysses Guimarães, Presidente da Assembléia Nacional Constituinte, afirmou: Existem imprecisões, reconheço. Vamos corrigi-las, estou certo. Não disse o poeta Navegar, é preciso? Mas o que haverá de ser internalizado e realizado é que a pátria é efêmera, o Universo é eterno. E, antes de sermos nacionais, somos universais. O que não nos desobriga (em termos) com o local, qualquer que seja, em que nascemos. Agora, demonstração ostentatória de patriotismo, ufanismo etc, como classificar? Os operários têm pátria, sim. Todos temos uma origem. Transferimos nossas emoções para o lugar onde nascemos, porque esquecemos de onde viemos. Não sabemos ou não nos importamos com o místico Mistério do Golgotha, e muito menos com o irredutível fato de que todos somos UM, porque pensamos que somos mais um entre milhões. Terei eu o direito de esbofetear ou matar meu irmão ou meu filho porque surrupiou R$ 50,00 de minha carteira? Teremos nós o direito de esfolar e triturar os capitalistas porque nos furtam todos os dias e ainda nos chamam de otários? Ou devemos dialogar até desidratar para educá-los e fazê-los compreender que ir a Paris e não visitar o Louvre será uma viagem incompleta e culturalmente insatisfatória? Mesmo que, em lá chegando, perguntem: Onde está a Bastilha? Ou queiram, no Louvre, ver os quadros do Conde Vaiss Füdderr ou do Barão de Itararé [Al Baron de Itararé, un grande entre los grandes, com respeto lê saluda de pie el poeta de los Andes: Neruda. (Pablo Neruda, 1945)]. Não importa. De grão em grão a galinha enche seu papo. E água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Paciência, Tolerância, Argumentação e Saliva. Com inteligência e astúcia. Estou me repetindo, eu sei. Sempre com AMOR NO CORAÇÃO. Esse é o Caminho. Mas é preciso estar alerta e trabalhar para que os senhores de negro ( e ) e seus prepostos não transformem este ASTRO AZUL em um fudelhufas de cagahouse. No mínimo, estão conspirando para transformá-lo em um fudehouse de cagalhufas. Para eles e seus associados, quanto pior, melhor.

     Para amenizar este longo livro-reflexão, vou contar uma história que parece ser verídica. Esta história foi extraída de um livro de 1912: A História do Futebol em Uberaba. Lá consta que o Coronel Tomás de Aquino Cunha Campos, um dos primeiros presidentes do Uberaba Sport Club, já estava com 87 anos e resolveu se casar com uma menina de 14. Virgem. Toda a família foi contra. Para seus parentes, o Coronel tinha ficado maluco. Pudera! Até um padre, um certo Vigário Silva (que depois colaboraria com o livro) foi conversar com o Coronel Cunha Campos, e disse que duvidava da capacidade do militar de levar a bom proveito a lua-de-mel. Dele, ouviu esta frase:

       — Padre, água mole em pedra dura tanto bate até que fura!

     O vigário entendeu. Dois anos depois nascia o Tomasinho. Que, aliás, foi um grande ponta-esquerda do Uberaba Sport nos anos 20, chegando mesmo até a defender a seleção mineira em um amistoso com um time argentino. Fez dois gols. Mesmo assim os mineiros perderam. Mas a expressão vem do latim: guta cavat lapidem, que significa, literalmente, a gota acaba por furar a pedra. (Obrigado, Mário Prata). Enfim, se o Coronel Cunha Campos furou o que presumidamente não estava furado (e naquela época não havia o diamante azul!!!), com 87 anos, todos nós podemos abrir caminho com paciência, tolerância, argumentação e saliva. Com inteligência e astúcia. Sempre com AMOR NO CORAÇÃO. Esse é o Caminho. Foi isso que, simbolicamente, ensinou a todos nós o enxuto Coronel. Repetir também é preciso!

     Está absolutamente correto o Manifesto quando assevera: As idéias dominantes em qualquer época nunca passaram das idéias da classe dominante. Que fazer? Argumentar com solidez, com perseverança, com coerência e com real conhecimento de causa. Achologia inconsistente retrograda, desacredita e enfurece. As pessoas não gostam de perder tempo e gostam menos ainda de ser feitas de tolas. Sentar à mesa para negociar e não estar conscientemente munido de argumentos irrefutáveis é já ter perdido a primeira batalha. E, se for preciso negociar com a dureza do mármore, então que se negocie assim. E, se for preciso negociar com a dureza do aço, então que se negocie assim também. É preciso ter sempre em mente que eles invariavelmente estão preparadíssimos. Não brincam em serviço. Dormem com um olho aberto. As metas estão traçadas com uma antecedência de décadas. Talvez séculos. Talvez milênios.

     Os vendilhões (novamente os eternos vendilhões) que se aproveitam da fragilidade humana, tirando indevido proveito material dessa fragilidade, haverão de passar. Na realidade, cumprem satisfeitos e lampeiros uma tarefa que eu não desejo ao pior inimigo que não possuo. O sacrifício do 11 de Setembro e o sacrifício do 11 de Março não serão em vão. Não foram em vão. Não o dos terroristas que morreram, mas a via crucis sacrificial dos que foram assassinados para que a Humanidade acorde do sonambulismo secular, egoísta e hipócrita. TODOS SOMOS RESPONSÁVEIS...

     Não apóio, definitivamente, sob nenhuma alegação, os atos de terror; não apóio, igualmente e na mesma medida, as soluções hórridas e incompetentes que os aliados têm implementado pelo mundo afora. A semente do terrorismo está no horrorismo. Na verdade acredito que o TRIÂNGULO FINAL de toda essa insanidade será:

 

PAZ
  
  

     Então, cantemos e oremos:



CRESTOS SOLAR,
miserere nobis.
CRESTOS SOLAR,
miserere nobis.
CRESTOS SOLAR,

dona nobis PACEM.


     O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar, pouco a pouco, todo Capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante, e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas, continua o Documento.
 

Emblema Soviético

 

       Acho que apresentei todos os motivos que minha consciência conhece e que podem ser divulgados neste ensaio para repelir esse tipo de insuflação. Mas agora me surgiu uma dúvida: no poder, o proletariado e as classes oprimidas tentariam se locupletar da nova situação? Aceitariam propinas? Comeriam brioches? Repetiriam os erros daqueles que tanto combateram? Que fariam com os vencidos? Sabe-se que, em passado não tão distante, onde o Comunismo prevaleceu, a matança incluiu também antigos colaboradores das primeiras horas. Até, inclusive, antropofagismo foi cometido. E houve locupletamento sim. Todo e qualquer regime totalitário, ao longo da história, foi cruel, tirânico, opressor e, muitas vezes, covarde. Despótico, também, como está avisado no próprio Manifesto. A Humanidade quer e precisa de mudanças. Quem não sabe? Mas não quer sangue nem revanchismos estéreis. Não aceita mais quaisquer tipos de ditaduras. Por exemplo: o que sobrou do comtismo foi uma Religião da Humanidade agonizante. Para os formuladores de todas essas misérias, em suas lápides deveria ser escrito: PRONTO ESQUECIMENTO. Estas últimas linhas (e as que se seguirão) foram escritas para reflexão dos saudosistas e dos cruéis: comtistas, racistas, terroristas, stalinistas, carrascos, pinochetistas, franquistas, coronelistas, fascistas, mussolinistas, salazaristas, desumanos, militaristas, somozistas, maoístas, castristas, trumanistas, hitleristas e revanchistas de um modo geral. A esses, rogo que reflitam um pouco. De coração para coração. Peço que procurem meditar na harmonia do Cósmico. O que se afigura como possível entropia nada mais é do que a metade de uma fase que cederá lugar à fase oposta. No Universo não há desordem. A própria desordem é um prenúncio de uma futura ordem. O mesmo ocorre com a autoconsciência ao longo das sete Rondas e das sete Raças-raízes. A curva que melhor representa essa Lei é a parábola. Para alento de todos, asseguro que a maioria da Humanidade já transita no ramo ascendente. Mas, para realizar o CRESTOS SOLAR interiormente é preciso renunciar à violência. Esse é apenas o primeiro passo. Mas, se esse passo não for dado, 359 continuará prevalecendo sobre 360 e a imantação progressiva junto à será inevitável. A ilusão messiânico-beligerante de hoje será amanhã sentida espiritualmente como desespero, dor, fracasso, arrependimento tardio, e impossibilidade educativa temporária. Não me autorizo a comentar o que penso sobre o que seja a impossibilidade educativa temporária. Apenas advirto: sei que é mais horripilante do que as horripilações praticadas na encarnação que gerou tal ajuste. O inferno católico é glacial se comparado a este cone de sombra. Não há virgens esperando para saciar um simbolismo incompreendido. O mínimo que passam esses irmãos que lá se encontram é a inconsciência da própria morte. Pensam que continuam encarnados e não se conformam em não poder atuar diretamente neste Plano. É um sofrimento que parece não ter fim. Isto é o mínimo. O alerta está feito. Longe de ser uma ameaça. É um simples ALERTA.

     Novamente, para amenizar, asseguro que a piada abaixo jamais poderá ser concretizada. Rir é um ótimo remédio; depois de rir, meditar na piada é muito melhor.

     Já nos estertores, rodeado de fantasmas, o famoso causídico Barnabé Epaminondas Sobrinho de Maçaranduba e Pessegueiro (para os muito muito íntimos Bebé), no leito de morte, pede urgentemente uma Bíblia. Ao recebê-la, começa a lê-la avidamente. Todos se surpreendem com a atitude do advogado, que sempre se dissera ateu convicto e admirador do materialismo dialético. Em uma expiração parecia dizer: Ffffriedrichhhhhh. Em outra: Ennngelsssssss. Na cabeceira da cama fúnebre, um dos amigos, que o conhecia de longa data, perguntou o motivo inopinado da conversão. Bebé, arquejando, sibilando e suando profusamente, responde:

     — Conversão é o cacete. Estou procurando brechas na Lei.

     Não há brechas na LEI. Só na cabeça de bebés que ainda são bebês. A LEI é a LEI porque foi, é e será sempre a LEI. Não há perdão, não há punição. Não existem indulgências nem nove primeiras sextas-feiras. Nove noves fora zero. Há tão-só e simplesmente cumprimento da LEI. O Grande Ajustador é implacável. A LEI sempre foi, é e sempre será cumprida educativamente por AMOR, em AMOR e pelo AMOR. Ainda que doa. As figuras legais do habeas corpus preventivo e do habeas corpus remediativo inexistem. Não há brechas na LEI.

     Está correto o Manifesto quando assevera: Sabe-se que os monges recobriam os manuscritos das obras clássicas da Antigüidade pagã com absurdas lendas sobre santos católicos. Não farei nenhum comentário sobre esta afirmação, porque não há nada a comentar. Apenas sei que os porões do Vaticano escondem da Humanidade tesouros místicos, esotéricos e iniciáticos inestimáveis. A Cúria Romana oculta e guarda aquilo que não entende e que a atemoriza. Essas cortes papais milenares vão ter muito que explicar! Os autores do Manifesto estavam mais certos do podiam saber.

     Entretanto, há um recorte do Manifesto indigno de ser comentado por tudo o que já foi examinado. Mas, vou escrever umas palavrinhas adicionais. O excerto: Os comunistas... Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Com isto eu realmente não posso me conformar. Não se derruba violentamente nem um castelo de cartas, quanto mais a ordem social existente. Isto foi um equívoco flagrante que produziu na ex-União Soviética males, os quais, hoje, aquele conjunto desmembrado de nações, tão cedo não solucionará. Ludwig Borne (1786-1837) ensinou: A amizade inalterável e a paz eterna entre os povos seriam sonhos? Não. Sonhos são o ódio e a guerra, sonhos dos quais, um dia, os homens despertarão. Quanto sofrimento já não tem causado à Humanidade o amor à pátria? Quanto sofrimento, acrescento, já não têm causado à Humanidade o amor à religião, o amor às ideologias, o orgulho, o patriotismo fraudulento, a prepotência, a tirania, o horror, o terror...

 

SI VIS PACEM, PARA PACEM

Pomba da Paz


     E a última impossibilidade do Manifesto Comunista foi: Proletários de todos os países uni-vos! Se eu tivesse que enumerar todas as diferenças entre os seres humanos, entre os continentes, entre os países, cidades, aldeias, vilas etc., talvez precisasse digitar umas cinqüenta páginas em arial 8. Não há a mínima possibilidade de unir areia, óleo e água. Estes três componentes formam uma permanente mistura heterogênea. Ainda que a massa de despossuídos, de humilhados, de explorados - os lumpemproletários – fosse e continue sendo imensa, jamais poderá ocorrer uma fusão de pensamentos, emoções e ações que levem a uma revolução proletária internacional. Não é possível fundir m + n + p vontades em uma só em um nível desta magnitude. Isto é impossível e utópico. Por enquanto. Mas, açular parte de um país é possível. E isto aconteceu em diversos pontos da Terra. Mas a retrocessão acabou se tornando inevitável, porquanto as promessas, as virtudes e as soluções propagadas pelos próceres do Partido não puderam se concretizar. Mas, essa análise eu não me dispus a fazer. Preferi, conforme anunciei, discutir alguns aspectos da proposta de implantação do Comunismo e suas implicações místicas. Sei que não esgotei o assunto, nem cheguei perto de poder examinar tudo aquilo que penso. Até porque muitas coisas não devo dizer. Mas, como não consigo e não devo me controlar, vou dizer umas coisinhas. Sem ofensa, sem indelicadeza e sem mágoa. Gostaria de estar equivocado nestas reflexões finais.
 

REFLEXÕES FINAIS
 

     Vou encerrar este ensaio repassando alguns pontos e acrescentando outros, para que se possa tentar fazer uma reflexão um pouco mais aprofundada desta matéria. Vou me arriscar um pouco mais.

     Em primeiro lugar, como salienta Engels no Prefácio à edição alemã de 1872: O próprio Manifesto explica que a aplicação dos princípios dependerá, sempre e em toda a parte, das circunstâncias históricas existentes, e que, portanto, não se deve atribuir demasiada importância às medidas revolucionárias enumeradas no final do capítulo II. Esta passagem, atualmente, teria de ser redigida de maneira diferente, em mais do que um aspecto.

     Tudo pode (e deve) ser mudado em qualquer doutrina, em qualquer tempo. E, no que concerne às revoluções paridas pelos homens, geralmente, cada nova revolução se inicia não pela base da qual a anterior partiu, mas do ponto em que ela sofreu um revés moral. Mas, como já recordei, toda e qualquer revolução pode mudar qualquer coisa, menos o coração do homem. Este – o coração – só se transmuda por volição pessoal. Isto porque, já expus meu pensamento, o ser não poderá jamais ter acesso à VERDADE ABSOLUTA. Haverá mesmo uma VERDADE ABSOLUTA? As teses de hoje serão antitéticas amanhã. Como decorrência necessária do segundo momento do movimento dialético (negação da tese), surgirá inapelavelmente uma superação sintética da própria tese e da antítese que a sucedeu, e, dos dois pontos anteriores, um novo triângulo é estabelecido. Como sempre foi, será sempre assim:


TESE a —› ANTÍTESE b —› SÍNTESE c
SÍNTESE c —› ANTÍTESE d —› TESE e
TESE e —› ANTÍTESE f —› SÍNTESE g
SÍNTESE g —› ANTÍTESE h —› TESE i


Ad æternum...

     Mas, qualquer doutrina que contemple ou venha a contemplar as proposituras violentas expressas sem nenhum pudor no Manifesto de Novembro de 1847, e que saíram do controle a partir de 1921, é natimorta e não se sustentará. Todavia, devo confessar, não acredito em panacéias e não acredito em nada que produza o SVMMVM BONVM pela força, pelo despotismo e pelo derramamento de sangue. As conquistas sangrentas pelo poder das armas só produziram (e produzirão) o summum malum. A Mathesis Megiste conjuga-se na segunda pessoa do plural do imperativo afirmativo do verbo amar: AMAI-VOS. Hoje IMMANUEL diria: — Eu vos amei e vós ainda não compreendestes.

     Por isso, é também inconcebível e egoísta a velha reclamação comunista: As criações intelectuais de uma nação tornam-se propriedade comum de todas. A estreiteza e o exclusivismo nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis; das inúmeras literaturas nacionais e locais, nasce uma literatura universal. Ainda bem que isto vem acontecendo. Enquanto houver, por parte dos Governos, classificação de informações (de qualquer teor ou natureza), não será alcançada a paz. Classificação é sinônimo de tentativa de dominação. Ou melhor: é dominação mesmo. É egoísta e, portanto, não-solidária. Nesse sentido, concordo com Einstein: O nacionalismo é uma doença infantil. É o sarampo da Humanidade. A verdadeira nacionalidade humana é a universalidade. Todo nacionalista é retrógrado e meio imbecil, pois só consegue borboletear em meio a idéias fixas e contraditoriamente voláteis. Somos todos, ainda que não saibamos, Cidadãos do Universo. Nossa bandeira é o SVMMVM BONVM e nosso hino a MÚSICA DAS ESFERAS.

     O Manifesto também criticou o desenvolvimento do intercâmbio universal e a universal interdependência das nações. Ora, isto não é ruim; é também muito bom, desde que ancorado em uma globalização fraterna e equidosa, isto é, respeitando a igualdade de direito de cada um, que independe da lei positiva, mas de um sentimento do que se considera justo, tendo em vista as causas e as intenções.

     Mas, o que acabou sendo feito na Revolução Soviética? Não foi exatamente o que condenou o Manifesto? Províncias independentes, apenas ligadas por débeis laços federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes, foram reunidas em uma só nação, com um só governo, uma só lei, um só interesse nacional de classe, uma só barreira alfandegária. Lá foi assim: Exasperem-se com nossas denúncias, apóiem-nos, mas aqui fazemos exatamente o oposto daquilo que pregamos. Fazemos o que queremos. Vamos extinguir a burguesia tsarista e implantar a burguesia comunista. Solidariedade? Qual nada. Liberdade? Nenhuma. Respeito às diferenças? Zero. Fuzilamentos? Sim. Perseguições? Incontáveis. Assassinatos dos líderes da Revolução Russa? Sim. Carnificina em Kronstadt? Medonha. Argumento: Vestiam elegantes calças largas e penteavam-se como cafetões.

     Fome e desorganização? Sim, para o povo. Fausto? Sim. Mas só para a cúpula do Partido bolchevique. Dachas (casas de férias nas quais acontecia de tudo, inclusive estupros de crianças, orgias com jovens raptadas e bebedeiras)? Não para o proletariado. Ainda bem. Mas, sim para Stalin, Malenkov, Khrushchev (o formulador da doutrina da coexistência pacífica), Bulganin, o eficiente e frio Béria (que acabou preso, julgado e provavelmente fuzilado) e demais sacanas do Presidium. Noitadas de bebidas e sacanagens escabrosas? Ah! Isto só para os poderosos. Para o povo: gelo e vodka barata. Supressão da ditadura da classe pela ditadura do partido? Sim. Messiânica auto-suficiência do aparato bolchevique? Também. Impedimento da restauração burguesa... pela eliminação do caráter proletário da revolução? Aconteceu, sim. Dispersão, fome, miséria, doença e enfraquecimento pela desorganização econômica? Superlativamente, sim. Supressão [por determinação de Wladimir Ilitch Ulianov – dito Lenin – (1870-1924)], da democracia nos sovietes e no Partido? Sucedeu. Privilégios no Kremlin, cujas rações eram muito melhores do que as de todos os outros? Os próprios comunistas sempre souberam dessa locupleta parcialidade. Diversas depurações manchadas de sangue executadas pela burocracia? O mundo inteiro sabe disso. União, patrocinada principalmente por Lenin e Lev Davidovitch Bronstein – dito Trotsky – (1879-1940), sem democracia política, de burocratas com os kulaks (camponeses ricos) contra o proletariado pela introdução da NEP (Nova Política Econômica)? Sim. O próprio Lenin, constatando o estado de coisas vigente, teria dito: uma mistura de tsarismo com práticas capitalistas besuntadas por um verniz soviético. Mas, nos olhares... Olhos gélidos de icebergs petrificados. Eu acho que estes senhores meus irmãos não sorriam.

 

Lenin
Trotsky
Lenin
Trotsky



     Houve consolidação de tendências nacionalistas, burocráticas e capitalistas de estado? Houve, totalmente. Nos famosos julgamentos de Moscou houve uma enxurrada de mentiras, de calúnias e de falsificações? Houve. Tudo isso, hoje, está esclarecido. Houve antagonismo de classes? Houve. Os oprimidos de antes acabaram se tornando muito mais oprimidos e trabalhavam exaustivamente para que o Conglomerado viesse a se tornar uma superpotência bélica? Sucedeu exatamente assim.

 

Lenin
Lenin Acenando para o Povo


     O que foi praticado contra a família Romanov (o Tsar Nicolau, a tsarina Alexandra, as quatro filhas, as Grã-duquesas Olga, Tatiana, Maria e Anastácia, e o tsarevich Alexei) em 17 de julho de 1918 foi um ato da mais hedionda e injustificável barbárie. Olhares empedernidos. Chegam os anãos. Revólveres nas mãos. Alaridos e gemidos. Fel nos coraçãos. Tiros repetidos. Corpos retorcidos. Tremores nas mãos. Nada condoídos. Cumprida a missão. Morte. Sangue. Desertificação. Inaceitável solução.

     Em menos de um ano a dinastia Romanov, que governava há três séculos o Império Russo, foi posta abaixo e seus derradeiros herdeiros fuzilados por um comando revolucionário. De março de 1917 a julho de 1918, todo o fantástico poder que Nicolau II possuía esboroou-se, desabando como se fora um castelo de cartas. O tsar e sua família, aprisionados na cidade de Ekaterinburg, foram então sumariamente executados por ordem de Lenin. Abaixo reproduzo um quadro da família Romanov retirado do site:

 
http://www.angelfire.com/mac/romanovmania/galeria.html

 

Família Romanov

Família Romanov

 

     O Domingo Sangrento (ordem de Nicolau II para que a passeata pacífica de 22 de Janeiro de 1905 fosse dissolvida à metralha), estopim da primeira revolução que Lenin posteriormente denominaria de ensaio geral, não justifica a trucidação de toda uma família. Nem que se lhe atribua, justa ou injustamente, o título de pai do moderno terrorismo de extrema direita. Nem o panfleto anti-semita Os Protocolos dos Sábios do Sião, fraude construída pela Okhrana (polícia secreta russa), que culpa os Judeus pelos males do País. Este livro, absolutamente infernal, foi publicado privadamente em 1897 e tornado público em 1905. É copiado de uma novela do século XIX (Biarritz, 1868) e afirma que uma cabala secreta Judaica conspira para conquistar o mundo. Há, sim, outra coisa: a comandada por e .

     Eu ontem fui à festa/Na casa do Bolinha/Confesso não gostei/Dos modos da Glorinha... Então vou matá-la. Assanhada essa Glorinha! Não gosto, mato. Discordo, mato. Matou? Mato também. Não matou, mas vai matar? Então, mato primeiro. Est modus in rebus, sunt certi denique fines (Há uma justa medida em todas as coisas), como ensinou Horácio (Livro I, Sátira 1). Matar não é uma justa medida. IMMANUEL, A ROSA DE SHARON não conheceu Kant, mas recomendou que se cumprisse o IMPERATIVO CATEGÓRICO SUPREMO:


 
NÃO MATARÁS


 
     Abaixo, uma curiosidade histórica: está reproduzido o Ovo de Fabergé que homenageia a dinastia Romanov
. Um ovo! Quanta perda de tempo e de energia! Quanta inutilidade! Quanto servilismo! Quanta vaidade! Quanta vacuidade! 0!

 

Ovo de Fabergé



     A maldade não pode ser respondida com crueldade. Nem o horror com terror. Em ensaio recente afirmei: ... a patologia do terror é cíclica. As trevas agem... o terror revida... as trevas reagem... o terror responde com mais violência... A bola de sangue e ossos cresce... A Humanidade sofre... É preciso aguardar... 2034... A PAZ É POSSÍVEL... SURSUM CORDA!

     Mas, ai do infeliz que fosse preso pelo não-sei-falar-nem-escrever-esse-nome — o maior aparelho de espionagem, o Comitê de Segurança do Estado, conhecido popularmente na ex-URSS e no restante do mundo pela sigla KGB — e caísse nos gélidos subterrâneos da Lubianka (amorzinho). Um dos problemas básicos ainda não solucionados pela Humanidade é que todos os ideólogos pensam estar defendendo a verdade, a justiça e o bem comum, geralmente arrastando no vagalhão demolidor os distraídos, os desinformados, os aproveitadores, os patomaníacos e os bem-intencionados. Implantados os messiânicos regimes, passa a prevalecer a regra: aos correligionários, tudo; aos indiferentes, a lei: e, aos opositores e inimigos do regime, calúnia, difamação e morte sempre que necessárias. Resumo: absolutismo de idéias e de atos maníacos. Lubianka, Lubianka... Amorzinho... Amorzinho... É esse maldito psicopatológico dualismo ético (que não é ético, mas moral) transcendente que vem de longe – e que contaminou o pensamento de homens ilustres como por exemplo o de de Santo Agostinho via Manichæus – que continua entranhado na mente da Humanidade e que é tão difícil de ser extirpado. A dialética do Bem e do Mal que o maniqueísmo provoca leva o alegado defensor da Verdade a recorrer a qualquer instrumento para eliminar o Outro, como refletiu o Embaixador José Osvaldo de Meira Penna. Niet para tudo isso.

 

Lubianka

Lubianka


     A repressão de Kronstadt, a supressão da democracia dos trabalhadores e sovietes pelo partido bolchevique russo, a eliminação do proletariado da gestão da indústria e a introdução da NEP significaram a morte da Revolução.

     Acredito que seja hora de encerrar este ensaio digital. Estou triste e cansado. Preciso relaxar. Só um pouquinho. Não completei, confesso, meu pensamento sobre esta matéria. Prometo aperfeiçoá-lo um dia. Ao relê-lo e revisá-lo em 31/3/2004, achei que ficou entrecortado demais. Voltei a lê-lo em 15/11/2004. Misturei lé com cré porque estão mesmo baralhados. Só uma inteligência esforçada consegue separar cré de lé e compreendê-los unitariamente. Este é um dos esforços que todos devem se empenhar em fazer. Mas, tenho certeza, apresentei idéias para serem meditadas. Agradeço aos pesquisadores que disponibilizaram na Internet os sites que consultei. Algumas poucas vezes copiei literalmente alguns pedacinhos dos seus textos. Perdão. Suas palavras eram melhores do que as minhas em idéias coincidentes. As fontes estão apresentadas adiante. Assim, autorizo a quem quiser copiar meus trabalhos, que o faça e os divulgue. Por Favor. Ficarei feliz com isso. Eu acredito no que escrevo: Todos nós somos UM e ninguém é dono de nada. E, enquanto o que auguro não pode acontecer, obrigo-me a constatar sem concordar com o que deixou gravado Anatole France (1844-1924): A paz universal se realizará um dia, não porque os homens se tornarão melhores (não se pode contar com isso), mas porque uma nova ordem de coisas, uma ciência nova, novas necessidades econômicas hão de impor-lhes o estado de paz, assim como outrora as próprias condições da sua existência os punham e os mantinham em estado de guerra.

     A Humanidade está se tornando melhor. Sim.

     Uma nova ordem virá. Certamente.

     Não uma ciência nova. Mas, a TEOCIÊNCIA.

     Necessidades econômicas são ilusões astrais. Sempre.

     A PAZ jamais poderá ser imposta. Ela é conquistada. Se quisermos a PAZ, teremos que nos esforçar para construí-la.

     Sim. São as condições vibratórias dos seres que impõem as beligerâncias interpessoais e coletivas.

     Recentemente recebi um folder da AMORC apresentando uma lista de suprimentos para eventualmente serem adquiridos pelos membros da Ordem. Como resumo de um determinado vídeo está apresentado o seguinte texto:

 

Orienta,
não doutrina.
Conscientiza,
não impõe ou pune.
Confia,
não desqualifica.
Proporcionando a cada um,
segundo suas forças;
A todos,
conforme o dever
e a dignidade.

 

     O futuro é hoje. AGORA. Temos TODOS que trabalhar, pois SOMOS TODOS RESPONSÁVEIS. SURSUM CORDA.

 

Dominus vobiscum.
Et cum spiritu tuo.
SURSUM CORDA.
Habemus ad Dominum.
Gratias agamus
Domino Deo nostro.
Dignum et iustum est.

 

*  *  *  *  *  *  *


SITES CONSULTADOS (entre 1º e 30/3 2004). Primeira revisão efetuada em 3/5/2004. Segunda revisão efetuada em 15/11/2004:

www.terravista.pt/IlhadoMel/1188/manifesto_comunista.htm
jornal.publico.pt/2004/03/04/EspacoPublico/OEDIT.html
users.hotlink.com.br/marielli/matematica/geniomat/einstein.html
www.timlopes.com.br
www.mcaconsult.com.br/homenagemasérgiovieirademello..htm
www.rjliban.com
www.viagensimagens.com/index.htm
www.viabonito.com/caninde/images/foto_13m.jpg
www.geocities.com/Athens/2341/biografias/bbl17.htm
www.fugpmdb.org.br/c_cidada.htm
www.marioprataonline.com.br
www.yale.edu/adhoc/research_resources/liturgy/s_kyrie6.html
www.culturabrasil.pro.br/manifestocomunista.htm
www2.uol.com.br/cultvox/livros_gratis/manifesto_comunista.pdf
www.stelling.nl/simpos/engels.jpg
members.surfeu.at/horvath/1marx.jpg
www.abadia.org.br/ntmtere.htm
207.234.171.161/atomic/enola-gay.jpg
http://orbita.starmedia.com/~sacredvoltage/nagazaki.jpg
www.webpanache.com/lapaix/
www.military.cz/usa/air/war/bomber/b29/eg/eg_en.htm
www.releituras.com/itarare_bio.asp
www.geocities.com/autonomiabvr/kronstad.html
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2003/12/11/000.htm
http://zoch7.republika.pl/images/Moskwa/Moskwa-Lubianka.jpg
http://members.tripod.com/adm/interstitial/remote.jpg
www.stel.ru/museum/
www.historianet.com.br/main/mostraconteudos.asp?conteudo=350
http://www.angelfire.com/mac/romanovmania/
www.biodynamics.com.ar/image3.jpg
http://hospedagem.infolink.com.br/nostradamus/c06q074.htm
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www.paperny.com/images/Lubianka.jpg
www.infopedia.pt/default.jsp
www.fraternidaderosacruz.org/max_heindel_redivivo.htm
www.mecenas.com.br/fernando_carreiro/a_vaidade.htm
www.mecenas.com.br
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www.luanaart.net/Bertrand_Russell.jpg
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www.landenweb.com
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www.igm.pt/departam/metalicos/metodos/imagens/ouro.jpg
www.amorc.org
http://svmmvmbonvm.org
http://www.maat-order.org
http://www.jesuswillreturn.com/signs/signs052.html
http://www.olavodecarvalho.org/convidados/mpenna2.htm
http://www.ohistoriador.com.br/consulta.php?tab=mis&id=19
http://www.ebooksbrasil.com/eLibris/perestroika.html
http://laplage.blogs.sapo.pt/arquivo/026797.html
http://www.culturabrasil.pro.br/capetalismo.htm
http://www.webciencia.com/10_aids.htm
http://www.murilo_in_japan.blogger.com.br/
http://www.grandecomunismo.hpg.ig.com.br/imagens.htm


DADOS SOBRE O AUTOR

Rodolfo Domenico Pizzinga: Mestre em Educação, UFRJ, 1980. Doutor em Filosofia, UGF, 1988. Professor Adjunto IV (aposentado) do CEFET-RJ. Consultor em Administração Escolar. Presidente do Comitê Editorial da Revista Tecnologia & Cultura do CEFET-RJ. Professor de Metodologia da Ciência e da Pesquisa Científica e Coordenador Acadêmico do Instituto de Desenvolvimento Humano - IDHGE.

 

 

ANEXO I

O MISTÉRIO DA VIDA E A GRANDE AMEAÇA

Frater Velado - OS+B*

 

Frater Vicente Velado

 

 

A Vida é Eterna. As criaturas são transitórias.
Mestre Apis, Hierofante da Ordo Svmmvm Bonvm
(Ankh, Udja, Seneb)


       Dignos irmãos e irmãs de todos os credos místicos e políticos, de todas as raças, incluindo ateístas e céticos: aceitem minha saudação em o Nome do Cristo Cósmico, o CRESTO SOLAR, sob os auspícios da LOJA DA GRANDE FRATERNIDADE BRANCA.

       Atravessamos uma época neste Planeta em que a vida humana tem cada vez menor valor. Terroristas matam inocentes para promover a guerra e a guerra açula o terror. É um círculo vicioso que precisa ser quebrado pelos místicos que possuam poder de ação sobre as circunstâncias. A violência é inerente ao Reino Animal e no que tange ao homem remonta aos albores da Antigüidade. Atualmente, porém, o fanatismo fundamentalista e o moderno armamento, incluindo artefatos nucleares, configuram a mais grave ameaça à Vida na Terra já manifestada em toda a história deste Planeta. Devemos examinar este fato à luz do Misticismo para encontrar soluções efetivas que sejam capazes de formar um escudo eficaz contra tal ameaça. Deus não fará isso por nós se permanecermos inertes. Devemos entrar em ação.

       Examinemos o Mistério da Vida. Essencialmente, vida é o Existir, aparentemente o contrário do Não-Existir, embora nessa instância não haja ainda a Dualidade tal como se a conhece nos Universos. É como se o Número Um saísse (continuamente, eternamente) de dentro do Zero Absoluto, que é a Não-Existência, mas também não é o Nada. Essa pulsação é que produz o Fluxo da Vida, como se um Ponto piscando, desde sempre, criasse infinitos círculos concêntricos - cada um deles um Universo inteiro, com suas miríades de galáxias ou outras manifestações de existência. Tudo perfeitamente interligado: cada ação isolada interfere no todo e vice-versa.

       O Universo em que a Terra está inserida, com sua Humanidade e seus renovados atentados à Vida, que ora se aguçam ao máximo já detectado, funciona sob a LEI DO TRIÂNGULO, e é por isso que nele a Vida se apresenta em três formas básicas: VIDA LATENTE, VIDA INCONSCIENTE E VIDA INTERATIVA. Devemos estudar esses três estados e sua harmonização, para que possamos melhor compreender o que se passa e ficarmos em condição de promover uma interferência benéfica para tudo e para todos. Todos vocês que acessam a Internet para se instruir e trocar informações, meus irmãos e irmãs, independentemente de serem ou não vinculados a religiões, ordens e fraternidades, místicas e/ou ocultistas, devem procurar entender, ainda que por alto, o funcionamento das Leis Cósmicas que regem a Vida e todas as suas manifestações. Esta é uma instrução necessária a todos os seres humanos nesta atual etapa da evolução da Humanidade. Ninguém deve se entregar cegamente ao exercício de algo, sem questionamentos e sem compreensão. A fé deve ser uma certeza intuitiva vinda de dentro para fora e nunca algo adquirido mediante algum método ou importado de alguma fonte externa.

       Falemos da VIDA LATENTE, para iniciar este breve estudo. A VIDA LATENTE é o tipo de existência manifestada pelos corpos siderais, como planetas e estrelas: eles geram vários tipos de formas individualizadas de Vida, os seres animados (animais), as criaturas vegetais e os entes inanimados, como as pedras. Os corpos siderais possuem personalidade combinatória, isto é: de acordo com posições conjuntas assumidas ciclicamente, em função de Leis Cósmicas, influenciam as formas individualizadas de vida e suas aglutinações comunitárias. Para os seres de VIDA LATENTE as criaturas animadas são pouco mais do que eventos momentâneos em um turbilhão contínuo e persistente de renovações. Existem certos tipos de conjunções astronômicas em que as posições de vários corpos celestes, cada um com a sua maneira de ser, afetam profundamente o ritmo da Vida naqueles em que Ela se manifesta, tanto como criaturas animadas como seres vegetais ou como minerais. Tudo interage onde a Vida se manifesta e quando a VIDA INTERATIVA propriamente dita assume parte do domínio das circunstâncias, obviamente tudo pode ser afetado. Pensamentos, palavras e atos tornam-se capazes de gerar mutações e produzir cenários excelsos ou lamentáveis, dependendo da personalidade e da mente daqueles que exercem sua vontade própria, importando-se ou não se importando com os demais. É assim que vemos interesses de grupos e simplesmente de pessoas serem colocados acima de tudo, em detrimento de todo um vasto conjunto de seres e do próprio meio-ambiente. Normalmente, a grande maioria dos personagens envolvidos nesse drama existencial não se questiona amplamente sobre a interatividade e o reflexo de seus eventos na esfera da VIDA LATENTE, ou seja: as pessoas costumam não se importar com o que estejam projetando mentalmente para a aura do Planeta em que vivem e para a dos demais corpos siderais do Sistema em que estão inseridos, como o Sistema Solar, que é o caso específico aqui enfocado. A maioria simplesmente nem sabe que isso ocorre. É preciso saber que toda vez que pensamentos, palavras e atos de violência e de agressão à Vida são exercidos, sua carga energética atinge todos os corpos celestes do Sistema, que a refletem conforme suas características próprias. Quando essa emissão é feita de um ponto - como a Terra - que esteja sob má conjunção astronômica, essa carga energética é refletida de forma potencializada, retornando pior ainda. É quando ocorrem sérios conflitos internacionais e a sucessão de eventos violentos fecha um círculo vicioso que precisa ser interrompido para que não ocorra algo ainda mais terrível, como, por exemplo, uma catástrofe nuclear. O que nós todos podemos fazer diante disso usando o Misticismo, algo que a Ciência já reconhece, apesar de sua inerente subjetividade? Talvez vocês pensem que possamos fazer muito pouco, mas na verdade podemos operar fortemente. Uma das ferramentas para isso é o EXPERIMENTO DE AUM-RAH, que se destina a purificar a aura da Terra, e que está disponível on line em:

http://svmmvmbonvm.org/aumrahexp/

       Vocês podem ver esse experimento e podem baixar o e-Book que o contém, a fim de que possam executá-lo em suas casas sem necessidade de estarem ligados à Internet. A conexão entre todos que estiverem realizando o experimento se faz automaticamente, independente de tempo. Esse Experimento afeta diretamente a troca de energias entre a VIDA INTERATIVA e a VIDA LATENTE, filtrando os fluxos para que ocorra harmonização das boas condições e neutralização das más (conjunção astronômica e emissões produzidas por seres animados). Façam, portanto, esse Experimento, que é muito simples e muito eficiente.

       Examinemos agora a VIDA INSCONSCIENTE e a VIDA INTERATIVA independente de relacionamento com a VIDA LATENTE. A VIDA INCONSCIENTE é o tipo de existir manifestado, por exemplo, pelas pedras, pelo ar, pela água e pelo fogo, que não possuem personalidade em suas manifestações mínimas, mas a adquirem quando formam uma congregação de vulto, como montanhas, lagos, rios e mares; furacões, tornados e brisas; faíscas elétricas, raios e grandes labaredas em incêndios. De uma forma geral, pode-se dizer que isso constitui o meio ambiente e suas manifestações; e deve-se compreender que respeitar esse contexto é fundamental. Assim, todas as pessoas devem se empenhar a fundo na preservação do meio-ambiente e, no que diz respeito aos místicos e ocultistas, é muito importante que NÃO se façam invocações aos Elementais voltadas para a agressão ou para qualquer outro tipo de dano a outros seres. Cada vez que isso é feito, cria-se uma condição maléfica para todos e não apenas para aquelas criaturas que alguém julgue estar atacando legitimamente. Lembrem-se de que a legitimidade de um ataque é matéria altamente subjetiva e que depende exclusivamente dos pontos de vista das partes envolvidas. Quando seres animados, dotados de autoconsciência e de livre-arbítrio, como as criaturas humanas, exercem ataques - simplesmente atacando ou como prevenção, para se defender - e envolvem nisso entes da VIDA INCONSCIENTE, um forte e perigoso foco de negatividade se forma e pode produzir círculos viciosos de violência, dor, destruição e morte. Pensem nisso antes de fazerem alguma simples invocação sobre uma mera pedra.

       A VIDA INTERATIVA se constitui de todas as expressões de Vida dotadas de consciência, de autoconsciência e de consciência cósmica, como é o caso dos seres humanos e dos demais animais, e das plantas. Todos os Reinos Animal e Vegetal devem ser profundamente respeitados, tendo-se em conta que a utilização de qualquer um de seus representantes para ações agressivas como descrito no parágrafo anterior, cria condições negativas piores ainda e todas as formas de Vida acabam sendo afetadas. A interatividade é a chave do bem-viver, que compreende PAZ MENTAL, HARMONIA, SAÚDE E PROSPERIDADE como funções e como leis. São os QUATRO PILARES sobre os quais se assenta a ambicionada felicidade, que se expressa na alegria de viver e que é o que todos os seres desejam. Como já procurei expor em textos anteriores a este, igualmente divulgados na Internet, as criaturas humanas criam mentalmente concepções do que elas julgam ser a Divindade, e depois essas formas acabam sendo manipuladas politicamente para controle das massas e exercício do poder por uma cúpula que se julga superior a tudo. Vocês já viram o que vem sendo feito em nome de Deus e através das religiões na face da Terra: coisas boas e coisas más. As várias concepções de Deus e as diversas religiões e as interpretações que se fazem delas, têm resultado em conflitos mortais mediante a intolerância. Mentalizem, sempre que possam, em suas orações e rituais habituais, a palavra TOLERÂNCIA, como algo calmo, equilibrado e imperturbável que se situa entre partes em contenda e que atua sobre elas de maneira equânime, neutralizando os ímpetos de afirmação da vontade, de vingança e de ira. Meditem sobre os últimos acontecimentos internacionais envolvendo terrorismo e guerra e façam a mentalização que lhes está sendo proposta. Sempre haverá quem ache que isso de nada adianta, mas em verdade eu lhes digo que isso é fundamental. Lembrem-se de que todos são um no contexto de um Universo e que a mente de cada ser é interligada com as demais na grande rede cósmica da Vida!

       O conjunto de tudo isso é o FLUXO DA VIDA, eterno e imortal, dentro do qual as criaturas são transitórias, porém fundamentais e dotadas de perspectivas de propagação na Eternidade. Propaguem agora um futuro melhor do que o presente, no qual vocês mesmos poderão viver, se quiserem.

       Com sinceros votos de PAZ e HARMONIA, sob a égide da ROSA+CRUZ VERDADEIRA, ETERNA E INVISÍVEL.
 
+ Vicente Velado
Abade ORDO SVMMVM BONVM (OS+B)

http://svmmvmbonvm.org/

_______
* O Frater Velado é Abade Especial da OS+B para o Terceiro Mundo e vive como eremita desde 1995.

 


ANEXO II

HOMENAGEM A SÉRGIO VIEIRA DE MELLO E À
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS - ONU


Amigas e Amigos.

O mundo perdeu um guerreiro da PAZ.

A Humanidade ganhou um exemplo de vida.

Nós brasileiros perdemos um irmão querido.

As bandeiras da Organização das Nações Unidas, do Brasil e do todo o mundo tremulam a meio pau.

Gostaria de homenagear Sérgio Vieira de Mello com esta oração para a PAZ NO MUNDO, pois acho que nosso Embaixador vivia esta oração dia-a-dia.


 

Sérgio Vieira de Mello

 

 

A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO PARA A PAZ NO MUNDO



ORAR é um estado de atenção, de expansão da consciência, de amor.

ORAR é estar entusiasmado, ou seja, é estar com Deus dentro de si.

ORAR é fazer com qualidade, adequação e dedicação tudo o que pode ser feito; é, portanto, valorizar o como se faz e não o que se faz.

ORAR é dar importância a tudo o que se faz.

ORAR é viver o aqui e o agora com plenitude e com consciência. Tudo o que se faz ou se deixa de fazer é para sempre e fica registrado em nossa memória e na memória universal. O momento e a eternidade são a mesma coisa.

ORAR é estar à disposição do outro; é compreender e aceitar os pontos de vista dos outros.

ORAR é conviver em harmonia e em paz com as diferenças.

ORAR é evoluir, mudar de opinião, adequar-se às circunstâncias.

ORAR é curtir um amanhecer identificando que ele é único.

ORAR é ver cada entardecer de forma sempre diferente.

ORAR é expandir, é compartilhar e é, ao mesmo tempo, se recolher e criar. É sístole e é diástole.

ORAR é viver plenamente a vida.

ORAR é amar a vida, as pessoas, os lugares, os países.

ORAR é ter posse sem ser possuído.

ORAR é abrir mão com desprendimento e sem apego.

ORAR é construir a Paz do Mundo.
 

Geraldo Leal de Moraes
Consultor de Estratégia Empresarial
e Educação Corporativa

 

 

ANEXO III

A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ

 

O povo nos mandou fazer a Constituição; não ter medo*

 

Ulysses Guimarães

Deputado Ulysses Guimarães
Presidente da Assembléia Nacional Constituinte

 

Bandeira do Brasil

 

       Quando iniciamos a votação do segundo turno do Projeto da futura Constituição, testemunho o trabalho competente e responsável dos constituintes nas subcomissões, comissões temáticas, comissão de sistematização e no plenário. São os tecelões do tecido constitucional. 39.000 emendas estudadas e apresentadas documentam esse extraordinário esforço e o empenho posto pelos constituintes em contribuir conscienciosamente para a qualidade do texto.

       Foi longa a travessia de dezoito meses.

       Cerca de 5.400.000 pessoas livremente ingressaram no edifício do Congresso Nacional. Quem leva, sem discriminação, contribuição ou crítica a fazer, pode ou pôde, tempestivamente, fazê-lo. As portas estavam e continuam abertas. É só transpô-las.

       A Constituinte teve o foro de multidões.

       Saúdo o relator Bernardo Cabral, que confirmou seu renome de jurista e sua espartana dedicação, coadjuvado pelos relatores adjuntos Konder Reis, José Fogaça e Adolfo Oliveira, também dignos de reconhecidos encômios, bem como os eficientes membros da mesa.

       Sem a compreensão e o talento dos líderes partidários não chegaríamos à fase atual de nossos trabalhos. Os funcionários, representados pelo Secretário-geral da Mesa, Dr. Paulo Affonso Martins de Oliveira, e pelo Diretor-geral, Dr. Adelmar Silveira Sabino, bem como a imprensa, o rádio e a televisão com justiça integrarão este evento histórico.

       O Projeto, submetido a segundo turno, é longo - 321 Artigos - versando matéria complexa e tantas vezes controvertida.

       Inevitavelmente abriga imperfeições, previstas pela instituição de um segundo turno revisionista e pelo avultado número de emendas e de destaques apresentados.

       Existem imprecisões, reconheço. Vamos corrigi-las, estou certo.

       Mas, mesmo na fase atual, o projeto tem muito mais do que nos orgulharmos do que nos arrependermos. Impõe-se mais defendê-lo do que reformá-lo.

       Assinale-se sua coragem em inovar, a começar pela arquitetura original de sua confecção, rompendo padrões valetudinários e enfrentando a rotina do status quo.

       Dissemos NÃO ao establishment, encarnado no velho do restelo, conclamando, na praia alvoroçada da partida, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Camões a permanecerem em casa, saboreando bacalhau e caldo verde, ao invés da aventura das Índias, do Brasil e dos Lusíadas, e amaldiçoando O Primeiro que, no mundo, nas ondas velas quis em seco lenho.

       Esta Constituição terá cheiro de amanhã, não de mofo.

       Para não me alongar, reporto-me a alguns aspectos, que reputo inaugurais, do texto ora submetido ao crivo da revisão constituinte.

       A soberania popular, sem intermediação, poderá decidir seus destinos. Os cidadãos apresentarão proposta de lei, portanto terão a iniciativa congressual, e também poderão rejeitar projetos aprovados pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Portanto, os cidadãos propõem e vetam. São legisladores, exercitam a democracia direta.

       Poucas constituições no mundo democrático têm essa presença direta e atuante da sociedade na elaboração dos preceitos de império em seu ordenamento jurídico. O Brasil será, assim, uma república representativa e participativa. Teremos a convivência e a fiscalização de mandante e mandatários a serviço da sociedade.

       Após quase 500 anos, o Projeto redime a geografia do Brasil.

       Nossa geografia é violentada pela concentração nacional de rendas e de competência. Nossa geografia é regional, é local, é municipal, com municípios maiores do que muitos países.

       As urnas dão votos para os governadores e os prefeitos administrarem. Mas só a autêntica Federação, que estamos organizando, dá o dinheiro para que tais governos dêem respostas às necessidades localizadas.

       Federação é governo junto com o homem. Não homem correndo atrás do Governo Estadual ou de Brasília,
freqüentemente longínquo e indiferente. Esta alforria, do homem e de seus governantes, foi decretada pela transferência de 47% dos recursos da União para os Estados e Municípios, 21,05% àqueles e 22,5% para estes.

       Se não tivéssemos feito mais nada, só com isso teríamos feito muito.

       Cooperamos para reversão da instável e irracional pirâmide social brasileira de 130 milhões de brasileiros carentes na base projetada para o ar e apoiada em seu vértice em Brasília, onde estão os recursos.

       Com os hodiernos conceitos de seguridade, estamos, entre os este países que a adotam, instituindo a universalidade dos beneficiários, mesmo aos que comprovadamente não possam contribuir. Desobstruiu-se o acesso à Previdência, sem desequilíbrio, às donas-de-casa, arrendatários e pescadores.

       Diminuiu-se, pela equivalência, a separação entre o trabalhador rural, com oito benefícios, e o urbano, com trinta e dois.

       Governar é encurtar distâncias. Governar é administrar pressões, e as pressões primárias e diretas são as do lugar onde se vive, trabalha, estuda, sofre e ama.

       Quanto aos onze milhões de aposentados, foi-lhes garantido o valor real dos proventos através do tempo, para que não sejam destroçados pela inflação, como hoje ocorre, ocasionando a humilhação, o desespero e a morte.

       Senhoras e Senhores Constituintes.

       A Constituição, com as correções que faremos, será a guardiã da governabilidade.
  
       A governabilidade está no social. A fome, a miséria, a ignorância, a doença inassistida são ingovernáveis.

       Governabilidade é abjurar, o quanto antes, uma carta constitucional amaldiçoada pela Democracia e jurar uma Constituição fruto da Democracia e da parceria social.

      A injustiça social é a negação e a condenação do governo.

       A boca dos constituintes de 1987-1988 soprou o hálito oxigenado da governabilidade pela transferência e distribuição de recursos viáveis para os municípios, os securitários, o ensino, os aposentados, os trabalhadores, as domésticas e as donas-de-casa.

       Repito: essa será a Constituição Cidadã, porque recuperará como cidadãos milhões de brasileiros, vítimas da pior das discriminações: a miséria.

       Cidadão é o usuário de bens e serviços do desenvolvimento. Isso hoje não acontece com milhões de brasileiros, segregados nos guetos da perseguição social.

       Esta Constituição, o povo brasileiro me autoriza a proclamá-la, não ficará como bela estátua inacabada, mutilada ou profanada.

       O povo nos mandou aqui para fazê-la, não para ter medo.

       Viva a Constituição de 1988!

       Viva a vida que ela vai defender e semear!

       Brasília, 27 de Julho de 1988.

       Constituinte Ulysses Guimarães - Presidente da Assembléia Nacional Constituinte.

 

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*Discurso pronunciado pelo Presidente Ulysses Guimarães na Sessão da Assembléia Nacional Constituinte, em 27 de Julho de 1988.

 

PAZ PROFUNDA
PAZ PROFUNDA