Neste
ensaio pretendo comentar e discutir (com toda a humildade e sabedor
de que não sou digno para fazê-lo) o primeiro capítulo
do livro Meus Últimos Dias - Diálogo com o Mestre
(Como Vencer o Diabo e Obter a Iluminação) de Vicente
Velado,
FRC
e Abade da Ordo
Svmmvm Bonvm
para o Terceiro Mundo. O livro foi dedicado pelo Autor aos Rosacruzes
— que chamaram sobre si o sofrimento para aumentar a Luz
da Humanidade — e ao dominicano Frei Rosário,
eremita na Serra da Piedade. Como sou Rosacruz e como recebi um exemplar
autografado de Meu Irmão Vicente Velado, penso que devo oferecer
minha contribuição aos pensamentos divulgados nesta obra.
Na realidade, pretendo, calmamente, examinar graficamente a obra inteira.
Entrego-me a estas reflexões com imenso prazer.
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DISSE
O MESTRE DE IOLANDA
THEREZINHA MARCIER
(MESTRE APIS) E DE VICENTE
VELADO:
Mestre
Apis (R+C) e +Vicente Velado (R+C)
HUMILDE
é aquele que ao carregar a sua cruz não
reclama do seu peso nem suplica que a tirem de cima de si, mas pede
forças para poder carregá-la.
HUMILDE
é aquele que tendo carregado a sua cruz nela se
deixa pregar sem desesperança.
HUMILDE
é aqule que tendo sido pregado na cruz compreende
que quem está crucuficado não pode se mexer.
HUMILDE
é aquele que diz: Não
estou aqui para fazer a minha vontade, mas, sim, a de Deus.
HUMILDE
é aquele que atribui a Deus tudo que há
de bom em si e atribui a si próprio tudo o que tiver de ruim.
HUMILDE
é aquele que obedece.
HUMILDE
é aquele que, ao prestar o serviço, se
reconhece como o mais incompetente operário para realizá-lo,
mas, assim mesmo, tenta dar o máximo de si para que a obra seja
boa.
HUMILDE
é aquele que ao ser insultado baixa os olhos e
se cala.
HUMILDE
é aquele que ao ser enaltecido diz que não
é digno de enaltecimento.
HUMILDE
é aquele que ao ser açoitado pelo infortúnio
diz: Obrigado Senhor, obrigado
por esta oportunidade de evoluir.
HUMILDE
é aquele que reconhece, com toda a humildade,
que não pode compreender a natureza de Deus, mas pode senti-la
em todo o seu Amor e sua Luz. Este é o HUMILDE que, finalmente,
conseguiu ser admitido no Primeiro Grau da Humildade.
COMENTÁRIOS
DE UM INDIGNO
Para
não reclamar do peso da cruz nem suplicar que esta lhe seja tirada
de cima dos ombros, o homem deverá ter compreendido que o único
responsável pela própria cruz e pelo seu peso é
ele próprio e mais ninguém. Não cai um único
fio de cabelo da cabeça de um ente, sem que ele seja, de uma
forma ou de outra, por isso responsável. São exatamente
as ilusões da encarnação — ambições,
desejos e paixões — que arrastam os seres para os infortúnios,
para as dores e para a crucifixão. Quanto mais o ser humano quiser
e desejar, mais sofrerá e mais dependerá desses sentimentos
ilusórios de vacância ou de incompletude. O que vem do
lado de fora só poderá satisfazer os sentidos exteriores
– expressões do corpo astral. E, tudo aquilo que for conquistado
desonestamente, pior, ou seja, mais duras serão as compensações
que deverão ser feitas pelas usurpações ilícitas.
Tudo que é obtido de modo indevido é ética e cosmicamente
vedado, ainda que possam existir amparos legais para determinadas aquisições.
Neste particular, não existe o diploma jurídico do direito
adquirido. E, por mais que haja choro e lamentação, a
cruz não será nem amenizada nem retirada dos ombros dos
defraudadores. Paz e compreensão a eles. Paz e compreensão
a todos nós.
Quem
se deixa pregar em uma cruz sem perder a esperança? Só
aquele que compreendeu que para Nascer é preciso Morrer. Enquanto
um ser for apegado à vida e aos bens materiais, morto está
pensando que está vivo. Enquanto seus objetos de desejo forem
seu objetivo de vida, a vida é morte em vida. É necessário
que, simbolicamente, a maçã seja devorada e plenamente
anabolizada. O que os homens entendem como vida, a Vida entende como
não-Vida, não se dando conta, também, estes mesmos
homens, de que morrem todos os dias ao dormir nascendo em um Plano que
não têm consciência, nem se lembram do que aconteceu
quando acordam. Em realidade, o ciclo diário é: morte
(ou não-vida), nascimento e renascimento novamente para a não-vida
ou morte inconsciente. Ou, de outra forma, e generalizando: adormecemos
e morremos para a não-vida, nascendo em um outro Plano, que pode
ser um reflexo da não-vida ou um reflexo da Vida Verdadeira;
despertamos, morremos no Plano em que estávamos durante o sono
e voltamos a nascer no Plano Terra, para morrermos ao pimeiro bocejo,
ou para darmos seqüência às vivências que tivemos
no âmbito do Plano-reflexo da Vida Verdadeira. Durante a vigília,
nosso Eu Interior geralmente está dormindo; quando dormimos,
nosso corpo físico descansa, mas nosso Ser Psíquico acorda
para vibrar e atuar nas oitavas com as quais está harmonizado.
Então, não creio que seja difícil imaginar que
o Ser Interno de um indivíduo de índole cruel, não
possa se manifestar nas mesmas faixas freqüênciais de zilhões
de hertzs das quais participam aqueles outros seres de boa índole.
Os próprios úteros em que foram gerados são distintos
em suas tessituras. Isto significa que o inferno que produzirmos aqui
será o mesmo inferno que viveremos do 'lado de lá'.
O contrário é igual e absolutamente válido. Logo,
simbolicamente, tanto o céu quanto o inferno somos nós
que produzimos com nossos pensamentos, verbalizações e
atitudes. Por isso, nossa crucificação somos nós
que produzimos. Nossa cruz somos nós que construímos.
Nossa crucificação é intransferível; somos
nós que teremos que vivenciá-la. O cálice não
poderá ser afastado. Teremos que beber os féis que produzirmos
até a última gota. Mas, aquele que compreendeu estas coisas
carregará a sua cruz e nela se deixa pregar sem desesperança,
pois já iniciou sua peregrinação
rumo ao cadinho da transmutação alquímica interior,
para construir definitivamente seu Mestre Perpétuo.
Quem
está Crucificado não pode se mexer. Sim,
não pode. Ninguém pode, pois toda crucificação
é iniciática, e a Vida se manifesta por intermináveis
ciclos iniciático-crucificadores. Há, contudo, dois tipos
distintos de crucificação. A crucificação
inconsciente e a crucificação consciente. A crucificação
inconsciente é aquela pela qual passa a maioria dos seres humanos,
ao se entregar à vanglória (vã-glória),
à acídia e seus filhotes (desespero, pusilanimidade, torpor,
rancor, malícia e divagação da mente) — como
ensinou Tomás de Aquino — à avareza e sua filha
predileta – a traição, à gula e à
impertinência de assassinar os animais e comê-los, aos desregramentos
com relação aos prazeres do sexo, à inveja etc.
Já a crucificação consciente é aquela bendita
crucificação à qual se entregam os Iniciados, pois
compreenderam que a LLUZ só pode
ser sentida no coração. Mas, para que isso possa acontecer,
renunciaram à vida para poderem entrar na Vida. E, entrar na
Vida implica em muitas coisas, como, por exemplo, renúncia à
vida e comprometimento místico-transmutatório com o karma
da Humanidade. De certa forma, a partir do momento em que o ser se torna
autoconsciente o crucificamento não tem mais fim. Mudam as formas
e os padrões crucificadores, mas não a crucificação
em si, pois, o maior ato de sacrifício é a própria
encarnação (em casos especiais personificação)
consciente por Amor à Humanidade. Os que assim compreenderam
não lamentam e não se movem.
HUMILDE
é aquele que diz: Não
estou aqui para fazer a minha vontade, mas, sim, a de Deus.
Do
Deus do seu Coração por ele projetado, e construído
(pela renúncia à vida) com água, areia, brita e
cimento colhidos em seu jardim cardáco, isto é, Prudência,
Justiça, Fortaleza e Temperança amalgamadas com a Disposição
Produtiva, a Sabedoria, a Prudência e a Reflexão Dialética
Espontânea, conforme ensinou Aristóteles. Ainda que esteja
consciente de tudo isso, o Crucificado-Iniciado sabe que muitas são
as tentações, muitas são as quedas e muitas são
as decepções. Mas, não desiste. Sabe que cair e
levantar, ser tentado e resistir e ser ofendido e não reagir
são parte de uma mesma e única experiência: a transmutação
de seus demônios amimados em Mestre-Deus-Eterno em serviço
perpétuo.
Aquele
que compreendeu que é o único responsável por suas
mazelas e derrotas foi certamente admitido no Átrio do Templo
da Divindade. Não pede nada para si, nem transfere responsabilidades.
Não culpa nem recrimina ninguém. Não julga as fraquezas
alheias, pois sabe que possui as mesmas fraquezas. Não acusa,
pois sabe que ao acusador, mais do que o ônus da prova, cabe cosmicamente
o ônus da acusação. E isto é gravíssimo.
Sabe, enfim, que se um dedo aponta e acusa, três dedos avisam:
os defeitos de teu irmão são teus também, enquanto
teu irmão pecar tu também és pecador e teu irmão
está em ti como tu estás nele.
HUMILDE
é aquele que obedece. Sim. HUMILDE é aquele que
obedece à Vontade e à Razão que descobriu como
Leis Eternas em seu interior e com elas deu início à construção
do único e verdadeiro Deus: o Deus-Mestre de seu Coração.
Mas, afinal o que é esta construção? Simplesmente
condescender com a Voz Insonora que fala em seu Coração.
Simplesmente aceitar que não é onipotente. Simplesmente
viver em harmonia com a Vida Verdadeira. Simplesmente entregar sua vida
ao serviço cósmico. Simplesmente morrer para a vida e
nascer para a Vida Eterna e Verdadeira. Simplesmente dominar os apelos
astrais e transmutar seus demônios em Beleza, Bem e Amor Incondicional.
Simplesmente projetar e construir diariamente (durante a vigília
e dormindo) o Ser de Luz que viverá na Eternidade. O que está
Selado com a Força e o Ideal da Paz Profunda e do Bem não
será dissolvido. Esta é a obediência mínima
que não é desobedecida nem renegada em nenhuma circunstância.
HUMILDE
é aquele que ao prestar o serviço se reconhece
como o mais incompetente operário para realizá-lo, mas
assim mesmo tenta dar o máximo de si para que a obra seja boa.
HUMILDE
é aquele que reconheceu que em seu interior o que vibra é
o Santo Espírito. Logo, ele sabe que não é nada
sem o Divino concurso do Santo Espírito. Nada mais interessa
a este Crucificado a não ser inspiração para poder
aprender e servir. Este Crucificado repete, assim, a cada momento que
é inspirado: Seja feita a Tua Vontade e não a minha. Que
a minha vontade seja indivisível com a Vontade. Que a minha razão
seja indivisível com a Razão. Que a obra que estou ajudando
a construir seja a Obra que deva ser construída, não a
obra que eu quero construir. Que meu Iniciador morra para sempre e meu
Mestre viva para todo o sempre. Está Selado. Mas este Crucificado
sabe e
se reconhece como o mais incompetente operário.
Quem
ofende fica com a ofensa quando quem é ofendido não reage.
Isto é evidente. Mas, ser ofendido em silêncio é
muito pouco. Na verdade é pior do que revidar à ofensa
recebida. O silêncio pode negro como a mais negra treva. Isso
é um perigo. Assim, o Crucificado, quando lhe impingem mais um
prego, pensa em silêncio: Mestres e Irmãos da Rosacruz
Eterna e Invisível: permitam que eu seja um canal de LLUZ para
esse Irmão que me fez sofrer. Determino, neste momento, que está
iniciada a transmutação da ofensa que me foi feita em
Amor, Reconciliação e Bem. E que eu possa auxiliar o Irmão
que me ofendeu a compreender sua ignorância. Paz a todos os seres
do Universo. Está Selado.
Não.
O Crucificado não vende sua alma. O Crucificado não aceita
quaisquer elogios merecidos ou imerecidos, porque sabe que o que é
presumidamente digno de elogios, não altera um pulso vibratório
com qualquer enaltecimento, veraz ou inautêntico. O exaltamento
não desassossega a personalidade do Iniciado, porque ele faz
o que faz porque o que deve ser feito é feito e será feito.
O elogio corrompe e enfraquece o homem que o recebe, porque, geralmente,
é hipócrita e é feito por hipócritas. Só
não enfraquece o Iniciado. O Iniciado é um Crucificado
consciente. Assim, as trevas da lisonja não iluminam às
avessas a sua obra — que é a Obra de seu Mestre Interior.
Adulações, carícias e afagos foram há muito
alquimizados em Tranqüilidade Interior, Serviço Desinteressado
e Paz Profunda. O que vem de fora não o corrompe nem o estimula.
A luz que ilumina sua vida é de outra natureza: é Luz
da LLUZ.
Obrigado
Senhor, obrigado por esta oportunidade de evoluir. Como
o Iniciado-Cruciifcado sabe que que TUDO É UM, sabe também
que não há fim em sua peregrinação em direção
ao Centro da LLUZ. Cada queda é
abençoada. Cada infortúnio é abençoado.
Cada cravo que é espetado em sua alma é abençoado.
Cada decepção é abençoada. Cada traição
é abençoada. Cada bofetada é abençoada.
Cada perda é uma conquista e um aprendizado. Cada descaso é
abençoado. Em suas orações sempre repete: Obrigado
Senhor, obrigado por esta oportunidade de evoluir.
HUMILDE
é aquele que reconhece, com toda a humildade,
que não pode compreender a natureza de Deus, mas pode senti-la
em todo o seu Amor e sua Luz. Este é o HUMILDE que, finalmente,
conseguiu ser admitido no Primeiro Grau da Humildade.
Sim,
porque a plena realização de Deus é uma impossibilidade.
Quando a construção desta compreensão começa
conscientemente não tem mais fim e jamais será concluída.
Este é, sim, o Primeiro
Grau da Humildade que jamais será
ultrapassado, porque a Humildade é uma, mas é crescente
em compreensão na peregrinação assintótica
do Iniciado-Crucificado Rosacruz rumo à Illuminação
Crucificadora.
ÚLTIMAS
PALAVRAS
É
muito difícil. É muito difícil — em determinadas
situações, dificílimo, mesmo impossível,
pelo menos para um micróbio como eu — cumprir o que o Mestre
de Soror Iolanda e de Frater Vicente — meus
Irmãos Rosacruzes — transmitiu, e o que estas reflexões
propuseram.
Compreendê-las, em si, já demanda um superlativo esforço
intelectual, que, a bem da verdade, pouco adianta. Qualquer compreensão
racional estará sempre eivada de equívocos de avaliação,
ainda que não possamos prescindir destas mesmas avaliações
e, particularmente, do processo dialético. Mas, é, tão-só
e exclusivamente, no domínio do Coração, que estas
coisas podem ser sentidas e — quem sabe! — compreendidas.
Vivê-las concertadamente é outra coisa. A todo momento
somos testados. No trabalho, em casa, em nossas relações
interpessoais, enfim, a vida se incumbe de nos pôr à prova
a cada momento. Se vergarmos ou sucumbirmos, não conheceremos
a Vida. Se dormirmos ou não nos esforçarmos, nossos demônios
continuarão a fazer a festa. Se desistirmos seremos reciclados
e perderemos a grande oportunidade de nos tornarmos — conscientemente
— a expressão manifesta do Cristo Cósmico. Peço,
assim, para todos primeiro e depois para mim, força e determinação.
Força e determinação para que possamos —
todos nós — ultrapassar nossas limitações
e alquimizar nossos leprosos. Está Determinado.
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Agnus Dei qui tollis peccata mundi, miserere nobis.
Agnus
Dei qui tollis peccata mundi, miserere nobis.
Agnus
Dei qui tollis peccata mundi, dona nobis Pacem et Lux.
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REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
VELADO,
Vicente. Da humildade. In: ____ Meus últimos dias: diálogos
com o Mestre (como vencer o diabo e obter a iluminação).
4ª edição. Rio de Janeiro, Editora Artesão,
1997, cap. 1, p. 9-21.
FONTE
DA TELA TRISTEZA
http://www.constancalucas.dialdata.com.br/tristeza.jpg