Aristóteles
Aristóteles

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Não devemos seguir os que nos aconselham a ocupar-nos com coisas humanas, visto que somos homens, e com coisas mortais, visto que somos mortais. Mas, na medida em que isso for possível, procuremos tornar-nos imortais e envidar todos os esforços para viver com o que há de melhor em nós; porque, ainda que seja pequeno quanto ao lugar que ocupa, supera a tudo o mais pelo poder e pelo valor.

 

Aristóteles
Ética a Nicômaco, Livro X

 

 

 

 

Introdução e Objetivo do Trabalho

 

 

 

– filho de Nicômaco, aluno de Platão e criador da Lógica – nasceu em Estagira em 384/383 a.C., colônia grega da Trácia, na fronteira com a Macedônia. A Trácia, na Antigüidade, abrangia as margens do Danúbio, o Ponto Euxino, o Mar de Mármara, o Mar Egeu e o Rio Nestos. Por volta dos dezoito anos, Aristóteles viajou para Atenas e ingressou na Academia de Platão (com o intuito de desenvolver e aprimorar sua espiritualidade), lá permanecendo por vinte anos, isto é, enquanto Platão viveu. Aristóteles morreu no exílio, em Calcis, em 322 a.C., com pouco mais de 60 anos de idade.

 

Sua obra se divide em dois grandes grupos: os escritos exotéricos (destinados ao grande público) e os escritos denominados de esotéricos (que constituíam o fruto e a base do seu pensamento mais íntimo e destinados apenas aos seus discípulos, contudo são destituídos dos componentes místico-iniciático e escatológico como os encontrados nas obras platônicas). Seu livro esotérico mais famoso é a Metafísica – constituído de catorze capítulos (ainda que para ela Aristóteles usasse as expressões 'Filosofia Primeira' ou 'Teologia' em oposição à 'Filosofia Segunda' ou simplesmente 'Física'). O Filósofo deu quatro definições para Metafísica: 1ª - ciência que indaga causas e princípios; 2ª - ciência que indaga o ser enquanto ser; 3ª - ciência que investiga a substância; e 4ª - a ciência que investiga a substância supra-sensível. Os conceitos de ato e potência, matéria e forma, substância e acidente possuem especial importância na Metafísica de Aristóteles. Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo: 1ª - a causa material (aquilo do qual alguma coisa é feita); 2ª - a causa formal (a coisa em si); 3ª - a causa motora (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge); e 4ª - a causa final (aquilo para o qual a coisa é feita). Para Aristóteles, todas as coisas são ou estão em potência ou em ato. Uma coisa em potência tende a ser outra; uma coisa em ato é algo que já está realizado. É interessante notar que todas as coisas, mesmo em ato, também são ou estão em potência. A única coisa total e exclusivamente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato Puro não é nada em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Deste conceito, Santo Tomás de Aquino, que bebeu inteiramente em Aristóteles, derivou sua noção de Deus, em que Deus seria Ato Puro.

 

Dentre os tratados de filosofia moral e política, encontra-se, entre outros, a Ética a Nicômaco (provavelmente publicado por seu filho Nicômaco ao qual o livro é dedicado), objeto principal desta coletânea de fragmentos. Utilizei para este estudo a publicação da Ética a Nicômaco traduzida por Leonel Vallandro e Gerd Bornheim (que tive o prazer conhecer pessoalmente) da versão inglesa de W. D. Rosá. A Ética a Nicômaco é a principal obra de Aristóteles sobre Ética. Nela o Filósofo expõe sua concepção teleológica e eudemonista (o Eudemonismo é uma teoria ou um sistema filosófico-moral segundo o qual o fim e o bem supremo da vida humana é a felicidade; é uma doutrina que considera a busca de uma vida feliz, seja em âmbito individual seja em âmbito coletivo, o princípio e o fundamento dos valores morais, julgando eticamente positivas todas as ações que conduzam o homem à felicidade) de racionalidade prática, sua concepção da virtude como mediania (o meio-termo) e suas considerações acerca do papel do hábito e da prudência na Ética. Em Aristóteles, toda racionalidade prática é teleológica, quer dizer, orientada para um fim (ou um bem, como está no texto). À Ética cabe determinar qual a finalidade suprema (o Svmmvm Bonvm) que preside e justifica todas as demais e qual a maneira de alcançá-la. Esta finalidade suprema é a felicidade (eudaimonia), que não consiste nem nos prazeres, nem nas riquezas, nem nas honras, mas em uma vida virtuosa. A virtude, por sua vez, se encontra em um justo meio entre os extremos, que será encontrada por aquele dotado de prudência (phronesis) e educado pelo hábito no seu exercício. É importante que se compreenda que a virtude, na época dos gregos, não é idêntica ao conceito atual, muito influenciado pelo Cristianismo. A virtude era entendida no sentido da excelência de cada ação, de fazer bem feito, na justa medida, cada pequeno ato.

 

Contudo, mais do que tratados de filosofia moral e política, também se pode dividir a obra do Estagirita em cinco grupos, a saber: escritos lógicos, escritos sobre a Física, escritos metafísicos, escritos morais e políticos e escritos retóricos e poéticos.

 

A educação [paidéia] tem raízes amargas, mas os frutos são doces, dizia Aristóteles. Como professor, estou parcialmente de acordo com esta reflexão aristotélica. Os frutos da educação – às vezes (ou muitas vezes) – podem ser amargos e tenebrosos, mais do que as próprias raízes. A bomba nuclear e outros brinquedinhos usados nos jogos de guerra não saíram da cartola de um mágico, pois não? Mas, se o sofrimento for considerado um aprendizado, então tudo pode ser considerado relativamente doce. Para esta percepção já tive oportunidade de citar Mâ Ananda Moyi (1896-1982), e citarei novamente: Jo ho jâye (O que acontece é desejado e bom). Mas isto não significa que não devamos lutar para vencer nossas imoderações-ignorâncias, e que, por covardia, locupletação ou acomodação nos entreguemos aos nossos desejos, paixões e misérias astrais, bem assim aos poderosos (como inocentes úteis ou inúteis) para sermos simplesmente utilizados como bucha de canhão ou mesmo sacrificados. A própria conivência e mesmo a indiferença são incompatíveis com a liberdade, com a autodeterminação e com a (presumida) trajetória ascensional do ente enquanto ente.

 

Reflita rapidamente sobre as antinomias abaixo, entre tantas outras, que permeiam toda a obra do Estagirita. Ao invés de vício eu prefiro o vocábulo-conceito ignorância. É a ignorância que provoca o círculo vicioso do sofrimento, que no aristotelismo é definido como falha lógica que consiste em se alcançar dedutivamente uma proposição por meio de outra que, por sua vez, não pode ser demonstrada senão através da primeira. Estou convencido de que vencida a ignorância que alimenta o(s) agente(s) viciador(es), o círculo vicioso é transmutado em um círculo virtuoso ascensional, libertador e iluminador. Talvez, ao invés de círculo virtuoso, se deva pensar em uma espiral virtuosa ascensional, libertadora e iluminadora.

 

 

VÍCIOS  E  VIRTUDES
Imoderação
Temperança
Temeridade
Prudência
Covardia
Coragem
Avareza
Liberalidade
Vaidade
Desvaidade
Vileza
Dignidade
Indiferença
Solidariedade
Descortesia
Delicadeza
Indolência
Presteza
Fatuidade
Modéstia
Malignidade
Benignidade
Inveja
Desapego
Injustiça
Justiça
Indecorosidade
Decorosidade

 

 

É importante, entretanto, ficar esclarecido que no sistema aristotélico, a Ética é uma ciência menos exata na medida em que se ocupa com assuntos passíveis de modificação. Ela não se ocupa com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas de aquilo que pode ser obtido por ações repetidas, de disposições adquiridas ou de hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu objetivo último é garantir ou possibilitar a conquista da felicidade. Contudo, como já tive oportunidade de discorrer sobre essa matéria em outros ensaios, apenas direi agora que esse entendimento trivial, para mim, contrariamente, define o que seja (ou o que possa ser) a Moral (que é humana, construída pelos seres humanos e que, muitas vezes, é apenas de conveniência humana, por ser humana), não a Ética (que é Cósmica e está além da vontade e da interferência humanas por ser impessoal e inconsciente de si mesma). A Ética (filha do Svmmvm Bonvm) é simplesmente inalcançável e incompreensível no seu todo para o homem enquanto estiver encarnado neste Plano, e, penso que jamais poderemos ter acesso integral à Ética Cósmica. Logo, a Ética<—>(Summum-Bonum) não pode ser confundida com a Moral nem pode ser sinônimo de Moral, ainda que esta, ao longo da história da Humanidade, venha tentando ser inspirada na Ética e pela Ética. Logo, como a Ética poderá ser passível de modificação como propõem e defendem aqueles que têm um entendimento diferente? E a felicidade [eudaimonia] (melhor seria grafar com F maiúscula), como propôs Aristóteles, não se conquista porque não pode ser conquistada; ela é pura e simplesmente uma decorrência. Simbolicamente, conquista-se o Castelo... Mas, como tudo é mudança e movimento... E se tudo é mudança e movimento, nada pode existir no homem (e em nada) que seja essencial e imutável, que, ao longo do tempo, por exemplo, geralmente tentou fazer negócios com os deuses que lhe impuseram, e que ele, homem, por uma mistura básica de conveniência + medo, aceitou, engoliu e se tornou dependente e docilmente cabresteado.

 

Enfim, todas essas especulações e incompreensões decorrem de diversos fatores, mas os dois principais são a fé degenerante e a razão obliterante. Deixo a seguinte pergunta para reflexão: Desde sempre, quantos milhões de pessoas foram torturadas e assassinadas em nome da fé e da razão para sustentação de uma moral (política, teológica etc.) – apelidada de ética – mutável de acordo com as predileções esquizofrênico-racionais e com as ancoragens estupidificante-fideístas dos seres humanos, em geral, e dos donos do poder, em particular? Portanto, a Ética é possivelmente exata; a Moral é certamente inexata. E é impossível que alguém possa ser feliz simplesmente porque é um ser moral, qualquer que seja a base de sua moralidade. O simplesmente não adianta nada. Pior é quando o simplesmente é baseado no medo covarde ou na conveniência hipotética.

 

Recordando: admito que ninguém desconheça o que foi a 'Santa' (sangueira absurdo-hipotética) Inquisição Católica e que também não tenha esquecido, por exemplo, o que representaram para a Humanidade o Movimento Nacional-socialista (Nazismo) – fundado e liderado na Alemanha por Adolf Hitler (1889-1945) et caterva sob e com o silêncio do Papa Pio XII – e o Fascismo – regime estabelecido na Itália por Benito Mussolini (1883-1945) et caterva com o apoio do rei Vittorio Emanuelle III e com a simpatia do Estado do Vaticano e de Sua Santidade o Papa Pio XI (que chegou a afirmar ele [Benito Mussolini] está sob a completa proteção de Deus, depois de o tirano italiano ter escapado ileso de dois atentados) – que foi estruturado (igualzinho ao Nazismo) para apoiar, validar e sustentar um governo trevoso-autocrático-ditatorial centralizado na figura do piccolino Duce, que avisou na década de trinta: Il Fascismo non vi promette nè onori, nè cariche, nè guadagni, ma il dovere e il combattimento. Adolf Hitler, aos berros-'gesticulosos', disse e, desumanamente, fez coisas piores. O troco dos aliados e particularmente de Winston Churchill (1874-1965) – um dos Três Grandes – para esses dois déspotas foi blood, toil, tears and sweat. Muito toil e muito sweat. No seu primeiro discurso como Primeiro Ministro, em 13 de Maio de 1940, à House of Commons, Churchill disse: I have nothing to offer but blood, toil, tears and sweat. A Inglaterra sangrou, mourejou, chorou e suou, mas, com o apoio dos aliados, ganhou a maldita Guerra. Adolf Hitler acabou se matando e sendo incinerado (há quem especule que não); Benito Mussolini foi morto de cabeça para baixo (aí não dá para especular, pois as fotografias comprovam o episódio). Pode-se, aqui, pensar em moral ou em ética nazi-facista? Ora, em nenhuma das duas; pura e simplesmente tudo foi uma 'cabrestação' ignorante, 'desfraternizante' e deformante.

 

É preciso que fique claro que o arianismo nunca foi, não é e jamais poderá ser estruturado em uma simples, absurda e presumida superioridade dos homens brancos (ou de outra etnia) pressupondo uma descendência do antigo povo ariano. Agora, se se quiser pensar em um Arianismo Místico, ele é obviamente outra coisa, e não implica, obviamente, em qualquer tipo de preconceito ou na interrupção de quaisquer conexões. Ao contrário do generalizado, as tribos Arianas não possuíam, em maioria, olhos azuis, cabelo louro, ou alta estatura, características, todas elas, Germânicas e Nórdicas, embora muitas tribos Arianas se tenham misturado com ambas, assim como todos os povos pela Europa. Para ficar apenas com um exemplo, o Jesus histórico – que era essênio e misticamente um Iniciado Ariano jamais foi louro e não tinha olhos azuis. O fato inquestionável é que o arianismo político-belicista foi (e continua sendo) uma mera justificativa-tentativa transfigurada para dominação, como sucedeu na primeira metade do século XX. Hoje, neste Terceiro Milênio, maquiladamente, continuamos todos a assistir à mesma maluquice esquizofrênica. Foram (re)paridos nos conventículos das trevas até os conceitos políticos estapafúrdios de 'eixo do mal', de 'legítima defesa preventiva', de 'terra arrasada' e de 'assassinato seletivo' (maldades que não têm nada de novo, mas que agora são ditas descaradamente na mídia) para varrer da Terra quem for contra ou atrapalhar ambições imperialistas e expansionistas. O mais lamentável nessa avalanche de loucuras é que há religiosos e místicos que apóiam essas idéias. Como há religiosos que apóiam – via terror – o desmanche do Ocidente e vice-versa, como se a Terra pudesse ser dividida em duas metades.

 

 

 

 

Ou somos todos irmãos ou não somos todos irmãos. Se somos todos irmãos, todas as guerras são fratricidas; se não somos todos irmãos, elas são homicidas. Mas como o fratricídio é um homicídio, todos esses bestalhões belicistas são realmente quadruplamente homicidas, pois em qualquer guerra há assassinato de seres humanos, morte de animais e de microorganismos, destruição de vegetais e comprometimento do ar, da água e dos minerais. Isso para baratear o horror bélico e sem levar em conta outras perturbações que envolvem o nosso Sistema Solar, a nossa Galáxia e o Universo. Raios partam esses gajos! A vida responde com dor aos interesses tenebrosos da morte. Ou não? Mas, se este raciocínio estiver correto, não podemos reclamar dos tsunamis, dos furacões, dos tornados, das enchentes, dos vulcões, dos desastres, dos terramotos, dos desabamentos, das reivindicações trabalhistas, das greves, dos crestamentos citadinos, da violência urbana e rural, da febre aftosa, da tuberculose bovina, do HIV, do Vírus H5N1 da Gripe Aviária, do... da... etc., etc., etc. Em duas palavras: dos ajustamentos. Ou não? Afinal, somos nós que, direta ou indiretamente, fabricamos tudo isso. Ou permitimos que seja fabricado. Pergunta: o que a Ética poderá ter com tudo isso? Resposta: nada. Então, repetindo; a Ética<—>(Summum-Bonum) não pode ser confundida com a Moral nem pode ser sinônimo de Moral, ainda que esta seja, às vezes, inspirada por aquela.

 

Quase me esqueci do Estagirita! Seguindo. Todavia, curiosamente, hoje se sabe que Aristóteles depois de ter aderido ao platonismo critica-o crescentemente, mais ou menos a partir de seus quarenta anos, passando por uma posição Metafísica, para, finalmente, resvalar para o mais profundo desinteresse pela própria Metafísica, voltando-se para as ciências empíricas e valorizando os dados classificados e constatados empiricamente. Ou como explicam Reale e Antiseri: Em resumo, a história espiritual de Aristóteles seria a história de uma 'desconversão' do platonismo e da Metafísica e uma conversão ao Naturalismo e ao Empirismo. Portanto, a obra de Aristóteles não apresenta nem uma 'unidade literária' nem uma 'homogeneidade filosófica e doutrinária'; antes nasceu de sucessivas estratificações, ou seja, por uma hereditária cristalização de camadas superpostas, apresentando, por isso mesmo, diversas contradições (como, por exemplo, uma demonstração incontroversa e inexplicável de preconceito contra as mulheres, contra os escravos e contra os homossexuais), ainda que revele, inegavelmente, uma 'unidade filosófica de fundo'. De qualquer forma, Diógenes Laércio escreveu: Aristóteles foi o mais genuíno dos discípulos de Platão. E Dante, na Divina Comédia, sentenciou: Mestre dos que sabem. Eu, particularmente, discordo de Dante. Ainda que eu respeite Aristóteles, prefiro Platão que foi um autêntico Iniciado. De qualquer maneira, o que Aristóteles lavrou no Livro X, capítulo VII, da sua Ética a Nicômaco) foram efetivamente idéias preconceituosas contra as mulheres, contra os escravos e contra os homossexuais. Ou será que Aristóteles admitia que mulheres, escravos e homossexuais não poderiam se tornar imortais tanto quanto ele? Que pensava, realmente, Aristóteles a respeito da imortalidade? Para mim, tudo isso é um grande mistério que não consigo deslindar. Mistério triste, entenda-se.

 

Mas, com a morte de Aristóteles, seu sucessor imediato Teofrasto (que em 323/322 a.C. sucedeu o Estagitita no cargo de reitor da Escola do Perípatos mantendo-o até 288/284 a.C.) não compreendeu e não conseguiu fazer com que os freqüentadores do Perípatos (os peripatéticos) compreendessem os aspectos mais profundamente filosóficos do pensamento aristotélico, cabendo a Estratão de Lâmpsaco (dirigente do Perípatos de 288/284 a.C. a 274/270 a.C.) a ruptura final com o pensamento aristotélico. O renascimento do aristotelismo se deu com a edição sistemática dos escritos de Aristóteles por Andrônico de Rodes – décimo sucessor de Aristóteles – na segunda metade do século I antes de Cristo. Enquanto isso, os Iniciados sempre trabalharam em silêncio! Como continuam a trabalhar.

 

Finalmente, para concluir esta breve introdução, devo explicar três coisas relativamente à metodologia que empreguei para produzir este rascunho: a) editei, quando foi necessário, alguns fragmentos do pensamento aristotélico, contudo, obviamente, sem alterá-los; b) em alguns casos, aproveitei o fragmento aristotélico selecionado para comentá-lo, dar alguns exemplos com fatos da contemporaneidade e apresentar ligeiras reflexões místicas – cacoete de professor e de Rosa+Cruz; e c) este trabalho – não poderia ser diferente – está incompleto. Mas, ainda devo dizer que a escolha dos fragmentos da densa Ética Aristotélica recaiu, nomeadamente, sobre alguns temas pouco discutidos ou valorizados, de uma maneira geral, mas que interessam sobremodo aos místicos, ou seja, são propícios para reflexões de natureza mística. E assim – e por este principal motivo – mais uma vez repito: este estudo está consciente e absolutamente incompleto, principalmente se considerado sob o aspecto acadêmico. Mas, como foi preparado para místicos em geral e para Rosacruzes em particular, eu me dou por satisfeito da forma como está. Depois desta primeira parte, há uma segunda com outros fragmentos do pensamento de Aristóteles.

 

 

 

Primeira Parte
Ética a Nicômaco
(Fragmentos)

 

 

 

Aristóteles
Aristóteles
Detalhe de mosaico greco-romano.
Data: incerta. Colônia.
Romisch-Germanisches Museum.
http://greciantiga.org/img/out/i348.asp

 

 

O bem [agathon] é aquilo a que todas as coisas tendem. [As coisas realmente tendem para o Bem, ainda que o Universo não seja nem teleológico nem escatológico. Mas, o que é o Bem? A Teleologia é a doutrina que identifica a presença de metas, fins ou objetivos últimos guiando a Natureza e a Humanidade, considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização e nas transformações de todos os seres existentes no plano das realidades (temporais). A Escatologia é a doutrina das coisas que devem presumidamente acontecer no fim dos tempos. Teologicamente, a Escatologia trata do destino final do homem e do mundo, e, geralmente, se apresenta em tom profético e em um contexto apocalíptico. Então, acho que não errarei muito se concluir que tanto a Escatologia quanto a Teleologia interessam mais às religiões organizadas do que ao Misticismo Iniciático. O Bem, que na verdade não se sabe exatamente o que possa ser, independe de dogmas ou de doutrinas escatológicas e teleológicas.]

 

Os defeitos não dependem da idade, mas do modo de viver e de seguir, um após outro, cada objetivo que lhe depara a paixão.

 

'Ótimo é aquele que de si mesmo conhece [melhor seria dizer procura conhecer] todas as coisas; bom o que escuta os conselhos dos homens judiciosos; mas o que por si não pensa, nem acolhe a sabedoria alheia, este é, em verdade, uma criatura inútil.' (Hesíodo, Trabalhos e Dias, apud Aristóteles). [Ainda que isto seja uma norma geral e correta, no esoterismo ela é fundamental. Não se aprende nada no âmbito esotérico pela experiência alheia. Quando muito, são obtidas indicações. O esforço tem que ser – e só pode ser – pessoal. Por outro lado, pergunto: há criaturas inúteis? O que é inútil?]

 

Com uma opinião verdadeira todos os dados se harmonizam, mas com uma opinião falsa os fatos não tardam a entrar em conflito. [Que melhor exemplo se poderia escolher para esta afirmação aristotélica do que a miríade de deuses fabricados pelos homens e, em conseqüência, a miríade de religiões daí derivadas? O pior é que cada um quer que o outro aceite e admita o seu Deus como o verdadeiro. Mas, onde estará e qual será o verdadeiro Deus? Esteja onde estiver, se estiver, não engendra ou apóia qualquer tipo de discriminação, de vendetta ou de conflito. No seu Credo da Paz, Sâr Validivar sentenciou: Sou responsável pela guerra, se acredito que o deus de minha concepção é aquele em que os outros devem acreditar.]

 

Pode-se dizer que existem três tipos de vida: a vida dos gozos [hedonen], a vida política [politikos] e a vida contemplativa [theoretikos].

 

Falamos dos bens em dois sentidos: uns devem ser bens em si mesmos; e os outros, em relação aos primeiros.

 

Nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem [ariston teleion] é claramente algo de absoluto. [Por isto, Moral é uma coisa e Ética outra completamente diferente.]

 

Absoluto e incondicional é aquilo que é sempre desejável em si mesmo e nunca no interesse de outra coisa. [Kant denominou este entendimento de imperativo categórico.]

 

O homem nasceu para a cidadania. [Ou será que ele caminha para a Cidadania?]

 

O bem, no homem, aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude; e, se há mais de uma virtude, com a melhor e mais completa [teleias].

 

As coisas nobres e boas da vida só são alcançadas pelos que agem retamente.

 

Confiar ao acaso o que há de melhor e de mais nobre seria um arranjo muito imperfeito.

 

A nobreza de um homem se deixa ver quando aceita com resignação muitos grandes infortúnios, não por insensibilidade à dor, mas por nobreza e grandeza de alma. [Cervantes (1547 - 1616), em Colóquio dos Cães escreveu: A humildade é o fundamento de todas as virtudes e sem ela não há nenhuma que o seja.]

 

O homem verdadeiramente bom e sábio [emphrona] suporta com dignidade todas as contingências da vida, e sempre tira o maior proveito das circunstâncias...

 

Tornamo-nos justos praticando atos justos... Pelos atos que praticamos em nossas relações com os homens nos tornamos justos ou injustos...

 

Está em a natureza das coisas o serem destruídas pela falta [phtheireta] e pelo excesso [hyperboles]... e preservadas pela mediania.

 

Na alma se encontram três espécies de coisas: as paixões [pathe] (os apetites, a cólera, o medo, a audácia, a inveja, a alegria, a amizade, o ódio, o desejo, a emulação, a compaixão etc.), as faculdades [dynameis] (as coisas em virtude das quais somos capazes de sentir as paixões) e as disposições de caráter [exeis] (as coisas em virtude das quais nossa posição com referência às paixões é boa ou má). [Este entendimento de Aristóteles, smj, é, de certa forma, simplista ou simplificador, porque a constituição humana não se resume apenas em corpo e alma.]

 

A virtude do homem é a disposição de caráter que o torna bom e que o faz desempenhar bem a sua função.

 

Um mestre em qualquer arte evita o excesso e a falta buscando o meio-termo... A virtude deve ter o atributo de visar ao meio-termo... A virtude é uma espécie de mediania... Há na justiça [dikaiosynes] dois tipos de disposições, uma delas é o meio-termo... [No quadro abaixo podem ocorrer pequenas divergências conceituais. Por outro lado, para um místico, o que poderão representar o justo orgulho e a ambição justa? Misticamente também se deve tomar muito cuidado com a denominada justa indignação, para não fazer como eu que ainda, de vez em quando, me irrito e me indigno um pouco além da medida. O indignar-se justamente não pode dar azo a exageros. E por falar em misticismo, não se pode confundir HUMILDADE com humildade indébita ou improcedente. O humilde indébito e contumaz é um subserviente por natureza. Um místico deve ser humilde; jamais e sob qualquer alegação um humilde subserviente, indébito e contumaz. Um humilde subserviente, indébito e contumaz poderá ser tudo, menos um Iniciado. Há algum tempo, escrevi um texto denominado Em Torno da Questão da Humildade, que pode ser lido em:

http://paxprofundis.org/
livros/humildade/humildade.htm

 

Contudo, essa questão do justo meio-termo não pode ser considerada universal. O melhor exemplo que encontro para essa rápida reflexão que ora levanto é a fome mundial. A Organização das Nações Unidas sabe e revela que 6 (seis) milhões de crianças morrem a cada ano por causa da fome e de doenças ligadas à desnutrição, e os países ricos continuam inteiramente indiferentes para dar solução a esses problemas. Preferem fabricar bombas. Quando ajudam, a ajuda é pirotécnica, para aparecer na fotografia colorida, isto é, para inglês ver como é costume se dizer. Nesta matéria, portanto, não pode haver meio-termo, pois não se combatem problemas dessa magnitude com meias medidas. Sem ser catastrofista ou pessimista, acredito firmemente que está se esgotando o tempo para que a Humanidade proceda a um tipo de reengenharia internacional: terá que optar entre continuar a fabricar canhões e esquentar o Planeta e ser solidária. Se não quiser optar rapidamente, terá em curto prazo que optar mesmo não querendo. Epílogo: ou opta já, ou optará daqui a pouquinho, pois, inclusive, já começam a faltar alimentos.]

 

 

EXTREMO A
MEIO-TERMO
EXTREMO B
Confiança
Coragem
Medo
Intemperança
Temperança
Insensibilidade
Prodigalidade
Liberalidade
Avareza
Vulgaridade
Generosidade
Mesquinhez
Vaidade Oca
Justo Orgulho (?)
Humildade Indébita
Ambição
Ambição Justa (?)
Desambição
Irascibilidade
Serenidade
Pacatez
Arrogância
Veracidade
Falsa Modéstia
Insolência
Espirituosidade
Rusticidade
Lisonjaria
Amabilidade
Ranzinzice
Impudor
Modéstia
Acanhamento
Inveja
Justa Indignação
Despeito

 

Extremo A —> VIRTUDE <— Extremo B

 

 

 

Os homens são bons de um modo só, e maus de muitos modos.

 

Do excesso ou da falta não há meio-termo, como também não há excesso ou falta de meio-termo. O meio-termo é determinado pelos ditames da reta razão.

 

Se não dermos ouvidos ao prazer, correremos menos perigo de errar.

 

As pessoas que, agindo por ignorância, se arrependem do que fazem podem ser consideradas agentes involuntários; as pessoas que não se arrependem dos seus atos podem ser chamadas de agentes não-voluntários. Assim, tudo que se faz por ignorância é não-voluntário e o que produz dor e arrependimento é involuntário. Há, portanto, uma distinção entre agir por ignorância e agir na ignorância. [No fundo, smj, tudo é produto da ignorância. Mas, confundir pedra com pedra-pomes, como classificar? Portanto, por exemplo, a invasão do Iraque, a destruição da Palestina e a ocupação do Tibete não foram atos nem involuntários nem não-voluntários; foram inconcebível e maldosamente voluntários.]

 

O princípio motor está em nós. [E assim, somos responsáveis por tudo. Sem qualquer exceção.]

 

Ninguém é involuntariamente feliz, mas a maldade é voluntária. [Repetindo para fixar: somos responsáveis por tudo. Sem qualquer exceção.]

 

São as atividades exercidas sobre os objetos particulares que fazem [moldam] o caráter correspondente.

 

A morte é a mais terrível de todas as coisas, pois ela é o fim, e acredita-se que para os mortos já não há nada de bom ou de mau... Quanto mais virtuoso e feliz for o homem, mais lhe doerá o pensamento da morte... [É evidente que estes são dois excertos do pensamento aristotélico com os quais não posso concordar. Eles exemplificam, em parte e claramente, o porquê do afastamento – ou mesmo da 'desconversão' – de Aristóteles do platonismo e da Metafísica. Loucura especulativa: talvez se Platão (428 - 348/347 a.C.) tivesse vivido mais uns vinte anos e morrido com cem anos ao invés de com oitenta, o aristotelismo talvez também tivesse permanecido em potência. E, duplamente especulando um pouco mais, quem sabe a Svmma Theologica de Santo Tomás de Aquino (Roccasecca, 1225 – Fossanova, 1274) fosse mais platônica do que aristotélica, e o Catolicismo construído sobre o pensamento racionalista-tomista não tivesse se afastado tanto do Cristianismo gnóstico que o originou.]

 

Na justiça estão compreendidas todas as virtudes, e ela é a virtude completa no pleno sentido do termo... A justiça não é uma parte da virtude, mas a virtude inteira; nem é o seu contrário – a injustiça – uma parte do vício, mas o vício inteiro.

 

O menor mal é considerado um bem em comparação com o mal maior, visto que o primeiro [o mal menor] é escolhido de preferência ao segundo [o mal maior], e o que é digno de escolha é bom, e de duas coisas a mais digna de escolha é um bem maior. [Este fragmento, por si só, daria um ensaio completo, mas vou resumir minha inteira discordância com esta linha de especulação exemplificando com um ato terrorista. Os terroristas acreditam que matando mil poderão evitar a morte de cem mil, e assim tratam e vêem a vida meramente em termos estatísticos. Admitem estrategicamente os terroristas, portanto, que um carro-bomba ou um homem-bomba que explodam e matem pessoas inocentes, farão (ou obrigarão) com que seus opositores se acovardem ou se retraiam ante o horror produzido e provocado por uma devastação terrorista. Contudo, não tem sido assim. Raciocinam que mil mortes inocentes sejam um mal menor relativamente a cem mil ou a um milhão de pessoas que possam vir a morrer ou a sofrer por causa de uma invasão, de uma ocupação ou de uma espoliação sistemática (males maiores). A doutrina política do assassinato seletivo, por exemplo, também leva em consideração o mesmo princípio. Eu penso diferente. Não há mal maior ou mal menor. Mal é mal. Perversidade é perversidade. Sobrevalia é sobrevalia. Locupletação é locupletação. Guerra é guerra. Invasão é invasão. Ocupação é ocupação. Assassinato é assassinato. Terror é terror. Não há, assim, mal justificável, guerra justa, assassinato justo, terror justo e, conseqüentemente, mal menor. Tudo isso é ética e misticamente injustificável. Só nos vários e conflitantes entendimentos morais e teológicos (porque não há uma única moral nem mesmo uma única teologia, mas várias) poderão ser encontrados alguns tipos de amparos ou de justificações (isto é, os próprios amparos e as próprias justificativas) para essas decisões antagônicas (mas equivalentes), e, portanto, no confronto de morais e de teologias, se justificam – em si e por si os atos e os sacrifícios belicistas e terroristas. Agora, a amputação de uma perna gangrenada é mesmo um mal menor ou mesmo um bem [agathon], e é melhor (e necessário) amputar uma perna infectada do que morrer por causa da infecção.]

 

A ação justa é intermediária entre o agir injustamente e o ser vítima de injustiça. A Justiça é uma espécie de meio-termo, porque se relaciona com uma quantia ou quantidade intermediária, enquanto a injustiça se relaciona com os extremos. Justiça é aquilo em virtude do qual o homem justo pratica, por escolha própria, o que é justo, e que distribui, seja entre si mesmo e um outro, seja entre dois outros, não de maneira a dar mais do que convém a si mesmo e menos ao seu próximo (e inversamente no relativo ao que não convém), mas de maneira a dar o que é igual [o meio-termo entre o que é injusto para mais e o que é injusto para menos] de acordo com uma proporção justa; e da mesma forma quando se trata de distribuir entre duas pessoas. A injustiça, por outro lado, guarda uma relação semelhante para com o injusto, que são o excesso e a deficiência, contrários à proporção, do útil ou do nocivo. Na ação injusta, ter demasiado pouco é ser vítima de injustiça, e ter demais é agir injustamente. [No âmbito do Misticismo Iniciático não há nada mais detrimentoso, nocivo e prejudicial do que o(s) excesso(s), e, neste caso, os excessos – para mais, ou para menos – só levam a um (anti)resultado: irrealização. O misticamente sadio é o meio-termo.]

 

 

 

 

As disposições em virtude das quais a alma possui a verdade – quer afirmando, quer negando – são em número de cinco: a arte, a cognição [ou razão] científica, a sabedoria [ou experiência] prática, a sabedoria [ou razão] filosófica e a razão [ou Sabedoria] intuitiva. [Aqui Aristóteles mantém os dois últimos níveis de razão ensinados do platonismo (entendimento ou razão discursivo-científica – cognição ou razão científica ou conhecimento científico para Aristóteles – e inteligência ou razão filosófico-intuitiva sabedoria filosófica para Aristóteles) como estão definidos em A República, de Platão, como dianoia e noesis, mas colocando intermediariamente a Sabedoria ou experiência prática (deliberar bem, na Ética aristotélica) e acrescenta como diferenciador o nível intuitivo para além da própria inteligência ou razão filosófico-intuitiva platônica, talvez, smj, uma supranoesis(!) ou uma noesis mais refinada que, como explica Aristóteles, apreende os primeiros princípios (que, no final, refere-se ao mesmo conceito platônico, porque não poderia ser diferente). Eu, como tenho afirmado em outros trabalhos e em virtude de ser um estudante Rosacruz, descomplico tudo isso: primeiro, não compreendo que possa haver uma verdade definitiva ou absoluta (nem mesmo os meus conceitos de bem, de beleza e de justiça são absolutos e definitivos), e, segundo, por isto mesmo, penso que o alcançamento da inalcançável verdade seja um processo ininterrupto e modificativo (ou melhor, alquímico-aprimorador), cuja via insubstituível seja a transrazão (nível no qual nem a razão e nem a própria personalidade do ente enquanto ente podem ou conseguem interferir, ou seja, apenas podem apreender, isso quando logram decodificar o apreendido, para, então, promoverem juntas – razão e personalidade as necessárias mudanças pessoais e coletivas – quando for o caso no Plano de suas respectivas atuações), que é, em si, superior tanto à sabedoria (ou razão) filosófica, quanto à sabedoria (ou razão) intuitiva, como propõe Aristóteles, e que para Platão, smj, eram uma só e a mesma coisa. Finalmente, entendo que a Iniciação Mística só possa se dar no Nível ou Plano Transracional.]

 

 

 

 

 

 

A Sabedoria deve ser o resultado da razão intuitiva combinada com o conhecimento científico – uma ciência dos mais elevados objetos que recebeu, por assim dizer, a perfeição que lhe é própria. [Fica a pergunta: haverá perfeição? Pois, o que é perfeito não necessita de aprimoramento, e isto, simplesmente, representaria o fim de um processo que não tem fim – como também não teve começo. Conclusão: a perfeição, como o fim do que quer que seja, não pode existir.]

 

A Sabedoria filosófica, que é superior à sabedoria prática, é um conhecimento científico combinado com a razão intuitiva daquelas coisas que são as mais elevadas por natureza. A sabedoria filosófica produz felicidade, porque sendo ela uma parte da virtude inteira torna um homem feliz pelo fato de estar na sua posse e de se atualizar. Por outro lado, a obra de um homem só é perfeita quando está de acordo com a sabedoria prática e com a virtude moral. [Mesmo comentário do fragmento anterior.]

 

As disposições morais a ser evitadas são de três espécies: o vício, a incontinência e a bruteza. Os contrários de duas delas são evidentes: a um chamamos virtude e ao outro continência. À bruteza, o mais apropriado seria opor uma virtude sobre-humana, uma espécie heróica e divina de virtude como a que Príamo atribui a Heitor em Homero, dizendo: 'Pois ele não parecia o filho de um homem mortal,/Mas alguém que viesse da semente dos deuses.' [Ilíada, XXIV, 258 ss.]

 

A boa fortuna, quando em excesso, é um obstáculo... pois que o seu limite é fixado com referência à felicidade.

 

Todas as coisas contêm em si, por natureza, algo de divino. [Daí o aforismo: Somos todos um.]

 

Não existe coisa alguma que seja sempre agradável. [Este fragmento também daria um ensaio completo, particularmente se objetivasse analisar o porquê de uma grande quantidade de pessoas que busca a Iniciação desiste no meio do Caminho (às vezes desiste no começo, às vezes já quase no final). Ora, as desistências advêm de variadas ordens de conflitos que não examinarei neste momento; mas resumirei todos os conflitos possíveis e os simbolizarei com a imagem de um copo: um copo cheio de água simplesmente transborda. E há copos de todos os tamanhos. E há, ainda, copos que têm uma certa vocação-predileção para transbordar primeiro pelo lado esquerdo. E mais: algumas vezes, o que parecia ser agradável, no âmbito da Iniciação, pode dar origem a dissenções e/ou traições. O fato é que a Peregrinação Iniciática – ilusão de muitos em si, não é agradável nem desagradável: é neutra. A agradabilidade ou a (agradabilidade)–1 vai de cada um e de como cada um reage às dificuldades inevitáveis da Senda Iniciática. De qualquer forma, a Peregrinação Iniciática é incompatível com a vaidade, a incontinência, a intemperança, a desobediência, o autoritarismo, a curiosidade, a pressa, o locupletamento etc. Em suma: com qualquer imperativo hopotético. Daí, muitas desistências, diversas 'desconversões' e algumas traições. Não há mesmo, considerando desta forma e como pensava Aristóteles, coisa alguma que seja sempre agradável. Quem espera da Via Iniciática apenas flores sem espinhos e céu de brigadeiro haverá de se decepcionar muito. Usando uma linguagem menos formal direi que nessa Via prestigiosa que escolhemos não há nem poderá haver moleza.]

 

De que serve a prosperidade sem um ensejo de fazer o bem?

 

A amizade entre os bons – e só ela – é invulnerável à calúnia.

 

Uma vida virtuosa exige esforço e não consiste em divertimento.

 

 

 

Segunda Parte
(Outros Fragmentos)

 

 

 

O infinito é a falta de limite, logo, a concepção do mal. [Independentemente do fato de a falta de limite ser ou não ser a concepção do mal, a categoria infinito é uma coisa e a categoria ilimitado é outra. Já ponderei, em outros ensaios, que o Universo não pode ser infinito, pois isto redundaria em permanente produção-criação de matéria universal, o que é mística e cientificamente um absurdo, pois, como ensinou Sâr Alden, para o Ser nunca houve começo, pois o Nada não pode dar origem a alguma coisa. Metafisicamente, pode-se pensar em um Universo Ilimitado, mas não infinito. Seja como for, quando perguntavam ao Senhor Buddha como havia sido criado o Universo, Ele respondia: — O átomo não pode compreender o Cosmos.

 

É necessário admitir, em princípio, que as ações honestas e virtuosas, e não apenas a vida comum, são a finalidade da sociedade política.

 

O verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre. [Ah!, eu não posso concordar com isto de jeito algum! Não comentarei esta obviedade-escorregadela de Aristóteles, mas sei que, no meu caso, não tenho e não terei jamais a intenção de superar aqueles que me transmitiram alguma coisa. Por que eu haveria de tentar superar ou de querer superar Akhnaton? Por que eu haveria de tentar superar ou de querer superar Sâr Alden? Por que eu haveria de tentar superar ou de querer superar Sâr Validivar? Só a ilusória individualidade pode quimerizar ultrapassagens em qualquer sentido. Somos todos Um.]

 

Meu melhor amigo é aquele que, ao me desejar boas coisas, o faz para o meu bem.

 

Deus é demasiado perfeito para poder pensar em outra coisa senão em si próprio. [Aqui está uma clara transferência equivocada de um conceito humano para uma presumida divindade que Aristóteles não conheceu, e que ninguém poderá conhecer, porque inexiste como tal. O que existe são deuses egregórico-coletivos criados e inventados pelo ser-no-mundo. O único Deus, por assim dizer, que poderá ser conhecido é o nosso Deus Interior, e, certamente, não é um Deus egoísta que só pense em si próprio, pois, se assim fosse, não seria Deus, mas um demônio. Entretanto, é claro, que no processo de construção deste Deus Interior, o que ocorre, efetivamente, é uma espécie de Alquimia que transmuta nossos demônios multimilenares em um Deus, que, no tempo que não é tempo e que é tempo, acabará se tornando uno com todos os Deuses, pois, como já afirmei, a individualidade é uma ilusão. Para muitos, isto é duro de admitir, mas é assim que é.]

 

Em tudo o que fazemos temos em vista alguma outra coisa. [Hipoteticamente, sim; categoricamente, não.]

 

A primeira qualidade do estilo é a clareza.

 

Quando Aristóteles foi interrogado sobre o que havia aprendido com a Filosofia, disse: — A fazer, sem ser comandado, aquilo que os outros fazem apenas por medo da lei.

 

Deixe que cada um exercite a arte que conhece.

 

Geralmente são os bens que provêm do acaso que provocam inveja. [Haverá acaso?]

 

O homem prudente não diz tudo quanto pensa, mas pensa tudo quanto diz.

 

A base da sociedade é a Justiça. O julgamento constitui a ordem da sociedade: ora, o julgamento é a aplicação da Justiça.

 

A dúvida é o principio da Sabedoria. [A dúvida metódica é o método com qual o filósofo francês René Descartes (31 de março de 1596, La Haye en Touraine, França – 11 de fevereiro de 1650, Estocolmo, Suécia) procurou chegar à prova da existência de verdades absolutas, logicamente necessárias e de reconhecimento universal, tal como exige a defesa do dogmatismo por ele preconizada e defendida, na questão da possibilidade do conhecimento. Este método consistia da filtragem de todas as idéias, eliminando aquelas que não se afigurassem como verdadeiras e que fossem dúbias, e apenas retendo aquelas idéias que não suscitavam qualquer tipo de dúvida. Descartes para dar seguimento a este processo isolou-se no seu quarto durante vários dias em profunda reflexão. Réne Descartes, sendo dogmático, ou seja, acreditando na possibilidade de conhecer a realidade e de apreender mentalmente as suas características, apenas usou o processo da dúvida, enquanto método, para atingir o fim da descoberta de verdades absolutas, não se podendo lhe associar ou lhe conceder o estatuto de céptico, ou seja, da corrente oposta que nega a possibilidade de conhecer qualquer parte integrante da realidade. Assim sendo, com a dúvida a ser utilizada apenas temporariamente como método, a máxima associação que podemos fazer a Descartes com o Cepticismo é considerando-lhe um céptico moderado durante esta fase despoletada pelo seu processo de reflexão.]

 

É lícito afirmar que são prósperos os povos cuja legislação se deve aos filósofos.

 

Nunca decidas antes de ouvir ambas as partes. [Recentemente, escrevi um texto sobre o Budismo e o pensamento do Senhor Buddha. Um dos excertos foi este: Uma mente perturbada está sempre ativa, saltitando daqui para lá, sendo difícil de controlar; mas a mente disciplinada é tranqüila. Portanto, é bom ter sempre a mente sob controle. [Sim. Só controlando a mente será possível evitar ou minimizar possíveis erros de avaliação, como, por exemplo, o prejulgamento, coisa inaceitável que está acontecendo em muitas cabeças atualmente no Brasil, relativamente àquela monstruosidade que está sendo diariamente divulgada pela mídia como o Caso Isabella. Como escreveu Christiano Fragoso no texto Prejulgamento Induz Suspeição, o prejulgamento em que incorra um Magistrado transforma o processo em um jogo de cartas marcadas conspurcando a obra de realização da Justiça, de que somos todos operários. Decididamente, não devemos e não podemos dar vazão aos nossos instintos não satisfeitos, pois, todos são inocentes perante a lei, até que se prove o contrário. Por outro lado, também não devemos e não podemos nos esquecer jamais de que aos acusadores cabe o ônus da prova. Agora, o óbvio: se haveremos de compensar todos os nossos equívocos, haveremos de compensar também, oportunamente, todos os prejulgamentos que fizermos.]

 

A grandeza não consiste em receber honras, mas merecê-las.

 

Só há um princípio motor: a faculdade de desejar. [Supondo que isto seja verdade, o fato é que enquanto quisermos ou desejarmos, faremos parte da massa insatisfeita que cultiva a ilusória individualidade, permitindo que a fragmentação prevaleça sobre a Unidade, que o individual prevaleça sobre o coletivo e que o varejo prevaleça sobre o atacado.]

 

O homem livre é senhor de sua vontade e somente escravo de sua consciência.

 

Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito.

 

O que você tem capacidade de fazer, tem capacidade também de não fazer.

 

O começo de todas as ciências é o espanto das coisas serem o que são.

 

É bom não exercer qualquer profissão, pois um homem livre não deve viver para servir outro. [Aqui também não posso concordar com o Filósofo, pois, é claro, a liberdade independe do exercício de uma profissão. Na verdade, a liberdade independe de tudo.]

 

Nosso caráter é resultado de nossa conduta.

 

O egoísmo não é amor por nós próprios, mas uma desvairada paixão por nós próprios.

 

O prazer no Trabalho aperfeiçoa a Obra.

 

A Natureza tem horror ao vazio. [Por isto, não existe vazio.]

 

 

 

O amor é o sentimento dos seres imperfeitos, posto que a função do amor é levar o ser humano à perfeição. [Se considerarmos que acima do amor está a compreensão...]

 

O sábio procura a ausência de dor, e não o prazer.

 

Não há nada que envelheça tão depressa como um benefício.

 

Os avarentos entesouram como se devessem viver eternamente, e os pródigos dissipam como se estivessem à beira do túmulo.

 

De maneira evidente, o Estado está na ordem da Natureza e antecede ao indivíduo; pois, se cada indivíduo, por si a si mesmo, não é suficiente, o mesmo modo acontecerá com as partes em relação ao todo. Ora, o que não consegue viver em sociedade, ou que não necessita de nada porque se basta a si mesmo, não participa do Estado; é um bruto ou uma divindade. A Natureza faz assim com que todos os homens se associem. Ao que primeiro estabeleceu esta fórmula se deve o bem maior; pois se o homem, chegado à sua perfeição, é o mais excedente dos animais, também é o pior quando vive isolado, sem leis.

 

Todas as coisas são definidas por suas funções.

 

O que, especialmente, diferencia o homem é que ele sabe distinguir o bem do mal, o justo do que não o é.

 

O Estado é formado pela reunião de famílias.

 

A autoridade e a obediência não constituem coisas necessárias, apenas; mas, são também coisas úteis. Alguns seres, quando nascem, estão destinados a obedecer; outros a mandar.

 

Fica evidente, portanto, que a cidade participa das coisas da Natureza, que o homem é um animal político, por natureza, que deve viver em sociedade, e que aquele que, por instinto e não por inibição de qualquer circunstância, deixa de participar de uma cidade, é um ser vil ou superior ao homem. Este indivíduo é merecedor, segundo Homero, da cruel censura de um sem-família, sem leis, sem-lar. Pois ele tem sede de combates e, como as aves rapinantes, não é capaz de se submeter a nenhuma obediência.

 

O homem nada pode aprender senão em virtude do que já sabe.

 

Chamo demonstração o silogismo científico; chamo científico aquele silogismo com base no qual, pelo fato de possuí-lo, temos ciência.

 

Seria melhor, talvez, considerar o Bem Universal e discutir a fundo o que se entende por isto, embora tal investigação nos seja dificultada pela amizade que nos une àqueles que introduziram as Idéias. No entanto, os mais ajuizados dirão que é preferível – e que é mesmo nosso dever destruir o que mais de perto nos toca, a fim de salvaguardar a verdade, especialmente por sermos filósofos ou amantes da Sabedoria. Porque embora ambos nos sejam caros, a piedade exige que honremos a verdade acima de nossos amigos.

 

O homem, quando perfeito, é o melhor dos animais, mas é também o pior de todos quando afastado da lei e da justiça, pois a injustiça é mais perniciosa quando armada, e o homem nasce dotado de armas para serem bem usadas pela inteligência e pelo talento, mas podem sê-lo em sentido inteiramente oposto. Logo, quando destituído de qualidades morais, o homem é o mais impiedoso e selvagem dos animais, e o pior em relação ao sexo e à gula.

 

Em todas as artes e ciências, o fim é um bem, e o maior dos bens e bem em mais alto grau se acha principalmente na ciência todo-poderosa; esta ciência é a Política, e o bem em Política é a Justiça, ou seja, o interesse comum; todos os homens pensam, por isso, que a Justiça é uma espécie de igualdade, e até certo ponto eles concordam ,de um modo geral, com as distinções de ordem filosófica estabelecidas por nós a propósito dos princípios éticos.

 

O belo é o esplendor da ordem.

 

O menor desvio inicial da verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança.

 

O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido.

 

A alma é a causa eficiente e o princípio organizador do corpo vivente. [Os elementos constitutivos da realidade são, portanto, a forma e a matéria. A realidade, porém, é composta de indivíduos, substâncias, que são uma síntese de matéria e forma. Por conseqüência, estes dois princípios não são suficientes para explicar o surgir dos indivíduos e das substâncias que não podem ser atuados – bem como a matéria não pode ser atuada a não ser por um outro indivíduo, isto é, por uma substância em 'ato'. Daí a necessidade de um terceiro princípio, a 'causa eficiente', para poder explicar a realidade efetiva das coisas. A 'causa eficiente', por sua vez, deve operar para um fim, que é precisamente a síntese da forma e da matéria, produzindo esta síntese o indivíduo. Daí uma quarta causa, a 'causa final', que dirige a 'causa eficiente' para a atualização da matéria mediante a forma. Este comentário, que eu apenas concordo em parte, foi retirado da Página da Internet, cujo endereço é:
http://www.mundodosfilosofos.com.br/aristoteles.htm]

 

No fundo de um buraco ou de um poço, acontece descobrir-se as estrelas.

 

A Natureza não faz nada em vão. [Por isto, repito, não existe vazio.]

 

Haverá flagelo mais terrível do que a injustiça de armas na mão?

 

O ignorante afirma; o sábio duvida; o sensato reflete.

 

O erro acontece de vários modos, enquanto ser correto é possível apenas de um modo.

 

A esperança é o sonho do homem acordado.

 

Nada do que está em potência passa ao ato senão por outra coisa que está já em ato.

 

As revoluções não concernem a pequenas questões; mas nascem de pequenas questões e põem em jogo grandes questões.

 

A Democracia surgiu quando, devido ao fato de que todos são iguais em certo sentido, acreditou-se que todos fossem absolutamente iguais entre si.

 

Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura.

 

Que vantagem têm os mentirosos? A de não serem acreditados quando dizem a verdade.

 

A felicidade consiste em ações perfeitamente conformes à virtude, e entendemos por virtude não a virtude relativa, mas a virtude absoluta. Entendemos por virtude relativa a que diz respeito às coisas necessárias e por virtude absoluta a que tem por finalidade a beleza e a honestidade.

 

Qualquer pessoa pode se indignar. É fácil. Mas se indignar com a pessoa certa, no grau certo, no momento certo, pela razão certa e da forma certa – isso não é fácil.

 

Sócrates é meu amigo, mas sou mais amigo da verdade.

 

O homem ideal de Aristóteles: Ele não se expõe desnecessariamente ao perigo, uma vez que são poucas as coisas com que se preocupa o suficiente; mais está disposto, nas grande crises, a dar até a vida, sabendo que em certas condições não vale a pena viver. Está disposto a servir aos homens, embora se envergonhe quando o servem. Fazer um favor é sinal de superioridade; receber um favor é sinal de subordinação... Ele não toma parte em manifestações publicas... É franco quanto a suas antipatias e preferências, fala e age com franqueza, devido a seu desprezo por homens e coisas... Nunca se deixa tomar de admiração, já que a seus olhos nada é excelente. Não consegue viver com complacência para com terceiros, a menos que se trate de um amigo; a complacência é a característica de em escravo... Nunca tem maldade e sempre esquece e passa por cima das injustiças... Não gosta de falar... Não lhe preocupa o fato de que deve ser elogiado ou que outros devam ser censurados. Não fala mal dos outros, mesmo de seus inimigos, a menos que seja com eles mesmos. Seus modos são serenos, sua voz é grave, sua fala e comedida; não costuma ser apressado, pois não acha nada muito importante. Uma voz estridente e passos apressados são adquiridos pelo homem através das preocupações... Ele suporta os acidentes da vida com dignidade e graça, tirando o máximo proveito de suas circunstâncias, como um habilidoso general conduz suas limitadas forças com toda a estratégia da guerra... Ele é o melhor amigo de si mesmo e se delicia com a privacidade, ao passo que o homem sem virtude ou capacidade alguma é o pior inimigo de si mesmo e tem medo da solidão.

 

 

 

 




 

 

 

Bibliografia

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 2ª ed. Tradução coordenada e revista por Alfredo Bosi. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1982.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: — Os pensadores. 1ª edição. Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. D. Rosá. Porto Alegre: Editora Globo, 1973, pp.249-436.

LOGOS – ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA. vol. 1. Lisboa/São Paulo: Editorial Verbo, 1989.

MORA, José Ferrater. Diccionario de Filosofia. 8ª ed. Vol. 1. Madrid: Alianza Editorial, 1990.

REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia (Antigüidade e Idade Média). Vol. 1. São Paulo: Paulinas, 1990.

 

Páginas da Internet e Websites consultados:

http://pt.wikipedia.org/
wiki/%C3%89tica_a_Nic%C3%B4maco

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Eudemonismo

http://www.pensador.info/
autor/Aristoteles/

http://www.zaz.com.br/
voltaire/politica/aristoteles_politica.htm

http://www.consciencia.org/
aristoteles.shtml

http://pt.wikipedia.org/
wiki/M%C3%A9todo_da_d%C3%BAvida

http://pt.wikiquote.org/
wiki/Arist%C3%B3teles

http://www.mundodosfilosofos.com.br
/aristoteles.htm

http://afilosofia.no.sapo.pt/
Aristoteles.htm

http://www.consciencia.org/
antiga/arist.shtml

http://paginas.terra.com.br/
educacao/fisicavirtual/grandes/aristoteles.htm

http://www.hottopos.com/
videtur16/carlota.htm

http://www-groups.dcs.st-and.ac.uk/
~history/Mathematicians/Aristotle.html

http://www.consciencia.org/
antiga/aristjosemar.shtml

http://www.trigueiros.com.br/
filosofia/aristoteles.htm

http://www.suigeneris.pro.br/
direito_id_13.htm

http://greciantiga.org/img/out/i348.asp

http://pt.wikipedia.org/
wiki/Arist%C3%B3teles#.C3.89tica

http://jbonline.terra.com.br/
jseculo/1926.html

http://www.consciencia.org/
antiga/aristjosemar.shtml

http://www.geocities.com/
discursus/textos/nicomaco.html

 

Música de fundo: Desconheço o título e o autor da música.

Fonte:
http://www.bairrovilaolimpia.com.br/HTMSomMid
Digital/SomMidi/MidisGregasBVO/Gregas.htm