O
Codex
Gigas ou
Livro Gigante
(também conhecido como Bíblia
do Diabo) é um volumoso manuscrito produzido no
início do século XIII, em um monastério beneditino,
na região da Boêmia, na atual República Tcheca. O documento
passou a ser chamado de Bíblia
do Diabo devido às ilustrações contidas
em seu interior. É o maior manuscrito medieval do mundo, tendo sido
considerado, na época, a oitava maravilha do mundo, devido ao seu
impressionante tamanho (92 cm de altura, 50 cm de largura, 22 cm de espessura
e peso de 75 kg). Famoso por seu tamanho e sua impressionante representação
do diabo, o Codex
inclui toda a Vulgata
(versão
latina da Bíblia),
exceto os livros dos Atos
e do Apocalipse,
provenientes de uma versão pré-Vulgata.
Estão também incluídos a Enciclopédia Etymologiæ,
de Isidoro de Sevilha, Antigüidades
Judaicas e Guerras
dos Judeus, de Flávio Josefo, Chronica
Boemorum (Crônica
dos Boêmios), de Cosmas de Praga e vários tratados
sobre Medicina. Pequenos textos completam o manuscrito: alfabetos, orações,
exorcismos, um calendário com as datas de celebração
de santos locais, registros de acontecimentos relevantes e uma lista de
nomes, possivelmente de benfeitores e de monges do Mosteiro de Podlaice.
Todo o documento está escrito em latim. O manuscrito contém
figuras decoradas (iluminuras) em vermelho, azul, amarelo, verde e pan de
ouro. As letras maiúsculas que iniciam os capítulos estão
elaboradamente decoradas com motivos que, freqüentemente, ocupam grande
parte da página. O Codex
tem um aspecto uniforme, pois a natureza da escrita não é
alterada em toda a sua extensão, não evidenciando sinais de
envelhecimento, doença ou estado melancólico de espírito
de quem o escreveu. Isto levou a que se considerasse que todo o texto foi
escrito em um período de tempo muito curto. No entanto, atendendo
ao tempo necessário à marcação das guias de
delimitação das linhas e das colunas, à escrita do
texto e ao desenho e pintura das ilustrações, os peritos acreditam
que o livro terá levado mais de vinte anos para ser concluído.
De
especial interesse são as seções que testemunham a
origem boêmia do manuscrito e sua história repleta de acontecimentos.
No final do século XVI, o Codex
Gigas foi incorporado às coleções de Rudolph
II, da Casa de Habsburgo. Durante o cerco sueco de Praga, no final da Guerra
dos Trinta Anos (1618-1648), o manuscrito foi levado como despojo de guerra
e transferido para Estocolmo.
Mas,
por que, como e por quem a Bíblia
do Diabo foi escrita? Isto permanece um mistério até
os dias atuais. Diz a lenda que o livro teria sido escrito por um monge,
no século XIII, que temendo ser emparedado vivo por romper um código
monástico, teria prometido, em troca da suspensão de sua pena
e para glória de seu mosteiro – presumivelmente, como foi dito,
o Mosteiro Beneditino de Podlaice, na Boêmia (atual República
Checa) – escrever o maior manuscrito do mundo em apenas uma noite,
no qual estaria contido todo o conhecimento humano da época. Mas,
quando percebeu que não seria capaz de cumprir a sua promessa, o
monge, em troca da sua alma, teria pedido ajuda ao diabo... e a sua oração
foi atendida. Como suposto reconhecimento, o monge incluiu um retrato de
seu auxiliar na
página 290 no manuscrito – uma figura original de um diabo
com cerca de 50 cm de altura. Apesar desta lenda, o Codex
Gigas não foi proibido pela Inquisição,
tendo sido analisado por muitos estudiosos ao longo dos tempos. Estima-se
que aproximadamente cento e sessenta peles de asno foram empregadas na confecção
do livro. Para mim, isto, sim, é que é realmente demoníaco;
a obra nada tem de diabólica. Coitadinhos dos asninhos!