ANTÓNIO DE MACEDO
(Reflexões e Pensamentos)

 

 

 

António de Macedo

António de Macedo
(Pintura do artista plástico brasileiro Macarlo)

 

 

 

 

A evolução é um plano divino a longo prazo. Um homem-joio pode tornar-se em homem-trigo pela espiritual Alquimia da transmutação do mal em bem, que já sabemos ser uma lei divina. O Amor é a lei de coalizão universal; e se o Espírito em nós habita, como nos afirmam as Escrituras, seremos perfeitos como o nosso Pai celestial é perfeito. O homem-joio, ao ser queimado pelo fogo da consciência, que é o que mais queima, no cadinho ('crucibulum') da provação, acabará por revelar o ouro que na escória se esconde – a escória que ele transitoriamente é.

 

António de Macedo

 

 

 

 

Rodolfo Domenico Pizzinga

 

 

 

Biografia

 

 

 

António de Macedo (Lisboa, 5 de julho de 1931) é um místico rosacruz (membro da Fraternidade Rosacruz de Max Heindel), escritor, ensaísta e cineasta português. É um dos realizadores mais ativos do Novo Cinema, que explora as técnicas do cinema direto. É autor de filmes de longa-metragem, de curta-metragem e de séries de televisão.

 

Freqüentou a ESBAL (Escola Superior de Belas Artes de Lisboa), tendo exercido a profissão de arquiteto na Câmara Municipal de Lisboa até 1964, dedicando-se, por fim, ao audiovisual e à literatura. Assinou uma das primeiras obras teóricas e didáticas sobre cinema editadas em Portugal: A Evolução Estética do Cinema (Clube Bibliográfico Editex, 2 vols. 1959-1960).

 

Foi fundador das cooperativas Centro Português de Cinema (1970) e Cinequanon (1974).

 

Especializou-se na investigação e no estudo das religiões comparadas, de esoterologia, de história da filosofia e da estética audiovisual, das formas literárias e fílmicas de speculative fiction, temas que tem abordado em inúmeros colóquios, conferências e em diversas publicações.

 

Dedicado ao ensino desde 1970, foi professor no Instituto de Artes Decorativas (IADE), Instituto de Novas Profissões (INP), Universidade Lusófona, Universidade Moderna e na Universidade Nova de Lisboa, regendo cadeiras como Teoria e Prática do Cinema, Análise de Imagem, Arte Narrativa e Esoterismo Bíblico.

 

Macedo é mais conhecido como realizador, atividade que abandonou em 1996. Apesar da sua vasta e original filmografia, apesar da vertente cultural do cinema que pratica, viu recusados vários projetos que apresentou nos concursos oficiais para o financiamento de filmes portugueses. Salvo algumas raras exceções, o cinema português é financiado pelo Estado, que nomeia júris que decidem quais os projetos a apoiar.

 

Em uma entrevista publicada na revista Autores, editada pela Sociedade Portuguesa de Autores (Abril/Junho de 2007), entrevista intitulada Nos Interstícios da Realidade, a propósito de um prêmio que lhe foi atribuído (Consagração de Carreira da SPA), explica o porquê do seu abandono. O motivo que invoca para a recusa dos seus projetos pelos júris – o que o leva ao abandono do cinema – é atribuído a uma espécie de conflito estético-cultural, o que lhe quiserem chamar, com os júris que atribuem os apoios financeiros para se fazerem filmes de fundo e que eram facilmente manipuláveis. A verdade é que alguns membros dos júris me disseram, mais tarde, que o meu tipo de cinema era 'um cinema que não interessava', um cinema 'desligado das realidades', um bocado 'fantasioso' e esse tipo de imaginário não interessava para o cinema português. E por isso comecei a ser censurado num regime onde, constitucionalmente, não há censura.

 

Censurado no tempo da ditadura e em tempo de democracia, Macedo parece ser um dos casos ilustrativos de atitudes de um poder que tem (ou teve) preferência de autores.

 

Bem, para concluir esta breve biografia de António de Macedo, relatarei duas coisas que descobri ao estudar a vida deste nobre português. Primeira, fomos amigos do admirável pensador, crítico, professor e também poeta e ficcionista António Quadros (1923 – 1993), que – tanto quanto Eduardo Abranches de Soveral (1927 – 2003), ambos muito educadamente – nunca se conformou por eu ser vegetariano, ainda que não me incomodasse nem um pouco com o fato de ambos se servirem de carne em suas respectivas dietas. Enfim, não posso deixar de citar uma das máximas do meu amigo António Quadros: O tempo de Deus é o tempo da atenção. O tempo de Deus é hoje. Segunda, por mais curioso que possa ser, eu e António de Macedo nascemos no mesmo dia: ele, em 5 de julho de 1931; eu, em 5 de julho de 1946. Conclusão: eu sou um garoto que muito tenho que aprender com ele (também um garoto).

 

 

 

 

Objetivo do Estudo
e Metodologia

 

 

 

Este estudo está restrito às informações disponibilizadas na Internet; não consultei nenhuma obra escrita (em papel) pelo autor. Em alguns excertos, tive que fazer pequenas edições para acomodá-los a este tipo de divulgação; entretanto, não feri, não adulterei e não rodolfizei, por assim dizer, a linha reflexiva do autor – o que seria um despautério sesquipedal e boçalizante. Também não transliterei, digamos assim e forçando, o português-português para o português-brasileiro. Mantive os fragmentos coligidos no original.

 

 

 

 

Reflexões e Pensamentos
de
A
ntónio de Macedo

 

 

 

Quanto à TV... Hoje privilegiam-se os "reality shows" e os "big Brothers" numa curiosa inversão do "sentido" do espectáculo: os principais intérpretes e intervenientes já não são actores (excepto em intermináveis telenovelas que estão sempre a serrar o mesmo presunto), mas os próprios espectadores que saltam alegremente para o "lado de dentro" do pequeno ecrã e vão expor as suas mazelas domésticas ou exibir reais ou supostos dotes histriónicos. Perdeu-se e perverteu-se o lado "sacro" do mistério da "arte do espectáculo" para ficar apenas a vulgaridade e o super-efémero. Ou seja, em vez do "fogo" criativo", que dá calor e luz, só ficou a fumaça, que engasga e cega...1

 

Tanto nos meus filmes como nos meus romances, perambulo bastante entre a "ficção especulativa" e o "fantástico" – seja o que for que se entenda por isso... desde que se espessurize em obra-acção, como dizem os anglo-americanos: "imagination is image-in-action"!

 

Fundamentalmente, tal como já enunciava Paracelso, os hermetistas rosacrucianos defendiam a tese de que a Alquimia, mais do que tentar a transmutação dos metais, deveria antes contribuir para a erradicação das doenças e a mitigação das dores físicas (panaceia universal). Synesius, um alquimista bizantino do século IV, foi um verdadeiro precursor: já definia a Alquimia como uma operação mental, independente da ciência da matéria, cujo objectivo deveria ser a transmutação espiritual e a salvação do ser humano, afirmando, em consequência, que a constituição do elixir (xêrion, «o pó») é menos importante do que as incantações que acompanham a sua produção. Esta teoria deu origem a uma nova escola que minimizou a pesquisa experimental, passando a buscar, no interior do ser humano, os segredos e os fins últimos da filosofia alquímica.

 

A ideia da Alquimia sempre exerceu um grande fascínio – o fascínio de tudo quanto nos prometa desvendar, manipulatoriamente, os profundos arcanos da Natureza, sobretudo se no final, para além de se levantar o Véu de Isis, ainda se perfile, como bónus, a mirífica ilusão do ouro-sem-fim e da juventude eterna. De qualquer modo, penso que o interesse actual pela Alquimia é mais sério e mais espiritual (corresponde a uma real e cada vez mais intensa fome do espírito) do que o dos reis, imperadores e nobres da Idade Média e do Renascimento que contratavam alquimistas e astrólogos para lhes fabricarem ouro e predizerem as horas propícias às respectivas operações...

 

 

 

 

 

 

Não, não sou [alquimista] no sentido convencional do termo. Prefiro auto-classificar-me, mais modestamente, como "alquimístico".

 

Bom, eu diria que há mais do que um esoterismo, há vários, ou, talvez melhor, há sucessivos graus de "desvelação" esotérica. Um haddith do profeta Muhammad diz que cada versículo do Alcorão tem um sentido esotérico, e esse sentido esotérico tem um outro, e assim sucessivamente até sete... Uma espécie de pensar o pensar do ultrapensar do ultrapensar! O que me limito a fazer nos meus livros (e nas minhas aulas) sobre esoterismo bíblico é apenas descascar (enfim, tentar descascar...) a primeira camada da cebola. Depois, quem vier a seguir que se esforce por descascar e esquadrinhar o resto, de acordo com a controversa e obscura etimologia da palavra, segundo alguns autores, seria uma confluência de dois termos gregos: "eisô" ou "esô", dentro de, e "têrô", observar, espiar, guardar, conservar. Logo, esô+têrô seria qualquer coisa como o resultado multiplicativo de duas ideias: esquadrinhar no mais dentro da "coisa" e guardar no interior de "si-mesmo".

 

Uma vetusta memória Rosacruciana exumada e revelada por Rudolf Steiner (1861-1925) e por Max Heindel (1865-1919) ensina-nos que os quatro Evangelhos, mais do que quatro «biografias» históricas de Jesus, são sobretudo Rituais de Iniciação de quatro diferentes Escolas de Mistérios. Os três sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) são rituais de Mistérios Menores; o Evangelho do Amor (João) é um ritual dos Mistérios Maiores.

 

Jesus não era um «mágico»: Jesus era o Vaso do Cristo.

 

Max Heindel tem um estudo muito bem feito, intitulado 'Maçonaria e Catolicismo' onde descreve as duas grandes linhagens humanas: a dos descendentes de Caim, ou seja, os artífices, construtores, fabricantes, cientistas, homens de Estado etc., em suma, a chamada "linhagem real", associada ao Fogo e ao planeta Marte, e a linhagem dos descendentes de Seth (terceiro filho de Eva, para "substituir" o falecido Abel), ou seja, os devotos, os místicos, os elementos da Igreja, bispos, cardeais, em suma, a chamada "linhagem sacerdotal", associada à Água e à Lua. A primeira compreende a Ordem Maçónica, iniciática, a dos "construtores", e a segunda comprende a Igreja, a dos devotos, não-iniciática e sacramental. Fernando Pessoa tem razão ao distinguir cuidadosamente entre "Maçonaria" e "Ordem Maçónica". A Ordem Maçónica é ancestral (e não me refiro apenas à lenda de Salomão e de Hiram Abiff), ao passo que a Maçonaria especulativa assumiu a sua forma actual no século XVIII, embora o sistema da "Estrita Observância", por exemplo, se reclame duma origem Templária. Por sua vez a Ordem Rosacruz, de inspiração judaico-cristã, busca o seu ideal na Ordem de Melquisedec, a Ordem da Justiça e da Paz cujo sacrifício é não-sangrento e cujos símbolos são o trigo/pão e a uva/vinho. Cristo, como Sumo-Sacerdote Eterno da Ordem de Melquisedec, veio preparar a gloriosa fusão da linhagem real com a linhagem sacerdotal, da mente e do coração, da cruz e da rosa; no fundo é o ideal dos Reis Magos e da Estrela de Belém: Reis e Sacerdotes, numa humanidade final justa e santa, unida tanto pelo lado mental como pelo lado cordial. O facto de o 18º grau do Rito Escocês Antigo e Aceite da Maçonaria ter a designação de Cavaleiro Rosa-Cruz deve-se sobretudo a considerações historicistas e ritualistas, impregnadas de Alquimia, mais do que a uma necessidade iniciática. Este grau foi criado nos finais do século XVIII e o seu tema é a "Palavra Perdida".

 

«Tu és um rochedo [gr. petros], e sobre esta/essa rocha [gr. epi tautê tê petra] edificarei a minha comunidade [gr. ekklêsia]. Tu, Simão, és um penedo, um autêntico calhau, mas como os humanos durante muitas gerações ainda serão tão calhaus como tu, não terei outro remédio senão edificar a minha futura comunidade sobre essa pedra, que Eu sei que me vai negar três vezes (na verdade, ao longo dos séculos, a Igreja de Roma saída de ti negar-Me-á muitas vezes, mais do que três, com fausto, sede de poder, um papado e uma corte de cardeais atulhados em insultuosas riquezas, inquisições, intolerância, infraternidade, cupidez, perversão, torturas várias, ódios, guerras, repressões, tiranias, enfim, um autêntico rol de tudo quanto é mais contrário ao que Eu preguei); mas, apesar disso, ainda é essa a maneira menos má e mais segura de transmitir exotericamente a Boa Nova a gerações e gerações de grandes massas ignorantes.» «Tu, Simão, és um penedo, um autêntico calhau, ainda por cima me vais negar três vezes, e como tal não podes servir de alicerce a uma futura comunidade que siga verdadeiramente os Meus ensinamentos mais puros, ou melhor, esotéricos, logo, sobre esta rocha, ou seja, sobre Mim mesmo, a pedra angular que os maus construtores rejeitaram, é que vou edificar a minha futura comunidade, baseada no Amor, na Verdade e na Vida – e quem melhor do que o Meu Discípulo Muito Amado, João, poderá servir de facho e guia, o discípulo capaz de receber e transmitir o Evangelho do Amor, cujos mais finos ensinamentos os empedernidos como tu, Simão, hão-de perseguir e tentar eliminar ao longo dos séculos?»

 

A redenção que se alcança através da individualidade espiritual é a autêntica chave do Reino dos Céus, que sabemos encontrar-se no nosso ser pela revelação que Jesus nos faz por intermédio do místico Evangelho de Lucas: «Olhai que o Reino de Deus está dentro de vós» (Lucas XVII, 21). É o diamante oculto no interior da pedra bruta , a Sétima Morada da alma, de Santa Teresa de Jesus, a mais íntima e a mais divina: o diamante só brilhará em todo o seu esplendor após se aplicar à pétrea crosta, onde se oculta, o esmeril para desbastá-la, o esmeril que faz a «pedra» chiar com a violência do desgaste, ou seja, gemer com as dores e com o sofrimento de andar (andarmos!) no mundo e no aprendizado da vida, até que, pelo exercício da Gnosis e pela graça da Sophia sejamos dignos de alcançar a redenção e a paz, «a paz de Deus que excede todo o entendimento», como nos ensina Paulo (Filipenses IV, 7).

 

Em poucas palavras, posso dizer que a Bíblia, tem uma leitura imediata, com as histórias popularizadas de Adão e Eva, Sansão e Dalila, e depois com os vários episódios do Novo Testamento, mas que, para além desse conteúdo imediato, podemos tentar descodificar o seu significado profundo, que era o que faziam os gnósticos, que escreviam textos considerados apócrifos, como os que foram encontrados em 1945, no Egipto, os famosos códices gnósticos de Nag Hammadi, que foram repudiados pela Igreja. Para além dessas histórias, aparentemente banais, oculta-se uma verdade que transcende aquilo que a própria história parece querer dizer e é uma verdade cósmica profunda. É interessante começarmos a descodificar e é isso que eu faço com os meus alunos. Aprendemos mutuamente.

 

Uma vasta maioria dos textos da Bíblia são Rituais de Iniciação de vetustas Escolas de Mistérios, ou, pelo menos, fragmentos de antigas Instruções Iniciáticas…

 

De uma forma breve e simplificada, podemos dizer que há três «leituras» possíveis da Bíblia: 1ª) Inclui-se na «leitura laica» toda e qualquer leitura que considere os textos bíblicos apenas pelo seu lado textual-documental – e de preferência partindo de um princípio racional-agnóstico (Manocorda 1993). Essa leitura, de uma forma mais genérica e sobretudo nos tempos mais recentes, serve-se de toda uma aparelhagem de análise e de crítica de textos idêntica à que se pode aplicar a qualquer texto profano, antigo ou moderno, sem levar excessivamente em conta – ou mesmo nada – o lado «espiritual» dos conteúdos; 2ª) A «leitura teológica» é a que se opera na crença de que os textos bíblicos são a «Palavra de Deus», e socorre-se de técnicas interpretacionais quer da tradição religiosa judaica (para o AT), quer da tradição das Igrejas cristãs (a Católica Romana, as Protestantes e as Ortodoxas, para o AT e o NT), sem excluir, mais modernamente, os mesmos instrumentos hermenêuticos e exegéticos da «leitura laica», embora adaptando-os ao pressuposto de um «conteúdo revelacional» de origem divina (Schneiders 1999, 27-63);e 3ª) Finalmente a «leitura esotérica». O que se pode entender por uma «leitura esotérica da bíblia»? Decerto haverá mais do que uma, pelo facto de haver diversos «esoterismos». No entanto, procurando simplificar mais uma vez, embora correndo o risco de excessiva generalização, podemos dizer que uma «leitura esotérica» da bíblia pressupõe pelo menos dois vectores: que o texto contém substratos «ocultos» que carecem de ser devidamente descodificados, e que esses substratos revelariam ensinamentos secretos que são em regra transmitidos oralmente, de mestre a discípulo, com uma finalidade «Iniciática».

 

Diz-nos a antiga sabedoria que se pensarmos sempre com rectidão, agiremos sempre com rectidão.

 

«Os bons pensamentos são mais poderosos do que os maus porque estão em harmonia com o rumo da evolução. Dia virá em que seremos capazes de controlá-los positivamente para ajudar a estabelecer no mundo uma paz estável e duradoura». [Max Heindel, Teachings of an Initiate, apud António de Macedo].

 

Quando entrou pela primeira vez no Templo da Irmandade Rosacruz, Max Heindel surpreendeu-se: na sua imaginação havia figurado esse centro como uma imponente e magnífica estrutura, e o que viu era exactamente o oposto. Foi convidado a entrar no que parecia ser a casa rural, modesta embora espaçosa, de um cavalheiro da província, residência que ninguém associaria à sede mundial de um tão antigo quão poderoso grémio de místicos. Centenas de homens e mulheres, levados pela curiosidade, têm percorrido a Alemanha na esperança de encontrar esse edifício e passam por ele sem o ver, porque, tal como Max Heindel, imaginam-no como um Templo grandioso de pedra e materiais nobres. E Heindel só o descobriu quando os seus olhos se abriram para vislumbrar o Templo Espiritual a interpenetrar e a envolver a estrutura física.

 

O Iniciado tem acesso, por secretos cultos, a regiões – ou melhor: a níveis de ser – inexprimíveis ou inefáveis, o que em grego se dizia 'arrhêta', que por sua própria natureza indizível se tornam naturalmente incomunicáveis, não por qualquer imposição ou obrigação externa de «manter segredo», mas porque o Iniciado ao atingir o cerne do sagrado atinge o «inefável», e faltam-lhe meios de expressão adequados para comunicar ao mundo profano o que, na linguagem e segundo a razão desse mundo, seria incompreensível, e sobretudo porque a Iniciação não é uma cerimónia externa, mas, nunca será de mais repeti-lo, uma experiência interna.

 

Em todos os Mistérios da Antiguidade (Isíacos, Mitríacos, Órficos, Eleusinos etc.) vigorava a lei dos três graus... Esses três graus eram, para os mistérios antigos: postulante (‘o exô, «o de fora»), neófito ou misto (mystês, plural mystai) e epopta (epoptês, plural epoptai). Ou seja, mediante o rito que lhe proporciona o arrebatamento ao mundo sensível (ekstasis), o postulante torna-se um neófito ou antes um misto, ou aquele que ainda tem os olhos fechados, para se converter finalmente em epopta – da raiz ops, «olho» – ou aquele que vê as coisas tais quais são. Do mesmo modo se distinguem os graus dos Iniciadores: o dos mystai será o mystagogos, para a Iniciação menor (muêsis), enquanto o dos epoptai é o telestês, para a Iniciação maior (teletê, ou epopteia).

 

Que sempre existiu um esoterismo cristão é indiscutível, embora a Igreja Católica se esforce por desmenti-lo, sobrevalorizando o lado exotérico da catequese e da liturgia.

 

Será provavelmente impossível determinar o momento preciso em que o Cristianismo se transformou numa religião no sentido próprio do termo bem como numa forma tradicional destinada a toda a gente, sem distinção. Seja porém como for tratava-se dum facto consumado na época de Constantino e do Concílio de Niceia, de tal sorte que este não fez mais do que «sancioná-lo», por assim dizer, inaugurando a era das formulações «dogmáticas» destinadas a constituir uma apresentação puramente exotérica da doutrina. É pois evidente que a natureza do Cristianismo original, sendo essencialmente esotérica e iniciática, devia permanecer completamente ignorada por parte daqueles que passaram a ser admitidos no Cristianismo agora exotérico; por conseguinte, tudo quanto pudesse evidenciar ou sequer sugerir o que tinha sido realmente o Cristianismo nas suas origens deveria ser recoberto, aos olhos daqueles, por um véu impenetrável.

 

A necessidade da reformulação exotérica levou a Igreja a proceder a uma espécie de movimento translacional quanto ao sentido da palavra mistério, e aqui voltamos à tal distinção a que aludimos entre «mistério» e «mistérios» que a Igreja oficialmente adoptou e ensina: por um lado os mistérios enquanto grandes acontecimentos históricos da vida de Jesus ou da Virgem Maria, por exemplo os mistérios da Cruz ou os mistérios do Rosário; por outro, no mistério singularizado como por exemplo o mistério da Encarnação de Cristo, o mistério da Santíssima Trindade, o mistério da Eucaristia ou da Transubstanciação, o mistério Pascal, o mistério da Ressurreição. A palavra «mistério» ocorre 28 vezes no Novo Testamento, 21 das quais nos textos paulinos... Com o decorrer do tempo, o duplo significado de verdade divina e de rito sacro que o termo «mistério» abrangia acabou por se repartir por duas palavras, 'mysterium' e 'sacramentum', ficando a primeira a designar as verdades ocultas do Cristianismo e a segunda os ritos ou as realidades sagradas. O que não exclui o poder que a Igreja detém para estabelecer, pelo 'mysterium', uma ponte real com o divino, poder que Cristo transmitiu aos apóstolos e que, por sucessão apostólica, é transmitido por sua vez ao longo dos séculos a todo o sacerdote regularmente ordenado.

 

Apesar de o mundo se encontrar atulhado de objectos, desde pedras e árvores e vacas a casas e automóveis, desde a alegria duma jovem mãe até um pôr do sol, desde a inveja dum parente até uma montanha, desde a guerra israelo-árabe, as ondas do mar e as emissões de rádio até um assassínio… mesmo assim, ainda há quem sinta necessidade de atravancar o mundo com ainda mais objectos, que vislumbrou na imaginação e não resistiu a concretizar em formas físicas – seja um bailado, uma estátua ou um soneto.

 

Apesar da infinita multidão de objectos que povoam o mundo, podemos facilmente classificá-los em dois grandes grupos e colocá-los em uma de duas prateleiras: não preciso de fazer um grande esforço intelectual para perceber que um insulto do meu vizinho, uma guerra ou um atropelamento não podem ficar na mesma prateleira onde coloco um pensamento de gratidão, um riso feliz de criança ou o desabrochar duma rosa num jardim, em plena Primavera. (A Ética, a Psicologia e a Estética por vezes indestrinçam-se!) Mais: a respectiva qualidade vibratória é antagónica, e se for o espírito do homem – e não apenas um fenómeno natural – a provocar certos actos, essa qualidade vibratória tem muita força e tinge intensa e correspondentemente a «psicosfera» e a «noosfera» (as atmosferas globais das emoções e dos pensamentos) que rodeiam o planeta. Se deito uma gota de vinagre num copo de água, é quanto basta para que a água mude de qualidade e se torne, ainda que imperceptivelmente, acidulada; se lhe deito uma gota de mel, a água muda de qualidade, também, mas amacia-se. Como nos adverte uma máxima da Unity School of Christianity: «Tudo o que fazemos vai tecendo os efeitos futuros no lado invisível da vida».

 

Os historiadores costumam invocar um velho almanaque romano chamado Cronógrafo, do ano 354 d.C., de autoria de Philocalus (autor incerto), também conhecido como Calendário Philocaliano, e que cita o ano 336 como o primeiro em que a Igreja festejou a celebração do Natal em 25 de dezembro. Na Igreja arménia, o dia 25 de dezembro nunca foi aceite para data do Natal, mantendo-se a antiga Tradição Iniciática de celebrar o dia 6 de janeiro (Dia de Reis), considerado o «12.º Dia sagrado» da tradição mistérica cristã. De acordo com a autora rosacruciana Corinne Heline, o período de 12 dias que decorre após a festividade solsticial do Natal, entre o dia 26 de dezembro e o dia 6 de janeiro é um período de profundo significado esotérico e constitui o «coração espiritual» do ano que vai seguir-se: é o lugar-tempo mais sagrado de cada ano que entra; designa-se por «Os Doze Dias Sagrados» e está sob a influência directa das Doze Hierarqias Zodiacais, que projectam sobre o planeta Terra, sucessivamente e durante cada um desses 12 dias, um modelo de perfeição tal como o mundo será quando a obra conjugada das Doze Hierarquias por fim se completar (Corinne Heline, New Age Bible Interpretation, vol. VII: «Mystery of the Christos», 6h printing., New Age Press, 1988,. pp. 8-19).

 

O percurso solar, ao longo do ano, marca os «Passos Iniciáticos» do percurso de Cristo e, ao mesmo tempo, marca os pontos fulcrais da liturgia ao longo do ano, em referência às «provas» cíclicas por que tem de passar todo o ser humano na sua via evolutiva :

 

A batalha entre as forças do bem e as forças do mal é travada com uma intensidade que ninguém pode entender – a menos que esteja directamente envolvido nela. Os Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz e doutras Ordens similares que, podemos dizê-lo, na sua totalidade representam o Santo Graal, vivem e subsistem pelo amor e pela essência do serviço inegoísta que no mundo praticam aqueles que buscam viver uma vida espiritualmente norteada, e que os Irmãos Maiores ajuntam e enceleiram como as abelhas ajuntam o mel. Com isto acresce o brilho do Santo Graal, que por sua vez irradia a sua luminosa influência, assim fortalecida, sobre os espiritualmente receptivos, imbuindo-os de maior zelo e maior entusiasmo no bem fazer e no bem combater. Do mesmo modo, as forças do Graal Negro vicejam e prosperam pelo ódio, pela perfídia, pela crueldade e por todas as acções demoníacas da longa lista do mal. Tanto as forças do Graal Branco como as do Graal Negro requerem alimento, umas de bondade, outras de maldade, para prosseguirem a sua existência e ganharem poderes para a sua luta. Se o não obtiverem, debilitam-se e perecem. De onde a batalha sem quartel que não cessam de travar. [Max Heindel, Gleanings of a Mystic, apud António de Macedo].

 

 

 

As correntes de energia em torno da Terra são influenciadas pelo estado mental e emocional das populações que a habitam. Quando as pessoas se encontram em estados de grande agitação, quando colectivamente desenvolvem pensamentos ou sentimentos de ódio, ansiedade e medo, geram-se «nuvens» mentais e emocionais que se condensam em «nuvens» etéricas, as quais por sua vez perturbam as correntes de energia que controlam o estado do tempo e a estabilidade do interior do planeta. Daí resultarem tempestades violentas, excesso de chuvas ou secas, tremores de terra, erupções vulcânicas. Em devido tempo, no futuro, as pessoas aprenderão a harmonizar as suas acções com as acções dos seus semelhantes. Então todas essas perturbações hão-de passar, a alegoria do leão que se deita ao lado do carneiro será real, e a Nova Jerusalém – a Cidade da Paz – será estabelecida na Terra. [Elsa M. Glover, Rays from the Rose Cross, apud António de Macedo].

 

O que vemos nos nossos dias não é encorajante... Um filme, um livro, uma música, uma pintura, catalogável na prateleira negra, não é só nocivo pela maligna influência que exerce no consumidor imediato, mas sobretudo pelas terríveis doses vibracionais com que perpetuamente alimenta a psicosfera e a noosfera que nos rodeiam e que respiramos tão naturalmente como respiramos oxigénio misturado com dióxido de carbono. Trata-se de verdadeira magia negra, que, embora ignorando-se como tal, não é por isso menos poderosa e eficaz. O objecto, uma vez criado, altera as relações de equilíbrio existentes gerando novas tensões; forma um arquétipo que se mantém a vibrar, e, se a força da sua criação encontrar a ressonância apropriada, pode ficar a vibrar eternamente. Não surpreende, pois, que certas criações do espírito, boas ou más (não conto com as indiferentes, supondo que as haja), sobrevivam aos seus criadores com uma vitalidade que estes, em vida, lhes invejariam. D. Quixote continua activo em milhentas revivescências sempre actuais com uma energia e um dinamismo inesgotáveis, muito mais do que um tal Cervantes hoje reduzido a pó e que morreu desgraçado e hidrópico em Madrid, duma vez por todas, em 1616. Qualquer um sabe quem é Pinóquio, Tarzan, Drácula ou o libertino Don Juan; poucos saberão quem foi Carlo Collodi, Edgar Rice Burroughs, Bram Stoker ou Tirso de Molina.

 

O mal nunca pode ser um princípio porque não é coetâneo, na Arché, com Deus... O mal é posterior à Criação. As doutrinas Rosacruzes ensinam-nos que o mal veio ao mundo através dos Espíritos Lucíferos.

 

Vivemos nós há dois mil anos no ocidental mundo impregnado de religião cristã, em que a antiga lei de talião já devia ter cedido o lugar, há muito, à nova lei do perdão e da graça! O Coração suspira por amor, mas o corpo de desejos anseia por vingança.

 

Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam e rezai pelos que vos maltratam. [Evangelho de São Lucas, VI, 27-28, apud António de Macedo].

 

O apóstolo Paulo pretende sobretudo que não se alimente o Graal Negro nem com um simples pensamento retaliativo; por isso as suas preocupações e as suas instruções vão todas no sentido de nos abrir a visão e a consciência à graça inspiradora que nos levará sempre, em cada instante, em cada pensamento, em cada gesto, em cada palavra, a agir na verdadeira Luz e no verdadeiro Amor, que farão resplandecer o fulgor crescente – assim o desejamos e esperamos – do Graal Branco ou, de plena justeza, do Santo Graal.

 

Deus nunca entraria pela porta dentro de ninguém sem pedir licença, porque Ele respeita a nossa liberdade, incluso a liberdade de não acreditarmos n’Ele.

 

Não é o rastejar de escravo prostrado a Seus pés que Deus pretende. Talvez não seja essa a concepção de divindade que têm ou tiveram outros povos, ou certas seitas cristãs, mas o Deus que Cristo nos revelou quer outra coisa, deseja-nos filhos bem-amados, não serventes.

 

O Ocidente cristão ainda não sabe ser verdadeiramente crístico! E a mística cristã do Amor é tão bela, e tão admirável! Quanto a isto, temos de reconhecer, o Oriente ainda não perdeu de todo uma visão iluminada que o nosso Ocidente profano, embrenhado em materialismo, se tem esforçado por suprimir e deslembrar. Se aqui no Ocidente alguém for por aí dizendo «Eu sou Deus» pegam nele e metem-no no manicómio. Se no Oriente hinduísta, por exemplo, alguém for pelas ruas exclamando «Eu sou Deus!» felicitam-no porque foi iluminado e descobriu a sua verdadeira identificação.

 

O verdadeiro Amor a Deus é uma Iniciação, e por sabê-lo, é que Jesus não podia revelar os segredos aos homens comuns, incapazes de tanto Amor, e revelava-os à parte aos discípulos. «Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele» (I Jo IV, 16). A Igreja, com a sua obstinação em se agarrar à letra, esquecendo a conhecida advertência de Paulo, muitas vezes materializou as maravilhosas verdades esotéricas e iniciáticas que os Evangelhos contêm – e que felizmente as Escolas de Mistérios preservam, e nos ensinam e desvendam – transformou em coisa física o que é místico e cósmico – por exemplo, o fogo do inferno – e permitiu que em nome dum Deus implacável e imperdoador se dessem largas a tanta crueldade e intolerância ao longo dos séculos, até culminar, por previsível reacção, no lamentável materialismo filosófico e científico em que estrebuchamos hoje em dia.

 

Deus não extermina ninguém por ser «joio», e muito menos prematuramente, ao contrário do que fizeram certos fanáticos tantas vezes ao longo da história, como nos dá conta o trágico episódio da tomada de Béziers em 1209, durante a cruzada contra os albigenses promovida por Inocêncio III: o cisterciense alemão Cesário, cronista da abadia de Heisterbach e que escreveu quinze anos depois, relata que tendo o exército perguntado ao legado papal, Arnaud Amaury, como se havia de fazer para distinguir, na multidão dos vencidos, entre os bons e os maus, aquele respondeu: «Matai-os a todos, Deus reconhecerá os seus». E assim se fez.

 

A evolução é um plano divino a longo prazo. Um homem-joio pode tornar-se em homem-trigo pela espiritual Alquimia da transmutação do mal em bem, que já sabemos ser uma lei divina. O Amor é a lei de coalizão universal; e se o Espírito em nós habita, como nos afirmam as Escrituras, seremos perfeitos como o nosso Pai celestial é perfeito. O homem-joio, ao ser queimado pelo fogo da consciência, que é o que mais queima, no cadinho ('crucibulum') da provação, acabará por revelar o ouro que na escória se esconde – a escória que ele transitoriamente é.

 

«Caindo em si» (Evangelho de São Lucas, XV, 17), ou «entrando em si mesmo» como nos diz o texto original (gr. eis ‘eauton elthôn), o filho pródigo reconhece o erro e descobre o seu verdadeiro e luminoso ser, que não é o Eu personalístico egoísta e vicioso, e arrepende-se (o arrependimento diz-se em grego metanoia, que significa «mudança de mente»). Quando chega ao lar, o Pai recebe-o de braços abertos, em vez de o punir: recebe-o amorosamente. Mas, atenção! Tal só foi possível depois de o filho ter feito a metanoia, abrindo a porta da alma e convidando, iluminado, Deus a entrar, como nos ensina o versículo do Apocalipse: «Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo».

 

O filósofo judeu Fílon de Alexandria, contemporâneo de Jesus, argumentava que o corpo é uma coisa morta e um "conspirador contra a alma", e que a doutrina da ressurreição é secundária à da imortalidade da alma, e que, no fundo, o conceito de ressurreição não passa de uma maneira figurada de representar a verdadeira imortalidade espiritual.

 

A instrução iniciática é clara: se não perdoarmos a quem nos ofendeu, «fechamos a porta», e o Pai, que respeita a nossa LIBERDADE, por muito que o Seu divino Coração sangre, nada pode fazer: aguarda que façamos a metanoia, e que despertemos para a compreensão da nossa real natureza, divina, a fim de abrirmos as portas e as janelas da Mente e do Coração para que a Sua Luz nos inunde e o nosso verdadeiro Eu se revele, e, iluminados e abençoados, nos elevemos natural e amorosamente até à compreensão de que Ele está sempre presente, e nunca nos abandona – nós é que O abandonamos… Alexis Carrel recomendava: «Reza, não para que Deus se lembre de ti, mas para que tu te lembres d’Ele!»

 

Devemos eliminar do nosso íntimo todas as tentações retaliativas e vingativas que só irão proporcionar energias acrescidas ao Graal Negro.

 

O perdão não exime o ofensor de ter consciência do prejuízo que causou e de ser compelido à restituição. Por exemplo, prestando serviço a quem prejudicou, para redimir o mal que fez e repor o equilíbrio das acções e contra-acções do Universo. O ofendido pode bem perdoar, e assim se desliga; mas o ofensor é que não fica perdoado a menos que ele próprio cumpra três condições: 1ª) Sincero arrependimento; 2ª) Restituição; e 3ª Reforma ou firme propósito de mudar a vida, abandonando o culto da personalidade para se submeter à Luz do Eu Superior e deixar de continuar a transgredir as leis espirituais.

 

Não devo rezar para mudar as pessoas e as coisas, ou pior, para mudar a vontade de Deus; mas para me saber amoldar à Sua – mudando-me a mim mesmo, com a graça divina; e tudo o que pedir, com fé, me será concedido.

 

A Alegria é a unidade concreta dum Universo: sociedade pronta e patente. É, pode dizer-se, a realidade do Ser planificada. A Dor é a nova direcção da Unidade, quebrada em mil destroços, fragmentada e dispersa, buscando para além. A Graça é, antes da Dor, o sorriso da Alegria; é, depois da Dor, a Unidade reconquistada boiando sobre os destroços, que, por ela, tomam um novo sentido de Alegria, um lúcido corpo de drama, um valor de revelo e exaltação.

 

Quando, pela Alquimia Espiritual, nos tornarmos como Cristo, o Senhor da Vida, seremos imortais, libertar-nos-emos do nosso pai Samael e da nossa mãe Eva, e a morte não mais terá poder sobre nós. [Max Heindel, Freemasonry and Catholicism, apud António de Macedo].

 

Tudo quanto o ser humano investe no mundo repercute no lado invisível da vida, ficando depositado naquilo a que as doutrinas Rosacruzes chamam o «Banco Cósmico».2 É de suma importância o que se «envia lá para cima», em pensamentos, palavras e actos, pelo menos por três ordens de razões: 1ª) O que projectamos e emitimos acaba por nos retornar acrescidamente, como já observava o sábio árabe: «Senhor, fazei que as minhas palavras sejam de mel, porque sei que terei de engoli-las de volta». Do mesmo nos adverte o velho provérbio chinês: «O passado é um tigre que nos ataca pelas costas quando menos o esperamos». Também lemos na Bíblia: «A desgraça não deixará a casa daquele que retribui com o mal o bem que recebeu» (Provérbios XVII, 13). Ou, pelo prisma oposto: «Quem faz o bem ao pobre empresta a Jahvé, que lhe restituirá com juros» (Provérbios XIX, 17); 2ª) Os nossos pensamentos, palavras, emoções, gestos, intenções, propósitos ou obras – incluso criações artísticas – que lançamos ao mundo e cuja essência «enviamos lá para cima» contribuem para melhorar ou piorar a qualidade vibratória, branca ou negra, da atmosfera psiconoética do planeta, influenciando outras pessoas (para além dos directos destinatários) que, sem se darem conta, dela se impregnam podendo ser impelidos a este ou àquele acto, para o bem ou para o mal; e 3ª) Finalmente, são esses mesmos pensamentos, palavras, gestos, obras que vão construir o nosso futuro lar nos reinos invisíveis, após a morte. Trata-se dum autêntico investimento no Banco Cósmico. Nada se perde do que pensamos, dizemos ou fazemos. O poeta e ensaísta Coleridge (1772-1834) afirmava: «Todos os pensamentos são, em si próprios, imperecíveis».

 

A Alegria atinge-se, é a nossa realidade imediata e é também a nossa conquista. A Graça é, no indivíduo, a presença dum infinito de qualidade, que tudo abrange e excede. A Alegria é a vitória, em cada ser, do sentido de concreto universalismo sobre o abstracto individualismo. A Graça é o próprio Universo que é presente, por dentro e em espírito, em cada parcela – átomo, mundo ou criatura.

 

'A Alegria canta, a Dor procura e atende, a Graça é.' [Leonardo Coimbra, A Alegria, a Dor e a Graça, apud António de Macedo].3

 


 

 

 

 

 

 

Uma Palavra Final

 

 

 

Melhor que este último item tivesse sido denominado Uma Oração Final, pois é com uma Oração Rosacruz (transcrita por Macedo no trabalho Origem da Oração Rosacruz) que encerro este estudo.

 

 

ORAÇÃO ROSACRUZ

 

 

Não mais Luz, Senhor, Vos peço,

Mas olhos para ver a existente,

Nem canções mais doces; mas, se o mereço,

Ouvidos para ouvir o Som presente.

 

Nem mais forças, mas apenas como usar

O divino poder que já possúo;

Nem mais amor, mas o dom de transformar

Num gesto de carícia um esgar de amúo.

 

Nem mais alegria, Senhor, mas sim sentir

No meu íntimo a sua cálida presença,

Para poder aos demais distribuir

Quanto tenho de coragem e bem-querença.

 

Não mais dádivas, amado Deus, Vos peço,

Mas apenas o saber e a inspiração

De espalhar à minha volta com sucesso

As que tenho a transbordar do coração.

 

Infundi-me todos os temores para que os domine,

E todas as santas alegrias, para as conhecer,

A fim de ser o amigo certo que desejo ser,

E para que a chama da Verdade eu dissemine;

 

Sendo capaz de à pureza amar, e à bondade,

Para elevar com toda a alma e energia

Até à luz da mais perfeita liberdade

As demais almas, num empíreo de harmonia.

 

 






______

Notas:

1. Macedo, aqui, está a se referir à televisão portuguesa. Se você pensou que esta fala faz referência à televisão brasileira, equivocou-se. Mas nem tanto!

2. Registros Akáshicos (Akasha é uma palavra em sânscrito que significa "céu", "espaço" ou "éter"), segundo o hinduísmo e diversas correntes místicas, são um conjunto de conhecimentos armazenados misticamente no éter, que abrange tudo o que ocorre, ocorreu e ocorrerá no Universo. O Manual Rosacruz (elaborado sob a supervisão de H. Spencer lewis) assim define os Arquivos Cósmicos: Registro indelével de todos os acontecimentos e do conhecimento, sendo parte da Consciência Cósmica, da Inteligência Divina.

3. Para ler um estudo que fiz sobre o pensamento de Leonardo Coimbra, por favor dirija-se a:

http://paxprofundis.org/livros/filosofiaportuguesa5
/filosofiaportuguesa5.html

 

Páginas da Internet consultadas:

http://members.tripod.com/
paginasesotericas/oracao_rc.htm

http://members.tripod.com/
paginasesotericas/a_misteriosa_escrita_de_jesus.htm

http://members.tripod.com/
paginasesotericas/magia_aurea.htm

http://members.tripod.com/
paginasesotericas/alquimia_espiritual.htm

http://www.fraternidaderosacruz.org/
solsticios_e_equinocios.htm

http://www.fraternidaderosacruz.org/am_arcj.htm

http://www.comunidade-espiritual.com/groups/?id=
296&link=view_topic&topic_id=14829&group_id=296

http://paginasesotericas.tripod.com/
instrucoesiniciaticas.htm

http://paginasesotericas.tripod.com/
regresso.htm

http://paginasesotericas.tripod.com/
am_graal.htm

http://paginasesotericas.tripod.com/
max_heindel.htm

http://paginasesotericas.tripod.com/

http://paginasesotericas.tripod.com/
instrucoesiniciaticas.htm

http://www.spautores.pt/Revista.aspx?idCat=234
&idMasterCat=67&idContent=880&idLayout=7

http://www.triplov.com/
email/ademac/macedo.html

http://www1.uni-hamburg.de/clpic/tematicos/
cinema/realizadores/macedo_antonio.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ant%C3%B3nio_de_Macedo

 

Fundo musical:

Foi Deus (Alberto Janes)

Fonte:

http://tdvarios.blogs.sapo.pt/973.html