O
DELÍRIO NO QUENTINHO
Rodolfo Domenico
Pizzinga
ntes,
o delírio no quentinho;1
depois, peregrinando direitinho.
Uma promessa solene firmada!
ara
todos, a vida vai passando,
e, lento, o inverno vai
chegando.
Os dias se afiguram mais
curtos!
odavia,
uma certeza é inflexível:
não há retorno
para o mesmo nível.
Se melhorarmos, ascensionaremos;
mas, se piorarmos, descenderemos.
uanto
maiores forem os apegos,
maiores serão os
nossos pespegos.
Quanto menores forem as
paixões,
menores serão as
nossas comoções.
osso
Universo é sistema e ordem.
É nosso porque,
não importa quem,
as leis serão
totalmente cumpridas
– façam
carícias ou causem feridas.
quilo
que deste lado nós somos,
indiscutivelmente, adispois
seremos.
Você já viu
plantar testículo-de-cão,
e, derrepentemente,
pintar oiti-cagão?
ada
ente-aí
cuide de seu enterro.2
Se não foi impossível
para o Berro,3
poderá ser para
mim ou para você?
Começando no A
chegaremos ao Z!
ra
bem, eu abordo estes temas
para que sejam prescindíveis
enemas
para dissolver os fecalomas
mentais:
os meus, os seus e os
de outros tais.
e
encararmos as coisas como são,
fácil será,
um dia, a nossa transição.
Mas, vigendo preconceitos
e manias,
as mortes serão
tidas como acronias.
á
pensou morrer e se sentir capenga
ou achar que está
caxerenguenga?
Sopinha de cavalo cansado
não dá!
Só mesmo desmanchando
o bundá!
em,
eu disse o que precisava dizer.
E, sinceramente, disse
com prazer.
Para todos, sabe o que
eu desejo?
Que a hora fatal chegue
sem pejo.
______
Notas:
1. Delírio do
quentinho Devachan.
E assim ensinou Kut Hu Mi: Mal
é um termo relativo, e a Lei de Retribuição nunca erra.
Portanto, todos os que não desapareceram [foram
entropizados] no seio do pecado irremissível e da bestialidade
vão ao 'Devachan'. Mais tarde, terão que compensar, voluntária
ou involuntariamente, os seus equívocos. Entretanto, recebem os efeitos
das causas que geraram. O 'Devachan' é um estado, digamos, de intenso
egoísmo, durante o qual o Ego (combinação do Sexto
e Sétimo Princípios) colhe a recompensa do seu altruísmo
na Terra. Está completamente mergulhado na felicidade de todos os
seus afetos pessoais, preferências e pensamentos terrenos, e recolhe
o fruto de suas ações meritórias. Nenhuma dor, nenhuma
pena, nem mesmo a sombra de uma aflição obscurecem o brilhante
horizonte de sua incontaminada felicidade, porque é um estado de
perpétuo 'mâya' [ilusão].
Vai ao 'Devachan' o ego pessoal, mas, beatificado, purificado, santificado.
Todo Ego que, depois do período de gestação inconsciente
[revisitação
da vida que se extinguiu e, depois, inconscientemente, mais algumas coisinhas
preparatórias para a próxima encarnação],
renasce no 'Devachan' é necessariamente tão puro e inocente
como uma criança recém-nascida. O fato de haver renascido
comprova, já por aí, a preponderância do bem sobre o
mal em sua velha personalidade. E, enquanto o 'karma' (do mal) fica temporariamente
suspenso, para segui-lo mais tarde em sua futura encarnação
terrena, ele só leva ao 'Devachan' o 'karma' de suas boas obras,
de suas boas palavras
e de seus bons pensamentos.
Bem, bem, bem. No
meu caso, eu não quero me sentir apenas episodicamente puro
e inocente como uma criança recém-nascida; eu
quero me tornar, sim, definitivamente, puro e inocente como o Aurum
Philosophicum –
que nada tem a ver com o aurum
vulgaris – e seguir em frente e Servir. Logo, como já
afirmei, abro mão do Devachan,
que considero um tempo de covardia e de mâya.
Advirto que isto vale só para mim, que tenho um parafuso a menos
e uma porca a mais; todos têm direito a ir descansar no Devachan.
Seja como for, eu já estou cheio de ficar vendo a banda passar e
as folhas vermelho-amareladas e amarelo-avermelhadas do outono a cair pertinho
da janela. Isto, para mim, é o inferno. De Dante Bela Alighieri Lugosi
ou de Vincent Boris Price
Karloff. Todos cadáveres. Devachanizando!
2. Cada
qual cuide de seu enterro, impossível não há.
Esta foi a frase derradeira de Quincas Berro D'água, segundo o relato
da prostituta Quitéria do Olho Arregalado, que estava ao lado de
Quincas quando ele deu o último suspiro, e morrer a morte que sempre
desejou e quis, e que, nos momentos de intimidade e de ternura, o chamava
de Berrito.
[Fragmento do romance, A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água,
publicado em 1961, de autoria do escritor brasileiro e membro da Academia
Brasileira de Letras Jorge Amado (Itabuna, 10 de agosto de 1912 –
Salvador, 6 de agosto de 2001)].
3. Berro
Quincas Berro D'água.
Música
de fundo:
Autumn Leaves (Les Feuilles
Mortes)
Composição: Joseph Kosma (música) & Jacques Prévert
(letra); versão para o inglês de Johnny Mercer.
Interpretação: Frank Sinatra
Páginas
da Internet consultadas:
http://golittleleggies.com/tag/california-marathon/
http://paxprofundis.org/livros/devachan/devachan.htm
http://www.strangefunkidz.com/content/item/124880.html
http://giphy.com/gifs/Db3OfoegpwajK
http://www.picgifs.com/alphabets/dancing/
http://www.jorgeamado.com.br/professores2/07.pdf
Direitos
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