(Primeira Parte)
Rodolfo Domenico Pizzinga
Mahatma
Koot' Hoomi, o Ilustre D... G... M... do Tibet (Bod-Yul) Amado Hierofante da R+C Pintura original: AMORC |
Introdução e Objetivo da Pesquisa
Segundo Virginia Hanson (teósofa norte-americana que se especializou no estudo das 'Cartas dos Mahatmas'1), as 'Cartas dos Mahatmas' para Alfred Percy Sinnett2 é considerada uma das obras mais difíceis da literatura teosófica. Ela aborda muitas situações complexas e contém muitos conceitos profundos, que se tornam mais obscuros porque, na época em que elas foram escritas, não havia sido desenvolvida uma nomenclatura por meio da qual os Mahatmas pudessem comunicar a sua filosofia - profundamente oculta - a pessoas de idiomas ocidentais. Apesar disso, a obra tem um poder e uma percepção interna tremendos, e reflete o drama humano da aspiração, do êxito e do fracasso. Ela conta uma história ocorrida no tempo, mas a sua mensagem é eterna, quer a consideremos como narrativa, como filosofia oculta ou como revelação.
Um dos escritores das Cartas (que concordou em manter uma correspondência limitada com Sinnett) é o Mahatma Koot' Hoomi Lal Singh3 (KH), das quais selecionei alguns fragmentos para reflexão de todos quantos vierem a ler este texto. Rapidamente, devo comentar que KH, em certas passagens dessas Cartas, é muito pitoresco, demonstrando claramente o bom humor que todo Iniciado geralmente tem. E quanto mais Ele, que é um Mahatma. Um exemplo desse bom humor está no seguinte passo de uma de suas Cartas: Sempre que apareço, astral ou fisicamente, diante do meu amigo A. P. Sinnett, não esqueço de gastar uma certa soma num lenço da mais fina seda Chinesa para levá-lo no bolso da minha 'chogga', nem de criar uma atmosfera de sândalo e rosas da Cachemira. Isso é o mínimo que podia fazer como expiação pelos meus compatriotas.
O Mahatma KH – explica Virginia Hanson – era um brâmane de Cachemira, mas na época em que nos deparamos com Ele nas cartas, tinha relações estreitas com a corrente Guelupa ou 'gorro amarelo' do Budismo tibetano. Ele se refere a si próprio nas cartas como um 'morador de cavernas de aquém e além dos Himalaias'. H. P. B. diz em 'Ísis Sem Véu' que a doutrina de Aquém dos Himalaias é uma doutrina ariana muito antiga, às vezes chamada bramânica, mas que na verdade nada tem a ver com o Bramanismo tal como nós o entendemos agora. A doutrina de Além dos Himalaias é uma doutrina esotérica tibetana, o Budismo puro ou 'antigo'. Ambas doutrinas, de Aquém e de Além dos Himalaias, vêm originalmente de uma só fonte – a Religião de Sabedoria Universal.
Enfim, este despretensioso estudo apresenta alguns fragmentos perfeitamente compreensíveis e profundamente educativos garimpados nas dez primeiras Correspondências mantidas entre Alfred Percy Sinnett e o Mahatma Koot' Hoomi Lal Singh, Correspondências estas que atualmente se encontram em um museu em Londres. Essas Cartas recebidas por Sinnett costumavam aparecer das formas mais inusitadas. Uma delas, por exemplo, segue, resumidamente, a seguinte seqüência: Sinnett havia escrito para o Mahatma antes de deixar Londres e estava um pouco desapontado porque nenhuma resposta o aguardava em Bombaim. Entretanto, na manhã seguinte à sua chegada, quando ele e Helena P. Blavatsky haviam terminado o lanche, ele estava sentado, conversando com ela, quando a carta chegou. Esta é a sua descrição: Estávamos sentados em lugares diferentes de uma grande mesa quadrada no meio da sala. Subitamente, em cima da mesa, diante de mim, mas do meu lado direito, estando Madame Blavatsky à minha esquerda, caiu uma carta volumosa. Caiu 'do nada', por assim dizer; foi materializada ou reintegrada no ar diante de meus olhos. Era a resposta esperada de Koot Hoomi – uma carta profundamente interessante, parcialmente relativa a assuntos particulares e respostas a questões minhas, e parcialmente relativa a revelações extensas de filosofia oculta, embora até então obscuras, o primeiro esboço dela que eu recebia. Sinnett comenta que, por algum tempo, para ele, este foi o único fenômeno, porque as autoridades Superiores do mundo oculto, na verdade, tinham estabelecido na ocasião uma proibição muito mais estrita para essas manifestações...
Quanto ao trabalho, enfim, fiz raríssimas edições para acomodar algumas passagens das Cartas a este tipo de divulgação, porém, KH é testemunha de que não alterei absolutamente nada do que Ele escreveu e ensinou. Eu lá seria maluco de fazer isso sem sequer ser seu discípulo? Para, quem sabe, levar, não sei quando, uma bronca em hindustano, idioma que eu não entendo nada? Seja como for, o que realmente espero é que esta primeira parte deste modesto estudo possa ser útil e pro bono de tantos quantos vierem a lê-lo – na verdade, um estímulo catalítico para que sejam consultadas, integralmente, as Cartas originais e, particularmente, os ensinamentos de KH. Precisamos, todos nós, refletir muito nesses ensinamentos (desconhecidos de uma boa parte dos místicos contemporâneos e nem sequer, de maneira geral, cogitados pelos religiosos), pois vivemos tempos difíceis, tempos de mudança, tempos de escolha, tempos de necessária transmutação. Estou certo de que, se nos esforçarmos um pouquinho, poderemos, desde já, introduzir e promover modificações úteis e benéficas em nossas vidas, preparando o florido caminho para o que de mais importante deve volitivamente acontecer, se quisermos com vontade, em nossas existências: a Liberdade. O contrário disso é a morte. Falo isso tomando a mim mesmo como primeiro exemplo, que de múmia paralítica imbecilizada passei a projeto de possibilidade espiritual consciente. Paz Profunda.
Fragmentos de Algumas Cartas
(Ensinamentos do Mestre KH)
Loucos são aqueles que, especulando apenas sobre o presente, voluntariamente fecham os olhos para o passado, e com isso permanecem naturalmente cegos para o futuro!
A inexorável sombra que segue todas as inovações humanas se move, e, todavia, poucos são aqueles que estão, de qualquer modo, conscientes de sua aproximação e perigos.
O 'Vril' da 'Próxima Raça' era uma propriedade comum de raças agora extintas.
Quanto à natureza humana em geral, ela é a mesma agora como o era um milhão de anos atrás: preconceito baseado no egoísmo; uma geral má vontade para abrir mão de uma ordem estabelecida das coisas para novos modos de vida e de pensamento (o estudo oculto requer tudo isso e muito mais); o orgulho e uma teimosa resistência à Verdade, se ela abala as suas noções prévias das coisas, tais são as características de vossa época, especialmente nas classes inferiores e médias.
Sabemos que, enquanto a Ciência tenha algo a aprender, e enquanto reste uma sombra de dogmatismo religioso no coração das multidões, os preconceitos do mundo têm que ser vencidos passo a passo e não de golpe.
Assim como o passado remoto teve mais do que um Sócrates, o indistinto futuro dará nascimento a mais de um mártir.
A única salvação para os genuinamente versados nas Ciências Ocultas está no ceticismo do público; os charlatões e os prestidigitadores são os escudos naturais dos 'adeptos'.
Para o não-iniciado, nossos atos, inúmeras vezes, devem parecer pouco sábios, se não mesmo, tolos.
A Ciência Oculta tem os seus próprios métodos de pesquisa tão arbitrários e fixos como os da Ciência Física, a sua antítese, o são, à sua maneira. Se esta última possui as suas afirmações, assim também as possui a primeira; e aquele que cruzar os limites do mundo invisível, não poderá mais determinar por si mesmo como há de progredir no seu caminho, tanto quanto o viajante que tenta penetrar nos recessos internos dos subterrâneos de L'Hassa, a Abençoada, poderá mostrar o caminho ao seu guia.
Os mistérios nunca puderam e jamais poderão ser colocados ao alcance do público em geral, não, pelo menos, até o dia tão esperado em que nossa filosofia religiosa se torne universal. Em todas as épocas somente uma escassa minoria de homens possuiu os segredos da Natureza, embora multidões tenham testemunhado as evidências práticas da possibilidade de sua posse.
O adepto é a rara eflorescência de uma geração de buscadores; e para se converter em um deles, ele deve obedecer ao impulso interno da sua alma, sem levar em conta as prudentes considerações da Ciência ou da sagacidade mundanas.
Aquele que queira elevar a bandeira do Misticismo e proclamar que o seu reino está próximo, tem que dar exemplo aos outros. Ele deve ser o primeiro a mudar os seus modos de viver. E, com relação ao estudo dos mistérios ocultos como sendo o degrau mais alto na escada do Conhecimento, tem que proclamar isso em voz alta, a despeito da Ciência Exata e da oposição da sociedade.
As mais elevadas aspirações para o bem-estar da Humanidade tornam-se manchadas com o egoísmo, se na mente do filantropo ainda luzir a sombra do desejo pelo autobenefício ou a tendência para fazer injustiça, mesmo quando essas existam inconscientemente para ele.
Temos as nossas escolas e instrutores, nossos neófitos e 'shaberons' (adeptos superiores), e a porta está sempre aberta para o homem correto que bate. E damos sempre as boas-vindas ao que chega até nós. Somente que, em vez de ir até ele, ele tem que vir até nós. Mais do que isso: a menos que ele tenha atingido aquele ponto, na senda do ocultismo, de onde é impossível retornar, tendo irrevogavelmente se comprometido com a nossa associação, nós nunca – exceto em casos raríssimos – o visitamos ou mesmo cruzamos a sua porta em aparência visível.
Nós nunca nos queixamos do inevitável, mas tratamos de tirar o melhor partido do pior. Como também nunca impulsionamos ou atraímos para o misterioso domínio da natureza oculta aqueles que não desejam. Nunca deixamos de expressar a nossa opinião livre e destemidamente, todavia, estamos sempre prontos a auxiliar os que vêm até nós; mesmo os agnósticos que assumem a posição negativa de 'conhecer tão-somente os fenômenos e se recusam em crer em alguma coisa mais'.
Todos devemos estar com os olhos vendados antes que possamos passar adiante; não sendo assim, temos que permanecer de fora.
Somente os Adeptos – isto é, os espíritos encarnados – estão proibidos pelas nossas sábias e intransgredíveis leis a sujeitar completamente para eles uma outra vontade mais fraca, isto é, a de um homem que nasceu livre.
Sujeitar completamente uma outra vontade mais fraca é o procedimento favorito adotado pelos 'Irmãos das Sombras' (os nossos mais potenciais Opositores), pelos Feiticeiros, pelos Fantasmas Elementais e, como uma isolada exceção, pelos Espíritos Planetários mais elevados (não pode haver qualquer Espírito Planetário que não tenha sido outrora material ou o que chamais humano), aqueles que não mais erram. Mas, esses últimos somente aparecem na Terra na origem de cada nova espécie humana; na junção e no encerramento dos extremos do grande ciclo. E eles permanecem com o homem não mais do que o tempo necessário para que as verdades eternas, que eles ensinam, possam ser impressas tão nitidamente nas mentes plásticas das novas raças, a fim de que não sejam perdidas ou inteiramente esquecidas nas futuras eras pelas vindouras gerações.
A Missão do Espírito Planetário é tão-somente fazer soar a NOTA CHAVE DA VERDADE. Uma vez que Ele dirigiu a vibração dessa última para seguir o seu curso sem interrupções – ao longo do encadeamento daquela raça até o fim do ciclo – o morador da mais elevada esfera desabitada desaparece da superfície do nosso planeta até a seguinte 'ressurreição da carne'. As vibrações da Verdade Primitiva são o que os vossos filósofos chamam de 'idéias inatas'.
Um homem raramente se torna um Adepto sem ter nascido como Vidente natural.
Existem maneiras para que alguém possa adquirir o conhecimento oculto. 'Muitos são os grãos de incenso destinados ao mesmo altar; um cai no fogo antes, outro depois; a diferença no tempo não tem qualquer importância.' Isto foi dito por um grande homem quando lhe foi recusada a admissão e a Suprema Iniciação nos Mistérios.
O termo 'FRATERNIDADE UNIVERSAL' não é uma frase vã. A Humanidade, em seu conjunto, tem o direito de exigir tudo de nós... É o único fundamento seguro para a moralidade universal. Se for um sonho, pelo menos é um sonho nobre para a Humanidade, e é a expiração do verdadeiro adepto.
Eu não 'desprezo', nem jamais 'desprezarei' nenhum 'sentimento', mesmo que se choque com os meus próprios princípios, quando é expresso franca e abertamente.
Uma vontade forte cria e a simpatia atrai mesmo os adeptos, cujas leis são antagônicas à mistura com o não-iniciado.
O que uma vontade falhar em fazer, muitas, combinadas, podem alcançar.
Assim como a fixação, em superfícies quimicamente preparadas, das imagens formadas numa câmera requer um prévio ajuste no foco do objeto a ser representado, pois de outra maneira, como inúmeras vezes se encontram em más fotografias, as pernas de quem está sentado aparecem fora das proporções com a cabeça, e assim por diante, temos primeiramente de arrumar as nossas sentenças e imprimir cada letra que vai aparecer no papel, nas nossas mentes, antes que possam ser lidas... Quando a Ciência tiver aprendido mais a cerca do mistério do 'lithophyl' (ou 'lithobiblion') e como a impressão de folhas vem a ocorrer originalmente nas pedras, então serei capaz de fazei-vos compreender melhor o processo. Mas tendes que saber e relembrar uma coisa: nós apenas seguimos e servilmente copiamos a Natureza em seus trabalhos.
As verdades e mistérios do Ocultismo constituem, na verdade, um corpo da mais alta importância espiritual, ao mesmo tempo profundo e prático para o mundo em geral.
Os sabichões dizem: 'a idade dos milagres é passada', mas nós respondemos, 'ela nunca existiu!' Ainda que não sejam os únicos ou sem a sua contraparte na História Universal, esses fenômenos devem vir e virão com uma enorme influência no mundo dos fanáticos e dos céticos. Eles têm que se mostrar tanto destrutivos, como construtivos: destrutivos quanto aos perniciosos erros do passado, aos velhos credos e superstições que sufocam, no seu abraço venenoso, como erva daninha, a toda a humanidade; mas construtivos de novas instituições de uma genuína e prática fraternidade da Humanidade, onde todos serão colaboradores da Natureza, e trabalharão para o bem da Humanidade com e por meio dos mais elevados Espíritos Planetários, os únicos 'Espíritos' em quem acreditamos.
Elementos fantásticos – jamais impensados, nem sonhados – começarão logo a se manifestar, dia-a-dia, com uma força constantemente aumentada, revelando, por fim, os segredos das suas misteriosas operações. Platão estava certo: as idéias governam o mundo. E, à medida que as mentes dos homens recebam novas idéias, deixando de lado as velhas e desgastadas, o mundo avançará; surgirão poderosas revoluções delas; credos e mesmo potências serão derrocadas diante da sua força irresistível. Será verdadeiramente impossível resistir ao seu influxo, quando chegar o tempo, assim como não se pode barrar o crescimento de uma maré. Mas tudo virá gradualmente, e antes que chegue, temos um dever diante de nós: varrer o entulho deixado para nós pelos nossos piedosos antepassados. Novas idéias têm que ser plantadas em lugares limpos, pois essas idéias tocam os assuntos mais importantes. Não são fenômenos físicos, mas essas idéias universais, que estudamos, e para compreender os primeiros, temos que primeiro entender as últimas. Elas referem-se à verdadeira posição de homem no Universo, em relação aos seus nascimentos prévios e futuros; à sua origem e destino final; à relação do mortal com o imortal; do temporário com o eterno; do finito com o infinito. Idéias mais amplas, maiores, mais abrangentes, reconhecendo o reino Universal da Lei Imutável, que não muda e não pode ser mudada, em relação a qual só existe o ETERNO AGORA, enquanto que para os mortais não-iniciados o tempo é passado ou futuro relacionado com a sua existência finita nesse grãozinho de pó. Isto é o que estudamos e o que muitos solucionaram. E agora depende apenas de vós decidir o que tereis: a mais alta filosofia ou uma simples exibição de poderes ocultos. Naturalmente, de modo algum, esta não será a última palavra entre nós; tereis tempo para pensar. Os Chefes querem uma 'Fraternidade da Humanidade', que se inicie uma real Fraternidade; uma instituição que se torne conhecida através do mundo e chame à atenção das mentes mais elevadas. Eu vos enviarei o meu Ensaio. Quereis ser o meu colaborador e pacientemente aguardar fenômenos menores? Creio que posso prever a resposta. De qualquer modo, enquanto arder em vós a lâmpada da luz espiritual, mesmo que debilmente, há esperança para vós, e para mim também. Sim; ponde-vos em busca de indianos, se podeis encontrar ingleses. Mas, credes que desapareceu o espírito e o poder de perseguição nessa época iluminada? O tempo mostrará. Enquanto isso, sendo humano, tenho que repousar. Eu não durmo há mais de sessenta horas.
Somente o progresso que uma pessoa faz no estudo do conhecimento Arcano, desde os seus elementos rudimentares, leva-a, gradualmente, a compreender o nosso propósito. Somente assim, e não de outra forma, ela o faz fortalecendo e refinando aqueles misteriosos laços de simpatia entre seres inteligentes – fragmentos temporariamente isolados da Alma Universal e da própria Alma Cósmica – trazendo-os a uma completa harmonia. Uma vez isso estabelecido, somente então essas despertadas simpatias servirão, na verdade, para conectar o HOMEM com aquilo, que na falta de um termo europeu mais adequado para expressar a idéia, eu sou novamente compelido a descrever como aquela cadeia energética que une o 'Kosmos' material e Imaterial – passado, presente e futuro – e ativa as suas percepções, a fim de que claramente capte, não apenas todas as coisas da matéria, mas também as do Espírito. Sinto-me mesmo irritado de ter que usar essas palavras imperfeitas – passado, presente e futuro!
... Essas Forças semi-inteligentes, cujos meios de comunicação conosco não são através de palavras faladas, mas através de sons e cores, em correlação com as vibrações dos dois? Pois o som, a luz e as cores são os principais fatores na formação desses graus de Inteligências, desses seres, de cuja própria existência não tendes qualquer concepção...
... Ou que um pintor comum descreva cenas em Saturno ou faça um esboço dos habitantes de Arcturus – por causa disto tudo até mesmo a nossa existência é negada!
Aquele que se dedica às Ciências Ocultas deve alcançar a meta ou perecer. Quando se avançou bastante no Caminho do grande Conhecimento, duvidar é correr o risco de perder a razão; chegar a um ponto morto é cair; retroceder é cambalear até cair de cabeça num abismo.
Até que a emancipação final reabsorva o Ego, ele tem que ser consciente das mais puras simpatias despertadas pelos efeitos estéticos da arte elevada; sua mais terna sensibilidade deve responder ao chamado dos mais santos e nobres vínculos humanos. Naturalmente, quanto maior for o progresso em direção à libertação menos lugar haverá para isso, até que para coroar a tudo, os sentimentos humanos e puramente individuais – laços de sangue, amizade, patriotismo e predileção racial – todos cederão lugar e se tornarão fundidos em um sentimento universal, o único verdadeiro e santo, o único inegoísta (sic) e eterno – Amor, um imenso amor pela Humanidade – como um Todo! Pois é a Humanidade que é a grande órfã, a única deserdada sobre esta Terra, meu amigo. E é o dever de cada homem que é capaz de um impulso inegoísta (sic): fazer alguma coisa, mesmo que pouco, pelo seu bem estar. Pobre, pobre Humanidade! ... Nesse eterno isolamento e abandono ela criou deuses aos quais 'sempre brada por ajuda, mas não é escutada!'
Ao aceitarmos a proposição científica de que 'Akasha' (atração) e 'Prshu' (repulsão) são Leis da Natureza, não pode haver comunicação ou relações entre Almas limpas e sujas – encarnadas ou desencarnadas – e, portanto, noventa e nove por cento das supostas comunicações espíritas são, 'prima facie', falsas.
A união, na verdade, implica na concentração de força vital e magnética contra as correntes hostis do preconceito e do fanatismo.
A mediunidade é anormal. Quando em desenvolvimento posterior, o anormal dá lugar ao natural, os controles são rechaçados e não se requer mais a obediência passiva. Então o médium aprende a usar a sua vontade, a exercitar o seu próprio poder e se torna um Adepto. É um processo de desenvolvimento, e o neófito tem que ir até o fim. Enquanto ele for sujeito a transes ocasionais, ele não pode ser um adepto.
Quando o nosso grande Buddha – o patrono de todos os Adeptos, o reformador e codificador do sistema oculto – atingiu primeiro o Nirvana na Terra, Ele se tornou um Espírito Planetário. Isto é, o seu Espírito podia, por sua vez e ao mesmo tempo, percorrer com plena consciência os espaços interestelares, e continuar, por sua própria vontade, na Terra, em seu corpo original e individual. Pois o Eu Divino se desembaraçou tão completamente da matéria, que Ele podia criar pela vontade um substituto interno para Si deixando-o na forma humana durante dias, semanas, às vezes anos, não afetando, de nenhum modo, por essa mudança, nem o princípio vital ou a mente física do seu corpo. A propósito, essa é a mais elevada forma de Adeptado que o homem pode esperar no nosso Planeta.
Cada diamante, cada cristal, cada planta e cada estrela têm a sua alma individual, além do homem e do animal... Há uma hierarquia de almas, das formas mais inferiores de matéria até a Alma do Mundo... Mas estais enganado quando acrescentais às palavras acima a certeza de que os espíritos dos que partem mantêm uma comunicação psíquica direta com as almas que estão ainda ligadas a um corpo humano, porque não é assim. A posição relativa dos mundos habitados em nosso Sistema Solar exclui, por si só, tal possibilidade.
O ciclo das existências inteligentes começa nos mais elevados mundos ou planetas (a expressão 'mais elevados' significa aqui o mais perfeito espiritualmente). Evoluindo da matéria cósmica – que é 'akasa' o meio plástico primordial, não o secundário ou éter da Ciência, suspeitado instintivamente, porém não comprovado como o resto – o homem primeiro evolui dessa matéria no seu estado mais sublimado, aparecendo no limiar da Eternidade como uma Entidade perfeitamente Etérea – não a Entidade Espiritual, digamos – como um Espírito Planetário. Ele se acha só a um passo da Essência Universal e Espiritual do Mundo, o 'Anima Mundi' dos gregos, ou daquilo que a Humanidade, na sua decadência espiritual, degradou num mítico Deus pessoal. Portanto, nessa etapa, o Homem-Espírito é, no máximo, um Poder ativo, um Princípio imutável, e, portanto, impensável (o termo 'imutável' sendo novamente usado aqui para indicar esse estado de transição; a imutabilidade está aqui aplicada somente ao princípio interno, que desvanecerá e desaparecerá, tão pronto uma centelha do material que existe nele comece o seu trabalho cíclico de evolução e transformação). Na sua subseqüente descida, e em proporção com o aumento de matéria, ele afirmará cada vez mais a sua atividade. Mas, o conjunto de mundos estelares (incluindo o nosso próprio Planeta) habitado por seres inteligentes, pode ser comparado a uma órbita, ou melhor, a uma epiciclóide formada de anéis, como uma cadeia – mundos interligados – a totalidade representando um imaginário e infindável anel, ou círculo. O progresso do homem através do conjunto – desde o seu começo até os pontos de encerramento, que se encontram no ponto mais alto da sua circunferência – é o que chamamos de 'Maha Yug' ou o Grande Ciclo, o 'Kuklos', cuja cabeça se perde em uma coroa de Espírito Absoluto e o ponto mais inferior da circunferência na matéria absoluta, ou seja, no ponto em que cessa a ação do princípio ativo. Se usarmos um termo mais familiar, chamaremos o Grande Ciclo de Macrocosmo e as suas partes componentes ou o mundo de estrelas interligadas de Microcosmos, então se faz evidente a intenção dos ocultistas de representar a cada um desses últimos como sendo a cópia perfeita do primeiro. O Grande Ciclo é o protótipo dos ciclos menores, e, como tal, cada mundo estelar tem por sua vez o seu próprio ciclo de Evolução, que começa com uma natureza mais pura e termina com uma natureza mais grosseira e material. À medida que desce, cada mundo se apresenta, naturalmente, mais e mais sombreado, tornando-se nos 'antípodas' matéria absoluta. Impulsionado pelo impulso cíclico irresistível, o Espírito Planetário tem que descer antes que possa subir. Nesse caminho, Ele tem que passar através de toda a escada da Evolução, não perdendo nenhum degrau, detendo-se em cada mundo estelar como se fosse numa estação; e além do ciclo inevitável desse mundo particular e de cada respectivo mundo estelar, deve realizar também o seu próprio 'ciclo de vida', ou seja, voltar e reencarnar tantas vezes quantas Ele falhar em completar a sua ronda de vida Nele, quando morre Nele antes de alcançar a idade da razão... (Grifo meu).
Epiciclóide (curva descrita por
um ponto de uma circunferência
que rola externamente
sobre uma circunferência
Após circular, digamos, ao longo do arco do círculo, ao largo e em torno dele (a rotação diária e anual da Terra é uma ilustração tão boa como qualquer outra), quando o Homem-Espírito chega ao nosso Planeta, que é um dos mais inferiores, tendo perdido em cada etapa algo de sua natureza etérea e aumentado a sua natureza material, tanto o espírito como a matéria se tornaram bastante equilibrados nele. Mas, então, ele tem o ciclo da Terra para realizar; e, como no processo de involução e evolução descendente, a matéria tende sempre a sufocar o espírito, quando alcança o ponto mais baixo da sua peregrinação, o outrora Espírito Planetário puro se achará reduzido ao que a ciência convencionou chamar de homem primitivo ou primordial em meio a uma natureza tão primordial – falando geologicamente – pois a natureza física, em sua carreira cíclica, mantém o ritmo com o homem fisiológico, bem como com o homem espiritual. Nesse ponto, a Grande Lei começa o seu trabalho de seleção. A matéria encontrada inteiramente divorciada do espírito é jogada nos mundos ainda mais inferiores – no Sexto Portal ou 'caminho do renascimento' dos mundos vegetais e minerais e das formas animais primitivas. Dali, a matéria desintegrada no laboratório da Natureza prossegue sem alma o regresso a sua Fonte Materna, enquanto os Egos purificados de suas escórias reiniciam o seu progresso uma vez mais em frente. É aqui que os egos retardatários perecem aos milhões. É o solene momento da 'sobrevivência dos mais aptos', a aniquilação dos incapazes. É somente matéria (ou o homem material) que é compelido, pelo seu próprio peso, a descer até o fundo do 'Círculo da Necessidade'4, onde ali assume a forma animal; enquanto o vencedor da corrida através dos mundos – o Ego Espiritual – ascenderá de estrela em estrela, de um mundo a outro, circulando para frente a fim de se tornar uma vez mais um Espírito Planetário puro. E, então, mais alto ainda, finalmente alcança o seu ponto inicial de partida, e dele mergulha no MISTÉRIO. Nenhum Adepto jamais penetrou além do véu da Matéria Cósmica Primitiva. A mais elevada e perfeita visão está limitada ao Universo de Forma e Matéria.
Quereis saber porque é considerado supremamente difícil, senão, completamente impossível, para os puros Espíritos desencarnados se comunicarem com os homens através de médiuns ou de Fantasmasofia? Eu digo que é:
a) Devido às atmosferas antagônicas que envolvem respectivamente esses mundos;
b) Por causa da completa diferença entre as condições fisiológicas e espirituais; e
c) Porque essa cadeia de mundos não é somente uma epiciclóide, mas uma órbita elíptica de existências, tendo cada elipse, não um, mas dois pontos – dois focos – que nunca podem se aproximar um do outro; o homem, estando em um dos focos, e o puro Espírito, no outro.
Assim como em um rosário composto de contas pretas e contas brancas, alternativamente, assim é a concatenação de mundos composta de mundos de CAUSAS e mundos de EFEITOS – os últimos sendo o resultado direto produzido pelos primeiros. Assim, se torna evidente que cada esfera de Causas – e a nossa Terra é uma delas – está, não somente, interligada, como circundada por sua vizinha mais próxima, embora separada – a esfera superior da Causalidade – por uma impenetrável atmosfera (no seu sentido espiritual) de efeitos confinantes, que embora interligados nunca se misturam entre si: pois uma é ativa, a outra, passiva, o mundo das causas é positivo, o dos efeitos, negativo. Essa resistência passiva pode ser vencida, mas sob condições das quais os vossos mais versados espíritas não têm a menor idéia. [A animação abaixo é meramente pictórica].
Todo o movimento é, por assim dizer, polar... As esferas intermediárias, sendo somente as sombras projetadas dos Mundos das Causas, são negativadas por esses últimos. Elas são os grandes pontos de parada, as estações nas quais estão sendo gerados os futuros Egos autoconscientes, a prole auto-engendrada dos antigos e dos desencarnados Egos do nosso Planeta. Antes que a nova Fênix, renascida das cinzas dos seus pais, possa voar mais alto, para um mundo melhor, mais espiritual, e mais perfeito – ainda um mundo de matéria – ela tem que passar através do processo de um novo nascimento, digamos assim...
Na Terra, são os defeitos mentais e fisiológicos dos progenitores, os seus pecados, que recaem sobre a prole. Neste mundo de sombras, o novo e ainda inconsciente Ego – dependente do 'karma' (mérito e demérito) – é o único que determinará o seu destino. Nesse mundo, meu bom amigo, nós só encontramos máquinas ex-humanas, inconscientes e autômatas – almas em seu estado de transição – cujas faculdades adormecidas e individualidade estão como borboleta em sua crisálida. E os Espíritas pretendem que elas falem com sensatez!
O mundo inferior dos efeitos é a esfera dos pensamentos distorcidos, das mais sensuais concepções e representações, de divindades antropomórficas, de projeções de seus criadores – as mentes sensuais de pessoas que não superaram a sua bestialidade na Terra. Relembrando que os pensamentos são coisas – têm tenacidade, coerência e vida – que eles são entidades reais, o resto se tornará fácil. Desencarnado, o criador é atraído naturalmente para a sua criação e para as criaturas, sugado pelo torvelinho de sua própria criação...
Se em diferentes esferas, doutrinas contraditórias são propostas, essas doutrinas não podem conter a Verdade, pois a Verdade é Una e não pode admitir pontos de vistas diametralmente opostos.
Agora, se admitirmos que diferentes aspectos ou porções da Verdade Total sejam visíveis para diferentes agentes ou inteligências, cada qual sob várias condições, como, por exemplo, várias partes de uma paisagem descortinam-se para várias pessoas em distâncias e pontos de observação diferentes; se admitirmos o fato de que vários e diferentes agentes (Irmãos individualmente, por exemplo) estão tentando desenvolver os Egos de diferentes indivíduos – sem sujeitar inteiramente às suas vontades as deles (o que é proibido) – mas que aproveitam as suas idiossincrasias físicas, morais e intelectuais; se acrescentarmos a isso as incontáveis influências cósmicas que distorcem e defletem todos os esforços para alcançar finalidades definidas; se lembrarmos, além disso, a hostilidade direta dos 'Irmãos das Sombras', sempre atentos para confundir e enevoar o cérebro do neófito, penso que não teremos dificuldade para compreender como mesmo um definido avanço espiritual pode, até certo ponto, levar diferentes indivíduos a conclusões e teorias aparentemente diferentes. (Grifo meu).
É a nossa missão mergulhar e trazer as pérolas da Verdade à superfície; a dos homens de ciência limpá-las e colocá-las nas jóias científicas. E, se eles recusam tocar a concha mal formada da ostra, insistindo que dentro dela não existe nem pode existir qualquer pérola preciosa, então, uma vez mais, nos consideramos eximidos de qualquer responsabilidade ante a Humanidade. Por incontáveis gerações tem o Adepto construído um templo de rochas imperecíveis – a Torre gigantesca do PENSAMENTO INFINITO – onde o Titã morava, e onde, se for necessário, voltará a morar solitário, saindo dela somente no final de cada Ciclo para convidar os eleitos da Humanidade a cooperarem com Ele e O auxiliarem, por sua vez, a iluminar o homem supersticioso. E continuaremos naquele nosso trabalho periódico; não permitiremos ser frustrados em nossas intenções filantrópicas até aquele dia quando estejam tão firmemente consolidadas as fundações de um novo continente de pensamento, a ponto de não haver qualquer opressão e malícia ignorante guiadas pelos 'Irmãos das Sombras' que possam prevalecer.
Nem a nossa Filosofia nem nós acreditamos em um deus, e menos ainda em um cujo nome necessite uma maiúscula. A nossa Filosofia se enquadra na definição de Hobbes. É preeminentemente a ciência dos efeitos pelas suas causas e das causas pelos seus efeitos; também é a ciência das coisas deduzidas do Primeiro Princípio, como a define Bacon. Antes de admitir tal Princípio, temos que conhecê-Lo, e não direito algum de admitir mesmo a sua possibilidade.
A nossa Doutrina não conhece compromissos. Ela afirma ou nega porque nunca ensina a não ser aquilo que sabe ser a verdade. Portanto, negamos a deus tanto como Filósofos quanto como Budistas. Sabemos que existem outras vidas planetárias e espirituais, e sabemos que no nosso sistema não há isso que se chama de Deus, seja pessoal ou impessoal. 'Parabrahm' não é um Deus e sim, a Lei imutável e absoluta; e 'Iswar' é o efeito de 'Avidya' e 'Maya', ignorância baseada na grande ilusão. A palavra 'deus' foi inventada para designar a causa conhecida daqueles efeitos que o homem tem igualmente admirado e temido sem compreendê-los. E como nós pretendemos possuir o conhecimento daquela causa e das demais (e que podemos provar o que afirmamos), estamos em situação de sustentar que não há deus ou deuses por trás delas.
A idéia de Deus não é algo inato, mas uma noção adquirida, e só temos uma coisa em comum com as teologias: nós revelamos o infinito. Mas, enquanto nós atribuímos a todos os fenômenos que procedem do espaço, da duração e do movimento, infinitos e ilimitados, uma causa material, natural, sensível e conhecida (pelo menos para nós), os teístas lhes atribuem causas espirituais, sobrenaturais, ininteligíveis e desconhecidas. O deus dos teólogos é simplesmente um poder imaginário – 'un loup-garou'5 como d'Holbach o expressou – um poder que nunca se manifestou a si mesmo. O nosso principal propósito é liberar a Humanidade do seu pesadelo, ensinar ao homem a virtude por amor a Ela, e que avance pela vida confiando em si mesmo, em vez de se apoiar em uma muleta teológica, que por incontáveis idades, tem sido a causa direta de toda a miséria humana.
Se perguntarmos aos teístas se o seu Deus é o vácuo, o espaço ou a matéria, eles dirão que não. E, entretanto, eles sustentam que o seu Deus penetra a matéria, embora ele mesmo não seja matéria. Quando falamos da nossa Vida Una, dizemos também que ela penetra, ou melhor, é a essência de cada átomo de matéria; e que, portanto, não só tem correspondência com a matéria, como possui, também, todas as suas propriedades etc., e, portanto, é material, é em si mesmo matéria. Como pode a inteligência proceder ou emanar da não-inteligência? Como pode uma Humanidade altamente inteligente – o homem, a coroa da razão – ter evoluído de uma lei ou força cega, não-inteligente! Mas, uma vez que raciocinamos nesta linha, eu posso perguntar, por minha vez, como idiotas congênitos, animais sem raciocínio e o resto da 'criação' terem sido criados por uma sabedoria absoluta, ou dela evoluídos, se esta última é um ser pensante inteligente, o autor e o regente do Universo? Como? Diz o Dr. Clarke em seu exame da prova da existência da Divindade: 'Deus que fez o olho, ele não verá? Deus que fez o ouvido, não ouvirá?' Mas, de acordo com este modo de raciocínio, ele teria que admitir que, ao criar um idiota, Deus é um idiota; que aquele que fez tantos seres irracionais e tantos monstros físicos e morais tem que ser irracional...
Se é um absurdo negar o que não conhecemos, pior e mais extravagante e atribuir-lhe leis desconhecidas.
Em realidade e verdade, vossa teologia criou seu Deus para destruí-lo pouco a pouco. Vossa igreja é o fabuloso Saturno que gera filhos para poder devorá-los.
Negamos a existência de um Deus pensante consciente, baseados em que tal Deus tem que ser igualmente condicionado, limitado e sujeito a mudança, e portanto não infinito. Se ele é representado para nós como um ser eternamente imutável e independente, sem ter uma partícula sequer de matéria nele, então responderemos que ele é um ser, um princípio cego imutável, uma lei.
Nós negamos a absurda proposição de que pode haver – mesmo em um universo ilimitado e eterno – duas existências infinitas, eternas e onipresentes.
Sabemos que a matéria é eterna, isto é, não tendo tido nenhum princípio porque: (a) matéria é a própria Natureza; (b) aquilo que não pode aniquilar a si mesmo e é indestrutível existe necessariamente, e, portanto, não pode começar a ser, nem pode cessar de ser; e (c) a experiência acumulada de incontáveis idades e da ciência exata mostram-nos a matéria (ou Natureza) agindo pela sua própria e peculiar energia, na qual nem um átomo está em nenhum momento em um estado absoluto de repouso, e, portanto, ele tem que ter sempre existido, isto é, os seus materiais sempre mudando de forma, combinações e propriedades, mas o seus princípios ou elementos sendo absolutamente indestrutíveis.
Quanto a Deus – desde que ninguém em qualquer tempo o viu, a menos que ele seja a própria essência e Natureza desta matéria ilimitada e eterna, sua energia e seu movimento – não podemos considerá-lo igualmente eterno ou infinito, ou mesmo auto-existente. Recusamos admitir um ser ou uma existência da qual não conhecemos absolutamente nada, porque: (a) não há lugar para ele na presença daquela matéria cujas indiscutíveis propriedades e qualidades conhecemos muito bem; (b) se ele é apenas uma parte daquela matéria, é ridículo sustentar que ele é o princípio motor e regente daquilo de que ele é só uma parte dependente; e (c) se eles nos dizem que Deus é um espírito puro auto-existente, independente da matéria – uma divindade extracósmica – respondemos que, mesmo admitindo a possibilidade de tal impossibilidade, isto é, a sua existência, nós, entretanto, sustentamos que um espírito puramente imaterial não pode ser um regente inteligente e consciente, nem pode ele possuir qualquer dos atributos atribuídos a ele pela teologia, e assim, tal Deus se torna novamente numa força cega. A inteligência, como é encontrada nos nossos Dyan Chohans, é uma faculdade que pode ser encontrada somente nos seres organizados ou animados, mesmo que sejam imponderáveis, ou melhor, invisíveis os componentes de suas organizações. A inteligência requer a necessidade de pensar; para pensar é preciso ter idéias; idéias supõem sentidos que são de material físico. Assim sendo, como pode algo material pertencer ao puro espírito? Se for objetado que o pensamento não pode ser uma propriedade da matéria, perguntaremos: por que razão? Temos que ter uma prova indiscutível desta suposição, antes que possamos aceitá-la. Perguntaríamos ao teólogo: o que poderia impedir ao seu Deus – já que é o suposto criador de tudo – de dotar a matéria com a faculdade do pensamento? E quando respondesse que evidentemente Ele não quis fazer isso, e que isso é um mistério, bem como uma impossibilidade, insistiríamos que nos explicasse por que é mais impossível que a matéria produza o espírito e o pensamento, do que o espírito ou o pensamento de Deus produza e crie matéria.
Nós somente cremos na MATÉRIA, na matéria como natureza visível e na matéria invisível, como um 'Proteu' invisível, onipresente e onipotente, com seu incessante movimento, que é a sua vida, e que a Natureza extrai de si mesma, já que ela é o Grande Todo, fora do qual nada pode existir.
A existência da matéria é um fato. A existência do movimento é um outro fato. A sua auto-existência e eternidade ou indestrutibilidade é um terceiro fato. E a idéia de um puro espírito como sendo um Ser ou uma Existência – dêem-lhe o nome que quiserem – é uma quimera, um gigantesco absurdo.
O mal não tem existência por si; é apenas a ausência do bem e existe somente para aquele que se tornou sua vítima. Ele procede de duas causas, e como o bem, não é uma causa independente da Natureza. A Natureza é destituída de bondade ou maldade; ela apenas segue leis imutáveis quando dá vida e alegria ou envia o sofrimento e a morte, e destrói o que ela criou. A Natureza tem um antídoto para cada veneno e em suas Leis uma recompensa para cada sofrimento.O mal real procede da inteligência humana, e a sua origem repousa inteiramente no homem racional que se desassocia da Natureza. A Humanidade, exclusivamente, é a verdadeira fonte do mal. O mal é exagero do bem, a progênie da cobiça e do egoísmo humanos. Pensai profundamente e encontrareis que, salvo a morte – que não é um mal, mas uma lei necessária, e acidentes que sempre encontram a sua recompensa numa vida futura – a origem de cada mal, seja pequeno ou grande, está na ação humana, no homem cuja inteligência faz dele um agente livre da Natureza. Não é a Natureza que cria as doenças, mas sim, o homem. A missão e o destino deste é morrer de morte natural causada pela velhice. Excetuando os acidentes, nem um selvagem nem um animal selvagem (livre) morrem de enfermidades. O alimento, as relações sexuais e a bebida são todas necessidades naturais da vida; todavia, o excesso deles traz a doença, miséria, sofrimento mental e físico, e os últimos são transmitidos como os maiores males para as futuras gerações, prole dos culpados.
A ambição, o desejo de assegurar felicidade e conforto para aqueles que amamos, pela obtenção de honrarias e riquezas, são sentimentos naturais elogiáveis; mas, quando eles transformam o homem em um tirano ambicioso e cruel, em um miserável, em um empedernido egoísta, eles trazem incontáveis misérias para aqueles que estão ao seu redor, tanto em nações como em indivíduos. Tudo isso, pois, o alimento, a riqueza, a ambição e mil outras coisas mais, que temos de omitir, se torna na fonte e causa do mal, seja pela sua abundância, seja pela sua ausência.
A principal causa de quase dois terços dos males que acossam a Humanidade – desde que essa causa se converteu numa potência – é a religião, sob qualquer forma e em qualquer nação. É a casta sacerdotal, o clero e as igrejas. São nessas ilusões, que o homem olha como sendo sagradas, onde ele deve buscar a fonte dessa multidão de males que são a grande maldição da Humanidade e que quase aniquilam o gênero humano. A ignorância criou os deuses; a astúcia aproveitou a oportunidade. Olhem a Índia, olhem a Cristandade, olhem o Islã, olhem o Judaísmo e olhem o Fetichismo. Foi a impostura sacerdotal que tornou esses deuses tão terríveis para o homem; é a religião que faz dele um intolerante egoísta, o fanático que odeia todo ser humano que não pertença a sua própria seita, sem que isso o torne melhor ou mais moral. É a crença em Deus (e Deuses) que faz dois terços da Humanidade escravos de um pequeno número dos que enganam sob o falso pretexto de a salvar.
Lembrai-vos de que a soma de miséria humana nunca será diminuída até o dia quando a melhor porção da Humanidade destruir – em nome da Verdade, da Moralidade e da Caridade universal – os altares dos seus falsos deuses.
Citação do 'Mahavagga'6: Quando a natureza real das coisas se torna clara para o 'Bhikshu' que medita (meditação no sentido de significar as qualidades super-humanas, não sobrenaturais, do estado de 'Arhat', nos seus mais elevados poderes espirituais) então todas as suas dúvidas se evanecem porque ele aprendeu o que é essa natureza e qual a sua causa. Da ignorância brotam todos os males. Do conhecimento vêm a cessação desta massa de miséria, e então o 'Brahmana' meditante se ergue dispersando as hostes de 'Mara', como o Sol que ilumina o céu.
Continua: Segunda Parte
_____
Notas:
1. Em um artigo intitulado Mahatmas e Chelas (The Theosophist, julho de 1884) H. P. Blavatsky explica: Um Mahatma é um personagem que, por meio de educação e treinamento especiais, desenvolveu aquelas faculdades superiores e atingiu aquele conhecimento espiritual que a Humanidade comum adquirirá depois de passar por séries inumeráveis de encarnações durante o processo de evolução cósmica, desde que, naturalmente, neste meio tempo, ela não vá contra os propósitos da Natureza...
2. Alfred Percy Sinnett (18 de janeiro de 1840 - 26 de junho de 1921) foi editor do jornal oficial do governo da Índia, The Pioneer de Allahabad, escritor e teósofo, e, posteriormente, presidente da Loja de Londres da Sociedade Teosófica. As Cartas dos Mahatmas, que geraram a controvérsia que mais tarde contribuiu para a divisão da Sociedade Teosófica, foram escritas majoritariamente para Sinnett. Em 1881, Sinnett escreveu O Mundo Oculto, e em 1883, Budismo Esotérico. A Oitava Esfera, segundo Rudolf Steiner, foi considerada um segredo até que Mr. Sinnett a mencionasse. A Oitava Esfera é uma espécie de resto ou sobra proveniente da antiga Lua (3ª Esfera) derivada de seu desenvolvimento como antecessora da Terra, e, portanto, (ainda) tem alguma relação com a Terra. O termo decorre do fato de existirem sete esferas conhecidas há muito tempo: Saturno, Sol, Lua, Terra, Júpiter, Vênus e Vulcano. A Oitava Esfera, segundo Steiner, só pode ser atingida pela clarividência imaginário-imaginativa. Ela é uma etapa tardia do desenvolvimento da Lua, ou seja, algo que foi deixado para trás pela Terceira Esfera de sua substancialidade e retido pelas entidades luciféricas e arimânicas. Lúcifer e Arimã, segundo o Fundador da Antroposofia, estão ininterruptamente empenhados em arrancar da Terra e do homem tudo que possa ser incorporado e escravizado à Oitava Esfera, até o dia em que, vibratoriamente, a Terra possa se desprender ou se desligar dessa influência, quando, então, essa Oitava Esfera percorrerá caminhos próprios com Lúcifer e Arimã no comando, e a Terra se dirigirá em direção a Júpiter para mais um ciclo evolutivo em uma dimensão superior e mais refinada. Como tem sido anunciado, possivelmente o início dessa Grande Transformação se dará no mês de fevereiro de 2034. A luta Daqueles que Podem e Sabem tem sido efetivada no sentido de impedir que o desenvolvimento da Humanidade se esvaia no seio da Oitava Esfera e tome outro curso. Mas, infelizmente, isso não será possível para o conjunto dessa mesma Humanidade. Muitos já se entregaram ao domínio de Lúcifer e Arimã, e outros ainda se entregarão. Porém, aqueles que permitem que o princípio do amor (presente na reprodução e na hereditariedade) norteie seus pensamentos, suas palavras e seus atos nada têm a temer, pois as entidades luciféricas e arimânicas nada podem contra o amor. Associativamente ao princípio do amor está vinculada a liberdade de querer, que não havia em Saturno, no Sol e na Lua. Foi apenas no período terrestre que ela se manifestou. Logo, amor e liberdade são as chaves efetivas para que o homem possa fazer valer sua vontade e seu discernimento e não ceder aos apelos magnetizantes e escravizantes das entidades da Oitava Esfera. Como explica Rudolf Steiner, continuamente Lúcifer e Arimã estão ocupados em comprometer o livre-arbítrio do homem e simular uma porção de coisas, para depois lhe arrebatar o que haviam simulado, fazendo-o desaparecer na Oitava Esfera. E também: Todas as vezes que os homens se entregam ao fatalismo ao invés de se decidirem a partir de sua força [interior] de julgamento, mostram uma inclinação para a Oitava Esfera. Dante Alighieri (1265-1321), no Canto I do Inferno da Divina Comédia, que reproduz as concepções cosmológicas e teológicas da época, escreveu: Lasciate ogne speranza, voi ch'entrate! (Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!). A natureza intrinsecada da Oitava Esfera é contra o progresso e a evolução espiralar, e as ações luciféricas e arimânicas, por esse motivo, desenvolveram e vêm desenvolvendo sua maior força no ponto mais vulnerável do ser humano: a cabeça e o intelecto. É por isso, como foi dito acima, que só o amor pode fazer frente a esse conjunto de forças, e só o amor poderá transformar o homem em seu verdadeiro e único senhor, pois ele, o amor, é o passaporte universal e insubstituível para Júpiter. Isto que acabou de ser dito foi definitivamente impresso na consciência humana pela manifestação do Cristo na Terra e com o Supremo Sacrifício de Jesus, recusado, aviltado e fantasiado por muitos nos dias que correm. Uns estão presos ao pasado; outros admitem que o futuro começa apenas no presente. O Princípio Crístico veio unir, por meio do Amor Universal, os dois ilusórios e impossíveis extremos. Logo, ficar preso ao antes significa estar a serviço das forças luciféricas, e pensar que o depois começa apenas e a partir do agora é estar submetido às forças arimânicas, ainda que seja aqui e agora que esse inexistente, fictício e utópico futuro deva ser construído. Contradição? Não. Tudo é UM.
3. O Mestre Kut Hu Mi – KH (ou Koot' Hoomi Lal Singh) é Grande Mestre Adjunto da Grande Loja Branca da Grande Fraternidade Branca. Foi, em determinada época, conhecido na Terra como Thutmose III, do Egito, residindo em certo período no Lago Moeris (Morias). Era mencionado no Zend-Avesta como Iluminador, sendo também conhecido no Egito como Kroomata (Kai-Ra-Au-Meta), de cujo nome surgiu o vocábulo usado em rituais e saudações Rosacruzes - Cromaat. O Mestre KH passou por uma série de reencarnações (projeções) e foi, muitas vezes, personagem importante nesta Terra. Em sua mais recente encarnação (projeção) no Plano Terrestre viveu em um mosteiro e templo secretos perto de Kichingargha. Kut Hu Mi dava pouca importância (se dava alguma) a qualquer tipo de pompa ou reconhecimento exterior. Viveu de forma reclusa e há pouco material registrado sobre sua existência.
4. Ou Lei da Necessidade ou Lei da Reencarnação.
5. Lobisomem.
6. O Mahavagga – o Grande Livro – revela o caminho para a cessação do sofrimento e, por conseguinte, está vinculado à quarta nobre verdade, caminho de autoconhecimento proposto por Buddha que conduz ao Nirvana.
Bibliografia:
LEWIS, H. Spencer. Manual Rosacruz. 6ª edição. Coordenação de Maria A. Moura. Biblioteca Rosacruz. Volume especial. Rio de Janeiro: Renes, s. d.
SINNETT, Alfred P. O mundo oculto (A verdade sobre as cartas dos Mahatmas). Tradução de Alf Eyre. Brasília - DF: Editora Teosófica, 2000.
Páginas da Internet e Websites consultados:
http://www.levir.com.br/membros/membros7.php
http://www.levir.com.br/membros/ml/indexlt.htm
http://www.levir.com.br/membros/ml/intronotes.htm
http://www.extrabyte.info/img/moneta.gif
Música de fundo:
La Mer
Fonte:
http://www.damadanoite.adm.br/internacionais.htm