DEVACHAN
(Ensinamentos
do Mestre
Kut Hu Mi)
Mestre
Kut Hu Mi
Mal
é um termo relativo, e a Lei de Retribuição
é a única Lei que nunca erra. Portanto, todos os que
não desapareceram no seio do pecado irremissível e
da bestialidade vão ao 'Devachan'. Mais tarde, terão
que compensar, voluntária ou involuntariamente, pelos seus
pecados. Entretanto, recebem os efeitos das causas que geraram.
Todos
aqueles que não escorregaram no lodaçal do pecado
e da bestialidade irremediáveis vão para o 'Devachan'.
Cada
entidade com quatro princípios recém-desencarnada
(seja por morte natural ou violenta, de suicídio ou acidente,
sã ou insana, jovem ou velha, boa, má ou indiferente)
perde toda a recordação no instante da morte; é
mentalmente aniquilada. Dorme o seu sono 'akásico' no 'Kama
Loka'. Este estado dura algumas horas (raramente muito) dias, semanas,
meses e, às vezes, até vários anos. Tudo isso
conforme a entidade e seu estado mental no momento da morte, a espécie
de sua morte etc. Essa recordação retornará
à entidade ou Ego lenta e gradualmente até o final
da gestação em forma ainda mais lenta e bastante imperfeita
e incompleta ao cascão, e, completamente, ao Ego no momento
de sua entrada no 'Devachan'. E agora, sendo este último
um estado determinado e produzido por sua vida passada, o Ego não
entra nele subitamente, e, sim, emerge nele de modo gradual e por
etapas imperceptíveis. Desde o primeiro alvorecer desse estado,
aparece a vida recém-terminada (ou melhor, é revivida
pelo Ego) desde o seu primeiro dia consciente até o último.
Desde os acontecimentos mais importantes até os mais insignificantes,
todos se desenvolvem diante do olho espiritual do Ego; mas, em contraste
com os acontecimentos da vida real, só permanecem os que
são escolhidos pelo novo vivente (perdoai-me a palavra) que
se adere a certas cenas e atores. Esses ficam permanentemente, enquanto
que todos os outros se desvanecem para desaparecer para sempre ou
para retornar ao seu criador: o cascão. Tratai, pois, de
compreender esta Lei tão altamente importante por ser exatamente
justa e retributiva nos seus efeitos. Nada resta desse passado que
ressurgiu, a não ser o que o Ego sentiu espiritualmente (aquilo
que se desenvolveu e viveu por e através de suas faculdades
espirituais), seja o amor ou o ódio. Tudo que estou agora
tentando descrever é, na verdade, indescritível. E
assim como nunca dois homens e nem mesmo duas fotografias da mesma
pessoa se assemelham entre si, linha por linha, tampouco se assemelham
dois estados no 'Devachan'. A não ser que seja um Adepto,
que pode experimentar tais estados em seu próprio 'Devachan'
periódico, como se pode esperar que alguém forme uma
imagem correta do mesmo? Portanto, não existe contradição
ao dizer que o Ego, uma vez renascido no 'Devachan', retém
por certo tempo, proporcional à sua vida terrestre, uma recordação
completa de sua vida (Espiritual) na Terra.
No
último momento, toda a vida se reflete em nossa memória,
e emerge de todos os escaninhos e recantos esquecidos, quadro após
quadro, acontecimento após acontecimento. O cérebro
moribundo desaloja a memória com um forte impulso supremo
e a memória devolve, com fidelidade absoluta, cada uma das
impressões que lhe foram confiadas durante o período
da atividade cerebral. Aquela impressão e pensamento que
foram mais poderosos se tornam naturalmente os mais vívidos,
e sobrevivem, por assim dizer, a todo o resto que agora se desvanece
e desaparece para sempre, para reaparecer unicamente no 'Devachan'.
Nenhum homem morre insano ou inconsciente, como asseguram alguns
fisiólogos. Mesmo um louco ou alguém em um ataque
de 'Delirium Tremens' terão o seu instante de perfeita lucidez
no momento da morte, ainda que sejam incapazes de manifestá-lo
aos presentes. O homem pode, muitas vezes, parecer que está
morto. Entretanto, desde a sua última pulsação
– desde e entre a última batida de seu coração
e o momento quando a última partícula de calor animal
deixa o corpo – o cérebro pensa e o Ego revive, nesses
breves segundos, toda a sua vida. Falai em voz baixa, vós
que estais juntos a um leito de morte e estais diante da solene
presença da Morte. Em especial, deveis manter-vos silenciosos
justamente depois que a Morte tenha colocado a sua viscosa mão
sobre o corpo. Falai em sussurros, eu vos digo; do contrário,
ireis perturbar a calma onda de pensamento e dificultareis o afanoso
trabalho do Passado vertendo os seus reflexos sobre o Véu
do Futuro.
Muitas
das comunicações espirituais subjetivas – a
maior parte delas quando os sensitivos têm mente pura –
são reais. Mas é muito difícil para um médium
não-Iniciado fixar em sua mente as imagens autênticas
e corretas do que se vê e ouve. Alguns dos fenômenos
chamados de psicografia (embora mais raros) são também
reais. O espírito do sensitivo tornando-se odilizado, por
assim dizer, pela aura do Espírito no 'Devachan', torna-se,
por uns poucos minutos aquela personalidade que partiu e escreve
com a letra desta última, em sua mesma linguagem e com os
mesmos pensamentos que teve durante a sua vida terrestre. Os dois
espíritos se mesclam, e a preponderância de um sobre
o outro durante esses fenômenos determina a preponderância
da personalidade nas características mostradas em tais escritos,
e no 'transe falante'. O que chamais de 'comunicação
mediúnica' é simplesmente uma identidade de vibração
molecular entre a parte astral do médium encarnado com a
parte astral da personalidade desencarnada.
O
Sexto Princípio do homem, como algo puramente espiritual,
não poderia existir ou ter existência consciente no
'Devachan', a menos que houvesse assimilado alguns dos mais puros
e abstratos atributos mentais do Quinto Princípio ou alma
animal: seu 'Manas' (mente) e memória. Ao morrer o homem,
o seu Segundo e Terceiro Princípios morrem com ele; a tríade
inferior desaparece e os Quarto, Quinto, Sexto e Sétimo Princípios
formam o sobrevivente Quaternário. Daí em diante,
é uma luta de 'morte' entre as dualidades Superior e Inferior.
Caso vença a Superior, o Sexto Princípio, tendo atraído
para si, do Quinto, a quinta-essência do Bem, seus mais nobres
afetos, as mais santas (ainda que sejam terrenas) aspirações
e as partes mais espiritualizadas de sua mente seguem o seu Divino
Ancião. O Sétimo Princípio permanece associado
como uma casca vazia (a expressão é perfeitamente
correta) que vagueia pela atmosfera terrestre com a metade da memória
pessoal desvanecida e os instintos mais brutais plenamente vivos
por certo tempo – um 'Elementar', em última palavra.
Este é o guia angélico do médium comum. Se,
por outro lado, é a Dualidade Superior a derrotada, então
é o Quinto Princípio que assimila tudo o que resta
no Sexto Princípio, de recordações pessoais
e de percepções individuais. Mas, com toda essa bagagem
adicional, ele não permanecerá no 'Kama Loka' –
o 'Mundo do Desejo' da atmosfera de nossa Terra. Em muito pouco
tempo, como uma palha flutuando dentro da atração
dos vórtices e covas do 'Maelstron' (sorvedouro), é
atraído e aprisionado no grande remoinho de Egos humanos,
enquanto o Sexto e o Sétimo Princípios (que constituem,
em si, a Mônada Eterna e Imperecível, mas também
inconsciente), convertidos agora em uma Mônada puramente espiritual
e individual sem vestígios da última personalidade
e não tendo um período regular de 'gestação'
que atravessar (pois não há mais um Ego Pessoal purificado
para renascer) – após um período de repouso
inconsciente, mais ou menos prolongado, no espaço ilimitado
– se achará encarnada em outra personalidade no próximo
planeta. Quando chega o período de Plena Consciência
Individual – que precede o de Absoluta Consciência no
'Paranirvana' – aquela existência pessoal perdida se
torna como que uma página arrancada do Grande Livro de Vidas,
sem que reste nem uma palavra solta que assinale a sua ausência.
A Mônada purificada não a perceberá nem a recordará
na série de seus nascimentos passados, o que aconteceria
se tivesse ido ao Mundo das Formas ('Rupa Loka'). A sua visão
retrospectiva não perceberá nem o mais leve sinal
indicador de que tenha existido... Em favor do gênero humano,
devo dizer que essa supressão total de uma existência
dos registros do Ser Universal não ocorre tão freqüentemente
a ponto de representar uma grande porcentagem. De fato, à
maneira do 'idiota congênito', muito mencionado, tal coisa
é um 'lusus naturæ' – uma exceção,
não a regra.
O
Espírito ou as emanações puras do Uno formam
com o Sétimo e o Sexto Princípios a Tríada
Superior. Nenhuma das duas emanações é capaz
de assimilar nada que não seja bom, puro e santo; daí
decorre que nenhuma recordação sensual, material ou
pecaminosa possa acompanhar a memória purificada do Ego na
Região de Bem-aventurança. O Karma advindo dessas
recordações de más ações e maus
pensamentos atingirá o Ego quando ele muda a sua personalidade
no próximo mundo das causas. A Mônada ou Individualidade
Espiritual permanece sem mancha em todos os casos. Não há
tristeza nem dor para aqueles que nascem ali (no 'Rupa Loka' do
'Devachan'), pois essa é a Terra Pura. Todas as regiões
do espaço possuem essas Terras ('Sakwala'), mas essa Terra
de Bem-aventurança é a mais pura. No 'Jnana Prasthâna
Shastra' está dito: 'pela pureza pessoal e ardente meditação,
nós transcendemos os limites do Mundo do Desejo e entramos
no Mundo das Formas.'
Bardoé
o período entre a morte e o renascimento, e pode durar de
uns poucos anos até um 'kalpa'. Ele é dividido em
três subperíodos: (1) quando o Ego, livre do seu envoltório
mortal, entra no Kama Loka (a morada dos Elementares); (2) quando
entra no seu Estado de Gestação; e (3) quando renasce
no 'Rupa Loka' do 'Devachan'. O subperíodo (1) pode durar
de uns poucos minutos até a alguns anos. A expressão
'alguns anos' se torna enigmática e inteiramente inútil
sem uma explicação mais completa. O subperíodo
(2) é 'muito grande' como dizeis, às vezes mais prolongado
do que possais mesmo imaginar, entretanto, proporcional ao vigor
espiritual do Ego. O subperíodo (3) dura em proporção
ao bom Karma após o qual a Mônada é novamente
reencarnada.
SUICIDAS
E MORTOS POR ACIDENTE: Ambas as espécies podem se comunicar
e ambas terão que pagar caro por tais visitas. E agora tenho
novamente de explicar o que quero dizer. Bem, esta classe é
a que os espíritas franceses chamam de 'Espíritos
Sofredores'. São uma exceção à regra,
pois terão que permanecer dentro da atração
da Terra e em sua atmosfera – o 'Kama Loka' – até
o momento final que teria sido a duração natural das
suas vidas. Em outras palavras: aquela onda particular de evolução
da vida tem que prosseguir para a sua margem. Mas é um pecado
e uma crueldade reviver a sua memória e intensificar o seu
sofrimento ao lhes dar uma oportunidade de viver uma vida artificial;
uma possibilidade de sobrecarregar o seu 'Karma', tentando-os a
que penetrem em portas abertas, isto é, médiuns e
sensitivos, pois irão pagar inequivocamente por tais prazeres.
Explicarei. Os suicidas que, tolamente querendo escapar da vida,
encontram-se ainda vivos, têm bastante sofrimento reservado
e que os aguarda nessa mesma vida. Seu castigo [aprendizado]
está baseado na intensidade de tal vida. Tendo
perdido, em conseqüência de sua irreflexiva ação,
seus Sexto e Sétimo Princípios (ainda que não
seja para sempre pois poderão recobrá-los), em vez
de aceitar o seu castigo e aproveitar as suas oportunidades de redenção,
eles, inúmeras vezes, são levados a lamentar a vida
e tentados a reconquistar o controle sobre ela por meios pecaminosos.
No 'Kama Loka' – a terra dos desejos intensos – eles
podem somente satisfazer os seus desejos terrenos mediante um substituto
vivente; e fazendo isso, na expiração do seu prazo
natural de vida, eles geralmente perdem para sempre a sua Mônada.
Quanto às vítimas de acidentes, seu destino é
ainda pior. A menos que tenham sido tão bons e puros para
serem atraídos imediatamente para dentro do 'Samadhi akásico'
– isto é, cair em um estado de tranqüila letargia,
um sono cheio de rosados sonhos durante o qual eles nada recordam
do acidente – movem-se e vivem entre os seus amigos e cenas
familiares até que o seu prazo normal de vida extinga, quando
eles, então, descobrem-se nascidos no 'Devachan'. Mas, se
foram pecadores e sensuais, um lúgubre destino os espera:
vagueiam como sombras desditadas (não são cascões),
pois a sua conexão com os dois princípios mais elevados
não está completamente partida, até que venha
a hora da morte. Cortada a vida em pleno fluxo de paixões
terrenas que os liga a cenas familiares, eles se deixam seduzir
pelas oportunidades que lhes oferecem os médiuns de gratificar
tais paixões por intermédio deles. São os chamados
pisachas, íncubos e súcubos dos tempos medievais –
demônios da embriaguez, da gula, da luxúria e da avareza
– elementares de intensificada astúcia, perversidade
e crueldade que provocam as suas vítimas a cometer crimes
horrendos e que gozam quando isso ocorre! Não só arruínam
as suas vítimas, mas, também, esses vampiros psíquicos
são arrastados pela corrente de seus impulsos da aura da
Terra até regiões onde, durante milênios, terão
que suportar agudos sofrimentos até a sua total destruição.
Mas, caso a vítima do acidente ou da violência não
seja nem muito boa nem muito má (uma pessoa comum), então
pode acontecer o seguinte: um médium pode atraí-la
e criar-lhe as mais indesejáveis das coisas: uma nova combinação
de 'Skandhas' e um novo e mau 'Karma'.
'A
Natureza vomita os frouxos pela sua boca' significa apenas que ela
aniquila os Egos pessoais deles (não os cascões, nem
tão pouco o Sexto Princípio) no 'Kama-Loka' e no 'Devachan'.
Isto não lhes impede de renascer imediatamente; e se suas
vidas não foram muito, mas muito más, não há
razão para que a Eterna Mônada não encontre
a página dessa vida intacta no Livro da Vida.
Enfim,
o que é o Devachan? Como explica o Mestre Kut Hu Mi, o
'Devachan' é um estado, digamos, de intenso egoísmo,
durante o qual o Ego (combinação do Sexto e Sétimo
Princípios) colhe a recompensa do seu altruísmo na
Terra. Está completamente mergulhado na felicidade de todos
os seus afetos pessoais, preferências e pensamentos terrenos,
e recolhe o fruto de suas ações meritórias.
Nenhuma dor, nenhuma pena, nem mesmo a sombra de uma aflição
obscurecem o brilhante horizonte de sua incontaminada felicidade,
porque é um estado de perpétuo 'maya'. Vai ao 'Devachan'
o ego pessoal, mas beatificado, purificado, santificado. Todo Ego
que, depois do período de gestação inconsciente,
renasce no 'Devachan' é necessariamente tão puro e
inocente como uma criança recém-nascida. O fato de
haver renascido comprova, já por aí, a preponderância
do bem sobre o mal em sua velha personalidade. E, enquanto o 'karma'
(do mal) fica temporariamente suspenso, para segui-lo mais tarde
em sua futura encarnação terrena, ele só leva
ao 'Devachan' o 'karma' de suas boas obras, palavras e pensamentos.
Mestre
Kut Hu Mi